imunidade parlamentar diante da prÁtica de crimes hediondos

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ALAOR HENRIQUE BAGGIO A IMUNIDADE PARLAMENTAR DIANTE DA PRÁTICA DE CRIMES HEDIONDOS Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC - Campus de Xanxerê, para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob a orientação do Professor Narciso Leandro Xavier Baez.

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ALAOR HENRIQUE BAGGIO

A IMUNIDADE PARLAMENTAR DIANTE DA PRÁTICA DE

CRIMES HEDIONDOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC - Campus de Xanxerê, para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob a orientação do Professor Narciso Leandro Xavier Baez.

Xanxerê – SC

2009

1

A IMUNIDADE PARLAMENTAR DIANTE DA PRÁTICA

DE CRIMES HEDIONDOS

Este trabalho de conclusão de curso foi julgado adequado para obtenção do título de

Bacharel em Direito e aprovado, na sua forma final, pelo Curso de Graduação em Direito da

Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC.

_________________________________

Profº. Cesar Marció

Coordenador do Curso

Apresentado à Comissão Examinadora integrada pelos professores:

______________________________

Profº. Narciso Leandro Xavier Baez

Orientador

________________________ ____________________________

Profº. Wilson Gherard Profª. André Flach

2

Dedico este trabalho à Jane.

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família pelo incentivo, ao Profº. Narciso Leandro Xavier Baez, pelo auxilio

na composição do projeto inicial e pelas orientações prestadas durante o desenvolvimento da

obra.

4

RESUMO

O estudo a que se propõe este projeto será delimitado no sentido de pesquisar se a imunidade

parlamentar pode ser aplicada diante do cumprimento de crimes hediondos a partir da

constituição federal brasileira de 1988. Saber se a imunidade parlamentar pode ser alegada

por seus destinatários diante da prática de crimes hediondos ou se de alguma forma beneficia

indivíduos investidos desta prerrogativa. Estabelecer Conceito de imunidade parlamentar,

evolução histórica características e tratamento que recebeu na constituição federal de 1988.

Definir o que são crimes hediondos, como surgiram e de que forma estão disciplinados no

ordenamento jurídico brasileiro. Saber se diante da pratica de crimes hediondos é possível

alegar a imunidade parlamentar e se de alguma forma beneficia os indivíduos investidos desta

prerrogativa. Esta pesquisa esta embasada no esclarecimento de aspectos relevantes acerca da

imunidade parlamentar em face da pratica de crimes hediondos, com o escopo de gerar

entendimento sobre a dinâmica que se desenvolve no ordenamento jurídico brasileiro frente a

questões desta natureza.

Palavras-chave: Imunidade Parlamentar, Crimes Hediondos.

5

ABSTRACT

The study the one that if considers this project will be delimited in the direction of to search if

the parliamentary immunity can be applied ahead of the fulfilment of hideous crimes from the

Brazilian federal constitution of 1988. To know if the parliamentary immunity can be alleged

by its addressees ahead of practises of hideous crimes or if of some form it benefits invested

individuals of this prerogative. To establish Concept of parliamentary immunity, historical

evolution characteristic and treatment that received in the federal constitution of 1988. To

define what they are hideous crimes, as they had appeared and of that it forms they are

disciplined in the Brazilian legal system. To know if ahead of practises of hideous crimes is

possible to allege the parliamentary immunity and if of some form it benefits the invested

individuals of this prerogative. This research this based in the clarification of excellent aspects

concerning the parliamentary immunity in face of practises of hideous crimes, with the target

to generate agreement on the dynamics that if develops in the legal system Brazilian front the

questions of this nature.

Parliamentary Immunity, Hideous Crimes

6

SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................................

ABSTRACT........................................................................................................................

INTRODUÇÃO.....................................................................................................................

CAPITULO I: NOÇÕES GERAIS SOBRE IMUNIDADE PARLAMENTAR.........

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA...........................................................................................

1.1.1.Imunidade nas Civilizações Antigas........................................................................

1.1.2.Imunidade Anglo-Saxônica........................................................................................

1.1.3.Imunidades nos Estados Unidos e França................................................................

1.1.4.Evolução da Imunidade Parlamentar no Contexto Nacional......................................

1.1.4.1. Constituições Brasileiras de 1824 á 1988.................................................................

1.1.4.2. Constituição de 1824..................................................................................................

1.1.4.3. Constituição de 1891................................................................................................

1.1.4.4. Constituição de 1934................................................................................................

1.1.4.5. Constituição de 1937.................................................................................................

1.1.4.6. Constituição de 1946.................................................................................................

1.1.4.7. Constituição de 1967.................................................................................................

1.1.4.8. Constituição de 1988................................................................................................

1.2. FUNDAMENTOS ACERCA DA IMUNIDADE PARLAMENTAR..........................

1.3. CONCEITOS OPERACIONAIS DE IMUNIDADE PARLAMENTAR.....................

1.3.1. Imunidade Material........................................................................................................

1.3.2 Imunidade Formal.....................................................................................................

1.3.3. Imunidades dos Vereadores........................................................................................

1.3.4 Os Suplentes e as Imunidades........................................................................................

1.3.5 Da Sustação ...............................................................................................................

1.4. CARACTERÍSTICAS DA IMUNIDADE PARLAMENTAR........................................

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1.5. TRATAMENTO QUE A IMUNIDADE PARLAMENTAR RECEBEU NA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988..............................................................................

1.5.1. Persecução Penal Parlamentar e Prerrogativa de Foro.............................................

1.5.2 Possibilidade de Declaração de Inconstitucionalidade da Emenda

Constitucional 35/01...................................................................................................................

1.5.3 Limites das Imunidades................................................................................................

CAPÍTULO II - OS CRIMES HEDIONDOS NO ORDENAMENTO

JURIDICO BRASILEIRO..................................................................................................

2. CONCEITO DE CRIMES HEDIONDOS.....................................................................

2.1. COMO SURGIRAM OS CRIMES HEDIONDOS....................................................

2.1.1.Movimento da Lei e da Ordem...................................................................................

2.1.2.Principio da Proporcionalidade..................................................................................

2.2.A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O CRIME HEDIONDO....................................

2.2.1.A Implantação da Norma Especifica...........................................................................

2.2.2. Primeira Alteração da Norma, Lei 8.930 de 06 de setembro de 1994........................

2.2.3.Segunda Alteração da Norma, Lei n. 9.695 de 20 de Agosto de 1998.......................

2.2.4.A Terceira e Ultima Alteração da Norma, Lei n. 11.464 de 28 de Março de 2007....

2.3. DE QUE FORMA OS CRIMES HEDIONDOS ESTÃO

DISCIPLINADOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO........................

2.3.1. Espécies de crimes hediondos......................................................................................

2.3.1.1. Homicídio na Seara dos Crimes Hediondos.............................................................

2.3.1.2. Latrocínio na Seara dos Crimes Hediondos.............................................................

2.3.1.3. Extorsão e Suas Variações na Ótica dos Crimes Hediondos..................................

2.3.1.4. Estupro e Atentado Violento ao Pudor.....................................................................

2.3.1.5. Epidemia com Resultado Morte................................................................................

2.3.1.6.Falsificação, Corrupção, Adulteração ou Alteração de Produto

Destinado a Fins Terapêuticos ou Medicinais......................................................................

2.3.1.7. Crime de Genocídio .....................................................................................................

2.3.2. Crimes Equiparados a Hediondos, Tráfico Ilícito de Entorpecentes........................

2.3.3.Crimes Equiparados a Hediondos, Tortura................................................................

2.3.4.Crimes Equiparados a Hediondos,Terrorismo............................................................

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2.4. O PROCESSO PENAL E CRIMES HEDIONDOS..................................................

CAPITULO III: A IMUNIDADE PARLAMENTAR

DOS CRIMES HEDIONDOS.............................................................................................

3.IMUNIDADE PARLAMENTAR DOS CRIMES HEDIONDOS...............................

3.1 A Imunidade Processual do Parlamentar.....................................................................

3.1.1. O Foro Especial por Prerrogativa de Função............................................................

3.2.A influência dos Poderes, Político e econômico............................................................

3.3. A Violação dos Princípios Constitucionais..................................................................

3.4. OS BENEFÍCIOS DA IMUNIDADE FRENTE AO PROCESSO CRIME...........

3.4.1.Imunidade Material e o Delito Hediondo....................................................................

3.4.2.Imunidade Formal e o delito Hediondo.......................................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................

REFERÊNCIAS.................................................................................................................

ANEXO.................................................................................................................................

Anexo 1..................................................................................................................................

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INTRODUÇÃO

Acerca da definição do estado democrático de direito a República Federativa do Brasil

é juridicamente instituída pela Constituição da Republica Federativa do Brasil, lei máxima de

escalonamento hierárquico que promulgada em assembléia nacional pelos representantes do

povo brasileiro no distrito federal em 05 de outubro de 1988. A norma constitucional

brasileira é um modelo de forma mista com cláusulas pétreas ou imutáveis e semi-rígidas,

neste universo constitucional amparada por princípios fundamentais, direitos, garantias e um

complexo sistema de determinações normativas do estado, existem algumas prerrogativas

especialmente destinadas aos nossos representantes, tais atributos garantem aos nossos

representantes imunidades materiais e formais em face de algumas circunstancias fáticas.

Esta pesquisa destina-se saber se a imunidade parlamentar pode ser alegada por seus

destinatários diante da prática de crimes hediondos ou se de alguma forma beneficia

indivíduos investidos desta prerrogativa.

O fenômeno da imunidade propicia com que parlamentares brasileiros usufruam de

inviolabilidade cível e penal, em aspectos individualizados, que em tese tem como finalidade

de gerar garantias acerca da força e validade representativa dos parlamentares brasileiros, para

estes possam no exercício de suas funções, trabalhar com segurança no aprimoramento do

sistema pluralista que está pré-determinado pela constituição brasileira.

O presente trabalho apresenta a seguinte estrutura. No primeiro capitulo serão

estabelecidos os conceitos operacionais de imunidade parlamentar, estudando suas

características básicas, fundamentos, evolução histórica, tratamento que recebeu na

Constituição Federal de 1988. No segundo capítulo será analisado o que são crimes

hediondos, como surgiram e de que forma estão disciplinados no ordenamento jurídico

brasileiro. No terceiro tem por finalidade saber se diante da pratica de crimes hediondos é

possível alegar a unidade parlamentar e se de alguma forma beneficiam os indivíduos

investidos desta prerrogativa, e por ultimo com as considerações finais será feita uma síntese

objetiva e interpretada dos argumentos apresentados no desenvolvimento do trabalho.

10

CAPITULO I: NOÇÕES GERAIS SOBRE

IMUNIDADE PARLAMENTAR

11

1.EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Este capítulo versa exclusivamente sobre imunidade parlamentar, busca fazer um

apanhado geral sobre o assunto. Traz também em seu bojo dados históricos sobre o tema, com

base informativa na história da humanidade, sendo estes de caráter épico, com objetivo

exclusivamente ilustrativo para esta temática.

Objetivo de fazer definições sobre o entendimento técnico do tema, traça contornos

através de sua elaboração que será delimitada em seis partes que por sua vez buscam o

entendimento sobre o fenômeno da imunidade usufruída pelas lideranças legislativas, suas

origens, qual sua finalidade e os efeitos que causa no meio social.

Na primeira parte do capítulo será elaborado um roteiro sobre a evolução histórica da

imunidade parlamentar, partindo das origens do instituto até a atualidade, teremos neste item

também um subtítulo onde trataremos exclusivamente da imunidade parlamentar no contexto

nacional.

A segunda parte tratará dos fundamentos que embasam a existência da imunidade

parlamentar, expondo neste item as premissas à aplicabilidade do instituto dentro da formação

do estado democrático de direito, relacionando o assunto com a separação dos poderes nos

moldes atuais.

O terceiro título conceitua a operabilidade da imunidade parlamentar na estrutura do

estado, explicando sobre sua funcionalidade nos moldes estatais.

O quarto item aponta as características do instituto, trazendo informações para um

entendimento amplificado acerca da operabilidade do instituto, para facilitar o

confrontamento do mesmo com a análise da proposta neste trabalho.

O quinto subtítulo versará sobre Tratamento que a Imunidade Parlamentar Recebeu na

Constituição Federal de 1988, com a finalidade de entendimento da funcionalidade do

instituto com contexto jurídico da atual constituição vigente.

Na sexta e ultima parte teremos conclusão sintética e objetiva do primeiro capítulo,

com a finalidade de fazer um apanhado geral sobre o assunto tratado.

É importante ressaltar que extraindo os fatos oriundos de dados históricos que serão

apresentados no trabalho que segue, os demais dados do capitulo exceto as informações da

12

bibliografia consultada, será em caráter impessoal e não versará em momento algum sobre

personalidades contemporâneas. Delimitando a analise na seara técnica jurídica, tais como

textos normativos e a opinião de autores que tratam sobre imunidade parlamentar.

O estudo específico aqui elaborado será posteriormente confrontado coma as

informações dos capítulos seguintes, para que a pesquisa possa então fazer apontamentos

sobre as questões referentes à proposta inicial do projeto.

O instituto da imunidade parlamentar e seus benefícios nem sempre bem

compreendidos à medida que se depara com a polemica notória acerca do tema, em varias

ocasiões por parecer atribuir a determinados indivíduos do meio social, a isenção de ser

responsabilizado nas esferas normativas de abrangência coletiva.

A primeira vista o instituto parece estabelecer a inviolabilidade absoluta do

parlamentar em face da função hora exercida, contudo, existem critérios severamente

elucidados nos textos legais que norteiam e fazem com que este instituto se analisado com

maior atenção é de fato indispensável em seus aspectos primários, como a possibilidade de

expressão do representante eleito pelo seu povo, para Krieger1, a instituição de princípios é

um produto direto da história dos povos, tais princípios e institutos orientadores que regram o

comportamento e consequentemente determinam o surgimento de dispositivos normativos, de

modo que a história e o direito europeu promoveram a afirmação das imunidades

parlamentares, ainda que exista divergência doutrinaria sobre a origem do instituto.

