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XVI Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação 22 a 24 de julho de 2015 RESUMO Na sociedade contemporânea a contação de história pode ser entendida como uma estratégia de suma importância na formação do leitor, possibilitando o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a construção de um sujeito crítico e reflexivo. O presente trabalho tem por objetivo identificar a influência das atividades de contação de histórias, para o fomento a leitura e formação de leitores, e especificamente observar o desempenho do mediador durante a contação de história e sua influência no interesse da criança pela leitura de outros livros, além de verificar a efetividade da contação de histórias como prática de incentivo à leitura. Para execução dessa pesquisa tomou-se como espaço de investigação a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, tendo como participantes três professores e suas respectivas turmas de alunos. Trata-se de um estudo de caso de nível descritivo de caráter qualitativo, que teve como instrumento de coleta de dados a entrevista por ser este um instrumento que se mostrou mais apropriado a obtenção de informações pertinentes do objeto investigado. Os resultados apontam que a contação de história se apresenta como uma estratégia fundamental na formação do leitor, mostrando-se um fator didático de significativa importância, ajudando na aquisição da escrita e da oralidade, ao trazer descontração e entretenimento às aulas, fazendo com que as crianças se sintam mais à vontade e motivadas a aprender. A análise das entrevistas confirma que esta atividade contribui significativamente para formação do homem, seja enquanto leitor, ou enquanto pessoa. Esta atividade desperta na criança a emoção do ouvir, do sentir, refletir e acima de tudo de enxergar o mundo com mais alegria. Todavia, não deve ser uma atividade meramente executada, mas sim uma ação planejada e sistematizada, com objetivo de promover o desenvolvimento integral da criança e incentivar à literatura, cumprindo assim seu papel social na sociedade. As narrativas orais, especialmente as que têm por suporte a leitura de textos literários, como foi

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Page 1: incentivo à leitura através da contação de história

XVI Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação

22 a 24 de julho de 2015

RESUMO

Na sociedade contemporânea a contação de história pode ser entendida

como uma estratégia de suma importância na formação do leitor, possibilitando o

enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a

construção de um sujeito crítico e reflexivo. O presente trabalho tem por objetivo

identificar a influência das atividades de contação de histórias, para o fomento a

leitura e formação de leitores, e especificamente observar o desempenho do

mediador durante a contação de história e sua influência no interesse da criança

pela leitura de outros livros, além de verificar a efetividade da contação de histórias

como prática de incentivo à leitura. Para execução dessa pesquisa tomou-se como

espaço de investigação a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, tendo como

participantes três professores e suas respectivas turmas de alunos. Trata-se de um

estudo de caso de nível descritivo de caráter qualitativo, que teve como instrumento

de coleta de dados a entrevista por ser este um instrumento que se mostrou mais

apropriado a obtenção de informações pertinentes do objeto investigado. Os

resultados apontam que a contação de história se apresenta como uma estratégia

fundamental na formação do leitor, mostrando-se um fator didático de significativa

importância, ajudando na aquisição da escrita e da oralidade, ao trazer

descontração e entretenimento às aulas, fazendo com que as crianças se sintam

mais à vontade e motivadas a aprender. A análise das entrevistas confirma que esta

atividade contribui significativamente para formação do homem, seja enquanto

leitor, ou enquanto pessoa. Esta atividade desperta na criança a emoção do ouvir,

do sentir, refletir e acima de tudo de enxergar o mundo com mais alegria. Todavia,

não deve ser uma atividade meramente executada, mas sim uma ação planejada e

sistematizada, com objetivo de promover o desenvolvimento integral da criança e

incentivar à literatura, cumprindo assim seu papel social na sociedade. As narrativas

orais, especialmente as que têm por suporte a leitura de textos literários, como foi

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o caso deste estudo, condensam em si caminhos significativos para a leitura e

compreensão de si e do mundo.

Palavras-chave: Formação do leitor. Contação de história. Incentivo à Leitura.

INCENTIVO À LEITURA ATRAVÉS DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA: O CASO

DA BIBLIOTECA INFANTIL MONTEIRO LOBATO.

