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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PESQUISA ENFERMAGEM HOSPITALAR ELZENI DOS SANTOS BRAGA TECNOLOGIA E TECNOVIGILÂNCIA EM SAÚDE E OS NEXOS COM A QUALIDADE DO CUIDADO DE ENFERMAGEM EM TERAPIA INTENSIVA NEONATAL RIO DE JANEIRO Março / 2010

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

    NCLEO DE PESQUISA ENFERMAGEM HOSPITALAR

    ELZENI DOS SANTOS BRAGA

    TECNOLOGIA E TECNOVIGILNCIA EM SADE E OS NEXOS COM A QUALIDADE

    DO CUIDADO DE ENFERMAGEM EM TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

    RIO DE JANEIRO

    Maro / 2010

  • ii

    ELZENI DOS SANTOS BRAGA

    TECNOLOGIA E TECNOVIGILNCIA EM SADE E OS NEXOS COM A QUALIDADE

    DO CUIDADO DE ENFERMAGEM EM TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem.

    Orientadora: MARGARETHE MARIA SANTIAGO RGO

    Rio de Janeiro

    Maro / 2010

  • iii

    FICHA CATALOGRFICA

    BRAGA, Elzeni dos Santos Tecnologia e Tecnovigilncia em Sade e os Nexos com a Qualidade do Cuidado de Enfermagem em Terapia Intensiva Neonatal. Elzeni dos Santos Braga. Rio de Janeiro: UFRJ/ EEAN, 2010. 191 f.: Il.; 31cm.

    Orientadora: REGO, Margarethe Maria Santiago

    Dissertao de Mestrado. REGO, Margarethe Maria Santiago. Universidade Federal do Rio de Janeiro / Escola de Enfermagem Ana Nery/ UFRJ- ps graduao strictu senso. rea de concentrao: Enfermagem Hospitalar. Tecnologia e Tecnovigilncia em Sade e os Nexos com a Qualidade do Cuidado de Enfermagem em Terapia Intensiva Neonatal.

    1. Tecnologia em sade 2.Tecnovigilncia 3. Qualidade da assistncia sade 4. Cuidados de enfermagem

    CDD 610.73

  • iv

    FOLHA DE APROVAO

    Elzeni dos Santos Braga

    TECNOLOGIA E TECNOVIGILNCIA EM SADE E OS NEXOS COM A QUALIDADE DO CUIDADO DE ENFERMAGEM EM TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

    Dissertao de Mestrado, apresentada Escola de Enfermagem Anna Ney da Universidade Federal do Rio de Janeiro para obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem

    Aprovada em: 30 / 03 / 2010 por:

    _______________________________________________________________

    Prof. Dr. Margarethe Maria Santiago Rego / EEAN-UFRJ

    PRESIDENTE

    ________________________________________________________________

    Prof. Dr Maria Aparecida de Luca Nascimento / EEAP - UNIRIO

    1 EXAMINADORA

    _________________________________________________________________

    Prof. Dr Lys Eiras Cameron / EEAN - UFRJ

    2 EXAMINADORA

    SUPLENTES

    Prof. Dr Roberto Carlos Lyra da Silva / EEAP- UNIRIO

    Prof. Dr Ceclia Maria Izidoro Pinto / EEAN - UFRJ

    RIO DE JANEIRO

    MARO / 2010

  • v

    DEDICATRIA

    Aos meus Pais.

    A arte de ser me e pai reservada aqueles que conhecem o amor e a abnegao que habitam na essncia daqueles que nos criaram e nos permitiram ser o que somos, que nos deram as mos na caminhada que nos trouxeram at aqui. Pais vocs so meu porto seguro, sem vocs nada disso teria acontecido.

  • vi

    AGRADECIMENTOS

    A DEUS.

    Por tudo que tens feito, por tudo que vais fazer. Por tuas promessas e tudo que s eu quero te

    agradecer, com todo o meu ser. Senhor te agradeo pelo teu amor e infinita misericrdia em

    minha vida, pois foi assim que consegui chegar ao final de mais uma conquista. Nos momentos

    de cansao, tristeza e dvidas senti que a tua poderosa mo me fortalecia dia a dia.. Obrigado

    pela graa. Obrigada pela vida. Muito obrigada! Eu te amo.

    minha me em especial

    Pelo amor incondicional, que a faz modelo de me, a quem agradeo pelo incentivo nos

    momentos de desnimo e pelas oraes, as quais me deram mais fora e animo para continuar

    minha caminhada. Obrigada querida mame, a quem eu amo e admiro.

    Ao meu pai em especial

    Obrigada pelo apoio, incentivo, fora e dedicao. Obrigada por sempre estar comigo,

    principalmente nas horas em que mais precisei. O senhor um exemplo de homem, inteligente,

    culto e com uma bondade tamanha em seu corao. Obrigada meu querido pai, a quem eu amo e

    admiro.

    A minha querida orientadora Margarethe Maria Santiago Rego

    Meus agradecimentos pelas orientaes e por ter feito de nossos encontros momentos marcados

    por incentivo, pacincia, colaborao e respeito. Peo a Deus por sua vida e que continue a

    iluminar seus caminhos com muita luz e sabedoria. Agradeo por todos os ensinamentos que ho

    de me acompanhar na caminhada profissional. Muito obrigada.

    Aos meus amigos e colegas de profisso e participantes do estudo

    Muito obrigada pela compreenso e apoio. Obrigada pela participao no estudo, sem vocs ele

    no seria possvel.

    Aos funcionrios da EEAN/UFRJ: Jorge e Sonia

    Obrigada por tudo, pelo atendimento atencioso e pelos esclarecimentos de muitas dvidas no

    decorrer dessa caminhada. Que Deus abenoe vocs e lhes concedam o melhor que a vida pode

    dar.

    Aos membros que compuseram a minha banca examinadora

    Obrigada a todos que desde o primeiro momento teceram consideraes valiosssimas para o

    estudo. Saibam que vocs tambm so partes fundamentais deste estudo. Agradeo a Deus pela

    vida de vocs.

    Obrigada a todos que direta ou indiretamente contriburam para que este momento estivesse acontecendo. Que DEUS abenoe a todos vocs.

  • vii

    SUMRIO

    CONSIDERAES INICIAIS

    Contextualizao e problematizao do objeto de estudo 014 O objeto, as questes norteadoras, os objetivos do estudo 025 Contribuies do estudo 027

    CAPTULO l

    FUNDAMENTAO TERICA 029

    1.1- Conceitos e Especificidades da Prtica de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal 029 I.2- Tecnologia e Tecnovigilncia no Ambiente Hospitalar 032

    CAPTULO II

    REFERENCIALTERICO 038

    2.1- Fundamentos terico da Qualidade em Sade 038 2.2- Concepes de Cuidado/Conforto de Figueiredo 042 CAPTULO III REFERENCIAL TERICO METODOLGICO 050

    3.1- Tipo de pesquisa 050

    3.2- Mtodo de Investigao 051

    3.3- Cenrio do Estudo 051

    3.4- Participantes da Pesquisa 054 3.5- Caracterizao dos Participantes 056

    3.6- Estratgia de coleta de dados e participao da pesquisadora como membro do grupo 059 3.7- Aspectos ticos 061

    3.8-Critrios de credibilidade 061

    3.9-Tratamento, classificao, categorizao e anlise dos resultados 062

    CAPTULO IV

    Apresentao, anlise e discusso dos Resultados 064

    4.1 - O Ambiente do Cuidado na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e a Insero de

    Tecnologias Duras e da Tecnovigilncia 064

    4. 2 - Experincias da equipe de enfermagem e as estratgias utilizadas na relao entre

    tecnovigilncia, cuidado de enfermagem e as tecnologias nas prticas assistenciais da

    UTIN 073

  • viii

    CONSIDERAES FINAIS 113

    As estratgias indicativas da qualidade do cuidado/conforto de enfermagem em

    UTIN mediado pelo uso de tecnologias duras e re(ordenado) pelo Sistema de

    Tecnovigilncia 113

    REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 121 APNDICES 134 Apndice A - carta de autorizao para desenvolvimento da pesquisa 134 Apndice B - Termo de Consentimento Livre e esclarecido 135 Apndice C - Instrumento para coleta dos dados 136 Apndice D - Dirio de Campo 146 Apndice E - Quadro de resoluo de Problemas e Tecnovigilncia 147 Apndice F - Desenho esquemtico da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal 158 ANEXOS 160 Anexo 1 - RASP na Sade 161 Anexo 2 - Aprovao do comit de tica 167 Anexo 3 - Critrios da ONA para Neonatologia 169 Anexo 4 - Fluxograma para Notificao de Eventos Adversos em Tecnovigilncia 171 Anexo 5 - Exemplo de formulrio para Notificao 172 Anexo 6 - Equipamentos utilizados na UTIN 173 Anexo 7 - Organograma FIOCRUZ / IFF 191

  • ix

    LISTA DE ILUSTRAES E GRFICOS

    Figura 1- O esquema representativo da Teoria do Cuidado/Conforto --------------------049

    Figura 2 - Distribuio dos leitos --------------------------------------------------------------------066

    Figura 3 - Posto de enfermagem -------------------------------------------------------------------066

    Figura 4 - Armazenamento das Tecnologias Duras -------------------------------------------087

    GRFICO 1- Notificaes de Eventos Adversos -----------------------------------------------021

    GRFICO 2- Notificaes de Eventos Adversos segundo o tipo ---------------------------022

    GRFICO 3- Notificaes de Eventos Adversos segundo o tipo de produto ------------023

    GRFICO 4- Ciclo de vida das Tecnologias -----------------------------------------------------037

    GRFICO 5- Categoria Profissional ---------------------------------------------------------------056

    GRFICO 6- ndice de conformidades, parcialmente conforme e no conforme ------094

    GRFICO 7- Equipamentos com maior necessidade de treinamento --------------------103

  • x

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Sexo dos participantes -------------------------------------------------------------------056

    Tabela 2 - Idade dos participantes ------------------------------------------------------------------057

    Tabela 3 - Tempo de atuao institucional -------------------------------------------------------057

    Tabela 4 - ndice de conformidades em relao manuteno Preventiva ------------ 078

    Tabela 5 - Experincia com tecnovigilncia em UTIN -----------------------------------------080

    Tabela 6 - ndice de conformidades em relao conduta estabelecida frente ao controle de infeco e evento adverso -------------------------------------------------------------081

    Tabela 7 - ndice de conformidades em relao existncia de formulrio para notificao de eventos adversos ou queixas tcnicas -----------------------------------------083

