inclusÃo de alunos com deficiÊncia intelectual: … · mulher e professora a frente de seu tempo....

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VERÔNICA MARIA BARBOSA DE MAGALHÃES MAURICIO INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: UM DESAFIO PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS E COTIDIANOS ESCOLARES. UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO-UNICID PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO São Paulo 2014

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VERÔNICA MARIA BARBOSA DE MAGALHÃES MAURICIO

INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL:

UM DESAFIO PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS E COTIDIANOS

ESCOLARES.

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO-UNICID

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

São Paulo

2014

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VERÔNICA MARIA BARBOSA DE MAGALHÃES MAURICIO

INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL:

UM DESAFIO PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS E COTIDIANOS

ESCOLARES.

Dissertação apresentada como exigência

parcial para a obtenção do título de

Mestre em Educação, no Programa de

Mestrado em Educação da Universidade

Cidade de São Paulo - UNICID, sob a

orientação da Profª. Drª. Sandra Lúcia

Ferreira.

São Paulo

2014

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Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional

M454i

Mauricio, Verônica Maria Barbosa de Magalhães.

Inclusão de alunos com deficiência intelectual: um desafio para as

políticas públicas e cotidianos escolares. / Verônica Maria Barbosa de

Magalhães Mauricio. São Paulo, 2014.

117 p.

Inclui bibliografia

Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo -

Orientadora: Profa. Dra. Sandra Lúcia Ferreira.

1. Deficiência intelectual. 2. Políticas públicas em educação. 3.

Cotidiano escolar. I. Ferreira, Sandra Lúcia, orient. II. Título.

CDD 371.1

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Prof(a). Dr(a) Maria Cecilia Bonini Trenche

Prof(a). Dr(a). Vanda Ribeiro

__________________________________________

Orientadora: Prof(a). Dr(a). Sandra Lúcia Ferreira

BANCA EXAMINADORA

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Dedico este trabalho para as minhas avós:

Maria de Lourdes Vasconcellos (In Memorian), professora e exemplo

de vida! E Letícia Pereira Barbosa (In Memorian), exemplo de

mulher e Professora a frente de seu tempo.

Ao Meu Pai, meu grande exemplo, meu amigo. A minha mãe por toda

dedicação e amor.

Ao Glauber, meu marido, pelo exemplo de amor e dedicação, meu

grande admirador nessa caminhada.

A minha filha Letícia, meu orgulho, meu amor incondicional, meu

presente de Deus.

A minha irmã Thaisa, pela admiração, amor, cumplicidade e meu

exemplo de superação.

A todas as crianças com deficiências.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é a capacidade de reconhecer a importância do outro na nossa vida.

Sem os outros não haveria possibilidade de ter chegado até este momento, tão sonhado,

desejado e compartilhado. Quando percebemos a importância do momento presente,

passamos a ser gratos pelas oportunidades que nos rodeiam o tempo todo. O caminho

não foi fácil; entretanto, com o apoio das pessoas que amo e que me amam, ficou menos

densa e solitária essa construção.

Agradeço a minha filha Letícia, pelo amor incondicional, o incentivo, apoio e

compreensão dos momentos de ausência; minha maior conquista e presente que Deus

me enviou. Ao meu esposo Glauber, meu grande companheiro nesta vida, por

compartilhar os momentos de alegrias, dificuldades, insônias e por me apoiar e

incentivar, sempre, o meu crescimento profissional; muito obrigada!

Aos meus pais Petrucio Publio e Vera, pela dedicação, apoio e incentivo a

minha trajetória profissional. A minha irmã Thaisa pela admiração, carinho e batalhas

travadas lado a lado. E a toda a minha família pela credibilidade e incentivo; muito

obrigada!

À Prof.ª Drª. Sandra Ferreira, minha orientadora, pela generosidade,

acolhimento, competência e sabedoria com que conduziu meu trabalho; muito obrigada!

À Profa. Drª. Edileine Vieira Machado que acreditou inicialmente neste sonho e me

auxiliou nos primeiros passos dessa jornada.

À Direção da Escola Balthazar de Mendonça, Josefa Souza de Araújo pela

compreensão nos meus afastamentos, apoio à pesquisa; e às professoras pela confiança

e disponibilidade para participar desta pesquisa; a todos minha eterna gratidão.

À minha amiga Rosiete Pereira da Silva, meu agradecimento especial pela

irmandade, e apoio nos momentos difíceis quando tudo parecia muito distante, mas

também pelos outros momentos compartilhados de sincera amizade e alegrias; depois da

longa caminhada podemos dizer que chegamos vitoriosas. E à Rosângela Maria da

Silva, pelo companheirismo nesta longa caminhada, obrigada!

Ao CESMAC, palco da minha formação e também da minha experiência

docente, o investimento na minha qualificação profissional; meus sinceros

agradecimentos que se materializam nas pessoas do Prof. Dr. Douglas Apratto e da

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Profa. Dra. Enaura Quixabeira que permitiram o acesso à seleção e à Profa. Me. Claudia

Medeiros pelo incentivo e dedicação.

Aos profissionais da Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID), pelo

acolhimento, disponibilidade e presteza para nos ajudar.

A Faculdade Raimundo Marinho, na pessoa da Profª. Lysia Ramalho Marinho,

presidente da instituição, à coordenação do curso de Pedagogia e aos meus queridos

alunos; obrigada pelo incentivo, compreensão e apoio para alcançar meu objetivo e

qualificação docente.

A Deus, minha inspiração, alicerce, proteção que me sustentou nas quedas e

me ajudou a levantar sempre de cabeça erguida guiando os meus passos com coragem,

foco, determinação e fé.

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DEFICIÊNCIAS

(Mario Quintana)

Deficiente “é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando

as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter

consciência de que é dono do seu destino”. "Louco" é quem não

procura ser feliz com o que possui. "Cego" é aquele que não vê seu

próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus

míseros problemas e pequenas dores. "Surdo" é aquele que não tem

tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão.

Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus

tostões no fim do mês. "Mudo" é aquele que não consegue falar o que

sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. "Paralítico" é

quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua

ajuda. "Diabético" é quem não consegue ser doce. "Anão" é quem não

sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é

ser miserável, pois: "Miseráveis" são todos que não conseguem falar

com Deus.

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RESUMO

A discussão vigente na área da educação especial sobre o processo de inclusão da

pessoa com necessidades especiais no contexto educacional tem mostrado que tal

processo ainda se mantém materializado nas bases teóricas e legais, declarando, com

isso, um hiato entre a teoria e a prática cotidiana vividas na escola. Considerando a

importância da relação professor e aluno na construção de uma educação que vise ao

pleno desenvolvimento desses dois sujeitos, deve-se considerar que as demandas

relativas à deficiência intelectual podem ir além da aprendizagem de habilidades gerais

da vida diária comum e acadêmica; pois se aproximam de discussões envolvendo

direitos a uma cidadania amplamente definida em documentos oficiais. Este estudo tem

como proposta declarar as diferentes dimensões destas demandas por meio da

compreensão do trabalho do professor da sala regular do ensino fundamental (do 1º ao

3º ano), em Maceió, que convive com a deficiência intelectual no espaço escolar. O

objetivo central desta pesquisa foi conhecer a atuação do professor que atende alunos

com deficiência intelectual em sala de aula regular do Ensino Fundamental, visando

verificar o nível do saber-fazer pedagógico concernente às garantias da educação

inclusiva estabelecidas pela legislação brasileira. O trabalho tem caráter qualitativo, pois

deu voz a um conjunto constituído por professoras – todas ocupadas do atendimento a

alunos de turmas regulares, mas que apresentam deficiência intelectual diagnosticada

pelos serviços especializados – entrevistadas por meio de um roteiro semiestruturado de

questões destinadas a investigar a imagem que têm do profissional professor, de suas

práticas e das condições de ensino a ele disponibilizadas. A pesquisa investigou também

as expectativas em relação ao tema inclusão e as políticas educacionais que suportam o

conceito. Para a exploração e interpretação dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo

clássica, adaptada da proposta de Bardin. As análises inferenciais apontaram

resultados que definem a inclusão como uma ação que oportuniza a interação social dos

alunos, embora falte conhecimento sobre a deficiência intelectual por parte dos

diferentes atores – da escola e dos elaboradores das políticas públicas – sendo este um

dos principais entraves ao desenvolvimento de práticas pedagógicas adequadas; além da

falta de apoio e recursos para o trabalho pedagógico. Desse modo, espera-se que o

conhecimento e a reflexão oportunizados por esta pesquisa possam apontar caminhos e

uma abordagem inovadora, suficientes para auxiliar aos que atuam na sala de aula

e para a adoção de políticas e programas que oportunizem a escolarização, de fato e de

direito, para as pessoas portadoras de qualquer tipo de deficiência.

PALAVRAS-CHAVES: Deficiência Intelectual; Políticas Públicas; Cotidiano Escolar.

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ABSTRACT The current discussion in the field of special education on the process of inclusion of

people with special needs in educational settings has shown that such process still

remains embodied in the theoretical and legal foundations, declaring thereby a gap

between theory and everyday practice experienced in school. Considering the

importance of the teacher and student in building an education aimed at the full

development of these two subjects, we must consider that the demands on intellectual

disability may go beyond the general learning abilities of academic and common daily

life; as they approach discussions involving the right to citizenship, broadly defined in

official documents. This study is proposed to declare the different dimensions of these

demands through understanding the work of teachers of regular elementary school

classes (1st to 3rd year), in Maceió, living with intellectual disabilities at school. The

research aims to analyze the role of the teacher who works with students with

intellectual disabilities in elementary school classes, in order to assess the level of

pedagogical knowhow concerning the guarantees of inclusive education, established in

the Brazilian law. The work is qualitative, it gave voice to a set consisting of teachers -

all engaged in providing attention to the students in the regular classes but who have

intellectual disabilities diagnosed by specialist services - interviewed using a semi-

structured set of questions designed to investigate in the view of the professional

teacher, their practices and teaching conditions available to them. The survey also

investigated the expectations regarding the subject inclusion and educational policies

that support the concept. For the exploration and interpretation of the data, we used the

classical content analysis, adapted to Bardin’s proposal. Inferential analyzes showed

results that define inclusion as an action that favors the social interaction among

students, although they lack knowledge about intellectual disabilities by different actors

- the school and the makers of public policy - being one of the main obstacles to the

development of appropriate pedagogical practices; besides the lack of support and

resources for the teaching job. Thus, it is expected that knowledge and reflection

provided by this research may point to ways and innovative approach, enough to assist

those who work in the classroom and to adopt policies and programs that enable the

right of schooling, according to the law, to people with any type of disability.

KEYWORDS: Intellectual Disabilities; Public Policy; School Everyday.

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LISTA DE QUADRO E FIGURA

QUADRO 1. Tabela de Especificação: Roteiro de entrevista.....................................67

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RELAÇÃO DE APÊNDICES

APÊNDICE A- Questionário sócio demográfico ...................................................114

APÊNDICE B- Roteiro para entrevista....................................................................115

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RELAÇÃO DE ANEXOS

ANEXO A- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido......................................117

ANEXO B- Termo de Comprometimento e Sigilo...................................................119

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SUMÁRIO

PRÓLOGO ............................................................................................................. 14

I – REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................ 21

1.1–Explorando a literatura sobre a atuação dos professores, na sala

regular, que recebem alunos com deficiência

intelectual...............................................................................................21

1.2– Educação Especial e a Situação Educativa....................................24

1.3.– Políticas Públicas Assumidas e Proclamadas...............................36

1.4.– Sobre a deficiência intelectual......................................................49

1.5. – Ser Professor................................................................................58

II – METODOLOGIA

2.1 – Instrumento e Procedimento..........................................................64

2.2 – Contexto do Estudo ......................................................................68

III - ANÁLISE DE CONTEÚDO: EXPLORANDO OS DADOS DAS

ENTREVISTAS

3.1– Pré-análise e Análise temática........................................................71

3.2 – Expectativas gerais em relação à inclusão.....................................75

3.3 – Revelando a imagem do professor diante da inclusão..................82

3.4 – A interdisciplinaridade preconizada nas políticas públicas e a

prática educativa no cotidiano escolar....................................................88

3.5 – O enfrentamento da exclusão social dos alunos com deficiência e

as condições de ensino............................................................................95

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 101

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 105

APÊNDICES..........................................................................................................

ANEXOS.................................................................................................................

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PRÓLOGO

Minha trajetória profissional como psicóloga e professora em sala de recursos

do município de Maceió, Alagoas, levou-me a perceber a dificuldade e, muitas vezes, as

contradições acerca da escolarização e inclusão dos estudantes com deficiência,

particularmente a intelectual.

Apesar de todas as garantias e direitos constitucionais, percebo, na prática, —

leciono em uma sala de recursos multifuncionais, atendimento educacional

especializado (AEE)1 em uma escola na periferia de Maceió —, a inexistência de uma

proposta de inclusão ou, em muitos casos, a pouca compreensão do significado social,

político e educacional dessa ação por quem faz a educação escolar (professores,

gestores e coordenadores pedagógicos).

Porém, antes de iniciar a exposição de interesses por tal tema de pesquisa, não

poderia deixar de mencionar minha construção profissional, marcada, desde a infância,

pela influência de meus pais, ambos professores.

Convivi nos espaços escolares com minha mãe professora e depois gestora da

escola pública estadual. Neles aprendi a ajudá-la nos afazeres profissionais e isso me

permitiu uma sensibilização para aquela realidade social diferente da minha, a provocar

meu desejo de ser professora, participar das atividades escolares e me ver,

profissionalmente, naquele cenário, em um futuro próximo. A admiração e o gosto pela

pesquisa foram heranças de meu pai, cientista na área da Farmacologia. Herdei,

também, seu entusiasmo pela produção de conhecimento e pelo respeito que tinha para

com seus alunos. Por ser professor da Universidade Federal de Alagoas, ele me

possibilitava o privilégio de visitar seu espaço de trabalho – laboratório com os

camundongos – e me relatava, com paixão, a importância das pesquisas para a vida das

pessoas em tratamentos de saúde.

1 Conforme Resolução CNE/CEB n.4/2009, art. 12, para atuar no atendimento educacional especializado,

o professor deve ter formação inicial que o habilite para exercício da docência e formação específica na

educação especial. O professor do AEE tem como função realizar esse atendimento de forma

complementar ou suplementar à escolarização, considerando as habilidades e as necessidades específicas

dos alunos público alvo da educação especial.

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Assim, influenciada pelas experiências vividas na minha infância, direcionei-

me ao curso de Psicologia, com a obstinação de conhecer sobre o humano, mas focada

na educação escolar.

Durante meu processo formativo em nível superior, iniciei meus primeiros

contatos com o mercado de trabalho. Fui trabalhar numa creche, mantida pela

associação dos servidores do tribunal de contas, e no magistério, como professora-

monitora, na escola pública. Tais experiências reafirmaram minha escolha pela área da

Educação e me acenaram com a possibilidade de realização pessoal e profissional.

Formada em Psicologia, concluí, concomitantemente, a graduação e a pós-

graduação em Psicopedagogia, o que me possibilitou realizar o concurso para professor

substituto na Universidade Federal de Alagoas, como professora no curso de Psicologia.

Ali se abriam as portas para aquilo que tanto me encantava: o universo acadêmico, pois

pude também assumir no CESMAC (Centro Universitário CESMAC), a cadeira de

Psicologia Escolar e Psicologia Social.

Não posso deixar de mencionar também a influência de uma professora do

curso de Psicologia, Rosiete Pereira da Silva, pela dedicação e compromisso que

mantinha com a profissão. Rosiete veio a ser minha orientadora de estágio na área da

psicologia escolar consolidando minha escolha profissional. Hoje, como colega de

profissão, pesquisa e amiga discutimos e aprendemos sempre para ampliarmos os

conhecimentos na área.

Os problemas e processos de aprendizagem, o fracasso escolar, consistem em

meus objetos de estudo implicando de forma mais ampla aspectos voltados à prática

profissional docente. O interesse em torno destas questões se entrelaça com as

perspectivas da educação inclusiva. Sendo professora de pós-graduação em

psicopedagogia e tendo ingressado por concurso público em uma escola da periferia de

Maceió, no bairro do Jacintinho, passei a lecionar, como dito anteriormente, em uma

sala de recursos multifuncionais, destinada a crianças que possuem deficiência

intelectual ou visual. Ali, deparo-me, cotidianamente, com professores comprometidos,

porém, despreparados para lidar com os alunos com deficiências. Nesse contexto, surge

o anseio de ampliar meus conhecimentos para contribuir de modo mais eficiente.

Nesse sentido, busquei na Educação Superior a ampliação de minha

qualificação para o exercício profissional procurando harmonizar experiências no tripé:

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ensino, pesquisa e extensão. Assim, mestrado surgiu como a possibilidade de adentrar

no universo da pesquisa, cujo objetivo é contribuir com a produção de conhecimentos

que possam auxiliar e favorecer os processos de escolarização das pessoas com

necessidades educativas especiais. Pela minha experiência, percebo que muito se tem

discutido e pouco tem sido feito na prática escolar.

Minha inquietação foi mobilizada pela necessidade de estudar a relação do

professor com o tema da inclusão de deficientes intelectuais no processo de

escolarização que se desenvolve no ensino regular, convertida em questão de pesquisa.

Nesse sentido, o objetivo principal foi contextualizar e explorar os constituintes da

atuação docente na sala regular do Ensino Fundamental que recebe e convive com

alunos com deficiência intelectual. Além disso, procurou-se também estudar as

expectativas em relação aos estudantes com deficiência intelectual, traduzidas nas

Leis e normativas que foram o conjunto de políticas publicas públicas. A proposta

foi explorar os pontos de afastamento e aproximação das diferentes expectativas.

O Brasil, ao longo dos anos, vem estabelecendo ações que asseguram a

inclusão de alunos com deficiência em suas escolas, posição assumida desde que o país

se tornou signatário da Declaração de Jomtien2 (1990), de Salamanca

3 (1994), da

Convenção de Guatemala4 (2001) e de diversos outros documentos internacionais,

como, por exemplo, a Convenção dos Direitos Humanos do Órgão das Nações Unidas)

ONU).

O direito à educação de todas as crianças e jovens brasileiros garantidos pela

Constituição Federal de 1988 – capítulo II, Art. 6º– implica o compromisso de e

garantir-lhes autonomia e aprendizado, o que levará às transformações necessárias no

ambiente escolar e, consequentemente, na sociedade (BARROS, 2010).

À medida que os documentos oficiais relacionados à educação inclusiva são

implementados, percebo o avanço na discussão sobre as politicas públicas inclusivas,

garantindo o acesso ao ambiente escolar dos alunos que possuem deficiência, porém

2Ao assinar a Declaração de Jomtien, o Brasil assumiu, perante a comunidade internacional, o

compromisso de erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental no país. 3O Brasil comprometeu-se com o alcance dos objetivos propostos, que visam a transformação dos

sistemas de educação em sistemas educacionais inclusivos. 4A Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas

Portadoras de Deficiência (Convenção da Guatemala); O Brasil é um dos países signatários, garantindo

legislação especificamos colocando dentro de 1/3 dos países membros da ONU que possui legislação

específica para as pessoas com deficiência.

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estes documentos ainda são insuficientes para a garantia da escolarização dos alunos

com deficiência, em especial a intelectual.

Nas últimas décadas, segundo Skliar (2006), houve um turbilhão irrefreável de

mudanças educacionais: mudanças nos parâmetros curriculares nacionais, nas leis de

acessibilidade, na universalização do acesso à escola, na obrigatoriedade do ensino, nas

escolas que se pretendem ser inclusivas e as aparentemente inclusivas, porém não

sabemos se essas mudanças constituem ou não mudanças de fato e de direito no campo

da Pedagogia e nas práticas escolares para educação especial.

Meneses (2012) afirma que há um distanciamento entre políticas públicas

assumidas e proclamadas, escritas nos documentos oficiais, e as políticas públicas

vividas no cotidiano. Nesse sentido, estudar tais políticas implicou em diferentes

reflexões: quais os pontos de aproximação e distanciamento entre valores assumidos e

proclamados? Os programas escritos em forma de documentos conseguem atender as

demandas sociais? Quanto do que está expresso nas Leis e normativas quanto aos

direitos à educação encontram-se conquistados no cotidiano da vida escolar?

Segundo Santos (2008), é certo que diversas conquistas estão contempladas no

âmbito da educação especial, mas sua eficácia dependerá, em grande parte, de sua

inserção nos planos e ações educacionais, compondo as políticas – federais, estaduais e

municipais – de educação para os diferentes níveis da educação. A garantia do

atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência é um caminho

importante para o exercício desses direitos. Entretanto, nem sempre são oferecidos, por

falta de mecanismos eficazes como, por exemplo, a questão da acessibilidade e a da

formação do professor.

O educador tem papel preponderante nesse processo de educação inclusiva em

que se faz necessário o domínio de alguns conhecimentos específicos para que possa

atuar com a devida competência e a responsabilidade que lhe é impetrada pela

sociedade. Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) já afirmaram,

duas décadas atrás, que: “a formação e a capacitação docente impõem-se como meta

principal a ser alcançada na concretização do sistema educacional que inclua a todos,

verdadeiramente” (p.17).

Mais adiante a Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de setembro de 2001 que

Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, no seu Art.

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18 também faz menção à formação dos docentes:

Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer normas

para o funcionamento de suas escolas, a fim de que essas tenham as

suficientes condições para elaborar seu projeto pedagógico e possam

contar com professores capacitados e especializados, conforme

previsto no Artigo 59 da LDBEN e com base nas Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Formação de Docentes da Educação

Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio,

na modalidade Normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior,

curso de licenciatura de graduação plena.

Entretanto, os requisitos para a implantação, que o processo de inclusão escolar

impõe, exigem também que o professor reveja seu papel e passe a buscar outros

conhecimentos, informações e formações que lhes permitam realizar atividades

curriculares em que todos os alunos aprendam juntos, com as mesmas oportunidades de

acesso e permanência e com a garantia de uma aprendizagem contextualizada e

significativa.

Todavia, é perceptível que isso é uma imposição aos professores e, portanto,

alguns docentes têm restrições em receber alunos com deficiência intelectual. Como

hipótese, percebo que para justificar as dificuldades e as imposições, os professores

declaram preocupações com a aprendizagem — e isso é importante —, mas se limitam a

declará-las.

Para Raiça (2006), os professores que recebem alunos com deficiência

intelectual, geralmente querem saber até onde este aluno irá e se aprenderá a ler e

escrever, revelando uma ideia de “rendimento e investimento no (a) aluno (a), advindas

das concepções econômicas e capitalistas que permeiam o universo escolar”.

Ainda segundo a autora, no caso da deficiência intelectual, essas garantias são

quase sempre incertas e reconhece-se a persistência da crença de que as crianças e

jovens com deficiência intelectual não sejam capazes de aprender a ler e escrever. Isso

leva muitos professores a idealizar práticas escolares inclusivas apenas direcionadas à

socialização, distorcendo e reduzindo a visão da aprendizagem apenas para a leitura,

escrita e habilidades aritméticas.

Deve-se considerar que as atividades direcionadas aos alunos com deficiência

intelectual podem ir além das habilidades exigidas na vida diária e acadêmica. Segundo

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Denari (2006, p.199), é preciso observar diversos aspectos como “atitudes sociais,

relacionamentos, independência de locomoção, profissionalização, participação política,

respeito à cidadania”, quando a finalidade é a inclusão efetiva e participativa desse

sujeito na sociedade.

É preciso prudência diante das dificuldades de aprendizagem que um aluno

com deficiência intelectual apresenta. É necessário atenção às condições de sua

estrutura orgânica, sua constituição subjetiva e suas estruturas mentais para o

conhecimento, pois é sobre este ‘tripé’ que irá se edificar sua possibilidade de aprender

(Secretaria de Educação Especial – MEC/SEESP, 2007).

A maioria dos professores possui uma visão muito objetiva do ensino. Com o

processo de inclusão – tema explorado mais adiante –, os profissionais se reconhecem

como despreparados, pois os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos de formação,

teórica e prática, contribuíram de maneira muito superficial com essa nova exigência

educativa. As expectativas de eficácia e de rendimento escolar confrontam-se com a

incerteza do professor para atender as novas demandas e isso promove sua insatisfação.

Para superá-la, ele busca atender as demandas com os conhecimentos que tem em

práticas cotidianas, mas, por serem inadequadas, essas práticas só reforçam a

desigualdade que separa as crianças com deficiência intelectual das demais.

Diante disso é necessário olhar com outros olhos o espaço educativo na

perspectiva da inclusão, envolvendo alunos, pais, professores, gestores, profissionais de

órgãos públicos, enfim a comunidade que cerca essas crianças, para que cada um

compreenda seu papel e responsabilidade frente a essa demanda social.

Tal compreensão favorece e estimula a reflexão crítica, afetiva, amorosa,

intelectual das práticas educativas e das políticas públicas atuais, voltadas para todos os

sujeitos em processo de escolarização. Não se pode desconsiderar a preocupação com o

esvaziamento do discurso sem ressonância ética no fazer e no ser da escola.

Nesse contexto, propus-me o desafio de contribuir com essa reflexão,

oferecendo elementos que descrevam as dificuldades enfrentadas pelos professores e

alunos com deficiência intelectual, em situações de aprendizagem. Mittler (2003, p.184)

elucida que “cada escola tem sua própria abordagem de envolvimento pessoal na

promoção de mudanças, mas criar oportunidades para reflexão e discussão é essencial

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na implementação de qualquer tipo de inovação”. A presente pesquisa é fruto dessa

convicção.

Para organizar o desenvolvimento do trabalho investigativo, esta dissertação

está dividida em três capítulos. O primeiro apresenta os últimos estudos sobre a atuação

do professor na sala regular que recebem alunos com deficiência intelectual,

pesquisados nas bases de dados da Coordenação de Programa de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO),

Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), Universidade Cidade de

São Paulo (UNICID), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e Universidade

Estadual de São Paulo (UNESP). Após esse levantamento, fundamentamos a pesquisa

com referenciais teóricos sobre a educação especial e a situação educativa; as politicas

públicas assumidas e proclamadas que regem a educação especial e discutimos sobre a

deficiência intelectual e a construção da docência o ser professor.

O segundo capítulo descreve a metodologia do trabalho, seguindo o enfoque

qualitativo, além da pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo, através do estudo de

caso com aplicação de entrevista dirigida. O terceiro capítulo traz a discussão e análise

dos resultados obtidos, relacionando-os aos referenciais teóricos propostos, e os

documentos oficiais do governo (Leis, normativas, declarações e convenções) de modo

a responder aos objetivos propostos pela pesquisa. O trabalho fecha-se com as

considerações finais onde são apresentadas algumas reflexões e a constatação da

necessidade de dar continuidade ao processo investigativo, pois que a relevância e

complexidade do tema exigem muitos outros estudos.

