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Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnolgico Departamento de Engenharia Sanitria e Ambiental

ENS 5125 Gesto e Planejamento ambiental

Prof. Sebastio Roberto Soares, Dr [email protected] www.ens.ufsc.br/~soares

Florianpolis Semestre 2006/1

UFSC ENS 5125 - Gesto e Planejamento Ambiental

Prof. Dr. Sebastio Roberto Soares

ndice

0.

Apresentao da disciplina ................................................................................ 10.1. 0.2. 0.3. 0.4. Objetivos do curso ...................................................................................................1 Calendrio................................................................................................................1 Bibliografia ..............................................................................................................1 Avaliao .................................................................................................................2

1.

Tema 01 : Bases para planejamento e gesto ambiental................................. 31.1. 1.2. 1.3. Conceitos Bsicos ....................................................................................................3 A varivel ambiental nas organizaes....................................................................7 Noes de planejamento e polticas ambientais.....................................................18

2.

Tema 02 : Fundamentos de balano de massa e unidade funcional............. 282.1. 2.2. 2.3. 2.4. 2.5. Introduo ..............................................................................................................28 Sistemas conservativos em equilbrio ....................................................................29 Sistemas no conservativos em equilbrio .............................................................35 Sistemas com acumulao (no conservativos e sem equilbrio)...........................37 Balano de massa em gesto ambiental .................................................................39

3.

Tema 03 : Anlise e avaliao de impactos ambientais................................. 473.1. 3.2. Introduo ..............................................................................................................47 Princpios gerais.....................................................................................................47

4.

Tema 04 : Apoio deciso aplicada gesto ambiental ............................... 554.1. 4.2. 4.3. 4.4. 4.5. 4.6. 4.7. 4.8. Introduo ..............................................................................................................55 Conceitos ...............................................................................................................56 Princpios bsicos de anlise multicritrio.............................................................57 Soma ponderada.....................................................................................................61 Produto ponderado.................................................................................................64 Soma ponderada modificada..................................................................................65 Mtodo ELECTRE I ..............................................................................................66 Referncias bibliogrficas......................................................................................72

5.

Tema 05 : Anlise de riscos ambientais .......................................................... 735.1. 5.2. 5.3. Conceitos ...............................................................................................................73 Anlise de riscos ambientais..................................................................................74 Bibliografia ............................................................................................................88

6.

Tema 06. Sistema de gesto ambiental ........................................................... 896.1. 6.2. 6.3. Introduo ..............................................................................................................89 Principais ferramentas de ANLISE ambiental ....................................................92 Bases para um sistema de Gesto Ambiental.........................................................95

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6.4. 6.5. 6.6.

Anlise de conformidade .....................................................................................100 Bibliografia ..........................................................................................................105 Anexo...................................................................................................................106

7.

Tema 07 . Auditoria ambiental...................................................................... 1127.1. 7.2. 7.3. 7.4. 7.5. 7.6. 7.7. Introduo ............................................................................................................112 Roteiro de auditoria de SGA................................................................................114 Reunio de encerramento.....................................................................................120 Atividades finais da auditoria ..............................................................................121 O papel dos auditores...........................................................................................122 Auditores de certificao de SGA........................................................................122 Bases Bibliogrficas ............................................................................................123

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0. Apresentao da disciplinaSemestre 2006/1

0.1.

Objetivos do curso

Incorporar a varivel ambiental nas estratgias de ao global de um sistema. Ou ainda, estabelecer um conjunto de rotinas e procedimentos que permita a uma organizao planejar e administrar adequadamente as relaes entre suas atividades e o meio ambiente que as abriga, atentando para as expectativas das partes interessadas.

0.2.Dia 8 15 22 29 Dia 3 10 17 24 31

CalendrioMaio Aula 1 Apresentao do curso Aula 2 Balano de massa e unidade funcional Aula 3 Avaliao de impactos ambientais Aula 4 Anlise multicritrio e gesto Julho Aula 9 Auditoria ambiental Aula 10 Auditoria ambiental Aula 11 ACV Aula 12 ACV Aula 13 Indicadores ambientais e Rotulagem Dia 5 12 19 26 Dia 7 14 21 28 Junho Aula 5 Anlise de riscos ambientais Aula 6 SGA Aula 7 SGA Aula 8 Prova I Agosto Aula 14 Licenciamento - EIA/RIMA Aula 15 Outras ferramentas Aula 16 Prova II

0.3.

Bibliografia

No h livros-texto (com exceo das normas que so obrigatrias). A bibliografia abaixo uma sugesto de textos nacionais para o bom acompanhamento das aulas. O presente documento tambm NO CONSTITUI A REFERNCIA NICA para acompanhamento das aulas. Abdalla de Moura, L. A. Qualidade e gesto ambiental : sugestes para implantao das normas ISO 14000 nas empresas. So Paulo : Editora Oliveira Mendes, 1998 ABNT. NBR ISO 14001, 14004, 19011 e demais da srie ISO 14000. Chehebe, J. R. Anlise do ciclo de vida de produtos : ferramenta gerencial da ISO 14000. Rio de Janeiro: Qualitymark editora Ldta, 1998. Donaire, D. Gesto ambiental na empresa. So Paulo : editora atlas, 1995. Edwards, A. J. ISO 14001 : Environmental Certification. Step by Step. Burlington, MA (USA) : Elsevier, 2004. Ferro, P. C. Introduo gesto ambiental ; a avaliao do ciclo de vida de produtos. Lisboa (Portugal) : IST press, 1998. Philippi Jr et all, editores. Curso de gesto ambiental. Barueri, Sp : Manole, 2004

Apresentao da disciplina

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0.4.

Avaliao

Mdia = At*0.2 + Pv1*0.4 + Pv2*0.40 MdiaRec = (mdia+ rec)/2 Aprovao : Mdia ou MdiaRec >= 6 A Freqncia mnima exigida de 75% das AULAS DADAS. A chamada ser realizada at 15 minutos aps o incio das aulas. Os alunos no presentes neste momento recebero falta.

Apresentao da disciplina

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Anotaes

1. Tema 01 : Bases para planejamento e gesto ambiental

1.1.

Conceitos Bsicos

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Meio-Ambiente : tudo que envolve ou o meio no qual os seres vivos se desenvolvem . Jos de vila Coimbra * define Meio Ambiente como : o conjunto de elementos fsico-qumicos, ecossistemas naturais e sociais em que se insere o homem, individual e socialmente, num processo de interao que atenda ao desenvolvimento das atividades humanas, preservao dos recursos naturais e das caractersticas essenciais do entorno, dentro de padres de qualidade definidos. Ecologia : cincia dos ecossistemas, estuda as relaes dos seres vivos entre si e com o meio ; Sistema : parte limitada do espao (fronteiras) na qual so feitas observaes especficas ; ou ainda conjunto de elementos em interao dinmica, organizados em funo de um objetivo.Ou ainda, conjunto de elementos em interao dinmica, organizada em funo de um objetivo (De Rosnay). As fronteiras do sistema devem estabelecer uma distino entre os elementos que o compem dos elementos pertencentes ao ambiente. O ambiente representa um sistema de ordem mais elevada no qual o aquele que est sendo examinado uma parte e, as modificaes nos elementos do primeiro podem acarretar mudanas diretas nos valores dos elementos contidos no sistema sob exame. Ecossistema : sistema funcional que compreende uma comunidade de seres vivos e o meio ambiente a ela associado ; Avaliao ambiental : avaliao de sistemas baseada fundamentalmente na varivel ambiental, ou seja, para sistemas que cumprem uma mesma funo, a avaliao ambiental consistir na definio de um conjunto de critrios que agregados convenientemente podem fornecer uma posio relativa do desempenho ambiental destes sistemas. Poluio : Introduo em um sistema de agentes qumicos, fsicos ou biolgicos em quantidade suficiente para provocar anomalias do ecossistema considerado ou a deteriorao fsica de bens materiais (fig. 1).LIMITES : Poluio Anormalidade no sistema Sensibilidade do detetor Capacidade de autodepurao do meio

Figura 1 : constatao de poluio Poluio crnica local : Est associada com pequenas doses localizadas de poluentes, porm de modo continuado. Ex. lanamento contnuo de efluentes em uma lagoa ou no solo, exposio contnua a pequenas doses de radioatividade, etc.. Poluio crnica global : Se refere quelas emisses contnuas cuja repercusso se d muito alm do ponto emissor. Por exemplo, emisso de gases a efeito estufa, gases que degradam a camada de oznio, etc. Poluio acidental (ou aguda) : Emisso de uma grande dose de poluente em um curto intervalo de tempo. Ex, desastre com um petroleiro, Contaminao : passagem de um poluente de um meio a outro (ar gua, gua sedimentos...) ou, em um mesmo meio, de um corpo a outro. Biodegradao : metabolizao total ou parcial de diferentes substncias qumicas por microorganismos.*

Coimbra, J. A. O outro lado do meio ambiente. So Paulo : Cetesb, 1985.