    Tabela 8 - ndice de conformidades em relao adequao e condies de uso das tecnologias duras/equipamentos --------------------------------------------------------------------088

    Tabela 9 - ndice de conformidades em relao ao ajuste e funcionamento dos alarmes das tecnologias duras/equipamentos --------------------------------------------------------------092

    Tabela 10 Percepo dos profissionais em relao a tecnovigilncia, tecnologias e qualidade do cuidado de enfermagem na UTIN -------------------------------------------------095

    Tabela 11- Tecnologias duras treinadas ----------------------------------------------------------098

    Tabela 12 Treinamento para utilizao de tecnologias duras -----------------------------099

    Tabela 13 Grau de instruo -----------------------------------------------------------------------100

    Tabela 14- Curso de especializao ou atualizao -------------------------------------------100

    Tabela 15- Cursos realizados pela equipe de enfermagem da UTIN ----------------------101

    Tabela16- Conhecimentos dos profissionais relacionados ao princpio de funcionamento da tecnologia dura ------------------------------------------------------------------102

  • xi

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Os sete pilares da qualidade de Donabedian -------------------------------------039

    Quadro 2 Critrios de elegibilidade e inelegibilidade ------------------------------------------055

    Quadro 3 Dimensionamento da equipe de enfermagem. O real e o ideal / COFEN --069

    Quadro 4 Dimensionamento da equipe de enfermagem. O real e o ideal /ANVISA ---070

    Quadro 5 Pontos positivos no uso da tecnologia dura e ao cuidado de enfermagem-076

    Quadro 6 Pontos negativos no uso da tecnologia dura e ao cuidado de enfermagem077

    Quadro 7 Condutas frente a um evento adverso e sua respectiva notificao ---------082

    Quadro 8 Atitudes dos profissionais em caso de falhas ou no conformidades da tecnologia dura/equipamento -------------------------------------------------------------------------090

    Quadro 9 Estratgias para melhoria da qualidade do cuidado na UTIN ----------------- 111

    Quadro 10 Estratgias indicativa e elementos dificultadores para melhoria da

    qualidade do cuidado na UTIN -----------------------------------------------------------------------116

  • xii

    RESUMO

    BRAGA, Elzeni dos Santos. Tecnologia e Tecnovigilncia em Sade e os Nexos com a Qualidade do Cuidado de Enfermagem em Terapia Intensiva Neonatal. Orientadora: Dr Margarethe Maria Santiago Rego. UFRJ/ EEAN, 2010. Dissertao de Mestrado em Enfermagem. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery, 2010. 190 f.

    Trata-se de um estudo sobre a interrelao entre a tecnologia, tecnovigilncia e as estratgias para melhorar a qualidade do cuidado na perspectiva dos profissionais de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Objetivos: descrever sobre a tecnovigilncia e a utilizao de tecnologias duras nos processos de cuidado de enfermagem em unidade de terapia intensiva neonatal de um hospital da rede pblica; conhecer o entendimento da equipe de enfermagem acerca das interfaces entre tecnologia, tecnovigilncia e cuidado de enfermagem na unidade de terapia intensiva neonatal; identificar as estratgias indicadas pelos profissionais de enfermagem para melhorar a qualidade e a segurana na utilizao das tecnologias duras no ambiente do cuidado de terapia intensiva neonatal e analisar a existncia da relao entre tecnologia, tecnovigilncia e cuidado de enfermagem em terapia intensiva neonatal. Referenciais tcnicos: foram as concepes de Figueiredo sobre cuidado/conforto e a abordagem da Qualidade em Sade. Pesquisa quantiqualitativa, tipo estudo de caso, realizada atravs da observao participante e entrevista semi-estruturada com 28 profissionais de enfermagem que atuam na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) localizada no Instituto Fernandes Figueira. Este procedimento resultou em duas categorias: O ambiente do cuidado na UTIN e a insero de tecnologias duras e da tecnovigilncia e Experincias da equipe de enfermagem e as estratgias utilizadas na relao entre tecnovigilncia, cuidado de enfermagem e tecnologias nas prticas assistenciais da UTIN. Os resultados indicaram que 64,3% dos profissionais de enfermagem percebem a tecnologia e a tecnovigilncia como complementares e ferramentas essenciais para a qualidade dos cuidados de enfermagem em UTIN. O Sistema de Tecnovigilncia ainda no alcanou uma ampla abrangncia na instituio cenrio, e evidenciou como as melhores estratgias para assegurar a qualidade do cuidado/conforto mediado por tecnologias duras, no ambiente da UTIN, a educao e qualificao da equipe de enfermagem (100%). Conclui-se que, a tecnovigilncia, assim como a implementao das estratgias associadas a mudanas de culturas institucionais e profissionais no uso de tecnologias duras, so fatores fundamentais para o processo de melhorias contnuas da qualidade do cuidado/conforto e segurana para o RN internado na UTIN. Evidenciou-se que a qualidade no est apenas nas tecnologias utilizadas ou na implementao da tecnovigilncia, mas especialmente nas pessoas que realizam os cuidados e que manipulam essas tecnologias. O estudo reafirma a necessidade da otimizao do Programa de Tecnovigilncia e da efetiva participao da equipe de enfermagem nos processos relacionados ao uso de tecnologias duras com destaque para uma cultura organizacional voltada para a lgica da preveno como estratgia fundamental para a segurana e melhoria da qualidade do cuidado/conforto em Unidade Intensiva Neonatal. Palavras Chaves: Tecnologia em sade, tecnovigilncia, qualidade da assistncia sade, cuidados de enfermagem.

  • xiii

    ABSTRACT

    BRAGA, Elzeni dos Santos. Technology and Technosurveillance in Health and the Links with the Quality of the Nursing Care in Neonatal Intensive Therapy. Adviser: Dr. Margarethe Maria Santiago Rego. UFRJ/ EEAN, 2010. Dissertation of Master Degree Course in Nursing. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery, 2010. 190 f.

    It treats of a study about the interrelation between the technology, Technosurveillance and the strategies to improve the quality of the care in the perspective of the nursing professionals of the Neonatal Intensive Therapy Unit. Objectives: to describe about the Technosurveillance and the utilization of hard Technologies in neonatal intensive therapy unit of a public net hospital; know the comprehension of the nursing team about the interfaces between technology, Technosurveillance and nursing care in the neonatal intensive therapy unit; identify the strategies indicated by the nursing professionals to improve the quality and the safety in the utilization of the hard technologies in the environment of the neonatal intensive therapy care and analyze the existence of the relation between technology, Technosurveillance and nursing care in neonatal intensive therapy. Theoretical references: Figueiredos conceptions about care/comfort and the approach of the Quality in Health. Quanti-qualitative research, case study type, realized through participant observation and semi-structured interview with 28 nursing professionals that work in the Neonatal Intensive Therapy Unit (UTIN) located in the Instituto Fernandes Figueira. This procedure resulted in two categories: The care in the UTINenvironment and the hard technology and the Technosurveillance insertion and The nursing teams experiences and the strategies used in the relation between Technosurveillance, nursing care and technologies in the assistance practices of the UTIN. The results indicated that 64.3% of the nursing professionals perceive the technology and the Technosurveillance as complementary and essential tools for the nursing care quality in UTIN. The Technosurveillance System has not reached a broad extension in the institution scenary yet, and evidenced how the best strategies to assure the care/comfort quality mediated by hard technologies, in the UTINs environment, the education and qualification of the nursing team (100%). It concluded that, the Technosurveillance, as well as the implementation of the strategies associated with changes of institutional and professional cultures in the use of hard technologies are fundamental factors for the process of continuous improvements of the quality of the care/comfort and safety for the RN interned in the UTIN. It evidenced that the quality is not only in the technologies utilized or in the Technosurveillance implementation, but specially, in the persons that realize the care and that manipulate these technologies. The study reaffirms the need of the optimization of the Program of Technosurveillance and of the effective participation of the nursing team in processes related to the use of hard Technologies with emphasis to a organizational culture turned to the logic of the prevention as fundamental strategy for the safety and improvement of the care/comfort quality in Neonatal Intensive Unit. Key words: Technology in Health; Technosurveillance; quality of the assistance to health, nursing care.

  • CONSIDERAES INICIAIS

    Contextualizao e Problematizao do Objeto de Estudo.

    Hoje, no mundo contemporneo, o avano na utilizao de produtos tecnolgicos

    comercializados para a rede de sade tornou imprescindvel a busca de estratgias

    para alcanar a melhoria da qualidade assistencial, assim como a segurana dos

    clientes/pacientes 1, familiares e profissionais nas instituies hospitalares.

    Neste aspecto, a dimenso da qualidade no ambiente de cuidado hospitalar deve

    ser garantida, principalmente, pelo fato de ser compreendida como

    Um conjunto de atributos que inclui um nvel de excelncia profissional, o uso eficiente de recursos, um mnimo de risco ao usurio, um alto grau de satisfao por parte dos clientes/pacientes, considerando-se os valores sociais existentes (DONABEDIAN, 2003, p.25).

    No que se refere ao uso eficiente de recursos, possvel constatar os esforos

    de cada profissional para assegurar a qualidade e segurana do ambiente do cuidado

    no que tange, principalmente, utilizao de tecnologia de produtos para a sade -

    equipamentos, a partir de estratgias de preveno de risco hospitalar.

    (ORGANIZAO MUNDIAL DE SADE, 1996).

    Feldman (2008) fala da gesto de qualidade como um referencial para o

    desenvolvimento de uma cultura baseada na melhoria continua, tendo um enfoque

    orientado para a satisfao do usurio, na busca de motivao e envolvimento dos

    profissionais e na integrao e interrelao nos processos de trabalho.

    Inseridos nesse contexto, e desenvolvendo prticas dirias que envolvem,

    inclusive, a utilizao de produtos tecnolgicos para sade, os profissionais de

    Enfermagem desempenham papis centrais no processo de melhorias contnuas da

    qualidade do cuidado prestado aos clientes/pacientes e familiares. importante

    1 A utilizao neste estudo do termo cliente/paciente se baseia na edio 2006 do Manual Brasileiro de

    Acreditao da Organizao Nacional de Acreditao (ONA) e Ministrio da Sade/Brasil.

