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INCUBADORAS DE EMPRESAS, ENSINO E DESIGN NO BRASIL - CONCEITOS, PECULIARIDADES, IMPORTÂNCIA E CONDIÇÕES DE SUCESSO Cyntia Santos Malaguti de Sousa (*) Resumo O presente artigo apresenta o relato de um estudo realizado sobre a incubação de empresas no Brasil, complementado por uma pesquisa de campo junto a sete incubadoras, procurando analisar suas características e condições essenciais de funcionamento. A partir dessa fundamentação, explora seu papel na inserção do jovem designer no mercado de trabalho e suas relações com o ensino de design, complementando sua formação profissional. Palavras-chave Design, incubadora de empresas, empreendedorismo, ensino. 1. Introdução - o contexto Vivemos hoje, como é de conhecimento geral, num momento em nossa sociedade onde o trabalho físico vem sendo progressivamente feito pelas máquinas e o mental/operacional, pelos computadores. Assim, nessa sociedade cada vez mais o homem é solicitado a desempenhar uma tarefa para a qual ainda é insubstituível: ser criativo, ter idéias. Difundiram-se as expressões “sociedade do conhecimento” e “indústria criativa”, inclusive, para destacar, com a primeira, o valor fundamental do capital humano ou intelectual (Santiago Jr., 2007); e com a segunda, aquelas indústrias que têm origem na criatividade, habilidade e talento individual e que têm um potencial de crescimento econômico e de criação de empregos através da exploração da propriedade intelectual (Jaguaribe, 2004). As marcas de maior valor no mercado global, tais como a Google, a IBM, a Apple e a Microsoft demonstram claramente esta situação. Tais circunstâncias têm evidenciado a importância de se articular as atividades de ciência e tecnologia, de pesquisa e desenvolvimento, com a dinâmica do setor produtivo. Daí a crescente aproximação entre universidades, centros de pesquisa e empresas, gerando projetos de pesquisa aplicada, cursos de capacitação e aperfeiçoamento “in

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INCUBADORAS DE EMPRESAS, ENSINO E DESIGN NO BRASIL - CONCEITOS,

PECULIARIDADES, IMPORTÂNCIA E CONDIÇÕES DE SUCESSO

Cyntia Santos Malaguti de Sousa (*)

Resumo

O presente artigo apresenta o relato de um estudo realizado sobre a incubação de empresas no

Brasil, complementado por uma pesquisa de campo junto a sete incubadoras, procurando analisar

suas características e condições essenciais de funcionamento. A partir dessa fundamentação,

explora seu papel na inserção do jovem designer no mercado de trabalho e suas relações com o

ensino de design, complementando sua formação profissional.

Palavras-chave

Design, incubadora de empresas, empreendedorismo, ensino.

1. Introdução - o contexto

Vivemos hoje, como é de conhecimento geral, num momento em nossa sociedade onde o

trabalho físico vem sendo progressivamente feito pelas máquinas e o mental/operacional, pelos

computadores. Assim, nessa sociedade cada vez mais o homem é solicitado a desempenhar uma

tarefa para a qual ainda é insubstituível: ser criativo, ter idéias.

Difundiram-se as expressões “sociedade do conhecimento” e “indústria criativa”, inclusive, para

destacar, com a primeira, o valor fundamental do capital humano ou intelectual (Santiago Jr.,

2007); e com a segunda, aquelas indústrias que têm origem na criatividade, habilidade e talento

individual e que têm um potencial de crescimento econômico e de criação de empregos através

da exploração da propriedade intelectual (Jaguaribe, 2004).

As marcas de maior valor no mercado global, tais como a Google, a IBM, a Apple e a Microsoft

demonstram claramente esta situação. Tais circunstâncias têm evidenciado a importância de se

articular as atividades de ciência e tecnologia, de pesquisa e desenvolvimento, com a dinâmica

do setor produtivo. Daí a crescente aproximação entre universidades, centros de pesquisa e

empresas, gerando projetos de pesquisa aplicada, cursos de capacitação e aperfeiçoamento “in

company” e mesmo a prestação de serviços especializados; por outro lado, a ênfase em uma

formação universitária que contemple aspectos de empreendedorismo, gestão e inovação. Os

cursos de design também têm enfatizado estes aspectos, tanto por meio de disciplinas

específicas, como pela proposição de diversas outras atividades complementares ao ensino, como

o estágio supervisionado, empresas juniores etc.

