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32 revista incluir negócios e economia Por: Hevlyn Celso | Fotos: Thiago Henrique, Kica de Castro, Edson Satoshi e divulgação CRIATIVIDADE E IMAGINAÇÃO SÃO MATÉRIAS-PRIMAS PARA NOVAS TECNOLOGIAS Q uando pensamos em um cientista, logo ima- ginamos alguém que passa dias recluso em seu laboratório, testando novos experimen- tos. Na verdade, esse personagem existe mais no ima- ginário coletivo, do que na vida real, pois um inventor pode ser qualquer pessoa que tenha tempo, disposição e criatividade para solucionar problemas. Ao pesqui- sar na Internet, frequentemente nos deparamos com sites e blogs voltados às pessoas com deficiência, que mostram grandes inovações tecnológicas do exterior. Mas e no Brasil, como está o mercado de invenções? Criada há 44 anos, a Cavenaghi é uma das maiores empresas de adap- tação veicular no País. Foi fundada pelo mecânico e imigrante italiano Giulio Michelotti, que obteve mui- to sucesso ao criar um sistema de transmissão automática para um amigo que havia perdido uma per- na e não possuía habilitação. Com a procura crescente, Giulio patenteou o equipamento e passou a se dedicar somente as adaptações. Segundo a administradora Mô- nica Cavenaghi, os equipamentos mais inovadores estão na linha de transporte, como o rebaixamen- to de pisos, de forma que a pessoa possa ser transportada sentada em sua cadeira de rodas. “Criamos so- luções que possibilitam mudança de vida para as famílias de pessoas com deficiência, pois muitas vezes, a mão de obra para colocá-las no carro é tão grande, que os passeios tornam- -se cada vez mais raros ou inviáveis. Por outro lado, nossos produtos pro- porcionam conforto e segurança, en- IDEIAS QUE VALEM OURO

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32 revista incluir

negócios e economia

Por: Hevlyn Celso | Fotos: Thiago Henrique, Kica de Castro, Edson Satoshi e divulgação

negócios e economia

CRIATIVIDADE E IMAGINAÇÃO SÃO MATÉRIAS-PRIMAS PARA NOVAS TECNOLOGIAS

Quando pensamos em um cientista, logo ima-ginamos alguém que passa dias recluso em seu laboratório, testando novos experimen-

tos. Na verdade, esse personagem existe mais no ima-ginário coletivo, do que na vida real, pois um inventor pode ser qualquer pessoa que tenha tempo, disposição

e criatividade para solucionar problemas. Ao pesqui-sar na Internet, frequentemente nos deparamos com sites e blogs voltados às pessoas com deficiência, que mostram grandes inovações tecnológicas do exterior. Mas e no Brasil, como está o mercado de invenções?

Criada há 44 anos, a Cavenaghi é uma das maiores empresas de adap-tação veicular no País. Foi fundada pelo mecânico e imigrante italiano Giulio Michelotti, que obteve mui-to sucesso ao criar um sistema de transmissão automática para um amigo que havia perdido uma per-na e não possuía habilitação. Com a

procura crescente, Giulio patenteou o equipamento e passou a se dedicar somente as adaptações.

Segundo a administradora Mô-nica Cavenaghi, os equipamentos mais inovadores estão na linha de transporte, como o rebaixamen-to de pisos, de forma que a pessoa possa ser transportada sentada em

sua cadeira de rodas. “Criamos so-luções que possibilitam mudança de vida para as famílias de pessoas com deficiência, pois muitas vezes, a mão de obra para colocá-las no carro é tão grande, que os passeios tornam--se cada vez mais raros ou inviáveis. Por outro lado, nossos produtos pro-porcionam conforto e segurança, en-

IDEIASQUE VALEM OURO

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tão a pessoa sabe que estará segura, e não dará trabalho adicional aos seus cuidadores”.

Questionada sobre a importação de grandes inova-ções, Mônica diz que no Brasil não existe regulamenta-ção na aplicação de normas técnicas para grande parte dos produtos, então, por questões de responsabilidade e segurança, prefere primeiro testá-los; o que chega a atrasar os lançamentos em cerca de dois a quatro anos. Outro ponto é que, nos países de primeiro mundo, o es-tado arca com a reabilitação das pessoas com deficiên-cia, o que faz toda a diferença no mercado. “Nem todos os produtos têm renúncia fiscal para importação, ao contrário, a imensa maioria que nós trazemos são taxa-dos, tributados, então isso obviamente os encarece”. A empresa já foi procurada por diversos inventores, mas até o momento não efetuou parcerias, pois, segundo ela, embora as soluções fossem criativas, tinham baixa apli-cabilidade, pois faltavam estudos relacionados à viabili-dade econômica e aos investimentos em sua industria-lização.

Como registrar seu inventoA Associação Nacional dos Inventores (ANI) foi fun-

dada em 1992 em São Paulo, por Carlos Mazzei, que tra-balhava com marcas e patentes e percebeu que, na épo-ca, não havia nenhum tipo de apoio ou segurança para quem tinha uma ideia ou desenvolvia um novo produto.