  • 15

    destacar que a Joint Commission International Accreditation Standards for Hospitals

    (2008, p.238) define a qualidade do cuidado como:

    Nvel em que os servios de sade prestados aos indivduos e populaes aumentam a sua probabilidade de alcanarem os resultados desejados e so compatveis com o conhecimento profissional atual. As dimenses do desempenho incluem o seguinte: questes relacionadas perspectiva do paciente; segurana do ambiente de prestao de cuidados; e acessibilidade, convenincia, continuidade, efetividade, eficcia, eficincia e oportunidade dos cuidados (2008, p.238).

    Para melhor alcanar a segurana e qualidade do cuidado, os profissionais de

    Enfermagem tm desenvolvido atividades assistenciais visando adequar o processo de

    cuidar s necessidades especficas de cada cliente/paciente. Alm disso, tem assumido

    o compromisso de promover a segurana e atuar constantemente para identificar,

    prevenir e reduzir continuamente os riscos provenientes e inerentes ao ambiente do

    cuidado e das prticas que so desenvolvidas nos cenrios hospitalares. Esses riscos

    podem ser procedentes de vrios fatores, por exemplo: instalaes; uso de

    medicamentos, estrutura fsica, processos clnicos, despreparo do profissional ou at

    mesmo, originados da subutilizao de tecnologias no setor sade.

    Cunha in Figueiredo (2004), afirma que tecnologia se refere ao processo de

    exercer a tcnica que envolve aparelhos e/ou mtodos com conhecimento cientfico.

    Esse conceito nos leva a entender que a enfermagem, ao cuidar com o subsdio

    tecnolgico, baseia esses cuidados em princpios tcnicos e racionais, devendo ainda,

    considerar os princpios cientficos, ticos e legais que permeiam a sua adequada

    utilizao.

    De acordo com Merhy (1997), as tecnologias so classificadas em trs

    categorias: as tecnologias duras, leve duras e leves. Tecnologias duras so aquelas

    constitudas por equipamentos e sua manipulao. Dentre outros, citamos os monitores

    de multiparmetros, o estetoscpio, a incubadora multiprocessada, as bombas

    infusoras e o ventilador mecnico. As tecnologias leve duras so os saberes

    estruturados, utilizados para direcionar o processo de cuidado em sade, como os

    procedimentos operacionais padro, normas, protocolos assistenciais e o conhecimento

    de diversas reas do saber como: anatomofisiologia, pediatria, neonatologia, terapia

    intensiva, entre outros. A tecnologia leve est relacionada aos relacionamentos

  • 16

    interpessoais (como o vnculo produzido entre os profissionais, os pacientes e seus

    familiares), a automatizao e o acolhimento.

    Portanto, o conceito mais amplo de tecnologia est baseado nas relaes

    humanas, visando, em primeira instncia, um cuidado integral, voltado para o

    cliente/paciente, e utilizando para este cuidado, os equipamentos necessrios para

    subsidi-lo.

    Diante desse contexto da utilizao de tecnologia no setor sade que cabe,

    neste momento, ressaltar uma preocupao que foi gradativamente aumentando ao

    longo da minha trajetria profissional, relacionada ao processo de melhorias continuas

    da qualidade do cuidado e segurana hospitalar, especialmente no que tange

    utilizao de tecnologias duras pelos profissionais de enfermagem no ambiente de

    terapia intensiva neonatal. Para melhor explicitar essa inquietao cito Halliday (1998,

    p. 83-96) quando refere que:

    Os princpios bsicos da tecnologia em sade constituem-se de antecipao, preveno, deteco, correo precoce e mnimo manuseio do quadro clnico, do paciente, otimizando o cuidado de enfermagem. A finalidade desses princpios dar suporte a vida, monitorando-a num ambiente controlado e estvel, com o mnimo de estresse para o paciente.

    O maior quantitativo de tecnologias voltadas para o setor sade disponveis

    atualmente no mercado e a necessidade de se pensar em estratgias para monitorar,

    controlar e prevenir os eventos adversos ocasionado pela significativa incorporao de

    tecnologias levaram criao da unidade de Tecnovigilncia, que visa segurana

    sanitria relacionada contnua avaliao de produtos tecnolgicos ps -

    comercializao, estabelecendo medidas de controle eficazes para atender s

    necessidades do cliente/paciente.

    Em sntese, a Tecnovigilncia tem como principal funo programar estratgias

    de preveno ou minimizao de riscos, a fim de evitar que riscos equivalentes possam

    ser produzidos em outros locais pelas mesmas causas (ANVISA, 2006 e 2008).

    Frente ao panorama atual da efetiva aplicabilidade no uso de tecnologias duras

    que emerge a motivao para a realizao de um estudo que trata da interrelao entre

    tecnologia e tecnovigilncia, e as estratgias para as melhorias da qualidade do

  • 17

    cuidado e da segurana do cliente/paciente na perspectiva da equipe de enfermagem

    da Terapia Intensiva Neonatal. Vale ressaltar, que a determinao para essa linha de

    estudo vem sendo construda desde 1995 ao atuar em uma instituio da rede

    hospitalar privada, onde havia treinamentos constantes para o manuseio das

    tecnologias duras, preveno de riscos sade do cliente/paciente, assim como

    dinmicas para a avaliao do cuidado realizado.

    Na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, so muitas as tecnologias duras

    utilizadas para ampliar a capacidade de nossos sentidos na monitorizao dos recm-

    nascidos para favorecer o suporte avanado de vida e para facilitar o imediato

    diagnstico das instabilidades, tais como: a monitorizao cardaca, a ventilao

    mecnica convencional e de alta freqncia, as incubadoras com altos recursos

    tecnolgicos, as bombas infusoras de alta preciso, equipamentos para diagnstico e

    exames clnicos, entre outros.

    Hoje, atuando como enfermeira assistencialista, em uma Unidade de Terapia

    Intensiva Neonatal (UTIN) de uma instituio pblica, observo um ambiente impregnado

    de tecnologias duras cada vez mais sofisticadas e complexas, que podem trazer

    conformidades ou no conformidades relacionadas a medidas de segurana e

    qualidade dos cuidados prestados pela equipe de enfermagem.

    De acordo com a ANVISA (2008) conformidade o cumprimento das normas

    tcnicas que se aplicam aos equipamentos tecnolgicos para a correta execuo das

    funes prometidas. A tecnovigilncia engloba conceitos como a conformidade, que o

    cumprimento das normas tcnicas que se aplicam a equipamentos tecnolgicos para a

    correta execuo das funes prometidas; a eficcia, que o efeito que resulta do uso

    do produto em condies controladas (estudos clnicos) e a efetividade, que o efeito

    obtido quando se est utilizando um produto durante os servios de rotina.

    O cumprimento dessas condies aliado ao treinamento constante e capacitao

    dos profissionais o que vai garantir a segurana e a qualidade da assistncia na

    utilizao desses equipamentos tecnolgicos, tendo como principal funo a preveno

    ou minimizao de riscos e a fim de evitar novas ocorrncias equivalentes.

  • 18

    Neste contexto, possvel perceber empiricamente no cotidiano da prtica

    profissional que, uma das principais no conformidades est relacionada

    possibilidade de uma subutilizao das tecnologias duras por profissionais de sade,

    quando h, sobretudo, dificuldades em relao ao conhecimento sobre o processo de

    funcionabilidade do equipamento. Desse modo, as no conformidades apresentadas

    podem, geralmente, ocasionar aumento dos custos para os hospitais e tambm, como

    fator mais agravante, eventos adversos graves2 em decorrncia de uma utilizao

    imprecisa ou realizada de forma inadequada. Neste sentido, tanto a incorporao

    (processo) quanto a subutilizao de tecnologias so situaes de interesse para a

    tecnovigilncia em sade.

    Diante dessas observaes, muitas reflexes fazem parte do meu cotidiano

    profissional no qual destaco, especialmente, questes direcionadas relao entre a

    tecnovigilncia em sade, a equipe de enfermagem e a utilizao das tecnologias

    duras, assim como as implicaes dessa relao na qualidade do cuidado e na

    preveno de ocorrncia de eventos adversos, sejam por falta da realizao de

    manuteno destes equipamentos, ou por insuficientes saberes estruturados, do

    profissional, para o efetivo manuseio dessas tecnologias duras.

    Segundo a ANVISA (2008, p. 2) o motivo das leses causadas por esses

    dispositivos pode estar relacionado ao fabricante, ao operador, ao usurio, ou estar

    relacionado a outros fatores, como por exemplo, o transporte externo e interno,

    armazenamento ou instalao do produto

    A OMS (2009) informa que a principal causa de erros nas instituies a

    comunicao e a segunda causa o treinamento de pessoal e que juntos formam mais

    de 50% das causas dos eventos adversos nas instituies.

    A partir da prtica vivenciada em UTIN destaco que os principais motivos de

    leses ou eventos adversos podem estar relacionados incorporao de novas

    tecnologias sem o devido treinamento dos profissionais para o manuseio; inabilidade

    2 De acordo com a RDC/ANVISA n 50 de 21 de Fevereiro de 2002 e RDC/ANVISA n180 de 18 de julho

    de 2003 Eventos adversos graves (EAG) definido como a ocorrncia clnica desfavorvel que resulte em morte, risco de morte, hospitalizao ou prolongamento de uma hospitalizao preexistente, incapacidade significante, persistente ou permanente.

  • 19

    do operador para o processo de identificao de problemas relacionados s tecnologias

    duras; falta de manuteno preventiva das tecnologias duras; inadequado

    armazenamento das tecnologias duras; inexistncia de tecnologias duras suficientes

    para atender a demanda e especificidade do cliente/paciente e inadequada

    implementao da notificao de eventos adversos e/ou queixas tcnicas. Conforme

    recomenda a tecnovigilncia (ANVISA, 2008).

    Destaco, ainda, como riscos observados na prtica diria, a utilizao de

    equipamentos para subsidiar o diagnstico e monitorizao dos sinais vitais e

    hemodinmicos dos quais podem ser estabelecidas condutas ineficazes ou imprecisas

    se a confiabilidade desses equipamentos no estiver em conformidade com os

    parmetros preconizados pelos fabricantes e legislao vigente. Ressalto tambm, os

    riscos iminentes que podem advir de alteraes dos parmetros ventilatrios, dos

    ventiladores mecnicos ou do no funcionamento de um cabo de eletrodo do monitor

    multiparamtrico o qual deixaria de mostrar o traado eletrocardiogrfico ou utilizar o

    sensor do oxmetro de pulso de forma incorreta, impedindo a captao da hemoglobina

    perifrica e visualizao das ondas plestismosgrficas do sensor de oximetria de pulso,

    o que poderia culminar no no fornecimento de dados importantes para o

    estabelecimento de condutas ou ainda, fornecimento de dados irreais e,

    consequentemente, levando implementao de condutas errneas ou ineficazes.

