incidÊncia de partos distÓcicos vacas

Upload: morgana-pelim

Post on 10-Feb-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/22/2019 INCIDNCIA DE PARTOS DISTCICOS VACAS

    1/5

    ISSN 0103-989XLicenciado sob uma Licena Creative Commons

    INCIDNCIA DE PARTOS DISTCICOS EM UMREBANHO BOVINO DA RAA CHAROLESA DA

    REGIO DOS CAMPOS GERAIS - PARANTTULO

    Dystocia incidence in a herd of charolais breed from Campos Gerais Region

    Felipe Weigert Pencai[a], Felipe Pohl de Souza[b], Luiz Ernandes Kozicki[b],Jose Carlos dos Santos Breda[c], Alisson Bruno de Morais Giacomeli[c]

    [a] Mestrando em Cincia Animal pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUCPR), So Jos dos Pinhais, PR - Brasil, e-mail: [email protected]

    [b]Professores da Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUCPR), So Jos dos Pinhais, PR - Brasil, e-mail: [email protected] [email protected]

    [c] Graduandos de Medicina Veterinria pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUCPR), So Jos dos Pinhais, PR - Brasil,e-mail: [email protected] - [email protected]

    Resumo

    Das raas bovinas europeias de corte, a charolesa tornou-se uma das que apresenta ndices maiselevados de distocia no parto. Parturies de um rebanho dessa raa foram monitoradas durante4 anos, com o intuito de verificar os percentuais de incidncia de distoc ia. Foram analisadas 522parturies ocorridas de janeiro de 2003 a julho de 2007 em uma fazenda voltada especificamente reproduo de bovinos da raa charolesa pura de origem e pura por cruza no municpio dePalmeira, PR. Os partos foram classificados como: normal e sem trao, parto auxiliado com

    trao leve, parto auxiliado com forte trao e cesariana. A anlise dos dados evidenciou 54,9% departos normais, 36,5% de partos auxiliados com trao leve, 7,6% auxiliados com forte trao e0,7% das parturies foram feitas mediante cesariana. Os dados demonstraram elevada incidnciade anormalidades de partos na raa charolesa, comparativamente a outras raas de bovinos decorte, necessitando-se auxiliar as parturientes no perodo intrapartal, em funo de bezerros depeso elevado e de avantajadas dimenses. A utilizao da raa como aperfeioadora nos programasde cruzamento industrial para a produo de carne deve ser feita com critrio, visando minimizaros problemas de distocia no parto.

    Palavras-chave : Raa charolesa. Distocia. Paran. Brasil.

    Rev. Acad., Cinc. Agrr. Ambient., Curitiba, v. 7, n. 3, p. 349-353, jul./set. 2009

  • 7/22/2019 INCIDNCIA DE PARTOS DISTCICOS VACAS

    2/5

    350 PENCAI, F. W. et al.

    Rev. Acad., Cinc. Agrr. Ambient., Curitiba, v. 7, n. 3, p. 349-353, jul./set. 2009

    Abstract

    The race is recognized as charolais which displays high levels of dystocia. Thus the birth ofa flock of this breed were monitored for 4 years to verify the incidence of dystocia. Weanalyzed 522 deliveries occurring from January 2003 to July 2007 on a farm for breedingcharolais in the Campos Gerais Region - PR. The births were classified as follows: normal,assisted with mild traction, helped with strong traction and cesarean section. The analysisof parturitions showed that 54.9% were normal, 36.5% were assisted with mildtraction,7.6% assisted with strong traction and 0.7 cesarean sections. The data show thatthis herd has a high incidence of aid deliveries, which in a system such as the creation inBrazil, is extremely costly and inhibits the use of bulls that breed in breeding programs.

    Keywords: Charolais. Dystocia. Parana. Brazil.

    INTRODUO

    A pecuria de corte brasileira busca incessantemente seu melhor desenvolvimento. Dentreos avanos mais recentes, incluem-se a variedade de cruzamentos, e cada vez mais as raas europeiascontinentais esto sendo utilizadas nesse processo. A utilizao de raas de maior porte objetivamelhorar a eficincia do ganho de peso e as caractersticas da carcaa.

    Segundo Schafhuser et al. (2004), medida que so utilizados animais geneticamentemelhoradores, principalmente das raas europeias continentais, algumas caractersticas relacionadas capacidade adaptativa tm sido deixadas de lado, acarretando muitas vezes a reduo da suaeficincia funcional. Para Mnissier e Frisch (1992), as raas europeias continentais de corte(charols, limousine, blondeaquitaine e outras) atingem a puberdade com idade mais tardia queoutras raas europeias como aberdeen angus, red angus, hereford dentre outras, em funo do seumaior porte e da sua maior rapidez de crescimento muscular.