Atualmente, além do registro de patentes, a ANI ofe-rece assessoria jurídica e comercial aos inventores, na procura de parcerias e investidores para tentar viabili-zar as ideias. Para auxiliar na divulgação das criações, a associação mantém o programa semanal de TV “Ideias e Invenções”, no ar há mais de 10 anos e o Museu das Invenções, o qual exibe cerca de 500 protótipos de pro-dutos que já estão no mercado e várias curiosidades. A ANI possui atualmente cerca de 1000 inventores asso-ciados.

A gerente do museu, Daniela Mazzei, afirma que para solicitar a aprovação de um registro de patente, o produto deve ser inovador, ainda inexistente, ou o aper-feiçoamento de um que já exista, desde que possa ser feito em escala industrial. O valor do registro é variável, mas custa, em média, de três a cinco mil reais. Segundo ela, há três tipos de patentes. “A patente invenção, que é algo totalmente novo, vale por 20 anos; a patente mo-delo de utilidade, que é um aperfeiçoamento de algo já existente, vale durante 15 anos; e o registro de desenho industrial, que é a patente do design do produto, vale até 25 anos; isso tudo aqui no Brasil. É possível fazer um registro internacional, mas os valores variam caso a caso.

Ela conta que o perfil dos inventores é diverso.

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“Aquele estereótipo de cientista “maluco” não existe, é uma personalidade observadora que percebe uma ne-cessidade e desenvolve um produto para suprí-la. Mui-tas vezes o invento não é associado a sua atividade pro-fissional”. Há vários inventos pensados para as pessoas com deficiência, como uma muleta com amortecedor, que torna o uso mais confortável, uma cadeira de rodas que se transforma em andador e um painel de comu-nicação visual, entre outros, que aguardam a parceria de investidores. Embora industrializar um produto não seja algo fácil, há casos de sucesso, como o “spaguetti” de piscina (espécie de boia), que foi registrado na ANI e hoje é utilizado em todo o mundo.

Celeiro de talentosA Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace)

é uma ação de atividades conjuntas idealizada pela Es-cola Politécnica da USP. Instituída há 10 anos, tem por objetivo estimular o desenvolvimento de projetos inves-tigativos de grande profundidade, feitos por alunos da educação básica, particular e pública. É realizada anu-

almente nas dependências da Escola Politécnica e conta com a participação de cerca de 750 alunos e 300 profes-sores orientadores, responsáveis por aproximadamente 300 projetos (estandes) selecionados por todo o País. Para participar, o aluno ou equipe devem escrever um relatório que passará por uma banca de pré-avaliado-res, avaliadores e, em seguida, por um comitê de sele-ção. Os projetos selecionados recebem um convite para participar da feira e, como itens obrigatórios, os alunos

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devem trazer para a mostra o diário de bordo, que é o registro cronológico de todas as dúvidas, um relatório detalhado de todas as etapas do processo, o aparato ex-perimental (se houver) ou um registro da dinâmica feito em fotos e vídeos, além de um pôster explicativo, o qual será utilizado pelos alunos para explicar o projeto para avaliadores e visitantes.

A engenheira elétrica e professora Roseli de Deus Lopes, uma das idealizadoras da Febrace, afirma que o objetivo principal não é somente ganhar prêmios, ou participar de feiras internacionais como a Intel ISEF,

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A estilista Joventina Sousa

CavenaghiTel.: (11) 3719-3739

www.cavenaghi.com.brE-mail: [email protected]

Associação Nacional dos Inventores (ANI)Tel.: (11) 3670-3411

www.inventores.com.br www.tvinvento.com.br

www.museudasinvencoes.com.br E-mail: [email protected]

R. Dr. Homem de Melo, 1109 - Perdizes - São Paulo

Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE)

www.febrace.org.brE-mail: [email protected]

mas levar este tipo de trabalho a todas as escolas bra-sileiras. Segundo ela, a escolha dos finalistas não se dá pelo produto final, mas pela análise da superação dos desafios enfrentados pelo aluno. “Uma parte é olhar o trabalho realizado, mas outra é verificar se o aluno tem as características de um cientista, de um tecnologista, alguém determinado, que não fica sentado esperando que façam por ele, que sabe fazer boas perguntas, bo-lar estratégias para a busca de respostas, porque um aluno desses, se você dá uma bolsa de iniciação cien-tífica, ou abre a porta de um centro de pesquisas, vai

longe”. Durante as edições da feira, vários projetos con-templaram a pessoa com deficiência, como o Touching Notes II que leva o ensino da música para pessoas com deficiência auditiva por meio das vibrações, cadeira de rodas movida pelo sopro, Smart Glove luva para tra-dução de Libras, e óculos mouse para o controle de ca-deiras de rodas, entre outros. “O cérebro é nossa fonte inesgotável de energia; ao desenvolvermos tecnologias que ampliem as possibilidades humanas, abrimos uma janela para o mundo”, diz Roseli.