Governos em suas diversas instâncias, assim como órgãos de fomento e apoio ao

desenvolvimento do setor produtivo no Brasil, têm participado desse movimento de forma ativa,

no sentido de fortalecer a cultura empreendedora no país, induzir a criação de empresas

inovadoras, e contribuir para sua consolidação. Vários sistemas e mecanismos têm sido

implementados, sobretudo voltados à criação de empresas baseadas no binômio inovação-

competitividade, tais como: Pólos e Parques Tecnológicos, Distritos Industriais, Escolas de

Empreendedores, Centros de Inovação, Incubadoras de empresas, entre outros. Cada um possui

suas particularidades, atendendo a diferenciadas fases do processo de criação de empresas, quais

sejam: a geração da idéia, as etapas da pesquisa, do desenvolvimento de protótipo, a fase em que

a idéia se transforma em processo, produto ou serviço e, por fim, a produção em escala.

Segundo relatório do MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia, “estatísticas de incubadoras

americanas e européias indicam que a taxa de mortalidade entre empresas que passam pelo

processo de incubação é reduzida a 20%, contra 70% detectado entre empresas nascidas fora do

ambiente de incubadora. No Brasil, estimativas já apontam que a taxa de mortalidade das micro e

pequenas empresas que passam pelas incubadoras também fica reduzida a níveis comparáveis

aos europeus e americanos.” (MCT, 2000)

2. O conceito de incubadora de empresas

Uma incubadora de empresas, segundo a Anprotec - Associação Nacional de Entidades

Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas, “é um ambiente flexível e

encorajador, no qual são oferecidas facilidades para o surgimento e o crescimento de novos

empreendimentos.” (2008) Trata-se de um ambiente de trabalho controlado, cujas características

peculiares visam criar um clima cooperativo para o treinamento, suporte e desenvolvimento de

pequenas empresas e empreendedores. Essas características incluem a seleção adequada de

empresas em fase inicial de desenvolvimento com grande potencial de crescimento; espaços

físicos projetados para abrigar cada empresa incubada; equipamentos e estruturas necessárias de

suporte compartilhadas, como telefonia, fax, internet e suporte administrativo; uma pequena

equipe gerencial responsável por assessorar, treinar e ajudar os empreendedores na resolução de

problemas; acesso facilitado das empresas incubadas a serviços de terceiros selecionados, como

assessoria jurídica, contábil, de marketing, vendas etc.; preços de aluguel e taxas de serviços

convidativos; e graduação da empresa incubada após três a quatro anos de permanência na

incubadora (Lalkaka & Bishop,1996).

Numa incubadora, em geral, são oferecidos serviços e facilidades como:

� Espaço físico individualizado, para a instalação de cada empresa admitida;

� Espaço físico para uso compartilhado: sala de reunião, auditórios, área para demonstração

dos produtos, processos e serviços das empresas incubadas, secretaria, serviços

administrativos e instalações laboratoriais;

� Recursos humanos e serviços especializados de apoio às atividades das incubadas: gestão

empresarial, gestão da inovação, comercialização, contabilidade, marketing, assistência

jurídica, captação de recursos, contratos com financiadores, engenharia de produção e

propriedade intelectual, etc.;

� Capacitação/Formação/Treinamento de empresários-empreendedores nos mesmos

aspectos do item anterior;

� Acesso a laboratórios e bibliotecas especializadas.

3. Categorias de incubadoras

Existem várias categorias de incubadoras, conforme o tipo de vínculo estabelecido e o perfil das

empresas incubadas.

Quanto ao vínculo estabelecido, as incubadoras podem ser:

- Fechadas

Cada empresa possui o seu módulo, ou espaço privativo de trabalho, constituído de uma ou mais

salas pequenas, mais os espaços coletivos a serem utilizados por todos;

- Abertas

As empresas incubadas não precisam estar instaladas no mesmo local; elas contam com os

serviços de apoio e usam circunstancialmente a estrutura compartilhada.