Tema 01 Noes de planejamento e polticas ambientais

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Anotaes

Bioacumulao (ou bioconcentrao) : acumulao nos tecidos de organismos (absoro ou adsorso) de substncias diversas (naturais ou sintticas) (fig. 2).10000 altamente bioacumulvel mediamente bioacumulvel 1000 fracamente bioacumulvel

Figura 2 : representao esquemtica de escala de bioacumulao A avaliao do grau de bioacumulao feita atravs do quociente da concentrao em um tecido com relao referncia (meio de lanamento). Por exemplo, se um dado produto apresenta concentrao na gua de x mg/l e a concentrao deste mesmo produto no tecido de uma espcie aqutica for de y mg/kg, o ndice de bioacumulao ser y/x. Efeitos : Resultado de uma ao em relao a um alvo especfico, ou a consequncia objetiva (sobre um alvo) de uma ao de interesse. Os efeitos podem ser : Diretos : a ao se d diretamente sobre o alvo. - Txicos agudos : exposio de um indivduo ou meio a uma dose ou concentrao elevada durante um curto perodo de tempo (em geral 24 h) => (CL 50, DL 50) - Txicos crnicos : exposio de um indivduo ou meio a uma dose ou concentrao fraca durante um longo perodo de tempo (1 ms at a durao de vrias geraes de animais) - Estticos Indiretos : a ao no se d diretamente sobre o alvo. Por exemplo, o lanamento de um efluente (ao) e os peixes de um lago (alvo). A morte destes pode ser dar no pela ao txica do efluente, mas por exemplo, pela diminuio do teor de O2, diminuio da luminosidade ou desequilbrios interespcies. Impacto ambiental : Modificao identificvel e mensurvel, benfica ou adversa, das condies ambientais de referncia. O impacto ambiental pode ser caracterizado por um efeito (direto) ou soma de efeitos (diretos e indiretos) com relao a um alvo especfico. Exemplo : Ao : emisso de CO2. Alvo : nvel das guas do mar. Efeito : ampliao do efeito estufa (aumento da temperatura) e indiretamente o aumento do nvel do mar. Impacto ambiental : elevao de 0,1 m do nvel do mar. Finalmente, o impacto depende dos efeitos e da exposio. A exposio deve ser apreciada em termos de nvel e de durao. Nvel de exposio : concentrao de um produto em um dado meio, ou a dose ingerida segundo o caso. Durao de exposio : tempo durante o qual os seres vivos so expostos a uma concentrao. Resduos : Materiais ou substncias que num determinado tempo e espao so descartados ou destinados ao descarte pelo seu responsvel (fig. 3). A produo de resduos em um sistema, em algum momento, ser inevitvel devido s seguintes varveis: Biolgica Econmica Qumica Ecolgica Tecnolgica Acidental

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Tema 01 Noes de planejamento e polticas ambientais

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Anotaes

Produo

Resduos gasosos Resduos lquidos Resduos slidos

Poluio crnica

Produtos

Tratamento

Resduos ecocompatveis

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Resduos de segunda gerao

Figura 3 : fluxo de produo de resduos A produo de resduos pode representar, alm de problemas ambientais, uma perda de matria e energia. ineficincia produtiva !! Reduo de resduos : procedimentos que visam evitar a produo de resduos e/ou diminuir a quantidade de resduos a tratar. Esta estratgia permite, em geral, a diminuio de custos e riscos : - Reduz os custos de gesto e tratamento de resduos ; - Reduz riscos de contaminao, acidentes e emergncias ; - Reduz os custos de produo devido a melhor gesto dos materiais e eficincia do processo. Os procedimentos empregados para reduo de resduos na fonte passam necessariamente por uma das seguintes alternativas : Gesto de estoques Modificao do processo de produo Procedimentos de operao e manuteno Substituio de materiais Reduo de volumes Segregao Concentrao Qualificao de recursos humanos Obs. Um procedimento extremo de reduo de resduos consiste em eliminar a fonte de produo (produto). Tratamento de resduos : O termo tratamento de resduos envolve as tcnicas que visam a transformao do resduo, seja para a sua valorizao, seja para a sua eliminao. Valorizao Valorizao energtica Valorizao de matrias-primas Valorizao em cincias dos materiais Valorizao em agricultura e agro-alimentar Valorizao em tcnicas de meio-ambiente Eliminao Processos trmicos Processos biolgicos Processos fsico-qumicos Estocagem em aterros sanitrios Desenvolvimento sustentvel : atendimento das necessidades da gerao atual sem comprometer o direito das futuras geraes atenderem as suas prprias necessidades

Tema 01 Noes de planejamento e polticas ambientais

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Anotaes

Qualidade ambiental : atendimento aos requisitos de natureza fsica, qumica, biolgica, social, econmica e tecnolgica que assegurem a estabilidade das relaes ambientais no ecossistema no qual se inserem as atividades consideradas Objetivo : propsito ambiental que se pretende atingir em um sistema. Exemplo controlar emisses atmosfricas Meta : objetivo quantificado, por exemplo, controlar 50% das emisses atmosfricas.

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Aspecto Ambiental : Elemento das atividades, produtos ou servios de um sistema que pode interagir (causar alterao) com o meio ambiente. Os agentes de cada alterao constituem os aspectos ambientais. Por exemplo, emisso atmosfrica, odor, resduos slidos, etc. Planejamento : concepo das atividades que permitir alcanar uma meta. Gesto ambiental : sistema que inclui a estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, prticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a poltica ambiental. A gesto ambiental a forma pela qual a organizao se mobiliza, interna e externamente, para a conquista da qualidade ambiental desejada. Ela consiste em um conjunto de medidas que visam ter controle sobre o impacto ambiental de uma atividade.

Reflexo Gesto Medio ExecuoFigura 4. Etapas de gesto ambiental As estratgias para uma gesto eficiente do meio ambiente incluem as atividades a montante e a jusante do sistema considerado, entre as quais se destacam o consumo de matrias-primas, a produo de resduos (slidos, lquidos e gasosos), a modificao do ambiente natural, as perturbaes (rudo, temperatura...), emisses eletromagnticas, radioativas, etc.. O Consumo de matrias primas pode ser avaliado no tocante aos Recursos no renovveis (No reciclvel (matrias fsseis e fsseis) e Reciclvel (matrias minerais)) e Recursos renovveis (biomassa). Com relao produo de resduos, esta deve ser analisada em termos quantitativos e qualitativos, sua natureza (slido, lquido, ou gasoso) e com relao ao meio receptor. Quanto a modificao do ambiente natural, pode-se considerar, por exemplo, condies como : - Desmatamento - Desertificao - Degradao das paisagens - Degradao dos ecossistemas - Inundao - Modificao de correntes (vento, gua) etc. As perturbaes esto relacionadas sobretudo com a qualidade ambiental no interiro do sistema. Pode-se citar as condies de rudo, temperatura, iluminao, vibrao como elementos de avaliao de tal qualidade. Estes elementos podem interferir tambm externamente ao sistema.

Planejamento

Tema 01 Noes de planejamento e polticas ambientais

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Anotaes

1.2.

A varivel ambiental nas organizaes

Texto introdutrio adaptado de Donaire, D. Gesto ambiental na empresa. So Paulo : Editora Atlas, 1995 SEBRAE, IBAMA e Instituto Herbert Levy. Gesto ambiental- Compromisso da empresa. 1996

IntroduoMinamata, Japo, anos 50. A indstria qumica Chisso despeja 460 toneladas de materiais poluentes na Baa de Yatsushiro. Mais de 1000 pessoas morrem e um nmero no calculvel sofre mutilaes em conseqncia do envenenamento por mercrio. A empresa obrigada a pagar mais de 600 milhes de dlares em indenizaes e muitos processos judiciais correm at hoje. Ontrio, Canad, 1982. Chuvas cidas, provocadas pela queima de combustveis - provavelmente em territrio norte-americano -, causam a morte de peixes em 147 lagos. O governo canadense acusa os Estados Unidos de indiferena em relo questo ambiental. Cubato, So Paulo, 1984. O rompimento de um oleoduto da Petrobrs, provocado por um incndio, arrasa a favela de Soc, umas das reas mais poludas do planeta. Noventa pessoas morrem e 200 ficam feridas. Bhopal, India, 1984. Um vazamento de isocianeto de metila em uma fbrica de pesticidas da Union Carbide mata mais de 2000 pessoas e deixa por volta de 200000 com graves leses nos olhos, pulmes, fgado e rins. Chernobil, antiga URSS, 1985. Uma exploso destri um dos quatro reatores de uma usina atmica, lanando 100 milhes de curies de radiao na atmosfera, 6 milhes de vezes o volume que escapou de Three Mile Island, nos Estados Unidos pouco anos antes, no que era considerado at ento o pior acidente atmico da histria. Trinta e uma pessoas perderam a vida e outras 40000 ficam sujeitas ao risco de cncer nos 20 anos seguintes. Basilia, Sua, 1986. Um incndio em uma indstria qumica de Sandoz atira no Reno 30 toneladas de pesticidas, fungicidas e outros produtos altamente txicos - o volume de poluentes recebidos pelo rio em um ano. O acidente d fora ao Partido Verde na renovao do Parlamento alemo. Alasca, EUA, 1989. O petroleiro Exxon Valdez bate em um recife e derrama 41,5 milhes de litros de petrleo no estreito de Prncipe Willian. Cerca de 580 000 aves, 5 550 lontras e milhares de outros animais morrem no maior acidente ambiental da histria recente dos EUA. Rio de janeiro (RJ), Araucria (PR), 2000 Rompimento de dutos transportadores de leo comprometendo a baia de Guanabara (1,29 mil toneladas liberados pela refinaria Duque de Caxias))e o rio Barigi, afluente do Rio Iguau e o prprio Iguau (4 milhes de litros de leo cr oriundo da refinaria presidente Getlio Vargas) Costa da Galcia, Espanha, 2002 O afundamento do petroleiro Prestige, das Bahamas, a 250 quilmetros da regio da Galcia, na costa da Espanha, que transportava 77 mil toneladas de leo combustvel. O acidente pode se tornar uma das maiores catstrofes ambientais da histria causadas por vazamento de leo. O navio afundou no dia 19 de novembro. O vazamento de leo atingiu as praias e as encostas da Espanha, com repercusses tambm na Frana e Portugal.