    Desse modo, questiono, especialmente, a necessidade de os profissionais que

    trabalham na UTIN adquirirem conhecimentos tcnicos e cientficos, alm de destreza

    para manuseio e utilizao das tecnologias duras disponveis. Questiono, ainda, em

    que medida a implementao da Tecnovigilncia est oportunizando e possibilitando

    processos eficazes e eficientes de gerenciamento e preveno de riscos na instituio

    de sade hospitalar e melhorias contnuas da qualidade do cuidado de enfermagem em

    UTIN.

    Atualmente, o Programa de Tecnovigilncia, do Ministrio da Sade / ANVISA,

    traz enormes contribuies para o processo de melhorias da qualidade na rea de

    sade, medida que visa dar suporte e efetivar um banco de dados de um sistema de

    informaes da gerencia geral de tecnologia de produtos para a sade, monitorar

  • 20

    eventos adversos; agregar e analisar as notificaes de incidentes em ambiente

    hospitalar com suspeita de envolvimento de produtos da sade; participar da formao

    e atualizao de recursos humanos em tecnovigilncia; avaliar a segurana dos

    produtos para sade; identificar e acompanhar a presena no mercado de produtos

    tecnologicamente obsoletos; fomentar estudos epidemiolgicos que envolvam

    equipamentos e artigos para sade; entre outros.

    Alm disso, o programa de tecnovigilncia contribui para facilitar o processo de

    incorporao de novas tecnologias voltadas para o setor sade, em particular as duras,

    e no cotidiano da assistncia de enfermagem, tambm, medida que a participao

    ativa dos profissionais no monitoramento, vigilncia do desempenho, segurana e

    efetividade dessas tecnologias torna-se imprescindvel para a identificao dos desvios

    da qualidade (ANVISA, 2006).

    Com o surgimento dos Hospitais Sentinelas3, criado pela ANVISA deu-se uma

    nova conotao utilizao das tecnologias duras, onde atravs da tecnovigilncia so

    fornecidos subsdios para os profissionais atuarem utilizando tecnologias sem, no

    entanto, deixar de realizar uma avaliao crtica do seu cuidado, de forma a trazer

    benefcios para o cliente/paciente assim como para a equipe multiprofissional.

    Esse controle da utilizao, qualidade, segurana e efetividade das tecnologias

    duras por uma agncia reguladora proporcionou maior controle dos prprios

    fabricantes, j que seus produtos estaro em constante avaliao com a divulgao das

    no conformidades, que podem ser notificadas atravs do um sistema informatizado,

    denominado NOTIVISA (ANVISA, 2006).

    3 O projeto Hospitais Sentinela tem como principal objetivo a construo de uma rede de hospitais em

    todo o pas, preparados para acompanhar o desempenho e notificar eventos adversos e queixas tcnicas de produtos para a sade; medicamentos; sangue e hemocomponentes; saneantes; cosmticos e produtos para higiene pessoal; alm de agrotxicos em uso no Brasil, com a finalidade de subsidiar a ANVISA nas aes de regulao destes produtos no mercado. Tem como reas integrantes a Farmacovigilncia: com atividades para deteco, avaliao, preveno e notificao dos efeitos adversos ou qualquer problema relacionado a medicamentos; hemovigilncia: para identificao, anlise, preveno e notificao dos efeitos indesejveis imediatos e tardios advindos do uso de sangue e seus componentes; Tecnovigilncia para: identificao, anlise, preveno e notificao de eventos adversos relacionados ao uso de equipamentos, artigos mdicos e kits laboratoriais durante a prtica clnica; Comisso de Controle de Infeco Hospitalar, CCIH: identificao, anlise e preveno de surtos e infeces hospitalares, controle e uso racional de antimicrobianos em servios de sade (ANVISA, 2008).

  • 21

    Nos dados fornecidos pela unidade de tecnovigilncia / ANVISA, disponvel on

    line, consta que os nmeros de notificaes recebidas no perodo de 2000 a junho de

    2009 somam um total de 21.915 notificaes sendo 2.641 somente nos seis primeiros

    meses de 2009, como observamos no grfico a seguir.

    GRFICO 1 - NOTIFICAES DE EVENTOS ADVERSOS. Fonte: www.anvisa.gov.br

    Em relao s notificaes recebidas classificadas de acordo com o tipo, ou seja,

    relacionadas s queixas tcnicas ou aos eventos adversos, observamos que as

    notificaes dos eventos adversos so bastante significativas (624), no perodo que

    varia de 2005 a 2009 conforme dados disponveis.

    http://www.anvisa.gov.br/
  • 22

    GRFICO 2- NOTIFICAES DE EVENTOS ADVERSOS SEGUNDO O TIPO. Fonte:www.anvisa.gov.br

    As notificaes relacionadas ao tipo de produto demonstram que no perodo de

    2005 a 2009 ocorreram 882 notificaes relacionadas somente aos equipamentos o

    que mostra a relevncia deste estudo, a fim de estabelecer a interrelao da tecnologia

    com a tecnovigilncia visando melhoria da qualidade do cuidado de enfermagem.

    http://www.anvisa.gov.br/
  • 23

    GRFICO 3- NOTIFICAES DE EVENTOS ADVERSOS SEGUNDO O TIPO DE PRODUTO.

    Fonte: www.anvisa.gov.br

    A implementao da Unidade de Tecnovigilncia (UTVIG), da ANVISA, nas

    unidades hospitalares tem favorecido a avaliao de forma criteriosa e a utilizao das

    Tecnologias duras. No entanto, muitos enfermeiros ainda desconhecem esse programa,

    que visa segurana sanitria, realizando estudos, anlises e investigaes de

    ocorrncias com as tecnologias hospitalares.

    A relao dos profissionais de enfermagem com as tecnologias duras cada vez

    mais intensa, haja vista a evoluo tecnolgica que ocorre de forma contnua e at

    mesmo mais rpido do que o conhecimento. Observamos isso no nosso dia-a-dia

    quando os profissionais, muitas vezes, acabam de aprender a manusear um

    equipamento, e ele j se torna ultrapassado porque j h no mercado equipamentos

    com capacidade tecnolgica mais sofisticada e com maiores recursos. Desse modo,

    http://www.anvisa.gov.br/
  • 24

    justifica-se a necessidade de uma atualizao permanente em relao utilizao

    dessas tecnologias de forma racional e baseando-se na poltica de segurana e de

    gerenciamento de risco adequado ao perfil do cliente/paciente.

    Quando pensamos em unidade de terapia intensiva neonatal, acreditamos que

    os profissionais de sade desta unidade possuem alta capacidade para lidar com os RN

    em estado crtico, utilizando equipamentos altamente tecnolgicos, os quais so

    capazes de oferecer maior sobrevida aos neonatos.

    Concordamos com Silva (2006, p.15) quando afirma em seu estudo sobre o

    significado do cuidado em terapia intensiva e a (DES) construo do discurso de

    humanizao em Unidades Tecnolgicas, que a utilizao de qualquer aparelho ou

    equipamento poder por em risco a vida do cliente, caso ele no seja adequadamente

    vigiado, sugerindo que se cuide dos equipamentos para manter a vida dos pacientes.

    Prosseguindo, o autor destaca ainda que programar os equipamentos, bem como

    ajustar os alarmes e parmetros, supervisionando seu funcionamento so exemplos de

    cuidados para com eles, assim como para os pacientes que se beneficiam de sua

    utilizao.

    A opo por estudar a interrelao tecnologia, tecnovigilncia e a qualidade do

    cuidado de enfermagem em unidade de terapia intensiva neonatal deve-se ao fato de

    ser um ambiente impregnado de tecnologias caracterizadas como equipamentos de

    suporte vida (incubadoras e unidade de calor radiante, ventiladores mecnicos);

    tecnologias de monitorizao e diagnsticos (monitores multiparamtricos,

    urodensiometro / refratmetro, glicosimetro) que levam ao estabelecimento de condutas

    clnicas aps evidncias mostradas e confirmadas em decorrncia de sua utilizao.

    Nessa linha de raciocnio, percebemos claramente a necessidade de, numa

    primeira aproximao, aprofundar estudos sobre a Tecnologia, Tecnovigilncia

    relacionando-a ao processo de cuidado de qualidade na Unidade de Terapia Intensiva

    Neonatal promovida pela equipe de enfermagem, e sobre os desdobramentos tericos

    e prticos, subjacentes prpria definio de tecnologia, tecnovigilncia e qualidade.

  • 25

    O objeto, as questes norteadoras e os objetivos do estudo

    Justifica-se este estudo pela necessidade de refletirmos criticamente sobre a

    utilizao dos equipamentos tecnolgicos no ambiente hospitalar assim como a sua

    vigilncia, visando melhorar a qualidade do cuidado de enfermagem, especificamente,

    na unidade de terapia intensiva neonatal.

    Em relao ao uso de tecnologias duras no ambiente hospitalar, cabe ressaltar a

    importncia de integrao do programa de gerenciamento de risco ao sistema de

    manuteno e rotinas de testes de segurana. Com esta integrao, as deficincias nos

    servios de manuteno de equipamentos que podem provocar a ocorrncia de

    incidentes so, na medida do possvel, identificadas e eliminadas. O gerenciamento de

    risco deve ser estruturado basicamente nas atividades de identificao dos perigos4

    existentes e de suas causas, clculo dos riscos que estes perigos representam,

    elaborao e aplicao de medidas de reduo destes riscos quando necessrias, com

    a posterior verificao da eficincia das medidas adotadas (CALIL, 2005).

    A partir desses lineamentos o objeto de estudo foi assim delimitado:

    A interrelao entre a tecnologia, tecnovigilncia e as estratgias para melhorias

    contnuas da qualidade do cuidado, na perspectiva dos profissionais de

    enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.

    Em relao tecnovigilncia, importa destacar que:

    O profissional de sade devido a sua prtica diria, a categoria mais capacitada para analisar de forma crtica e construtiva a qualidade de artigos e produtos para a sade, assim como os efeitos colaterais dos medicamentos e o desempenho de equipamentos biomdicos presentes no mercado (ANVISA, 2003).