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I – REFERENCIAL TEÓRICO

O presente capítulo tem por objetivo apresentar os estudos atuais sobre a

atuação e prática docente na sala regular que recebe alunos com deficiência intelectual e

apresentar os fundamentos e discussões teóricas que alicerçam esta pesquisa. Desde a

legislação vigente, as políticas públicas preconizadas que subsidiam a educação especial

no Brasil, como conceitos e teorias fundamentais sobre a construção da docência, sobre

a deficiência intelectual e a situação educativa, na atualidade, para os alunos com essa

deficiência.

1.1 – Explorando a literatura sobre a atuação dos professores, na sala regular, que

recebem alunos com deficiência intelectual.

Nos últimos anos, muitos estudos foram realizados a cerca da atuação do

professor em sala regular que recebem alunos com várias deficiências.

Os anos 1990 marcam definitivamente o movimento denominado

“International Inclusion”, compreendido como um novo caminho em busca

de uma escola de qualidade aberta a todos, a chamada Educação Inclusiva.

No Brasil esse movimento tomou corpo e, a partir da promulgação da LDBN

9394/96, tem-se a obrigatoriedade de atender ao aluno com deficiência no

sistema regular de ensino. Tem-se claro que a proposta da Educação

Inclusiva implica inserção de todos os educandos, sem distinção étnica,

socioeconômica ou da presença de uma deficiência. Farta é a produção

intelectual a respeito, como farta é a legislação disponível. (DE MASI, 2008,

p.68)

Desde 2002, quatro anos após a promulgação da LDB (Lei de diretrizes e base

da Educação brasileira, 1996), procura-se conhecer a literatura sobre a produção

cientifica referente à atuação do professor e o aluno com deficiência intelectual na sala

regular no ensino fundamental. Teses, dissertações, artigos nas seguintes bases de

dados: Coordenação de Programa de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Digital Brasileira

de Teses e Dissertações (BDTD), Universidade Cidade de São Paulo (UNICID),

Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).

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Na base da CAPES tivemos acesso a nove trabalhos de dissertação para o

mestrado, entre os anos de 2000 e 2010, com estudos sobre a atuação do professor,

educação inclusiva e deficiências, visual, intelectual e transtorno global do

desenvolvimento. Dos nove trabalhos encontrados, cujas publicações estão entre os

anos de 2005 a 2009, dois referem-se à deficiência intelectual e a atuação do professor

no ensino fundamental, tema central de interesse para a pesquisa aqui relatada.

Nos registros de 2005, encontramos a dissertação de mestrado em Psicologia,

desenvolvida na Universidade Federal da Bahia por Cristiane Teixeira Sampaio. Sob o

título: Convivendo com a diversidade: a inclusão da criança com deficiência intelectual

segundo professoras de uma escola pública de ensino fundamental, o trabalho visa a

descrever as experiências de professoras em relação à inclusão de crianças com

deficiência intelectual, partindo-se do pressuposto de que as concepções e os

sentimentos dos atores da escola precisam ser mais considerados; pois este é um

caminho seguro para identificar o que são os fatores facilitadores e/ou dificultadores

para a adoção de uma prática pedagógica pautada em princípios inclusivos.

No ano de 2009, encontra-se a dissertação de mestrado pela Universidade

Presbiteriana Mackenzie Educação, Arte e História da Cultura, defendida por Bruna

Bellinato Scrivanti Santana, com o título: Inclusão escolar de alunos com deficiência

intelectual no ensino regular: depoimentos de professores. O objetivo central desta

pesquisa foi sistematizar e analisar as formas de atuação de professoras do 1º ao 5º ano

do ensino regular, frente ao que acontece em sala de aula com o aluno deficiente

intelectual – as possibilidades e dificuldades, as adequações, material de apoio – e os

cursos específicos destinados aos profissionais da rede pública, para o atendimento do

aluno com deficiência intelectual no ensino regular.

No ano de 2011, encontra-se a dissertação de mestrado sobre Distúrbios do

Desenvolvimento apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, defendida por

Anaí Cristina da Luz Stelmachuk, com sob o título Atuação de profissionais da

educação na inclusão escolar do aluno com deficiência Intelectual. O objetivo deste

trabalho foi investigar como professores regentes e supervisores de unidades escolares

têm atuado em relação aos alunos com deficiência intelectual, tendo em sala de aula a

presença de um auxiliar.

Os anos de 2010, 2011 e 2012 têm cinco dissertações de mestrado defendidas

pela Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), com ênfase na inclusão de alunos

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com deficiência intelectual no Ensino Fundamental, e um no Ensino Superior. Simões

(2010) se propôs a estudar a migração de educandos com deficiência mental das escolas

especializadas para o ensino regular – à luz das políticas públicas de educação inclusiva;

Guerreiro (2012) sobre a transição do Ensino Fundamental I para o Ensino

Fundamental II na vida de um aluno com deficiência; Freitas (2012) estudou as

interações sociais entre professor e aluno com deficiência nas primeiras séries do ensino

fundamental, sob a ótica das politicas públicas de inclusão; Gomes (2012) discutiu

sobre a formação do professor e o atendimento cotidiano dos alunos com deficiência na

classe comum de uma escola da Diretoria de Ensino Leste 1 da Rede Estadual de São

Paulo. Lima (2012) buscou compreender os fatores da relação humana na prática

educativa com uma aluna com síndrome de Down no curso de Pedagogia.

Em consulta ao Programa de Pós-graduação em Educação Especial na

Universidade Federal de São Carlos, entre os períodos de 2007 e 2011, com ênfase na

deficiência intelectual e atuação do professor no ensino fundamental, destacamos:

quatro dissertações de mestrado e duas teses de Doutorado relacionadas ao tema em

questão: atuação do professor e deficiência intelectual em sala regular.

Destacamos a pesquisa de Boer (2012), sobre as adequações curriculares na

área da deficiência intelectual em uma diretoria de ensino no interior de São Paulo;

Lima (2011) com uma análise das interações professor-aluno com paralisia cerebral no

contexto de sala de aula regular, seguido de Veltrone (2011), tese de doutorado sobre o

estudo sobre a inclusão escolar do aluno com deficiência Intelectual no estado de São

Paulo. Em 2009, Lima defende a tese sobre a escolarização da pessoa com deficiência

intelectual e os sentidos atribuídos pela família a essa escolarização na classe comum

regular e Sousa (2008) analisa as expectativas manifestadas pelos professores da sala de

aula comum e do atendimento educacional especializado da rede municipal de

Uberlândia/ MG que possuem alunos com deficiência mental em relação à

aprendizagem do saber escolar e à inclusão desses alunos na escola regular.

A busca foi baseada na indicação de palavras-chave, na leitura dos resumos e

na leitura dos trabalhos que apresentavam maior proximidade com os eixos de interesse.

A partir desse esboço, mais amplo e geral, da produção científica disponível referente à

área da deficiência intelectual e atuação do professor foi possível observar a

significativa produção publicada nos últimos dez anos. Essas produções envolvem

diferentes campos do conhecimento, caracterizando uma ampla variabilidade conceitual

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para referir e compreender o fenômeno em questão. Reafirma-se o predomínio da

produção de conhecimentos científicos pelas áreas da Educação, Educação Especial e

Psicologia.

1.2 Educação Especial e a Situação Educativa

Segundo Brandão (2006), ninguém escapa da educação, todos nós nos

envolvemos em algum momento da vida com ela: para aprender, ensinar, saber, fazer,

ser conviver.

Segundo Delors (1999, p. 97), a educação tem por missão levar as pessoas à

tomada de consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres

humanos do planeta. O homem que transforma com o trabalho e a consciência partes da

natureza em invenções de sua cultura aprendeu com o tempo a transformar partes das

trocas feitas no interior desta cultura em situações sociais de aprender, ensinar e

aprender enfim em educação.

No Brasil, em contrapartida, intelectuais, educadores e estudantes argumentam

que a educação nega no cotidiano o que afirma a lei.

Não há liberdade no país e a educação não tem tido papel algum nos

últimos anos para a sua conquista; não há igualdade entre os

brasileiros e a educação consolida a estrutura classista que pesa sobre

nós; não há nela nem a consciência nem o fortalecimento dos nossos

verdadeiros valores culturais (BRANDÃO, 2006, p.57).

Tomando como referência o ambiente cultural onde cada um nasce e se

desenvolve, a educação deve considerar toda a experiência de vida própria do sujeito.

Silva (2009), em seu artigo Nossa Responsabilidade e Compromisso com a

Gente Brasileira afirma que a história registra épocas de mudanças culturais e estas

ocorreram, dentre outros fatores, mediante o trabalho de educadores comprometidos

com a busca da melhoria da qualidade de vida humana coletiva.

Afirmar a historicidade do homem é afirmar sua condição de ser social, visto

que a história nunca é atividade isolada e exclusiva de indivíduos. Assim, cada homem

educa-se dentro de seu grupo, supondo fazê-lo para si, embora esteja sempre pensando

de acordo com seu povo.

Como afirma Denari (2011)

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Educar significa instituir a integração dos educandos como agentes em

seu lugar designados num conjunto social, do qual nem eles nem seus

educadores, têm o controle. Significa assegurar ao mesmo tempo a

promoção desses mesmos educandos e, portanto, de seus educadores,

em atores de sua própria História individual e da História coletiva em

curso. (p.39)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal Nº 9394, de 20

de dezembro de 1996) logo em seu artigo 1° dispõe:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na

vida familiar na convivência humana, no trabalho, nas instituições de

ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da

sociedade civil e nas manifestações culturais.

Percebemos que logo em seu artigo primeiro, a LDB traz o conceito pelo qual a

educação de nosso país deve ser abordada. Compreende-se que a educação é parte

essencial e fundamental de toda convivência humana, sendo ela organizada,

sistematizada ou não. Reconhece-se, portanto, a educação como processo de formação

de sujeitos individuais e coletivos.

De acordo com o documento final da CONAE (Conferência Nacional de

Educação, 2010), a educação é direito social inalienável e cabe ao Estado sua oferta.

Assim, o Estado deve organizar-se para garantir o cumprimento desse direito. Porém, o

Brasil ainda não efetivou o seu Sistema Nacional de Educação, sendo este um dos

fatores que tem contribuído para a existência de altas taxas de analfabetismo e para a

frágil escolarização formal de sua população e as dificuldades que enfrentamos na

efetivação, de fato e de direito da educação especial.

A educação pode ser também um fator de coesão, tendo-se em conta a

diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos, evita-se torná-la um fator de

exclusão social (DELORS, 1998).

Partindo dessas considerações, a presente pesquisa, parte da análise do teor dos

documentos legais que explicitam os princípios e finalidades da educação inclusiva no

Brasil.

A Lei nº 9. 394/96 (BRASIL, 1996) diz no Art. 1º que a educação abrange os

processos formativos desenvolvidos na vida familiar, no convívio humano, no trabalho,

nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da

sociedade civil e nas manifestações culturais. Para os educandos com necessidades

educacionais especiais esta lei nos diz, no Art. 58º, que a Educação Especial é uma

modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino.

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A Educação Especial perpassa todos os níveis e etapas do sistema educacional

brasileiro, sendo ofertada ao aluno deficiente por transtornos globais do

desenvolvimento ou por altas habilidades/superdotação, conforme estabelece o

documento da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva (BRASIL, 2008). Deve ser transversal desde a educação infantil até a

educação superior e tem como objetivo assegurar a inclusão escolar do alunado

específico, orientando os sistemas de ensino para garantir seu acesso.

A defesa da cidadania e do direito à educação das pessoas com deficiência é

atitude recente em nossa sociedade. Segundo Mazzotta (2003), manifesta-se através de

medidas isoladas, de indivíduos e grupos, a conquista e o reconhecimento de alguns

direitos das pessoas com deficiências e podem ser identificadas como elementos

integrantes de políticas sociais a partir do século XX.

Mittler (2003), afirma que no campo da educação, a inclusão envolve um

processo de reformas e de reestruturação das escolas como um todo, com o objetivo de

assegurar que todos os alunos possam ter acesso a todas as oportunidades educacionais

e sociais, impedindo a segregação e o isolamento.

Neste sentido Ferreira (apud FREITAS, 2006), considera que a educação

especial vive um importante momento, em um contexto favorável, com novas questões

referentes a assegurar uma educação de qualidade; sendo ela necessária não apenas pela

perspectiva da inclusão escolar, mas principalmente na visão de que aquilo que

denominamos educação especial se constrói e reconstrói a partir das práticas da escola

regular.

Há na educação inclusiva a introdução de outro olhar. Uma maneira

de se ver, ver os outros e ver a educação. Para incluir todas as pessoas,

a sociedade deve ser modificada com base no entendimento de que é

ela que precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros

(FREITAS, 2006, p.167).

A educação na e para a diversidade implica, antes, uma mudança

epistemológica, na qual a visão tradicional do conhecimento, da relação entre sujeito-

objeto e deste com a aprendizagem deve ser (re) considerada, (re) significada

(DENARI, 2008). Implica atribuir um novo sentido e significado à educação para todos

independente de quais sejam suas dificuldades ou limitações; exige, ainda, um repensar

radical da sociedade em que vivemos, dos espaços sociais que dividimos e nos

formamos, seja família, escola, igreja, entre outros.

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A inclusão como educação para todos tem seu reconhecimento decisivo em

1994 com a Declaração de Salamanca que proclama o dever dos sistemas educativos em

desenvolver programas que respondam à vasta variedade de características e

necessidades de diversidade do alunado, enfatizando a atenção às crianças

marginalizadas e/ou desfavorecidas. Portanto, a partir dessa Declaração, fica claro que

se pretende garantir a defesa dos direitos humanos como um todo e, particularmente, os

direitos das crianças, independentemente de suas necessidades específicas.

Entretanto, como afirma Meneses (2012), há uma diferença fundamental entre

políticas públicas assumidas e políticas públicas proclamadas. A reflexão sobre isso

implica reconhecer a força da lei a ser cumprida e os valores proclamados e reais

fixados nos documentos, os quais não acontecem efetivamente nas práticas sociais,

porém na prática ainda estão distantes de serem alcançados.

Segundo Pérez Gomes (2001):

A reflexividade é a capacidade de voltar-se sobre si mesmo, sobre as

construções sociais, intenções, representações e estratégias de

intervenções. Supõe a possibilidade, ou melhor, a inevitabilidade de

utilizar o conhecimento à medida que vai sendo produzido para

enriquecer e modificar não apenas a realidade e suas representações,

como também as próprias intenções e o próprio processo de conhecer.

O conhecimento cria a realidade, ao menos aquela que condiciona a

interpretação, à valoração e a intervenção do indivíduo e da

coletividade. (p.31)

A educação está intimamente relacionada ao desenvolvimento do homem,

sendo, portanto, fator determinante de sua formação intelectual, afetiva e psicológica,

bem como da constituição de seu caráter e ainda do seu senso de humanidade. Dada sua

relevância e possibilidade de transformação, a educação, como reflexo das políticas de

democratização do ensino assume, atualmente, uma perspectiva inclusiva.

A inclusão de alunos com deficiências e necessidades especiais na

escola comum, é antes, uma demanda social, relacionada aos direitos

primeiros de educação, cujo fundamento ético independe de outros

fatores considerados na conveniência de sua implementação. Ainda,

independentemente da obrigação ético-educativa e dos necessários

incentivos estruturais, esta política não constitui um problema me-

ramente organizacional que demanda uma gestão de qualidade: ao

contrário a implementação do processo de inclusão pode se

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transformar numa experiência catalisadora de melhoria e efetividade

para toda a instituição escolar (DENARI, 2011, p.41).

Educação de boa qualidade é aquela oferecida por educadores com boa

qualificação, pois, mais do que um simples produto, a educação é uma relação entre

pessoas. (SILVA, 2007, p. 57). Desta perspectiva, a educação especial se constitui em

um suporte permanente e efetivo para os alunos com necessidades educativas especiais

que estão incluídos e também para os professores que os atendem.

Entretanto, a situação educativa deve levar em consideração, necessariamente,

o ponto de partida dos educandos (gnosiologia, antropologia), um ponto de chegada (os

fins e objetivos educacionais) e o caminho (procedimentos educacionais). (SILVA,

2009).

Entendemos que a situação educativa é aquela em que se dá uma superação de

um estado a outro, mediante uma trajetória que parte dos saberes do educador e do

educando para com eles alcançar um objetivo específico ou ponto de chegada.

Dentre esses caminhos e percursos o processo de inclusão se dá de diversas

formas. Por isso é necessário discutir a visão que o educador faz sobre o processo de

educação e das situações de aprendizagem inclusivas. A atuação do professor nesse

percurso juntamente com crianças intelectualmente deficientes é o núcleo de estudo

deste trabalho, já que este é o nosso objeto de estudo em questão, a atuação do professor

com crianças com deficiências intelectuais.

As ações de um indivíduo têm como base uma concepção que foi desenvolvida

dentro de um processo histórico, sendo assim, pode-se dizer que o conceito que se tem

de algo direciona a prática, ou ainda, determina as atitudes. Portanto, em se tratando da

temática da inclusão de alunos com deficiência em salas de aulas de ensino regular, as

atitudes do professor em relação ao ensino desse aluno estariam diretamente ligadas ao

seu conceito de inclusão (MONTEIRO & MANZINI, 2008).

No processo de inclusão é provável que o professor aja diante das mais

inusitadas situações que lhes são postas no cotidiano, sem, na maioria das vezes, estar

preparado para a diversidade de situações que são impostas em seu cotidiano escolar.

Assim sendo, para que uma prática pedagógica seja efetiva é importante que o

professor saiba o que ensinar e o como fazê-lo em sala de aula. Isso exige investimento

na formação profissional continuada, uma adequada interlocução e troca de

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conhecimentos com outros profissionais. No caso do professorado brasileiro, essa

prática ainda está longe de ser exercida sistematicamente.

Com a universalização do acesso à escola e outros espaços de

educação não formal, trazendo para a sociedade o desafio da efetiva

incorporação dos direitos dos cidadãos historicamente destes

excluídos, impõe-se ao professor o desafio de disseminar

conhecimentos que visem à construção de uma melhor qualidade de

vida, desencadeadores de novas atitudes, para que o mestre possa

desempenhar responsável e satisfatoriamente seu papel de agente

transformador da educação (DENARI, 2008, p 37).

Podemos perceber que o papel do professor em promover situações educativas

exitosas implica na “valorização da pessoa do educando como aprendiz, como ser

histórico, político e social, isto é, como cidadão” (CARVALHO, 2004, p. 25). O

professor pode promover a ascensão do aluno ou o seu fracasso.

É dever da escola atentar para a diversidade de seu alunado e ajustar seu

projeto pedagógico às peculiaridades de sua cultura, localização regional e comunidade,

para que as situações de aprendizagem assegurem a todos os mesmos direitos e iguais

oportunidades.

Percebe-se, porém, que a formação do professor é fragmentada e quase sempre

insuficiente. Costuma-se verificar falta de domínio e habilidade tanto em relação aos

conhecimentos básicos quanto aos específicos, a comprometer o trabalho em sala de

aula.

A ideia de escola inclusiva que "deve acomodar todas as crianças,

independentemente de suas condições físicas, intelectuais, emocionais ou outras"

(Declaração de Salamanca, 1994), na prática, é compreendida como existência

exclusiva no âmbito público; já que o Estado tem por obrigação legal de garantir o

direito à universalidade do acesso a ela como prática de uma política ativa de justiça

social em benefício dos mais desfavorecidos (BARROSO, 2006).

A ninguém é lícito, pois, ignorar a responsabilidade por sua própria inclusão e

dos demais nos mais variados espaços sociais. Mesmo porque o respeito a si e ao outro

se revela nas atitudes e ações manifestadas direta e indiretamente nas relações humanas

privadas ou públicas, pondo em causa sempre a obrigação de responder pelo que se diz

ou se faz, isto é, há responsabilidade em quaisquer situações da vida social

(MAZZOTTA, 2008).

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A Declaração de Salamanca (1994) proclama que todas as crianças têm direito

a educação e se deve dar a elas a oportunidade de alcançar e manter um nível aceitável

de conhecimento; as escolas comuns devem representar um meio mais eficaz para

combater as atitudes discriminatórias, criar comunidades acolhedoras, construir uma

sociedade integradora e alcançar a educação para todos. Isso significa que é garantindo

a todos, inclusive às pessoas com deficiência, o direito de aprender a aprender, aprender

a fazer, aprender a ser e aprender a conviver (DELORS, 1999).

Pedagogicamente, cada aprendente tem uma maneira particular e ativa de

aprender, na qual o professor deixa de ser somente o transmissor do conhecimento para

se transformar em um facilitador de condições que acarretam mudanças estruturais em

seus alunos (DENARI, 2008).

A existência de uma formação inicial renovada e a profissionalização

docente a partir desses novos enfoques propiciarão mudanças nas

metodologias de ensinar, na organização das aulas, no planejamento

de atividades, nas adaptações curriculares e nos sistemas de avaliação.

E o enfrentamento do desafio de trabalhar na/para a diversidade, de

um lado, implica uma relação de equipe, de conjunto, de completude,

de compartilhar experiências; de outro lado, outorga a possibilidade de

dar soluções criativas a problemas comuns, criar laços de apoio,

respeito e aprendizagens das experiências dos outros. Nesse sentido,

os professores devem aprender a usar todos os recursos, em particular

os humanos, a trabalhar de modo conjunto com alunos, com seus pais

e profissionais especializados (op. cit. p.35).

Retomando o conceito inicial de situação educacional na perspectiva inclusiva,

compreendemos que o ponto de partida é a formação do professor e dos modelos e

práticas que o constituem profissionalmente, aos quais se somam sua história de vida

pessoal e profissional. Os recursos e métodos de que ele se apropria para colocar em

prática o que aprendeu e vivenciou; além de todos os questionamentos e decisões

tomadas a fim de corrigir o percurso para que, ao final, se possa promover, de fato, uma

situação educativa exitosa para todos.

Portanto, faz-se imprescindível redesenhar os contextos laborais e de funções

com base em um modelo que permita tomar decisões, elaborar projetos e solucionar

problemas conjuntamente, tendendo a um contexto mais participativo, responsável e

reflexivo (DENARI, 2008).

Professores e demais membros da equipe escolar (coordenadores, diretores,

supervisores) necessitam contar com um repertório de destrezas, conhecimentos,

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enfoques, métodos, materiais adequados e tempo suficiente para dispensar atenção a

todos os alunos que tenham ou não necessidades especiais.

Desse modo, em uma escola que busque incluir todos os educandos

torna-se necessário que os que os atendam tomem consciência do

significado que atribuem ao seu próprio trabalho educativo. Perguntas

sobre quem são os alunos e quais as suas possibilidades; sobre os

objetivos do processo educacional; sobre as práticas mais adequadas a

serem efetivadas para a consecução desses objetivos, devem ser

explicitamente enfrentadas e manifestadas por todos os educadores

(SILVA, 2007, p.49).

Para tanto, é necessária uma reformulação nos currículos dos cursos de

formação de professores, visando à preparação de profissionais competentes para lidar

com os aspectos educacionais específicos das deficiências.

Segundo Perrenoud (1999), a competência é definida como uma capacidade de

agir de forma eficaz, em determinadas situações, respaldada sempre em conhecimentos,

mas sem limitar-se a elas. A prática é que oferece um conjunto de esquemas que

formam uma competência. Para o autor, não são suficientes competência didáticas e

avaliativas, mas também capacidades relacionais que permitam enfrentar qualquer

desafio. Parafraseando Tardif (2012): "Ele pode aprender e eu posso fazer algo para

isso. Todos os alunos precisam ouvir de seus professores: Você pode!" (p. 58).

Por conseguinte, descobrir as habilidades e competências dos alunos com

deficiência é fundamental ao encontro de situações educativas que afirmem ser possível

para esses alunos aprender, ou seja, inclui-los com responsabilidade.

Atualmente, há uma maior consciência da diversidade, das diferenças e das

desigualdades que configuram nossa formação social, política e cultural. Diversidade

que educadores e educandos levam para as escolas, diversidades sócio-étnico-raciais e

de disposição cognitiva.

Logo, reconhecer as diferenças, aceitando-as positivamente é um passo

importante à superação de preconceitos e de práticas classificatórias e esse é um aspecto

que são nucleares dos currículos, tanto quanto as concepções de conhecimento, de

cultura, de saberes e valores, de processos de socialização e aprendizagem. Um

currículo que se pretenda democrático deve visar à humanização de todos e ser

desenhado a partir do que não está acessível à pessoa.

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Em relação ao currículo em educação especial percebem-se iniciativas ainda

pouco consistentes, apesar de muito já ter sido feito em âmbito internacional e nacional.

A preocupação acerca do currículo para a educação especial tem se mostrado em duas

vertentes: a primeira a partir de concepções segregacionistas e a segunda na perspectiva

integracionista/inclusivista.

Nesse âmbito, consideramos importante levar em conta como a pessoa

com necessidades especiais foi representada historicamente e como

sua educação foi se constituindo, sobretudo no Brasil, pois a categoria

do desvio, do atípico e do improdutivo, contribuíram para práticas

segregativas, que legitimaram currículos inadequados e alienantes,

que muitas vezes serviram mais para infantilizar o aluno considerado

deficiente do que para garantir o direito às diferenças (MOREIRA,

2001, p.3).

Em termos históricos, têm-se inicialmente práticas segregadoras. Elas se

fundaram na visão clínica da deficiência, excepcionalidade e da assistência social, a

qual refletiu sobre a formação e prática profissionais, até meados de 1970 sob a

influência da Psicologia e das Ciências da Saúde. Dessa forma, a formação de

professores para atuar em educação especial distanciou-se dos ideais pedagógicos de

compromisso político-social e permaneceu em um espaço eminentemente clínico.

Mazzotta (1993) lembra que o professor de educação especial não deve se

distanciar do pedagógico. Entretanto, tradicionalmente, tanto o trabalho do professor de

ensino especial como as propostas curriculares para a educação especial guiou-se pela

concepção do ajustamento social, para o qual corrigir precedia o educar. Portanto,

currículos por desempenho, com modelagem detalhada de respostas e condutas foram

largamente utilizados de forma abstrata e descontextualizados da própria realidade do

aluno (MOREIRA & CANDAU, 2007).