1.1.1.Imunidade nas Civilizações Antigas

Acerca do instituto encontram-se referencias mencionando que prerrogativas de

função teriam suas origens na idade média, contudo é de conhecimento também histórico e

comum á coletividade, que os primeiros grandes lideres da humanidade, possuíam de forma

mais rudimentar através da força do poder que possuíam, privilégios de impunidade em face

seus atos, assim para materializar este pensamento, podemos fazer menção a personagens

históricos mais remotos, como os primeiros imperadores de diversas partes do mundo e trazer

a este contexto o conhecimento da Civilização Egípcia2,que nos mostra os faraós egípcios,

sendo estes os sábios dos primórdios da civilização que se tem conhecimento, exerceram

importante papel como administradores de uma das mais curiosas e remotas civilizações

1 KRIEGER,Jorge Roberto. Imunidade Parlamentar.Histórico e evolução do instituto no Brasil.Estúdio Letras contemporâneas, 2004. P.202 http://pt.wikipedia.org/wiki/Historia_Antiga. Acesso em 10 de abril de 2009.

13

humanas, eram por suas vez os antigos detentores de direito sobre a vida e a morte de castas

inferiores, em uma estrutura social extremamente hierárquica e organizada ao extremo, em

um tempo onde tudo indica não havia possibilidade de mudança de papel social, os indivíduos

que não pertenciam a classes sociais inferiores ao possuíam os mesmo direito de classes

hierarquicamente superiores, este modelo social adotava também o regime de escravidão

humana, diante deste fato nada mais precisa ser dito.

Ainda tratando do histórico do instituto Fustel de Coulanges3 nos trás em sua obra A

cidade antiga, referencias sobre a inviolabilidade quando relata sobre a tribuna ateniense, que

era considerada como lugar sagrado, nesta obra esta relatado que o orador quando nesta subia

o fazia com uma coroa em sua cabeça, a coroa de mirto, como era chamada, simbolizava que

a partir de seu uso tornava o cidadão que usava inviolável e sagrada, durante as reuniões de

assembléia para discussão e votação das leis atenienses.

Na Roma antiga conforme se encontra na obra de Fustel de Coulanges4, os patrícios,

cidadão romanos, possuíam varias regalias em face das castas inferiores, neste tempo os

cidadãos romanos tinham o poder de eleger imperadores, também podiam praticar diversos

atos de caráter inimputável, a sociedade romana que muito deixou de herança a civilização e

ao direito com seu já extinto, porem complexo sistema de normas, fundadora de máximas

jurídicas e brocardos até hoje utilizados pelos profissionais do direito, tinha como habito

comum em seus costumes e leis o favorecimentos de alguns indivíduos em detrimento de

outros.

Mais tarde esta situação resultaria em uma manifestação da plebe romana, onde a

grande maioria descontente coma situação de desfavorecida, retira-se para o Monte Sagrado,

o resultou na paralisação da cidade, diante da situação os patrícios enviam Menênio Agripa,

um importante orador romano, para parlamentar com os grevistas, e por fim, um acordo foi

estabelecido, atendendo a varias reivindicações dos grevistas dentre elas a criação do tribuno

da plebe, uma representação da plebe junto ao senado romano no anos de 494 a.C., este por

sua vez era integrado pelos tribunos, magistrados plebeus, a voz da plebe no senado romano, a

obra A Cidade Antiga5, narra a existência de uma cerimônia religiosa que fazia os primeiros

tribunos sacrossantos, devotados aos deuses e intocáveis pelo homem.

Tal sacralização da pessoa de cada tribuno, mais tarde transformou-se em lei que

garantia a este, inviolabilidade, desta forma ninguém, magistrado ou particular, poderia

3 COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martin Claret, 2003,p.141.4 COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martin Claret, 2003.P2215 COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Martin Claret, 2003.p.244

14

violentar, ferir ou matar o tribuno, estes também eram isentos de prisão ou punição, é visível

neste período a origem sacrossanta das imunidades parlamentares.

O fato que se consumou por volta do dia 15 de março de 44 a.C. Júlio César foi

assassinado a punhaladas dentro do senado, por um grupo de Senadores, liderado por Brutus e

Cássio, conforme se observa na história da Civilização Romana6, a sociedade romana,

materializa eventos que tem uma expressão primitiva de prerrogativas especiais, o que neste

caso desencadeou o fim da República e o inicio do Império Romano, assim, pode-se deduzir

que nas sociedades antigas havia o instituto da imunidade ainda que em seu estado bruto e

pouco evoluído.

1.1.2.Imunidade Anglo-Saxônica

Sobre origens do instituto da imunidade é certo dizer que o mesmo como quase todos

os costumes da humanidade que de tão arraigados passam a tornar-se leis, esta desde os

primórdios em evolução, à medida que o homem aperfeiçoa suas habilidades sociais, as

normas vão ganhando contornos mais bem definidos, tal como o arquiteto projeta sua obra, as

instituições jurídicas também buscam superação, e nestes moldes, na Inglaterra também foi

estabelecido o instituto da imunidade, no ano de 1512 d.C. inicio do Renascimento Cultural,

início da Idade Moderna, segundo Krieger7, o instituto tomou definições, com base nas

origens Anglo-saxônicas e estão propriamente endereçadas na Inglaterra e não no direito

continental europeu, manifestou-se través da liberdade de opinião (freedom of speech), que

era então o direito que assistia aos parlamentares a isenção de prestar contas aos tribunais

pelas manifestações de suas opiniões manifestadas bem como os votos proferido no exercício

de suas funções parlamentares, sendo por tanto a garantia de proteção contra possíveis

perseguições.

1.1.3.Imunidades nos Estados Unidos e França

6 http://pt.wikipedia.org/wiki/Júlio César. Acessado em 10 de abril de 2009.7 KRIEGER,Jorge Roberto. Imunidade Parlamentar. Histórico e evolução do instituto no Brasil.Estúdio Letras contemporâneas, 2004. p.22.

15

Sobre a imunidade na Constituição dos Estados Unidos da América, Kuranaka8, nos

trás em sua obra a tradução de artigo de lei constitucional, que assegurava aos deputados e

senadores os benefícios do instituto, no exercício de suas funções com ressalvas especificas

que demonstram lucidamente quais eram as preocupações constantes no período pós-

independência dos Estados Unidos da América.

Artigo 1º, seção 6.1 da Constituição de 17 de setembro de 1787: em nenhum caso, salvo traição, felonia e perturbação da paz, poderão ser presos durante sua assistência á sessão das respectivas Casas, e enquanto e elas se dirigirem ou retornarem. Eles não poderão ser interpelados, em nenhum lugar, por discurso ou debate em qualquer das Casas.9

Na Revolução Francesa, nome dado ao conjunto de acontecimentos que, entre 5 de

Maio de 1789 e 9 de Novembro de 1799, surgem novamente referencias históricas acerca da

imunidade parlamentar, na obra de Krieger10, encontramos informações sobre decreto

normativo garantiu previamente inviolabilidade aos Deputados da Revolução Francesa, o que

se deduz, com o intuito de tornar o período constituinte mais seguro aos membros do poder

legislativo burguês instaurado pela revolução.

No mesmo sentido Jorge Kuranaka, afirma que o período da revolução era o cenário

de uma luta aberta com a coroa francesa, portanto foi necessário a implantação de normas que

assistissem os objetivos democráticos da revolução, o registro histórico da imunidade

parlamentar na constituinte da França em seu período revolucionário, vejamos os principais

artigos sobre imunidade na legislação deste período:

“Os representantes da nação são invioláveis, não poderão ser processados, acusados nem julgados, em tempo algum, pelo que tiverem proferido, escrito ou praticado no exercício de suas funções de representantes”, o artigo seguinte: “Somente poderão ser presos, por fato criminoso, em flagrante delito u em virtude de mandato de prisão dando-se ciência imediata ao corpo legislativo. O processo somente poderá continuar depois que o corpo legislativo houver decidido sobre a procedência da acusação.11

Como se percebe a semelhança do texto de lei com a Constituição Federal de 1988 é

espantosa, salvo as especificações próprias da carta magna brasileira.

1.1.4. Evolução da Imunidade Parlamentar no Contexto Nacional

8 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002.p.97.9 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002p.9710 KRIEGER,Jorge Roberto. Imunidade Parlamentar.Histórico e evolução do instituto no Brasil.Estúdio Letras contemporâneas, 2004.p.2611 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002.p.98.

16

Faremos agora um apanhado geral sobre os períodos constituintes brasileiros com o

objetivo de dar melhor entendimento acerca do instituto da imunidade no contexto histórico

nacional.

A imunidade parlamentar no Brasil, sofreu vários avanços e retrocessos no que diz

respeito a sua finalidade primordial, que fundamentalmente é garantir a independência do

poder legislativo dentro da “Teoria da Tripartição dos Poderes do Estado de Montesquieu”12,

no Brasil esta oscilação foi produto de longos anos de verdadeiras batalhas travadas pelos

representantes do poder em busca de ideais quem nem sempre convergiram na mesma

direção, o que fez com que o Brasil já tenha passado por sete constituintes desde 1824.

Segundo Kuranaka13, no Brasil o instituto das imunidades, tem suas origens na

Constituição Portuguesa de 1821, posteriormente a este período foi recebendo diferentes

tratamentos, ao longo do tempo, de acordo com o contexto histórico-jurídico, a redução ou

amplificação das imunidades parlamentares até o presente momento em que a democracia

brasileira se encontra, foi o reflexo de períodos com maior ou menor grau de desenvolvimento

da democracia no nosso estado.

1.1.4.1. Constituições Brasileiras de 1824 á 1988

Faremos a partir deste ponto um apanhado histórico sobre o processo histórico e

evolutivo do instituto da imunidade parlamentar, em face de todas as fases constituições

brasileiras.

1.1.4.2. Constituição de 1824

12 wikipedia.org/wiki/Teoria_da_separação_dos_poderes. “A Teoria da Separação dos Poderes (ou da Tripartição dos Poderes do Estado) é a teoria de ciência política desenvolvida por Montesquieu, no livro O Espírito das Leis (1748), que visou moderar o Poder do Estado dividindo-o em funções, e dando competências a órgãos diferentes do Estado. As idéias de Montesquieu partiram principalmente das teses lançadas por John Locke, ainda que implicitamente, cerca de cem anos antes. A idéia da existência de três poderes, outrossim, não era novidade, remontando a Aristóteles, na obra Política.”Acessado em 15 de abril de 2009.13 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002.p.102.

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Também chamada de Carta do Império, a constituição de 1824 estabeleceu imunidade

material aos parlamentares através de ato adicional, posterior a elaboração do texto

constitucional primário. “Lei n.16, de 12 de agosto de 1834, artigo 21: “os membros das

assembléias provinciais serão invioláveis pelas opiniões e votos que proferirem no exercício

de suas funções.” 14

O artigo 27 de desta constituição proíbe a prisão de deputado ou senador, por qualquer

autoridade, neste caso seria necessária a ordem da respectiva câmara do parlamentar, com a

exceção de flagrante delito.

1.1.4.3. Constituição de 1891

Trata-se da primeira constituição republicana do Brasil, por este motivo aborda o

instituto da imunidade com mais abrangência que a constituição anterior, deixa expresso que

Deputados e Senadores são invioláveis por suas opiniões votos no exercício do mandato,

também assegura, desde a data da diplomação até novo período eleitoral, não haverá prisão

nem processo criminal sem previa licença da Câmara correspondente, salvo em casos de

flagrante de crime inafiançável.15

1.1.4.4. Constituição de 1934

Esta constituição prevê em dispositivos preliminares, imunidade parlamentar restrita

aos Deputados, o artigo 22 sustenta que o poder legislativo será exercido pela Câmara dos

deputados com a colaboração do Senado Federal, e que não será exercido propriamente pelas

duas Casas.

Estabeleceu somente imunidade na manifestação através de opiniões, palavras e votos

no exercício das funções apenas aos Deputados, além disso, o parágrafo segundo do artigo 32

estabelece que Deputados civis ou militares, em tempo de guerra, se incorporados as forças

armadas, havendo licença da Câmara dos Deputados, ficarão sujeitos ás leis e obrigações

militares. 16

14 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002.p.102.15 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002.p.103.16 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002.p.104.

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Nota-se que neste período as forças armadas começam a ganhar força dentro do estado

democrático.

1.1.4.5. Constituição de 1937

Neste ano militares chegam integralmente ao poder pela primeira vez, no dia 10 de

novembro de 1937 é consumado o golpe que instaurou o Estado Novo, a constituição deste

período foi redigida por Francisco Campos, que ocupava o cargo de Ministro da Justiça e

responsável pela introdução do fascismo no estado de Minas Gerais17.

No que diz respeito a as imunidades, é mantida a imunidade formal, inviolabilidade no

exercício de suas funções, nos mesmo moldes da constituição anterior, em relação à

imunidade material surgem mudanças, sendo implantada responsabilidade pelas opiniões

votos que emitirem no exercícios de funções, somente perante a sua Câmara respectiva.

Registros históricos afirmam o fato mais interessante deste período, que durante o

Estado Novo o poder legislativo, jamais se reuniu. 18

1.1.4.6. Constituição de 1946

Com o fim da segunda Guerra mundial e um novo contexto global, as lideranças

brasileiras empenharam-se na elaboração de uma nova constituição, nesta ocasião findou-se a

amplitude da autoridade militar e a tripartição dos poderes retornou novamente a vigorar,

Kuranaka, em sua narrativa relata o ressurgimento do Legislativo com sistema Bicameral,

com as prerrogativas de imunidade estendidas á ambas as Casas Legislativas.

Contudo, em face do contexto histórico, e a aversão das lideranças políticas ao

comunismo ou ainda uma duvida sobre qual o melhor caminho a seguir durante os períodos

da Guerra Fria19, que teve seu inicio em 1947, o receio de uma intentona comunista fez com

que o poder executivo que por sua vez, ainda possuía uma visível hipertrofia em face do

legislativo através da força dos Atos institucionais iniciados em 1964, o Ato Institucional n. 1

deste ano em seu preâmbulo caracterizava a ideologia comunista como sendo uma infecção, o

17 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002.p.104.18 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002.p.105.19 MOTA, Carlos Guilherme. Historia Moderna e Contemporânea.1.Ed.São Paulo: Ed.Moderna 1986.p.461e 462.