Lília Santos de Souza. UFBA. [email protected] Luís Carlos Batista de Jesus. UFBA. [email protected]

Maria Isabel de jesus Sousa Barreira. UFBA. [email protected]

INTRODUÇÃO

No contexto da educação infantil, nem todas as crianças tem contato com

a leitura em seu ambiente familiar, e assim, apresentam na escola dificuldades de

aprendizagem decorrentes dessa carência. Em razão desta constatação na

realidade impirica, esta pesquisa foi realizada por compreender que o contato com

o livro e a realização de diferentes práticas de leitura nas séries iniciais é importante

para despertar o gosto e o hábito da leitura, tendo em vista que esta é condição

indispensável ao desenvolvimento social e à realização individual do educando.

A leitura contribui para o desenvolvimento do imaginário, da criatividade e,

principalmente, para o autoconhecimento do leitor, uma vez que trabalha com as

emoções de cada indivíduo.

Essa experiência possibilitou a valorização de modo especial, a Literatura

Infantil, ou melhor, as produções destinadas as crianças, como as que se fazem

presentes em livros de ficção. A partir daí, surgiu o seguinte questionamento: qual

a influência das atividades de contação de histórias realizadas na Biblioteca Infantil

Monteiro Lobato – BIML, para a prática de leitura e formação de leitores na

educação infantil?

O presente estudo teve como objetivo geral identificar a influência das

atividades de contação de histórias na BIML, para o fomento a leitura e formação

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de leitores, e como objetivos específicos, analisar se o desempenho do mediador

durante a contação de história influencia no interesse da criança pela leitura de

outros livros e verificar a efetividade da contação de histórias como prática de

incentivo à leitura através de entrevistas com professores.

Ao buscar teóricos que tem se preocupado em investigar a história e as

práticas de leitura encontra-se Pierre Bourdieu (2001); Lajolo (2002); Smolka

(1989); Kleiman (1991), Anne Marie Chartier (1995); Roger Chartier (2001); Elsie

Rockwell (2001); Jean Hebrard (2001); Cagliari (2004), que ao documentarem sobre

os suportes e as práticas de leitura em diferentes contextos sócio-históricos,

analisam, refletem e evidenciam as influencias desses suportes e dos modos de ler

em distintas épocas.

A origem desta pesquisa partiu de observações feitas pela pesquisadora

durante a participação no “projeto Dom Quixote: Biblioteca andante” em parceria

com a BIML. Projeto este que tem como finalidade estender o acesso à leitura e o

aprimoramento da comunicação, de um modo amplo e geral, a comunidades

carentes das regiões periféricas da Grande Salvador, direcionando suas atividades

para crianças e adolescentes.

Durante a execução desse projeto, a pesquisadora participou e conduziu

algumas sessões de contação de história onde observou o envolvimento das

crianças com o texto narrado e as diferentes reações, como risos, desconfortos,

tristeza, entre outras.

Após cada sessão de contação de história, passava alguns minutos

conversando com as crianças sobre a narrativa, muitas delas se identificavam com

o texto e contavam suas experiências pessoais relacionadas a história. Depois

dessa conversa, realizava-se uma atividade, ligada ao tema trabalhado, com a

finalidade de identificar o entendimento da criança em relação ao texto narrado.

Diante dessa questão, a identificação e análise das possíveis contribuições

da contação de história na formação de leitores nas series iniciais, mais

especificamente no 2º ano do Ensino Fundamental, parecem relevantes para que

as instituições de ensino e os profissionais ligados a educação possam repensarem

suas práticas e métodos de ensino e aprendizagem.

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Realizou-se a pesquisa de campo, com o objetivo de coletar as informações

primarias, que deram subsidio para análise qualitativa sobre a importância da

contação de história como forma de incentivo à leitura.

O trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: a primeira seção que

traz a introdução; a segunda seção aborda a leitura em seus aspectos conceituais

incluindo os espaços de realização de leitura; a terceira seção discorre sobre as

atividade de incentivo à leitura, com destaque para a contação de histórias; a quarta

seção descreve o espaço de investigação; a quinta delineia o percurso

metodológico; a sexta faz a apresentação e discussão dos dados e por último as

considerações finais da pesquisa.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de nível descritivo que segundo Gil (1991), tem

como objetivo primordial a descrição das características de determinado fenômeno.

De caráter qualitativo, pois possibilita reconhecer os participantes e/ou sujeitos e

suas diferenças para uma análise adequada com a proposta do trabalho. Godoy

(1995, p.62) ressalta a diversidade existente entre os trabalhos qualitativos e

enumera um conjunto de características essenciais capazes de identificar uma

pesquisa desse tipo, a saber:

1) o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como

instrumento fundamental;

2) o caráter descritivo;

3) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como

preocupação do investigador.

Assim, pode-se comprovar a variedade de expectativas sobre o objeto, neste

caso o incentivo à leitura e formação de leitores. Por isso parte-se das definições

individuais e sociais a ele relacionados para a particularidade de um estudo de caso.

O espaço escolhido para realizar estudo de caso, foi a Biblioteca Infantil

Monteiro Lobato. O estudo de caso é um método qualitativo que consiste,

geralmente, em uma forma de aprofundar uma unidade individual. Ele é usado para

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responder questionamentos que o pesquisador não tem muito controle sobre o

fenômeno estudado.

O estudo de caso contribui para compreendermos melhor os fenômenos

individuais, os processos organizacionais e políticos da sociedade. É uma

ferramenta utilizada para entendermos a forma e os motivos que levaram a

determinada decisão. Conforme Yin (2001) o estudo de caso é uma estratégia de

pesquisa que compreende um método que abrange tudo em abordagens

especificas de coletas e análise de dados.

Este método é útil quando o fenômeno a ser estudado é amplo e complexo e

não pode ser estudado fora do contexto onde ocorre naturalmente. Ele é um estudo

empírico que busca determinar ou testar uma teoria, e tem como uma das fontes de

informações mais importantes, as entrevistas. Através delas, o entrevistado vai

expressar sua opinião sobre determinado assunto, utilizando suas próprias

interpretações.

A tendência do Estudo de Caso é tentar esclarecer decisões a serem

tomadas. Ele Investiga um fenômeno contemporâneo partindo do seu contexto real,

utilizando de múltiplas fontes de evidências.

O universo investigado foi a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, por trata-se

de uma instituição que trabalha com atividades de incentivo à leitura, tendo a

contação de história como principal atividade. A amostra foi constituida por três

professores de três escolas do ensino fundamental que possuem uma frequência

regular na BILM a fim de participar de ações voltadas a formação do leitor durante

o ano de 2014 acompanhado seus alunos em visitas agendadas e direcionadas aos

estudantes de escolas públicas e privadas.

O trabalho em questão contou com a entrevista como instrumento de coleta

de dados. O tipo de entrevista escolhida foi a semiestruturada por esta possibilitar

certa flexibilidade nas perguntas feitas, sem perder o foco no alcance dos

resultados. Flick (2004) afirma que é mais provável que os pontos de vista dos

sujeitos sejam expressos em uma situação de entrevista com um planejamento

relativamente aberto, do que em uma entrevista padronizada ou um questionário.

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A entrevista com os professores decorreu da necessidade de conhecer a

opinião dos docentes a cerca das atividades de incentivo à leitura desenvolvidas na

biblioteca bem como quando da visita realizada pela escola na BIML.As entrevistas

foram realizadas durante o mês de outubro e novembro de 2014 na BIML.

RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS

Após finalizar a coleta de dados foram realizadas leituras objetivando

sistematizar as informações coletadas. Desse modo tomando a entrevista como

parâmetro iniciou-se caracterizando a amostra. Os dados revelaram que a faixa

etária dos sujeitos entrevistados, gira em torno de 40 a 46 anos, cuja a experiência

docente varia de 10 a 30 anos. Duas professoras são oriundas de escolas

particulares e uma de escola pública. Todas ministram a disciplina Língua

Portuguesa sendo que, duas delas ensinam na educação infantil e uma no ensino

fundamental. Quanto a educação continuada duas, possuem pós-graduação na

área o que revelando a preocupação com o aprimoramento de seus conhecimentos

em prol de sua prática docente.