A Política Nacional de Educação Especial do MEC define que as classes

especiais integradas à escola comum devem adotar “o currículo regular oficial, com as

devidas adaptações e o processo de ensino-aprendizagem deverá ser baseado em

avaliação/diagnóstico de natureza educacional” (BRASIL, 1994, p. 38). O documento

alerta para a importância de um “atendimento educacional adequado às necessidades

especiais do alunado, no que se referem a currículos adaptados, métodos, técnicas e

material de ensino diferenciado, ambiente emocional e social da escola favorável à

integração social dos alunos, pessoal devidamente qualificado” (BRASIL, 1994, p. 51).

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O currículo não é um veículo que transporta algo a ser transmitido e absorvido,

mas um espaço onde, ativamente, em meio a tensões, se produz e se reproduz a cultura.

Currículo refere-se, portanto, à criação, recriação, contestação e transgressão (Moreira e

Silva, 1994). É um campo em que se tenta impor tanto a definição particular de cultura

de um dado grupo quanto o conteúdo dessa cultura.

Boer (2012), em sua pesquisa de mestrado, aborda o conceito de currículo

adaptado, através de vários estudos e conceitos desde a legislação brasileira, assim

como da espanhola, que defendem uma visão mais ampla da educação. As leis garantem

a inserção dos educandos com deficiência no ensino regular, mas ainda existe muita

dúvida por parte dos educadores sobre a forma de implementar essa intenção na prática.

Zanata (2004), afirma que quando o professor recebe um educando com

deficiência na sala regular, sente dificuldade em lidar com ele, pois tem que promover

adaptações em seu planejamento para dar oportunidade a todos os educandos de

desenvolverem suas capacidades e potencialidades, sem suprimir ou minimizar

conteúdos.

O fato é que atender a todos os educandos é um dever universal que se

configura em uma realidade mundial. A educação inclusiva denota a necessidade de se

estudar e se definir o conceito de adequações curriculares para garantir que todo

educando se beneficie de práticas pedagógicas em respeito às suas diferenças.

Segundo (BOER, 2012), o currículo "é um instrumento que pode e deve fazer

avançar o desenvolvimento geral de cada pessoa", por meio de um conjunto de

modificações nos objetivos, nas estratégias metodológicas, nos critérios e

procedimentos de avaliação para atender às especificidades do educando com

deficiência intelectual, inserido no ensino regular.

Por outro lado, as condições das salas de aula brasileiras podem dificultar o

trabalho inclusivo. As salas superlotadas e heterogêneas, compostas de alunos

considerados “normais” e os alunos que apresentam algum tipo de deficiência são, de

fato, um problema para o professor pouco preparado para essa realidade. A dinâmica do

trabalho é dificultada porque a atenção exigida pelo grupo contrapõe-se à exigência do

indivíduo diferente, pois este foge aos padrões pré-estabelecidos. Infelizmente, a grande

maioria dos currículos dos cursos de formação contínua privilegiam o aluno idealizado e

o mito das classes homogêneas (MOREIRA & BAUMEL, 2001).

As adaptações curriculares não podem correr o risco de produzirem,

na mesma sala, de aula um currículo de segunda categoria, que possa

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denotar a simplificação ou descontextualização do conhecimento.

Com isso, não queremos dizer que o aluno incluído não necessite de

adaptações curriculares, de apoios e complementos pedagógicos, de

metodologias e tecnologias de ensino diversificadas e que as escolas

especiais não organizem propostas curriculares articuladas ao sistema

público de ensino. Estamos argumentando em favor de uma inclusão

real, que repense o currículo escolar, que efetive um atendimento

público de qualidade (op. cit., p 10.).

É importante levar em conta como a pessoa com necessidades especiais foi

representada historicamente e como sua educação foi se constituindo. As práticas

segregativas legitimaram currículos inadequados e alienantes, que mais serviram para

infantilizar o aluno considerado deficiente do que para garantir o direito.

Segundo se refere Garcia (2006),

Nos Parâmetros curriculares nacionais (1998) a educação dos alunos

com necessidades educacionais especiais deve contemplar as

“diferenças individuais e requer um tratamento diversificado dentro do

mesmo currículo”. Essas indicações dão margem a que se pense em

recursos e métodos diversificados para o trabalho pedagógico, com a

criação de alternativas nos processos de aprendizagem. Contudo, o

debate sobre currículo avança no sentido de restringir o que deve ser

apreendido: “eliminação de conteúdos básicos do currículo” e

“eliminação de objetivos básicos – quando extrapolam as condições

do aluno para atingi-lo, temporária ou permanentemente”. (p. 306).

Ainda segundo a autora citada, as necessidades especiais estão limitadas a um

diagnóstico seguido de um prognóstico curricular, uma vez que “conteúdos básicos”

permanecem ou são eliminados segundo as “diferenças individuais”. Em outras

palavras, as necessidades especiais estão sendo compreendidas como o conjunto de

condições que o aluno apresenta, mas aos educadores importa encontrar estratégias

alternativas e criativas que possam ser propostas aos processos de ensinar e aprender

nessa realidade.

A política de educação especial brasileira, que se articula numa perspectiva

inclusiva, tem como um de seus pressupostos a restrição dos conteúdos básicos para os

alunos com necessidades especiais. Isso não inclui apenas aqueles identificados como

alunos com deficiência, mas todos os que sejam reconhecidos como alunos com

dificuldades de aprendizagem (op. cit.).

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Alguns alunos com necessidades especiais revelam não conseguir

atingir os objetivos, conteúdos e componentes propostos no currículo

regular ou alcançar os níveis mais elementares de escolarização. Essa

situação pode decorrer de dificuldades orgânicas associadas a déficits

permanentes e, muitas vezes, degenerativos que comprometem o

funcionamento cognitivo, psíquico e sensorial, vindo a constituir

deficiências múltiplas graves. [...] Alguns programas, devido à

expressividade das adaptações curriculares efetuadas, podem ser

encarados como currículos especiais. Comumente, envolvem

atividades relacionadas ao desenvolvimento de habilidades básicas; à

consciência de si; aos cuidados pessoais e de vida diária; ao

treinamento multissensorial; ao exercício da independência e ao

relacionamento interpessoal, dentre outras habilidades adaptativas

(BRASIL, 1998, p. 53).

É notável a necessidade de flexibilização do currículo e não sua minimização e

empobrecimento conforme ocorre nas propostas curriculares para a educação básica. A

ideia de flexibilidade curricular também é central na proposta de organização do

trabalho pedagógico da Secretaria de Educação Especial – SEESP do Ministério da

Educação – MEC, a qual pode ser percebida no Documento Subsidiário à Política de

Inclusão (BRASIL, 2005).

Dois são os aspectos a serem destacados nessa proposta: a flexibilidade

curricular é considerada fundamental para o processo de inclusão educativa e deve ser

pensada a partir do grupo de alunos e a diversidade que o compõe e não para alguns

alunos isoladamente; e o segundo é que a flexibilidade curricular pode ser viabilizada a

partir de adequações e adaptações curriculares (BRASIL, 2005).

Os princípios liberais que sustentam essa compreensão de desenvolvimento se

apoiam no reconhecimento da diferença, na dignidade humana, na promoção da

cidadania (BRASIL, 2001). Porém é possível perceber nesses propósitos a marca da

desigualdade, embora constituída de encaminhamentos políticos. O discurso da

diversidade, ao mesmo tempo em que chama a atenção para o direito à educação dos

sujeitos excluídos, está a serviço de um acesso desigual à cultura humana (GARCIA,

2006).

Ao considerar que a escola inclusiva é aquela que atende a todos,

indiscriminadamente, em prol do objetivo maior da educação, que é a

apropriação e a construção de conhecimentos, colocando os

educandos no centro de suas considerações, respeitando-os e

conhecendo-os nas suas diferenças individuais, necessidades pessoais

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e potencialidades, pode pressupor que, de fato, ela estará favorecendo

o processo de aprendizagem de cada educando (BOER, 2012, p.53).

Entretanto, é preciso refletir sobre o projeto curricular desejado pela sociedade

e pelos educadores; a fim de que, independente de classe social, cor, gênero, diferenças

e/ou deficiências, sejam assegurados a todos os educandos, os direitos constituídos -

proclamados e efetivados. Do mesmo modo, é preciso garantir formação continuada do

professor para que ele possa por em prática a efetivação desses direitos.

1.3 Políticas Públicas Assumidas e Proclamadas

Segundo Santos (2012) a política educacional corresponde a toda e qualquer

política projetada para intervir nos processos formativos e informativos desenvolvidos

em sociedade; de modo que, por meio dessa intervenção legitima, constrói ou

desqualifica determinado projeto político mais amplo. Ainda segundo o autor, é público

tudo aquilo que não pertence a um indivíduo ou grupo em particular, mas, antes, é

propriedade de toda a coletividade. Assim, toda política pública possui uma

intencionalidade e, para compreendê-la, é preciso conhecer a identidade de seus

formuladores e o contexto histórico, político, social e econômico em que foram

elaboradas.

A Educação Especial, contextualiza-se, sociopolítico e culturalmente entre

1990 a 2002, sendo marcada por discussões e implementações na Lei de diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDBEN-Lei 9394/96) e documentos assinados

internacionalmente como compromissos assumidos para políticas públicas educacionais

inclusivas no ensino regular.

A Conferência Mundial sobre Educação para Todos, ocorrida em março de

1990, em Jomtien, Tailândia, foi o grande marco para importantes mudanças nas

políticas educacionais, configurando importantes reformas educativas, que se traduzem

em medidas e ações políticas com vistas a um novo modelo de gestão escolar

(SANTOS, 2012). Tendo com meta primordial a revitalização do compromisso mundial

de educar todos os cidadãos do planeta. Porém, anterior a esta, tivemos um processo

preparatório que incluiu algumas reuniões regionais como a de Quito, no Equador, em

1989, cujo público alvo era os países latino-americanos.

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A Conferência, que contou com a presença de representantes governamentais

de cento e cinquenta e cinco diferentes países, teve como patrocinadores e financiadores

quatro organismos internacionais: a Organização das Ações Unidas para a Educação

(UNESCO); o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); o Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); e o Banco Mundial (BID).

Em decorrência de compromisso assumido na Conferência de Jomtien, foi

elaborado, no Brasil o Plano Decenal de Educação para Todos, cuja meta principal era

assegurar, em dez anos (1993 a 2003), às crianças, jovens e adultos, os conteúdos

mínimos em matéria de aprendizagem que respondessem às necessidades elementares

da vida contemporânea (universalização da educação fundamental e erradicação do

analfabetismo).

A Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e

Qualidade, realizada pela UNESCO, em Salamanca (Espanha), em junho de 1994, teve,

como objeto específico de discussão, a atenção educacional aos alunos com

necessidades educacionais especiais.

A Declaração de Salamanca (1994) representou um divisor de águas, no que

diz respeito no modo de pensar a escola e, mais particularmente, a educação de grupos

que historicamente estavam excluídos desse espaço, como as pessoas com deficiência,

as meninas e mulheres, as minorias linguísticas, entre outros. Em particular, a

Declaração proclama o seguinte:

Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito fundamental à educação e

que a elas deve ser dada a oportunidade de obter e manter um nível

aceitável de conhecimentos;

Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de

aprendizagem que lhe são próprios;

Os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados de

modo que tenham em vista toda a gama dessas diferentes características e

necessidades;

As pessoas com necessidades educacionais especiais devem ter acesso às

escolas comuns, que deverão integrá-las numa pedagogia centralizada na

criança, capaz de atender a essas necessidades;

As escolas comuns, com essa orientação integradora, representam o meio

mais eficaz de combater atitudes discriminatórias, de criar comunidades

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acolhedoras, construir uma sociedade integradora e dar educação para

todos;

Tendo esses princípios em conta, é feito um apelo aos governos no sentido de:

Dar a mais alta prioridade política e orçamentária à melhoria de seus

sistemas educativos, para que possam abranger todas as crianças,

independentemente de suas diferenças ou dificuldades individuais;

Adotar, com força de lei ou como política, o princípio da educação

integrada, que permita a matrícula de todas as crianças em escolas

comuns, a menos que haja razões convincentes para o contrário; Criar

mecanismos descentralizados e participativos, de planejamento,

supervisão e avaliação do ensino de crianças e adultos com

necessidades educacionais especiais; Promover e facilitar a

participação de pais, comunidades e organizações de pessoas com

deficiência, no planejamento e no processo de tomada de decisões,

para atender a alunos e alunas com necessidades educacionais

especiais; Assegurar que, num contexto de mudança sistemática, os

programas de formação do professorado, tanto inicial como contínua,

estejam voltados para atender às necessidades educacionais especiais,

nas escolas integradoras. (FUMES, 2010, p.06)

Ao assinar esta Declaração, o Brasil comprometeu-se com o alcance dos

objetivos propostos que visam à transformação dos sistemas de educação em sistemas

educacionais inclusivos.

Em 1999 ocorreu a Convenção na Guatemala (BRASÍLIA, 2001). O mote

desta convenção Interamericana era a eliminação de toda a forma de preconceito contra

as pessoas com deficiência, e, mais uma vez, a Declaração Universal dos Direitos

Humanos (BRASÍLIA, 1998) fora retomada. Os direitos da pessoa com deficiência

foram reafirmados, dentre os quais, o direito de ela não ser discriminada por conta de

sua condição.

No seu artigo 1º, a Convenção define que o termo deficiência

"significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza

permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou

mais atividades essenciais da vida diária causada ou agravada pelo

ambiente econômico e social" (2001).

Os Estados-Parte, por sua vez, se comprometeu a tomar medidas, no âmbito do

legislativo, social, educacional, trabalhista, ou de qualquer outra natureza, que sejam

necessárias para eliminar discriminação contra as pessoas com deficiência e

proporcionar sua plena integração à sociedade; Trabalhar prioritariamente nas áreas de

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prevenção de deficiências; detecção e intervenção precoce, tratamento, reabilitação,

educação, formação ocupacional e prestação de serviços para pessoas com deficiências;

e, sensibilização da população em geral.

Essa Convenção foi promulgada pelo governo brasileiro por meio do Decreto

n° 3.956, de 8 de outubro de 2001, o qual assegura, em seu artigo 1º, que a referida

Convenção será executada e cumprida inteiramente.

A Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão (BRASÍLIA, 2001) foi

aprovada no Congresso Internacional “Sociedade Inclusiva", realizado em

Montreal/Canadá. A Declaração Internacional tem como ponto de partida a Declaração

Universal dos Direitos Humanos, em especial seu artigo 1º, no qual é asseverado que

“todos os seres humanos nascem livres e são iguais em dignidades e direitos”. No

entanto, para a efetivação dos direitos humanos, demanda-se o acesso igualitário de

todos aos espaços da vida, além disso, é apontado que a construção de uma sociedade

para todos passa pelo desenvolvimento social e sustentável.

De modo geral, essa Declaração de Montreal (2001) conclama governantes e

diferentes segmentos da sociedade civil organizada a envidarem esforços no sentido de

desenvolver o desenho inclusivo em todos ambientes, produtos e serviços, e, com isso,

tornar possível a participação de todos na sociedade, de forma sustentável, segura,

acessível e útil. Por fim, é apontado que os benefícios da inclusão são de todos, assim

como o são as responsabilidades pelo seu desenvolvimento.

A Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência

(BRASÍLIA, 2009) reconhece e reafirma incisivamente os direitos das pessoas com

deficiência, ao mesmo tempo em que rechaça qualquer forma de discriminação que

essas pessoas possam sofrer por conta de sua deficiência. Vale destacar ainda, nessa

Convenção, o reconhecimento da importância, para as pessoas com deficiência, de sua

autonomia individual e independência, incluindo a liberdade para tomar suas próprias

decisões, e a necessidade de lhes dar oportunidades de participar nos processos que lhes

dizem respeito diretamente.

A Convenção destina seu artigo 24 para tratar especificamente da educação da

pessoa com deficiência. Nele, os Estados-Parte reconhecem o direito à educação a ser

realizado em um sistema educacional inclusivo em todos os níveis e com o aprendizado

ao longo da vida dessas pessoas; além disso, a convenção garante que esse ensino seja

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de qualidade, gratuito e realizado na comunidade na qual a pessoa com deficiência vive.

Ainda em termos educacionais, a Convenção prevê que as adaptações necessárias

devem ser asseguradas, assim como que o suporte para a educação efetiva, quando

necessário, seja ofertado dentro do sistema geral de educação (FUMES, 2010).

É importante ressaltar que a Educação Especial no Brasil não dispõe como

afirma Santos (2012), de leis específicas. A preocupação dos legisladores com essa

modalidade educacional existe e aparece dentro das leis mais gerais, sob a forma de

capítulos, artigos, parágrafos e/ou incisos. Isto ocorre porque o direito, em nível teórico,

de acesso à educação está e sempre esteve presente nas últimas constituições federais.

Anísio Teixeira (1983) focalizou as contradições entre valores proclamados e

valores reais nas instituições educacionais brasileiras. A distância entre uns e outros foi

por ele atribuída em grande parte à formação histórica do Brasil, em que a colonização

impôs padrões culturais externos, levando à imitação, à cópia e à simulação de

situações, para ajustar-se a comportamentos esperados. Desse modo, o ordenamento

legal da educação, quando lido sem o conhecimento da realidade, oferece uma

impressão no mínimo otimista, com escassa correspondência com o que é praticado

efetivamente nas escolas.

Assim também tratados, normas, declarações e orientações

internacionais expressam horizontes a ser atingidos e utopias sem as

quais seria extremamente acanhado viver. Mas, por isso mesmo, são

encarados com frequência como algo que está longe e acima das

práticas do dia-a-dia. É claro que, do mesmo modo que os sistemas

normativos nacionais, esses documentos podem ser utilizados para

manipular símbolos, dando a falsa impressão de que se procura fazer a

realidade melhor do que é. É possível fazer da norma algo com que se

sonha, mas não se busca, ao mesmo tempo em que se afasta a

realidade da norma ideal. Todavia, seria altamente empobrecedor se as

normas e orientações estivessem plenamente ajustadas ao que existe,

não havendo uma distância a percorrer entre o que é e o que deve ser.

Nesse caso, seria necessário que todos estivessem satisfeitos com o

presente e desejassem que o futuro fosse exatamente igual a ele; algo

improvável, em face da dinâmica da história (GOMES, 2001, p.11).

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 apresenta como um

dos seus objetivos fundamentais o compromisso político brasileiro com a educação de

forma a estabelecer a igualdade no acesso à escola, sendo dever do Estado proporcionar

atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente

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na rede regular de ensino. É importante salientar que o artigo 227, nos § 1º, inciso II, e §

2º, prevê o seguinte:

§ 1º [...]

II – criação de programas de prevenção e atendimento especializado

para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem

como de integração social do adolescente portador de deficiência,

mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação

do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de

preconceitos e obstáculos arquitetônicos.

§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos

edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte

coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras.

Tomando como referência a Constituição Federal que registrou o direito

público subjetivo à educação de todos os brasileiros e inclusive aos portadores de

deficiência, estes preferencialmente junto à rede regular de ensino. A questão das

políticas públicas destinadas a estes se tornou mais presente em diferentes espaços da

legislação educacional da União, Estados e Municípios, no entanto as novas

constituições estaduais e as leis orgânicas municipais reproduziram ou ampliaram as

referências à Educação Especial (FERREIRA, apud SANTOS, 2008).

Quanto ao artigo 208 da Constituição Federal, o atendimento educacional

especializado deve estar disponível em todos os níveis de ensino, de preferência na rede

regular, pois este é o ambiente escolar mais adequado para se garantir o relacionamento

dos alunos com seus pares de mesma idade cronológica e para a estimulação de todo o

tipo de interação que possa beneficiar seu desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo.

De acordo com Ribeiro,

O termo preferencialmente deu margem a encaminhamentos errôneos,

permitindo a exclusão. Salienta que “os sistemas de ensino, não

estando preparados para acolher todos, acabam realmente excluindo

os casos que, por sua complexidade, não têm no momento condições

de atender, eximindo-se, a escola e os professores, do trabalho de

pesquisa e de soluções mais apropriadas” (2003, p. 47).

A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional (LDBEN). Nesta, a educação é compreendida como envolvendo os

processos formativos que ocorrem na vida familiar, na convivência humana, nas

instituições de ensino e pesquisa, assim por diante (artigo 1º), e como sendo um dever

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da família e do Estado, cuja finalidade é o pleno desenvolvimento do (a) educando (a),

seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (artigo 2º).

De maneira inovadora, essa lei dedica um capítulo somente à educação

especial, designadamente o Capítulo V, do Título V – Dos Níveis e das Modalidades de

Educação e Ensino. Nele, a educação especial é entendida como uma modalidade de

educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino e para alunos

(as) com necessidades especiais (artigo 58).

Dos vários artigos que compõem o referido Capítulo, evidenciamos o artigo 58,

mais precisamente o § 1º, o qual aponta que “haverá, quando necessário, serviços de

apoio especializados, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de

educação especial”. O § 3º desse mesmo artigo assegura que a oferta da educação

especial terá seu início na educação infantil, na faixa etária de zero a seis anos.

O artigo 59 e seus incisos indicam que os sistemas de ensino devem assegurar

vários itens aos (às) alunos (as) com necessidades especiais, tais como currículos e seus

diferentes componentes; terminalidade específica; professores com especialização

adequada para o atendimento especializado; educação especial para o trabalho; acesso

igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis.

Segundo Santos (2008), o fato de, nessa lei, ser reservado um capítulo

exclusivo para a Educação Especial é bastante significativo, para uma área tão pouco

considerada historicamente no conjunto das políticas públicas educacionais, visto que as

leis anteriores contemplavam a Educação Especial em apenas um artigo.

Nesse caso, é indubitável o avanço da discussão; entretanto, está aí

repetido o discurso encontrado no inciso III do Art. 208 da

Constituição de 1988, especialmente quanto à utilização do termo

'preferencialmente', que desobriga o Estado do dever total de

atendimento da modalidade de educação especial e abre a

possibilidade de que este ensino não ocorra na rede regular, mas que

permaneça nas instituições especializadas (op. cit.).

Em dezembro de 1999 é regulamentada a Política Nacional para a Integração

da Pessoa Portadora de Deficiência, pelo Decreto nº.29, tendo sido, inicialmente,

disposta pela Lei nº 853, de 24 de outubro de 1989. Cabe salientar que alguns pontos

foram alterados pelo Decreto nº 296/2004. A Política, em seu artigo 1º: “compreende o

conjunto de orientações normativas, que objetivam assegurar o pleno exercício dos

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direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência”. Seus objetivos

focam, entre outras coisas, o acesso e a permanência da pessoa com deficiência em

todos os serviços oferecidos, desenvolvimento de programas setoriais, formação de

recursos humanos especializados e efetividade dos programas de prevenção, de

atendimento especializado e de inclusão social voltado para a pessoa com deficiência

(artigo 7º).

Em relação à educação, essa Política deixa transparecer certa confusão no que

se refere ao modelo de inclusão da pessoa com deficiência a será dotado. Isso pode ser

visto claramente no artigo 25, que prevê a existência de escolas especializadas para

certos grupos de alunos, contrastando com o princípio de uma escola única para todos

(as) os (as) alunos (as) presente na Constituição Federal de 1988, ou então no artigo 24,

inciso I, que responsabiliza o (a) educando (o) pela sua “integração” na escola.

Nesse Decreto, a educação especial é definida de modo idêntico à Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996. Portanto, aqui há uma maior

especificação. Nomeadamente, no § 2º, do artigo 24, é indicado que “a educação

especial caracteriza-se por constituir processo flexível, dinâmico e individualizado,

oferecido principalmente nos níveis de ensino considerados obrigatórios”.

Esse mesmo artigo assegura em seus parágrafos que a educação do (a) aluno

(a) com deficiência devem iniciar na educação infantil, a partir de zero ano (§3º);

equipes multiprofissionais e especializadas farão parte da educação especial (§4º) e a

acessibilidade deverá orientar a construção e a reforma de estabelecimentos de ensino

(§5º).

A Resolução CNE/CEB nº 2/2001(BRASIL, 2001), que institui Diretrizes

Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, no art. 1º, em seu Parágrafo

único, determina que o atendimento escolar desses alunos tenha início na educação

infantil, nas creches e pré-escolas, assegurando-lhes os serviços de educação especial

sempre que se evidencie, mediante avaliação e interação com a família e a comunidade,

a necessidade de atendimento educacional especializado.

Também define, no art. 2º, que os sistemas de ensino devem matricular todos

os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com

necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma

educação de qualidade para todos.

Nas Diretrizes de 2001, fica determinado que as escolas devem se organizar

para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais. Ampliam o

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caráter da educação especial, mas não potencializa a adoção de uma política de

educação inclusiva.

Os artigos 7º e 8º dessas Diretrizes reforçam a perspectiva de educação

inclusiva. O primeiro deles indica que “o atendimento aos alunos com necessidades

educacionais especiais deve ser realizado em classes comuns do ensino regular, em

qualquer etapa ou modalidade da Educação Básica”; o segundo assevera que “as escolas

da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes

comuns”: professores capacitados e especializados para o atendimento das necessidades

educacionais dos (as) alunos (as); flexibilizações e adaptações curriculares; serviços de

apoio pedagógico especializado, realizados nas salas comuns e nas salas de recursos;

condições para reflexão e elaboração teórica da educação inclusiva; temporalidade

flexível do ano letivo, e assim por diante.

Todavia, não podemos deixar de indicar que essas Diretrizes ainda trazem as

marcas de uma concepção de inclusão restrita, considerando que prevê “a substituição

de serviços educacionais comuns” (artigo 3º), a criação de classes especiais (artigo 9º) e

o atendimento educacional, realizados em escolas especiais (artigo 10º). O artigo 16

faculta:

Às Instituições de ensino, esgotadas as possibilidades pontuadas nos

artigos 24 e 26 da LDBEN, viabilizar ao aluno com grave deficiência

mental ou múltipla, que não apresentar resultados de escolarização

previstos no inciso I do artigo 32 da mesma Lei, terminalidade

específica do ensino fundamental, por meio da certificação de

conclusão de escolaridade, com histórico escolar que apresente, de

forma descritiva, as competências desenvolvidas pelo educando, bem

como o encaminhamento devido para a educação de jovens e adultos e

para a educação profissional.

Em 2002, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores

da Educação Básica define que as instituições de ensino superior devem prever a

diversidade, e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com

necessidades educacionais especiais. Ainda neste ano, a Língua Brasileira de Sinais é

reconhecida como meio legal de comunicação e expressão e deve ser incluído como

disciplina nos cursos de formação de professores e fonoaudiólogos. Também foi

aprovada a diretriz e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema

Braile.