    Um dos fatores que interfere significativamente na eficincia da pecuria de corte o sistemade cruzamento animal adotado (MACHADO et al., 2001; MARSHALL et al., 1990). De acordo comDias, Faro e Albuquerque (2004), introduzir novilhas na reproduo requer manejo adequado dafazenda, prtica esta que poder trazer benefcios em relao seleo, visando precocidade sexualdo rebanho, melhorando sua eficincia produtiva. Contudo, o cruzamento de animais muito jovens podeacarretar limitaes e desvantagens. Existem fatores negativos e indesejveis que devem ser levados emconsiderao durante a escolha de determinado sistema de cruzamento. Short et al. (1994) destacaramalgumas desvantagens em acasalar animais muito jovens, tais como maior exigncia nutricional, maiorcusto alimentar, maior incidncia de partos distcicos, maiores perdas de bezerros e baixo peso ao

    desmame na primeira cria. A busca por animais mais pesados na fase de acabamento faz com que muitosprodutores selecionem seus reprodutores, considerando apenas este critrio, esquecendo-se de que estefato poder resultar em srios problemas de distocia, principalmente na raa charolesa, por causa doelevado peso ao nascer dos animais desta raa.

    Para Berglund e Philipsson (1973), Johnson, Deutscher e Parkhurst (1988) e Rice eWiltbank (1972), a maioria dos casos de distocia consequncia da incompatibil idade entre asdimenses do bezerro e da abertura plvica da parturiente, pelo excessivo peso ao nascer ou reduzidodimetro plvico da gestante.

    Para Bellows et al. (1971), partos distcicos nos bovinos constituem a maior causa damortalidade perinatal, correspondendo a quase 70%. Os prejuzos no ocorrem somente pelas perdasde bezerros, mas tambm afetam gestaes futuras e outros eventos reprodutivos. Nix et al. (1998),

  • 7/22/2019 INCIDNCIA DE PARTOS DISTCICOS VACAS

    3/5

    351Incidncia de partos distcicos em um rebanho bovino da raa charolesa

    da regio dos Campos Gerais Paran

    Rev. Acad., Cinc. Agrr. Ambient., Curitiba, v. 7, n. 3, p. 349-353, jul./set. 2009

    ao pesquisarem 2.191 partos em bovinos europeus de corte, observaram 94,0% de parturiesobstetricamente no-assistidas, contra somente 6,0% de partos assistidos. Esses pesquisadores

    verificaram que nos partos distcicos, 28,1% necessitaram de leve trao e 69,3 % necessitaram deforte trao, bem como em 2,6 % recorreu-se operao cesariana. Verificaram, ainda, que o pesodos bezerros ao nascer estava associado s parturies fisiolgicas com as traes leves e que osbezerros pesados estavam relacionados s fortes traes e cesariana. Esses pesquisadores concluramque o peso do bezerro ao nascer e o nmero de parturies das vacas exerciam uma condioimportante na variao das distocias dos bezerros.

    Swali e Wathes (2006), pesquisando bovinos de leite, observaram que fetos machosinfluenciaram o comprimento da gestao, mas no o tamanho do bezerro. Goyache et al. (2000)estudaram 5.928 registros de parturies, concluindo que o peso do bezerro ao nascer a fonte de maior

    variao para a dificuldade do parto. Os partos difceis foram verificados nas novilhas, cujos bezerrospesavam em torno de 42 kg, e nas plurparas, que pariam bezerros com cerca de 49 kg. Observaram aindaesses autores, que bezerros machos acarretavam maior percentual de partos distcicos que as bezerras.

    Ante o exposto, a presente pesquisa objetivou analisar dados a respeito dos partos distcicos

    incidentes na raa bovina charolesa, profusamente difundida no Estado do Paran, especialmente naRegio de Ponta Grossa e Guarapuava.

    MATERIAL E MTODOS

    Os dados derivaram da Fazenda Santa Rosa no municpio de Palmeira, Paran. Asmatrizes bovinas eram puras de origem e puras por cruza, da raa charolesa, e inseminadasartificialmente com touros da raa. A idade dos animais variou de 33 a 144 meses. A alimentaodos animais era constituda por pastagens nativas e forrageiras cultivadas, como a hermatria, aaveia, o azevm, alm de silagem de milho e sal mineral ad libitum.O escore da condio corporaldos animais variou entre 3 e 4 (escala de 1 a 5), adotando-se a inseminao artificial (IA) e repassecom touros. Parte dos animais era destinada exposio e parte integrante de animais criados acampo. A mdia de tempo de gestao foi de 285 dias e os partos eram assistidos em piquetesmaternidade, com iluminao noturna. Diuturnamente, os animais eram monitorados para aefetiva assistncia obsttrica. Em todos os casos, aguardava-se a ruptura das bolsas fetais corio-alantoide e amnitica para se proceder a interveno ao parto. Imediatamente aps a ruptura dosenvoltrios fetais, os membros locomotores dos bezerros eram fixados por cordas individualizadaspara a execuo da trao, executada por dois homens da fazenda. Foram acompanhados os partosocorridos em quatro anos, no perodo de janeiro de 2003 a julho de 2007, totalizando 522parturies com o feto vivo.