    Concordando plenamente com esta afirmativa, vale destacar ainda, que

    sabemos que a tecnovigilncia est para a tecnologia, assim como o cuidado est para

    a qualidade. Assim, uma proposta investigativa relacionada tecnologia e

    tecnovigilncia emerge da necessidade da consolidao da integralidade do cuidado a

    4 Perigo uma fonte potencial de dano, como, por exemplo, um choque eltrico produzido por um

    equipamento durante procedimento cirrgico. O risco um valor estimado que leva em considerao a probabilidade de ocorrncia de um dano e a gravidade de tal dano.

  • 26

    partir da dimenso terica (saber da enfermagem) associado dimenso prtica do

    cuidado realizado no ambiente hospitalar de alta complexidade.

    Diante do exposto formulamos alguns questionamentos que nortearam o estudo, a

    saber:

    1. Como os profissionais de enfermagem entendem a interrelao entre tecnologia

    tecnovigilncia e cuidados de enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal?

    2. Quais so as estratgias indicadas pelos profissionais de enfermagem para

    melhorar a qualidade e a segurana na utilizao das tecnologias duras no ambiente do

    cuidado de terapia intensiva neonatal?

    3. De que forma h relao entre, tecnologia, tecnovigilncia e a melhoria da

    qualidade do cuidado de enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal?

    4. At que ponto, ou como, ou, de que forma, a tecnovigilncia possibilita a melhoria

    da qualidade do cuidado de enfermagem em terapia intensiva neonatal?

    Diante das questes apresentadas foram traados os seguintes objetivos:

    1. Descrever sobre a tecnovigilncia e a utilizao de tecnologias duras nos

    processos de cuidado de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva

    Neonatal de um hospital da rede pblica;

    2. Conhecer o entendimento da equipe de enfermagem acerca das interfaces entre

    tecnologia, tecnovigilncia e cuidado de enfermagem na unidade de terapia

    intensiva neonatal;

    3. Identificar as estratgias indicadas pelos profissionais de enfermagem para

    melhorar a qualidade e a segurana na utilizao das tecnologias duras no

    ambiente do cuidado de terapia intensiva neonatal;

    4. Analisar a existncia da relao entre tecnologia, tecnovigilncia e cuidado de

    enfermagem em terapia intensiva neonatal luz dos fundamentos tericos da

    qualidade em sade e das concepes de Figueiredo.

  • 27

    Contribuies do Estudo

    Este estudo visa contribuir para a Enfermagem no mbito do ensino, pesquisa e

    assistncia.

    No mbito da assistncia, poder contribuir para a melhoria do cuidado de

    enfermagem, assim como desmitificar o uso das tecnologias duras como sendo

    dicotomizada do cuidado e do paciente, sendo tratada como mquina dura e geradora

    de medos tanto na equipe, quanto no cliente/paciente e familiares.

    Ainda, em relao assistncia, contribui para uma reflexo sobre a prtica social

    da enfermagem no s para os profissionais que atuam na UTIN em que foi realizada a

    pesquisa, mas para todos que utilizam algum tipo de tecnologia dura para subsidiar o

    seu cuidado de maneira que realizem ou estabeleam medidas de segurana antes,

    durante e aps a sua utilizao, visando evitar a ocorrncia de eventos adversos.

    O estudo tambm contribui para promover uma reflexo crtica em relao

    tecnovigilncia e o cuidado de qualidade, como potencial de mudana da prtica

    profissional de enfermeiros e de outros profissionais que atuam em assistncia

    hospitalar, especificamente na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.

    Tendo em vista o exposto, fica claro que devemos aliar o saber tecnolgico

    assumindo o conhecimento que segundo Garcia (1998), uma forma de estar no

    mundo, implicando em considerar a capacidade do homem em usar, fazer e posicionar-

    se diante do conhecimento.

    Portanto, no que diz respeito vertente do ensino e pesquisa, o estudo pretende

    ampliar conhecimentos relacionados interrelao entre a tecnologia, tecnovigilncia e

    qualidade do cuidado de enfermagem, haja vista que os dados evidenciados

    contribuiro para que novos profissionais tenham acesso, antecipadamente, s

    questes ligadas utilizao das tecnologias duras, assim como um retorno social em

    relao promoo da segurana do ambiente hospitalar pautada em critrios

    cientficos, ticos, evidenciados a partir da prtica do cuidado de enfermagem.

    Consideramos ainda que o estudo poder colaborar para o campo da pesquisa e

    do ensino, no que diz respeito a possibilitar reflexes e discusses sobre a

  • 28

    aplicabilidade do Referencial da Qualidade em Sade e das Concepes de Figueiredo

    sobre o Cuidado/Conforto nas pesquisas de enfermagem. Desse modo, pretende-se

    apresentar elementos de uma anlise cientfica das proposies construdas por

    Figueiredo, nas quais se apia o estudo.

    O estudo tambm visa colaborar com o Ncleo de Pesquisa em Enfermagem

    Hospitalar (NUPENH), do Departamento de Enfermagem Mdico-Cirrgico da Escola

    de Enfermagem Anna Nery UFRJ, como um saber agregado aos conhecimentos j

    existentes sobre cuidado de enfermagem e qualidade do ambiente hospitalar.

    Para a instituio onde ser realizada a pesquisa, a contribuio ser atravs do

    Relatrio de Anlise de Situao Problematizadora5 (RASP- ver anexo I) onde sero

    descritas as situaes de no conformidades evidenciadas atravs das tcnicas de

    coleta de dados do estudo e ento encaminhadas para a Diviso de Enfermagem da

    instituio para as devidas providncias que forem cabveis e possveis para a

    implementao das aes que possibilitem melhoria da qualidade e segurana do

    ambiente do cuidado de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.

    5 Instrumento elaborado por RGO (2008). A enfermagem hospitalar baseada em evidncias e

    experincias: a melhoria da qualidade e segurana do ambiente do cuidado na perspectiva dos profissionais, clientes/pacientes e familiares.

  • 29

    CAPTULO I

    FUNDAMENTAO TERICA

    1.1- Conceitos e especificidades da prtica de Enfermagem em Unidade de

    Terapia Intensiva Neonatal (UTIN)

    A prtica da assistncia neonatal apresenta atualmente significativo impulso para

    a realizao de estudos que visam a sua eficcia, possibilitando um maior

    conhecimento quanto fisiopatologia dos recm-nascidos, propiciando mudanas nos

    conceitos relativos aos cuidados intensivos na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

    (RICHARDSON, 1998).

    Os cuidados intensivos neonatais, segundo a Academia Americana de Pediatria

    (IN BUDETTI, 1980), so todos os cuidados constantes e contnuos prestados aos

    recm-nascidos criticamente doentes. Alm da alta especializao da equipe de sade,

    estes cuidados envolvem tecnologias avanadas e uma estreita ligao com o servio

    de obstetrcia com o objetivo de constituir uma interao perinatal que facilite a

    assistncia aos recm-nascidos (BUDETTI, 1980).

    objetivo dos cuidados intensivos neonatais promoverem o melhor resultado

    para o maior nmero possvel de recm-nascidos. No entanto, o alcance de tal objetivo

    encerra riscos decorrentes da probabilidade de um evento inesperado, implicando tanto

    em bitos quanto em perdas econmicas, o que pode, e deve ser minimizado pela

    equipe de profissionais atuantes neste ambiente (STAVIS, 1980).

    Em 1992, a British Association of Perinatal Medicine (BAPM) e Neonatal Nurses

    Association (NNA) recomendaram novos critrios correlacionando o nvel de cuidados

    com a distribuio das atividades e utilizao de tecnologias subdividindo os cuidados

    intensivos em cuidados intensivos mximos, alta dependncia de cuidados intensivos e

    cuidados especiais. Os equipamentos necessrios para um leito so descritos para

    cada nvel de cuidado.

    A Organizao Mundial de Sade, em 1993, elaborou normas com critrios

    mnimos para os cuidados intensivos neonatais que foram adotadas pelo Ministrio da

    Sade no Brasil. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 1994) atravs de seus

    Departamentos de Perinatologia e de Tratamento Intensivo, assim como as Secretarias

  • 30

    Estadual e Municipal de Sade tambm estabeleceram recomendaes para a

    padronizao dos cuidados intensivos no pas e suas regies.

    Em 2004, a Sociedade Brasileira de Pediatria atravs de seu Departamento de

    Neonatalogia publicou um documento que abrange toda a infra-estrutura para o

    atendimento integral ao recm-nascido incluindo a unidade de cuidados intensivos em

    seus recursos fsicos, materiais e humanos (SBP, 2004).

    Neste sentido, os avanos na rea da sade tem sido de grande importncia

    para a assistncia ao recm-nascido enfermo, atravs de uma integrao de cuidados

    prestados pela equipe multiprofissional. Com a aplicao de inovaes tecnolgicas, a

    sobrevida desses recm-nascidos tem aumentado significativamente, principalmente

    para os recm-nascidos de alta complexidade e que necessitam de mltiplas

    intervenes.

    De acordo com Leape in Lener (2005) um recm-nascido internado na unidade

    de terapia intensiva neonatal, recebe cerca de 178 intervenes por dia. Assim, devido

    a essa grande necessidade de intervenes, os recm-nascidos se apresentam

    extremamente vulnerveis e, o efetivo desempenho tecnolgico e profissional, que vai

    garantir maior segurana e qualidade na prestao desses cuidados. Para isso, a

    equipe deve estar preparada e possuir alta proficincia nos cuidados aos recm-

    nascidos enfermos.

    Atualmente, recursos tecnolgicos vm sendo empregados no sentido de facilitar

    a execuo de procedimentos, sendo uma grande aliada ao desenvolvimento da

    assistncia de enfermagem aplicada aos pacientes/ clientes sob nossos cuidados.

    Nas ltimas dcadas, ocorreram significativos avanos na rea neonatal

    propiciando uma quantidade crescente de recursos tecnolgicos para o atendimento

    das necessidades de demanda dessa clientela, permitindo maior sobrevida de recm-

    nascidos extremamente enfermos e com patologias cirrgicas. Entretanto, a

    incorporao destas e de outras tecnologias ocorreu de forma rpida sem uma

    sistematizao para uma adequada difuso nas Unidades de Terapia Intensiva

    Neonatal, ocasionando um desconhecimento com relao utilizao dessas

    tecnologias e podendo levar a eventos adversos pelo uso inadequado.