19

que deixa explicita a posição liberal controversa do governo militar, vejamos um trecho do

preâmbulo da norma:

Para demonstrar que não pretendemos radicalizar o processo revolucionário, decidimos manter a Constituição de 1946, limitando-nos a modificá-la, apenas, na parte relativa aos poderes do Presidente da República, a fim de que este possa cumprir a missão de restaurar no Brasil a ordem econômica e financeira e tomar as urgentes medidas destinadas a drenar o bolsão comunista, cuja purulência já se havia infiltrado não só na cúpula do governo como nas suas dependências administrativas. Para reduzir ainda mais os plenos poderes de que se acha investida a revolução vitoriosa, resolvemos, igualmente, manter o Congresso Nacional, com as reservas relativas aos seus poderes, constantes do presente Ato Institucional.20

Deste período em diante, a imunidade parlamentar começou a perder forças

gradativamente, com o advento de um novo golpe militar, que no mesmo texto normativo

acima citado expõe que a revolução 1964 não procurava legitimar-se através do congresso

nacional, mas sim o impôs por sua própria vontade.

1.1.4.7. Constituição de 1967

Com o passar dos anos e os diversos regimes que aqui foram estabelecidos, a

imunidade parlamentar, sempre ouve de forma semelhante inclusive nos termos verbais de

construção, o que de realmente significativo neste caso foram os limites impostos pelos

regimes outrora vigoraram, basta relacionarmos que, não faz muito tempo que goza

novamente da existência do Estado Democrático de Direito.

A revolução iniciada em 31 de março de 1964, que se manteve no poder durante

longos anos, durante este período ouve a extinção da imunidade parlamentar através do Ato

Institucional Nº. 5 de13 de dezembro de 1968, vejamos o que se dispunha no artigo 5º :

Art. 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, simultaneamente, em: I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função; II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais; III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política; IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança: a) liberdade vigiada; b) proibição de freqüentar determinados lugares; c) domicílio determinado 21.

O Ato Institucional Nº. 5 de 13 de dezembro de 1968, vigorou até 31 de dezembro de

1978, durante todo este período foi inexistente a pratica efetiva das atividades democráticas

20 www.acervoditadura.rs.gov.br/legislacao_2.htm. Acessado em 20 de abril de 2009.21 www.acervoditadura.rs.gov.br/legislacao_6.htm. Acessado em 20 de abril de 2009.

20

legislativas bem como o instituto das imunidades, posteriormente a este período, recomeçou o

estabelecimento da democracia no Brasil, consolidando em definitivo o instituto da imunidade

parlamentar com a promulgação da Constituição Federal de 1988.

1.1.4.8. Constituição de 1988

Tendo em vista a temática deste trabalho, passaremos a estudar com mais

profundidade a atual constituição nos títulos subseqüentes.

21

1.2.FUNDAMENTOS ACERCA DA IMUNIDADE PARLAMENTAR

Imunidades parlamentares são situações funcionais que visam permitir aos

parlamentares o exercício livre do mandato, o fundamento legal desta instituição esta abrigada

no artigo 53 Constituição Federal de 1988, em face do texto normativo vigente Deputados e

Senadores desfrutam de inviolabilidade civil e penal.

A inviolabilidade dos mandatos parlamentares é estabelecida pela Constituição a fim

de se assegurar a independência do Legislativo e de seus membros. Conforme nos ensina

Michel Temer22 tudo o que seja entendido como exercício do mandato, sua condição,

complemento ou extensão é coberto pela inviolabilidade e assim, amplamente, deve ser

interpretado, em cada caso concreto.  Nem por isso se admite a pratica de atos ilícitos.

Senadores e deputados são a voz do Parlamento. São eleitos no regime democrático,

através do voto popular, logo são as vozes do povo. A irresponsabilidade marca a liberdade de

expressão neste caso, Vidal Serrano Nunes Júnior e Luiz Alberto David Araújo23 lecionam

que a existência da imunidade afasta a incidência de caráter penal, o que neste caso, entender-

se-ia que por conseqüência da imunidade teria subsídios legais para eximir o parlamentar por

ocasionais condutas típicas procedentes dos efeitos do pronunciamento de opiniões, palavras e

votos.

A inviolabilidade resguarda a liberdade física daqueles contra encalços judiciais, em

virtude da declarada prática de crimes contra a função parlamentar. Transcorrem do princípio

da democracia representativa e do normal desenvolvimento do mandato político, Alexandre

de Moraes24 em seu estudo sobre o estatuto dos congressistas, aponta que a finalidade

democrática, consiste na independência harmoniosa rígida pelo principio da tripartição dos

poderes, o que fundamentalmente está correto, se confrontar-mos esta idéia com a situação

enfrentada pelo poder legislativo durante a vigência da constituição de 1967, já explicada

anteriormente, de modo que este também afirma positivamente a favor da proteção dos

22 TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 22ª ed. São Paulo, Malheiros Editora, p.131.23 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva 1998.p.249.24 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.395.

22

exercícios das funções legislativas o que te sido um posicionamento unânime na doutrina

consultada.

Assim temos como regra básica o entendimento que as imunidades parlamentares tem

como finalidade, servir de proteção ao representante legislador em todas as atividades

referentes ao exercício das funções, o que é à base de sua criação como instituto desde o

primórdios da existência como analisou no durante a leitura da evolução histórica contida na

primeira parte deste capitulo.

23

1.3.CONCEITOS OPERACIONAIS DE IMUNIDADE PARLAMENTAR

A operabilidade da imunidade parlamentar esta vinculada ao própria estrutura do

poder legislativo, levando em consideração a finalidade de criação normativa exercida pelo

poder legislativo, sem o instituto da imunidade o legislador estaria sujeito a possíveis

coerções de que não nos atentaremos em aprofundar neste trabalho, porem, seria difícil

conceber a democracia sem a autonomia dos poderes e a plenitude das atividades exercidas

entre os mesmos. Assim o instituto da imunidades opera primariamente sobre a personalidade

representativa do parlamentar, como representante escolhido democraticamente pelo povo.

Conforme a lição de Alexandre de Moraes,25para um desenvolvimento satisfatório do

mandato, o parlamentar, necessita contar com absoluta liberdade de convicção e pensamentos,

para propositura de leis, de maneira livre, exercida por todos seus membros, a fim de estar

livre da possibilidade de estar fragilizado perante pressões dos demais poderes que constituem

a nação.

1.3.1. Imunidade Material

Tal imunidade é vista na inviolabilidade do parlamentar, tanto civil quanto penal, por

suas opiniões, palavras e votos, deliberada pelo art. 53, “caput” da Constituição Federal, o

parlamentar necessita de liberdade, uma necessidade para seu posto e o seu bem-desempenhar

e não um regalia para a pessoa. Deve ser uma liberdade no estágio da função parlamentar, não

importando este estar situado dentro ou fora do parlamento. Alexandre de Moraes26 neste

sentido nos mostra um quadro onde a imunidade material resulta na subtração das

responsabilidades, penais, civis, disciplinares ou políticas, por opiniões palavras e votos, neste

caso os crimes da palavra, tais como crime contra a honra, incitamento ao crime apologia de

criminoso, haja vista que a imunidade material é excludente de crime nos casos admitidos e

25 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.396.26 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002. p.400.

24

por sua vez a tipificação criminosa deixa de ser constituída, pela predominância da norma

constitucional em face da penal.

Na obra de Celso Bastos27 o linha de pensamento segue a mesma direção sobre a

imunidade material, afirmando que esta espécie de imunidade exclui o parlamentar das

ocorrências no tipo penal e devido à mesma, o que seria crime cometido por um cidadão, não

está interpretado como fato típico quando praticado por parlamentar.

Ainda sobre a abrangência da imunidade material, reforçamos o entendimento da

doutrina, que a isenção de responsabilidade, são de índole jurídico-constitucional e por força

desta origem sua validade se cumpre diante da necessidade de inviolabilidade do poder

legislativo e não da pessoa do parlamentar.

1.3.2. Imunidade Formal

O entendimento primário de imunidade formal é garantir ao parlamentar a

impossibilidade ser ou permanecer preso e a possibilidade de sustar o andamento de ações

penais diante da pratica de crimes cometidos posteriormente a diplomação, no entendimento

de Alexandre de Moraes,28em analise da Constituição Federal de 1988, entende que a

imunidade formal é ampla nos casos específicos das atribuições legislantes do parlamentar

não se estendendo atos praticados fora do exercício destas funções.

A caracterização da imunidade formal, na visão de Jorge Kuranaka29 é de ordem

publica e irrenunciável, relativa e temporária, a definição de ordem publica e irrenunciável

pelos mesmos motivos da imunidade material, haja vista que é uma condição de investidura

da função publica, de modalidade representativa do poder legislativo. A relatividade é

admitida levando em consideração a possibilidade de o parlamentar haver praticado crime

comum, neste caso será independente de licença pela casa a que pertence, e mesmo sendo

este beneficiário da sustação do processo, seus efeitos só serão validos pelo período de

duração do diploma, momento em que poderá novamente responder em juízo como os demais

cidadãos.

Sobre a temporalidade esta não é infindável, kuranaka30 contempla a duração da

imunidade a luz da Constituição Federal, de modo que esta finda com o mandato, de modo

27 BASTOS, Celso Ribeiro. Dicionário de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 1994. p 82.28 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.404.29 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002.p179 e 180.30 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002p.181.

25

que a imunidade formal se difere da material pela eficácia temporal limitada, agregando

imunidade formal somente durante o exercício do mandato, no mesmo sentido Alexandre de

Moraes31 afirma que com o intuito de evita impunidade em face das infrações penais

praticadas após a diplomação, a prescrição ficará suspensa enquanto durar o mandato.

Conforme elucidado anteriormente com base doutrinaria, neste caso o parlamentar

carece ser diplomado como tal para fazer jus à imunidade, nos termos do §2º do art. 53 da

Constituição Federal32. Nos crimes precedentes à diplomação o mesmo responderá

normalmente. Posteriormente, cometendo qualquer crime o processo terá tramitação normal,

contudo a casa a qual o parlamentar pertença deve ser comunicada no processo e por

iniciativa de um partido político nela representado, pode por maioria absoluta, requerer a

sustação da ação penal, caso em que permanecerão suspensos o processo e a prescrição.

O mesmo critério se aplica ao Deputado estadual conforme o artigo art. 27, §1º da

Constituição Federal, este tem o mesmo regime que os senadores e Deputados federais. O

sigilo das fontes para a Imprensa é estendido aos parlamentares, conforme art. 5º, XIV

combinado com o art. 53, §6º da Constituição33.

1.3.3. Imunidades dos Vereadores

Os vereadores conforme não possuem imunidade formal e a material é bem restrita,

conforme o artigo 29, VIII da Constituição34 será usufruída a imunidade, no exercício do

mandato e na circunscrição do município, as garantias dadas aos parlamentares pela Magna

Carta têm como finalidade preservar a atividade parlamentar de injunções externas,

assegurando independência nas manifestações dos representantes do povo.

Os parlamentares municipais não possuem a prerrogativa de ter seus processos

sustados pela Câmara Municipal, tal como ocorre com os parlamentares federais e estaduais,

como veremos mais a frente, tendo em vista que sua imunidade material se delimita a

circunscrição do município onde exercer o mandato.

31 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.411.32 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007.p.28.33 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007.p.28.34 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007.p.18.

26

1.3.4 . Os Suplentes e as Imunidades

Sobre a suplência aponta Vidal Serrano Nunes Júnior e Luiz Alberto David Araújo35,

as imunidade não se aplicam aos suplentes, embora a Constituição de 1934 tenha atribuído ao

primeiro suplente de deputados e senadores as garantias parlamentares, o mesmo não foi feito

pela Constituição de 1988.

1.3.5. Da Sustação

Apresentado então a imunidade material e a imunidade formal. O parlamentar não

poderá ser preso, exceto em ocorrência de flagrante de crimes inafiançáveis. O procedimento

contra o parlamentar poderá, por deliberação da maioria dos membros da respectiva casa ser

suspenso.

Para julgamento de Senadores e Deputados Federais o foro competente é o Supremo

Tribunal Federal, sendo que na hipótese da denúncia contra estes for recebida pelo Supremo,

poderá ter sua tramitação sustada, até decisão final, por iniciativa de Partido Político

representado na casa respectiva. Atualmente, depois a Emenda Constitucional n. 35, não há

mais autorização do Congresso Nacional ou da Câmara dos Deputados Federais para dar

início ao processo, destarte que este não necessita de aval, mas pode ser sustado no transcorrer

de seu curso. O requerimento do Partido deverá ser apreciado pela Casa em quarenta e cinco

dias do recebimento pela Mesa Diretora referente, no entanto, como assinala Vidal Serrano e

Luiz Aberto Araújo36, a probabilidade de sustação, pelo Partido Político, ocorrerá em crime

cometido após a diplomação. No que se refere aos crimes cometidos anteriormente não

poderá haver a aludida sustação, tramitando normalmente.

O processo deverá ser apresentado à Casa respectiva do parlamentar no prazo de vinte

e quatro horas, se tratando de flagrante delito, afim de que a mesma delibere a respeito da

possibilidade ou não da prisão, conforme preceito aludido no art. 53, §2º da Constituição da

República, 37 não havendo a sustação, o processo transcorrerá normalmente, todavia

35 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 1998.p.250.36 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 1998.p.251.37 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007.p.28.

27

dependerá de consentimento da respectiva Casa qualquer determinação de prisão contra o

parlamentar

É de grande valia ressaltar que como previsto no inciso I do artigo 9238 do Código

Penal, se aplicada pena igual ou superior a um ano nos crimes praticados com abuso de poder

ou violação de dever para com a Administração Pública, ou superior a quatro anos, nos

demais casos criminais, perderá o mandato político como efeito da condenação,

conjuntamente com a imunidade, podendo ser preso.

Deste modo que é um engano acreditar que os parlamentares nunca serão presos, em

por possuir imunidade39. Nos últimos anos estamos presenciando não só a perda de mandatos

por parlamentares como, em alguns casos, sua reclusão em estabelecimento prisional, que não

serão aqui exemplificados em virtude da impessoalidade deste trabalho.

38 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007p.556.39 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002.p.159.