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Em 2003 é criado pelo MEC o Programa Educação Inclusiva, que promove um

amplo processo de formação de gestores e educadores. Em 2004, o Ministério Público

Federal apresenta o documento “O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e

Classes Comuns da Rede Regular”, reafirmando o direito e os benefícios da

escolarização de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns de ensino regular.

Em 2005, LIBRAS é incluído como disciplina curricular, o ensino de Língua

Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e organização de educação bilíngue

no ensino regular. Ainda neste ano são implantados Núcleos de Atividades das Altas

Habilidades/Superdotação em todos estados. Nacionalmente são disseminados

referenciais e orientações sobre inclusão nesta área. Em 2006 é lançado o Plano

Nacional de Educação em Direitos Humanos que objetiva também fomentar, no

currículo da educação básica as temáticas relativas às pessoas com deficiência e

desenvolver ações afirmativas que possibilitem inclusa, acesso e permanência na

educação superior.

Em 2007 é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação (BRASIL, 2007)

tendo como eixos à acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, a inserção de

salas de recursos e a formação docente para o atendimento educacional especializado.

Ainda neste ano um decreto garante o acesso e a permanência no ensino regular e o

atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão

educacional nas escolas públicas.

De acordo com Ribeiro (2003), existem grandes dificuldades para a

operacionalização da chamada inclusão, estando os sistemas de ensino em fase de

reestruturação, não sabendo ao certo como devem ser os serviços de apoio especializado

previstos na LDB, o que cria um clima confuso e tenso entre os profissionais.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva (2008) foi elaborada por um grupo de especialistas brasileiros em educação

especial, durante o ano de 2007, e entregue ao ministro da Educação, na época Fernando

Haddad, em janeiro de 2008. As diretrizes dessa Política foram apresentadas após um

breve resgate histórico da educação do aluno com deficiência no País, levantamento da

base legal e após a apresentação de um diagnóstico da educação especial.

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Seu objetivo é constituir políticas públicas no sentido de garantir educação de

qualidade a todos, mais particularmente, a inclusão escolar de alunos com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.

Segundo Fumes (2010), do nosso ponto de vista, merece destaque o

entendimento de que a inclusão escolar significa acesso ao ensino regular, com

participação, aprendizagem e possibilidade de continuidade nos níveis mais elevados do

ensino. Portanto, o acesso isoladamente não se constitui em inclusão. Além disso, são

apresentados outros elementos para a viabilização da inclusão escolar, tais como:

transversalidade da modalidade educação especial; oferta de atendimento especializado;

formação de professores para o atendimento especializado e demais profissionais da

educação; acessibilidade universal; articulação intersetorial, entre outros.

No entanto, o referido documento alerta para o fato de que esses

alunos não podem ser vistos como uma categoria estanque e com

características definitivas, mas que devem ser considerados de forma

dinâmica e em interação com o contexto em que estão inseridos (op.

cit.).

Assim, sob a perspectiva da educação inclusiva, a educação especial deixa de

ser um serviço paralelo e/ou substitutivo à educação regular e passa a ser uma

modalidade de ensino presente na escola regular, com o objetivo de colaborar no

processo de inclusão escolar. Seus serviços apresentam caráter complementar ou

suplementar à formação do aluno, porém nunca substitutivo.

Os atendimentos educacionais especializados são definidos como sendo de

oferta obrigatória dos sistemas de ensino, em todas as etapas e modalidades da educação

básica. Sua oferta deve ocorrer no contra turno das aulas regulares, na própria escola do

aluno ou em centros especializados.

Quanto à formação para atuar na educação especial, é indicado que o professor

tenha conhecimentos gerais relativos à prática docente e conhecimentos específicos na

área, tanto na formação inicial quanto na continuada. Deve ainda permitir ao

profissional atuar interdisciplinarmente e desenvolver competências para atuar na gestão

do sistema educacional inclusivo.

Sobre as políticas públicas para educação especial no contexto do município de

Maceió, Alagoas, constatamos que não existe uma politica diferente do âmbito nacional.

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Houve a implantação das salas de recursos multifuncionais nas escolas e no ano de

2013, foi publicada a portaria Nº 58 de 24 de Setembro de 2013 que dispõe sobre as

orientações do processo de avaliação da aprendizagem para os anos letivos de 2013 e

2014 na rede municipal de ensino de Maceió no qual inclui a avaliação e resolve:

Art. 1º - Definir as Orientações para o Processo de Avaliação da

Aprendizagem da Rede Municipal de Ensino de Maceió, que serão

contempladas nos anos letivos de 2013 e 2014, considerando os

princípios contidos nos referenciais teóricos e legais para a Educação

Básica:

b- A Educação Especial terá como referência a valorização das

competências e habilidades básicas dos estudantes com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades ou

superdotação que estejam devidamente matriculados na rede pública

de ensino regular, seguindo o que preconiza a Política Nacional da

Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e outras

Diretrizes e determinações legais que asseguram a oferta do

Atendimento Educacional Especializado (AEE).

No Art. 6°, descreve os critérios e instrumentos para avaliação da

aprendizagem na modalidade da Educação Especial

I- A avaliação dos estudantes da Educação Especial dar-se-á de forma articulada, por meio de avaliação pedagógica processual, onde o professor da sala comum deverá definir e organizar as estratégias pedagógicas que contribuam para o desenvolvimento educacional do estudante, observando os critérios abaixo:

a – A retenção do estudante com Deficiência Intelectual (DI), não deverá exceder o período de 02 (dois) anos consecutivos. Não havendo um distanciamento da idade cronológica, superior a dois (02 anos) dos demais estudantes.

b – Para os estudantes assistidos pela Educação de Jovens e Adultos será garantido o Atendimento Educacional Especializado (AEE) no contra turno.

II- O registro da avaliação da aprendizagem na modalidade da Educação Especial deverá ser realizado pelo professor do Atendimento Educacional Especializado – AEE em articulação com o da sala comum, nos instrumentos abaixo:

A- Caderno de Registro – deverá ser utilizado diariamente pelo professor, como objetivo de acompanhar e intervir na aprendizagem,

reorientar o ensino visando o avanço do estudante, alterar o planejamento, propor outras ações e estratégias de ensino.

B- Parecer Psicopedagógico – preenchido ao final do ano letivo ou quando da transferência em curso, pelo professor da sala regular juntamente com o professor da sala de recursos e o auxiliar de sala sob

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a supervisão da coordenação pedagógica. Deve conter as dificuldades e os avanços do estudante.

C- Portfólio – instrumento utilizado pelo professor da sala de recursos em que deve conter todos os registros referentes à sua atuação

(encaminhamentos dos estudantes, tipos de atendimentos, relato de caso, Plano do Atendimento Educacional Especializado e frequência dos atendimentos). Deverá ser entregue no Departamento de Educação Especial a cada final de ano letivo.

Essas orientações acima citadas confirmam a regulamentação da forma de

avaliação para toda rede do município, e reconhece a necessidade de regulamentar e

padronizar as formas de avaliações e instrumentos utilizados para educação especial.

Entretanto, a educação não deve ser pensada de forma abstrata e a

implementação das políticas educacionais é necessária à sensibilização e à qualificação

de todos os sujeitos envolvidos no processo, para que, então, sejam criadas as políticas

de Estado e não políticas de Governo, lembrando que nem tudo que serve para o

Governo; serve para a escola e para a educação.

Sabemos que educar implica refletir sobre a importância e necessidade de

formação para se viver plenamente como pessoa e como cidadão envolvido na

sociedade. Portanto, o paradigma educacional atual requer políticas educacionais que

atendam aos anseios exigidos nas diversas áreas da educação, com ênfase ao essencial

de toda a educação, o ser humano.

Nesse contexto, a implementação das políticas públicas de educação inclusiva

no âmbito educacional é relevante, pois contribui efetivamente com uma educação que

fará a diferença.

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1.4 Sobre a deficiência intelectual

Parafraseando Fernando Pessoa, todos os homens são exceções a uma regra

que não existe. A Deficiência Intelectual, segundo a Associação Americana sobre

Deficiência Intelectual do Desenvolvimento (AAIDD), caracteriza-se por um

funcionamento intelectual inferior à média (QI), associado a limitações adaptativas em

pelo menos duas áreas de habilidades (comunicação, autocuidado, vida no lar,

adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, determinação,

funções acadêmicas, lazer e trabalho), que ocorrem antes dos 18 anos de idade.

A palavra “deficiência” não pode ser confundida com a palavra

"incapacidade", que é uma tradução, também histórica, do termo

"handicap". A palavra "incapacidade" denota um estado negativo de

funcionamento da pessoa em função do ambiente humano e físico

inadequado ou inacessível, e não um tipo de condição. Por exemplo, a

incapacidade de uma pessoa cega para ler textos que não estejam em

braile, a incapacidade de uma pessoa com baixa visão para ler textos

impressos em letras miúdas, a incapacidade de uma pessoa em cadeira

de rodas para subir escadarias, a incapacidade de uma pessoa com

deficiência intelectual para entender explicações complexas, a

incapacidade de uma pessoa surda para captar ruídos e falas.

Configura-se, assim, a situação de “desvantagem” imposta às pessoas

COM deficiência através daqueles fatores ambientais que não

constituem barreiras para as pessoas SEM deficiência (SASSAKI,

2004, p.62).

A Deficiência Intelectual é resultado, quase sempre, de uma alteração no

desempenho cerebral, provocada por fatores genéticos, distúrbios na gestação,

problemas no parto ou na vida após o nascimento. Um dos maiores desafios enfrentados

pelos pesquisadores da área é que em grande parte dos casos estudados essa alteração

não tem uma causa conhecida ou identificada. Muitas vezes não se chega a estabelecer

claramente a origem da deficiência.

Entre os inúmeros fatores que podem causar a deficiência intelectual,

destacam-se alterações cromossômicas e gênicas, desordens do desenvolvimento

embrionário ou outros distúrbios estruturais e funcionais que reduzem a capacidade do

cérebro.

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Segundo a Associação de Pais e Amigos de Especiais de São Paulo

(APAE/SP), há uma confusão entre deficiência intelectual e deficiência mental, o que

leva a considerá-las iguais, embora seja importante reconhecer que se trata de

problemas diferentes. Os documentos oficiais do MEC/ SEESP tratam a deficiência

intelectual como deficiência mental, mas pesquisadores têm elucidado a diferença.

De acordo com Raiça (et.al, 2006), diferenciar deficiência mental e doença

mental é importante principalmente porque as pessoas com deficiência mental são mais

vulneráveis a doenças e transtornos mentais, que, muitas vezes podem passar

despercebidos. Porém, a doença mental caracteriza-se pelo rebaixamento global e

qualitativo das funções psíquicas (PALOMBA, 2003, apud RAIÇA et.al, 2006, p. 29).

Em geral, há prejuízos psíquicos decorrentes de distúrbios na afetividade, no senso de

percepção e na qualidade do pensamento. É importante ressaltar que

A inteligência da pessoa com doença mental nem sempre é afetada,

contudo, a percepção de si mesmo e da realidade que a cerca fica

comprometida. São exemplos de doenças mentais: esquizofrenia,

psicose, paranoia e psicose maníaco-depressiva. Diferenciar

deficiência mental e doença mental é importante, principalmente

porque as pessoas com deficiência mental são mais vulneráveis a

doenças e transtornos mentais, que muitas vezes podem passar

despercebidos (op. cit.).

Na deficiência intelectual, a pessoa apresenta um atraso de desenvolvimento,

dificuldades para aprender e realizar tarefas do dia-a-dia e para interagir com o meio em

que vive. Ou seja, existe um comprometimento cognitivo que acontece antes dos

dezoito anos e que prejudica suas habilidades adaptativas. A doença mental, por sua

vez, engloba uma série de condições que causam alteração de humor e comportamento e

podem afetar o desempenho da pessoa na sociedade. Essas alterações acontecem na

mente da pessoa e causam uma alteração na percepção da realidade, podendo exigir o

uso continuado de medicamentos específicos.

Segundo a Associação Americana de Deficiência Mental (AAMR) e o Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV, 2002), Deficiência

Intelectual é o estado de redução notável do funcionamento intelectual,

significativamente abaixo da média, oriundo no período de desenvolvimento e

associado a limitações de pelo menos dois aspectos do funcionamento adaptativo ou da

capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade.

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Elas estão na comunicação, cuidados pessoais, competências domésticas,

habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, saúde e segurança,

aptidões escolares, lazer e trabalho. A deficiência intelectual se caracteriza também por

um quociente de inteligência (QI) inferior a 70 e 75. (Carvalho e Maciel, 2003)

O Sistema 2002 foi elaborado pela American Association on Mental

Retardation – AAMR, criada em 1876 e sediada em Washington. Esse Sistema é

referencial a esse campo de estudo e AAMR desenvolve importantes estudos sobre

deficiência mental, definindo conceituações, classificações, modelos teóricos e

orientações de intervenção em diferentes áreas.

Segundo Maciel (2003), embora a AAMR desde 1921 até o manual de 2002

tenha influenciado sistemas de classificação internacionalmente conhecidos como o

DSM-IV e a CID-10, a AAMR não é ainda bem conhecida em nosso país. Sua

incipiente indicação em trabalhos específicos da área, quando comparada aos sistemas

DSM-IV e CID-10, confirma essa constatação. As razões parecem não se dever a

questões de credibilidade ou à falta de reconhecimento de sua significativa contribuição,

mas talvez, a pouca divulgação de suas produções entre especialistas e pesquisadores

brasileiros.

O atual modelo proposto pela AAMR, o Sistema 2002, consiste numa

concepção multidimensional, funcional e bioecológica de deficiência mental, agregando

sucessivas inovações e reflexões teóricas e empíricas em relação aos seus modelos

anteriores (op. cit).

“A Deficiência intelectual é caracterizada por limitações significativas no

funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, como expresso nas

habilidades práticas, sociais e conceituais, originando-se antes dos dezoito anos de

idade” (LUCKASSON e cols., 2002, p. 8).

O processo de diagnóstico, segundo o Sistema 2002, requer a

observância, portanto, de três critérios: (a) o funcionamento

intelectual; (b) o comportamento adaptativo, e (c) a idade de início das

manifestações ou sinais indicativos de atraso no desenvolvimento.

Para que o diagnóstico se aplique, é necessário que as limitações

intelectuais e adaptativas, identificadas pelos instrumentos de

mensuração, sejam culturalmente significadas e qualificadas como

deficitárias (MACIEL, 2003, p. 150).

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Ainda segundo Maciel (2003), alguns parâmetros influenciam essa

qualificação: (a) os padrões de referência do meio circundante, em relação ao que

considera desempenho normal ou comportamento desviante; (b) a intensidade e a

natureza das demandas sociais; (c) as características do grupo de referência, em relação

ao qual a pessoa é avaliada; (d) a demarcação etária do considerado período de

desenvolvimento, convencionada e demarcada nos dezoito anos de idade.

A definição proposta e o modelo teórico multidimensional da AAMR (2002,

apud CARVALHO & MACIEL, 2003) explicam a deficiência mental segundo cinco

dimensões que envolvem aspectos relacionados às características da pessoa, de sua

atuação individual no ambiente físico e social, ao contexto e aos sistemas de apoio.

A primeira dimensão se refere às habilidades intelectuais que são

objetivamente avaliadas pelos testes psicométricos de inteligência. A inteligência é

concebida como capacidade geral, incluindo raciocínio, planejamento, solução de

problemas, pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas, rapidez de

aprendizagem e aprendizagem por meio da experiência (LUCKASSON, 2002). A

segunda dimensão é o comportamento adaptativo definido como o “conjunto de

habilidades conceituais, sociais e práticas adquiridas pela pessoa para corresponder às

demandas da vida cotidiana” (op. cit., p. 14). Limitações nessas habilidades podem

prejudicar a pessoa nas relações com o ambiente e dificultar o convívio no dia a dia.

A terceira dimensão segundo Carvalho & Maciel (2003), se refere a

participações, interação e papéis sociais. Essa dimensão ressalta a importância da

participação na vida comunitária. Em relação ao diagnóstico da deficiência mental,

dirige-se à avaliação das interações sociais e dos papéis vivenciados pela pessoa, bem

como sua participação na comunidade em que vive.

A quarta dimensão refere-se à saúde, na qual as condições de saúde física e

mental influenciam o funcionamento de qualquer pessoa. Facilitam ou inibem suas

realizações. E a quinta e última dimensão são os contextos no qual o sujeito vive,

relacionando-os a qualidade de vida, condições socioculturais e educacionais.

Essa multidimensionalidade caracteriza-se pela consideração das diferentes

habilidades que a pessoa apresenta em diferentes contextos, facilitando o planejamento

dos apoios, cuja finalidade é melhorar os resultados pessoais relacionados à

independência, aos relacionamentos, às contribuições, participação na escola e na

comunidade e bem estar pessoal (AAMR, 2006, p. 22).

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A partir dos estudos apresentados verificou-se que a terminologia deficiência

intelectual, hoje, sofre uma ressignificação destinada a contrapor o estigma imputado ao

longo dos séculos pela abordagem e pelo diagnóstico advindo da medicina. Assim,

conforme afirma Boer (2012, p. 63),

No contexto educacional o educando com deficiência intelectual

costuma ser visto pela sua incapacidade. Esta concepção vem sendo

superada e, atualmente, a própria legislação assegura o direito a uma

educação eficaz ao desenvolvimento de todas as suas potencialidades

desse educando.

A expressão “deficiência intelectual” foi oficialmente utilizada já em 1995,

quando a Organização das Nações Unidas (juntamente com The National Institute of

Child Health and Human Development, The Joseph P. Kennedy, Jr. Foundation, e The

1995 Special Olympics World Games) realizou em Nova York o simpósio Intelectual

Disability: Programs, Policies, And Planning For The Future (Deficiência Intelectual:

Programas, Políticas e Planejamento para o Futuro) (SASSAKI, 2004).

Esta substituição ocorreu também na Espanha, conforme notícia

publicada em 2002, que se segue: Espanha – Resolução exige a

substituição do termo deficiência mental por deficiência intelectual. A

Confederação Espanhola para Pessoas com Deficiência Mental

aprovou por unanimidade uma resolução substituindo a expressão

“deficiência mental” por “deficiência intelectual”. Isto significa que

agora a Confederação passa a ser chamada Confederação Espanhola

para Pessoas com Deficiência Intelectual (Confederación Española de

Organizacion es en favor de Personas com Discapacidad

Intelectual). Esta organização aprovou também o novo Plano

Estratégico de quatro anos para melhorar a qualidade de vida, o apoio

institucional e os esforços de inclusão para pessoas com deficiência

intelectual”. Fonte: Digital Disnnet Press Agency, Digital Solidarity,

n°535, Bogotá, 3 de setembro de 2002 (op. cit.).

Cada vez mais se está substituindo o adjetivo “mental” por “intelectual”. A

Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde realizaram

um evento (no qual o Brasil participou) em Montreal, Canadá, em outubro de 2004,

evento esse que aprovou o acima referido documento Declaração de Montreal (2004)

sobre deficiência intelectual e em francês e inglês Déclaration de Montreal sur la

Déficiénce Intelectuelle, Montreal Declarationon Intelectual Disability).

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Com a ressignificação do conceito de deficiência intelectual, Costa e

Magalhães (2000, apud BOER, 2012) ressaltam que toda mudança refere-se a

determinados contextos socioculturais e vão sofrendo alterações com o passar do tempo.

Essa mudança citada pelas autoras promove uma reflexão de que há outras ferramentas,

formas ou recursos para avaliarmos as capacidades, as habilidades e as potencialidades

de uma pessoa, no caso especifico o educando com deficiência intelectual.

Dessa perspectiva, utilizaremos em nossa pesquisa o termo deficiência

intelectual em vez de deficiência mental, reconhecendo que os problemas são devidos

ao mau funcionamento do intelecto especificamente e não ao funcionamento da mente

como um todo. Além disso, essa terminologia é útil à minimização do estigma que a

pessoa com deficiência intelectual carrega. Mesmo que o ritmo de aprendizagem seja

diferente, ela é um ser em desenvolvimento, capaz de crescer desde que as pessoas e a

sociedade criem condições para isto.

Na perspectiva sócio-histórica do desenvolvimento humano de Vygotsky

(1992) o processo educacional é considerado como uma prática social dialógica,

mediada pela linguagem e pedagógica, mediada pelo outro, sendo a aprendizagem um

de seus fundamentos básicos.

Vygotsky (1992) tem como um de seus pressupostos básicos a ideia de que o

ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. A cultura torna-

se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento

da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem.

As concepções de Vygotsky (1992) sobre o funcionamento do cérebro humano

fundamentam-se em sua ideia de que as funções psicológicas superiores são construídas

ao longo da história social do homem.

O ser humano, ao nascer, dispõe apenas de recursos biológicos

característicos da espécie, que podem ser considerados a base para o

processo de humanização. Mas é a convivência com o outro que vai

possibilitar que esse processo se concretize. Por isso, podemos falar

metaforicamente em um duplo nascimento da criança: um biológico e

outro cultural. A partir do momento em que a criança nasce

progressivamente ingressa num mundo onde as relações são mediadas

pelas significações, valores e verdades de sua cultura. (CARNEIRO,

2007, p. 34).

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A teoria histórico-cultural busca explicitar como se formaram, ao longo da

história do homem, as características tipicamente humanas (os processos mentais

superiores) e como elas se desenvolveram em cada indivíduo. (VELTRONE, 2011).

Vygotsky dedicou parte de sua vida a estudos relacionados a pessoas com

deficiência e para ele o mais importante para o desenvolvimento delas é a mediação.

Para Vygotsky interessa verificar a maneira como a criança utilizava os signos para

executar tarefas envolvendo, por exemplo, a atenção, a memória, a percepção e também

os modos de participação do outro na resolução dessas tarefas e a maneira como a

própria situação estimuladora vai sendo ativamente modificada no processo.

(FONTANA; CRUZ, 1997)

Precisamos ficar atentos aos rótulos colocados nas crianças que possuem

deficiência, pois estes trazem consequências às interações subjetivas do grupo. Possuir a

deficiência intelectual não significa incapacidade de aprender. Talvez a criança não

aprenda da mesma forma, no mesmo ritmo que o professor espera que ela aprenda,

porém isso não significa que ela não seja capaz de aprender (RAIÇA et.al. 2006, p. 32).

Podemos dizer que há um repertório de valores, crenças e suposições sobre as

pessoas com deficiência que influencia a maneira como as outras pessoas interagem

com elas. Sendo assim, concepções positivas por parte dos professores geram atitudes

que desafiam as supostas limitações. É preciso confirmar tais concepções positivas em

contraposição das concepções negativas que se tem sobre as perspectivas da criança

com deficiência.

A compreensão dos princípios em que se fundamenta a teoria da aprendizagem

é que permitirá estruturar e organizar a prática pedagógica para ensinar ao aluno, seja

ele deficiente ou não.

Segundo Carneiro (2007), é interessante notar que na presença de uma

deficiência fica mais evidente que o processo de desenvolvimento não se dá

naturalmente, mas é construído a partir de condições concretas de vida; elas não estão

pré-definidas no sujeito nem na família ou grupo cultural ao qual pertence, porque se

constroem nas relações sociais.

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É a partir das significações, atribuídas inicialmente pelo outro, e mais

tarde, internalizadas pelo próprio sujeito, no seu contexto, que cada

um se constitui de maneira singular. Nessa perspectiva, não se pode

mais aceitar que se reduza os sujeitos a algumas peculiaridades

presentes em sua trajetória de desenvolvimento, tais como a

deficiência física, mental, auditiva, visual e tantas outras

caracterizações. Porque é a atribuição de significados a esta

peculiaridade que vai constituir este sujeito, que continuará com suas

características orgânicas, mas que definirá, sempre na relação com o

outro, uma maneira singular de ser e estar no mundo. (CARNEIRO,

2007, p. 36)

A frequência de crianças com deficiência em escolas comuns junto às demais é

uma necessidade, entretanto, a maneira com que o direito é validado tem causado

inúmeras controvérsias entre educadores e pesquisadores; visto que o processo inclusivo

não é adequadamente preparado e nem há para ele a devida sensibilização. Esses

problemas têm sido atribuídos à criança e raramente às inadequações do processo.

A inclusão das crianças com deficiência intelectual na rede regular

tem sido um dos maiores alvos de resistências dos professores,

possivelmente porque, se comparada com outros tipos de deficiência,

a mental (intelectual) é a que mais se confronta com os objetivos

tradicionais da escola. A baixa expectativa de aquisição da leitura e da

escrita para o público com tal diagnóstico faz com que muitos

professores não compreendam o sentido de essas crianças serem

incluídas nas classes comuns (RAIÇA, 2006, p. 37).

Encontramos, frequentemente, professores com a ideia de que a inclusão

deveria ser realizada somente no âmbito social, pois no pedagógico é muito difícil se

realizar. Outra dificuldade é o estereótipo de que todos os alunos com deficiência

intelectual podem ser agressivos.

Para Vygotsky (1992), os princípios de desenvolvimento das crianças com

deficiência são os mesmos das crianças ditas normais, apenas com alterações na

organização estrutural de seu desenvolvimento. Segundo Carneiro (2007) Vygotsky

apresenta uma tese central da defectologia de sua época: “todo defeito cria os estímulos

para elaborar uma compensação”. Por isso, os processos compensatórios constituem-se

em um aspecto central no estudo do desenvolvimento da criança com deficiência.

Vygotsky elaborou uma crítica veemente às formas de segregação social e

educacional impostas às pessoas com deficiência. Para ele, a restrição do ensino à

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dimensão concreta dos conceitos é uma estratégia equivocada de organização das

práticas de educação especial. Com base em uma noção estática e reificadora da

condição psíquica destas pessoas, a proposição de formas de ensino centradas nos

limites intelectuais e sensoriais resulta na restrição das suas oportunidades de

desenvolvimento. Cria-se, assim, um círculo vicioso no qual, ao não se acreditar na

capacidade de aprender das pessoas com deficiência, não lhe são ofertadas condições

para superarem suas dificuldades. Em consequência, elas ficam condenadas aos limites

intelectuais inerentes à deficiência, tomados assim como fatos consumados e

independentes das condições educacionais de que dispõem. (NUERNBERG, 2008)

As vias alternativas de desenvolvimento na presença da deficiência

seguem a direção da compensação social das limitações orgânicas e

funcionais impostas por essa condição. Cumpre ressaltar, contudo, que

não se trata de afirmar que uma função psicológica compense outra

prejudicada ou que a limitação numa parte do organismo resulte na

hipertrofia de outra. A compensação social a que se refere Vygotsky

consiste, sobretudo, numa reação do sujeito diante da deficiência, no

sentido de superar as limitações com base em instrumentos artificiais,

como a mediação simbólica. Por isso, sua concepção instiga a

educação a criar oportunidades para que a compensação social

efetivamente se realize de modo planejado e objetivo, promovendo o

processo de apropriação cultural por parte do educando com

deficiência. (op.cit. p. 309)

Segundo Nuernberg (2008) as contribuições de Vygotsky sobre a deficiência

intelectual apontam para a heterogeneidade do grupo que compartilha desta condição,

salientando que, tão importante quanto a deficiência é a personalidade dos sujeitos.