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Tema 01 Noes de planejamento e polticas ambientais

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Anotaes

Os casos acima so exemplos de poluio aguda "espetacular" da histria recente. Estes fatos, se comparados ao somatrio da poluio crnica e aguda que ainda fazem parte do cotidiano humano, so plenamente insignificantes. Entretanto, grandes episdios tm uma maior repercusso sobre necessidades de mudana de comportamento. Ou seja, continuamos ainda expostos ao perigo de todo o tipo de poluio. Prova recente foi o rompimento, em janeiro, de um duto da Petrobrs, que durante 4 horas despejou 1,3 milhes de litros de leo nas j degradadas guas da baa de Guanabara, atingindo os manguezais, essenciais para a sobrevivncia da fauna da regio. Ou o vazamento de cianeto no rio Tisza, afluente do Danbio. A diferena que desastres como estes no passam mais em branco. Agresses ambientais agora chocam a opinio pblica, abalando fortemente a imagem de uma empresa, e podem custar caro. A Petrobrs pagou uma multa de R$ 35 milhes ao Ibama e deve desembolsar mais de R$ 110 milhes em indenizaes para amenizar o impacto da devastao. E os governos da Iugoslvia e da Hungria ameaam recorrer Corte Internacional de Justia de Haia contra a Romnia pela catstrofe no Danbio, que tambm corta os territrios destes pases. notrio, portanto, o surgimento de uma conscincia ecolgica, que no se manifesta apenas por grupos ambientalistas, mas vem sendo incorporada por um nmero cada vez maior de consumidores preocupados com a qualidade de vida. Outra prova pode ser observada nas exigncias referentes proteo ambiental que durante muito tempo foram consideradas como um freio ao crescimento da produo, um obstculo jurdico legal e requerentes de grandes investimentos e, portanto, fator de aumento dos custos de produo. Atualmente, quase um consenso que a despreocupao com os aspectos ambientais pode traduzir-se no oposto : em aumento de custos, em reduo de lucros, perda de posio no mercado e, at, em privao da liberdade ou cessao de atividades. O Meio ambiente e sua proteo esto se tornando oportunidades para abertura de mercados e preveno contra restries futuras quanto ao acesso a mercados e financiamentos internacionais e mesmo nacional. A cotao de um pas, para receber investimentos estrangeiros, est cada vez mais relacionada com sua imagem internacional associada com seus cuidados com o meio ambiente. Do mesmo modo, organismos de fomento nacional (BNDS, Caixa Econmica Federal, por exemplo) j condicionam a liberao de determinadas linhas de crdito viabilidade ambiental do empreendimento financiado. Isto porque tem sido demonstrado a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento tradicional e que os custos, monetrios e sociais, infligidos por uma poluio desenfreada so maiores do que o investimentos necessrios para elimin-la e, sobretudo, evit-la. Neste sentido, a resposta das organizaes tem ocorrido em trs fases (superpostas ou no, dependendo maturidade ambiental da empresa) : controle ambiental nas sadas do sistema considerado (fim de linha) ; integrao do controle ambiental nas prticas e processos industriais ; integrao do controle ambiental na gesto administrativa. Algumas organizaes perfilam-se na primeira fase, enquanto a maioria se encontra na segunda fase e apenas uma minoria na j amadurecida terceira fase. O controle ambiental nas sadas do sistema consiste na instalao de equipamentos de controle de poluio nos pontos terminais da organizao, como chamins e redes de esgoto, mantendo a estrutura produtiva existente. A despeito de seu alto custo e da elevada eficincia dos equipamentos instalados, esta soluo nem sempre se mostra eficaz, tendo seus benefcios sido frequentemente questionados pelo pblico e pela prpria indstria. A integrao do controle ambiental nas prticas e processos produtivos, por sua vez deixa de ser uma atividade de controle da poluio e passa a ser uma funo da produo. O princpio bsico o da preveno da poluio, envolvendo a seleo das matrias-primas, o desenvolvimento de novos processos e produtos, o reaproveitamento da energia, a reciclagem de resduos e a integrao com o meio ambiente. E finalmente, na fase mais evoluda, as organizaes passaram integrao do controle ambiental na gesto administrativa, projetando-o nas mais altas esferas de deciso. Atender ao presente e gerar respostas setoriais e estanques passou a no ser suficiente ; olhar o futuro, horizontalizar a anlise e planejar corporativamente passou a ser o caminho natural e necessrio. A justificativa para esta mudana de atitude deve-se ao aumento da preocupao ambiental, com o estabelecimento de um verdadeiro mercado verde, o que torna os consumidores mais eficientes que os rgos de meio ambiente. Surgindo inicialmente nos pases desenvolvidos, este mercado tem origem basicamente

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Tema 01 Noes de planejamento e polticas ambientais

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Anotaes

em consumidores j satisfeitos em suas necessidades quantitativas e/ou mais exigentes de qualidade de vida. Eles passam a se preocupar com o contedo dos produtos e a forma como so feitos, rejeitando os que paream mais agressivos ao meio ambiente - nem sempre com fundamentao e muitas vezes na esteira de campanhas idealizadas por empresas e setores concorrentes. Com isso, a proteo do meio ambiente deixa de ser uma exigncia punida com multas e sanes e inscrevese em um quadro de ameaas e oportunidades, em que as conseqncias passam a poder significar posies na concorrncia e a prpria permanncia ou sada do mercado.

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A proteo ambiental deslocou-se uma vez mais, deixando de ser uma funo exclusiva de produo para torna-se tambm uma funo da administrao. Contemplada na estrutura organizacional, interferindo no planejamento estratgico, passou a ser uma atividade importante na organizao da empresa, seja no desenvolvimento das atividades de rotina, seja na discusso dos cenrios alternativos e na conseqente anlise de sua evoluo, gerando polticas, metas e planos de ao. Essa atividade dentro da organizao passou a ocupar o interesse dos presidentes e diretores e a exigir nova funo administrativa na estrutura administrativa que pudesse abrigar um corpo tcnico especfico e um sistema gerencial especializado, com a finalidade de propiciar empresa uma integrao articulada e bem conduzida de todos seus setores e a realizao de um trabalho de comunicao social moderno e consciente. Assim, a preocupao com o meio ambiente torna-se, enfim, um valor da empresa, explicitado publicamente como um dos objetivos principais a ser perseguido pelas organizaes.

Diante do exposto entende-se porque a questo ambiental est se tomando matria obrigatria das agendas dos executivos das organizaes. A globalizao dos negcios, a internacionalizao dos padres de qualidade ambiental esperadas na ISO 14000, a conscientizao crescente dos atuais consumidores e a disseminao da educao ambiental nas escolas permitem antever que a exigncia que faro os consumidores em relao preservao do meio ambiente e qualidade de vida devero intensificar-se. Diante disto, as organizaes devero, de maneira acentuada, incorporar a varivel ambiental na prospeco de seus cenrios e na tomada de deciso, alm de manter uma postura responsvel de respeito questo ambiental. A experincia das empresas pioneiras permite identificar resultados econmicos e resultados estratgicos do engajamento da organizao na causa ambiental. Estes resultados, porm, no se viabilizam de imediato. H necessidade de que sejam corretamente planejados e organizados todos os passos para a interiorizao da varivel ambiental na organizao para que ela possa atingir, no menor prazo possvel, o conceito de excelncia ambiental, que lhe trar importante vantagem competitiva. Elkington e Burke (1989) 1 destacam dez passos necessrios para a excelncia ambiental : Desenvolver e publicar uma poltica ambiental. Estabelecer metas e continuar a avaliar os ganhos. Definir claramente as responsabilidades ambientais de cada uma das reas e do pessoal administrativo (Linha ou assessoria) 4. Divulgar interna e externamente a poltica, os objetivos e metas e as responsabilidades. 5. Obter recursos adequados. 6. Educar e treinar o pessoal e informar os consumidores e a comunidade. 7. Acompanhar a situao ambiental da empresa e fazer auditorias e relatrios. 8. Acompanhar a evoluo da discusso sobre a questo ambiental. 9. Contribuir para os programas ambientais da comunidade e invistir em pesquisa e desenvolvimento aplicada rea ambiental. 10. Ajudar a conciliar os diferentes interesses existentes entre todos os envolvidos : empresa, consumidores, comunidade, acionistas, etc. 1. 2. 3.

1

ELKINGTON, J., BURKE, T. The green capitalists. Londres: Gallancz, 1989.

Tema 01 Noes de planejamento e polticas ambientais

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Anotaes

Posicionamento da organizaoA questo ambiental, quando considerada do ponto de vista empresarial, levanta dvidas com respeito ao aspecto econmico. A idia que prevalece de que qualquer providncia que venha a ser tomada em relao varivel ambiental traz consigo o aumento de despesas e o conseqente acrscimo dos custos do processo produtivo. Algumas empresas, porm, tm demonstrado que possvel ganhar dinheiro e proteger o meio ambiente, mesmo no sendo uma organizao que atua no chamado "mercado verde". necessrio que as empresas possuam uma certa dose de criatividade e condies internas que possam transformar as restries e ameaas ambientais em oportunidades de negcios. Entre essas oportunidades pode-se citar a reciclagem de materiais, que tem trazido uma grande economia de recursos para as empresas ; o reaproveitamento dos resduos internamente ou sua venda para outras empresas atravs de Bolsas de Resduos ou negociaes bilaterais; o desenvolvimento de novos processos produtivos com a utilizao de tecnologias mais limpas ao ambiente, que se transformam em vantagens competitivas e at mesmo possibilitam a venda de patentes; o desenvolvimento de novos produtos para um mercado cada vez maior de consumidores conscientizados com a questo ecolgica ; o mercado de seguros contra riscos de acidentes e passivos ambientais ; desenvolvimento de novas especializaes profissionais como auditores ambientais, gerentes de meio ambiente, advogados ambientais, bem como o incremento de novas funes tcnicas especficas. Quadro : posicionamento da organizao em relao a questo ambiental. Empresas agressivas Empresas amigveis Classificao 1 2 3 4 5 1. Ramo de atividade 2. Produtos MP renovveis MP no renovveis reciclagem no h reciclagem reaproveitamento de resduos no h aproveitamento resduos no poluidores poluidores baixo consumo energia consumo energia 3. Processo no poluentes poluente poucos resduos resduos perigosos baixo consumo energia alto consumo energia eficiente uso dos recursos ineficiente uso dos recursos no afeta trabalhadores insalubre aos trabalhadores 4. Conscincia ambiental Consumidores conscientes consumidores no conscientes 5. Padres ambientais altos padres baixos padres obedincia s restries no obedincia s restries 6. Comprometimento gerencial comprometido no comprometido 7. Nvel capacidade do pessoal alto baixo voltado a novas tecnologias acostumado velhas tecnologias 8. Capacidade de P&D alta criatividade baixa criatividade curtos ciclos de desenvolvimento longos ciclos de desenvolvimento 9. Capital existncia de capital ausncia de capital alta possibilidade de emprstimos pouca possibilidade de emprstimos Classificao 1 = Empresa muito ameaada pela questo ambiental 5 = Questo ambiental constitui oportunidades de crescimento

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Tema 01 Noes de planejamento e polticas ambientais