Conforme o aporte de tecnologia embarcada nos produtos ou serviços, se classificam em:

- de Base Tecnológica

Abriga empresas cujos produtos, processos ou serviços são gerados a partir de resultados de

pesquisas aplicadas, nos quais a tecnologia representa alto valor agregado.

- Tradicionais

Abriga empresas ligadas aos setores tradicionais da economia, detendo tecnologia largamente

difundida e desejando agregar valor aos seus produtos, processos ou serviços por meio de um

incremento em seu nível tecnológico.

- Mistas

Abriga empresas dos dois tipos acima descritos.

Finalmente, quanto à amplitude dos segmentos de atuação das empresas atendidas, as

incubadoras podem se constituir como: multi setoriais, voltadas apenas a um ou dois setores

produtivos (indústria, comércio ou serviços), ou ainda se focarem em nichos específicos como o

de agronegócios, o das indústrias criativas, o de meio ambiente, entre outros, de acordo com as

competências da instituição âncora e a vocação regional onde se insere.

4. Origens e situação atual das incubadoras no Brasil

Costuma-se atribuir o impulso à concepção de incubadoras de empresas ao êxito da região hoje

conhecida como Vale do Silício, na Califórnia. O sucesso se originou de iniciativas da

Universidade de Stanford que, na década de 50, criou um Parque Industrial e, posteriormente,

um Parque Tecnológico (Standford Research Park), com objetivo de promover a transferência da

tecnologia desenvolvida na Universidade às empresas, e a criação de novas empresas intensivas

em tecnologia, sobretudo do setor eletrônico. O êxito dessa experiência estimulou a reprodução

de iniciativas semelhantes, dentro e fora dos Estados Unidos (MCT, 2000).

Na Europa, também as primeiras referências situam-se Inglaterra, a partir do fechamento de uma

subsidiária da British Steel Corporation, que estimulou a criação de pequenas empresas em áreas

relacionadas com a produção do aço, preconizando uma terceirização, contando com a

disponibilidade de prédios subutilizados no local.

Foi, no entanto, a partir do final da década de 1970 e início dos anos 80, que as incubadoras

passaram a ter sua configuração atual. Nessa época, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental,

governos locais, universidades e instituições financeiras se reuniram para estimular o processo de

industrialização de regiões pouco desenvolvidas ou em fase de declínio, em decorrência da

recessão dos anos 70 e 80. A motivação era de natureza econômica e social, visando à criação de

postos de trabalho, geração de renda e de desenvolvimento econômico regional, no âmbito de

políticas governamentais. Foram focalizados tanto setores de alta tecnologia, quanto os

tradicionais da economia, não intensivos em conhecimento, com o objetivo de aprimorar

processos de produção e de inovar produtos; e instaladas incubadoras tanto vinculadas a

universidades e/ou dentro de parques tecnológicos, quanto outras sem ligações formais com

instituições de ensino e pesquisa.

Atualmente, diversos países possuem incubadoras de empresas, em especial aqueles em processo

de desenvolvimento como: China, Índia, México, Argentina, Turquia e Polônia, entre outros.

Também o Japão possui diversas incubadoras.

No Brasil, de acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia (2000), a primeira incubadora foi

instalada em 1985, na cidade de São Carlos, interior do estado de São Paulo, com o apoio do

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A seguir,

Florianópolis, Curitiba, Campina Grande e Distrito Federal também estabeleceram incubadoras.

A partir de 1987, com a criação da Anprotec, o movimento de criação de incubadoras tornou-se

mais articulado e organizado, definindo critérios, categorias, mecanismos de gestão, apoio e

avaliação das iniciativas. Segundo a Associação, até 2007 existiam cerca de 400 incubadoras

espalhadas pelos 25 estados do Brasil (mais de 50 estão no estado de São Paulo), articulando

mais de 6.300 empresas, entre:

- 2.800 incubadas;

- 2.000 associadas e

- 1.500 graduadas.