Ainda segundo o autor, a reação subjetiva aos limites inerentes à deficiência e o lugar

que ocupa essa condição na totalidade das características individuais são aspectos

fundamentais do processo de constituição do sujeito.

Nesse sentido, a compensação se alicerça em um contexto que

favoreça as oportunidades para que o sujeito alcance os mesmos fins,

contudo, exige um sistema educacional que crie caminhos alternativos

para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores e se apoie

em formas de ação mediada que possam em algum grau, promover a

substituição das funções lesadas por formas superiores de organização

psíquica. (op.cit. p. 310)

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É possível afirmar que enquanto o sujeito não tem acesso ao universo dos

signos e aos processos de significação, ele não desenvolve formas superiores de

pensamento.

Portanto, podemos inferir que o movimento inclusivo deve ser compreendido

como um processo amplo a garantir à escola estrutura necessária para promover

condições democráticas de ensino às crianças com deficiência e aos demais alunos,

permitindo que a instituição seja capaz de promover o desenvolvimento social e

acadêmico de todos esses sujeitos.

A deficiência intelectual merece ser entendida como uma decorrência das

condições concretas de vida, das relações que se estabelecem entre as pessoas e não

apenas das características pessoais próprias de quem tem alguma limitação orgânica. É

possível compreender que as pessoas, mesmo aquelas com características físicas

identificadas socialmente como deficiências, podem relacionar-se e constituir-se de

outras formas, a partir de outras relações. (GARCIA, 1999)

1.5 Ser Professor

A identidade profissional constrói-se a partir da significação social da

profissão, da revisão constante de significados sociais da profissão e da revisão das

tradições.

(...). Do confronto entre as teorias e práticas, da análise sistemática das

práticas a luz das teorias existentes, da construção de novas teorias.

Constrói-se também, pelo significado que cada professor, enquanto

ator e autor confere a atividade docente no seu cotidiano a partir de

seus valores, de modo a se situar no mundo, de sua história de vida, de

suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do

sentido que tem em sua vida o ser professor (PIMENTA, 1997, p. 49).

No poema “Aluna”, Cecília Meireles, os versos da última estrofe “e toda a

humana docência/ para inventar-me um ofício/ ou morre sem exercício/ ou se perde na

experiência” revelam que a o ensino e a aprendizagem são características humanas para

além do ofício do professor. Assim, cada professor carrega uma bagagem de

experiências e conhecimentos ao longo de sua vida pessoal e profissional.

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Reconhecer a dimensão humana da docência é admitir a importância dos afetos

na determinação da identidade do ser professor e sua atuação profissional. O trabalho

envolve sempre algum investimento afetivo por parte do professor, tanto na relação

estabelecida com os outros quanto na relação estabelecida com o seu trabalho. A relação

afetiva é parte obrigatória do próprio exercício do trabalho, pois é mediante o

estabelecimento de vínculos afetivos que ocorre o processo de ensino e aprendizagem.

A relação entre ser e estar professor estabelece uma diferença no próprio

exercício de suas escolhas profissionais. A busca da identidade profissional vai tecendo

os fios e os nós que compõem a trajetória de cada um. A qualificação, a formação, a

construção desta identidade muitas vezes vão sendo escolhas inconscientes e outras

conscientes, porém ambas determinam e influenciam a relação com o processo de

ensinar e aprender, ou seja, o conteúdo desta bagagem forma e transforma sua maneira

de aprender, de ensinar e de ver o mundo.

A identidade profissional, na maioria das vezes, é resultado de um longo

processo para construir um modo próprio de se sentir professor e, ao mesmo tempo, dar

sentido ao seu exercício cotidiano.

Do ponto de vista da educação inclusiva, os significados construídos pelo

professor sobre as crianças com deficiência intelectual direcionam, de certa forma, sua

prática pedagógica.

Refletir sobre a atuação pedagógica do professor, segundo Carvalho (2008) “é

realizar uma verdadeira cartografia do trabalho docente, seja pela multiplicidade de

formações e desempenhos de seus papéis profissionais, seja pelos locais e as condições

materiais em que trabalham, ou pelas peculiaridades dos alunos.” (p. 21).

Freitas & Pavão (2012) afirmam que fatores históricos, sociais, culturais são as

provas de que o ser humano se constrói nas relações que estabelece consigo e com

outros. Um processo que culmina consequentemente na transformação da sociedade e

nas mais diversas formas de expressão do ser humano no mundo.

Segundo Silva (2009), a história registra que grandes mudanças culturais

ocorreram mediante o trabalho de educadores comprometidos com a busca da melhoria

da qualidade de vida humana coletiva.

Refletir sobre o que é ser professor não é algo inédito e nem recente, no

entanto, em todos os momentos de grandes transformações sociais, a escola é colocada

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em evidência e seus sujeitos na pauta de discussões. Segundo Arroyo (2009), "somos a

imagem social que foi construída sobre o oficio de mestre, sobre as formas diversas de

exercer este oficio. Sabemos pouco sobre nossa história" (p.29).

Ser professor, hoje, se configura um grande desafio, pois é necessário atuar em

diferentes cenários no quais ocorrem enfrentamentos diversos. A escola contemporânea

exige do professor um trabalho diferenciado diante das adversidades de situações, como

afirma Freitas (2012, p. 23),

Em seu agir solitário, pelo fato de muitas vezes se sentir sozinho para

enfrentar e achar saídas na resolução de problemáticas educacionais

manifestas pela demanda escolar, principalmente quando se trata do

processo de inclusão escolar, situação que se apresenta muito mais

desafiante atualmente.

“Ser educador que busca incluir a todos é ser portador de uma mensagem de

esperança de que o ser humano pode modificar-se para melhor e que todos têm igual

dignidade, embora sejam diferentes em capacidades e possibilidades”. (SILVA, 2007, p.

52).

Fica evidente a necessidade de uma formação adequada que garanta a

sensibilização para o direito e igualdade para todos no processo educativo. O educador

precisa apresentar ao educando propostas que respondam às demandas humanas

genuínas de ambos. Assim, uma ação educativa poderá ser formadora de identidades,

com o uso de uma atuação pedagógica proposta com clareza e consciência (op. cit.).

O humano é, verdadeiramente, um ser de relações e sua

individualidade intrinsecamente social. Logo, o professor tem uma

função mediadora que é realizada a partir de ações intencionais,

conscientes, dirigidas para um fim específico de propiciar a

instrumentalização básica do aluno de modo que permita que este

conheça, de forma crítica, a realidade social e que a partir deste

conhecimento, haja a promoção do desenvolvimento individual

(FACCI, 1998, p. 26).

Compreendemos que cada professor deve ter o compromisso de contribuir com

seus conhecimentos para uma instrumentalização que favoreça através da apropriação

desses conhecimentos uma mudança social.

Conforme Mazzeu (apud, FACCI 1998), para que o professor possa

encaminhar os alunos para o senso critico é necessário que ele seja formado nesta

perspectiva. A apropriação da herança cultural da humanidade é o que caracteriza o ser

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social e o processo de humanização vai além das aparências, deve estar presente no

próprio trabalho docente e na sua formação profissional. O significado da prática

docente deve estar claro para os professores, para que possam se humanizar,

apropriando-se dos bens culturais.

Como afirma Alarcão,

A competência de ser professor é algo que dificilmente se ensina, mas

que facilmente se aprende quando a representação que criamos de

professor corresponde à de um profissional do humano que aceitou

desempenhar na sociedade a função de educar por via do ensino, ou

seja, que se comprometeu a criar condições para que os outros

aprendam e se eduquem. A competência do professor não é estática.

Muito pelo contrário, apresenta-se com um caráter

extraordinariamente dinâmico, sobretudo se os professores souberem

estar atentos aos desafios do cotidiano e fizerem dele um contexto de

qualificação permanente (2007, p.18).

Segundo Alarcão (op. cit.), o ser humano é um ser social, com um passado de

saberes, um presente de atuação e uma responsabilidade pelo futuro. A humanidade tem

uma história de vida coletiva.

A ação dos professores, embora determinada pela cultura do aqui e agora, está

inserida na história global da humanidade, mesmo que tendencie para a prática

individualista, a organização e planejamento do trabalho na escola é uma atividade

coletivamente articulada.

A atividade docente, conforme Alarcão (2007) “não pode, portanto, ser

concebida como uma prática descomprometida, acrítica, mas sim uma prática altamente

complexa e singular, que envolve seres humanos na teia de suas vidas entrecruzadas e

da história da humanidade”. (p. 19).

Segundo Silva (2009, p. 27), há para os educadores um compromisso pessoal e

profissional de favorecer os educandos na aquisição e domínio de códigos que lhes

permitam conviver em círculos amplos da sociedade e não apenas em “tribos”

exclusivas, com linguagens restritas e inúteis para um relacionamento com a totalidade

da população.

A grandeza de ser educador, que ultrapassa uma visão corporativa ou

apenas partidária, para ser um criador de cultura universal e

humanizada está em considerar cada ser humano como portador de

uma dignidade inalienável que é comum a todos. A igualdade de

dignidade deve levar a um relacionamento cheio de equidade,

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propiciando um trabalho que alegra o educador e o educando graças à

percepção da obra bem feita (op. cit.).

Silva (2006, apud MACHADO, 2009, p.34), em uma visão humanista, mostra

o sujeito como um ser de relações, capaz de aprender, mudar e de transformar a

realidade. Nessa perspectiva, faz- se necessário proporcionar situações educativas que

se constituem por um ponto de partida (experiências, conhecimentos das pessoas

envolvidas são considerados), caminho (método) e o ponto de chegada (o fim, aonde se

quer chegar), contando sempre com a adesão voluntária dos envolvidos para sua

concretização (livre arbítrio).

Nos momentos mais críticos, mesmo não podendo escolher as

situações em que vive, o educando pode escolher como enfrentá-las,

para desenvolver sua liberdade e responsabilidade e crescer como

sujeito e cidadão. A desvalorização do educando destrói seu amor

próprio e identidade, levando-o ao isolamento e a desistir de ser

sujeito participante, o que dificulta a aprendizagem e determina a

situação de fracasso escolar (MACHADO, 2009, p. 34).

É nessa complexa relação dialética que a constituição do sujeito, do ser

professor, na busca constante de compreender o mundo e a partir dele promover o

conhecimento se encontra as dificuldades atuais deste processo de ensinar e aprender.

Silva (2011), diz que o ser verdadeiro é aquele que não está corrompido e que

se encontra em unidade consigo e com o ambiente no qual se situe. A ação verdadeira é

aquela que não está dividida em seu significado último, ainda que na prática não alcance

a totalidade almejada (p. 38).

Educar para a descoberta de sentido e para ações responsáveis significa educar

para ser pessoa, sujeito de sua própria vida (op. cit.).

Como o professor lê o mundo, de que forma esse mundo lido influencia sua

prática pedagógica e humana? A constituição desse sujeito é fundamental para o

comprometimento da comunidade educativa com o processo de inclusão, pois ele é

capaz de relacionar-se com a realidade, promovendo mudanças na cultura

organizacional (op. cit.).

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As discussões sobre a inclusão continuam centradas na pessoa com

deficiência ou no professor, considerado, muitas vezes, o único

responsável pela inclusão, restringindo-se à acessibilidade

arquitetônica ou à formação do educador. Entretanto, não se realiza

qualquer experiência de inclusão sem mudança na cultura

organizacional e, muito menos, sem a constituição do sujeito como um

ser de relações. A responsabilidade pela inclusão é também dos

sujeitos comunitários que se constituem no universo de uma

organização social. Mas, sobretudo, depende das condições ambientais

e humanas (MACHADO, 2009, p. 35).

Corroborando com essa ideia, Silva (2011) reafirma que:

A capacidade de ser sujeito e descobrir o sentido da vida é adquirida,

mantida e cultivada em um ambiente humano que favoreça relações de

aceitação incondicional da pessoa por causa de sua dignidade, com

práticas de diálogo na verdade e no amor, entendido como a busca do

bem do outro. (p. 39).

Neste sentido é fundamental que a educação atue no processo de humanização,

contribuindo para a apropriação dos conhecimentos produzidos na sociedade, pois a

educação, por si só, não transforma diretamente a estrutura e realidade social. Para que

isso aconteça é imprescindível à transformação e humanização dos que passam pela

escola e para os que nela atuam.

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II – METODOLOGIA

Este capítulo visa a apresentar os caminhos percorridos nesta pesquisa, a

descrição do contexto de estudo (uma escola de Ensino Fundamental da rede municipal

de Maceió – Alagoas), o instrumento utilizado para a coleta de dados, a tabela de

especificações que originou o roteiro de entrevistas com base nos princípios norteadores

à política de inclusão escolar e o perfil das professoras entrevistadas.

Obedecendo à Resolução nº. 196/96 – IV, do Conselho Nacional de Saúde do

Ministério da Saúde (CNS – MS), essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em

Pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade Cidade de São Paulo

(CEP/UNICID), sob o número 846.748.

A participação de todos os informantes na pesquisa ocorreu de forma

voluntária, após a aceitação do convite para dela colaborar e da assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (ANEXO A), conforme resolução CNS

196/96. No que tange às relações éticas de entrevistador e entrevistado, essas foram

resguardadas também através do TCLE, garantindo, pois, o respeito à integridade física

e moral do sujeito, a preservação de sua identidade e o sigilo das informações

repassadas (ANEXO B). Foram explícitas as condições de voluntariedade para

participar da pesquisa, sem que para isso tenham sido forçados ou tivessem sofrido

quaisquer tipos de prejuízo ou coação para nela permanecer.

As entrevistas foram realizadas após autorização da direção da escola em que

ocorreu a pesquisa, no horário determinado e combinado com as professoras e

autorizada pela direção sem que houvesse nenhum prejuízo ou implicação no trabalho

em sala de aula, e de forma individual.

2.1.– Instrumento e Procedimento

Para a construção desta pesquisa realizou-se uma revisão bibliográfica na qual

procuramos conhecer a literatura sobre a produção científica referente à atuação do

professor e o aluno com deficiência intelectual na sala regular no ensino fundamental.

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Foram levantadas teses, dissertações, artigos nas seguintes bases de dados:

Coordenação de Programa de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Digital Brasileira de Teses e

Dissertações (BDTD), Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), Universidade

Federal de São Carlos (UFSCAR) e Universidade Estadual de São Paulo (UNESP).

Para a execução da pesquisa de campo seguiu-se o enfoque qualitativo, que

segundo Bodgan e Biklen (apud Lüdcke e André, 2013), envolve a obtenção de dados

descritivos, obtidos no contato direto com a situação estudada, enfatiza mais o processo

do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes.

A opção pela pesquisa qualitativa do cotidiano escolar decorre

também das grandes possibilidades de contribuição que ela possui,

tanto por aprofundar a análise até o nível microssocial, quanto pela

generalização naturalista de estudos de caso ou, ainda, pelo estudo

comparado de pesquisas etnográficas localizadas (CASEIRO, apud

SILVA, 2000, p.49).

Procuramos delimitar uma escola pública no município de Maceió/Alagoas que

tivesse alunos com deficiência intelectual matriculados no ensino fundamental em sala

regular, a fim de entrevistar professores que atuassem junto a esses alunos. Através de

entrevista semiestruturada com sete professoras, foi possível captar as informações e

coletar os dados necessários.

A fim de conhecermos os participantes do estudo, antes que iniciássemos a

entrevista propriamente dita, cada professora respondia a um pequeno questionário

sócio – demográfico com algumas questões que nos ajudassem a caracterizar quem fala

e de onde falam sobre a educação especial. (APÊNDICE A)

A partir do estudo de caso, segundo Lüdcke (2013) podemos nos fundamentar

no pressuposto de que o conhecimento não é algo acabado, mas uma construção que se

faz e refaz-se constantemente. Também, segundo Boer (2012), ele tem como

característica a busca de informações diretamente junto a uma determinada população,

dentro de seu contexto real.

O estudo de caso privilegia uma unidade significativa de um dado fenômeno,

destacando que, ao propor a realização de uma análise minuciosa de uma dada

experiência, o objetivo converta-se em "colaborar na tomada de decisões sobre o

problema estudado, indicando as possibilidades para a sua modificação" (op. cit.).

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O estudo de caso alicerçado em uma teoria deve reunir o maior número de

informações possíveis, em função de questões norteadoras, por meio de técnicas de

levantamento de informações. Nesta pesquisa utilizamos a entrevista semiestruturada

(APÊNDICE B), que segundo Lüdcke e André (2013), a grande vantagem da entrevista

sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da informação

desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados

tópicos.

Uma entrevista bem feita pode permitir o tratamento de assuntos de

natureza estritamente pessoal e íntima, assim como temas de natureza

complexa e de escolhas nitidamente individuais. (...) o que a torna

particularmente útil, atingir informantes que não poderiam ser

atingidos por outros meios de investigação, como é o caso de pessoas

com pouca instrução formal (p.39).

Nesta pesquisa utilizou-se a entrevista semiestruturada, nela o entrevistador

baseia-se em um guia de assuntos ou questões, podendo introduzir mais questões para a

precisão de conceitos ou obtenção de maiores informações sobre o tema desejado.

É importante ressaltar o caráter de interação que permeia a entrevista, havendo

uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde, no qual as

informações fluem de maneira natural e com autenticidade.

A opção pela entrevista semiestruturada a partir de um roteiro teve o intuito de

manter as professoras livres para fornecerem as informações importantes sobre a

atuação em sala de aula com alunos com deficiência intelectual no ensino regular.

O roteiro, constituído de nove itens (perguntas), foi utilizado para assegurar

uniformidade na obtenção das informações básicas para o alcance dos objetivos

estabelecidos. (APÊNDICE B)

Para o registro das informações, foi utilizado um gravador de voz digital (ICD-

PX312/ Sony); posteriormente, as falas foram transcritas para obtenção fidedigna das

respostas apresentadas pelas entrevistadas. As gravações foram informadas e

consentidas pelos participantes antes do início das entrevistas.

As questões trabalhadas nas entrevistas foram embasadas nos princípios que

apoiam as políticas de educação especial no Brasil e determina que todos os alunos

façam parte do mesmo contexto escolar, participando das mesmas atividades comuns,

embora adaptadas para atender as diferenças individuais e se organizam e integram-se

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dentre esses princípios os mais citados são: princípios da normalização, integração e

individualização.

A seguir apresentaremos uma tabela de especificações que ajudará na

compreensão da pré- análise e descrição dos dados coletados e o contexto de estudo no

qual se deu esta pesquisa.

QUADRO 1:

Tabela de especificação: Roteiro de entrevista

DIMENSÃO PERGUNTAS

PERFIL

SEXO

IDADE

FORMAÇÃO LOCAL

ANO

GRAU

EXPECTATIVA

GERAL EM

RELAÇÃO À

INCLUSÃO

Como você vê a inclusão na sua escola?

Qual a sua visão sobre a inclusão do aluno com

deficiência intelectual na sala regular?

Como você descreve a deficiência intelectual?

IMAGEM DE

PROFESSOR

Como Você Professor (a) se vê diante dessa política

de inclusão escolar?

Você se sente preparado (a) para lidar com o aluno

(a) deficiente intelectual?

PRÁTICA

EDUCATIVA E

POLITICA

PÚBLICA

Como você prepara sua aula para atuar em uma sala

de aula regular com o aluno com deficiência

intelectual?

Você já ouviu falar em currículo adaptado?

Como é a convivência da turma com o aluno com

deficiência intelectual?

Como você avalia sua atuação com o aluno com

deficiência intelectual?

CONDIÇÕES DE ENSINO

A escola disponibiliza material adaptado ou recursos

para as atividades em sala de aula?

Fonte dos Princípios norteadores: PAULON, Simone Mainieri. et.al. Documento subsidiário à política de inclusão.

Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Brasília: 2005.

Princípios Norteadores

1) Ampliar a meta

constitucional de

municipalização das

Políticas públicas;

2) Interdisciplinaridade

em seus fundamentos

metodológicos.

3) Superação da Educação

como informação e Saúde

como tratamento de

doenças.

4) O enfrentamento da

exclusão social de pessoas

com deficiência

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2.2.– Contexto de Estudo

O estudo foi realizado em uma escola de ensino fundamental no município de

Maceió, Alagoas, situado em um bairro populoso da periferia desta capital, que atende a

1020 alunos matriculados nos três turnos, numa clientela de mínima e baixa renda.

Entre o período de 2012 a 2013 houve um aumento de matriculas de crianças

portadoras de deficiência, visual, física, auditiva e intelectual. No decorrer desse

período, outras foram sendo diagnosticadas, provocando uma sobrecarga no serviço

prestado.

Nesse mesmo período, nos turnos da manhã e tarde foram encaminhados 37

alunos para sala de recursos multifuncionais — programa do Ministério da Educação do

Brasil que fornece alguns equipamentos de informática, mobiliários, materiais didáticos

e pedagógicos, para a criação de salas destinadas a integrar alunos com nas escolas

públicas regulares por meio da política de educação inclusiva.

A escola possui salas de recursos tipo I e tipo II que se caracterizam por um

atendimento educacional especializado, de natureza pedagógica que complementa a

escolarização de alunos que apresentam deficiências intelectuais, deficiência física,

neuromotora, transtornos globais do desenvolvimento e transtornos funcionais

específicos, matriculados na Rede Pública de Ensino. Seu objetivo é apoiar o sistema de

ensino de acordo com critérios de organização funcional que, obrigatoriamente, devem

estar contempladas no Projeto Político Pedagógico e Regimento Escolar do

estabelecimento, que deverá funcionar com características próprias em consonância com

as necessidades específicas do aluno. (Brasil, MEC/2011)

Foram selecionadas sete professoras de sala regular do 1° ao 3° ano do ensino

fundamental, cujo critério utilizado foi àquelas professoras que atuam diretamente com

alunos com deficiência intelectual, devidamente diagnosticado pelos serviços

especializados desta região. Para obter o consentimento para a realização da pesquisa

foi entregue, em mãos, à direção da escola, documento contendo a solicitação e

esclarecimento sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa a ser realizada na

unidade escolar.

Após aprovação no Comitê de Ética da Universidade Cidade de São Paulo

(UNICID) e através da assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido pelas

professoras, sujeitos desta pesquisa, iniciamos as entrevistas.

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As entrevistas foram realizadas individualmente durante o período de aula.

Para que não houvesse prejuízo algum em sala de aula com a ausência das professoras,

estas foram substituídas por outra profissional da escola (auxiliar).

Das sete professoras entrevistadas, três trabalham apenas no turno matutino e

uma no turno vespertino, as outras três professoras trabalham nos dois turnos

respectivamente. As entrevistas duraram cerca de dez a trinta minutos, sendo a maioria

no intervalo de dez a quinze minutos.

As entrevistas foram gravadas e depois transcritas literalmente. Segundo

Oliveira (2013), a gravação é muito importante como registro de tudo que foi dito por

ocasião da entrevista. E, na sequência, os dados obtidos foram analisados. Após a

transcrição literal das entrevistas, procedemos à análise dos dados.

As entrevistas foram submetidas a uma análise de conteúdo segundo Bardin

(2011) e com referencial teórico que embasa este trabalho. A análise de conteúdo é um

método qualitativo de análise de dados em que consiste num:

Conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens, indicadores (qualitativos ou não) que permitam a

inferência de conhecimentos relativos às condições de produção /

recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 2011, p.

48)

A fim de buscarmos na análise de conteúdo a compreensão de todo material

produzido pelas entrevistas, procedemos a alguns passos que nos levaram à formação de

categorias de análise. Ainda segundo Bardin (2011), o método de investigação por

categorias é o mais rápido e eficaz na condição de se aplicar a discursos diretos e

simples.

Iniciamos a pré-análise, a fase de organização propriamente dita; como afirma

Bardin (2011) é o período das intuições, que objetiva sistematizar as ideias iniciais, de

maneira a conduzir a um esquema preciso, num plano de análise. “Geralmente esta fase

possui três missões: a escolha dos documentos, a formulação das hipóteses e dos

objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentam a interpretação final.” (p.125).

Esta fase é chamada de leitura flutuante, por analogia com a atitude do

psicanalista. Pouco a pouco, a leitura vai se tornando mais precisa, em

função das hipóteses emergentes, da projeção de teorias adaptadas

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sobre o material e da possível aplicação de técnicas utilizadas com

materiais análogos. (BARDIN, 2011, p.126)

A fim de conhecermos os participantes desta pesquisa, antes que iniciássemos a

entrevista propriamente dita, cada professor respondia a um pequeno questionário sócio

– demográfico com algumas questões que nos ajudassem a caracterizar o perfil de quem

fala e de onde falam sobre a educação de alunos com deficiência intelectual.

Quanto ao perfil dos entrevistados, são todas do sexo feminino, entre 30 a 50

anos, casadas e são professoras da rede pública municipal através de concurso público.

O tempo de serviço prestado está entre 6 a 25 anos de docência. Em relação à formação,

nível de escolaridade das professoras, destacamos que: cinco professoras têm graduação

em Pedagogia e duas entrevistadas têm ensino médio e estão cursando Pedagogia.

Continuando a descrever o processo de formação das entrevistadas, quanto à pós-

graduação: Três professoras possuem especialização em Psicopedagogia, uma

professora possui três especializações- Psicopedagogia, Inspeção escolar e Direito

Educacional, uma professora está cursando a especialização em Psicopedagogia e duas

professoras não possuem especialização.

Ainda se referindo ao perfil das entrevistadas, em relação à jornada de trabalho,

das sete professoras entrevistadas: três professoras trabalham os dois turnos (manhã e

tarde) na escola- local onde se realizou nosso estudo, duas professoras nos dois turnos,

no entanto, somente pela manhã na escola em questão e duas professoras somente no

turno da manhã.