Esses dados evidenciam que BIML é um espaço que atrai tanto o ensino

público quanto o privado na busca de atividades que incentivem a formação de

leitores.

Para efeito de entendimento dos resultados e para individualizar a identidade

de cada sujeito entrevistados, foi utilizado a seguinte codificação: Professora 1 (P1),

Professora 2 (P2) e Professora 3 (P3).

As questões tratadas na entrevista, foram analisadas da seguinte forma:

Considerando que as docentes ministram aulas de Língua Portuguesa,

disciplina que teoricamente é responsável pela formação de leitores, a pesquisa

buscou revelar as atividades desenvolvidas pelos professores na escola que

incentive a leitura. Nesse sentido os dados evidenciam que as docentes participam

de projetos desenvolvidos pela escola relacionados a esse fim, conforme

asseguram as participantes:

P1 “Existe sim. O circulo de leitura.”

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P2 “Sim. Projeto de literatura infantil.”

P3 “Sim. Projeto transformando literatura em artes.”

Como a totalidade afirmou realizar atividades de incentivo, buscou-se investigar

aquelas voltadas para leitura e formação de leitor, desenvolvida pelos

docentes em sala de aula. Nesse sentido, todas acenaram positivamente a

essa questão, tal como pode ser observado nas falas a seguir:

P1 “ Círculo de leitura.”

P2 “Contação de história de varias maneiras, utilizando livros, fantoches.

Reconto feito com os alunos. Sacola literaria, os alunos levam pra casa

livros para leitura em família para que a mãe conte a história para o filho.”

P3 “ Jogos educativos e leitura de filme.”

Sobre esse aspecto, Cagliari (1994, p. 25) enfatiza que "o objetivo

fundamental da escola é desenvolver a leitura para que o aluno se saia bem em

todas as disciplinas, pois se ele for um bom leitor, a escola cumpriu em grande parte

a sua tarefa". Incentivar a leitura na sala de aula é importante porque esse é um

espaço que na maioria das vezes é o único contato que o aluno tem com os livros.

Vê-se pelo discurso de P1, P2 e P3 que as práticas de incentivo coadunam

com a literatura sobre o tema. Segundo Abramovich (2008) há tantos jeitos de a

criança ler, de conviver com a literatura de modo próximo, sem achar que é algo

chato[...] É uma questão de aproximá-la dos livros de modo aberto seja na livraria

ou na biblioteca.

Foi possível perceber, que P2 trabalha a leitura com os alunos para além da

sala de aula, pois delega aos familiares essa responsabilidade quando evidência

que as crianças levam material de leitura para que esta atividades seja realizada

em casa junto com a família.

Ao inquerir os docentes sobre os motivos que os levaram a realizar

atividades de incentivo de leitura em sala de aula estes revelam diferentes

motivações como: “Paixão pela graduação em letras. (P1); Compreensão que a

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literatura infantil aproxima os alunos da leitura da aprendizagem e da escrita. (P2).

Sobre a importância de trabalhar a leitura com crianças na faixa etária de 6 à 10

anos, isto, é período em que de acordo com a literatura (BAMBERGER (2000)

ocorre a formação do leitor, as participantes são ênfaticas em dizer que:

P1 “Porque se a criança ler vai saber escrever, vai saber falar de coisas

na vida dela.”

P2 “Muitos não conhecem letras,vão começar a desenvolver a oralidade

através do reconto escrito vai aproximar da tipologia textual quando conta

fabulas, conto e poema.”

P3 “Total, principalmente você percebe que no final ou no percurso você

percebe que isso ajudou de forma significativa, de forma ludica, ajudou a

criança do grupo 4 a fazer leitura de dissilaba até trissilaba simples

através do incentivo a leitura.”