E cerca de 40% das universidades brasileiras estão associadas a uma dessas 400 incubadoras. Os

dados apontam que mais de 33 mil postos de trabalho altamente qualificados foram gerados por

estas empresas, que produzem inovações reconhecidas na forma de contratos, premiações e

parcerias. O movimento tem se direcionado também a criação de Parques Tecnológicos,

contando com 10 em operação e vários projetos em fase de implantação. Quanto à quantidade de

incubadoras de acordo com seu perfil, predominam as de base tecnológica.

Figura 3: Classificação de incubadoras de empresas (Anprotec).

Quanto à área de atuação das empresas incubadas, segundo a Anprotec, predominam empresas

do setor de software/informática, correspondendo a 20% do total, seguidas pelas do setor de

serviços, que representam 15%.

Figura 2: Áreas de atuação das incubadas (Anprotec)

Não foram encontrados dados relativos à faixa etária dos empresários incubados, no entanto,

estudo do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo - SEBRAE-SP

realizado em 2010 para monitorar o nascimento e morte de empresas no estado, revelou que a

média de idade dos empreendedores ao iniciarem um negócio era de 37 anos. O maior percentual

– 49% - encontra-se entre os 25 e 39 anos, seguido por 24% entre os 40 e 49 anos. Com 13%

estão os dois grupos extremos: até 24 anos e 50 anos ou mais.

5. O negócio de incubar empresas

No Brasil, as incubadoras são criadas e montadas como instituições sem fins lucrativos, em geral

fruto de parcerias entre órgãos de governos, associações empresariais, instituições como o

Sebrae, instituições de pesquisa e ensino e empreendedores locais. Também empresas, algumas

vezes acolhem a iniciativa como a Petrobrás, que instituiu o "Programa Petrobrás de Incubadoras

Tecnológicas", contando atualmente com 11 incubadoras, sendo cinco, dentro de instalações nas

unidades da própria Petrobrás e seis fora da empresa.

Embora sem fins lucrativos, é consenso entre gestores e apoiadores de incubadoras, que elas

devem ser administradas como uma unidade de negócio independente, embora instalando-se em

geral junto a uma instituição já consolidada. Considerando-se suas especificidades e as

dificuldades inerentes a esse tipo de negócio, alguns estudos procuram relacionar as melhores

práticas para sua condução, destacando o que chamam de “fatores críticos de sucesso”:

- Expertise local em administração de negócios

Disponível aos incubados, por meio de cursos, treinamentos e workshops em:

empreendedorismo, administração de negócios, marketing, cultura de investimentos de risco,

plano de negócios, contabilidade e finanças.

- Rede de serviços adequados, focados e personalizados

Conforme o perfil dos seus incubados, abrangendo, sobretudo: acesso a financiamentos e

investimentos, por meio de consultores contratados para captação; suporte e assessoria

financeiros, incluindo apoio no gerenciamento de fluxo de caixa e na otimização de orçamento;

além de suporte jurídico e contábil.

- Reconhecimento e respaldo da comunidade externa próxima

Um dos aspectos que pode contribuir para a sustentação política do negócio de incubação é a

implantação de um Conselho Consultivo, que deve ser composto por representantes de lideranças

locais. No entanto, é preciso definir claramente o papel desse conselho e escolher criteriosamente

seus membros. Esse recurso pode auxiliar na credibilidade da incubadora para contratação de

serviços ou solicitação de recursos, o que começa a ficar mais fácil após a graduação de algumas

empresas incubadas.

- Rede de empreendedorismo estabelecida

Quanto mais organizado e articulado o ambiente externo à incubadora, que possa favorecer ao

movimento empreendedor, melhores suas chances de sucesso. Entre esses, destacam-se:

Universidades, Centros de Pesquisa e Desenvolvimento, suporte local e estadual, suporte de

serviços profissionais, rede de fornecedores e clientes potenciais para incubados.

- Imagem de sucesso tangibilizada

Deve ser trabalhada de forma coerente e harmoniosa abrangendo: suas instalações físicas,

capacidade e experiência dos recursos humanos (equipe e gerente), comprometimento da

diretoria, adequação das parcerias e do conselho consultivo, estágio de desenvolvimento

compatível com a vida da incubadora, presença na mídia. Além disso, deve contar com

incubadas promissoras, graduadas de sucesso, tempo curto de graduação e baixa mortalidade.