28

1.4.CARACTERÍSTICAS DA IMUNIDADE PARLAMENTAR

A característica primaria da inviolabilidade é ser esta de ordem pública, por estar

vinculada ao exercício de do mandato e da função legislativa, a imunidade esta subordinada à

função assecuratória da independência do Poder Legislativo e o livre exercício do mandato,

Kuranaka40 citando a lição de Carlos Maximiliano, caracteriza o instituto como sendo de

ordem publica e por conta disso torna-se também de caráter irrenunciável, por ser a

imunidade própria da atividade publica. Por ser de interesse publico e não individual, definida

a função jurídica da imunidade de interesse coletivo o parlamentar é portanto um mero

beneficiário, não sendo o destinatário real da proteção, mas sim a autonomia da função que

exerce.

Ainda pode-se dizer da imunidade como Absoluta, por ser totalmente isenta de

responsabilidade civil ou penal, desde que esteja em concordância com a atividade fim, que

por sua vez é o exercício da função legislativa, opiniões palavras e votos, dentro da seara da

materialidade do direito constitucional, conforme a lição de Alexandre de Moraes. 41

A inviolabilidade é também Perpetua ou permanente, quando se trata de eficácia

temporal, exclusivamente para o exercício da função de parlamentar, na obra de Alexandre de

Moraes citando Horta42, a inviolabilidade se protrai no tempo para garantir a segurança do

instituto.

As imunidades não são perdidas durante o estado de sítio e estado de defesa e, poderão

ser suspensas durante estado de sítio, por deliberação de dois terços dos membros da Casa

respectiva, no caso de atos perpetrados fora do Congresso que sejam conflitantes com a

execução da medida.

Celso de Mello43 leciona que o parlamentar terá imunidade somente em atuação

parlamentar ou extra-parlamentar, desde que desempenhada atividade, ratione muneris, em

razão do exercício do ministério parlamentar, do encargo atribuído devido a sua função.

Somente os procedimentos parlamentares cuja prática possa ser imputável ao exercício do

40 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002p.119.41 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.401.42 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.401.43 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.403.

29

mandato legislativo estarão velados. Assim, estão excluídas manifestações que não guardem

atribuição com o exercício do mandato parlamentar, ainda que exercidas fora do recinto

parlamentar.

São irrenunciáveis as imunidades, pois resguarda unicamente um bem público,

segundo Alexandre de Moraes44, Os parlamentares são favorecidos pelas imunidades, não

podendo renunciá-las, uma vez que objetivam amparar o funcionamento do Poder Legislativo.

No mandato de cargo público, a imunidade condescende ao parlamentar, para proteger o

cargo e não para protegê-lo, uma vez que a personalidade física do parlamentar é

representativa do cargo, cuja titularidade é daqueles que elegem representantes,o próprio

povo.

44 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.402.

30

1.5.TRATAMENTO QUE A IMUNIDADE PARLAMENTAR RECEBEU NA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Na constituinte de 1988, o instituto da imunidade parlamentar recebeu um tratamento

mais rebuscado, restituindo o instituto, o texto de lei do artigo 53 da constituinte de 198845,

além de retomar o instituto como já havia em outras constituições, aperfeiçoou as regras para

que a analise do instituto tivesse melhor eficácia legal, gerando melhor compreensão do

instituto e sua necessidade dentro do modelo de Estado Democrático de Direito.

A primazia da constituinte apara Vidal Serrano Nunes Júnior e Luiz Alberto David

Araújo46, foi a consolidação do instituto de modo que este fosse capaz de assegurar aos

parlamentares a independência de sua manifestações, a imunidade na constituinte de 88,

ganhou materialidade e formalidade, através destes princípios que foi possível dar ao

legislativo a independência necessária a uma boa operabilidade. A imunidade material na

Carta Magna de 88, garantiu inviolabilidade civil e penal amplas aos parlamentares, por

qualquer atividade relacionadas a manifestação de opiniões, palavras e votos, conforme

determina o caput do artigo 53 da CF, e permanece desde a promulgação da norma.

45 Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.  § 3º Recebida a denúncia contra Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. § 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva.   § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.46 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva 1998.p.249.

31

Quanto ao caráter formal a inviolabilidade, o texto original, conforme a lição de

Alexandre de Moraes47a Constituição de 1988 autorizou dupla imunidade formal, imunidade a

prisão e imunidade a instauração de processo, o que posteriormente foi modificado, com a

Emenda Constitucional n.35/01 de 20 de dezembro de 2001, que alterou a redação original,

esta alteração por sua vez, manteve a imunidade formal sobre a ordem de prisão e alterou as

condições de imunidade formal processual, o que mudou no procedimento neste caso, foi a

forma de se decretar a prisão de um parlamentar, no texto original condicionava a prisão a

previa licença da casa parlamentar.

Com esta alteração o STF deve comunicar a casa parlamentar do parlamentar e em

vinte quatro horas, nos casos de prisão, para que a mesma decida pelo voto da maioria de seus

membros sobre o caso, mantendo o poder de decisão de manutenção da prisão dos seus pares

desta forma, a imunidade formal dos parlamentares não foi extinta, mas sim modificada.

1.5.1. Persecução Penal Parlamentar e Prerrogativa de Foro

A redação vigente do artigo 53 da CF outorga a Casa Legislativa correspondente o

poder se sustação processual em qualquer momento antes da decisão final do poder judiciário

em relação a ações penais propostas contra parlamentares em face de crimes praticados após a

diplomação, na lição de Alexandre de Moraes48 a persecução penal do parlamentar, contará

com tratamento diferenciado, dependendo do momento da pratica do crime, no caso de crimes

anteriores a diplomação, não ocorrerá imunidade formal em face ao processo e neste caso o

parlamentar será normalmente processado e julgado pelo Supremo Tribunal Federal enquanto

durar o mandato, Vidal Serrano Nunes Júnior e Luiz Alberto David Araújo49 complementam,

com o termino deste, não sendo este processado pelo menos parcialmente, o processo arreda-

se a instancia ordinária. Já nos casos de crimes ocorridos após a diplomação, o processo e o

julgamento ocorrem enquanto durar o mandato, se a necessidade de previa autorização,

todavia, neste caso o processo poderá ser sustado apedido de partido político com

representação na casa respectiva, pelo voto ostensivo e nominal da maioria absoluta dos

membros, e resultará também na suspensão da prescrição.

47 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.405.48 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.407.49 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva 1998.p.251.

32

Atende a questão ainda a as Súmulas 394 e 451 do STF, a primeira determina que os

atos delitivos ocorridos durante o mandato, prevalecem em competência especial mesmo após

a termino do exercício, a segunda defende o retorno a instancia ordinária, quando findado

definitivamente o exercício funcional para ocorrências anteriores ao mandato.

Ainda sobre a imunidade formal, esta não tem o poder de impossibilitar a o inquérito

policial e a investigação judicial promovidos pela policia judiciária, desde que as medidas

necessárias a persecução penal sejam solicitadas junto ao órgão competente no caso do

parlamentar o STF, desta forma se caracteriza a prerrogativa de foro em razão da função, o

processo será regido pela Lei N. 8.038, de 28 de Maio de 1990.

1.5.2. Possibilidade de Declaração de Inconstitucionalidade da Emenda Constitucional

35/01

A possibilidade da declaração de inconstitucionalidade de uma emenda constitucional

é tema pacífico na doutrina e no Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes50 afirma,

ser possível ao STF, a constitucionalidade de uma emenda, e verificar se o legislador

reformador respeitou as exigências contidas no artigo 60 da Constituição Federal de 1988.

As alterações do texto constitucional devem observar obrigatoriamente os limites

traçados pelo Poder Constituinte originário, sejam eles expressos e implícitos, limites

expressos são classificados em materiais, circunstanciais e formais e estão previstos no art. 60

da Constituição Federal, o Supremo Tribunal Federal, Entretanto, ainda não se manifestou

especificamente sobre a constitucionalidade da Emenda do artigo 53.

Ocorre que ao restringir a imunidade parlamentar a ponto de desconstituir a

inviolabilidade processual, devido ao fato a ocorrência do abuso de interpretação normativa a

favor da impunidade, analisando a lição de Alexandre de Moraes51 o Constituinte derivado

pode ter usurpado a independência e harmonia da tripartição dos poderes, pode ter existido

neste caso a transgressão do principio da igualdade, tendo em vista que a alteração imposta

extinguiu uma prerrogativa conferida pelo constituinte originário aos parlamentares

objetivando que fosse garantida a autonomia dos poderes.

1.5.3. Limites das Imunidades

50 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.405.51 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.405.

33

Trataremos doravante da possibilidade de extensão interpretativa dos textos

normativos que regem o instituto da imunidade na Constituição Federal. De acordo com o

contexto atual e a série de eventos polêmicos ocorrentes diuturnamente no Congresso

Nacional, Kuranaka52 nos propõe o fato de que a inviolabilidade poderia estar alcançando

interpretatividade em face de situações diversas, e por analogia, estaria sendo praticada a

dilação do entendimento do instituto da imunidade, o que estaria em tese causando a distorção

da finalidade primaria da finalidade do texto de lei.

Logo o nexo causal entre a norma e a finalidade legislante estaria sofrendo de abuso

analítico, que para Kuranaka, chega ao ponto de ferir o principio da igualdade, quando a

imunidade deixa de ser uma prerrogativa para tornar-se um privilégio que como já

mencionamos no subtítulo anterior resultou na Emenda Constitucional n.35, que por sua vez

apresenta possibilidades reais de ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade.

No roteiro originário da constituinte de 1988, certamente não estava sendo esperado a

serie de fatos controvertidos constatados na atualidade, e o tratamento do instituto, que

primou pela garantia do exercício da democracia lapidando a norma de acordo com a

necessidade de garantir a representatividade efetiva da sociedade, carente de soluções, de toda

ordem, parece ter agora um novo desafio, como evitar o uso indevido da norma, dentro da

estrutura democrática do estado.

As restrições ao instituto da imunidade pré-constituinte de 88, originavam-se em face

questões de divergências ideológicas oriundas dos períodos pós-segunda guerra mundial,

agora as duvidas pairam sobre o entendimento correto do instituto dentro de um regime

plenamente democrático, propicio da existência plena dos três Poderes, respeitando a

princípiologia normativa, contudo as normas são criadas e interpretadas por seres humanos,

logo passiveis de erro de conduta.

Em face dos conturbados períodos históricos que a imunidade parlamentar atravessou

em nosso país, conforme elucidado neste capitulo, onde se constatou o boicote ao instituto,

observou-se a preocupação do legislador originário em promover a autonomia plena do

instituto da imunidade, contudo a analise da imunidade formal propiciou que se identifica a

carência da aplicabilidade correta do instituto ou o abuso do mesmo.

Na abordagem feita traçamos um caminho que entendemos ser compatível com o

confronte da temática criminal, frente a necessidade de entendimento, aplicabilidade e

52 KURANAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo (SP): Juarez de Oliveira, 2002. p177

34

proteção que carecem o instituto da imunidade parlamentar, que será confrontada com a seara

penal nos capítulos que seguem.

35

CAPÍTULO II

OS CRIMES HEDIONDOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

36

2. CONCEITO DE CRIMES HEDIONDOS

Nesse capítulo será analisado o que são crimes hediondos, como surgiram e de que

forma estão disciplinados no ordenamento jurídico brasileiro, primeiramente será estabelecido

o conceito de crimes hediondos, apontado suas características e em que consistem os mesmos.

Em seguida trataremos da origem dos crimes hediondos, traçando uma visão da

trajetória social que fez com que se consolidasse esta qualidade de delito e como esta

concepção chegou ao Brasil.

Será abordada a temática da constituição federal e a sua predeterminação quanto ao

tratamento dos crimes hediondos no pais em face da constituinte de 1988, a implantação da

norma especifica em 1990 e suas posteriores alterações nos anos de 1994, 1998 e 2007,

respectivamente.

Abordaremos quanto da forma, quais são os crimes hediondos e crimes equiparados,

em um estudo isolado de cada modalidade com a finalidade de estabelecer como os crimes

hediondos estão disciplinados no ordenamento jurídico brasileiro, e por fim será construído

um tópico sobre crimes hediondos e processo penal, focado principalmente na ultima

alteração da norma e os principais efeitos resultantes da mesma.

Preliminarmente é necessária a definição do termo hediondo, etimologicamente o

Dicionário Aurélio53 nos define a palavra com os seguintes adjetivos: Depravado, vicioso,

sórdido, imundo, pavoroso, sinistro e medonho.

Com esta definição terminológica, podemos ter um melhor entendimento quando

necessária a definição de um ato criminoso como hediondo é dedutível que o mesmo esteja

qualificado no topo da escala lesiva, quanto ao entendimento penal e jurídico, para Damásio

de Jesus54, hediondo é o crime que, pela forma de execução ou pela gravidade objetiva do

resultado, provoca intensa repulsa, no ordenamento jurídico brasileiro a concepção de crimes

hediondos esta delineada como crimes que o legislador entende merecedores de maior

reprovação por parte do Estado.

53FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. corresponde à 3ª. edição, 1ª. impressão da Editora Positivo, revista e atualizada do Aurélio Século XXI, contendo 435 mil verbetes, locuções e definições. Edição eletrônica autorizada à Positivo Informática Ltda. 2004.54 JESUS, Damásio Evangelista de, Novas Questões Criminais, São Paulo, Saraiva, 1993, p. 28.

37

A Constituição Federal de 198855, delegou ao legislador infraconstitucional, em seu

artigo 5º, inciso XLIII, a tarefa de especificar quais seriam os crimes definidos como

hediondos:

a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem,

Na opinião de Gevan Almeida56este critério legalista, teria o poder de levar o julgador

durante a apreciação das circunstancias, declarar um crime hediondo em face suas

características especificadas pelo organismo normativo.

A classificação das infrações penais para Capez, 57 é dividido em face do grau de

lesividade que é classificada em quatro categorias:

A infração de menor lesividade ou lesividade insignificante, é definida na atipicidade

do fato, consiste em fenômenos lesivos que por sua vez não são razoáveis de tipificação pelo

direito penal, consistindo em fatos sem nem uma repercussão social.