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III - ANÁLISE DE CONTEÚDO: EXPLORANDO OS DADOS DAS

ENTREVISTAS

Esta parte do estudo apresenta os resultados dos dados coletados e seguiu os

passos propostos pela pesquisa qualitativa, quando faz a discussão da análise de

conteúdo, proposta por Bardin (2011). Esse trabalho foi realizado no método de análise

de conteúdo, e, sob essa perspectiva, as análises foram organizadas em três etapas: pré-

análise, análise temática, inferência ou discussão dos resultados.

A análise resultou na formação de quatro grandes categorias, que por sua vez,

foram o resultado da compilação dos dados coletados e elaboradas através das unidades

de significação do corpus de entrevistas que possuem relação de sentido entre si. Ao

final apresentamos o entrelaçamento dos fundamentos teóricos que embasaram esta

pesquisa e a análise final dos dados.

3.1 – Pré-análise e Análise temática

Explorando a primeira questão que trata sobre como o professor vê a inclusão

na escola, as sete entrevistadas são unânimes quando associam referências negativas ao

que o tema suscita. Essa negativa pode ser descrita por meio das seguintes assertivas:

despreparo do professor, más condições de ensino e problemas associados à gestão. Os

dados sugerem que essa visão negativa da inclusão de crianças com deficiência na

escola esteja assentada na complexidade que o tema em questão se refere, ou seja, na

relação entre o que se vive na prática e as políticas públicas que são implementadas para

a educação especial.

Na segunda questão as entrevistadas versaram, sobre a imagem do professor

diante da inclusão na escola. Associado com esta imagem definiram as seguintes

palavras: despreparo, angústia, impotência, desconhecimento, vergonha e

distanciamento entre teoria e a prática. Há uma constatação e unanimidade quanto às

dificuldades enfrentadas, reforçando a ideia de que o processo formativo não consegue

estabelecer uma consonância entre teoria aprendida nos processos formativos e a

realidade vivenciada na escola, confirmando uma prática educativa intuitiva.

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As questões três e quatro se aproximam e referem-se à preparação da aula e ao

currículo adaptado. Tema amplo que envolve ações especificamente pedagógicas. Cinco

professoras relatam que, dentro do possível, preparam a aula realizando atividades

adaptadas de acordo com a necessidade dos alunos com deficiência. As outras duas

relatam verbalmente que não se sentem em condição de preparar nada específico.

Alegam a falta de condições de ensino como também a falta de preparo profissional que

possibilitaria a elas melhor atendimento aluno. Declaram, dessa maneira, sua

incapacidade de reconhecer a necessidade dele (do aluno) propondo como solução

atividades de baixa exigência intelectual – pintura, recorte, colagem.

Em relação ao currículo adaptado, de acordo com a Política Nacional de

Educação Especial do MEC, na qual define que as classes especiais integradas à escola

regular devem adotar “o currículo regular oficial, com as devidas adaptações e o

processo de ensino-aprendizagem deverá ser baseado em avaliação/diagnóstico de

natureza educacional” (BRASIL, 1994, p. 38). O currículo adaptado é um instrumento

que pode e deve fazer avançar o desenvolvimento geral de cada pessoa. Apesar disto,

proclamado, como a grande maioria das politica públicas, há uma hipótese do

desconhecimento por parte dos professores dessas políticas que embasam o cotidiano na

escola. Os dados confirmam tal hipótese, pois todas as entrevistadas desconhecem o

currículo adaptado.

Sobre o material adaptado e os recursos para as atividades, tema explorado na

quinta questão, duas professoras se referiram à sala de recursos multifuncionais como

atendimento à demanda do material adaptado e recursos da escola. Entretanto, apesar do

referido reconhecimento, demonstram uma contradição no discurso, três professoras não

conhecem o que está sendo oferecido em relação aos recursos para o trabalho e assim,

afirmam que a escola não os disponibilizam. Quatro entrevistadas reconhecem que a

escola tem os materiais, porém em quantidade insuficiente. Também reconhecem a

desorganização dos mesmos encontrando dificuldade para o uso cotidiano. - poucos

materiais e recursos, porém, a maioria não se encontra organizados para seu uso ou

outro professor está utilizando tais materiais. O que demonstra a escassez dos recursos

para sua utilização.

A sexta questão aborda um ponto importante para as discussões onde a

temática inclusão é centro. Ela explora os processos relacionais, ou melhor, a

convivência entre os alunos da turma e a criança com deficiência. Inúmeros trabalhos já

versaram sobre os ganhos para todos, no sentido da humanização das relações grupais,

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quando da presença de um estudante com deficiência na convivência diária da turma e

vice-versa. Os dados coletados reafirmam os benefícios desta convivência, pois a

grande maioria das entrevistadas declaram diferentes dimensões que favorecem o

processo relacional. São exemplos:

Eu acho a convivência dos meninos até boa. (...) Quando tem educação física,

fila, eles colocam ele na frente. A inclusão neste sentido é feita, os alunos

entendem que ele tem uma deficiência, é diferente. Diferente todos são! Mais

eu digo que eles conseguem vê um déficit nele, aí eles são cooperativos e

ajudam.

Excelente! Desde o primeiro momento eu trabalho as diferenças com eles e pela

questão do meu afeto, eu acho que consigo transferir para os meus alunos e

por tabela os meus alunos transferem para eles. Isso é muito tranquilo mesmo.

Eles recebem muito bem, nunca houve preconceito nenhum da turma em

relação a eles, ao contrário eles gostam de sentar, ajudar.

Tranquila, brincam, eles não percebem essa diferença, quem percebe somos

nós; o aluno se iguala tanto o inteligente, quanto o cadeirante, como o

deficiente eles se agrupam e se ajudam. (...) preparo eles e que eles tem que

respeitar e ajudar aquele amiguinho no que for preciso;

(...) a socialização é ótima, tranquila, ele é um menino tranquilo, (...), ele está

conseguindo mesmo sem acompanhamento e agitado e sem medicação

acredito que ele via sair alfabetizado esse ano.

O tema explorado na sétima questão é como o próprio professor avalia a sua

atuação com as crianças que possuem deficiência. Podemos inferir que avaliar envolve

tomar decisões. (...) A avaliação como prática pedagógica tem o compromisso com o

processo educativo, com o desenvolvimento dos alunos e com o aperfeiçoamento do

ensino. (...) Preparar o aluno para aprender, agir pedagogicamente frente ao não

aprendido, exige mais do que decidir sobre a classificação que um aluno tem em sala

de aula. Não é somente avaliar se o aluno aprendeu, mas avaliar para conhecer o

aluno, tomar decisões que melhorem o ensino e desenvolvam as aprendizagens

pretendidas. (SOUSA, et.al., 2014). As entrevistadas revelaram a preocupação e o

reconhecimento que poderiam fazer mais pelo aluno com deficiência se tivessem mais

apoio da escola, recursos e conhecimento para atender as demandas solicitadas pelo

aluno com deficiência. As falas das professoras demonstraram os sentimentos que

permeiam o cotidiano da sala de aula, como por exemplo:

Eu gostaria muito de ter mais suporte para trabalhar e atender melhor esse

aluno especial, eu tenho muito carinho por eles e por todos porque eu faço o

que eu gosto e queria realmente (...) atender melhor esses nossos alunos

especiais; Eu acho que eu poderia fazer muito mais, isso é angustiante, porque

você vê que o aluno está precisando mais de alguma coisa e você não pode ir

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além daquilo,(...) o tempo que a gente tem são só quatro horas e o resto da

responsabilidade é da família.

A desejar ainda. Espero que logo, logo eu venha saber lidar mais com isso.

Olha eu poderia trabalhar mais com ele. Reconheço que eu poderia me dedicar

mais. Mas eu fico entre a cruz e a espada.

Não avalio como boa. Eu tenho a única coisa para trocar com o meu aluno é a

questão social, a inclusão social dele como ser humano e o meu afeto.

A oitava questão refere-se à visão do professor sobre a inclusão do aluno com

deficiência intelectual na sala regular. A maioria das professoras concorda que ele seja

incluído na sala regular, pois a criança tem um ganho muito grande, oportuniza a

socialização e interação desta criança no mundo, porém as mesmas reforçam que da

forma como está sendo feita não é interessante, por diversos fatores como: falta de

suporte técnico, ausência de auxiliar de sala, recursos insuficientes para o trabalho, entre

outros. Uma professora afirma que está muito além do que deveria ser e pela ausência

dos recursos e profissionais de outras áreas para uma ação em conjunto a inclusão não

acontece. Esses dados revelaram que do ponto de vista social, a inclusão deve acontecer,

no entanto essas professoras não perceberam que, este seja o maior ganho que esse

processo de inclusão viabiliza a criança. A visão destas professoras, na maioria das

vezes, está pautada na necessidade de escolarização destas crianças em termos de

rendimento e produtividade escolar.

A última questão solicita a descrição do professor sobre a deficiência

intelectual. Foi unânime a falta de conhecimento sobre as especificidades da deficiência

em questão. As professoras entrevistadas afirmaram a falta de conhecimento ou

desinformação a respeito da deficiência em questão, versaram sobre as dificuldades de

aprendizagem, como a dislexia, dificuldade no letramento e no processo de

alfabetização, como características da deficiência intelectual. Uma professora trouxe o

conceito de anormalidade, a que foge dos padrões de normalidade dentro do que se

espera que essa criança faça, para compreender a deficiência intelectual. Constatamos

que além da falta de conhecimento há uma projeção na responsabilidade de cuidar e

ensinar esse aluno com deficiência. Atribuem em suas afirmações a responsabilidade

para os profissionais de saúde, no processo diagnóstico para encaminhá-los à escola,

isentando-se do compromisso de buscar compreender a deficiência do seu aluno para

ajudá-lo em sua aprendizagem. As professoras garantem a socialização, no entanto,

esquivam-se do compromisso de garantir aprendizagem aos alunos, justificando-se pela

falta de informação sobre o tema em questão.

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No capítulo seguinte, a partir da descrição dos dados, fomos identificando e

nomeando unidades de significado nas falas das entrevistadas. De acordo com Araújo

(2006), essas unidades podem suscitar uma hipótese ou construção no processo de

dados, aumentando as possibilidades de integrar novas informações à pesquisa.

Esta parte do estudo apresenta os resultados dos dados coletados na pesquisa de

campo. Explicita a compreensão e atuação dos professores da sala regular que possuem

em suas salas de aula alunos com deficiência intelectual, em relação à aprendizagem e à

inclusão desses alunos. Utilizaremos as letras do alfabeto na ordem SJ1, SJ2, SJ3, SJ4,

SJ5, SJ6, SJ7, para não identificarmos as professoras, sujeitos desta pesquisa, como

forma de proteção e sigilo ético em que se apoia essa pesquisa.

A análise resultou na formação de quatro categorias elaboradas através dos

princípios norteadores da política de inclusão escolar e temas que emergiram a partir

das unidades de significação do corpus de entrevistas que possuem relação de sentido

entre si.

3.2 – Expectativas gerais em relação à inclusão

Essa categoria possibilita-nos acessar o universo plural de concepções, sentidos

e práticas que permeiam o cotidiano escolar diante da inclusão na escola. A falta de

preparo da escola pública diante do conceito e efetivação da prática inclusiva parece

longe de ser aquela proposta pelos documentos oficiais que norteiam a educação

inclusiva. Há um consenso entre as professoras de que é um direito, porém a escola não

está preparada para essa inclusão.

(...) Ela é muito importante mais na nossa escola está longe de

alcançar o que a gente espera ao atendimento as crianças especiais, a

gente precisa de um grande suporte. Recebemos o aluno especial sem

nenhuma preparação, são poucos os professores que tem uma

preparação para receber o aluno especial, mas a gente recebe e

trabalha ele conforme os conhecimentos que vamos adquirindo, ou o

que já foram passados para nós, através da sala de recursos. (SJ1)

(...) A inclusão na escola como um todo é complicado, por conta da

diferença e da distância entre teoria e prática, a escola é pública, a

escola precisa de argumentos e suporte para o professor que a gente

sente realmente a necessidade disso na nossa prática. (SJ3)

(...) Na verdade ao pé da letra, acho como se fosse para atender um

direito, só pela lei, o amparo legal. O aluno é colocado na escola

regular por que tem o direito de está na escola, mas ele não tem o

apoio que precisa. (SJ4)

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(...) Não vejo inclusão, eu vejo que os alunos são colocados em nossa

sala de aula despreparados e a própria escola sem nenhuma condição

de receber esses alunos. (SJ5)

(...) Não acho que seja uma inclusão, nós não estamos preparados

para receber, porque a gente não tem nenhuma capacitação dirigida

para a gente pegar essas crianças na escola. (SJ6)

A resolução n°. 2 de 11/09/2001 do Ministério da Educação (MEC), dispõe em

seu artigo 8°, item I, que as escolas da rede regular de ensino deverão prever e

promover na organização de suas classes comuns, professores de classes comuns e de

educação especial, capacitados e especializados, respectivamente, para o atendimento às

necessidades educacionais especiais dos alunos.

Com relação à inclusão dos alunos com deficiência intelectual, as professoras

entrevistadas confirmam que a inclusão oportuniza à criança a interação social, porém

sem conhecimento especifico e o envolvimento de toda escola para esse fim, a inclusão

se torna difícil. Como afirmam:

(...) “Eu concordo que ele seja incluso porque o mundo não é

separado, é de todos, é um direito (...) Todo mundo tá incluso num

lugar, só que a promessa que a gente vê na lei, é que teria

fonoaudiólogos, que teria um aparato para atender esse aluno (...)

Quando tem educação física, fila, eles colocam ele na frente. A

inclusão neste sentido é feita, os alunos entendem que ele tem uma

deficiência, é diferente. Diferente todos são!” (SJ4)

(...) “Desde que o professor recebesse esse suporte a ideia é

magnifica, mais inserir o aluno com essas dificuldades! É bom para a

socialização, eles se socializam, tem a troca de saberes uns com os

outros isso é vantajoso.” (SJ3)

Trabalhar com a diversidade implica trabalho em equipe, de conjunto, criar

laços de apoio entre o corpo docente para a construção de soluções criativas a

problemas comuns. É possível afirmar que o conceito de inclusão no âmbito

educacional implica, antes de tudo, uma posição frente à prática de rejeitar a ideia de

exclusão de qualquer aluno na comunidade escolar, pautada na visão de cidadania.

Percebemos que tanto a legislação como o discurso das professoras se tornam

inclusivos, no entanto as práticas no cotidiano da escola são discretamente inclusivas.

Não cabe mais ficar discutindo se é possível ou não incluir o aluno com

deficiência intelectual, mas descobrir o que fazer diante da realidade para que ela se

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efetive. A decisão do que ensinar e a quem ensinar é política e exige de quem a toma a

sensatez e o compromisso consigo mesmo e com os outros (SOUSA, 2008).

Segundo Libâneo (2003) a escola é a esperança da formação cultural, do

progresso, da conquista da dignidade, da emancipação. Mas, para isso é necessário que

ela seja ressignificada para contemplar as diferenças e consiga de fato socializar e

desenvolver as potencialidades das pessoas com deficiência intelectual e, mais

especificamente, para tornar-se inclusiva.

Outro problema encontrado, nas falas das professoras, é a confusão sobre o que

é a deficiência intelectual e as dificuldades de aprendizagem. Constatamos que há um

desconhecimento geral em torno da deficiência intelectual, incluindo o conceito e suas

principais características. As concepções estão centradas no letramento, nas dificuldades

de uso da linguagem oral e escrita. Raiça (2006), afirma que a deficiência intelectual é

uma situação e não uma doença, porém o discurso das professoras corrobora para tal

confusão:

Eu acredito que essa deficiência intelectual são esses déficits de

aprendizagem que eles apresentam, desde a dislexia, acredito que é

isso, déficit de atenção aquele aluno que não consegue aprender se eu

não sentar do lado dele. (SJ3)

É quando o ritmo que a gente percebe de aprendizagem e de

letramento, de alfabetização, da linguística da fala, da oralidade,

quando você vê que eles não desenvolvem nem oralidade nem a

escrita, nem a motricidade, nem a leitura. Quando a gente vê que

esses fatores estão diferenciados, o ritmo diferente. (SJ4)

Eu descrevo aquele aluno que não está inserido dentro do que a gente

diz “normal” numa sala de aula. É aquele aluno que apresenta

alguma falha, ou de comportamento ou de aprendizagem, ou de

percepção, eu descrevo esse aluno quando ele apresenta esta

dificuldade. (SJ7)

Essa confusão compromete o desenvolvimento das potencialidades e

habilidades das crianças e isentam os professores de favorecer e oportunizar as

aprendizagens. Também confirmamos, através das entrevistas, a dificuldade em

identificar a deficiência intelectual, atribuindo as dificuldades à falta de conhecimento e

se respaldando na sala de recursos da escola. Como não há um apoio integrado entre a

equipe técnica, coordenação, direção, sala de recursos e professoras nessa orientação

específica, percebemos que as professoras se sentem inseguras quanto às decisões que

deverão ser tomadas em relação ao aluno com deficiência.

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Recebemos o aluno especial sem nenhuma preparação, são poucos os

professores que tem uma preparação para receber o aluno especial,

mas a gente recebe e trabalha ele conforme os conhecimentos que

vamos adquirindo, ou o que já foram passados para nós, através da

sala de recursos. (...) Nós temos a sala de recursos, a direção nos

encaminha sobre algum problema para enviar a sala de recursos.

(SJ1)

É importante ressaltar que o diagnóstico da deficiência intelectual deve ser

realizado por uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde, atuando em

conjunto. Vale destacar a importância do conhecimento do professor sobre a

caraterização da deficiência intelectual para o encaminhamento, pois é ele que, na

maioria das vezes, é o primeiro a notar quando o aluno passa a apresentar dificuldades

na aprendizagem. Outro problema é a confusão entre fracasso escolar e deficiência

intelectual. Muitas vezes, as crianças não tiveram oportunidades educacionais

satisfatórias ao seu desenvolvimento, acarretando sérias defasagens de série e idade, e

isso confunde o professor que não se encontra preparado, e passa a avaliar o aluno como

deficiente intelectual.

Figueiredo e Gomes (2007) afirmam que os alunos com deficiência intelectual

aprendem de forma semelhante ao aluno comum, tanto em termos de letramento quanto

na dimensão desejada, nas expectativas do entorno e nas interações escolares. Mas há

algumas diferenças como em termos de metacognição, abstração, memorização e

generalização. Pode-se dizer também que o ritmo de aprendizagem dos alunos com

deficiência difere por requerer um período mais longo para a aprendizagem da língua

escrita. Assim, para Vygotski (apud CARNEIRO, 2007), os princípios de

desenvolvimento das crianças com deficiência são os mesmos das crianças ditas

normais, apenas com alterações na organização da estrutura durante o curso desse

desenvolvimento.

Desse ponto de vista, pode-se afirmar a importância da intervenção e presença

do educador. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) afirmam que: “a formação e

a capacitação docente impõem-se como meta principal a ser alcançada na concretização

do sistema educacional que inclua a todos, verdadeiramente” (p. 17).

Certamente, o professor terá de rever seu papel perante as novas propostas

pedagógicas que o processo de inclusão escolar impõe. Ele terá de obter conhecimentos,

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informações e formações que lhe permita realizar atividades curriculares destinadas a

todos, garantindo uma aprendizagem contextualizada e significativa.

Muitos dos conflitos vividos na inclusão de alunos com deficiência intelectual

na escola regular provêm de determinados saberes, representações e imaginários sobre

esses indivíduos que foram consolidados entre os diversos atores sociais responsáveis

por uma visão estigmatizada, efetivada nas práticas escolares e sociais de discriminação

e de exclusão (OLIVEIRA, 2010).

O conhecimento sobre as peculiaridades da deficiência e também sobre o

sujeito com o qual se está lidando são imprescindíveis, pois, segundo Carmo (2006), é

preciso entender que existem diferenças nas diferenças e desigualdades nas diferenças,

já que duas pessoas com deficiência intelectual são diferentes entre si. Apesar de ambas

possuírem o mesmo de tipo de deficiência, elas são pessoas diferentes entre si o que

torna suas deficiências diferentes também. Além disso, as condições sociais,

econômicas são fatores a ser considerados no processo de ensino e aprendizagem

(SOUZA, 2012, p. 63).

As professoras, ao revelarem seus sentimentos aliados às dificuldades da

prática da educação inclusiva, forneceram indícios importantes para a compreensão da

forma como se apropriam da realidade, como lidam com suas contradições, enfim,

como configuram sua dimensão subjetiva.

A concepção da professora (SJ1) sobre a deficiência intelectual reforça o

estigma da não aprendizagem: "A criança ela não lê, nem escreve, com alguns esforços

ela rabisca, tem delas que consegue escrever, mais dificilmente lê”. Figueiredo e

Gomes (2007) afirmam que alunos com deficiência intelectual, vindos de meio

socioeconômico desfavorecido, apesar de não usufruírem de ricas e diversificadas

experiências de letramento, quando dispõem de oportunidades de ensino formal de

leitura e escrita e convivem em contextos onde se lê e se utiliza material de leitura,

ampliam o interesse por material escrito, como livros, jornais, revistas fora da sala de

aula.

DENARI (2011) afirma que o êxito da inclusão escolar requer esforços que,

necessariamente, demandam olhares diversos, questionamentos a certos paradigmas

relacionados à maneira de conceber a deficiência e entender os processos de ensino e

aprendizagem.

As práticas pedagógicas na educação de alunos com necessidades educacionais

especiais estão sujeitas às influências do pensamento de que as pessoas com deficiência

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têm dificuldade de aprender, em razão de considerá-las portadoras de limitações

orgânicas (FREITAS, 2006, p. 166).

JACOBO (apud FREITAS 2006) salienta, em relação ao sujeito "especial", que

por ser ele assim considerado, quando a escola o inclui no mundo educativo regular,

imediatamente se levantam vozes inconformadas exigindo sua exclusão encobertas por

uma racionalidade educativa que propõe treinamento e reabilitação particular para tais

sujeitos. Essa argumentação "pseudocientífica" proclamada na especificidade da

diferença implica uma exclusão inconsciente da diferença, como descreve:

Não tenho preconceito mais eu acho que deveria ser repensado,

porque não vou dizer que eles atrasam nem adiantam, mas existe

certa resistência por parte dos outros colegas porque eles não fazem

a atividade e fica aquela cobrança muito grande porque aquele aluno

não está fazendo a atividade, não tem a mesma regalia que eles tem.

Eu não posso cobrar de um aluno que não tem aquelas habilidades

ainda e que faça aquela atividade completa os outros me cobram

demais, porque que eu fico passando a mão na cabeça dos que não

tem ainda competência. (SJ2)

Segundo Patto (1999, p. 411) "o fracasso da escola pública elementar é o

resultado inevitável de um sistema educacional congenitamente gerador de obstáculos à

realização de seus objetivos". Portanto, nem sempre a deficiência está na criança, mas

na maioria das vezes no próprio sistema educacional. A mesma autora chama atenção

para as consequências de um diagnóstico em escolas públicas, principalmente em

crianças oriundas de situações de precariedade econômica e social. Sendo os

encaminhamentos para suporte e tratamento raramente possíveis, algumas crianças

ficam estigmatizadas sem que suas dificuldades tenham sido corretamente

diagnosticadas.

Outra discussão diz respeito ao encaminhamento para sala de recursos como

salvadora da situação-problema que se instala na escola. Todas as crianças que

apresentem um mínimo de dificuldade e não consigam acompanhar o mesmo ritmo de

aprendizagem que as demais, são encaminhadas para a sala de recursos,

sobrecarregando a demanda e a própria assistência.

(...) Geralmente quando eu noto que tenho aluno com alguma

deficiência, eu procuro a sala de recursos, entro em contato e solicito

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uma avaliação, geralmente é uma criança que anda muito desligada,

eles reagem um pouco diferente dos outros, não acompanham. (SJ2)

(...) Na maioria das vezes eu consigo detectar e por isso a gente tenta

encaminhar para a sala de recursos. Aqui na escola o procedimento

que eu costumo fazer é o seguinte: eu chamo a coordenação,

converso, explico; a coordenação se estiver na hora chama a

assistente social e encaminha junto com ela para a Psicóloga/

Psicopedagoga da escola na sala de recursos. (SJ3)

(...) Quando eu percebo que há um atraso, eu converso com a

coordenação e como aqui na escola tem sala de recursos, a

coordenação sempre indica para passar o caso para ela. (SJ4)

Essas representações das professoras parecem indicativas de pouca

mobilização e de um processo inconsistente de reflexão e ação para a construção da

prática inclusiva. A visão de encaminhamento indica o foco exclusivo nas salas de

recursos, entretanto esse apoio é fundamental na construção das competências para a

prática educacional dessas professoras.

Ressaltaremos a seguir o papel da sala de recursos definida pelo MEC para a

implementação do Decreto nº. 6.571/2008, a Resolução CNE/CEB nº. 4/2009, no art. 1º,

estabelece que os sistemas de ensino devem matricular os alunos público alvo da

educação especial nas classes comuns do ensino regular e no atendimento educacional

especializado. Este último é composto por salas de recursos multifuncionais ou centros

de atendimento educacional especializado da rede pública ou por instituições

comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos.

A Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva (2008, p.15) define o Atendimento Educacional Especializado – AEE com

função complementar e/ou suplementar à formação dos alunos, especificando que “o

atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e

organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a

plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas”. De acordo

com essas diretrizes, no art. 5º, o AEE é realizado prioritariamente na sala de recursos

multifuncionais da própria escola ou de outra escola, no turno inverso da escolarização,

não sendo substitutivo às classes comuns.

É necessário que a escola tenha conhecimento das leis e documentos oficiais

que regem a educação especial para que o trabalho se articule com todos os envolvidos

da escola e não somente de responsabilidade de um espaço pedagógico.

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Aprender a lidar com o desconhecido, transformar informação em

conhecimento e refletir sobre sua práxis pedagógica são algumas das inúmeras tarefas

do cotidiano do professor. Visando à inclusão, caberá construir metodologias pautadas

na articulação de ações reflexivas entre a teoria e prática, instituindo as devidas

modificações no processo de ensino-aprendizagem; e que influenciarão o seu cotidiano

escolar, o seu modo de planejar e o que será desenvolvido em sua sala de aula.

3.3 – Revelando a imagem do professor diante da inclusão

Essa categoria pretende conhecer a imagem do próprio professor imerso diante

dessa política de inclusão escolar e se as professoras, sujeitos dessa pesquisa, se sentem

preparadas para lidar com o aluno com deficiência intelectual.