Os dados evidenciam que há uma consciência de que quanto mais cedo

iniciar o trabalho de literatura com as crianças, os resultados de incentivo serão

mais significativos. Como afirma Bamberger (2000, p.20) “a leitura, na infância,

satisfaz as necessidades e interesses das várias fases de desenvolvimento, de

maneira demasiado unilateral. Quando, mais tarde, os interesses se modificam

(diminuindo o amor da aventura), muitas crianças param completamente de ler. A

motivação para a leitura é demasiado fraca.”

Por se tratar de um estudo que busca compreender a contação de história

como possibilidade de formar leitores, interrogou-se as participantes sobre a

percepção que esta tem acerca das atividades de contação de histórias

desenvolvidas pela Biblioteca Infantil Monteiro Lobato:

P1 “Gostei muito. Está mais moderno, mas interessante.”

P2 “Muito importante que exista uma biblioteca especifica voltado para o

público infantil e que seja desenvolvida atividades para esse público

infantil.”

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P3 “ Bastante incentivadora, como a história dos quadrinhos, contação

de história com adereço, bastante incentivadora.”

Ficou evidente que as atividades de contação de histórias, desenvolvidas

naquele espaço é importante segundo as entrevistadas.Todas demonstraram

satisfação a respeito das ações com essa finalidade. Abramovich (2006, p.19), é

através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros

jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo

história, geografia, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc... sem

precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de

aula...Porque, se tiver, deixa de ser literatura, deixa de ser prazer, e passa a ser

didática, que é um outro departamento (não tão preocupado em abrir todas as

comportas da compreensão do mundo).

Em função desse resultado, a pesquisa buscou identificar a percepção dos

professores acerca das mudanças de comportamento dos alunos, após a realização

das atividades de contação de histórias, quando da visita a BIML. De modo geral foi

unanime o entendimento de que houve mudanças:

P1 “Sim. Interesse pela leitura e literatura de Monteiro Lobato.”

P2 “Percebe o interesse pela leitura em levar livros pra casa e em

ganhar livros.”

P3 “Comentam a visita. Fazem uso de livros de histórias para levar pra

casa, teve mas interesse pela literatura.”

Considerando que o trabalho de formação de leitor requer uma serie de

atividades para além da leitura de um livro, se buscou conhecer opinião das

participantes, propostas que considerem importantes ser desenvolvidas no sentido

de fomentar a leitura e consequentemente a formação de leitores na escola. As falas

revelam que esse processo demanda não só atividades, mas, a participação dos

agentes envolvidos:

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P1 “ oficina de leitura seria uma boa.”

P2 “ A formação de leitores é muito maior, a escola sozinha não desperta.

Precisa do apoio dos pais quando realiza algum projeto na escolar com

os alunos, escolhe um dia para apresentar e propor os pais que façam

esse trabalho junto com seus filhos, lendo notícia de jornal pedindo um

livro emprestado na escola para contar para os filhos dormir nos finais de

semana.”

P3 “ Indica a visita a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato. Show de talento.

Os pais terem contato com a biblioteca os eventos como peças de teatro.”

Percebe-se na fala das entrevistadas, que o apoio da família é essencial para

a formação do leitor. Segundo Xavier (2009) “a parceria entre família, escola e

biblioteca constitui-se em um meio eficaz para despertar e consolidar o prazer pela

leitura”. Em casa, os pais devem se esforçar para formar filhos leitores, e não

simplesmente delegar à escola essa responsabilidade. Também foi citado a oficina

de leitura como uma boa opção para incentivar a leitura, esta atividade pode ser

adotada pela biblioteca.

Na tentativa de entender se as atividades de leitura e formação de leitor

ocorrem para além da sala de aula e da biblioteca, a pesquisa investigou se as

docentes desenvolvem ações relacionadas à leitura no âmbito da biblioteca escolar

inseridas em suas instituições de ensino.