Infrações de menor potencial ofensivo, neste caso o menos potencial não se confunde

com a insignificância da primeira definição, enquadram-se neste grau crimes com punição de

até dois anos de prisão e as demais contravenções penais, as infrações de menor potencial

ofensivo são beneficiadas pela Lei dos Juizados Especiais Criminais;

Infrações de grande potencial ofensivo consistem em crimes graves, mas por sua vez

ainda não são interpretados como crimes hediondos, neste caso um homicídio simples,

dependendo das circunstancias não esta qualificado como crime hediondo;

Infrações hediondas, para Capez são legalmente orientadas pela Lei Especial dos

Crimes Hediondos e considerou a preocupação do legislador constituinte em previamente

elencar o tráfico de drogas a tortura e o terrorismo, como matéria penal a ser digna de um

tratamento penal mais severo.

O critério adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro foi a legalidade, assim em

cumprimento as disposições do legislador constituinte, em 1990 foi instituída a Lei 8.072/90,

que veio a contar com alterações com a Lei n. 8.930/94 e posteriormente com a Lei n.

11.464/2007.

55 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007.p.9.56 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.p.118.57 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.171.

38

No Brasil a lei age de forma taxativa, determinando quais são as praticas delitivas que

serão apreciadas sob a égide desta norma especifica, quais são considerados crimes hediondos

o homicídio quando praticado em atividade típica de extermínio, ainda que cometido por um

só agente, e homicídio qualificado (art. 121, parágrafo 2º, incisos I,II, III,IV e V); Latrocínio;

Extorsão qualificada pela morte; Extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada;

Estupro; Epidemia com resultado morte; Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de

produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais; Crime de genocídio previsto nos artigos

1º, 2º e 3º da lei 2889/56. São crimes equiparados a hediondos o Tráfico ilícito de

entorpecentes; Tortura; Terrorismo.

39

2.1. COMO SURGIRAM OS CRIMES HEDIONDOS

2.1.1.Movimento da Lei e da Ordem

Um movimento jurídico em especifico foi fundamental para a instituição da norma,

este movimento é chamando de O Movimento da Lei e da Ordem58, originalmente chamado

“Law and order”, nasceu nos Estado Unidos da América nos anos 60 como uma reação ao

crescimento dos índices de criminalidade, teve seu surgimento com força no ano de 1976, a

pena de morte que estava suspensa naquele pais, voltou a ser aplicada, em conjunto com

normas penais duríssimas, que em regra deveriam ser cumpridas em regime fechado, em

decorrência do aumento progressivo dos índices de criminalidade, que provavelmente foi um

produto resultante do grande crescimento urbano que os EUA sofreu neste período, e acabou

por inspirar movimentos penalistas mais rigorosos em outros paises como o Brasil que

acabou por informar na constituinte de 88 o inciso LXIII do artigo 5º, que posteriormente

resultaria na criação da Lei n. 8.072/90.

Portanto, no intuito de restabelecer a lei e a ordem, este movimento defende, entre

outras ações, que sejam criados novos tipos penais, que haja maior abrangência das

cominações punitivas dos tipos penais vigentes, que sejam produzidas novas leis especiais em

face de determinados tipos penais, a desconsideração ou desuso das garantias penais, por fim,

adota um posicionamento defensivo, para forçar uma atuação mais rigorosa dos mecanismos

de repressão a criminalidade.

2.1.2.Principio da Proporcionalidade

Para Capez59 mandamento constitucional sobre a norma dos crimes hediondos é

embasado no princípio da proporcionalidade, tal princípio é considerado constitucionalmente

implícito, refere-se também ao ônus da sociedade em face da criação da norma delitiva uma

58 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.p.97.59 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.171.

40

vez que a ameaça de punição ira se estender a sociedade como um todo tendo como paga a

proteção do interesse tutelada pelo tipo incriminador da norma de modo que é vantajoso no

caso da tipificação hedionda em face do bem jurídico protegido por esta norma, logo o

principio da proporcionalidade se faz indiscutivelmente presente neste contexto.

41

2.2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O CRIME HEDIONDO

O inicio do processo normativo dos crimes hediondos nos ordenamento jurídico

brasileiro esta situado na Constituição Federal de 1988 artigo 5º inciso XLIII, onde o poder

constituinte determina ao legislador infraconstitucional, conforme já anteriormente

mencionado, a tarefa de determinar os crimes de maior potencial lesivo.

Conforme a lição de Pacheco60 a norma constitucional esta embasada no princípio da

proporcionalidade, este princípio é considerado constitucionalmente implícito, no entanto, a

Doutrina nos aponta outras opções orientadoras do instituto como o corolário do princípio do

Estado de Direito localizado no artigo 1º, caput, da Constituição Federal de 1988, usando

como critério o princípio da igualdade, o respeito aos direitos fundamentais, e norteando-se

pelo princípio do devido processo legal, com base nestes preceitos a Constituição Federal61

tem por finalidade garantir a plenitude do estado democrático, o ato legislativo de reservar-

se o direito de estabelecer um tratamento penal mais rigoroso aos crimes de tortura, tráfico

de drogas, terrorismo e os crimes equiparados hediondos, tem por intuito suprimir os índices

de delitos de maior lesividade, no entendimento de Capez62, a prévia determinação do

legislador originário com reservas sobre tortura, trafico de ilícito de entorpecentes, terrorismo

e os outros crimes definidos como hediondos, serviu como orientação base, para que fosse

possível estender o objetivo e por fim tratar determinadas praticas delitivas com o rigor

necessário.

Para o correto funcionamento do intuito do poder constituinte foram propostos três

sistemas, o legal, o judicial e o misto.

Diante do sistema legalista, somente a lei poderia indicar de modo taxativo, quais

seriam os crimes específicos, assim o magistrado não poderia eximir-se de julgar como

hediondo um crime constante da norma, contudo um delito alheio a norma não poderia

receber interpretação análoga.

60 PACHECO, Denílson Feitoza. Direito Processual Penal. Teoria, Crítica e Práxis. 4. ed. revista, atualizada e ampliada. Niterói: Impetus, 2006. p. 167-168.61 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada: acompanhada dos índices alfabético-remissivos da constituição e da jurisprudência. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.p.263.62BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada: acompanhada dos índices alfabético-remissivos da constituição e da jurisprudência. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. P.171.

42

O critério judicial define-se por ser exatamente o oposto do primeiro, de modo que, a

avaliação do crime seria dependente da apreciação do magistrado e cabendo a este identificar

o caráter hediondo de cada crime e particular.

O critério misto seria um hibrido das duas propostas legalista e judicial, onde o

magistrado poderia fazer o uso de seu discernimento para reconhecer como hediondo um

delito alheio a legislação, conforme a lição de Fernando Capez, o que prevaleceu foi o sistema

legal, e sua obra citando Alberto Silva Franco, nos faz um exemplo de que não seria hedionda

uma atividade delitiva, ainda que esta fosse horrenda, que não houvesse sido caracterizada

pelo legislador. 63

2.2.1.A Implantação da Norma Especifica

A Lei 8.072 de 25 de julho de 1990, que entrou em vigor no dia seguinte a sua

publicação, passando a integrar o ordenamento jurídico pátrio com o objetivo de cumprir as

pré-determinações do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, estabelecendo tratamento

penal mais severo aos crimes hediondos e aos a eles equiparados, esta norma também

determinou em seu texto, quais seriam os crimes classificados como hediondos, em seu artigo

1º, a Lei 8.072/90 enumerou os crimes considerados hediondos, merecedores de maior rigor

penal e processual penal, desta forma apenas são modalidades criminais hediondas as que

estão dispostas no artigo primeiro da lei, as modalidades equiparadas, estão no parágrafo

único do mesmo artigo.

No entendimento de Guilherme Souza Nucci64, existem duas faces da verdade, onde o

a lei beneficiaria positivamente pelo critério de segurança quanto à aplicabilidade da norma,

haja vista que somente são determinados como hediondos os delitos constantes da redação

normativa, entretanto crimes com alto índice de lesividade alheios a norma estariam

descartados do rigor da penalidade, por outro aspecto, uma avaliação normativa torvelinha, é

possível em face de alguns aspectos práticos. De modo que ao legislador seria possível a

adoção de outras analogias a fim de conceber quais as modalidades delitivas seriam crimes

hediondos, o critério judicial, baseado na analise subjetiva do magistrado, poderia suprir a

necessidade de elevar uma determinada pratica delitiva em particular ao status de crime

63 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada: acompanhada dos índices alfabético-remissivos da constituição e da jurisprudência. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p.172.64 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, 2ª ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 595.

43

hediondo, em outra ótica poderia também arrefecer a hediondez de um delito em face da sua

possível irrelevância jurídica para a sociedade e o Estado de Direito.

Entretanto a modalidade de apreciação subjetiva estaria sujeita ao risco do

descumprimento do objetivo da lei, em sua obra Nucci65sustenta, que a analise por critérios

subjetivos é o fator risco em face dos valores pessoais de cada magistrado para apreciar um

crime como hediondo ou não, invadindo a seara dos seus valores pessoais, ofertando o risco

de conterem preconceitos, e rompantes segregantes, possivelmente deixando de considerar

como hediondos crimes graves em que a vítima tenha uma orientação sexual e desacordo com

suas convenções, seja de classe econômica hipossuficiênte ou ainda de etnia considerada

racialmente diferente.

O método legalista define-se como um mecanismo que confere ao legislador a

primazia na definição dos delitos hediondos, no entanto, ainda restaria ao judiciário a tarefa

de entender e caracterizar os tipos penais em casos concretos, frente ao conceito previamente

elaborado, persiste, ainda a insegurança, com base na dúvida interpretativa, o universo

jurídico brasileiro findaria por incumbir a jurisprudência da interpretação de quais atos

seriam ou não delitivamente hediondos.66

2.2.2. Primeira Alteração da Norma, Lei 8.930 de 06 de setembro de 1994.

Esta norma formalizou pela primeira vez um novo texto ao conteúdo original de 1990,

com isto passou a figurar na redação do artigo 1º da Lei 8.072/90, o homicídio simples,

quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só

agente, e o homicídio qualificado conforme o § 2º do art. 121 do código penal e todos os seus

respectivos artigos no rol dos delitos anteriormente definidos como hediondos, conforme o

texto reformado da Lei 8.072/90 abaixo demonstra:

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º São considerados hediondos os crimes de latrocínio (art. 157, § 3º, in fine), extorsão qualificada pela morte, (art. 158, § 2º), extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º), estupro (art. 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único), atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único),

65 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, 2ª ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007p.595.66 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, 2ª ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007p.595.

44

epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º), envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal, qualificado pela morte (art. 270, combinado com o art. 285), todos do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940), e de genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956), tentados ou consumados. 

 Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994)

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994)

II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994)

III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994)

IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994)

V - estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994)

VI - atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994)

VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994)

VII-A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 20.8.1998)VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto

destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 20.8.1998)

Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado. (Parágrafo incluído pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994)67

É notório o corte integral do caput do artigo primeiro, com a finalidade de dar nova

redação, eliminou, em seu inciso V do art. 1º a palavra caput do delito tipificado no art. 213,

tendo em vista que se o citado artigo não possui nenhum parágrafo, desnecessário era a

referência ao seu caput, e omitiu o delito de envenenamento de água potável ou de substância

alimentícia ou medicinal, qualificado pela morte art. 270, combinado com o art. 285, ambos

do Código Penal.

2.2.3.Segunda Alteração da Norma, Lei n. 9.695 de 20 de Agosto de 1998

67 http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L8072.htm. Acessado em 17 de maio de 2009.

45

A segunda alteração da norma ocorreu em 1998, com o advento da Lei n. 9.695, 68a

alteração consistiu na inclusão do crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração

de produtos dirigidos a fins terapêuticos ou medicinais constantes no artigo 273 do código

penal69.

No entanto, esta nova redação trouxe consigo, o estigma do código penal onde se

qualifica no mesmo rol de atividades delitivas a falsificação de cosméticos e produtos de

saneamento, o que resultou em um furor instantâneo, por boa parte da comunidade jurídica70,

a concepção de adotar como hedionda a atividade de venda de uma matéria prima de

procedência duvidosa não parecia a primeira vista algo de cunho hediondo.

A finalidade da mudança do texto nasceu vinculada ao combate direto á falsificação de

medicamentos, entretanto, o que teria como objetivo primário regular a atividade laboratorial

e a manipulação de substancias medicamentosas abarcou itens de outro gênero, a cosmética

irregular atualmente ainda continua sob a égide dos crimes hediondos.

2.2.4.A Terceira e Ultima Alteração da Norma, lei n. 11.464 de 28 de Março de 2007

Esta recente mudança no texto da norma é fundada, na influencia exercida pelo

entendimento jurisprudencial, em face da concessão da progressão de regime, principalmente

aos criminosos condenados pela pratica de trafico ilícito de entorpecentes, para resolver o

impasse legal sobre a questão alterou-se pela terceira vez o texto da norma original, a base da

mudança foram as decisões do STF. 71

A nova legislação não operou mudanças somente pertinentes à progressão de regime,

suprimiu a vedação da concessão de liberdade provisória aos acusados pela prática de crimes

hediondos ou a eles equiparados, doravante, caso não estejam presentes nenhum dos

68 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9695.htm.Acessadoem 17 de maio de 2009.69 § 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico. (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das seguintes condições( Código Penal Brasileiro, artigo 273,§1º, §1º-A,§1º-B)70 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.p.155.71 CAPEZ, Fernando. O direito penal e processual penal na visão dos tribunais. São Paulo: Saraiva, 2002. p.549 e 550.

46

elementos que autorizem a prisão preventiva, poderá e deverá o acusado por esses crimes

responder o processo em liberdade.

Frente a esta analise, o condenado por crime hediondo ou a ele equiparado, cumpridos

dois quintos da respectiva pena sendo réu primário, ou três quintos caso seja reincidente, terá

o direito de progredir de regime, lembrando que o réu sempre iniciará em regime fechado o

cumprimento da pena.

47

2.3 DE QUE FORMA OS CRIMES HEDIONDOS ESTÃO DISCIPLINADOS NO

ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.

