inclusão de alunos surdos e cegos: recursos didáticos e...
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Profa Sandra Regina Longhin Licenciada em Química 8ª Semana de Cultura e Cidadania PUC Goiás - 2012
Inclusão de alunos surdos e cegos: recursos
didáticos e metodologias específicas para o
ensino de Química e Ciências
Como concretizar este equilíbrio?
Momento atual: ◦ Preconceito historicamente constituído que desconsidera a diversidade como característica primeira do homem
Resolução 2 de 2001 do CNE/CEB: ◦ Diretrizes Nacionais Curriculares para a Educação Básica
LDBEN 9.394/96: ◦ Garante os direitos de acesso e permanência na escola dos alunos que apresentarem necessidades educacionais especiais
Terminologia: ◦ “pessoa com deficiência” é a mais adequada?
Adjetivos (ou rótulos?) ◦ Feminino: fichas cadastrais
◦ Branca: documentos oficiais
◦ Baixinha: irmãos e primos
◦ Senhora: alunos
◦ Tia: alunos quase filhos
◦ “véia”: filhos
PROFESSORA
SURDO OU PESSOA SURDA,
CEGO OU PESSOA CEGA
Ferrés, 1996
Métodos de Ensino e a retenção do conteúdo com o decorrer do tempo
Método Retenção de Ensino até após 3 horas 3 dias
Somente oral 70% 10% Somente visual 72% 20% Oral e visual conjuntamente 85% 65%
Retenção Mnemônica:
Como aprendemos 1% por meio do paladar 1,5% por meio do tato 3,5% por meio do olfato 11% por meio do audição 83% por meio da visão
Dados memorizados pelos estudantes 10% do que lêem 20% do que escutam 30% do que vêem 50% do que vêem e escutam 79% do que dizem e discutem 90% do que dizem e depois realizam
Ferrés, 1996
Para WEERNECK (1992)
"esquecemos o que ouvimos, decoramos o que lemos e aprendemos o que fazemos”
A escolha da metodologia a ser aplicada vai estar na dependência do perfil das pessoas envolvidas e dos objetivos da prática pedagógica assumida (FELIPE, 1995)
A aprendizagem deve levar em consideração: - a diversidade de idéias; - o comportamento; - a capacidade de assimilação de cada
indivíduo.
Papel da escola: tornar-se sensível ao ritmo da evolução social e tecnológica;
Professor: procurar além de incentivar, mostrar que todos são capazes de aprender e se libertar de determinadas práticas rotineiras, observar psicopedagógicamente, intervindo junto ao aluno no momento em que considerar mais importante.
FELIPE, 1995
• Não é só necessário a inovação educacional, mas o estímulo entre alunos, professor e família para a construção do conhecimento.
• A criança aprende com a família e com a sociedade a qual pertence.
• Cada grupo familiar tem seu código, sua maneira própria de viver.
• É preciso acreditar que todos são capazes.
• Cada um aprende dentro do seu limite como um ser humano cheio de qualidades e vontade de aprender.
RODRIGUES, 2008
ENSINO SURDO Para Sacks (1998): -A língua de sinais deve ser introduzida e adquirida o mais cedo possível, senão seu desenvolvimento pode ser permanentemente prejudicado, com todos os problemas ligados à capacidade de “proposicionar”
-[...] no caso dos profundamente surdos, isso só pode ser feito por meio da língua de sinais.
- As crianças surdas precisam ser postas em contato primeiro com pessoas fluentes na língua de sinais, sejam seus pais, professores ou outros.
A comunicação pode ser fluente aos três anos de idade
livre intercurso de pensamento, livre fluxo de informações, aprendizado da leitura e escrita e, talvez, da fala.
Não há indícios de que o uso de uma língua de sinais iniba a aquisição da fala.
ENSINO CEGO
Para Raposo e Mól (2011),
Não há diferença alguma na forma de aprendizagem e na capacidade de aprender entre a pessoa cega e os demais alunos do ensino médio.
Paulo Freire, 1989
• “em que educador e educandos, curiosos,
se acercam ao objeto de sua análise, os segundos necessitam de alguma informação, indispensável ao prosseguimento da análise, pois conhecer não é adivinhar, a informação deve ser precedida de certa problematização. Sem esta, a informação deixa de ser um momento fundamental do ato de conhecimento para ser transferência que dele se faz o educador aos educandos”
Construção de conceitos científicos
◦ Conceitos espontâneos e científicos:
Espontâneo adquirido naturalmente e científico de modo deliberado, intencional e sistematizado
Importante:
“elementos constituintes do todo estudados isoladamente não conseguem explicar o todo, mas apenas as partes.”
VIGOTSKY, 1996
“Considerando que a “pessoa surda é aquela que, por ter perda auditiva compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais (...)” (DECRETO n°5.626/2005) e que devido ao déficit de audição, não encontra, na maioria dos casos, uma linguagem passível de ser compartilhada no seu grupo de convivência escolar, podemos supor, que as relações e interações dos sujeitos envolvidos ficam prejudicadas, devido às dificuldades de comunicação.”
ASSUSTADOR!!!!!!!!!!!!!!!
Modelo médico: patologia da surdez ◦ Exclui uma forma de conhecimento, de uma modalidade de comunicação e de uma identidade social e humana
“necessidade de integração na sociedade ouvinte”
“o trabalho eficiente do surdo se limita a espaços onde o ouvinte é ineficiente”
Para os cegos não é diferente
Enfim: relação saber/poder
Discursos sobre a surdez
É um momento de lançar perguntas sem a pretensão de respondê-las mas deixá-las em suspensão para que possam ser refletidas pelos interessados no tema
A escola sabe trabalhar com a instabilidade?