As respostas evidenciam que há por parte das professoras uma consciencia

sobre a necessidade de estender as práticas de incentivo a leitura para outros

espaços, independente de qual seja a situação. As falas retratam essa assertiva:

P1 “Contação de história, pesquisas, principalmente nas datas

comemorativas.”

P2 “Não possui biblioteca na escola. Existe cantinhos de leitura. Se

tivesse desenvolveria contação de história, incentivaria os pais a virem

contar história para os alunos, trazer a comunidade para esse espaço de

leitura.”

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P3 “Tem biblioteca. Fazem leitura de livros infantis.”

Observa-se que, P2 apesar de não contar com a biblioteca escolar na

instituição educacional em que atua, menciona os cantinhos de leitura com uma

possibilidade de exercitar a leitura. É interessante notar que essa participante

compreende que é necessário a participação dos pais, junto aos educadores para

incentivar a leitura na escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação infantil apresenta de fato carência, oriundas do pouco contato

com a leitura no ambiente familiar, que por ventura leva a dificuldades de

aprendizagem na escola. Desta forma, o contato com o livro e as práticas de leitura

nas séries iniciais torna-se fundamental para despertar o hábito da leitura, pois

como já foi dito no início deste estudo, esta é condição de suma importância para o

desenvolvimento social e de realização individual do educando. Contribuindo assim,

para o desenvolvimento do imaginário, da criatividade e do autoconhecimento, por

trabalhar com aspectos relacionados a emoções do indivíduo.

Identificou-se forte influência das atividades de contação de histórias na

BIML, para o fomento a leitura e formação de leitores, pois a análise das entrevistas

confirma que esta atividade contribui significativamente para formação do homem,

seja enquanto leitor, ou enquanto pessoa.

No que diz respeito a formação do leitor, a contação de histórias permite o

contato e a familiaridade com a leitura de textos escritos. Além de estimular a leitura

de textos das histórias que foram contadas, a contação de histórias desperta na

criança a emoção do ouvir, do sentir, refletir e acima de tudo de enxergar o mundo

com mais alegria.

A leitura por sua vez, permite ao indivíduo experimentar as mais variadas

sensações, pois ouvir uma bela história, desperta o imaginário, o mágico, o irreal,

onde tudo pode ser possível.

A contação de histórias não deve ser uma atividade meramente executada,

mais sim uma ação planejada e sistematizada, com objetivo de promover o

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desenvolvimento integral da criança e incentivar à literatura, cumprindo assim seu

papel social na sociedade.

Através da contação de história o professor (contador), possibilita que a

criança crie seu mundo imaginário, fazendo com que a aprendizagem aconteça de

forma natural e espontânea.

Ao ouvir uma história, a criança é levada a pensar e refletir sobre ela. Assim

a aprendizagem deixa de ser mecânica e descontextualizada e passa a ser divertida

e significativa, devido essencialmente ao seu caráter de atividade lúdica.

Portanto, a contação de histórias na educação Infantil se mostra um fator

didático de significativa importância, pois mais do que um simples passatempo, ela

tem se mostrado um elemento indispensável na alfabetização, ajudando na

aquisição da escrita e da oralidade, ao trazer descontração e entretenimento às

aulas, fazendo com que as crianças se sintam mais à vontade e motivadas a

aprender.

Os dados obtidos neste estudo, nos permitem afirmar que o desempenho do

mediador durante a contação de história pode influenciar no interesse da criança

pela leitura de outros livros. Além disso, a entrevista com os professores, mostra

efetividade da contação de histórias como prática de incentivo à leitura. Portanto os

resultados alcançados neste estudo, nos permite afirmar que os obetivos propostos

foram alcançados, pois identificou-se forte influência das atividades de contação de

histórias para o fomento a leitura e formação de leitores.

Todo esse universo de mudanças humanas pode acontecer em

consequência do uso e valorização da importância de se ouvir ou se contar uma

história, preferencialmente desde infância, em casa, na escola ou na biblioteca

infantil.

Palavras-chave: Formação do leitor. Contação de história. Incentivo à leitura.

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