    O grau de dificuldade de parturio foi calculado de acordo com a seguinte escala:parturio fisiolgica somente assistida; parturio distcica auxiliada com leve trao (= puxao

    com a fora de dois homens sem excessivo esforo); parturio distcica auxiliada com forte trao(= puxao com a fora de dois homens), porm intensa trao, feto extrado com dificuldade, ecesariana quando a retirada fetal no era possvel por trao, seja em funo do canal cervical daparturiente estar estreitado, seja pelas dimenses avantajadas dos fetos, determinado pelo exameobsttrico do mdico veterinrio.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Das 522 parturies com feto vivo, 52,0% eram bezerros e 48,0% bezerras. Os dados daTabela 1 evidenciam o percentual sobre o tipo de parturio:

  • 7/22/2019 INCIDNCIA DE PARTOS DISTCICOS VACAS

    4/5

    352

    Ao observar a Tabela 1, verifica-se o total de 45,02% de parturies distcicas nos animaispesquisados, cifra esta muito superior observada por Nix et al. (1997)(6,0%), ao pesquisarem raaseuropeias de corte, exceto a charolesa. Nossos dados de distocia ao parto de 44,25% (levando-se emconta somente as parturies auxiliadas com trao leve ou forte) encontram-se prximos aos dados deBellows et al. (1971), os quais verificaram a cifra de 40,0% de distocias, igualmente considerada elevadaao se comparar com os relatos de Basarab et al. (1993) (26,5%).

    Ao se consultar as publicaes disponveis sobre o tema distocia no parto em bovinos,observa-se grande variao percentual entre os pesquisadores, entendendo-se de 15,0 a 40,0%,relatados por Basarab et al. (1993), Bellows et al. (1971), Berglund e Philipsson (1973), Johnson et al.(1988), Laster e Gregory (1973), Laster et al. (1973), podendo-se imputar tais diferenas s raas comas quais eles trabalharam. De acordo com Nix et al. (1997), as diferenas de rebanhos, caso da raacharolesa e de outras raas europeias, residiriam nos critrios de seleo, contribuindo para asdiscrepncias verificadas.

    Relativamente s parturies distcicas auxiliadas mediante trao leve dos fetos, nossosdados apontaram ndice um pouco superior (36,9%) aos verificados por Nix et al. (1998) (28,1%),provavelmente em funo de que esses pesquisadores trabalharam com bovinos de corte como angus,brangus, polled hereford e cruzadas, no se atendo a animais da raa charolesa.

    Os dados deste experimento demonstraram ndices de parturio distcica auxiliada comforte trao de 7,66% dentre o total de partos difceis, discrepando fortemente dos dados de 69,3% deNix et al. (1998), cifra esta verificada provavelmente em funo dos critrios de classificao de traoleve ou trao forte adotados por esses autores, no suficientemente explicitados em sua metodologia.

    Ao se comparar os achados de cesariana do presente estudo, observou-se baixo percentual(0,77%) dos partos difceis, comparados aos de Nix et al. (1998), de 2,6 %. Provavelmente, o baixo

    ndice verificado nessa pesquisa pode ser atribudo em funo de que os animais eram direcionados reproduo (animais de substancial valor de venda) e por isso eram constantemente assistidos noparto (inclusive noite), medida essa que, provavelmente, contribuiu para a reduo da mortalidadenos partos.

    CONCLUSO

    Do presente estudo pode-se concluir que a raa charolesa demonstrou elevadas taxas departurio difcil.

    Com o fito de se minimizar os efeitos dos partos distcicos na raa estudada, seria de bomsenso que os pecuaristas fossem permanentemente orientados no sentido de se utilizar reprodutoresmelhoradores de rebanhos e matrizes de porte plvico condizente, que viessem a gerar bezerros de

    menor peso ao nascer, favorecendo o processo da parturio, visando reduo de ndices de partosdistcicos nesta raa.