2.3.1. Espécies de crimes hediondos

O ordenamento jurídico brasileiro disciplinou os crimes hediondos na Lei 8.072/90,

conforme já analisado anteriormente em cumprimento a um dispositivo constitucional, esta

norma passou por três reformas em seu conteúdo, com a finalidade de dar uma melhor

resposta social, frente algumas espécies delitivas em especifico devido ao seu alto grau de

lesividade na pirâmide axiológica criminal, estudaremos agora em particular cada uma destas

praticas delitivas, que se dividem em dois grupos distintos, os crimes hediondos propriamente

ditos e os crimes equiparados a hediondos, no Brasil são considerados crimes

hediondos:Homicídio quando praticado em atividade típica de extermínio, ainda que cometido

por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, parágrafo 2º, incisos I,II, III,IV e

V);Latrocínio nas formas de Extorsão qualificada pela morte e Extorsão mediante seqüestro e

na forma qualificada;Estupro; Epidemia com resultado morte; Falsificação, corrupção,

adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais; Crime de

genocídio previsto nos artigos 1º, 2º e 3º da lei 2889/56. ainda são crimes equiparados a

hediondos o Tráfico ilícito de entorpecentes a Tortura e o Terrorismo, todos nos termos da lei

n. 8.072/90.72Passaremos a estudá-los de maneira isolada para um melhor entendimento.

2.3.1.1. Homicídio na Seara dos Crimes Hediondos

Esta prática delitiva esta qualificada como crime hediondo pelo legislador nos moldes,

no código penal, quando praticado em atividade típica de extermínio, ainda que cometido por

um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, parágrafo 2º, incisos I,II, III,IV e V), na

72 http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L8072.htm. Lei n. 8.072/90. Acessado em 20 de maio de 2009.

48

opinião de Gevan de Almeida73, o legislador não falhou ao definir crime hediondo homicídio

qualificado, nos casos de atividade de grupo de extermínio, a motivação do crime mediante

promessa de pagamento ou por motivo torpe ou fútil, nestes casos fica a critério do juiz

decidir quanto a hediondez do homicídio, haja visto que se trata da necessidade da analise do

poder judiciário a cerca da tipicidade do fato, neste caso o doutrinador discorda da opinião de

Damásio de Jesus74, dizendo que este considera esta hipótese como criem hediondo

condicionado, em face das demais hipóteses que são , homicídio qualificado, latrocínio entre

outros crimes.

Para Capez75, o entendimento de homicídio simples em atividade típica de grupo de

extermínio ainda que consumado por apenas um executor, é hediondo em face da mudança da

norma em 1994, o que para este não se confundiria com quadrilha ou bando, em virtude da lei

que não exige contagem de numero mínimo de agentes para considerar um crime hediondo ou

simples o que se definiria então pelas circunstancias do fato, em especial para a analise do

delito do artigo 288 do código penal brasileiro, em face da finalidade de eliminar um grupo

especifico de pessoas, neste caso Capez, concorda com Damásio de Jesus e cita sua opinião

sobre crime hediondo condicionado determina a atividade de grupo de extermínio para

condicionar a hediondez em face da conduta típica.

No caso do homicídio qualificado, imperam as circunstancias agravantes do artigo 61

do Código Penal,76 onde determinam-se as causa de majoração de pena, constituindo as

elementares do homicídio para caracterizar sua forma qualificada, neste artigo estão dispostas

as condições determinantes do crime e o modo de execução, que tem por finalidade revelar o

grau de periculosidade e perversidade do crime, para Capez77 as motivações assumem o papel

principal no homicídio qualificado, pois em face disso nos aponta importância da analise do

fato diante da variedade de hipóteses que podem nortear o homicídio qualificado, tal como a

73 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.p.121 e 122.74 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.p.122.75 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.174.76 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007. p.552. Código Penal Brasileiro.77 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007. p.552. Código Penal Brasileiro.p.178.

49

motivação, que pode ser subentendida pela sociedade como compreensível ou opostamente

repudiada em face do efeito que causa no consciente coletivo78

2.3.1.2. Latrocínio na Seara dos Crimes Hediondos

A redação do art. 157, § 3º, fine, do Código Penal79 e na lei n. 8072/90 artigo 1º, II,

cuida do roubo seguido de morte, é uma modalidade delitiva que abrange dois fatos típicos

em uma ação criminosa, ao mesmo causa dano a vida e ao patrimônio da vitima em face desta

circunstância é que se define o rigor da legislação em aplicar a cominação penal de 20 a 30

anos.

Na ótica de Gevan de Almeida80entende-se que por ser um crime de natureza mista, é

passível de se abstrair uma serie de duvidas acerca da tipificação do delito, hora ocorrendo

homicídio este pode ser caracterizado como tal, hora não resultando na pior hipótese, a

resposta por tentativa pode haver outra interpretação, principalmente no caso de resultar em

lesões corporais, o que é possível de ocorrer neste caso na descaracterização do fato típico o

remetendo para o roubo qualificado pelas lesões corporais, de qualquer modo a discussão

sobre este gênero delitivo é vasta, todavia não sendo epicentro deste trabalho seguimos

adiante.

2.3.1.3. Extorsão e Suas Variações na Ótica dos Crimes Hediondos

A extorsão é ato criminoso que define como constranger alguém com emprego de

violência ou grave ameaça, objetivando para si ou para terceiro, vantagem econômica ilícita 81

o artigo 158 do Código Penal faz a tipificação legal originaria e a lei dos crimes hediondos

acentua a reprovação jurídica do ato lesivo, da mesma forma que o roubo a extorsão pode

78 Conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma um sistema determinado com vida própria. ( Durkheim, Émile. Da divisão do trabalho social. pág. 342.)79 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007. p.552. Código Penal Brasileiro.p564.80 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.p.133.81 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007. p.552. Código Penal Brasileiro.p564.

50

também causar lesão a mais de um bem jurídico, vida e patrimônio, a modalidade de extorsão

é denominada concussão, sendo regulamentada pelo artigo 316 do Código Penal82.

A Extorsão qualificada pelo resultado morte, se for praticada mediante violência e

desta resultar morte, a pena inicial cominada e vinte a trinta anos de reclusão e multa.

Descarta-se a hipótese de qualificar o resultado morte se o de cujus for co-autor do crime, de

modo que este fato não pode ser forma agravante delitiva83.

Ainda na extorsão qualificada pelo resultado morte, a Lei nº 8.072/1990, em seu artigo

1º, III, assim dispõe que são considerados hediondos os seguintes crimes frente o Código

Penal, consumados ou tentados: III extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º), outra

observação a fazer se refere à consumação e tentativa, não se pode aplicar a Súmula 610 do

Supremo Tribunal Federal84ao crime de extorsão qualificado pelo resultado morte, haja vista

que é crime formal, o qual independe da obtenção de vantagem econômica indevida, para a

sua consumação, de modo que deve ser adotada na aplicação, a Súmula 96 do Superior

Tribunal de Justiça85.

A consumação do delito de extorsão mediante seqüestro, é qualificado em face da

situação de poder dos criminosos em face da vitima, através do dolo em agir criminosamente

com intenção de obter vantagem ilícita, privando a mesma de sua liberdade, na obra de

Mirabete86, este conceito é análogo nos casos de cárcere privado, causando da mesma forma o

constrangimento ilegal, no mesmo sentido, Capez87 apresenta de seguinte maneira: se “a

finalidade for coagir outrem para que faça ou deixe de fazer algo, o crime será de

constrangimento ilegal”. Reto a esta analise, se o autor não tiver o dolo de seqüestrar, e sim o

de coagir outrem para que faça ou deixe de fazer alguma coisa, estará consolidado o crime de

extorsão.

82 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007. p.552. Código Penal Brasileiro.p579.83 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado..., p. 648.84 http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_601_700. Acessado em 18 de maio de 2009. (SÚMULA Nº 610 .HÁ CRIME DE LATROCÍNIO, QUANDO O HOMICÍDIO SE CONSUMA, AINDA QUE NÃO REALIZE O AGENTE A SUBTRAÇÃO DE BENS DA VÍTIMA).85 http://www.dji.com.br/normas_inferiores/regimento_interno_e_sumula_stj/stj__0096.htm.acessado em 18 de maio de 2009. ( o crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida.)86 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal..., volume 2, p. 187. “se tal elemento subjetivo estiver ausente, ou seja, se o agente atua por outro intento que não o de seqüestrar a vítima, não se configura o seqüestro"87 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal..., Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 310.

51

2.3.1.4. Estupro e Atentado Violento ao Pudor

São modalidades delitivas previstas no Código Penal, 88nos artigos 213 e 214, e

também as modalidades qualificadas pelo artigo 223 do mesmo código, sobre o resultado de

lesão corporal de natureza grave, logo se deduz que por este motivo foi parte integrante da

legislação dos crimes hediondos, sobretudo em face da repulsa que causa em particular no

consciente coletivo, em também na maioria dos indivíduos mentalmente saudáveis, tendo em

vista que a razão é que nos diferencia dos demais seres vivos.

A legislação dos crimes hediondos adotou a seguinte ótica a respeito do assunto,

consideram-se hediondos os crimes na sua forma simples e na sua forma qualificada,

conforme se observa no texto normativo no artigo 1º, incisos V e VI, para Capez 89trata-se

casos onde existe o emprego da violência real, com o uso de violência física e ou moral em

casos onde os possíveis resultados serão a lesão corporal de natureza grave ou a morte da

vitima, ainda a que tratar sobre a presunção da violência, estabelecida no artigo 224 do

Código penal, neste caso existem três hipóteses de presunção de violência e a tipificação de

crimes contra os costumes, a lógica que se usa é acerca da que a vitima não tem capacidade

para consentir validamente ou não tem capacidade para a resistência destas opções presumiu-

se a violência ficta, que se difere da violência real, contudo sofre o mesmo rigor legal levando

sempre em consideração a existência da caracterização de violência hedionda, como a palavra

diz, algo que seja repulsivo ou fora dos parâmetros aceitáveis .

2.3.1.5. Epidemia com Resultado Morte

É uma modalidade delitiva constante no código penal90no artigo 267, §1º, determinado

como criminosa a atividade, caracterizada na propagação de germes patogênicos, causando

epidemia ou surto de doença infecciosa que atinge diversas pessoas com o resultado morte,

este crime é entendido como hediondo no artigo primeiro inciso VII, conforme a lição de

88 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007. p.552. Código Penal Brasileiro.p570.89 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.183.90 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007. p.552. Código Penal Brasileiro.p575.

52

Fernando Capez91 trata-se de um delito preterdoloso, onde o a existência do dolo esta em

causar atividade primaria ou seja a epidemia que posteriormente teria como resultado a

morte, bastando a morte de um individuo para caracterizar o crime como hediondo, a

modalidade culposa do crime constante no parágrafo segundo do artigo 267, não é parte

integrante da norma dos crimes hediondos.

2.3.1.6.Falsificação, Corrupção, Adulteração ou Alteração de Produto Destinado a Fins

Terapêuticos ou Medicinais

Este item passou a fazer parte da Lei 8072/90, com a reforma proporcionada pela Lei

n. 9.695, de 20.8.1998, que acrescentou os crimes do artigo 273 do código penal na lista dos

crimes hediondos, a doutrina é critica em face da adoção integral do artigo constante no

código penal para Gevan de Almeida92 é um erro do legislador, dar o mesmo tratamento penal

destinado a falsificação de remédios para doenças graves como o câncer, para o crime de

falsificação de cosméticos e produtos de limpeza adulterados, neste caso há desrespeito ao

principio da proporcionalidade da pena, no mesmo sentido, Capez93 relata o desleixo com o

principio da proporcionalidade e cita Celso Delmanto, que caracteriza esta desproporção

punitiva como absurda.

O aspecto positivo da norma certamente é o rigor que por resultante propicia sobre a

origem e qualidade dos itens constantes da lei, deste modo há de se convir que são itens de

manuseio físico ou consumo oral ou tópico, geralmente de consumo em massa, seja no caso

dos produtos de limpeza ou nos remédios, logo não seria exagero que estas variedades de

produtos estejam sujeitos ao rigor da norma, afinal a legislação agindo de modo preventivo,

pode evitar uma serie de demandas na seara do Poder Judiciário.

2.3.1.7. Crime de Genocídio

91 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.184.92 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.p.155.93 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. p.184.

53

Genocídio é uma terminologia criada por Raphael Lemkin, um semita de origem

polonesa, no ano de 1944, a palavra é composta da raiz grega génos que corresponde a

família, clã ou etnia e caedere em latim matar.

Em face do holocausto nazista, Lemkim empenhou-se na proposta de criação de leis

internacionais para definir e punir o genocídio, sua idéia dei certo, e no ano de 1951foi criada

a convenção para prevenção e repressão ao crime de genocídio.94

Genocídio esta previsto nos artigos 1º, 2º e 3º da lei 2889/5695, tem sido definido como

sendo o assassinato deliberado de pessoas motivado por diferenças étnicas, nacionais, raciais,

religiosas e políticas, a lei do genocídio estabelece as cominações do código penal para punir

esta modalidade de homicídio, e por caracterizar uma variante de homicídio, foi inclusa no

rol de delitos puníveis pela lei dos crimes hediondos durante a reforma propiciada pela Lei

8.930 de 1994, que inclui o genocídio no parágrafo único da Lei 8.072/90.96

A competência para julgar este tipo crime é destinada aos juizes federais, a Emenda

Constitucional n.45/2004, acresceu o inciso V-A ao artigo 109 da Constituição Federal, que

por força do §5º estabelece a competência jurisdição federal para tratar de assuntos referentes

á violação grave dos direitos humanos , e além da justiça federal o § 4º do artigo 5º da CF,

determina que o Brasil se submete a jurisdição de Tribunal Penal Internacional, o acréscimo

constitucional se deve a subscrição do Brasil ao Estatuto de Roma de 17 de julho de 1998 97,

que por sua vez é uma instituição permanente com jurisdição para julgar genocídio, crimes de

guerra, contra a humanidade e de agressão, a sede deste Tribunal esta localizada em Haia na

Holanda.