  • 31

    No estudo de Mendes (2005) a respeito do ndice de utilizao de tecnologias na

    avaliao dos processos assistenciais de recm-nascidos prematuros, a autora realizou

    uma anlise da aplicao do Neonatal Therapeutic Intervention Scoring System

    (NTISS)6 como um instrumento capaz de quantificar a utilizao de tecnologias nas

    prticas assistenciais de unidades de terapia intensiva neonatal. Com o propsito de

    detectar variaes nos cuidados aos recm-nascidos de alto risco a autora comparou

    duas unidades de terapia intensiva neonatal, sendo uma da rede privada, e outra da

    rede pblica, porm, com caractersticas semelhantes.

    Foram observados 96 recm-nascidos, e a intensidade de utilizao de

    tecnologias foi medida diariamente pelo NTISS, sendo evidenciada uma curva de

    tendncia de maior utilizao de tecnologias na unidade de terapia intensiva neonatal

    pblica influenciada pela maior ocorrncia de morbidades ao longo do perodo de

    internao.

    Os resultados deste estudo sugerem que a monitorizao peridica do ndice de

    utilizao de tecnologias permite detectar variaes nas prticas assistenciais que

    podem influenciar nos custos operacionais e orientar a alocao adequada de recursos

    em terapia intensiva neonatal.

    De acordo com Wong (1999), a enfermeira alerta deve ficar atenta para

    alteraes sutis e atuar imediatamente, implementando intervenes que iro promover

    uma maior preveno de eventos adversos graves7 relacionados utilizao de

    tecnologias duras nos cuidados dispensados ao recm-nascido de alta complexidade.

    A utilizao de vrias e complexas tecnologias duras (ANEXO 6) nos cuidados

    intensivos neonatais envolve riscos de morbidades. No que diz respeito s

    possibilidades de diminuio destes riscos, quando se avalia o processo assistencial

    em terapia intensiva neonatal, uma das principais dificuldades a anlise da relao

    6 NTISS um instrumento sistematizado da avaliao de intervenes teraputicas no neonato enfermo.

    Ele avalia oito dimenses: respiratria, cardiovascular, medicamentosa, monitorizao, metablica / nutricional, transfuso, procedimento e acesso vascular. Cada dimenso tem uma pontuao que varia de 01 a 04 e representa uma medida direta da utilizao de recursos, boa predio de gravidade da evoluo do quadro clinico alm de poder identificar fatores que podem influenciar no tempo de permanncia e nas variaes das prticas assistenciais. 7 De acordo com a RDC/ANVISA n 50 de 21 de Fevereiro de 2002 e RDC/ANVISA n180 de 18 de julho

    de 2003 Eventos adversos graves (EAG) definido como a ocorrncia clnica desfavorvel que resulte em morte, risco de morte, hospitalizao ou prolongamento de uma hospitalizao preexistente, incapacidade significante, persistente ou permanente.

  • 32

    causa e efeito entre a mudana no estado de sade e a assistncia prestada (LERNER,

    2005).

    Neste contexto, vislumbramos um tratamento de qualidade ao recm-nascido

    enfermo pela equipe de enfermagem que detm conhecimentos especficos em relao

    aos cuidados desses recm-nascidos. Ao enfermeiro cabe realizar uma avaliao

    sistemtica e meticulosa para estabelecer os cuidados a serem prestados pela equipe,

    incluindo o uso de tecnologias duras e de dispositivos que auxiliem esse cuidado.

    Reconhecemos ainda a importncia do trabalho integrado dos profissionais

    envolvidos, direta ou indiretamente, no cuidado do recm-nascido de alto risco,

    necessitando tambm se manterem atualizados em relao s inovaes tecnolgicas

    especficas para o cuidado desses recm-nascidos.

    1.2- Tecnologia e Tecnovigilncia no ambiente hospitalar

    De acordo com Abbagnano (2007) Tecnologia uma palavra oriunda do Grego

    onde o seu significado quer dizer: tchne-arte; lgos-tratado.

    Figueiredo (2004) descreve claramente sobre esses termos. Para a autora tcnica

    o Esforo do homem que emprega as faculdades mentais para dominar e tornar

    utilizveis a matria e suas foras, ou seja, o que se encontra na natureza [...] ou [...]

    conjunto dos instrumentos, aparelhos e processos usados na atividade humana, ou

    ainda, conjunto dos produtos desta atividade [...].

    Portanto, a tcnica no se confunde com a tecnologia, porque esta destituda

    de base cientfica.

    Dentre os diversos autores que discutem tcnica e tecnologia, Figueiredo (2004)

    caracteriza o seguinte:

    Tecnologia de apoio cincia: produtos, processos e servios tecnolgicos de

    base cientfica desenvolvidos no para utilizao direta do ser humano em geral, mas

    criados especialmente em apoio ao desenvolvimento da cincia, que necessita de

    equipamentos cada vez mais sofisticados e tecnologicamente avanados. So as

    tecnologias que apiam o desenvolvimento cientfico nos grandes centros de pesquisa.

  • 33

    Tecnologias de inovaes: refere-se ao emprego do conhecimento cientfico de

    modo imbricado nas suas mltiplas facetas sintetizado numa inveno, mesmo que no

    plano das idias ainda se mostre possvel por meio de leis e dos princpios cientficos

    que lhe do validade. Na maior parte das vezes, as invenes ficam aguardando o

    desenvolvimento de tecnologia de outras reas para depois de materializarem como

    uma inovao, que a realizao prtica de um produto, processo ou servio

    tecnolgico de base cientfica.

    Tecnologia para o desenvolvimento de produtos e processos: constitui-se no

    emprego de tecnologias existentes ou na aplicao de novos conhecimentos para a

    criao ou o aperfeioamento de bens, processos e servios. So tecnologias utilizadas

    no desenvolvimento experimental e na engenharia que buscam empregar os

    conhecimentos adquiridos na pesquisa aplicada para realizao prtica de produtos e

    processos, seu aperfeioamento, a reduo de custos ou a melhoria da qualidade.

    Para Malta (1996) tecnologia tem ampla conotao e se refere s tcnicas,

    mtodos, procedimentos, ferramentas, equipamentos e instalaes que possibilitam a

    realizao e obteno de um ou vrios produtos e implicam no que, por que, para

    quem, e no como fazer.

    Atende tanto categoria de produtos: equipamentos, instalaes fsicas e

    materiais, quanto aos processos que constituem as tcnicas, mtodos e procedimentos

    e servem tanto para gerar conhecimentos a serem socializados, como para reconhecer

    processos e produtos, transformando sua utilizao emprica em uma abordagem

    cientfica.

    De acordo com Merhy (2006), a tecnologia vista como uma mquina moderna,

    o que tem dificultado bastante a nossa compreenso de que, quando falamos em

    trabalho em sade no se est se referindo somente ao conjunto das mquinas que

    so usadas nas aes de interveno realizadas, por exemplo, sobre os pacientes.

    Afirma que h uma tecnologia menos dura, do que o aparelho e as ferramentas

    de trabalho, e que est sempre presente nas atividades de sade, que pode ser

    chamada de tecnologia leve-dura.

    leve ao ser um saber que as pessoas adquiriram e est escrita na sua forma

    de pensar os casos de sade, e na maneira de organizar uma atuao sobre eles, mas

  • 34

    dura na medida em que um saber-fazer bem estruturado, bem organizado, bem

    protocolado, normalizvel e normalizado.

    H vrias experincias que podem mostrar todas as possibilidades definidas, e

    nisso os autores citados referem que h um domnio dos interesses organizados em

    torno das tecnologias duras. Hoje, o modelo assistencial todo voltado para a produo

    de procedimentos, que consome intensamente tecnologia dura, gerando ainda mais

    necessidade de produo de procedimentos.

    Ainda sobre tecnologia, Vicente (2005) diz que a cada dia somos mais solicitados

    a conviver com a tecnologia que tecnicamente confivel, porque esta foi criada para

    se adequar ao nosso conhecimento do mundo fsico, mas to complexa ou to -

    contra - intuitiva que de fato no usvel pela maioria dos seres humanos.

    O avano tecnolgico vivenciado atualmente, e que teve inicio aps a segunda

    guerra mundial, em todas as reas do conhecimento, e em particular na rea da sade,

    representa um avano para a assistncia ao cliente/paciente, porm, esse avano, tem

    levado a uma utilizao em larga escala de equipamentos mais sofisticados no

    ambiente hospitalar.

    Com o intuito de estabelecer parmetros mais seguros para a utilizao desses

    equipamentos, desde a sua aquisio at a sua utilizao, a ANVISA instituiu e

    implementou a unidade de tecnovigilncia, que busca gerenciar a utilizao de

    dispositivos e equipamentos mdico-hospitalares, ps - comercializao, evitando que

    riscos caractersticos do ambiente hospitalar possam produzir agravos indesejveis a

    pacientes, trabalhadores e visitantes (ANVISA, 2008).

    A unidade de tecnovigilncia faz parte do programa de Hospitais Sentinela,

    descrita pela Portaria n. 593 de 25 de agosto de 2000, esse projeto foi a primeira

    estratgia adotada pela ANVISA para obter informaes sobre o desempenho e

    segurana de produtos para a sade nos ambientes hospitalares pblicos e particulares.

    Seu objetivo estabelecer atravs de hospitais credenciados pela ANVISA (atualmente

    104 hospitais sentinela e 95 hospitais colaboradores), uma rede em todo o pas que

    possibilite a notificao de eventos adversos e queixas tcnicas de produtos de sade.

    De acordo com o balano de atividades da ANVISA, a notificao qualificada de

    eventos adversos (EA) e queixas tcnicas (QT) relacionados a produtos para sade j

  • 35

    est acontecendo rotineiramente em boa parte dos hospitais da rede. Essa atitude

    depende diretamente da capacidade de os servios identificarem e investigarem eventos,

    avaliando se houve uso irracional de insumos ou procedimentos e gerenciando o risco

    em sade (PETRAMALE, 2006; ANVISA, 2008).

    A tecnovigilncia visa segurana de produtos e equipamentos tecnolgicos para

    a sade com a finalidade de melhorar a qualidade da assistncia prestada. Ns,

    profissionais da sade, somos de fundamental importncia para o desenvolvimento deste

    programa, atravs da notificao de observaes em relao qualidade e

    funcionalidade dos equipamentos tecnolgicos, assim como a ocorrncia de eventos

    adversos.

    A tecnovigilncia um sistema de vigilncia de eventos adversos e queixas tcnicas de produtos para a sade na fase de ps - comercializao, com vistas a recomendar a adoo de medidas que garantam a proteo e a promoo da sade da populao. Tem como principal funo estabelecer estratgias de preveno ou minimizao de riscos, a fim de evitar que riscos equivalentes possam ser produzidos em outros locais pelas mesmas coisas. E seu objetivo principal o de organizar a vigilncia e assegurar uma garantia de qualidade dos equipamentos e produtos utilizados nos cuidados dos pacientes/clientes (ANVISA, 2003, p.13).