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No se sabe at que ponto as consideraes acima tm norteado as aes dos dirigentes empresariais nacionais, mas certo que todos eles gostariam de saber at onde a sua organizao seria afetada pelo aumento da conscincia ecolgica dos consumidores e pelas exigncias da legislao. Para colaborar com este anseio, North (1992) 2 apresenta uma avaliao do posicionamento da empresa em relao questo ambiental. Este procedimento prope a avaliao do perfil da organizao segundo diversas variveis indicando, para cada um dos quesitos colocados, se a empresa apresenta caractersticas "amigveis" ou "agressivas" ao meio ambiente (quadro). Ou seja, quanto mais "amiga" do meio ambiente mais apta estaria a empresa, neste tocante, a enfrentar as exigncias sociais e regulamentares. A utilizao do quadro pode ser feita da seguinte maneira : Cada um dos itens apresenta duas afirmativas extremas. Se a afirmativa da esquerda reflete plenamente a situao da empresa assinalar 1. Se a afirmativa da direita reflete plenamente a situao, assinalar 5. Se a situao da empresa est mais prxima da situao da esquerda ou da direita, assinalar respectivamente 2 ou 4. Finalmente, adotar 3 para uma situao intermediria. Por exemplo, se no quesito "Produtos" no ocorrer nenhum aproveitamento dos resduos, a nota do item seria 1. Por outro lado, se todos os resduos fossem aproveitados a nota seria 5. Se metade dos resduos fossem valorizados a nota seria 3 e assim sucessivamente. Com relao aos resultados, se a maioria dos valores atribudos estiver entre 1 e 2, a empresa est provavelmente diante de um importante desafio : identificar e integrar os requisitos qualidade ambiental aos requisitos de qualidade de sua empresa, eliminando assim a vulnerabilidade caracterstica deste desempenho ; Se a maioria dos valores atribudos s questes foi 3, provavelmente a empresa vem realizando um esforo para sustentar seu atual desempenho ambiental ; Se os valores atribudos estiverem concentrados em 4, muito provvel que a empresa esteja no caminho certo. Ela deve continuar a reavaliar as oportunidades de melhoria ; Finalmente, se a maioria dos valores atribudos s questes foi 5, muito provvel que o desempenho ambiental da empresa seja excelente. Seja qual for o resultado obtido, eles permitiro identificar "Onde estamos ?". A partir da identificar "Onde queremos chegar?". Ainda de acordo com North (1992), para a correta avaliao de posio da empresa, no quadro 1, importante estabelecer algumas consideraes sobre as variveis selecionadas. Ramo de atividade da empresa primeira vista pode ser considerado o mais importante indicador da ameaa que a organizao pode causar ao meio ambiente e dos custos que se fazem necessrios para atender s exigncias da regulamentao ambiental. Dados da Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, colocam entre os setores industriais mais poluentes: as industrias qumicas, de papel e celulose, de ferro e ao, de metais no ferrosos (por ex.: alumnio), de gerao de eletricidade, de automveis e de produtos alimentcios. Conhecer apenas o ramo, porm, no suficiente, visto que os nveis de tecnologia e de produo podem variar muito de uma regido para outra e mesmo de uma empresa para outra. Isso particularmente verdadeiro num pas grande como o Brasil, onde as exigncias ambientais e de tecnologias limpas esto mais circunscritas aos grandes centros urbanos. Produtos A conceituao da empresa ambientalmente amigvel determinada no s pelas caractersticas de seu processo produtivo, mas tambm pelos produtos que fabrica. Assim sendo, produtos obtidos de matriasprimas renovveis ou reciclveis, que no agridem o meio ambiente e que tm baixo consumo de energia devem ter a preferncia das organizaes engajadas na causa ambiental. Processo Um processo para ser considerado ambientalmente amigvel deve estar prximo dos seguintes objetivos:

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NORTH, K. Environmental business management. Genebra: ILO, 1992.

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poluio zero; nenhuma produo de resduos; nenhum risco para os trabalhadores; baixo consumo de energia; e eficiente uso dos recursos. Para saber quanto a empresa est prxima ou longe desses objetivos ideais, necessrio que ela faa uma estimativa de seu balano ambiental, levando em considerao todas as entradas e sadas do processo produtivo. Tal estimativa deve tambm levar em conta os padres ambientais estabelecidos na busca de no apenas obedec-los, mas tambm sempre que possvel, de super-los. Esta meta deve ser continuamente buscada porque hoje ainda no se conhecem as consequncias que determinadas substncias podem acarretar no longo prazo e tambm porque os padres estabelecidos, muitas vezes por questes econmicas e polticas, podem estar muito aqum das reais necessidades sociais, provocando efeitos adversos ao meio ambiente que s6 sero avaliados no futuro. Conscientizao ambiental A inexistncia de consumidores conscientizados em relao a causa ambiental pode dar falsa impresso de que a empresa no est ameaada pela crescente ampliao dos produtos amigveis ao ambiente no mercado de bens e servios. Estas empresas podem ser pegas de surpresa pelos concorrentes que eventualmente j incorporaram essa varivel em seu processo de tomada de deciso e na avaliao de seus cenrios e que podero tirar substanciais e permanentes vantagens desse seu pioneirismo. Acompanhar o crescimento das reivindicaes ambientais e a sua transformao em novas ideologias e valores sociais que se consubstanciam em mudanas na legislao e em regulamentaes mais severas tarefa muito importante para a sobrevivncia e lucratividade da empresa no longo prazo. Padres ambientais H uma correlao direta entre a conscientizao da sociedade e os padres ambientais estabelecidos. Assim, quanto maior a presso social mais restrita sua legislao ambiental. A princpio, isto pode parecer uma grande ameaa para as empresas, porm existem inmeros exemplos de que isso no uma verdade absoluta. Nos pases onde as restries ambientais so mais severas como Japo, Alemanha, Sucia etc., suas organizaes desenvolveram excelentes oportunidades de novos negcios, relacionados com a questo ambiental, que atualmente esto inclusive exportando know-how para outros pases. Comprometimento gerencial (linha e staff) No nvel interno da organizao, a mudana mais importante que pode ser conseguida em relao questo ambiental o comprometimento gerencial, tanto das posies de linha como de staff. Este comprometimento dissemina no seio da organizao a formao de um clima propcio ao surgimento de esquemas e crculos de qualidade ambientais, bancos de sugestes, auditorias etc., que se traduzem em uma contnua busca de melhorias. Como a questo ambiental est em evidncia, muitas empresas tm se engajado nessa onda apenas no discurso e no atravs de aes efetivas, pois no conseguem nem mesmo sensibilizar seus prprios executivos de que a preocupao com a proteo ao meio ambiente realmente um objetivo empresarial importante a ser alcanado. Caso estes executivos no estejam realmente conscientizados e comprometidos com a causa ambiental, qualquer iniciativa nesse sentido seria apenas superficial e efmera. Capacitao do pessoal Estar comprometida com a preservao do meio ambiente exige que a empresa enfrente eficientemente este desafio. Baixos nveis de poluio podem estar ligados a novos equipamentos, tecnologias mais novas que podem provocar mudanas nos processes e produtos. A1m dos investimentos em novas mquinas, instalaes e equipamentos, tal posio implica necessariamente a existncia de um pessoal competente e convenientemente treinado que seja capaz de transformar os planos idealizados em aes efetivas e eficazes. Capacidade da rea de P&D As empresas ambientalmente orientadas tm demonstrado ser capazes de se antecipar e reagir rapidamente s mudanas do mercado e legislao ambiental. Isto se deve a seu desempenho e criatividade em desenvolver

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novos processos e novos produtos ou modificar os existentes. O aparecimento de detergentes biodegradveis, tratamento fsico-qumico de efluentes, servios de administrao de resduos, novas tecnologias de reciclagem etc. foram resultados de bem sucedidos projetos de P&D. Assim, as organizaes que possuem na rea de P&D, equipes flexveis e criativas, que se caracterizam por ciclos curtos de desenvolvimento de processos e produtos e que esto atualizadas com as informaes sobre novas tecnologias, podem no s viabilizar a causa ambiental internamente, mas tambm transformar este know-how em atividades de consultoria para outras empresas, desenvolvendo dessa forma grandes oportunidades de negcios. Capital A grande dvida da empresa e que sempre se levanta no saber se o investimento realizado com a questo ambiental ser rentvel, pois muitas vezes pode levar muito tempo para conseguir o retorno desse investimento. Como o retorno do investimento no pode ser previsto em termos determinsticos, sempre haver necessidade de aporte de capitais prprios ou de terceiros para que a empresa se integre na causa ambiental. Para minimizar este impactos porm, as empresas podero negociar com os rgos governamentais de controle acordos que resultem em cronogramas mais amplos e padres de emisso decrescentes que podero viabilizar ao longo do tempo objetivos difceis de ser alcanados no curto prazo. Concluindo, a verificao de posicionamento de empresa em relao a esses aspectos, permitir avaliar at que ponto os negcios da empresa podero ser atingidos pela varivel ambiental.

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Por que se integrar na causa ambiental?Sem organizaes orientadas para o meio ambiente, no poder existir uma economia orientada para o ambiente; Sem organizaes orientadas para o ambiente, no poder existir consenso entre o pblico e a comunidade empresarial ; Sem gesto ambiental da organizao, esta perder oportunidades no mercado em rpido crescimento e aumentar o risco de sua responsabilizao por danos ambientais ; Sem gesto ambiental da organizao, os conselhos de administrao, os diretores executivos, os chefes de departamentos e outros membros do pessoal vero aumentadas a sua responsabilidade em face de danos ambientais ; Sem gesto ambiental da organizao, sero potencialmente desconsideradas muitas oportunidades de reduo de custos ; Sem gesto ambiental da organizao, os tomadores de deciso estaro em conflito com sua prpria conscincia (??).

Benefcios da gesto ambientalBenefcios econmicos Economia de custos - Economia devido reduo do consumo de gua, energia e outros insumos ; - Economia devido reciclagem, venda e aproveitamento de resduos e diminuio de efluentes ; - Reduo de multas e penalidade por poluio. Incremento de receitas - Aumento da contribuio marginal de "produtos verdes" que podem ser vendidos a preo mais altos;

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- Aumento da participao no mercado devido a inovao dos produtos e menos concorrncia ; - Linhas de novos produtos para mercados ; - Aumento da demanda para produtos que contribuam para a diminuio da poluio. Benefcios estratgicos Melhoria da imagem institucional ; Renovao do "Portfolio" de produtos ; Aumento da produtividade ; Alto comprometimento do pessoal ; Melhoria nas relao de trabalho ; Melhoria e criatividade para novos desafios ; Melhoria das relaes com rgo governamentais, comunidade e grupos ambientalistas ; Acesso assegurado ao mercado externo ; Melhor adequao aos padres ambientais. Alm destes benefcios, deve-se considerar ainda os seguintes argumentos para que uma organizao se engaje na causa ambiental : Aceite primeiro o desafio ambiental antes que seus concorrentes o faam ; Seja responsvel em relao ao meio ambiente e torne isso conhecido ; Utilize formas de prevenir a poluio ; Ganhe o comprometimento do pessoal.