2.3.2. Crimes Equiparados a Hediondos, Tráfico Ilícito de Entorpecentes.

94 http://pt.wikipedia.org/wiki/Genocidio. Acessado em 20 de maio de 2009.95 ...Art. 1 - Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo.Art. 2 - Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos crimes mencionados no artigo anterior:Pena - metade da cominada aos crimes ali previstos.Art. 3 - Incitar, direta e publicamente, alguém a cometer qualquer dos crimes de que trata o artigo 1º...(Lei 2889/56. www.jusbrasil.com.br/legislacao/104072/lei-2889-56.acessado em 20 de maio de 2009.)96 ...Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1 o, 2o e 3o da Lei no

2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado. (Parágrafo incluído pela Lei nº 8.930, de 6.9.1994). Lei 8.072/90. http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L8072.htm. Acessado em 20 de maio de 2009.97 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.186.

54

O trafico ilícito de entorpecentes, não é um crime propriamente hediondo, todavia,

recebe tratamento equiparado na legislação em face do dano social que proporciona98, o

trafico de um modo geral esta diretamente ligado a violência e a associação criminosa, haja

vista que para a logística do trafico é necessário um grupo de indivíduos criminosos, e

empiricamente ouso dizer que essa atividade marginaliza e é uma causadora de violência e

por conseguinte atos delitivos mais violentos, como homicídios entre outros.

A norma dos crimes hediondos faz constante em seu conteúdo o trafico ilícito de

entorpecentes, a modalidade equiparada esta no artigo segundo99 onde estabelece no inciso

primeiro que, nestas praticas delitivas, são insuscetíveis de anistia, graça ou indulto e no

inciso segundo determina que o regime de cumprimento de pena inicialmente será em regime

fechado. Ainda neste caso existe a legislação especifica, Lei n. 11343/2006, que também trata

com mais especificidade sobre a ilicitude da drogas, para Capez100o entendimento de

assemelhar o trafico ilícito de entorpecentes com delitos de caráter hediondo, atinge tão

somente os artigos 33, caput, e §1º e o artigo 34 da Lei n.11.343/2006, as demais condutas

como associação para o trafico, constante no artigo 35, e o crime de financiamento até o

momento não são considerados crimes de trafico. O que propicia ao judiciário a

responsabilidade de usar a melhor analogia da norma para resolver problemas concretos.

2.3.3.Crimes Equiparados a Hediondos, Tortura

Tortura é a imposição de dor física ou psicológica por crueldade, intimidação,

punição, para obtenção de uma confissão, informação ou simplesmente por prazer da pessoa

que suplicia, no contexto jurídico da palavra esta relacionada com o objetivo de obrigar

alguém a prestar declaração ou silenciar-se sobre determinado fato que se tenha

conhecimento.101 O artigo 5º da CF de 88, no inciso III, declara que, ninguém será submetido

a tortura nem a tratamento desumano ou degradante, o inciso XLIII, determina a tortura

98 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.187.99 http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L8072.htm. Lei 8.072/90. Acessado em 21 de maio de 2009.100 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008p.187.101 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.188.

55

como crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, de acordo com a Lei 9.455, de 7

de abril de 1997102, define-se o crime de Tortura:

Art. 1º Constitui crime de tortura:I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,

causando-lhe sofrimento físico ou mental:a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de

terceira pessoa;b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;c) em razão de discriminação racial ou religiosa;II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego

de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

A posição doutrinaria a cerca do crime de tortura estabelece que muito recentemente

este delito era definido como crime meio para se consumar homicídio, na obra de Capez 103,

está conceituado que, existia até então uma única tipificação penal, que estava prevista pelo

estatuto da criança e do adolescente no artigo 233, no entanto ainda com definição penal

extremamente resoluta e de constitucionalidade duvidosa, que posteriormente foi revogada

com a criação da norma especifica em 1997.

Sobre a aplicação da norma é imprescindível dizer que é fator determinante no

aumento de pena em caso de indiciamento por crime de tortura, se o acusado exerce função ou

emprego publico, conforme disposto no § 4º, I, da Lei 9.455/97, haverá neste caso aumento

de pena de um sexto até um terço.

2.3.4.Crimes Equiparados a Hediondos, Terrorismo.

Terrorismo no sentido etimológico da palavra é modo de coagir, ameaçar ou

influenciar pessoas ou impo-lhes sua vontade pelo método sistemático do terror,104esta pratica

consiste no uso de violência, física ou psicológica. Pode ser praticado por indivíduos, grupos

fundamentalistas ou políticos, materializa-se em posição contraria a ordem estabelecida por

um Estado105, adotando como estratégia ataques a um governo ou sua população, resultando

102 http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9455.htm. Acessado em 21 de maio de 2009.103 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.188.104 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. corresponde à 3ª. edição, 1ª. impressão da Editora Positivo, revista e atualizada do Aurélio Século XXI, contendo 435 mil verbetes, locuções e definições. Edição eletrônica autorizada à Positivo Informática Ltda. 2004.105 http://pt.wikipedia.org/wiki/Terrorismo. Acessado em 21 de maio de 2009.

56

em constrangimento físico e psicológico de caráter coletivo capaz ultrapassar o círculo das

vítimas do feito para incluir o restantes do território.

Alem da definição comum para crime de terrorismo existem outras definições para

terrorismo, atualmente as variações denominadoras estão definidas da seguinte forma106:

Terrorismo indiscriminado ou aleatório, é a pratica de violência sem o objetivo de

lesionar um agente em particular ou de relevância política, neste caso não há um alvo definido

previamente, tem como finalidade a propagação do medo geral na população, tem por

finalidade cansar a sensação de paz e causar seus efeitos causando um sentimento geral de

instabilidade e insegurança em determinado grupo de uma nação.

Terrorismo seletivo tem por finalidade lesar unicamente um alvo em particular, visa

chantagem, vingança ou extração de obstáculos de cunho político esta pratica é definida como

terrorismo haja vista que seus efeitos têm por finalidade oculta por em discussão a ordem do

Estado ou de prejudicar pessoas em especifico.

Terrorismo de Estado, é como a definição geral aponta uma modalidade de crime que

pode empregar varias formar de manifestação de violência, entendidas como inaceitáveis,

como seqüestros, assassinatos, explosões de bombas, extermínio de pessoas, raptos,

flagelação de pessoas, entretanto não se trata de uma estratégia de guerra oficialmente, mas

sim por grupos políticos, os quais não possuem força para empregar a declaração de guerra

abertamente, deste modo adotando o terror como um meio capaz de causar medo em camadas

especificas da população com o intuito de provocar mudança de comportamento do estado.

No Brasil a lei que faz respeito a definição sobre terrorismo é a Lei n. 7.170, de 1983

e rege os demais crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social, no artigo 20

desta norma temos, segundo a ótica de Capez107e Gevan de Almeida108, a melhor tipificação

legal:

Art. 20 - Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas.

Na hipótese de haver terrorismo no Brasil, os responsáveis pelos atos de terror , seriam

insuscetíveis de anistia, graça ou indulto, na lição de Gevan de Almeida, o texto normativo,

padece da falta flagrante inconstitucionalidade, e afirma que a penalização não poderia ser

ampliada pelo legislador ordinário e também porque a norma limitou a atribuição do 106 http://pt.wikipedia.org/wiki/Terrorismo. Acessado em 21 de maio de 2009.107 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.187.108 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.p.164.

57

Presidente da República em conceder indulto, conforme os artigo 84 inciso XII da

Constituição Federal.

A doutrina critica severamente a falta de tipificação penal para o crime de terrorismo,

com todos seus elementos e sim o breve artigo 20 da Lei de Segurança Nacional, o que para

Capez109 violaria o principio da reserva legal, que conseqüentemente retingiria o a

possibilidade do judiciário em manter uma decisão de sentença, principalmente se fosse

discutido em juízo a consistência das provas do ato terrorista.

109 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.187.

58

2.4. O PROCESSO PENAL E CRIMES HEDIONDOS

Conforme já traçado anteriormente os crimes hediondos estão tipificados no Código

Penal Brasileiro e regulamentados de maneira especifica pela Lei 8.072/90, muito embora

tenha havido três alterações no texto da lei original de 1990, prevalecem como hediondos as

categorias predispostas pelo inciso XLIII, do artigo 5º da Carta Magna. As alterações 110normativas desencadeadas ao longo dos anos é fato decorrente da necessidade de adequação

da norma especifica com o intuito de atender as necessidades advindas do entendimento da

norma gerado no Poder Judiciário a quem obviamente coube interpretar e aplicar o

regulamento de tais delitos.111

Apesar do critério legalista da norma com o passar do tempo e a labuta diária do

judiciário, acarretou por fim na mais recente alteração da norma que propiciou uma atenuação

no rigor originalmente imposto aos crimes hediondos e equiparados, dentre as alterações da

norma, a grande novidade foi certamente a aplicação da progressão de regime aos apenados e

a concessão de liberdade provisória aos acusados de crimes hediondos. A doutrina insere a

princípiologia aplicada ao processo penal para justificar as alterações dos delitos hediondos,

Almeida112em sua obra decorre sobre três princípios, a dignidade da pessoa humana,

embasada na presunção de inocência quando não há flagrante delito e com a força normativa

da CF, artigo1

º, III, que determina este principio como um dos principio fundamentais do ordenamento

jurídico nacional.

O princípio do devido processo legal, que ter por escopo garantia de defesa ao

acusado, ainda que este tenha sido preso em flagrante delito, porém nos casos em que a

natureza do delito seja afiançável, a doutrina considera plausível113 a adoção da liberdade

provisória em respeito a dignidade do homem. O principio da presunção de inocência, que

isenta a culpabilidade em face de questão jurídica que ainda não tenha sentença transitada em

110

111 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.172.112 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.p.166.113 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.187.p.167.

59

julgado e o princípio da individualização da pena, que origina-se da somatória das

circunstancias atinentes ao fato concreto face a etapa do julgamento, e considerando a

reabilitação na fase executiva da pena.

Em face destas condições processuais mais flexíveis impostas pelo ultimo texto da lei,

foi possível ao Poder Judiciário decidir brandamente nos casos de delitos ditos hediondos,

como bem define o artigo 2º em seu parágrafo 2º114, é possível a decisão de judicial

fundamentada em autorizar ao réu a resposta processual em liberdade, neste sentido Capez, 115

nos apresenta que apesar da seara hedionda continuar inafiançável, será possível obter o

beneficio da liberdade provisória, nos casos que não estejam presentes os pressupostos para a

manutenção da prisão cautelar, de modo que só será encarcerado preventivamente o réu,

quando este oferecer risco de continuar cometendo delitos durante o processo, possa impedir a

produção de provas ou seja presumida a fuga para local desconhecido, caso não seja

constatada nenhuma das hipóteses mencionadas não há periculum in mora, nem prisão

preventiva.

No que se refere a Anistia, Graça e Indulto a anistia consistes em ato legislativo que o

estado abdica do jus puniendi, removendo as conseqüências jurídicas do crime em face

relevante motivação, graça é o beneficio individual concedido mediante solicitação da parte

interessada e o indulto e um beneficio coletivo que deve ser concedido espontaneamente, são

matérias de competência exclusiva da União podendo ser sancionadas exclusivamente pelo

Presidente da Republica116, a legislação preserva seu caráter reservado e coerente com a

predeterminação da CF, é uma exceção extraordinária da norma em limitar o poder do

Executivo em face do Legislativo.

Por fim, vale ressaltar acerca do processo crime, que apesar do abrandamento da

norma as penas persistem de grande monta sendo no maximo trinta anos117, no caso dos

crimes de maior lesividade, o que se observa que a mudança da norma teve como intuito

poder flexibilizar os casos de menor relevância penal e jurídica.

114    § 2º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.( Lei n. 8.072/90)115 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.197.116 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Volume 4 : legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p.189.117 Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º; 213; 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267, caput e 270; caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação:"Art. 157( Código Penal Brasileiro)§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de cinco a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. ( Lei n. 8.072/90)

60

Em consideração ao estudo deste capitulo é possível observar que, quanto a origem os

crimes hediondos surgiram em resposta a percepção da grande lesividade social que geram os

crimes desta natureza, a caracterização do crime hediondo serve como uma ferramenta

jurídica e social de caráter repressivo com a finalidade principal de reprimir o uso da violência

extrema na solução de questões de ordem individual ou coletivas, bem como propiciar a

redução dos índices de atos delitivos enquadrados nesta categoria.

Observou-se que as alterações normativas ocorridas durante a trajetória mutativa do

texto original, teve por objeto a adoção de novas figuras típicas para prestar uma melhor

analogia em face da aplicação da norma nos casos concretos, tendo vista que o texto original

generalizava figurações típicas de menor relevância jurídica e social, tornando difícil em

alguns casos a sua operabilidade no Poder Judiciário.

Também é notório que a aplicabilidade da norma, como em todo universo jurídico é

dependente de analogias fundamentalmente resultantes do discernimento dos valores morais e

sociais, embasados nos princípios do convívio humano, tal como se estabelece na

Constituição Federal, entretanto esta tarefa se torna difícil ao passo que os valores sociais são

algo em evolução permanente, cabendo aos Poderes do Estado através de seus representantes

a aplicação do bom senso, e principalmente a busca pela reabilitação do cidadão que age

delitivamente, algo que em face da estrutura oferecida pelo Estado cumulada com a

pluralidade latente da atividade humana, é algo difícil de obter com pleno êxito ou a curto

prazo, por fim a legislação dos delitos hediondos combate diretamente os delitos mais graves

e serve através de seus efeitos como uma orientação indispensável para regular a atividade do

individuo no meio social.

61

CAPITULO III: A IMUNIDADE PARLAMENTAR DOS CRIMES HEDIONDOS

62

3.IMUNIDADE PARLAMENTAR DOS CRIMES HEDIONDOS

Este capítulo tem por finalidade saber se diante da prática de crimes hediondos é

possível alegar a unidade parlamentar e se de alguma forma beneficiam os indivíduos

investidos desta prerrogativa, primariamente trataremos mais detalhadamente acerca da

imunidade processual penal do parlamentar.

Traçaremos um tópico sobre o foro especial por prerrogativa de função, fazendo uma

complementação mais aprofundada sobre os mecanismos jurídicos deste instituto, e

apresentando algumas informações sobre o Supremo Tribunal Federal relevantes a matéria e

será materializada uma hipótese no plano fático.