- Processo de seleção de empresas adequado

É um dos aspectos mais críticos do negócio, devendo contemplar critérios de avaliação como:

potencial de crescimento da empresa e do mercado, habilidade da empresa gerar conhecimento,

capacidade da empresa gerar empregos, compatibilidade com setores priorizados pela

incubadora, capacidade da empresa honrar compromissos, desenvolvimento de plano de

negócios adequado pela empresa e, por fim, perfil do empreendedor e dos sócios.

- Gerenciamento como negócio

Como qualquer empreendimento, a incubadora deve ser gerenciada como um negócio, devendo

ser implantada a partir de um estudo de viabilidade, seguido da elaboração de um plano de

negócios. Deve manter comprometimento com sua missão, ter um programa de metas com

procedimentos e políticas claras, direitos e deveres dos incubados, fazer sua prestação de contas

de forma transparente, avaliar continuamente o desempenho tanto das empresas atendidas quanto

da incubadora, mantendo documentação relativa a cada aspecto.

Sua estrutura organizacional deve funcionar sem burocracia e sua gestão buscar mecanismos de

auto-sustentação como a prestação de serviços para geração de receita, embora, em geral seja

difícil uma incubadora se manter sem recursos externos.

- Instalações adequadas e que favoreçam a interação entre as incubadas

6. Casos de sucesso

Com o objetivo de conhecer de perto o funcionamento de uma incubadora, identificar diferentes

modelos e práticas, assim como gargalos e soluções, do ponto de vista daqueles diretamente

envolvidos, foram realizados contatos diretos com algumas unidades de reconhecido sucesso no

país e que, de alguma forma, tivessem interações com instituições de ensino de design.

As seguintes incubadoras foram analisadas, por meio de entrevistas realizadas a incubados e

gestores que participaram da Inova Brasil, Primeira Feira Empresarial de Incubadoras e Parques

Tecnológicos, sediada pelo Parque Tecnológico de São José dos Campos / SP e organizada pela

Rede Paulista de Incubadoras (RPI), no período de 16 a 18 de março de 2012:

� INOVE – Incubadora para Inovação e Empreendedorismo da UNESP - Guaratinguetá,

SP;

� IED - Incubadora de Empresas de Design da UEMG (Universidade do Estado de Minas

Gerais) Belo Horizonte, MG;

� INTECE - Incubadora do CENTEC (Instituto Centro de Ensino Tecnológico)- Fortaleza e

outras unidades, CE;

� IME – Incubadora Municipal de Empresas “Sinhá Moreira” - Santa Rita do Sapucaí, MG.

Complementando esta investigação, foram visitadas “in loco”, as seguintes incubadoras:

� Design Inn – Incubadora de Design do Parqtec – Parque Tecnológico de São Carlos, SP;

� CIETEC - Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia, sediado no INPE –

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, da USP – Universidade de São Paulo, SP;

� Incubadora de Empresas COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ.

Ao todo 7 incubadoras foram estudadas, das quais 2 são voltadas exclusivamente ao design e 4

se consideram de base tecnológica - IME, CIETEC, COPPE e IED (esta última de design). As

demais, INOVE e INTECE, são mistas. As mais antigas são a da COPPE, iniciada em 1994, e

INOVE, em 1995; as mais recentes são as de design, criadas entre 2005 e 2006, a partir de um

edital do SEBRAE, voltado especificamente para incubadoras de empresas de design. Dessa

forma, apenas agora estas últimas começam a ter suas primeiras empresas graduadas, que são

apenas 2 ou 3, para cada incubadora.

Quanto à capacidade de abrigar empresas, a maioria delas possui cerca de 10 empresas

incubadas; as maiores atendem no máximo a 20 empresas, ou têm planos para tanto, exceto o

CIETEC (a maior incubadora do Brasil), que possui mais de 50 incubadas residentes, afora as

empresas em estágio de pré-incubação. Quanto aos setores de atuação, existe certa

predominância das áreas de tecnologia da informação, software, eletroeletrônica, tecnologia

ambiental e telecomunicações. A incubadora do Ceará é a de perfil mais diversificado, atendendo

empresas dos setores mencionados, mas também de jóias, têxteis, de agronegócios, entre outros.