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Princpios de planejamento ambientalPrioridade organizacional Reconhecer que a questo ambiental est entre as principais prioridades da empresa e que ela uma questo-chave para o desenvolvimento sustentado. Estabelecer polticas, programas e prticas no desenvolvimento das operaes que sejam adequadas ao meio ambiente. Gesto integrada Integrar as polticas, programas e prticas ambientais intensamente em todos os negcios como elementos indispensveis de administrao em todas as suas funes. Processo de melhoria Continuar melhorando as polticas corporativas, os programas e a performance ambiental tanto no mercado interno quanto externo, levando em considerao o desenvolvimento tecnolgico, o conhecimento cientfico, as necessidades dos consumidores e os anseios da comunidade, tendo como ponto de partida as regulamentaes ambientais. Educao do pessoal Educar, treinar e motivar o pessoal, para que possam desempenhar suas tarefas de forma responsvel em relao ao ambiente. Prioridade de enfoque Considerar as repercusses ambientais antes de iniciar nova atividade ou projeto e antes de instalar novos equipamentos e instalaes ou de abandonar alguma unidade produtiva. Produtos e servios Desenvolver e produzir produtos e servios que no sejam agressivos ao ambiente e que sejam seguros em sua utilizao e consumo, que sejam eficientes no consumo de energia e de recursos naturais e que possam ser reciclados, reutilizados ou armazenados de forma segura.

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Orientao ao consumidor Orientar e, se necessrio, educar consumidores, distribuidores e o pblico em geral sobre o correto e seguro uso, transporte, armazenagem e descarte dos produtos produzidos. Equipamentos e operacionalizao Desenvolver, desenhar e operar mquinas e equipamentos levando em conta o eficiente uso da gua, energia e matrias-primas, o uso sustentvel dos recursos renovveis, a minimizao dos impactos negativos ao meio ambiente e a gerao de poluio e o uso responsvel e seguro dos resduos existentes.

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Pesquisa Conduzir ou apoiar projetos de pesquisas que estudem os impactos ambientais das matrias-primas, produtos, processos, emisses e resduos associados ao processo produtivo da empresa, visando a minimizao de seus efeitos. Enfoque preventivo Modificar a manufatura e o uso de produtos ou servios e mesmo processos produtivos, de forma consistente com os mais modernos conhecimentos tcnicos e cientficos, no sentido de prevenir as srias e irreversveis degradaes do meio ambiente. Fornecedores e subcontratados Promover a adoo dos princpios ambientais da empresa junto dos subcontratados e fornecedores encorajando e assegurando, sempre que possvel, melhoramentos em suas atividades, de modo que elas sejam uma extenso das normas utilizadas pela empresa. Planos de emergncia Desenvolver e manter, nas reas de risco potencial, planos de emergncia idealizados em conjunto entre os setores da empresa envolvidos, os rgo governamentais e a comunidade local, reconhecendo a repercusso de eventuais acidentes Transferncia de tecnologia Contribuir na disseminao e transferncia das tecnologias e mtodos de gesto que sejam amigveis ao meio ambiente junto aos setores privado e pblico Contribuio ao esforo comum Contribuir no desenvolvimento de polticas pblicas e privadas, em programas governamentais e iniciativas educacionais que visem a preservao do meio ambiente. Transparncia de atitude Propiciar a transparncia e dilogo com a comunidade interna e externa, antecipando e respondendo a suas preocupaes em relao aos riscos potenciais e impacto das operaes, produtos e resduos. Atendimento e divulgao Medir a performance ambiental. Conduzir auditorias ambientais regulares e averiguar se os padres da empresa cumprem os valores estabelecidos na legislao. Prover periodicamente informaes apropriadas para a Alta Administrao, acionistas, empregados, autoridades e o pblico em geral.

Por onde comear ?Quais so os pontos fortes referentes questo ambiental da empresa e de seus diferentes departamentos funcionais ? Produtos amigveis ao ambiente Processo produtivos que economizam recursos e no provocam riscos ao ambiente Imagem corporativa em relao a causa ambiental Compromisso da gerncia e do pessoal com a proteo ambiental Capacidade da rea de P&D para tecnologias e produtos "Limpos" Quais so os pontos fracos relativos questo ambiental ?

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Produtos que no podem ser reciclados Embalagens, recipientes etc. no reciclveis Processos poluentes Efluentes perigosos Imagem poluidora Pessoal no engajado na questo ambiental

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Quais so as oportunidades relacionadas questo ambiental ?Entrada em novos mercados A possibilidade de transformar produtos tradicionais em produtos ambientalmente amigveis Assegurar a sobrevivncia da empresa pela manuteno de uma boa imagem ambiental Aumentar o desempenho dos fornecedores e colaboradores estabelecendo novos objetivos para a proteo ambiental A possibilidade de economizar recursos, energia e custos

Quais as ameaas pertinentes questo ambiental ?Avano da legislao ambiental e a possibilidade de investimento adicionais e diminuio dos lucros Interveno governamental nas atividades produtivas atuais Atuao de grupos ecolgicos Desempenho dos concorrentes referentes questo ambiental

Investimento em meio ambiente : uma equao delicada Silvia Czapski | Jornal Valor Econmico, So Paulo N 72, Quinta-feira, 10|8|2000 A bomba atmica lanada sobre Nagasaki em 9 de agosto de 1945 h exatos 55 anos o marco de uma virada histrica. A violncia da morte de 100 mil pessoas (trs dias antes, 190 mil haviam morrido em Hiroshima) forou o Tratado de Paz que selaria o fim da Segunda Guerra Mundial. A paz permitiu um ciclo de intenso crescimento econmico, onde a fumaa das chamins passou a ser smbolo do progresso. A resposta da natureza veio rpida. Em 1952, o smog (poluio atmosfrica industrial) em Londres matou milhares de habitantes. Outras cidades, como Los Angeles, Nova York e Berlim, tambm enfrentavam os efeitos negativos da poluio. Em 1953, houve outro desastre, no Japo: o despejo industrial de mercrio na Bacia de Minamata contaminou milhares de pessoas, provocando desde distrbios neurolgicos a mutaes genticas em bebs. As causas do Mal de Minamata s foram reconhecidas quase dez anos depois, quando o problema se repetiu em Niigata. Curiosamente, no foram esses desastres que criaram o movimento ecologista radical, e sim um pequeno livro, escrito pela norte-americana Rachel Carlson, em 1962. Primavera Silenciosa contava uma histria real, a da contaminao dos Grandes Lagos dos Estados Unidos por DDT organoclorado idealizado em 1939 como instrumento blico e transformado em sucesso mundial de vendas no ps-guerra, como inseticida agrcola. No efervescente ano de 1968, o empresrio italiano Attilio Percei, preocupado com a conjuntura mundial, convidou cientistas, economistas e industriais para debater sadas para a crise. Desse encontro nasceu o Clube de Roma, que produziu vrios relatrios sobre as condies do planeta. Usando pela primeira vez modelagem de computador, no programa World3, o grupo lanou outro livro de impacto para o debate sobre a questo ambiental: Limites do Crescimento. O livro desenhava dois cenrios. No primeiro, estudava o desenvolvimento da economia e da degradao ambiental, no ritmo ento em vigor. O modelo matemtico detectou um limite de crescimento, prevendo o caos em cem anos. No segundo cenrio, descrevia como evitar o desastre, por meio de uma reforma que priorizasse o equilbrio ecolgico e econmico.

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O cenrio projetado pelo Clube de Roma influenciou a 1. Conferncia da ONU sobre o Ambiente Humano, promovida na Sucia, no mesmo ano. Nesse evento foi tomada a importante deciso de criar o Programa de Meio Ambiente da ONU. Mas, j em 1973, aconteceu algo no previsto pelo Clube de Roma: a crise do petrleo. Assustadas com o novo custo da energia, as empresas passaram a considerar a possibilidade de investir para aproveitar melhor esse recurso natural. A 3M, nos EUA, foi a mais ousada: em 1975 adotou, como iniciativa voluntria, o primeiro grande plano de preveno poluio. Sua meta era reduzir as emisses do ar em 70%, at 1993. O Brasil experimentava ento um crescimento industrial indito, acompanhado de muita poluio. Nos anos de chumbo surgiram obras faranicas, como a Transamaznica. Ao mesmo tempo, a poluio crescente e a presso internacional inspiraram o surgimento da Cetesb, em So Paulo, e Feema, no Rio de Janeiro, como rgos de controle da poluio. Em nvel federal, nasceu a Sema Secretaria Especial do Meio Ambiente, liderada por Paulo Nogueira Neto. Ele lembra, desse perodo, de alguns embates com o setor industrial. Quando propusemos a Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente, a CNI (Confederao Nacional da Indstria) resistiu. Queria o veto de 13 artigos. Mas o presidente Joo Figueiredo (1979-1985) promulgou a lei em 1981, com apenas dois vetos. E as empresas aceitaram. Nos anos 80 ocorreram novos desastres ecolgicos. Em 1984, um vazamento de gs da Union Carbide, em Bhopal, na ndia, matou milhares de pessoas. Em 1986, o acidente na usina nuclear ucraniana de Chernobyl exterminou dezenas de milhares de vidas e contaminou toda a regio. Em 1989, a coliso do petroleiro Exxon Valdez sujou 250 quilmetros quadrados do mar rtico: as despesas com despoluio superaram US$ 1 bilho. Porm, tambm houve progressos. Nos anos 80, assinou-se o Protocolo Internacional de Montreal, para proteger a camada de oznio e foi criado o conceito de Desenvolvimento Sustentvel. O Brasil promulgou sua nova Constituio com um captulo para o meio ambiente e instituiu os Estudos de Impacto Ambiental. E, em dezembro de 1989 um ano aps a morte de Chico Mendes, um dos smbolos nacionais da luta pela preservao a ONU aprovou a Conferncia sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Eco92, que ocorreria em 1992, no Rio. A Eco 92 trouxe mais de 150 chefes de Estado ao Brasil, culminando em acordos internacionais importantes, como a Conveno da Biodiversidade Biolgica e a de Mudanas Climticas (para evitar o aumento do efeito estufa). Porm, cinco anos depois da Eco, a Comisso de Desenvolvimento Sustentvel da ONU conclua que as decises no foram implementadas. Mas novidades aconteceram. Pesquisas de mercado detectam a opo de um nmero cada vez maior de consumidores por produtos e servios ecologicamente corretos. Apesar de ainda haver choques, cresce o nmero de alianas entre organizaes ambientalistas e empresas para atividades de carter scio-ambiental. O mercado global exige certificaes ecolgicas, que se multiplicam. E muitas empresas, mesmo no certificadas, abrem departamentos de meio ambiente ou investem em pesquisas e melhorias nessa rea. Em todos os ramos profissionais, aumenta o espao para especializao em meio ambiente, como o caso da auditoria e contabilidade ambiental, um nicho promissor. Aqui no Brasil, pela primeira vez, a Pricewhaterhouse Coopers montou um ncleo fixo de sete profissionais na rea de meio ambiente, conta Paulo Vanca, Scio da Price no Brasil. Segundo relata, os acionistas das empresas globais, como Shell e Rhone Poulenc, tambm comearam a solicitar relatrios anuais que incluem o balano social, ambiental e econmico. O fundo de investimentos Terra, administrado pela A2R no Brasil para beneficiar projetos ecologicamente corretos, a recente discusso sobre as commodities ambientais e os certificados de seqestro de carbono da natureza, surgem como outros indcios de um novo tempo, onde a economia est tentando entrar em acordo com o meio ambiente.