    A tecnovigilncia deve ser aplicada desde o processo de licitao para compras

    de equipamentos, perpassando pelo processo de insero nas unidades de cuidado e

    durante todo o seu tempo de vida til, ou seja, realizar uma avaliao e vigilncia

    continua do equipamento tecnolgico tendo como objetivo a reduo da probabilidade

    de ocorrncia dos incidentes.

    Conforme Silva (2003), as tecnologias possuem um ciclo de vida til que perpassa

    desde a sua criao at o seu abandono, quando h incorporao de novas tecnologias

    e o ciclo se reinicia. No entanto, o tempo que leva da inovao tecnolgica at a sua

    incorporao e utilizao em larga escala longo e por este motivo, esta tecnologia j

    chega ao mercado de forma ultrapassada, pois na linha de montagem h uma nova

    tecnologia com mais recursos do que a que est entrando no mercado, para ser

    utilizada amplamente, fazendo com que seu tempo efetivo de vida til seja encurtado,

    tendo um curto perodo de monitorao da sua eficcia e possvel deteco de falhas

    com posterior abandono por incorporao de nova tecnologia. O real abandono leva um

    longo perodo at ser efetivado, pois nas unidades hospitalares, principalmente nos

  • 36

    servios pblicos de sade encontramos muitas tecnologias duras ultrapassadas,

    obsoletas e com acurcia duvidosa em uso nas unidades de terapia intensiva ou nas

    unidades de internao, quando recebem as doaes das tecnologias obsoletas das

    unidades de terapia intensiva, nesse caso, as mesmas deveriam ser inutilizadas por sua

    inefetividade.

    Quando ocorre substituio de tecnologias duras ou incorporao de novas

    tecnologias deve ser assegurado um efetivo treinamento dos profissionais quanto a sua

    utilizao e identificao e resoluo de possveis problemas que possam surgir, no

    entanto observamos que na prtica ocorre uma incorporao de tecnologias nas

    unidades sem ocorrncia concomitante de treinamentos efetivos, o que vemos

    apenas uma apresentao da tecnologia incorporada em turno nico, sem atingir a

    totalidade de profissionais que utilizaro a tecnologia disponvel. Pode-se observar esse

    processo descrito atravs do grfico do ciclo de vida das tecnologias8.

    8 Grfico extrado do artigo SILVA, Letcia Krauss. Avaliao tecnolgica e anlise custo-efetividade

    em sade: a incorporao de tecnologias e a produo de diretrizes clnicas para o SUS. Cincia & Sade coletiva. Rio de Janeiro, v.8, n.2, p.501-520; 2003.

  • 37

    GRAFICO 4- CICLO DE VIDA DAS TECNOLOGIAS. Fonte: SILVA, 2003

    Para Silva (2003) primordial que se tenha uma avaliao tecnolgica em sade

    (ATS) o que produzira uma sntese do conhecimento acerca das implicaes da

    utilizao das tecnologias e constituio de subsdios tcnicos importantes para a

    tomada de decises sobre a difuso e incorporao dessas tecnologias. No Brasil, o

    ciclo de vida dessas tecnologias regulado, ou deveria s-lo pela ANVISA.

  • 38

    CAPTULO II

    REFERENCIAL TERICO

    Para alcanar os objetivos e subsidiar a compreenso do objeto de estudo foram

    utilizados como bases tericas os Fundamentos da Qualidade em Sade e as

    Concepes de Cuidado/Conforto de Figueiredo.

    2.1- Fundamentos tericos da Qualidade em Sade

    Nos dias atuais o terico mais proeminente na rea da qualidade em sade o

    professor em sade publica Dr. Avedis Donabedian (1980, 1981, 1984, 1985, 1988,

    1990, 1992, 1993, 1994, 2003) que destaca a satisfao do usurio como indicador da

    qualidade em sade. Ele atribuiu, inicialmente, trs dimenses qualidade: (1)

    conhecimento tcnico-cientfico, (2) relaes interpessoais entre os profissionais e o

    paciente e (3) amenidades, isto , condies de conforto e esttica das instalaes e

    equipamentos no local onde a assistncia ocorre.

    Para Donabedian (1994), a qualidade uma propriedade, um juzo sobre alguma

    unidade definida da ateno, da qual se pode dividir em duas partes: tcnica e

    interpessoal. Para este autor o mnimo de qualidade e da ateno tcnica consiste em

    uma aplicao da cincia e da tecnologia da sade de uma maneira que renda o

    mximo de benefcios para a sade, com mnimos riscos (DONABEDIAN, 1984, p.6),

    ou seja, na medida em que a ateno prestada seja capaz de alcanar o equilbrio mais

    favorvel entre riscos e benefcios. Portanto, um conceito unificador da qualidade da

    assistncia aquele que proporciona ao paciente o mximo e mais completo bem-estar

    ,e livre de riscos.

    Donabedian (2003) ampliou o conceito de qualidade ao estabelecer os setes

    pilares da qualidade: eficcia, efetividade, eficincia, otimizao, aceitabilidade,

    legitimidade e eqidade. As definies dos termos citados esto descritos no quadro a

    seguir:

  • 39

    QUADRO 1 - OS SETE PILARES DA QUALIDADE DE

    DONABEDIAN

    RELAO DOS PILARES DA QUALIDADE COM O OBJETO DO ESTUDO

    EFICCIA

    Qualidade ou propriedade de eficaz, ou seja, que produz o efeito desejado O melhor que se pode fazer, em condies favorveis, dado a condio clnica do paciente e manuteno das circunstancias. Avaliao de estudos clnicos randomizado caso-controle.

    O melhor que se pode fazer em relao utilizao, manuteno e armazenagem dos equipamentos da UTIN e a realizao de suas respectivas tecnovigilncia.

    EFETIVIDADE =

    MELHORIA GERADA PELO SISTEMA

    OFERECIDO/ MELHORIA

    ESPERADA PELO SISTEMA IDEAL

    Efeito real, positivo, permanente. Melhoria da sade, alcanada ou alcanvel nas condies usuais da prtica cotidiana, ou seja, o grau em que o cuidado, cuja qualidade est sendo avaliada, alcana-se ao nvel de melhoria da sade. a relao entre o beneficio real oferecido pelo sistema de sade ou assistncia e o resultado potencial, representado esquematicamente por uma frao, em que os estudos clnicos oferecem as informaes e resultados para obter a resultante desta relao.

    O real benefcio que a tecnovigilncia pode gerar para promover maior segurana no uso dos equipamentos na UTIN.

    EFICINCIA

    = MELHORIA GERADA

    PELO SISTEMA OFERECIDO/

    CUSTO ECONOMICO DESTE

    SISTEMA

    Ao ou virtude de produzir um efeito. Avaliao do efeito alcanado a medida do custo com o qual uma dada melhoria na sade foi alcanada. Ou seja, se duas estratgias de cuidado so igualmente eficazes e efetivas, a mais eficiente a de menor custo.

    Uso dos equipamentos de forma racional com maximizao da qualidade e minimizao de custos. No causar desperdcios no uso das tecnologias.

    OTIMIZAO

    Ato ou processo de aperfeioar, ou seja, torna-se timo, realizar o melhor de forma mais produtiva, aperfeioar o cuidado de forma a torn-lo mais efetivo com o menor custo. a relao mais favorvel entre custos e benefcios.

    Melhorar os cuidados que se tem com os equipamentos, para aperfeioar a sua capacidade e tempo de vida til. Treinar a equipe de sade para melhor utilizao das tecnologias disponveis, melhorando a qualidade do cuidado.

    ACEITABILIDADE

    Adaptao dos cuidados aos desejos, valores, expectativas dos pacientes e seus familiares. composto por 05 conceitos: efetividade, eficincia, otimizao, acessibilidade do cuidado, da relao profissional de sade-paciente e das amenidades do cuidado.

    Manter a qualidade do cuidado em termos de utilizao das tecnologias, conforme demanda da clientela e suas necessidades.

    LEGITIMIDADE

    a possibilidade de adaptar satisfatoriamente um servio comunidade ou sociedade como um todo. Implica na conformidade individual, satisfao e bem estar da coletividade.

    Manter as prticas do cuidado subsidiado pelas tecnologias, com maior ndice de conformidades a fim de promover a segurana no ambiente hospitalar.

    EQUIDADE

    A equidade parte daquilo que torna o cuidado aceitvel para os indivduos e legitimo para a

    promover o cuidado tecnolgico de acordo com a

  • 40

    sociedade, principio pelo qual se determina o que justo na distribuio de cuidados e dos benefcios para a populao e / ou paciente.

    necessidade do RN, de forma adequada e segura, com quantitativo de recursos humanos e materiais que atenda toda demanda da UTIN.

    Para Donabedian a qualidade composta de critrios implcitos e explcitos, e

    por isto desenvolveu um quadro conceitual fundamental para o entendimento da

    avaliao de qualidade em sade, onde explicado que para se compor uma atividade

    assistencial so necessrios indicadores que avaliem os aspectos dessa assistncia,

    quais sejam a estrutura, o processo e o resultado.

    Neste sentido, Donabedian (1984, p.98) define estrutura como as caractersticas

    estveis dos prestadores de servio, as ferramentas e os recursos disponveis e o

    contexto fsico e organizacional no qual trabalham. Dentro dessa conceituao cabem

    tanto dados numricos em termos de recursos disponveis, quanto qualificao

    profissional, qualidade do equipamento, existncia de manuteno predial, infra-

    estrutura e equipamentos. Como processo, denota-se as atividades realizadas pelos

    provedores de assistncia para dar e receber cuidados, tanto diagnsticos, como

    teraputicas que apresentam complexidades, uma vez que podem se referir tanto ao

    componente tcnico quanto ao de relao interpessoal. O processo envolve todas as

    atividades desenvolvidas pelos profissionais de sade e sobre a relao entre o

    profissional e o paciente que vamos obter os resultados da assistncia. Por este motivo,

    o processo o foco das avaliaes de qualidade, sobretudo pela determinao e foco

    nos aspectos ticos da relao profissional de sade / paciente/cliente.