As mudanças ocorrem de um dia para o outro?
Elas se materializam somente com a boa vontade de alguns?
Estudo de caso
Para Silva, Machado e Tunes (2010)
“A capacidade de generalização e de previsão de uma teoria é que pode dar à experimentação no ensino um caráter investigativo...
...um experimento simples, em que haja um roteiro contendo apenas materiais e procedimentos, pode ser transformado numa atividade investigativa se o professor conseguir inserir outras que contemplem generalizações e previsões.”
Tema:
◦Estados físicos da matéria
◦Reações químicas
Grupo de alunos de escola estadual inclusiva (40 alunos, 7 surdos);
Atividade experimental;
Alunos da Licenciatura em Química;
Professores da Licenciatura;
Interpretes de LIBRAS.
necessidade de interprete não apenas conhecedor da LIBRAS, mas também capaz de tratar os conceitos químicos em uma situação de mediação que possibilitasse abranger os objetivos da educação química.
Fotos: Wagmar Alves
A capacidade de generalização pode ser conseguida, se o professor inserir atividades outras que contemplem generalizações e previsões, que darão ao ensino um caráter investigativo.
Fotos: Wagmar Alves
Observação por meio de filmagens e questionários investigativos.
Espírito investigativo com relação aos fenômenos observados: surdos se destacaram.
Experiências relevantes
Experiência de participação no ENELL:
◦ Mais de 200 surdos;
◦ inteligentes, com muita vontade de aprender, extremamente curiosos.
*Material lúdico (gibi da Mônica) e experimentação
• Experiência de participação na 8ª Semana de Cultura e Cidadania – PUC Goiás: visitantes cegos e surdos, aluno da Lic. em Física, avaliação das propostas
HERNANDEZ E VENTURA, 1998
• Dificuldades: • Elaboração do material a ser utilizado;
• Definição da metodologia mais adequada.
• Questões: • Como favorecer a aprendizagem dos alunos
surdos?
• Como explorar os aspectos visuais de escrita e disposição de imagens para favorecer o ensino dos conceitos?
• Como trabalhar a complexidade da linguagem científica?
Para Silva e colaboradores (2010)
“Com pessoas com deficiência auditiva a aprendizagem é uma situação ainda mais agravante uma vez que fenômenos que são observados no nível macroscópico, ainda são explicados por conceitos que situam-se no nível submicroscópico.”
Que tal encararmos o desafio?
E agora?
O que fazer?
Deixar para outros resolverem?
34ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química – Florianópolis, maio 2011
Nº de inscritos = 4.420
N º de trabalhos = 4.000
Nº de trabalhos EDU = 472
Nº de trabalhos de inclusão = 12
Nº de trabalhos de inclusão de surdo = 5
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
inscritos trabalhos EDU inclusão inclusão desurdo
4420
4000
472
12 5
Carlos Skliar, 1997
“a história dos surdos não pode nem deve ser identificada com a história das instituições educacionais e/ou com a vida dos professores ouvintes e suas metodologias, nem com as pomposas e unilaterais recomendações surgidas dos congressos. Esta é somente uma parte desta história, cuja cronologia pode ser buscada e falada sem dificuldades – e com certo tédio – em numerosos textos.”
Referências
SACKS, O., Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos,, Porto Alegre, 2011. VIGOTISKY, L.S. Companhia das Letras, São Paulo, 2010 SKLIAR, C. (org.), A surdez: um olhar sobre a diferença, Mediação, Pensamento e Linguagem, Martins Fontes, São Paulo, 1996 SANTOS, W.L.P. e MALDANER, O.A. (org.) Ensino de Química em foco, UNIJUÍ, Ijuí, 2010. Lima, M. E. C. C.; Fundamentos e propostas de Ensino de Química para Educação Básica no Brasil, Unijuí, 2007.
Hernández, F. ; Ventura, M.;A organização do currículo por projetos de trabalho, Artmed, 1998. Mortimer, E. F.; Smolka, A. L. B. linguagem, cultura e cognição;Autêntica; 2001. Chassot, A. Catalisando Transformações na Educação. Unijuí. 1998. Mol, G. S.; Raposo, P. N. A. O Ensino de Química em foco. Unijuí, 2010. Silva, R. R.; Machado, P. F. L.; Tunes, E. O Ensino de Química em foco. Unijuí, Ijuí, 2010.
WERNECK, Hamilton, Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. Petrópolis: Vozes, 1992. FELIPE, Tanya Amara. Bilingüísmo e surdez. Anais I Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada. São Paulo: Universidade Estadual de Campinas, 1983. FERRÈS, Joan, Vídeo e Educação, Arte Médica, São Paulo, 1996 WERNECK, Hamilton, Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. Petrópolis: Vozes, 1992.
FELIPE, Tanya Amara. Bilingüísmoe surdez. Anais I Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada. São Paulo: Universidade Estadual de Campinas, 1983. RODRIGUES, Z., História da educação dos surdos: A educação de surdos no mundo, publicado em 10/01/2008, http://www.webartigos.com, acesso em 03/2011. BRASIL/MEC/SEESP. Subsídios para organização e funcionamento de serviços em educação especial. Área de deficiência auditiva. Brasília: MEC/SEESP, 1995. ______. A educação de surdos. Brasília: MEC/SEESP, 1997. Um guia para todos que lidam com crianças surdas. Brasília: MEC/SEESP, 1999.