    TABELA 1 - Dados de parturies ocorridas entre 2003 e 2007 em vacas da raa Charolesa, discriminando-se os tiposde parto como fisiolgicos, auxiliados com leve trao, auxiliados com forte trao e cesariana, Palmeira, PR

    Variveis (n) (Percentual)

    Parturio fisiolgica (normal) 287 54,9a

    Parturio distcica auxiliada com trao leve 191 36,5b

    Parturio distcica auxiliada com forte trao 40 7,6c

    Cesariana 4 0,7d

    Total de animais 522

    Nota: Letras diferentes na mesma coluna indica significncia

    PENCAI, F. W. et al.

    Rev. Acad., Cinc. Agrr. Ambient., Curitiba, v. 7, n. 3, p. 349-353, jul./set. 2009

  • 7/22/2019 INCIDNCIA DE PARTOS DISTCICOS VACAS

    5/5

    353

    REFERNCIAS

    BASARAB, J. A.; RUTTER, L. M.; DAY, P. A. The efficacy of predicting dystocia in yearling beefheifers: II. Using discriminant analysis.Journal of Dairy Science, Lancaster, v. 71, p. 1372-1380, 1993.

    BELLOWS, R. A. et al. Cause and effect relationships associated with calving difficulty and calfbirth weight. Journal of Animal Science, Champaign, v. 33, p. 407-415, 1971.

    BERGLUND, B.; PHILIPSSON, J. The influence of relative birth weight and certain other factorson calving performance in Swedish dairy cattle breeds. Animal Reproduct ion Sc ience,

    Amsterdam, v. 15, p. 81-93, 1973.

    DIAS, L. T.; FARO, L. E.; ALBUQUERQUE, L. G. Efeito da idade de exposio de novilhas reproduo sobre estimativas de herdabilidade da idade ao primeiro parto em bovinos Nelore.ArquivoBrasileiro de Medicina Veterinria e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 56, n. 3, p. 370-373, 2004.

    GOYACHE, F. et al. Efectos ambientales que influyen em la dificultad de partos y el peso alnascimiento.Archivos de Zootecnia, Crdoba, ES,v. 49, p. 481-492, 2000.

    JOHNSON, S. K.; DEUTSCHER, G. H.; PARKHURST, A. Relationships of pelvic structure,body measurements, pelvic area and calving difficulty. Journal of Animal Science, Champaign,

    v. 66, p. 1081-1088, 1988.

    LASTER, D. B.; GREGORY, K. E. Factors influencing peri-and early postnatal calf mortality.Journal of Animal Science , Champaign, v. 37, p. 1092-1097, 1973.

    LASTER, D. B. et al. Factors affecting dystocia and the effects of dystocia on subsequentreproduction in beef cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v. 36, p. 695-705, 1973.

    MACHADO, P. F. A. et al. Predio da taxa de gestao de novilhas da raa Nelore acasaladascom um ano de idade.Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinria e Zootecnia, Belo Horizonte,

    v. 53, n. 2, p. 1-10, 2001.

    MARSHALL, D. M.; MINQUIANG, W.; FREKING, B. A. Relative calving date of first-calf heifersas related to production efficiency and subsequent reproductive performance. Journal of DairyScience, Lancaster, v. 68, p. 1812-1817, 1990.

    MNISSIER, F.; FRISCH, J. E. Beef cattle production. Genetic Improvement of Beef Cows.Amsterdam: Elsevier, 1992.

    NIX, J. M. et al. A retrospective analysis of factors contributing to calf mortality and dystocia inbeef cattle. Theriogenology, Los Altos, v. 49, p. 1515-1523, 1998.

    RICE, L. E.; WILTBANK, J. N. Factors affecting dystocia in beef heifers.Journal of AmericanVeterinary Medicine Association, Ithaca, v. 161, p. 1348-1358, 1972.

    SCHAFHUSER Jr., J. et al. Desempenho reprodutivo de novilhas com diferente grau de

    musculosidade. Revista da Faculdade de Zootecnia, Veterinria e Agronomia, Porto Alegre,v. 10, p. 2-19, 2004.

    SHORT, R. E. et al. Breeding heifers at one year of age: biological and economic considerations. In:FIELDS, M. J.; SAND, R. S. (Ed.). Factors affecting calf crop.Boca Raton: CRC Press, 1994. p. 55-68.

    SWALI, A.; WATHES, D. C. Influence of the dam and sire on size at birth and subsequent growth,milk production and fertility in dairy heifers. Theriogenology, Los Altos, v. 66, p. 1173-1184, 2006.

    Recebido: 19/11/2008Received: 11/19/2008

    Aprovado: 20/03/2009Approved: 03/20/2009

    Incidncia de partos distcicos em um rebanho bovino da raa charolesada regio dos Campos Gerais Paran

    Rev. Acad., Cinc. Agrr. Ambient., Curitiba, v. 7, n. 3, p. 349-353, jul./set. 2009