    Ao se avaliar o processo, procura-se identificar os procedimentos necessrios a melhoria da assistncia, os procedimentos equivocados ou desnecessrios com o objetivo de melhoria da qualidade e economia de recursos. A avaliao dos processos realizada por meio de ferramentas de qualidade como: carta de tendncia, fluxograma, estratificao, folha de verificao, grfico de Pareto e diagrama de causa e efeito, que permitem o conhecimento de todos os fatores envolvidos no processo de prestao de um bem ou servio e o peso que cada um tem nesse processo (SOUZA, 2003, p 13-14).

    No que diz respeito aos resultados, Donabedian (1984) se refere ao efeito que

    aes e procedimentos tiveram sobre o estado de sade dos pacientes. Corroborando

  • 41

    com esta abordagem, Nageh (2006) afirma que os resultados mostram a eficcia do

    processo, e caso seja, detectadas no conformidades nesses resultados, devem-se

    estabelecer aes corretivas para que se alcance a melhoria da qualidade. Os

    resultados geralmente esto pautados no nvel de satisfao do cliente/paciente e nos

    indicadores de resultados, como: incidncia de queda do paciente, incidncia de

    extubao, incidncia de lcera por presso, incidncia de no conformidades,

    incidncia de flebite, incidncia de mortalidade, dentre outros.

    Para Donabedian (1990) a garantia de qualidade em sade implica estudos

    permanentes na rea de sade para a sua melhoria, e para isso, se fazem necessrias

    a monitorao e a avaliao contnua da estrutura e do processo utilizado na prestao

    do servio.

    Acredita-se que uma instituio que se prope a participar de um programa de

    qualidade, deve conhecer os sete pilares, avaliando globalmente sua organizao;

    adequando a estrutura aos padres internacionais, respeitando as legislaes vigentes

    no pas, buscando melhoria dos processos com base em evidncias cientificas atravs

    dos dados obtidos pelos indicadores de qualidade, avaliando os resultados, verificando

    se eles esto em conformidade com o que se espera.

    De acordo com Feldman (2008), os requisitos trazidos pelos sistemas e

    programas de certificaes para o controle de uma efetiva gesto da qualidade, incluem

    a prioridade na segurana, e preveno de danos, a rastreabilidade das aes e

    procedimentos, a consistncia dos monitoramentos, assim como a disseminao eficaz

    da comunicao, os ciclos de melhoria com anlises crticas sistemticas e a medio

    por meio de ferramentas e indicadores sistmicos.

    medida que os servios de sade so ampliados com a incorporao de novas

    tecnologias imperativo que se tornem cada vez mais necessrias uma avaliao e

    monitorao da qualidade. No se pode permitir que usos dessas tecnologias

    produzam efeitos negativos maiores que os positivos. Em sentido amplo, o

    compromisso por elevar os nveis de sade da populao e do cliente / paciente ,

    inseparavelmente, um compromisso para assegurar a qualidade da assistncia.

  • 42

    Segundo Rgo (2008, p 53) A qualidade no est nos equipamentos que so

    utilizados para tratamento dos pacientes [...]. A qualidade est nas pessoas que

    realizam as atividades do servio e que manipulam esses equipamentos.

    So os profissionais de sade que utilizam os diversos equipamentos para

    subsidiar o cuidado na UTIN. Desse modo, conhecer adequadamente o equipamento,

    os seus princpios tcnicos e cientficos so imprescindveis para garantir a qualidade

    da assistncia ao RN hospitalizado.

    Para Moller (2002), a qualidade pessoal a base de todas as outras qualidades.

    Neste sentido, a qualidade est no profissional de enfermagem que promove o cuidado

    apoiado pelo uso de tecnologia dura de forma a garantir a segurana e a melhoria

    contnuas da qualidade assistencial, promovendo maior conforto para o paciente, e

    maior efetividade das aes implementadas.

    2.2- Concepes de Cuidado/Conforto de Figueiredo.

    A escolha pelo referencial de Figueiredo (1997, 2004) se deve possibilidade de

    analisar a objetividade e subjetividade do cuidado promovido apartir da utilizao da

    tecnologia dura na perspectiva da equipe de enfermagem que atua na Unidade de

    Terapia Intensiva Neonatal.

    Neste sentido cabe destacar inicialmente, que para a autora, enfermagem :

    Conhecimento, saber da prtica; tecnologia; estar em interao; relacionamento; descobrindo as necessidades de ajuda; prestao de servios e conhecimentos; satisfao pessoal por estar ajudando; estudar muito para fazer algo pela enfermagem; uma profisso que tem o reconhecimento, um obrigado; um sorriso, uma profisso muito bonita que lida com o ser humano, gostar de enfermagem para faz lo bem; tratar, prevenir, cuidar, um campo de atuao amplo, digno; conjunto de tcnicas e prticas bem empregadas para proporcionar o bem estar dos indivduos; (...); a arte de cuidar dos indivduos, promover sua adaptao ao ambiente com conhecimento terico e pratico; um fazer reflexivo que esta no mundo (FIGUEIREDO, 1997, p. 55, 56).

    Prosseguindo, afirma ainda que a enfermagem s pode ser considerada ARTE,

    se as suas aes so teraputicas e incorpora sensibilidade, solidariedade, liberdade,

  • 43

    sensualidade, espiritualidade e esttica como elementos norteadores de sua prtica

    (FIGUEIREDO, p.6).

    Em relao arte de cuidar no contexto da prtica de enfermagem, Figueiredo

    descreve que:

    Cuidado ao entre duas pessoas: uma oferta o cuidado e a outra recebe e ao incondicional do trabalho da enfermeira, que envolve movimentos corporais, impulsos, emoes (amor, dio, alegria, esperana, tristeza, desespero); energia, disponibilidade para sentir, tocar o outro. um ato libertador da enfermeira ele lhe d autonomia e a essncia da profisso, porque significa uma ao humana que ultrapassa os limites de quem d e de quem recebe o cuidado: uma ao poltica, transpessoal, transversal, espiritual. (FIGUEIREDO, 1997; P.59-60).

    Em seu estudo intitulado ... A mais bela das artes... o PENSAR o FAZER da

    ENFERMAGEM: bases TERICAS e PRTICAS para uma TEORIA do

    CUIDADO/CONFORTO, Figueiredo (1997) descreveu as BASES (cientficas) e os

    MATERIAIS utilizados pelas enfermeiras para cuidar/confortar, quais sejam:

    As Bases:

    1. A TERRA,

    2. O SOPRO,

    3. AS PISTAS.

    OS Materiais:

    1. O LOGUS,

    2. AS PULSES,

    3. A PRAXIS.

    As BASES:

    - A primeira base - A TERRA.

    De acordo com Figueiredo (1997) A TERRA refere-se ecologia do cuidado a

    sade ambiental, onde o ambiente envolve a natureza humana como fundamentos

    biolgicos da cultura e da vida dos seres humanos; a autora refere-se TERRA real e

    simblica, onde as enfermeiras se encontram para trabalhar, uma terra que est com

    desvio de sade. Uma terra entendida como instituio e que deveria oferecer bem-

    estar fsico e emocional.

  • 44

    Neste estudo a base Terra est relacionada ao ambiente do cuidado,

    particularmente a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Neste ambiente, no qual

    desenvolvido o cuidado de enfermagem, so realizadas diversas aes voltadas para

    cuidar e confortar. Neste contexto, possvel observar um ambiente propcio para o

    acontecimento de riscos iminentes, principalmente nas unidades de terapia intensiva

    neonatal, por se tratar de um espao com inmeras tecnologias duras, utilizadas para

    subsidiar o cuidado. Nesta linha de pensamento, estudar a utilizao adequada dessas

    tecnologias com o ambiente do cuidado fundamental para buscar melhorar o binmio:

    qualidade e segurana.

    - A segunda base - o SOPRO a vida do ser humano frente aos desvios de

    sade. Trata da questo da vida contida nas representaes das enfermeiras

    entendidas como trabalho, tica, esttica, e, como restauradoras dos desvios de sade

    apresentados pelos seres humanos que so cuidados e confortados por elas.

    Ao cuidar de recm-nascidos hospitalizados o objetivo fundamental do cuidado

    de enfermagem primar pela vida, pela segurana, pela restaurao do seu desvio de

    sade. Neste sentido, vale ressaltar que as tecnologias duras, de alguma forma

    apresentam continuidade no corpo desses recm-nascidos e tambm so utilizados

    para manter e dar suporte a vida.

    - A terceira base - as PISTAS so baseadas na semiologia e semiotcnica -

    diagnstico de enfermagem. Nesta base, a enfermeira tem a partir da semiologia a

    possibilidade de conhecer as necessidades do paciente e principalmente avaliar e

    prescrever os cuidados necessrios para atender essas necessidades. Figueiredo

    (1997, p 105) diz que a semiologia a linguagem humana que se traduz atravs de

    imagens, comportamentos com substncia visual, sensorial e contactual.

    Ao examinar o paciente durante o cuidado, ela registra e interpreta sentimentos,

    gestos, posies corporais e expresses faciais do paciente durante uma interveno,

    ela classifica seus achados na anamnese para fazer um diagnstico e intervir com os

    seus cuidados (FIGUEIREDO, 1997).

    Nesse processo de cuidado, as mquinas tambm precisam ser examinadas,

    cuidadas para que possam nos fornecer dados confiveis e seguros, e assim contribuir

    com um cuidado de enfermagem mais aprimorado e qualificado. preciso estabelecer

  • 45

    estratgias de uso, de gerenciamento tecnolgico e difuso dos equipamentos

    tecnolgicos em conjunto com uma equipe multiprofissional, para realmente garantir a

    segurana e a qualidade do cuidado para os RN hospitalizados.

    Na prtica, um conhecimento bsico imprescidnvl para saber quem e o que

    tem o cliente que elas cuidam, o que ele quer e, principalmente, o que a enfermeira

    deve fazer por ele e com ele, para atender suas necessidades e desejos quando podem

    se expressar ou descobrir quando no puderem se expressar.

    Para a autora, o diagnstico contribui para saber como est o paciente, para

    definir um cuidado, uma forma de cuidar. Assim, devemos agir com as tecnologias

    duras, fazendo um diagnstico preciso para a sua utilizao; devemos saber como ela

    est funcionando, se est em condies de uso, se segura a sua utilizao, alm de

    saber identificar os possveis desvios. Ao realizar este diagnstico, a enfermeira registra

    e interpreta as possveis no conformidades apresentadas pelos equipamentos e

    intervir de maneira efetiva, eficaz, otimizando o processo de cuidar e promovendo uma

    melhoria continua da qualidade.

    Assim como na