Apresenta também, como modelo de incubação, além do estilo tradicional, a não residência, isto

é, várias empresas não se instalam fisicamente na incubadora, mas recebem suporte voltado à

estruturação da atividade empreendedora. Aliás, esta segunda modalidade é também praticada

pelo CIETEC.

Com relação aos vínculos e articulações institucionais, 5 delas são sediadas em universidade ou

instituições de ensino, embora com administração independente; a mais relacionada com a

universidade do ponto de vista administrativo é a de design da UEMG, onde o gestor é também

um professor do curso de design. A da COPPE/UFRJ, a IME, de Santa Rita de Sapucaí e a

Design Inn, de São Carlos, relacionam-se também a Parques Tecnológicos; esta última, a

INOVE, de Guaratinguetá e a CENTEC, do Ceará, por sua vez, integram uma rede de

incubadoras, nos diferentes campi das respectivas instituições de ensino a que se vinculam

(exceto a de São Carlos, onde as incubadoras compartilham um mesmo espaço físico). Todas as

instituições “âncora” são públicas, ou se originaram de parcerias com órgãos do governo.

O tempo de residência varia nas incubadoras, sendo no mínimo 2 anos; as maiores permanências

foram verificadas nas incubadoras de design (de 4 a 5 anos), onde também foram relatados casos

de “concorrência” entre incubadas e dificuldades na articulação de uma clientela regular.

Também com relação ao espaço para cada empresa, na fase de pré-incubação, o espaço é menor,

em torno de 8 a 12 m2, ou mesmo um espaço maior, mas compartilhado entre várias empresas ou

empreendedores. Já na fase de incubação, os espaços passam a ser maiores, de 12 a 25m2, ou

ainda mais; sempre com paredes piso-teto, portas e acessos independentes, garantindo a

privacidade de cada uma. Todas têm seu CNPJ e pagam a incubadora proporcionalmente ao

espaço e serviços utilizados; os espaços não são alugados, para escapar da lei do inquilinato.

Outro aspecto muito interessante observado, foi o ciclo percorrido pelas empresas incubadas e o

atendimento recebido. Normalmente o processo se inicia com um edital, lançado anualmente ou

a cada semestre, aberto apenas aos alunos da instituição de ensino ou a interessados em geral. Os

candidatos apresentam suas propostas, que são avaliadas por uma comissão composta por

especialistas externos à incubadora. A partir daí os selecionados passam pela fase de pré-

incubação ou pelo “hotel de empresas”, e durante 3 a 6 meses recebem suporte para elaboração

de um plano de negócios adequado, ao mesmo tempo em que são orientados para abrirem

formalmente suas empresas. Submetem-se então por outra avaliação e, aprovados, passam à fase

de incubação propriamente dita. Nesta fase recebem o atendimento tradicional mencionado no

item 2. Uma vez consolidadas e comercializando seus produtos e/ou serviços, com uma cartela

regular de clientes, as empresas entram no processo de graduação, quando deixam as instalações

da incubadora, mas continuam a ser acompanhadas e a receber orientações. No caso das

incubadoras vinculadas a Parques Tecnológicos, estas empresas tendem a se localizar neles,

muitas vezes ainda compartilhando um espaço denominado “Condomínio de empresas”, onde

dividem serviços de apoio, mas possuem já sua autonomia. A figura 8 a seguir, relativa a uma

incubadora de Santa Catarina, ilustra o ciclo descrito.

Durante todo o ciclo de permanência da empresa na incubadora, ela apresenta planos de ação e

relatórios de atividades periódicos, de acordo com modelos pré-definidos, de modo que seu

desempenho é cobrado sistematicamente, havendo inclusive softwares desenvolvidos para este

fim, a exemplo do “Pronto!”, desenvolvido por uma das incubadoras de Santa Rita de Sapucaí.