A imagem que os sujeitos compõem de si reflete a imagem que os outros de

seu grupo fazem dele. Os relatos das professoras relacionadas com esta imagem

definiram as seguintes palavras: despreparo, angústia, impotência, desconhecimento,

vergonha e distanciamento entre teoria e a prática.

Absolutamente, me sinto leiga, totalmente despreparada. Na nossa

formação tem noções, não é a fundo, é superficial, na hora que vamos

lidar com a realidade é que a gente encontra os problemas e a gente

bota a mão na cabeça. Porque é muito diferente a gente escutar e

vivenciar (SJ2)

Eu não me sinto preparada não e também me sinto mal, porque não

consigo atender o que ele precisa e fico me sentindo incapaz, como se

tivesse impotente diante dele. Ele tem direito a aprender e eu não sei

o que fazer, é como se tivesse fazendo de qualquer jeito prejudicasse

esse aluno. Eu me sinto até envergonhada às vezes, de está o aluno na

sala de aula e eu não poder atender ele como ele merece, como o

direito garante. Por que os outros vão progredindo e ele lá e eu não

tenho como chegar nele, não tenho conhecimento. Me sinto

impotente!(SJ4)

Há uma constatação e unanimidade quanto às dificuldades enfrentadas,

reforçando a ideia de que o processo formativo não consegue estabelecer uma

consonância entre teoria aprendida nos processos formativos e a realidade vivenciada na

escola, confirmando uma prática educativa intuitiva.

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Não, por que são diversas dificuldades que nós encontramos na sala de aula, não é

um aluno, são vários alunos, fora aqueles que são hiperativos, que precisam de

carinho de outros tipos de apoio e somos sozinhas na sala de aula, é um trabalho

árduo e eu não me sinto preparada não. (SJ3)

O professor é um sujeito do conhecimento, um ator que desenvolve saberes

através de sua própria ação. A partir do momento que este professor não assume esse

conhecimento, a prática ou é desprovida deste saber ou portadora de um saber falseado.

A prática passa a ser intuitiva e não assume o caráter pedagógico a que se propõe.

Anjos, Andrade e Pereira (2009), apontam também os sentimentos dos

professores com relação a seu trabalho, destacando-se: o choque sentido por eles no

início do trabalho com alunos com deficiência, o que os leva a perceber falhas em sua

formação, a falta de treinamento e conhecimentos específicos, bem como o fato de que

esses novos sujeitos na sala de aula exigem novas capacidades e novos modos de

pensar. Essa heterogeneidade de alunos também pode causar angústia no professor,

fazendo-o sentir-se inseguro e impotente para desenvolver seu trabalho.

Na minha turma eu tenho quatro categorias: o que sabe tudo, ler e

compreendem, outros leem mais com dificuldade, eu tenho aquele

aluno que não sabe que está em nível de primeiro ano e tenho os

especiais. (...) Existe uma distância entre a teoria e a prática. (SJ7)

Em relação ao preparo do professor, conforme afirma Raiça (2006),

destacamos o desejo de aprender e os compromissos com a carreira escolhida, como

dois fatores essenciais para qualquer profissional da área da educação, independente de

trabalhar ou não com alunos com deficiência intelectual. Aprender implica inovar,

mudar, assimilar novas ideias, buscando soluções para as dificuldades à medida que vão

surgindo (op. cit.).

Nos relatos das professoras detectamos a falta de articulação e apropriação do

conhecimento, mostrando que isso não foi trabalhado nos cursos de graduação em

Pedagogia. A maioria dos cursos de graduação e pós-graduação trabalham teoricamente

alguns aspectos sobre a deficiência e a educação inclusiva, porém há um hiato entre a

teoria e a práxis pedagógica: (...) a gente tem a base das disciplinas e eu paguei a de

educação especial, mais não consigo lembrar, não está mais fresco na minha memória.

No meu caso eu senti falta da prática, de colocar o que a gente estava vendo, estudando

na prática. (SJ3)

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Segundo Freitas (2006), um dos grandes desafios dos cursos que formam

professores é a elaboração de um currículo que venha desenvolver nos acadêmicos,

competências e habilidades para que possam atuar em uma escola realmente inclusiva.

Percebemos no discurso das professoras que todas desejam estar mais preparadas,

porém só se dão conta disso quando se deparam com a realidade em sua sala de aula.

O professor tem que estar preparado teoricamente e saber aplicar na prática a

teoria aprendida, analisando cada situação e adaptando-se à realidade. No entanto, se ele

não se apropriou das teorias, como aplicar e perceber as necessidades e a partir daí

aplicá-las?

Conforme a visão de Bueno (2012), a formação dos professores para a

educação inclusiva não tem sido incorporada nem pelos sistemas de ensino, nem pela

universidade brasileira como uma política integrada.

Atualmente, um dos maiores desafios dos cursos de formação de professores é

a elaboração de um currículo que contemple um modelo acadêmico capaz de

desenvolver competências, habilidades e conhecimentos que satisfaçam uma escola, de

fato, inclusiva, acessível a todos; independentemente das diferenças que apresentam,

dando a todos as mesmas condições e possibilidades de realização humana e social.

Na prática, porém, vê-se que a formação de professores ainda está longe de

alcançar os ideais da escola inclusiva e para todos. A angústia do professor, a solidão

em que sua prática profissional está assentada, revela um faz de conta, uma prova de

que a escola não está preparada para lidar com essa diversidade. (...) O curso de

Pedagogia é muito fraco. Ai a gente entra na sala de aula e se debate com este

problema e aí?(SJ 7)

A fim de desempenhar satisfatoriamente seu papel docente neste novo

contexto, a sua postura diante dos alunos tem de mudar. Perrenoud (1999), afirma que

do ponto de vista das competências em jogo, o professor que trabalha com alunos

incluídos na escolar regular, deverá com o tempo, apropriar-se de uma parte dos saberes

dos professores de apoio. Segundo Freitas (2006) “não são suficientes competências em

didática e em avaliação, mas também capacidades relacionais que permitam enfrentar

qualquer desafio” (p. 177).

SKLIAR (2006), afirma que ainda não existe nenhum consenso sobre o que

signifique "estar preparado" e, muito menos, acerca de como deveria se pensar a

formação quanto às políticas de inclusão propostas em todo o mundo.

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A falta de apoio de profissionais auxiliares e cuidadores é uma problemática

que agrava a situação desses alunos que necessitam serem incluídos na sala de aula de

fato e de direito. Contudo, é importante ressaltar que mesmo escolas com recursos, não

confirmam uma inclusão, ou melhor, atendimento a estas crianças. Se não houver o

envolvimento afetivo e efetivo do professor com a inclusão de nada adiantará tais

recursos e apoio. Como afirma a professora (SJ1)

Nós fazemos o trabalho com o aluno especial, tentando só inclui-lo no

mundo escolar, a gente precisaria na sala de aula uma assistência,

um apoio, um professor auxiliar para a gente ter uma educação

melhor para o aluno com deficiência, precisamos de um grande apoio

e um deles seria o auxiliar que não temos. A politica de inclusão

ainda tem muito que oferecer e deixa muito desejar.

O problema é que, para ajudar os professores a enfrentar novas situações de

ensino, oferecem-lhes formações em que predominam o acúmulo de conteúdos

disciplinares que não revelam nem indicam soluções para os problemas pelos quais

serão confrontados no dia-a-dia. Significa dizer que esses órgãos responsáveis pela

formação continuada dos professores não têm uma proposta objetiva a ser alcançada.

É inócua a capacitação sem um objetivo claro e bem definido sobre o

que se espera mudar com ela na realidade escolar. Toda e qualquer

capacitação tem que ser realizada tendo em vista a implementação de

algo novo, algo que realmente supere o existente. Entretanto, a

maioria das capacitações é, digamos assim, para "reciclar" ou atualizar

os professores, porém sem nenhuma proposta clara de mudança

(CARMO, 2006, p. 23).

Geralmente, como afirma Carmo (2006), os órgãos responsáveis por promover

a formação continuada dos professores convidam palestrantes com as mais diferentes

visões sobre a educação, porém, trabalhar e conhecer multivisões e ideias são de suma

importância para iniciar a construção de uma proposta e não para capacitação maciça

dos professores.

A concepção de educação como formação humana que se dá em uma

pluralidade de espaços sociais amplia a visão dos processos educativos. A importância

de lutar por uma proposta político-educacional que contemple seriamente as questões

curriculares e a formação de professores se faz urgente; como afirma Perrenoud (1999),

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não são suficientes competências em didática e avaliação, mas também capacidades

relacionais que permitam enfrentar qualquer desafio.

Diante dessa problemática, apontaremos alguns conhecimentos que deveriam

ser construídos pelos professores durante o curso de formação, se essa formação de fato

contemplasse a todos os professores que atuam ou não com crianças com deficiências.

Baseados no documento da formação de professores para educação

inclusiva/integradora (MEC/SEESP, 1998), os professores precisam: mecanismos

funcionais de cognição das pessoas com deficiência; consciência de suas próprias

condições, conhecimentos pedagógicos e metacognitivos; desenvolvimento da

capacidade de regular e de tomar consciência das etapas do processo de ensino-

aprendizagem; coerência entre sua maneira de ser e ensinar, entre teoria e prática;

capacidade de ministrar aulas sobre um mesmo conteúdo curricular a alunos de

diferentes níveis de aprendizagem; respeito ao ritmo de aprendizagem de cada aluno;

utilização flexível dos instrumentos de avaliação de desempenho escolar, adequando-os

às necessidades dos alunos.

Enlaçando nossa pesquisa com as professoras e os documentos oficiais

proclamados, vimos quão longe uns estão dos outros. Embora tenhamos focalizado uma

realidade local, suspeita-se que ela seja muito semelhante a diversas outras realidades

nacionais.

Skrtic (apud, Bueno, 2012), trás dois tipos de criticas ao conhecimento da

educação especial, ou seja, a que se volta ao conhecimento prático e aplicado, e outro a

que se incide sobre as teorias que fundamentam a educação especial, denominada de

critica teórica. O autor mostra que a critica sobre o conhecimento prático pode favorecer

um avanços nas habilidades e procedimentos dos profissionais da área, entretanto elas

não conseguem atingir e nem alcançar os fundamentos teóricos que a sustentam.

Os estudos no Brasil têm demonstrado, mesmo implicitamente, que as

dificuldades ocorrem em razão das professoras não terem formação adequada e que há

falhas no processo diagnóstico da deficiência intelectual. Há um descompasso entre as

politicas de saúde e de educação e inexistem pesquisas sobre o tipo de formação que

está sendo oferecido aos professores.

Continua a critica enfatizando também a inexistência de pesquisas que

analisem as experiências de inclusão, buscando saber se elas estão superando a

perspectiva biomédica; e pouco interesse em investigar com profundidade a

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flexibilização e adaptação curricular. Esta última será discutida na categoria seguinte na

nossa pesquisa.

Freitas (2006) aponta que o processo inovador não pode reduzir-se a uma mera

mudança de posicionamentos, devendo estes serem transformados na prática. Muitas

das inovações propostas perdem-se antes de chegar às salas de aula, fazendo com que a

mudança educacional pareça ser uma eterna utopia. O professor terá de ser capaz de

analisar situações, identificar problemas e procurar soluções, o que não é tarefa fácil,

diante da complexidade do próprio tema em questão.

A angústia, o sentimento de fracasso apresentado pela professora que revela

estar despreparada e angustiada (SJ5), nos induz a pensar que esse dilema surge como

resultado de um sistema escolar que fracassa e ao mesmo tempo provoca no sujeito que

ensina o sentimento de culpabilidade pela não aprendizagem. Não estamos aqui

defendendo a ideia de que o professor é a vítima da situação educativa, no entanto,

todos que pensam e fazem a educação devem estar envolvidos na transformação da

escola.

Esse medo de prejudicar e essa atitude paralisante, como refere Carvalho

(2000), são as barreiras da inclusão, pois a escola precisa disponibilizar informações,

acompanhamento, cursos, debates e outras atividades, para facilitar o bom andamento

dos trabalhos do professor com seus alunos com deficiência.

A inexperiência aliada à expectativa construída por atribuições sociais faz com

que a professora sinta-se incapaz de corresponder ao esperado dela como exigência do

contexto social em que está inserida. A angústia se expressa de muitas maneiras e uma

delas é a sensação de desamparo e de desorientação diante das exigências da vida.

ZIBETTI (2004) afirma que é muito comum vivenciarmos uma dolorosa

sensação de impotência, advinda da perda de parâmetros e da fragmentação da

experiência cotidiana e segmentos que não se comunicam nem formam um todo

coerente. Diniz (citada por Smeha & Ferreira, 2008) aponta para uma insatisfação

generalizada por parte dos professores, manifestando-se em forma de “negação” das

discussões inerentes ao espaço pedagógico propriamente dito e uma supremacia do

discurso da queixa.

Em relação ao despreparo das professoras, ele deve servir como um estímulo à

ampliação de conhecimentos sobre o ser humano e sobre as praticas educativas.

Descobrir-se desconhecedor não pode ser um problema que impeça o professor de

buscar meios de atender a todos os seus alunos.

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Enfim, reconhece-se que a falta de conhecimento sobre deficiência intelectual

por parte dos professores é dos principais entraves ao desenvolvimento de práticas

pedagógicas adequadas a uma ressignificação da formação escolar desses alunos. A

exigência de uma educação inclusiva desestabiliza a situação dos educadores, mas

carece de apoio e assistência à sua reformulação. Com o processo de inclusão, os

profissionais se sentem abalados, pois os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos,

o que lhes permitia sustentar sua prática, mostram-se insuficientes para o

desenvolvimento satisfatório de seu trabalho em sala de aula.

3.4 A interdisciplinaridade preconizada nas políticas públicas e a prática educativa

no cotidiano escolar

Essa categoria pretender enlaçar e discutir o princípio da interdisciplinaridade

preconizada nas políticas públicas e a prática educativa exercida na escola diante da

educação especial na sala regular. Nessa categoria são apresentadas várias concepções e

práticas pedagógicas a partir do discurso das professoras, desde o planejamento de suas

aulas, o currículo adaptado (dentro da perspectiva da LDB/1996), a autoavaliação do

professor em sua atuação com o aluno com deficiência intelectual e por fim a

convivência social dos alunos em sala de aula com o aluno deficiente.

Cabe aqui ressaltar a concepção de Interdisciplinaridade nos documentos

nacionais, segundo Furlanetto (2014), como uma abordagem que questiona a

fragmentação do conhecimento e procura compreender a inter-relação entre os

diferentes campos do conhecimento. Ou melhor, uma possibilidade de integração do

conhecimento no contexto escolar. (p.68).

Podemos inferir que essa concepção permeia e fundamenta o principio da

educação especial, na superação da concepção de integração para o de inclusão social.

As estratégias utilizadas pelas professoras entrevistadas na sala de aula não

possibilitam o desenvolvimento do processo de inclusão escolar da criança com

deficiência. Alegam a falta de condições de ensino como também a falta de preparo

profissional para atender o aluno com deficiências.

Eu preparo igual, não tem diferença, alguns porque o ritmo é

inferior eu faço atividades diferentes, mas não porque é deficiente, mais

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porque não sabe lê nem escrever, não estão alfabetizados. Eu não aprendi

como fazer.

Declaram também, a incapacidade de reconhecer a necessidade do aluno

oferecendo atividades de baixa exigência intelectual - Eu não preparo. Eu não conheço

a necessidade dele! Então, trago atividades que acredito serem adequadas, como por

exemplo: pintura, recorte e colagem. (SJ5). Por não conhecer as possibilidades de

aprendizagem desses alunos, os professores não elaboram estratégias adequadas e

acabam por delegar a tarefa de alcança-los a outros agentes externos à sala de aula. A

desorientação e falta de ajuda para execução do trabalho é um fato real, contudo não

deve impedir que o professor busque alternativas e conhecimentos para atuar

efetivamente e afetivamente com os alunos com deficiência.

Cabe ressaltar que o êxito do processo inclusivo exige repensar desde as

estratégias, métodos, recursos, formas ou instrumentos de avaliação e não a

simplificação do currículo. As adequações curriculares e da aula, segundo Oliveira e

Leite (2000, apud, BOER, 2012, p.58), referem-se a um conjunto de ajustes nos

diferentes elementos da proposta curricular para possibilitar o processo de ensino e

aprendizagem e interação do aluno com necessidade educacional especial na dinâmica

de sala de aula.

Dentro das possibilidades apresentadas pelas professoras, observamos que há

uma tentativa de adaptar as atividades propostas para os alunos com deficiência

intelectual, apesar das dificuldades que os mesmos enfrentam, tais como: ausência de

formação especializada, auxiliar de sala para acompanhar esses alunos e planejamento

pedagógico que contemplem as especificidades em questão. Eu faço um planejamento

comum e dentro do possível eu adapto. Nem sempre eu consigo sentar com o aluno

para ajudá-lo, não tem material, nem ajuda (SJ3)

A prática inclusiva centra-se na aprendizagem e não no ensino. Quando o

professor está mais preocupado em cumprir o programa do que acompanhar o

desenvolvimento dos alunos, estará enquadrando-se mais num modelo tradicional

(RAIÇA, 2006, p. 52).

Quando são criados ambientes de aprendizagem na escola inclusiva, estes

devem acontecer de forma que a pessoa com deficiência tenha oportunidade de

participar, relacionando-se com todos os ambientes propostos. O aluno com deficiência

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intelectual deve participar ativamente do ambiente, realizando produções de acordo com

suas possibilidades e sendo sempre estimulado a avançar cada vez mais.

Entretanto, nesta pesquisa, as professoras demonstraram dificuldade de por em

prática tais orientações, tanto pelo desconhecimento, quanto pelo descontentamento em

desenvolver esse tipo de trabalho que não foi uma escolha pessoal. Pensar nos alunos

que estão avançando e com deficiência; acabo não tendo condições de atender como

deveria. Tenho seis alunos com deficiência e eu não tenho condições de auxiliá-lo.

(SJ7)

O princípio fundamental das escolas inclusivas, de acordo com a Declaração de

Salamanca (1994) consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível,

independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentam. Estas escolas

devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se

aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de

educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar,

de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as

respetivas comunidades.

Sinalizando um novo conceito de educação especial, conforme Mantoan (2006)

a Política enseja novas práticas de ensino, com vistas a atender as especificidades dos

alunos que constituem seu público alvo e garantir o direito à educação a todos. Aponta

para a necessidade de se subverter a hegemonia de uma cultura escolar segregadora e

para a possibilidade de se reinventar seus princípios e práticas escolares.

Entretanto, através dos relatos que esse princípio não está sendo aplicados na

prática cotidiana do professor e da escola, quando afirmam que preparam as aulas como

as demais sem nenhuma adequação curricular: Como eu preparo as outras, faço um

roteiro, rotina, planejamento normal e coloco as atividades anexas, jogos, brinquedos.

Não dou diferente, mais trabalho no nível deles. (SJ2)

O currículo adaptado, preconizado nos princípios da educação especial,

apresentou-se totalmente desconhecido por parte das professoras entrevistadas. As

professoras desconhecem a existência tanto do termo designado, quanto do conceito e

proposta pedagógica. "Não, nunca", a professora (SJ3) afirma: "Não. Com essas

palavras acho que não", numa tentativa de buscar dentre seus conhecimentos, algo que

sinalizasse tal conceito. A professora (SJ7) foi à única que tentou explicar, porém em

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um conceito limitado: "é onde você insere outras atividades de acordo com cada

deficiência".

O currículo adaptado está pautado na LDB (1996) e na última resolução do

CNE/CEB n° 4 de 02 de outubro de 2009 sobre as diretrizes operacionais para o

atendimento educacional especializado. Mostrou-se que o objetivo desse currículo é

estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à

disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e estratégias

que promovam a participação dos educandos nas atividades escolares. Portanto, essa

resolução reforça o desenvolvimento do trabalho do professor de sala comum em

parceria com o professor especializado.

Segundo Freitas (2006) as práticas pedagógicas na educação de alunos com

necessidades educacionais especiais estão sujeitas às influências do pensamento de que

as pessoas com deficiência têm dificuldade de aprender, em razão de considerá-las

portadoras de limitações orgânicas (p. 166).

Gil (2005) sugere que as práticas inclusivas tenham como participantes: o

professor, a família, a coordenação pedagógica e principalmente os órgãos

governamentais. De acordo com a autora, se o objetivo é transformar escolas regulares

em escolas que atendam a todos, sem discriminações, é necessário prioritariamente que

todos os envolvidos no referido processo tenham em mente o objetivo da educação

inclusiva: propiciar a participação efetiva de todos os alunos em todas as atividades da

escola e da comunidade, independentemente de suas características individuais, todos

devem contribuir para o desenvolvimento pleno deste processo.

O diretor deve ser o principal revigorador do comportamento do

professor que demonstra pensamentos e ações cooperativas a serviço

da inclusão. É comum que os professores temam inovação e assumam

riscos que sejam encarados de forma negativa e com desconfiança

pelos pares que estão aferrados aos modelos tradicionais. O diretor é

de fundamental importância na superação dessas barreiras previsíveis

e pode fazê-lo através de palavras e ações adequadas que reforçam o

apoio aos professores (apud TEZANI, 2004, p. 2; SAGE, 1999, p.

138).

A gestão escolar democrática e participativa deve ser responsável pelo

envolvimento de todos que, direta ou indiretamente, fazem parte do processo

educacional. Assim, o estabelecimento de objetivos, a solução de problemas, os planos

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de ação e sua execução assim como o acompanhamento e a avaliação são

responsabilidades de todos.

Outro ponto importante desta pesquisa, discutida nesta categoria, é como o

professor avalia a sua atuação com o aluno com deficiência. Avaliar não é uma tarefa

fácil! Envolve tomada de decisões e nem sempre conseguimos contemplar num

processo avaliativo as dimensões necessárias para atingirmos um melhor desempenho.

(SOUZA, FERREIRA, MARCONDES, 2014). Autoavaliar-se, é olhar para si mesmo,

implica ter coragem de se vê tanto positivamente quanto negativamente em nossas

dificuldades, erros e acertos.

Todas as professoras vivenciam certa angústia na autoavaliação, reconhecem

que poderiam fazer melhor. Vários são os fatores elencados por elas que dificultam sua

ação docente. A ausência de suporte para trabalhar com os alunos, como afirma a

professora (SJ1): “Eu gostaria muito de ter mais suporte para trabalhar e atender

melhor esse aluno especial" leva-nos a compreender a necessidade de políticas públicas

efetivas e não somente proclamadas para assegurar o direito da criança com deficiência

assim como a responsabilidade de todos nesse processo.

A professora (SJ2) afirma que sua atuação é deficiente e deixa a desejar: “Eu

acho muito deficiente! Eu queria poder dar mais, ter cursos, fazer um trabalho melhor,

mais além de faltar conhecimentos que eu sei que não tenho, me falta também

recursos", constatamos de fato a importância da formação continuada como alicerce

para o trabalho do professor. Percebemos que há necessidade dessas professoras de

deslocar o compromisso de levar o aluno deficiente a aprender para impossibilidades

externas, como ausência de recursos, apoio, entre outros.

Tardif (2012) afirma que todo trabalho humano, mesmo o mais simples e mais

previsível, exige do trabalhador um saber e um saber-fazer. No caso dos professores é

como se o trabalho deles fosse permeado por diferentes saberes; mas esses saberes não

pudessem e nem devessem ser produzidos pelos próprios professores- Eu não sei fazer e

às vezes fico tratando diferente. (SJ4)

A professora (SJ7) relata: "(...) eu fico entre a cruz e a espada. Eu tenho que

desenvolver aquele aluno, avançar aquele aluno que está aprendendo e com eles eu

tento na medida do possível, com o que eu tenho". A angústia de não dar conta, de se

encontrar numa zona de limite entre "a cruz e a espada”, sala de aula cheia, uns

alfabetizados, outros se alfabetizando e os que possuem deficiência intelectual. As

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condições de trabalho dessa professora implicam sua atuação de forma que ela

reconhece que poderia ser melhor, mas não tem meios para isso.

A relação família-escola é mencionada pela professora (SJ3), cujas

responsabilidades nem sempre são cumpridas, dificultando ainda mais o trabalho do

professor. A escola e a família são parceiras no que diz respeito ao crescimento do

indivíduo. Quando essa parceria é bem estabelecida facilita a promoção de situações de

aprendizagem tanto na área cognitiva como afetivo-social.

Eu acho que eu poderia fazer muito mais, isso é angustiante, porque

você vê que o aluno está precisando mais de alguma coisa e você não

pode ir além daquilo, porque existe uma linha, até onde o professor

pode ir, o tempo que a gente tem são só quatro horas e o resto da

responsabilidade que é da família (SJ3).

Na realidade, segundo Tardif (2013, p. 159), a relação afetiva com os alunos,

mesmo quando é positiva, depende de múltiplos fatores não afetivos: a pobreza, a

dificuldade dos grupos, a idade dos alunos, as deficiências, para se chegar a seus fins

durante suas diversas interações. Não existe educação possível sem um envolvimento

afetivo ou emocional, ou seja, motivação, também dos alunos.

Na situação de sala de aula, segundo SILVA (2012), quando se favorece a

existência da expressão desses sujeitos é que se processam as verdadeiras relações

humanas. Dessa forma, as pessoas se constituem mais em sujeitos do que em objetos.

Sobre a questão da convivência da turma com os alunos deficientes, as

professoras relatam que não há preconceito evidente e que todos se ajudam. A situação

é visível nos relatos:

Quando tem educação física, fila, eles colocam ele na frente. A

inclusão neste sentido é feita, os alunos entendem que ele tem uma

deficiência, é diferente. Diferente todos são! Mais eu digo que eles

conseguem vê um déficit nele, aí eles são cooperativos e ajudam.

(SJ4);

Eles recebem muito bem, nunca houve preconceito nenhum da turma

em relação a eles, ao contrário eles gostam de sentar, ajudar. (SJ6)

As experiências do cotidiano têm que ser compartilhadas e é na cooperação que

se constrói a história dos indivíduos. As interações são benéficas para todos os alunos e

as privações dessas interações é que dificultam a concretização do processo de inclusão.

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As professoras se preocuparam em relatar a preparação da turma para receber

os alunos com deficiência, falando sobre o respeito e tentando descrever como eles

seriam.

Primeiro eu faço uma conversação com meus alunos sobre aquela

criança na ausência dela, digamos que elas vão ter um coleguinha

especial um pouquinho diferente mais tem que está ali com a gente,

preparo eles e que eles tem que respeitar e ajudar aquele amiguinho

no que for preciso. (SJ1).