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1.3.

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ConceitosPoltica : Maneira organizada de conduzir uma questo; maneira de agir e tratar com habilidade; arte ou cincia de governar. Meio ambiente : conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. H uma tendncia, entretanto, de que a abordagem da questo ambiental englobe tambm seus aspectos artificiais, sociais, culturais, econmicos e polticos denominados meio ambiente artificial Poluio : Qualquer alterao prejudicial ao meio ambiente por interferncia antrpica; Poluidor : pessoa fsica ou jurdica, de direito pblico ou privado, responsvel, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradao ambiental; Desenvolvimento sustentvel : aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das geraes futuras de suprir suas prprias necessidades

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O texto a seguir foi extrado de Dalia Maimon. Passaporte Verde - Gesto Ambiental e Competitividade. Qualitymark Editora, Rio de Janeiro 1996.

IntroduoA poltica ambiental de um pas ou de uma regio depende, em primeiro lugar, da "preferncia social pelo meio ambiente" e da disponibilidade de recursos financeiros, tcnicos e humanos necessrios sua implantao. A "preferncia social pelo meio ambiente" demarca o "nvel de poluio socialmente aceitvel", isto , quanto de incmodo a sociedade est disposta a suportar e, sobretudo, qual a contrapartida de recursos que est disposta a abrir mo para melhorar seu meio ambiente. Essa "preferncia" distinta entre regies e classes sociais. Depende das crenas, ideologias e culturas, e dos conflitos de interesses dos atores envolvidos, tais como o setor pblico, o setor privado, a sociedade civil e militar, e as organizaes no-governamentais. Ceteris paribus os demais fatores, a "preferncia pelo meio ambiente" ser influenciada pela ocorrncia de grandes acidentes ecolgicos, pela acelerao da deteriorao ambiental e pela forma com que os meios de comunicao e os formadores de opinio abordam o assunto. Em nvel internacional, as polticas ambientais podem ser classificadas segundo trs macroobjetivos: uma Poltica de Segurana Mnima (PSM), uma poltica de crescimento ecologicamente sustentvel e uma poltica com nfase na Qualidade Total, incluindo neste conceito a Qualidade Ambiental. A PSM visa garantir a segurana sobre os riscos e acidentes ecolgicos de grande vulto, evitando as respectivas repercusses sobre a sade da populao, conservando os espaos e espcies legitimamente

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consideradas como merecedores de preservao e satisfazendo as necessidades expressas e imediatas da maioria dos usurios. Esta poltica caracteriza os pases com recursos oramentrios e tcnicos restritos e onde no h uma forte sensibilizao quanto questo ambiental. A PSM tem por inconveniente transferir para o longo prazo os impasses ecolgicos e econmicos onerosos, sobretudo se considerada a irreversibilidade de certos danos ao meio ambiente. Dada a globalizao dos problemas ambientais, a PSM tem que ser minimamente compatvel com os acordos internacionais sobre a matria.

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A poltica de crescimento ecologicamente sustentvel marca a maioria dos pases que avanaram no campo da poltica ambiental. Tem por base a gesto racional dos recursos e a prudncia no longo prazo. Visa evitar os impasses e os custos ecolgicos insuportveis social e economicamente. Nesta tica, enfatiza-se a preveno da poluio, a internalizao das externalidades, a gesto probabilstica de riscos globais, o desenvolvimento cientfco-tecnolgico e o acesso democrtico informao. Embora a poltica de crescimento ecologicamente sustentvel seja o discurso de grande nmero de naes, esta foi, efetivamente, implantada nos Pases Baixos, na Dinamarca e na Sucia. Nestes pases de clima frio, caracterizados por pequenas superfcies e escassos recursos energticos com relao demanda, a reproduo dos recursos naturais tornou-se uma pr-condio da modernizao econmica. A poltica de modernizao pela Qualidade Total parte da premissa de que o meio ambiente deve ser considerado no somente como uma pr-condio de crescimento de longo prazo, mas como um must a ser valorizado na poltica global de qualidade, em todos os seus nveis: econmico, social e ecolgico. Visa utilizar o meio ambiente como elemento dinmico da concorrncia e de imagem internacional, de reduo das desigualdades sociais e de segurana. Atualmente, nenhum pas pode advogar como praticante da Qualidade Total no sentido acima exposto. Entretanto, os macroobjetivos da poltica ambiental da ex-Alemanha Ocidental e do Estado da Califrnia so os que mais se aproximaram do modelo. A crise econmica atravessada por estas duas regies acabou pesando sobre a respectiva poltica, acarretando um questionamento dos empresrios quanto regulao do governo e a exportao dos problemas ambientais, em particular dos resduos slidos. Em nvel micro, a poltica de Qualidade Total praticada por algumas empresas ou setores industriais.

Instrumentos de poltica ambientalOs principais instrumentos de poltica ambiental so os de comando e controle, e os econmicos. O Estado pode, ainda, abdicar de um planejamento confiando na auto-regulao das empresas, ou acionar macropolticas que tenham interface com a poltica ambiental. Aqui, vale citar o planejamento regional e urbano, a poltica de desenvolvimento tecnolgico, o planejamento energtico e a educao ambiental, entre outros. Quanto incidncia, os instrumentos podem ser classificados em diretos ou indiretos, quando acionados pelos rgos reguladores diretamente ou indiretamente sobre os agentes de emisses e de danos.

COMANDO E CONTROLE Os instrumentos de comando e controle so os mais utilizados na poltica ambiental. Podem ser definidos como um conjunto de regulamentos e normas impostos pelo governo que tm por objetivo influenciar diretamente as atitudes do poluidor, limitando ou determinando seus efluentes, sua localizao, hora de atuao, etc.

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Assim, para distritos industriais podem ser admitidas normas de poluio mais flexveis, enquanto para reas de conservao e de preservao, a norma zero. A implementao e fiscalizao dos instrumentos de comando e controle demandam uma sofisticada engenharia de mensurao da poluio, do clculo de sua disperso e da sinergia entre poluentes, bem como das tcnicas de depurao. As normas de poluio da gua referem-se Demanda Bioqumica de Oxignio (medida de oxignio consumido plos microrganismos atuantes na oxidao de compostos orgnicos biodegradveis), estipulam quantidades mximas de descarga de metais pesados, como cobre, mercrio, chumbo, estanho e zinco, etc. As normas de poluio do ar estabelecem limites para as emisses de partculas em suspenso, aerossis, xidos de carbono, xidos de enxofre, xidos de nitrognio, etc. Dado o alto custo de fiscalizao de uma poltica de comando e controle tradicional, seus defensores sugerem recorrer concesso de prmios a empresas menos poluidoras e publicao de listas anuais daquelas mais poluidoras. Esta prtica, introduzida recentemente nos EUA e no Canad, tem se revelado eficiente no combate poluio em sociedades onde a sensibilidade ecolgica elevada e, em consequncia, onde as empresas temem macular sua imagem junto opinio pblica ou aos consumidores. No Estado do Rio de Janeiro, este instrumento foi, tambm, adotado por uma associao de cientistas e intelectuais defensores do meio ambiente. Infelizmente, no tem surtido o efeito desejvel, o que comprova que a simples transposio de um instrumento, sem levar em considerao a "preferncia social" pelo meio ambiente fadada ao insucesso.

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AUTO-REGULAO A auto-regulao o planejamento ambiental reivindicado pelos neoliberais e pelos empresrios que confiam s foras do mercado a incorporao da responsabilidade ambiental nas empresas. Nesta tica, as recentes gestes ambientais, segundo a lgica da preveno da poluio em todo o ciclo de vida do produto (Life Cycle Analysis ou assessment), as inovaes tecnolgicas relativas s economias de energia e de recursos naturais, bem como a capacidade de reciclar os resduos slidos comprovam que o mercado pode conduzir "ecoefcincia (Business Councilfor Sustainable Development-BCSD). Adicionalmente, a auto-regulao , obviamente, o instrumento mais barato de se implementar pelo governo, e pelas empresas que teriam liberdade de optar por inovaes redutoras de custos (Schimidleiney, 1992) 3. O BCSD enfatiza a necessidade de mercados abertos e competitivos para que o crescimento limpo e eqitativo seja possvel. Novas oportunidades de negcios podem ser criadas, com recursos das empresas, desenvolvendo substitutos ambientalmente sadios para produtos correntes ou dedicando-se indstria de proteo ambiental. Entre as dificuldades de se atingir a "ecoeficincia", destacam-se as preocupaes com a viabilidade econmica, a falta de informaes da alta administrao e a falta de incentivos adequados, como por exemplo a cooperao tcnica. Os autores que defendem o mercado como auto-regulador apontam alguns fatores que vm estimulando a performance ambiental da firma, entre eles, a opinio pblica, o consumismo ambiental, o acesso privilegiado a alguns financiamentos, a presso exercida pelas companhias de seguro, etc.. Ottman (1992) 4 enfatiza o papel do consumismo ambiental. Os consumidores, estando dispostos a pagar mais por produtos verdes, exigem, em contrapartida, um certificado de Anlise do Ciclo de Vida. Esta exigncia afeta primeiramente as firmas que produzem bens finais e num segundo momento as empresas de bens intermedirios que as fornecem. A certificao ambiental vem se revelando um importante instrumento de poltica ambiental domstica. Auxilia o consumidor, na escolha de produtos menos nocivos ao meio ambiente, servindo de um instrumento de marketing para as empresas que diferenciavam seus produtos no mercado, atribuindo-lhes uma qualidade3 Schimidheiny S. (1992) Changing Course: a global perspective on development and the environment, Massachusetts Institute of Tecnology. 4 Ottman, J. A. (1992) Green Marketing: Challenges and Opportunities for the New Marketing Age, Chicago.