Outra preocupação das incubadoras observadas, em geral, é com a sua apresentação e a das

empresas incubadas, começando pelo nome, logotipo e aplicações básicas de um sistema de

identidade visual. Possuem um material comum e harmônico de divulgação, tanto impresso

quanto via site.

Finalmente, o ponto mais delicado do processo é a parte financeira, a auto-sustentação, tanto da

incubadora, quanto das incubadas. No geral, não conseguem se auto-sustentar; o “negócio”

depende sempre de recursos externos. Ainda que todas as experiências estudadas prestem

diversos serviços com geração de recursos, tanto para incubadas quanto para outras empresas e

interessados, a receita não supre as despesas. E os recursos obtidos por meio de fontes externas,

sempre exigem uma contrapartida institucional.

A situação do incubado também exige um esforço desse ponto de vista pois, além de pagar à

incubadora, ainda que de forma subsidiada, não tem uma entrada de recursos no início do seu

negócio e, por outro lado, precisa dedicar a ele uma quantidade significativa de horas, para que

passe o mais rápido possível, a gerar receita. Este aspecto, no entanto, é esperado do perfil do

empreendedor.

7. Reflexões finais

O número crescente de incubadoras implantadas no país nos últimos anos (segundo dados da

Anprotec, de 2003 para 2005 o número de incubadoras passou de 207 para 297, um crescimento

de 50% em apenas 3 anos!), sinaliza que houve um certo “modismo” em torno desse modelo de

iniciativa de suporte à atividade empreendedora vinculada ao ensino e à inovação, como se fosse

a solução mais adequada, ou mesmo “consagrada” para tal fim. Dessa forma, tanto a Anprotec

quanto outras instituições de apoio a incubação de empresas têm procurado ressaltar a

importância de se analisar os fatores mencionados previamente a uma decisão e investimento em

programas dessa natureza.

Em alguns casos sua criação atendeu a fatores predominantemente políticos, o que pode ter

contribuído, em pouco tempo, para seu fracasso. Entre os fatores políticos, costuma existir uma

forte pressão para a criação de empregos. No entanto, a criação de empregos deve ser encarada

como uma conseqüência da criação de incubadoras e não como seu objetivo principal, que deve

ser a criação de empresas competitivas (Dornelas, 1999; 2000a).

Outras vezes, “as incubadoras são confundidas com condomínios de empresas convencionais, em

que as despesas comuns são divididas entre as empresas participantes, o que diverge do conceito

de incubadora de empresas, que é mais amplo.” (Dornelas, 2002). Isso pode trazer dificuldades

às empresas nascentes e seus empreendedores, que não encontrarão as facilidades e incentivos

necessários para impulsionar seu negócio. Nos casos de sucesso, observa-se que as incubadoras

dispõem tanto de infra-estrutura e serviços de apoio adequados, quanto de perfis promissores de

empresas incubadas, do ponto de vista do negócio em si.

Quanto ao design nas incubadoras observou-se que, no caso daquelas exclusivamente de design,

embora esta circunstância favoreça as atividades de suporte e promoção, muitas vezes ocorre

uma concorrência predatória entre elas, dificultando seu processo de autonomia. Para contornar

esta situação, no caso da incubadora IED, foi feita uma parceria com outra incubadora, gerando,

dessa forma, demandas mais regulares. Por outro lado, em incubadoras mistas, onde as empresas

de design estão junto com de outros setores, acabam por receber demandas destas últimas, dentro

da mesma incubadora. Esta situação auxilia as empresas nascentes a definir melhor seus nichos

de atuação.

Assim, a implantação de incubadoras de empresas junto a instituições de ensino de design,

embora represente uma perspectiva interessante do ponto de vista do estímulo a geração de

novos negócios, complementando a função da universidade por meio de uma vinculação maior

com a esfera de atuação profissional do designer, exige planejamento e monitoramento

criteriosos para que cumpra sua função e se mantenha em funcionamento sem onerar o

orçamento da instituição âncora.

8. Referências bibliográficas

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TERMO de Referência: Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos –

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(*) Cyntia Santos Malaguti de Sousa. Doutora, Professora, Curso de Design, FAUUSP, São

Paulo, Brasil.