Excelente! Desde o primeiro momento eu trabalho as diferenças com eles e

pela questão do meu afeto, eu acho que consigo transferir para os meus

alunos e por tabela os meus alunos transferem para eles. Isso é muito

tranquilo mesmo. (SJ5):

Vários estudiosos sobre o tema DENARI (2011), MANTOAN (2006),

MAZZOTA (2008) concordam que a inclusão ela oportuniza a criança e a comunidade

escolar a convivência social, com o diferente, favorecendo o respeito, a solidariedade, a

cooperação, valores humanos que só se desenvolvem com a interação social.

Denari (2011) afirma que “esta convivência não deveria ser interpretada como

uma concessão de um determinado grupo a outro: mas sim, como um direito que a

sociedade reconhece que todos têm, sem discriminação”.(p.40)

De acordo com a professora (SJ7), a convivência é “tranquila; eles, brincam,

eles não percebem essa diferença, quem percebe somos nós; o aluno se iguala tanto o

inteligente, quanto o cadeirante, como o deficiente eles se agrupam e se ajudam”.

Nesse contexto, o professor assume um papel importante, pois é através de sua

atuação profissional que muitas barreiras para a aprendizagem podem ser removidas

para transformar os indivíduos com deficiência intelectual em sujeitos mais autônomos

e ativos socialmente.

Quando eu recebo as crianças e me dizem já no início do ano que eu

vou ter uma criança especial, eu tenho uma conversa com os outros.

Aproveito um dia que aquela criança não esteja e digo que vamos ter

uma criança especial, falo mais ou menos como vai ser o

comportamento dela e peço para eles também terem um pouco de

relacionamento com aquela criança diferenciado, digo que é um bebê

que precisa de carinho, que precisa de atenção, e que em alguns

momentos vão precisar de muita paciência. Um contrato, um acordo,

sempre que algum foge do parâmetro, eu chamo e lembro da nossa

conversa. Convivem bem. (SJ2)

É importante ressaltar que muitas vezes o deficiente intelectual não age com

autonomia, porque vive sob tutela, cuidado, superproteção e infantilização. É bastante

comum a imagem infantilizada da criança com deficiência intelectual (PINTO E GOES,

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2006). A professora chamar o aluno com deficiência intelectual de bebê é muito

comum, ou seja, ela relaciona a deficiência a uma base biológica que se vincula ao

desenvolvimento do indivíduo. Se esta professora considerasse o social, diria que a

criança reage de modo infantilizado porque foi tratada dessa forma.

Vygotski (1997) concebe o desenvolvimento como um processo cultural e

argumenta que todo funcionamento humano se origina e se transforma nas relações

sociais. Por isso, recusa a ideia de estabelecer limites a priori para os casos de

indivíduos com alguma deficiência: “o que decide o destino da pessoa, em última

instância, não é o defeito em si mesmo, mas suas consequências sociais, sua realização

psicossocial” (p. 19).

Esse “destino” depende das relações do sujeito com outros, de sua imersão em

diferentes esferas de atividade da cultura e da qualidade das experiências vividas. Está

ligado à sua inserção na vida coletiva, em que encontra as bases para construir suas

funções internas, para fazer-se indivíduo. (PINTO E GOES, 2006, p.12).

De acordo com FREITAS (2006) a natureza da função do professor,

profissional que atua nas relações humanas aliadas à tarefa de mediador na sala de aula,

coloca-o em uma situação de envolvimento pessoal nas relações que estabelece com

seus alunos e seus pares. O acolhimento do professor aos alunos não pode ser

confundido com piedade, pois o cuidado deve ser expresso em atitudes, na crença de

que o aluno pode aprender e que o professor pode fazer algo para que isso se efetive.

3.5 - O enfrentamento da exclusão social dos alunos com deficiência e as condições

de ensino

Apresentaremos nesta categoria a discussão sobre o princípio que norteia as

políticas públicas de educação inclusiva, partindo do pressuposto inicial do

enfrentamento da exclusão social dos alunos com deficiência relacionando às condições

de ensino que favorecem ou não essa exclusão ou inclusão no cotidiano escolar.

Para o auxílio a esses alunos, as ações dependem do trabalho realizado por

profissionais de educação preparados para atuar em classes comuns com alunos que

apresentam alguma deficiência. As estratégias utilizadas pelos professores na escola e

na sala de aula possibilitam o desenvolvimento do processo de inclusão escolar de

crianças com deficiência, levantando questões relacionadas ao envolvimento do docente

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com esse trabalho e a necessidade de equiparar oportunidades de acesso e aprendizagem

para todos os alunos.

A escassez de recursos é um dos problemas enfrentados pelas professoras.

Verifica-se que algumas professoras sabem quais são os recursos necessários, porém

não os utilizam; enquanto outras não demonstram disponibilidade para construir ou

adaptar recursos essenciais.

Eu recebi da sala de recursos, algum material. Mais nada da escola,

ou da Semed, nunca recebi nada para trabalhar com as crianças com

deficiência. (SJ2).

Até tem algumas coisas, agora você encontrar. Toda vez que você

procura não tem, não acha, ou outra pessoa está usando. (SJ7).

Observamos nas falas das professoras a rejeição ao processo inclusivo quando

nos deparamos com afirmações do tipo: “Eu não conheço, não tenho não”. (SJ4). Por

não conhecer as possibilidades de aprendizagem desses alunos, os professores não

elaboram estratégias adequadas e acabam por delegar a tarefa de alcança-los a outros

agentes externos à sala de aula. Como afirmamos anteriormente na categoria de prática

e interdisciplinaridade, a falta de auxilio e apoio para a execução do trabalho é uma

realidade, contudo não pode impossibilitar a construção de alternativas e materiais

adaptados para o uso efetivo do aluno com deficiência.

Segundo SAGE (1999) a burocracia nas escolas reduz o poder de decisão dos

professores, provocando serviços despersonalizados e ineficientes, impedindo a

consolidação do modelo de trabalho cooperativo essencial para a educação inclusiva.

Acrescenta que o desenvolvimento da equipe proporciona a oportunidade de identificar

lideranças na unidade escolar, o que encoraja a ajuda mútua entre os professores e assim

reforça comportamentos cooperativos.

Para Tezani (2004, p. 44) compreender o papel da gestão pedagógica no

processo de educação inclusiva é aceitar que:

[...] este tem o papel de implementar a política; ou seja, realizar em

ações o que a proposta de Educação Inclusiva se propõe a fim de

(re)significar e (re)construir culturas inclusivas [...]. O gestor que

prevê a articulação com o currículo em torno da avaliação,

procedimentos metodológicos, conteúdo e aprendizagem, bem como,

do fazer pedagógico, propriamente dito que operacionaliza a interação

dos elementos escolares, na promoção do fazer coletivo a fim de

construir e legitimar objetivos educacionais comuns, direcionados em

práticas pedagógicas mais inclusivas.

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Para Lima (2005, p. 100) “assumir o compromisso de organizar uma escola

inclusiva está longe de ser uma tarefa fácil, cômoda ou simples”, até mesmo porque esta

transformação coloca em choque os antigos valores estabelecidos em meio a este

contexto, assim como desnuda as falhas e expõe as escolas a suas limitações. Em

consonância com a autora, VIOTO & VITALIANO (2012) reconhecem que é

necessário considerarmos que, somente a partir das transformações decorrentes nos

sistemas organizacionais educacionais, a escola poderá criar novos valores, e,

consequentemente, uma nova cultura escolar, partindo, dessa forma, da conscientização

de todos os profissionais envolvidos nesse processo, em especial a gestão pedagógica.

Conforme discute Rodrigues (2006, p.13), a educação inclusiva não é uma

cosmética da educação tradicional nem uma simples estratégia de melhoria da escola;

constitui a promoção da formulação da educação em novas bases que rejeitem a

exclusão e promovam uma educação diversa e de qualidade para todos os alunos.

O discurso das professoras que não têm recursos e das outras que desconhecem

sua existência e o modo adequado de usá-los, reforçam a ideia da precária formação do

professor como também revela a postura de delegar aos outros, parte de sua

responsabilidade profissional no processo de inclusão.

Oportunizar à criança com deficiência intelectual a aprendizagem é favorecer o

processo de inclusão social e combater a exclusão do processo de escolarização. O

professor tem que estar atento às inovações exigidas pela própria profissão, já que

ensinar requer aprendizagem constante. No caso específico das pessoas com deficiência

intelectual, o professor deve saber, por exemplo, que o aprendizado dessas pessoas é

significativamente maior com atividades que envolvam pistas visuais e situações

concretas que possam ser associadas ao cotidiano. (RAIÇA, 2006, p.55)

Esse desafio pressupõe uma mudança na tradição pedagógica e um

papel diferente do professor, que terá de ser capaz de analisar

situações, identificar problemas e procurar soluções. Entendemos que

o processo inovador não pode reduzir-se a uma mera mudança de

posicionamentos, precisando-se que estes sejam modificados na

prática. Muitas das inovações propostas perdem-se antes de chegar às

salas de aula, fazendo que a mudança educacional pareça ser uma

eterna utopia, embora certa utopia faça parte da própria ideia de

inovação (FREITAS, 2006, p. 176).

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Quanto ao apoio da equipe técnica e de gestão da escola foi possível observar a

ausência de articulação específica, e, de orientação geral, para a ação pedagógica; assim

como a ausência de pouca mobilização e articulação com a Secretaria Municipal de

Educação no que se refere à educação especial para as professoras de ensino regular.

Tivemos uma palestra de três horas na Secretaria de Educação, que

ela deu um site para a gente pesquisar. Mais não tenho como.

Trabalho os dois horários na escola, só tenho a noite, geralmente eu

tenho muitas obrigações em casa para fazer e meu final de semana é

muito corrido, eu tenho que preparar material para a semana toda.

Tenho bastante dificuldade. (SJ2)

O enfrentamento do desafio de trabalhar com a inclusão, de um lado, implica

uma composição de equipe, cujo esforço conjunto para compartilhar experiências seja

amplo e viabilize soluções criativas para os problemas comuns, criando-se laços de

apoio, respeito e aprendizagens das experiências dos outros (DENARI, 2011, 41).

Ainda segunda a autora, a efetividade do processo de inclusão depende de os

professores estarem dispostos a ampliar as relações sociais a partir das diferenças nas

salas de aula e de predisporem-se para atendê-las com eficácia. Para tanto, professores e

demais membros da equipe escolar (coordenadores, diretores, supervisores) necessitam

contar com um repertório de destrezas, conhecimentos, enfoques pedagógicos, métodos,

materiais didáticos adequados e tempo suficiente para dispensar atenção a todos os

alunos, e àqueles com necessidades especiais. (2008, p. 37).

Podemos considerar que os mecanismos de exclusão, na maioria das vezes,

resultam do medo diante do desconhecido, de preconceitos e de outras dificuldades

emocionais vividas pelas diferentes pessoas, com deficiências ou não, no cotidiano.

Além das questões relativas à capacitação do educador, devemos lembrar que o

espaço da escola conta hoje com muitas barreiras arquitetônicas, falta de mobiliários

adaptados, ausência de equipamentos de ajuda e de materiais pedagógicos adequados

para as diferentes dificuldades (visuais, auditivas, cognitivas e motoras). Esses fatores,

apesar de não serem determinantes, também dificultam o acesso pleno ao espaço regular

de ensino.

Segundo Rocha, Luiz e Zulian (2003) paralelamente à preparação dos

professores, dos equipamentos, dos materiais pedagógicos e dos espaços físicos, há o

fato de que a maioria das crianças com deficiência não conta com serviços de saúde e de

reabilitação. Muitos alunos não têm tratamentos básicos que facilitariam o seu

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desenvolvimento e, portanto, o seu processo de aprendizagem formal. Nesse contexto,

os professores se sentem órfãos em uma proposta que necessita de parcerias e apoios,

desconhecem questões básicas sobre as condições dos alunos com deficiência e muitas

vezes se sentem impotentes em sua ação específica.

Eu tenho quatro alunos com déficit de aprendizagem, dificuldade

motora, e outras dificuldades e eu não tenho suporte, nem de

material, nós temos uma psicopedagoga na escola mais é pouco uma

pessoa para demanda de uma escola. Não tem como, é um tempo

curto e além dos alunos que a gente tem em sala de aula há

resistência que a família dos alunos oferece quando a gente chama

para enviar, encaminhar para assistência (ADEFAL/ AAPE/

PESTALOZZI). (SJ3)

A falta de conhecimento sobre aspectos peculiares às deficiências e sobre as

possibilidades de cada criança também gera situações de medo, de recusa, de

preconceito em relação à presença do aluno deficiente em sala de aula. Temos, assim,

alunos impotentes, desmotivados e professores assustados e reativos, acreditando que o

aluno deficiente é um grande problema, aliado aos outros já recorrentes na escola.

Muitas vezes, vivem situações de faz de conta que a criança está na escola. Ela somente

assiste o que ocorre ao seu redor e o professor não se responsabiliza pelo ensino e

avaliação desse aluno.

Quando um aluno dito normal, que não acompanha a gente manda

para um reforço, e porque esse aluno com toda esta deficiência não

tem esse amparo legal, de outros profissionais, e o acompanhamento

médico. A gente não tem, fica fingindo que incluiu ele apenas para

atender a lei apenas no sentido do espaço. (SJ4)

O aluno não avança, eu preciso de alguém! Que me ajude! Me

respalde com um relatório. Eu não vou passar esse aluno porque eu

quero. O que foi feito esse ano para esse aluno ser aprovado? Um

aluno que não faz nada que não aprende, não avança, não sabe

escrever o nome, não tem coordenação motora nenhuma. (SJ7)

A necessidade de apoio e condições para o trabalho docente, apontadas pelas

professoras são extremamente necessárias; a ajuda e envolvimento de todos em um

trabalho coletivo destinado à inclusão de todos.

Podemos concluir que, diante dos relatos das professoras entrevistadas sobre a

inclusão do aluno com deficiência intelectual, não cabe mais ficar discutindo se é

possível ou não incluir, seja aluno com deficiência ou não, mas descobrir o que fazer

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diante da realidade para que ela se efetive. Para isso as professoras precisam rever suas

crenças e valores a respeito da deficiência e ocuparem-se de promover mudanças na

prática pedagógica e apropriação do conhecimento de modo que elas sejam,

verdadeiramente, inclusivas.

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IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo central deste trabalho de pesquisa foi conhecer a atuação do

professor que atenda alunos com deficiência intelectual em sala de aula regular do

Ensino Fundamental, visando verificar o nível do saber-fazer pedagógico concernente

às garantias da educação inclusiva estabelecidas pela legislação brasileira.

Pode-se afirmar, em consonância com Ludcke (2013), que o estudo de caso

apresenta particularidades interferentes nas expectativas do pesquisador, na medida em

que o conhecimento é construído em uma dinâmica de idas e vindas e o que parece

concluído em um dado momento é descontruído a seguir.

Através das entrevistas com as sete professoras ocupadas diretamente com

alunos intelectualmente deficientes e do estudo dos documentos oficiais proclamados,

verificou-se que, de fato, a inclusão é uma realidade muito distante das práticas

pedagógicas desenvolvidas na escola pública.

Ainda que esta pesquisa tenha se restringido a uma escola da rede pública de

um bairro da periferia de Maceió, capital de Alagoas, é possível dizer que a realidade

dessa escola assemelha-se à grande parte das escolas do país. Na prática, esses

documentos nada interferem na ação dos professores que lidam diretamente com o

processo de inclusão das crianças com deficiência.

A pesquisa realizada leva a pensar que a educação extensiva a todas as crianças

e jovens, independentemente de suas condições de aprendizagem e da existência de

deficiências de qualquer tipo, só ocorrerá se houver garantia de melhores recursos

didáticos e condições efetivas de estudo e aperfeiçoamento para os professores. Sem

isso, esse direito legítimo não se viabilizará.

Destacamos que a formação dos professores ainda está longe de prepará-los

para alcançar os ideais da escola inclusiva e para todos. A angústia do professor e a

solidão em que sua prática profissional está assentada revelam um hiato entre a teoria e

a prática. Mostrando que a escola, em sua ampla dimensão, não está preparada para

lidar com a diversidade.

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Nos relatos das professoras detectamos a falta de articulação e apropriação de

certos conhecimentos essenciais aos cursos de graduação em Pedagogia atuais. A

ausência de práticas relativas à educação especial é uma falha a ser corrigida,

considerando-se que o trabalho em sala de aula não será resolvido apenas com bases

teóricas.

Em termos de atuação profissional, os relatos indicam que o compromisso com

o trabalho está relacionado ao investimento pessoal do professor. Os professores do

ensino regular consideram-se incompetentes para tratar as diferenças em sala de aula,

sobretudo com alunos que apresentam algum tipo de deficiência e, por isso nada fazem

para modificar sua ação pedagógica, cristalizados que estão tanto na ação quanto no

discurso.

O professor é um sujeito do conhecimento, um ator que desenvolve saberes

através de sua própria ação. A partir do momento que este professor não se reconhece

como esse sujeito, sua prática fica desprovida de um saber significativo. Sua ação é

meramente intuitiva e improvisada e por isso pouco eficiente em termos dos objetivos

programados.

A escassez de recursos foi outro problema relatado pelas professoras. Fica

evidente que algumas os conhecem, porém não os utilizam. E outras, não estão

disponíveis para produzir e adaptar recursos adequados.

Quanto à avaliação que as professoras fazem de sua atuação com o aluno

portador de deficiência intelectual, foi possível confirmar que não se sentem preparados.

As professoras afirmaram em suas respostas que poderiam melhorar sua atuação, mas

vários fatores as impedem de alcançar esse objetivo. Falta-lhes suporte material, as salas

de aulas têm excessivo número de alunos, a jornada de trabalho é longa e, ainda, as

famílias nem sempre participam de forma positiva. Fora da sala de aula, os serviços são

escassos tanto no que se refere ao atendimento especializado no âmbito educacional

quanto na oferta de serviços clínicos específicos.

Dentre os sentimentos das professoras com relação ao trabalho de inclusão,

destacam-se: o choque sentido por elas no início do trabalho com alunos deficientes.

Isso que faz com que percebam as deficiências em sua formação e a falta de treinamento

profissional; além do reconhecimento de que esses novos aprendizes levam-nas a

reorganizar suas convicções sobre a função do conhecimento e do papel do professor.

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Podemos afirmar, diante das opiniões das professoras sobre a inclusão dos

alunos com deficiência intelectual, que esta oportuniza a interação social. Contudo, sem

o apoio da equipe e de uma ação conjunta entre os órgãos públicos e a comunidade, essa

inclusão, ao final torna-se nova forma de exclusão. Embora, a inclusão escolar seja

contemplada em lei e tenha como meta recuperar toda a história de segregação,

isolamento, discriminação e preconceito, sua prática está longe desse ideal.

Outra constatação importante foi o desconhecimento total entre todas as

professoras sobre o que é currículo adaptado; tanto sobre o uso da terminologia quanto

ao conceito e função pedagógica. Ao término das entrevistas, o conceito de currículo

adaptado, presente na LDB (1996) e na última resolução do CNE/CEB n° 4 de 02 de

outubro de 2009 sobre as diretrizes operacionais para o atendimento educacional

especializado, foi esclarecido às professoras. Com isso, puderam compreender as

intenções educativas de buscar estabelecer articulação com os professores da sala de

aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de

acessibilidade e estratégias que promovam a participação de todos os educandos nas

atividades escolares.

Outra questão importante foi à concepção de deficiência intelectual com a qual

os professores trabalham. Contatou-se há um desconhecimento geral em torno do

conceito de deficiência intelectual que está sendo confundido com a ideia de doença

mental ou de dificuldades de aprendizagem.

Importante ressaltar que o despreparo pode ser ponto de partida para a

aquisição de novos conhecimentos sobre o tema. Claro que o tema exige estudos

orientados por profissionais capacitados, mas o desconhecimento não pode significar

paralisia frente aos desafios da sala de aula, resultando em prejuízos, às vezes,

irrecuperáveis a todos os alunos. O comprometimento profissional do professor, nesse

caso, tem reflexos sociais muito significativos, pois a superação de barreiras de

aprendizagem podem transformar os indivíduos com deficiência intelectual em sujeitos

mais autônomos e ativos socialmente.

Vale dizer, que a constituição do direito de formação escolar satisfatória aos

portadores de deficiência intelectual (e de todas as outras pessoas) impõe mudanças

radicais à formação acadêmica do professor e de todas as ações de formação continuada.

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Com isso, pode se operar uma mudança importante no sentido da abolição de variados

preconceitos relativos ao papel social de inúmeras pessoas.

O ato de ensinar é muito mais abrangente do que simplesmente transferir

conhecimentos. Para Freire (2009), ensinar exige autonomia, ou seja, liberdade de

pensar, conhecer, procurar, perguntar e de questionar. Assim sendo, somente a partir de

uma ressignificação da concepção de educação inclusiva nas escolas e uma reflexão

científica, política e social por parte de todos os sujeitos envolvidos neste processo é

que podemos visualizar uma escola de fato para todos, respeitando as singularidades e

promovendo o desenvolvimento integral da criança com deficiência intelectual e suas

especificidades.

Como afirma Rodrigues (2006), os programas de educação inclusiva

mostraram que os governos nacionais de diversas regiões do mundo consideram-na a

primeira, e talvez mais decisiva, intervenção preventiva da exclusão social.

Proporcionar a todas as crianças uma experiência educativa de qualidade requer um

compromisso ético e político, prerrogativas essenciais de toda sociedade democrática.

Confirmamos os avanços das políticas para a educação inclusiva, entretanto na

prática, no cotidiano do saber-fazer do professor, esses ideais ainda se encontram

distantes de serem efetivados.

Portanto, esperamos que o conhecimento e reflexão oferecidos por esta

pesquisa contribuam para a implementação de políticas e programas que oportunizem a

escolarização, de fato e de direito, das pessoas portadoras de qualquer tipo de

deficiência. Mais que isso, espera-se que a educação inclusiva amplie o olhar da

sociedade brasileira, a fim de que abolindo preconceitos sejam abolidos e as diferenças

assimiladas com maior facilidade.

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APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO SÓCIO DEMOGRÁFICO

Dia/mês/ano da entrevista:_____________________________________________

Nome da escola: _____________________________________________________

Nome do professor:___________________________________________________

Endereço___________________________________________________________

Carga Horária de trabalho______________________________________________

Turno______________________________________________________________

Formação: local e ano ________________________________________________

Possui especialização em: _____________________________________________

Possui Mestrado em: Título da dissertação: Local (onde realizou) e ano

____________________________________________________________________

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APÊNDICE B

ROTEIRO PARA ENTREVISTA

1. Como você vê a inclusão na sua escola?

2. Como Você Professor (a) se vê diante dessa política de inclusão escolar? Você se

sente preparado (a) para lidar com o aluno (a) deficiente intelectual?

3. Como você prepara sua aula para atuar em uma sala de aula regular com o aluno com

deficiência intelectual?

4. Você já ouviu falar em currículo adaptado? Em caso positivo, você sabe como fazê-

lo?

5. A escola disponibiliza material adaptado ou recursos para as atividades em sala de

aula? Em caso positivo, Você também recebe orientação em como utilizar o material ou

recursos disponibilizados?

6. Como é a convivência da turma com o aluno com deficiência intelectual? Descreva.

7. Como você avalia sua atuação com o aluno com deficiência intelectual?

8. Qual a sua visão sobre a inclusão do aluno com deficiência intelectual na sala

regular?

9. Como você descreve a deficiência intelectual?

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ANEXOS

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ANEXO A

Comitê de Ética em Pesquisa

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

A Sr(a) _________________________________________________________, RG

__________________, nascida em ______________________________, do sexo Feminino,

residente

à_____________________________________________________________________da

Escola de Ensino Fundamental Dr. Balthazar de Mendonça de Maceió –Al, endereço: RUA

DIVISÓRIA, S/N, JACINTINHO CEP 57040-250, Maceió - AL, está sendo(a) convidado(a) a

participar do estudo INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL:

UM DESAFIO PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS E COTIDIANOS ESCOLARES. Cujo

objetivo é compreender a atuação do professor da sala regular no Ensino Fundamental do

município de Maceió, com alunos que possuem deficiência intelectual, visando posterior

intervenção nessa atuação. Para tanto utilizaremos a Entrevista semiestruturada com sete

professoras, cujo critério de inclusão/exclusão é professoras que atuam diretamente com alunos

que possuem deficiência intelectual na sala regular, em horário pré-estabelecido para que não

haja transtornos nem perdas para os alunos no momento destas entrevistas com uma professora

auxiliar para substituí-las no momento da entrevista. Qualquer dúvida ou esclarecimento poderá

ser dado pelo pesquisador responsável, Drª Sandra Lúcia Ferreira Acosta Soares, que pode ser

encontrada na Rua Cesário Galeno, 448/475, Tatuapé, Universidade Cidade de São Paulo-

UNICID ,São Paulo/SP Cep 03071-000 Telefone: (11) 2178-1294 e-mail:

[email protected] Sr (a). tem garantia de sigilo de todas as informações coletadas

e pode retirar seu consentimento a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou perda de

benefício.

Declaro ter sido informado e estar devidamente esclarecido sobre os objetivos deste estudo,

sobre as técnicas e procedimentos a que estarei sendo submetido e sobre os riscos e

desconfortos que poderão ocorrer. Recebi garantias de total sigilo e de obter novos

esclarecimentos sempre que desejar. Assim, concordo em participar voluntariamente deste

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estudo e sei que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou

perda de qualquer benefício.

Data: 31/03/ 2014

_____________________________________________

Assinatura do sujeito da pesquisa ou representante legal

Pesquisador responsável / orientador

Eu, Sandra Lúcia Ferreira Acosta Soares, Responsável pela pesquisa INCLUSÃO DE

ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: UM DESAFIO PARA AS POLÍTICAS

PÚBLICAS E COTIDIANOS ESCOLARES. Declaro que obtive espontaneamente o

consentimento deste sujeito de pesquisa (ou de seu representante legal) para realizar este estudo.

Data: __/__/___

__________________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

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ANEXO B

Comitê de Ética em Pesquisa

Termo de Comprometimento e Sigilo

Eu, Sandra Lúcia Ferreira Acosta Soares, responsável pela pesquisa Inclusão de alunos

com deficiência Intelectual: Um desafio para as políticas públicas e cotidianos

escolares. Declaro meu comprometimento ético em manter o mais alto grau de

segurança e sigilo em relação à identificação dos professores entrevistados, da (o)

Escola de Ensino Fundamental Dr. Balthazar de Mendonça, da (o) qual recebi

autorização formal para tal entrevista.

Data: __/__/___

__________________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

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