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a mais. A ecocompatibilidade dos produtos passa a ser, ento, uma informao adicional ao preo na escolha da cesta de consumo. A Fondation Nationale Entreprise & Performance (1994) aponta para as companhias de seguro como um novo ator de Desenvolvimento Sustentado. Uma pesquisa elaborada pelo escritrio Graham Ban-nock and Partners junto a 353 empresas mdias na Gr-Bretanha, nos EUA, na Frana e nos pases do Benelux (Blgica, Holanda e Luxemburgo) sugere que o meio ambiente a primeira preocupao do seguro das empresas, com exceo da Frana, onde ele est colocado em nono lugar.

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As companhias de seguro so responsveis pela maior freqncia de auditorias ambientais nas empresas (Maimon, 1992) 5. Estas ltimas tendo que incorrer com os riscos ambientais, que envolvem o processo de produo e/ou transporte e armazenamento do produto e do lixo industrial, acabam incluindo os riscos ambientais na poltica de seguro da firma. Em contrapartida, as companhias de seguro fazem uma inspeo peridica das instalaes, uma vez que se vem ameaadas pela maior freqncia e pelos altos custos das indenizaes dos desastres ecolgicos. Tomer (1992) 6 aponta para a nova tica ambiental que vem caracterizando as empresas mais modernas como justificativa de auto-regulao. Estas empresas tm por misso o Desenvolvimento Sustentado em longo prazo. Seu desempenho ambiental no incompatvel com os lucros, podendo significar novas oportunidades de negcios. Apesar do forte lobby que est por trs da auto-regulao, poucos pases tm defendido tal poltica que, se aplicada de forma genrica, pode acarretar uma deteriorao ambiental irreversvel.

MACROPOLTICAS COM INTERFACE AMBIENTAL As macropolticas com interface ambiental so predominantemente as estratgias de eco-desenvolvimento. A ttulo de ilustrao, resumimos algumas destas estratgias. Desenvolvimento tecnolgico. A reduo da acelerao da utilizao de recursos naturais, descoberta de novos materiais, de tecnologias e processos menos poluentes constituem uma estratgia privilegiada para harmonizar os objetivos sociais, econmicos e ecolgicos. Planejamento energtico. Tem um papel fundamental na poltica ambiental seja nos aspectos tecnolgicos de conservao e de fontes alternativas de energia, seja no que tange escolha do modo e do meio de transporte. A poluio do ar, em particular, est estritamente associada eficincia energtica das tecnologias de combusto. Adicionalmente, a escolha social por um tipo de energtico afeta a localizao espacial da poluio, entre as zonas de consumo e as respectivas zonas de produo. Tal o caso da energia hidroeltrica e do lcool produzidos no Brasil, que sendo incuos nos grandes centros urbanos so extremamente poluentes na zona rural e na de barragem hidroeltrica. Quanto ao transporte, num pas de grande extenso territorial, recomenda-se substituir o transporte de carga rodovirio pelo ferrovirio, por ser mais eficiente em termos energticos. Nas reas urbanas, o transporte coletivo , de longe, de maior eficincia. Planejamento regional e urbano. um campo privilegiado de ao complementar de um planejamento ambiental. Aqui, cabe ressaltar a importncia de um zoneamento econmico ecolgico, como ponto de partida da distribuio das atividades econmicas no espao. Esta distribuio dever buscar um equilbrio regional. A exploso da populao nos centros urbanos, em particular nos pases em desenvolvimento, uma redefinio da ocupao e da relao entre o urbano e o rural e uma melhor distribuio espacial da populao nas urbes.MAIMON D. (1992) Ensaios sobre Economia do Meio Ambiente, APED Editora, Rido de Janeiro. TOMER J. F. (1992) The human firm in natural environment: a social economic analysis of this behavior, Ecological Economics N 6, Amsterdam.5 6

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Educao ambiental formal e mesmo informal tem um papel fundamental tanto na criao no mdio e longo prazos de uma conscincia ecolgica, como, tambm, na formao de recursos humanos necessrios implantao de um planejamento ambiental e de uma poltica tecnolgica voltada para o meio ambiente.

Data ___ / ___ / 06 INSTRUMENTOS ECONMICOS Os instrumentos econmicos podem ser definidos como um conjunto de mecanismos que afetam os custobenefcio dos agentes econmicos. Estes instrumentos envolvem tanto transferncias fiscais entre os agentes e a sociedade (impostos, taxas subsdios, etc), quanto a criao de mercados artificiais (licenas negociveis de poluio, quotas negociveis, mercados de reciclados, etc). Os instrumentos econmicos tm por base a noo de internalizao das externalidades. O livre jogo de mercado e o reducionismo ao econmico das tomadas de deciso acarretaram a privatizao dos lucros e a socializao dos prejuzos. Assim, os agentes econmicos ao decidirem qual o timo de produo, consumo e investimento no levam em considerao as conseqncias ambientais e/ou sociais de suas decises, as externalidades. Estas no so contabilizadas na anlise custo-benefcio dos agentes. Neste enfoque, desde que se assegure um preo correio para os recursos naturais e para o meio ambiente, estes podem ser tratados como qualquer outro bem e servio. O cerne da anlise terica dos instrumentos econmicos repousa sobre as hipteses de concorrncia perfeita ou prximos desta situao. Os agentes maximizam uma funo objetiva determinada, lucro para as empresas e satisfao para os consumidores. Os agentes dispem de informao sobre o elenco de tecnologias disponveis, sobre a natureza, sobre a qualidade dos bens econmicos e sobre a relao custo-benefcio de suas aes. So dadas as condies tcnicas e as funes econmicas. Em particular, as empresas supem conhecer sua funo de produo, de custo e o custo marginal da depurao ambiental. Transferncias fiscais As transferncias fiscais dizem respeito a dois campos distintos da economia: o de finanas pblicas e o de polticas pblicas. Do ponto de vista das finanas pblicas, as taxas e os impostos objetivam financiar o oramento pblico, em geral, ou de um fundo pblico com finalidade especfica, enquanto os subsdios tm uma conotao negativa sobre o oramento pblico. Ainda que estas transferncias no tenham por objetivo modificar o comportamento dos agentes, acabam resultando nas escolhas destes e da alocao de bens e recursos. No campo da poltica pblica, procura-se privilegiar justamente a mudana de comportamento dos agentes. Este efeito incitativo vai depender das alteraes nos custos e nos preos. Um efeito redistributivo ocorre, na maioria dos casos, independentemente da ao incitativa, j que as receitas provenientes das taxas so utilizadas para financiar objetivos coletivos. Taxas e impostos : As taxas que visam internalizar as externalidades ambientais tm por finalidade corrigir uma distoro existente do ponto de vista do bem-estar coletivo, atravs do princpio "poluidor pagador". Funcionam como um mecanismo de equalizao dos custos sociais e privados. Estas taxas foram analisadas, pela primeira vez, por Arthur C. Pigou (1877-1959), no seu livro Economics of Welfare e por isso ganharam a denominao de taxas Pigouvianas. Para Pigou existe um nvel de poluio "timo". O tributo dever ser equivalente ao custo da externalidade negativa. A dificuldade de se obter a taxa "tima" est na mensurao dos custos ambientais. Os danos so medidos em unidades fsicas como toneladas de poluentes ou concentrao no meio fsico. Por outro lado, existem efeitos de sinergia entre vrias fontes poluidoras, sendo assim, estimar o valor econmico de uma externalidade especfica passa a ser o maior obstculo. Como h grandes dificuldades metodolgicas na mensurao e estimativa dos custos marginais de degradao, na prtica, o nvel socialmente aceitvel de poluio definido com base em critrios outros que os econmicos. Esta dificuldade metodolgica comum a outras polticas pblicas, como a poltica social, sade, educacional e mesmo de segurana nacional. As taxas podem incidir sobre:

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as emisses, pagamentos diretamente proporcionais qualidade ou quantidade da descarga no ar, na gua ou no solo, bem como na gerao do barulho; servio prestado, pagamento por um tratamento coletivo ou pblico dos dejetos. O usurio deve contribuir no correspondente ao custo total do servio pblico da despoluio incluindo os custos de administrao; produto, aplicadas ao preo dos produtos que geram poluio durante o processo de produo, consumo, estocagem ou por gastos gerados para sua eliminao. Podem incidir sobre os insumos poluentes ou sobre o produto final que utiliza estes insumos. Em geral so utilizados para produtos txicos nocivos ao meio ambiente como metais pesados, PVC, CFC, halognios, hidrocarbonos, nitrognio e fsforo. A taxao do produto pode substituir a taxao da emisso, uma vez que simplifica a tarefa da fiscalizao. A desvantagem deste tipo de taxao de no levar em conta o comportamento ambiental diferenciado em cada indstria. Em consequncia, as que utilizam mtodos e processos de depurao so penalizadas da mesma forma que as demais; administrativas, aplicadas com a finalidade de cobrir gastos dos servios administrativos prestados pelas instituies que gerem o meio ambiente. Nos debates internacionais sobre Mudanas Climticas, as negociaes sobre as taxas pigouvianas sugerem uma taxao no limite inferior e que esta aumente gradativamente. Assim, apesar das imprecises sobre as mensuraes dos danos, poder se adaptar s medidas, acelerando ou desacelerando em funo da reao dos agentes envolvidos (OCDE, 1992). Ajudas financeiras : A terminologia Ajudas Financeiras designa diversos tipos de auxlio que incitem os poluidores a modificarem seus comportamentos ou a iniciarem projetos ambientais que sejam muito difceis de serem empreendidos por um poluidor. Estas medidas pressupem que melhor dar um incentivo do que penalizar aqueles que poluem. Tm implicitamente a idia de que o desrespeito ao meio ambiente ocorre por falta de recursos financeiros das municipalidades e/ou das firmas. Assim, um incentivo no desestabilizaria a produo e o vigor financeiro dos agentes econmicos. As crticas poltica de ajudas financeiras so idnticas s das demais ajudas em economia. Alm de gerar dficits oramentrios, o governo cria motivao para que mais firmas queiram ganhar subsdios e, portanto, est se estimulando a novas fontes poluidoras. As ajudas financeiras podem ser de diversos tipos: subsdios so ajudas no reembolsveis para estimular a reduo dos efluentes atravs de compra de equipamento ou mudana de processo; ajuda fiscal consiste em favorecer as indstrias, reduzindo progressivamente seus impostos, se certas medidas anti-poluio forem estabelecidas. Influenciam diretamente as receitas ou benefcio das empresas, j que acabam reduzindo os custos; sistema de consignao consiste na aplicao de sobretaxa sobre os produtos potencialmente poluentes. Se a poluio evitada pelo retorno destes produtos ou de seus resduos, atravs de um sistema de coleta, a poluio reembolsada Esta prtica habitual para garrafas de refrigerantes; No caso do lixo, o sistema de consignao funciona eficientemente, evitando a poluio por substncias txicas, como baterias, incinerao de plsticos ou resduos de pesticidas; Incentivos financeiros por conformidade podem ser de dois tipos. Taxas de no-conformidade que so imposta quando os poluidores no respeitam certas regulamentaes. So calculadas a partir do montante de ganhos decorrentes do desrespeito s regulamentaes. Nota do professor : Veja a seguir a diferena entre os conceitos Imposto arrecadao no vinculada a qualquer atividade dos governos (federal, estadual e municipal), ou servios especficos. Ou seja, uma verba que no corresponde a nenhuma prestao de servio ao cidado, que ir integrar o caixa dos respectivos governos. Sua destinao custeia despesas gerais do estado e seu investimento decidido pelo governante.Taxa valor vinculado ao exerccio de diversas formas de fiscalizao e vigilncia

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realizadas por rgos pblicos (que, tecnicamente, tm o chamado poder de polcia, embora nada tenham a ver com as polcias civil, militar e federal) ou a uma prestao especfica de servio pblico. Nesse caso, o tributo devido independentemente de sua efetiva utilizao pelo contribuinte. Esse servio pblico deve ser identificado (por exemplo: taxa do lixo, custas de processos judiciais ou custo da emisso de certides).

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Contribuio tributo obrigatoriamente destinado ao custeio direto de determinada

atividade dos governos, divide-se em quatro modalidades.Contribuio de Melhoria: contraprestao da realizao de obra pblica que traga

valorizao imobiliria ao contribuinte. Por exemplo, abertura de uma linha de metr ou de uma nova avenida; Contribuio Social: forma o fundo de previdncia dos trabalhadores e manuteno dos servios de assistncia social e de sade; Contribuio de Interveno no Domnio Econmico - CIDE: devida para favorecer o equilbrio de determinado setor econmico (por exemplo, a CIDE dos Combustveis). Contribuio de Categorias Profissionais ou Econmicas: sustenta entidades de registro e fiscalizao de profisses regulamentadas.

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Criao de mercados Consiste na criao de mercados artificiais, onde os agentes podem transacionar produtos, quotas ou licenas que no tinham valor econmico antes da criao deste mercado. A criao de mercados tem se caracterizado por trs tipos: Mercado de reciclados : Atravs de subvenes de preo determinadas pelo governo, uma empresa ou organizao no governamental cria um mercado para os dejetos, resduos e lixos que no tinham valor econmico. No Brasil, pode-se citar a Brahma que num programa piloto, ainda que de pequena escala, criou um mercado para as latas de alumnio. Mercado de seguros :Ao transferir para o poluidor a responsabilidade legal plos dano causados ao meio ambiente, pelo custo de limpeza dos detritos, h um incentivo para as empresas tomarem maior precauo em relao ao ecossistema, j que estas tero que arcar com todos os custos de despoluio. Licenas negociveis de poluio : Criao de um mercado artificial onde os agentes teriam a possibilidade de adquirir direitos de poluio, ou efetivos ou potenciais ou de vend-los. Neste mercado, o setor pblico determina a quantidade de poluio, o socialmente desejada e divide ou leiloa cotas de poluio para os agentes poluidores. O mercado de licenas negociveis de poluio tem por base a teoria do "direito da propriedade" de Coase (1960) 7. Se o mercado de licenas competitivo e as firmas maximizam lucros, as emisses sero minimizadas com a introduo de licenas negociveis. As licenas negociveis podem ser de trs tipos: Bubbles - quando duas fontes estacionrias de poluio podem se reajustar, compensando o aumento da poluio de uma pela diminuio da poluio da outra. As fontes podem ser de diferentes estabelecimentos na mesma empresa ou de duas empresas distintas. Offset - programas que permitem a entrada ou expanso de uma firma em zonas geogrficas com interdio de entrada. A nova firma ou aquela que quer se expandir compra o direito de poluir de uma firma existente. Quotas - programas que estabelecem um nvel mximo de poluio ou produo de bens txicos e que podem ser comercializados. A implantao do sistema de licenas negociveis obedece s seguintes etapas : - Estabelecer o objetivo do nvel de poluio desejada ou suportada. - Nvel da qualidade ambiental deve ser definido em termos do total de emisses permitidas.

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Coase, R. H. (1960) The Problem of Social Cost,The Journal of Law and Economics.

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- Licenas, que constituem essencialmente direitos de propriedade, so ento alocados s firmas. Cada licena permite ao proprietrio emitir uma quantidade especfica de poluio. - As firmas podem negociar estas licenas. A vantagem do mercado de licenas negociveis de que h possibilidade de saber o nvel global de poluio. Adicionalmente, o rgo regulador do meio ambiente no precisa ter conhecimento preciso das variveis econmicas e tcnicas da depurao. A hiptese de que, se as licenas so alocadas, inicialmente, no corresponderem ao "timo", o mercado vai se encarregar de levar a este ponto. As licenas negociveis foram introduzidas nos EUA pela EPA (Environment Protection Agency). Os mais importantes so : o programa de poluio negocivel, que j tem 10 anos de existncia ; o direito de adicionar chumbo gasolina, que durou apenas dois anos, de 1985 a 1987 ; e dois outros programas de licenas de poluio dos corpos de gua do rio Fox e do Reservatrio Dillon implantados em nvel local (Hahn e Hester, 1989) 8. Hahn e Hestler (1989) analisando os resultados das transaes de licenas negociveis observaram que : sobre 130 bubbles que foram aprovados, somente, dois foram entre empresas distintas, as demais ocorreram entre estabelecimentos de uma mesma firma. nas 2.000 operaes do sistema de compensao offset, somente 200 ocorreram em firmas distintas. Se no houvesse dificuldade no clculo do custo marginal de depurao, o sistema de taxao de emisses e de licenas negociveis conduziram a um mesmo resultado. O valor de mercado das licenas negociveis, por quantidade fixa de emisso, tem que ser exatamente igual ao custo marginal de depurao correspondente a esta quantidade. Assim, as licenas negociveis podem substituir as taxas de poluio, embora no sejam substitutos perfeitos. Tem por vantagem representar um ativo para as empresas, a desvantagem consiste em constituir uma barreira entrada no mercado de novas firmas.

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Debate internacional sobre as polticas ambientaisA questo ambiental chegou para ficar. O dilema da empresa moderna o de adaptar-se ou correr o risco de perder espaos arduamente conquistados, sendo imperativo aplicar princpios de gesto ambiental condizentes com o desenvolvimento sustentvel. A legislao, as normas e os regulamentos aplicveis aos mais diversos setores produtivos exigem a adoo de sistemas de gesto ambiental cada vez mais aprimorados. Tais sistemas visam primordialmente o equacionamento da difcil questo econmica, j que uma empresa ou todo um segmento econmico poder sucumbir diante de exigncias legais, normativas ou comunitrias que inviabilizem a atividade produtiva. Neste contexto, definidos os objetivos e a legitimidade da poltica ambiental, resta o problema da escolha de instrumentos a serem utilizados na reduo das externalidades negativas das empresas. A escolha deve levar em conta, alm da eficincia ecolgica e econmica, outros parmetros tais como os custos de implantao e gesto, os efeitos redistributivos e aceitao pela populao dos instrumentos a serem implantados (OCDE, 1991). O confronto das eficincias econmicas dos distintos instrumentos deve conduzir escolha daquele onde se observa uma melhor alocao dos recursos, minimizando os custos associados a um mesmo benefcio ambiental. Os instrumentos tm distintos efeitos redistributivos, uma vez que representam um custo8 HAHN, R. W. and HESTER G. L. (1989). "Where Did All the Markets Go? An Analysis of EPA's Emission Trading Program." Yale Journal of Regulation.

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adicional, e podem ser parcial ou totalmente repassados aos preos, afetando consideravelmente o poder aquisitivo da populao. Deve-se, portanto, escolher os instrumentos que minimizem as desigualdades de renda pessoal e regional. Finalmente, deve-se optar por polticas de menor custo administrativo e de maior aceitabilidade por parte dos atores envolvidos. O debate internacional sobre instrumentos de poltica ambiental oscila entre privilegiar os instrumentos econmicos ou a auto-regulao. Com efeito, at pouco tempo, os principais instrumentos de planejamento ambiental eram os de comando e controle, ou seja, atravs de estabelecimento de normas de poluio e/ou sistema de licenciamento da atividade produtiva, o Estado regulamentava as atividades produtivas. Na dcada de 80, o debate sobre os instrumentos relanou certos aspectos importantes. Em primeiro lugar, o questionamento da eficincia dos instrumentos de regulao e controle com relao aos instrumentos econmicos, tais como impostos e subsdios que foram aplicados na Europa ou licenas negociveis implantadas nos EUA. A experincia internacional revela que os instrumentos de comando e controle so eficientes em si