O tópico seguinte tratará da influencia dos poderes econômico e político, conceituando

em que consistem, como se manifestam na seara sócio-jurídica e o que podem propiciar no

caso concreto em beneficio do parlamentar ou do grupo ideológico que representa.

Em seqüência será construído um tópico sobre a violação de princípios

constitucionais, materializaremos de forma doutrinária como a criação de normas de

competência federal podem ferir princípios constitucionais e as controversas que podem

desencadear no ordenamento jurídico.

Por fim analisaremos os benefícios da imunidade frente ao processo crime, tratando

em particular das formas de imunidade material e formal no orbe do crime hediondo,

apontaremos uma breve definição doutrinaria com base na pesquisa elaborada, e as

aplicaremos as duas formas de imunidade em situações hipotéticas de casos concretos, para

demonstrar de que forma o instituto da imunidade pode beneficiar os representantes do

legislativo diante da pratica de crimes hediondos.

Conforme já tratamos no primeiro capitulo, a imunidade parlamentar se manifesta de

duas formas, material e formal, vimos também que a imunidade parlamentar não é uma

garantia absoluta de improcessabilidade, tendo em vista que existem procedimentos

específicos para se julgar e condenar um representante do Poder Legislativo, contudo ainda

prevalecem aspectos relevantes a serem analisados frente ao instituto, conforme objetivamos

neste trabalho o confronto do instituto da imunidade parlamentar diante da pratica de crimes

hediondos, é o que segue propriamente de agora em diante.

63

3.1 A Imunidade Processual do Parlamentar

Em face do conhecimento da Emenda Constitucional n.35/2001, temos ciência de que

o parlamentar após sua diplomação somente poderá ser processado por informação do

Supremo Tribunal Federal a Casa Legislativa a qual pertença o parlamentar, e pela iniciativa

de partido político nela representado e com a contagem de votos da maioria de seus membros

de modo que é possível nos termos do parágrafo 3º, sustar o andamento da ação, assim nos

deparamos primariamente com a possibilidade de sustação de uma ação crime, que poderia

ser instaurada a um parlamentar118.

O fenômeno da sustação do processo é abrigado nos moldes do parágrafo 4º e 5º da

EC n. 35/2001119, com prazo de quarenta e cinco dias para apreciação, o efeito da sustação é

suspensivo, por sua vez abriga também a prescrição da ação de modo que os prazos voltarão

a sua contagem da data onde pararam, frente a esta situação há o beneficio do tempo a favor

do parlamentar seja qual for a espécie de ação proposta, se este obter o beneficio da sustação

contará com o tempo de diplomação a seu favor.

Em se tratando de crime ocorrido anteriormente a diplomação conforme nos ensina

Capez120, o processo terá seu andamento de praxe frente o Juiz natural, descartando a

possibilidade de sustação pelo parlamento, diante disso o STF não é obrigado a comunicar a

existência da ação em curso. Contudo nos casos pós-diplomação havendo sustação da ação e

levando-se em consideração o conteúdo da Sumula 245 do STF, que dispõe que a imunidade

não se estende ao co-réu sem essa prerrogativa, nestes casos conforme a lição de Paulo

Rangel121, aplica-se o disposto no artigo 78, III do Código de Processo Penal, no caso de haver

concurso de competência será optado pela jurisdição de maior graduação.

3.1.1. O Foro Especial por Prerrogativa de Função

118 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.p.60.119Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007. § 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.( Emenda Constitucional nº 35, de 20 de dezembro de 2001.)120 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.p.62.121 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 13. ed. rev. ampl. e atual. de acordo com : lei. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.p.334.

64

O foro especial por prerrogativa de função nos moldes do artigo 53, § 1º da

Constituição Federal, condiciona o andamento de ação penal perante o Supremo Tribunal

Federal, desse modo se existia na época da diplomação, inquérito ou ação penal tramitando,

tudo deverá ser remetido ao STF, tendo vista que o processo anterior a diplomação não é

passível de sustação, serão aproveitados pela máxima tempus regit actum validamente todos

os atos da jurisdição de origem, Gomes122 registra que nos casos de continência, deve-se

preferencialmente, na jurisdição do STF.

Ainda tratando do foro especial por prerrogativa função, é indispensável trazer a esta

pauta, novamente a opinião mais recente de Luiz Flavio Gomes,123 a critica que se funda pelo

doutrinador, é embasada nas seguintes informações oriundas da Associação dos Magistrados

Brasileiros, citada pelo próprio Gomes, que nos casos de foro especial por prerrogativa de

função ao contrario do que deveria ser é vertiginosa a lentidão processual na jurisdição do

Supremo Tribunal Federal, das 130 ações penais que tramitam no STF de 1988 a 2007 , não

houve nenhuma condenação ou seja em quase duas décadas ninguém foi condenado na

jurisdição penal máxima do país, quando se trata de foro privilegiado.

Com base nestas informações é gritante a constatação da impunidade, observa-se que

as ações em tramite no STF beiram os prazos máximos de prescrição da pretensão punitiva124,

e complementa afirmando que a problemática não é de fato em haver o foro especial, mas sim

a ineficiência do judiciário, e não em face das regras mas sim na celeridade do tramite. Além

destes fatores, Gomes define como absurdo, o fato de impor responsabilidade da fase pré-

processual ou preliminar, a um Desembargador ou Ministro de Tribunal, quando o mesmo

recebe por anualmente milhares de processos para julgamento, afirmando que este

profissional não possuirá o condicionamento material para instruir a fase preliminar nos casos

onde existe o foro especial.

De modo que para haver um funcionamento eficaz seria necessário que o ministro ou

desembargador fosse isento da fase preliminar, tendo em vista que não possui condições para

exercê-la, devido a grande quantidade de trabalho que já desempenha em seu cotidiano, em 122 GOMES, Luiz Flávio. Juizados criminais federais, seus reflexos nos juizados estaduais e outros estudos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.p.109.123 GOMES, Luiz Flávio. Corrupção, foro por prerrogativa de função e juizados de instrução . Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1492, 2 ago. 2007.Acessado em 23 de maio de 2009.124 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007. Art. 109 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;( código penal brasileiro)

65

segundo plano, a participação do mesmo no tramite investigatório comprometerá o principio

da imparcialidade no momento destinado ao julgamento, por estar psicologicamente

envolvido ao que apurou tendo participado da investigação.125 Em consideração a estas

circunstancias em que se encontram os membros do STF, Gomes aponta que a solução seria a

criação de um novo juizado especial, destinado exclusivamente a fase instrutória preliminar,

para que se alivie o fardo dos representantes dos Supremo Tribunal Federal.

Retomando a busca da compreensão do foro privilegiado, é imprescindível tratar do

cancelamento da Súmula 394 do STF, e sua repristinação com o advento da Lei n. 10.628 de

2002, na obra de Rangel126, o cancelamento da referida Súmula propiciou com que a

permanecia dos processos existentes no STF fossem remetidos a instancia inferior nos casos

de perda da imunidade parlamentar em face de qualquer hipótese presumida, e por tanto

retomaria o rito ordinário na justiça de primeira instancia, em 2002 com a implantação da

norma mencionada, um entendimento similar a Súmula 394, conferido pelo parágrafo

primeiro da norma que estendia a prerrogativa de foro mesmo que a diplomação já não

vigorasse, tal lei foi declarada inconstitucional em setembro de 2005, retomando a posição de

mobilidade a justiça de primeira instancia, no mesmo sentido Capez127 a após analisar estes

eventos normativos sobre o mesmo assunto, estabelece que a competência especial não será

extensiva ao período posterior o mandato, ocorrendo portanto a mudança de competência, e

neste caso o ex-parlamentar poderá usar exaustivamente todos os procedimentos legais, a fim

de obter a sentença desejada, não ocorrendo isto, terá ganhado tempo, para quem sabe, galgar

um novo mandato.

3.2.A Influência dos Poderes, Político e Econômico.

A força política e econômica é algo inegável, levando em consideração a força que

pode exercer em um grupo social, o poder político manifesta-se na possibilidade imperativa

do Estado em direcionar a atividade humana na execução de um objeto em especifico128,

tendo em vista que é exercido no Estado Democrático de direito por meio dos representantes

125 GOMES, Luiz Flávio. Corrupção, foro por prerrogativa de função e juizados de instrução . Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1492, 2 ago. 2007.Acessado em 23 de maio de 2009.126 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 13. ed. rev. ampl. e atual. de acordo com : lei. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.p.341 e 342.127 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.p.63.128 FARIA, Albino Nogueira de. Poder e domínio. 1º ed. Editora Didática e Cientifica. Rio de Janeiro.1991.p.97 e 98.

66

do governo, conforme o artigo 1º, parágrafo único CF,129 o poder deve emanar do povo,

exercendo o sufrágio universal, no entanto, a massificação cultural propicia a criação do

produto político, e para vender tal produto é preciso empreendimento, que em face ao

contexto social depende de poder econômico130, que também pode exercer grande influencia

em um grupo de indivíduos, causar comoção social e plantar idéias e valores através da

propaganda.

De fato esta propaganda oriunda do poder econômico é passível de definir a escolha

frente o sufrágio universal, e definir quem irá legislar, afinal como é sabido os Poderes

Legislativo e Executivo brasileiros não são exercidos mediante concurso público, ao contrario

do Poder judiciário que apresenta uma composição predominantemente concursal131. Deste

modo pode-se observar que os membros do Poder Legislativo em tese podem ser

representantes dos interesses de um grupo especifico, como um partido político visando obter

sucesso no emprego de sua ideologia, assim a carreira legislativa diferencia-se da judiciária,

enquanto a primeira é temporária e como resultante observa-se que determinados textos

normativos sofrem trajetórias impares, ganhando ou perdendo aplicabilidade em face a da

composição dos representantes, conforme foi possível observar no subtítulo anterior, no

poder judiciário existe uma constância existencial de caráter permanente por parte de seus

operadores.

Com base neste entendimento é perfeitamente compreensível que haja uma luta

democrática entre as ideologias partidárias e a busca pela manutenção do poder e em face

desta disputa é aceitável a idéia de que seus pares busquem ofertar segurança extra na órbita

do poder legislativo, valendo-se das ferramenta disponíveis, tal como a criação de normas

extra-protetivas como a Súmula 394 do STF, que por sua vez podem frustrar o entendimento

da norma e em alguns casos ferir princípios normativos132, como neste caso o principio do

Juiz Natural, modificando competências jurisdicionais acarretando na morosidade dos

julgamentos no poder judiciário, findando por beneficiar o ex-parlamentar que responde a

processo penal.129 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007.p.7.130 FARIA, Albino Nogueira de. Poder e domínio. 1º ed. Editora Didática e Cientifica. Rio de Janeiro.1991.p.41.131 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007.Art. 93 - Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação. (Constituição da republica Federativa do Brasil )132 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.p.190.

67

3.3. A Violação dos Princípios Constitucionais.

A anomalia jurídica que ocorre na competência por prerrogativa de função em face à

superveniência sobre o princípio do juiz natural, na obra de Carvalho133, são analisadas

algumas situações próprias do foro especial por prerrogativa de função, em primeiro plano a

determinação constitucional estabelece como titular de competência para julgar sentenças

penais em face de delitos cometidos por parlamentares à justiça especializada, neste caso

demonstra-se superveniência de competência por prerrogativa de função, neste caso tal

superveniência de competência jurisdicional ofende o princípio do juiz natural, tendo vista

que seria este um tribunal criado após o fato delituoso, frente a esta desconsonancia jurídica, a

solução seria afastar a temática do principio do juiz natural, para tanto seria necessário criação

de um Tribunal Especializado, por sua vez mais favorável ao réu, haja vista, que nesta

segunda hipótese, seria imperativo a aplicação dos princípios favor rei e o princípio da

retroatividade da lei mais benéfica,134 exatamente como ocorreu com a aplicação dos Juizados

Especiais Criminais Estaduais, com a Lei n. 10.259/2001, que estabeleceu competência para

os processo em tramite que se encontravam no patamar de pena máxima inferior a dois anos.

No caso da justiça especializada dos juizados criminais age de forma mais benéfica e por sua

vez é direcionada a pacificação social e concomitância com medidas despenalizantes, seria

portanto para o réu ser julgado por este tribunal, neste caso sem duvidas contaria com os

benefícios da lei penal mista, que por sua vez tem efeitos retroativos a favos do acusado de

delito penal, caracterizando a justiça penal mais favorável, todavia esta possibilidade esta

muito além de ser aceita pacificamente.

A busca da eficácia da norma é uma tarefa árdua, em meio a um histórico de

declarações de inconstitucionalidade em face dos organismos normativos, fica difícil para o

judiciário em qualquer instancia promover a aplicabilidade e a correta analogia das normas, a

alternância do poder por meio de seus representantes propicia um bale da legalidade, hora

pendendo a uma direção, hora pendendo em outra, como bem confirma a doutrina que

severamente critica as decisões acerca da temática formal em voga. Oliveira135adjetiva como

133 CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti Castanho de. Processo penal e constituição: princípios constitucionais do processo penal. 4. ed., rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p.113.134 Vade Mecum / obra coletiva da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz Toledo Pinto, Marcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes. – 3 ed. Atual. e ampl. –São Paulo: Saraiva 2007. XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu(Constituição Federal . artigo 5º, XL)135 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.p.189.

68

constrangedoras as imposições normativas inconstitucionais, fazendo alusão a mudança do

artigo 84 do código de processo penal, taxando o mesmo de tautológico, em comparado a

Súmula 394 do Supremo Tribunal Federal.

Cabe aqui relembrar da lição de Alexandre de Moraes136 tratada no Capitulo I desta

monografia, onde sobre a possibilidade do STF, declarar a inconstitucionalidade da Emenda

Constitucional 35/01, o embasamento teórico foi materializado, na obrigação do legislador

em respeitar os limites impostos pelo legislador originário, ainda que tais limites fossem de

implícitos, no caso da EC 35/01, segundo Moraes, houve descuido por parte do legislador em

face doas circunstancias formais, dispostas no artigo 60 da Constituição Federal, e mesmo o

supremo tribunal federal ainda não manifesto sobre a constitucionalidade da norma que

mudou a redação do artigo 53 da CF, o ato de diminuir a imunidade parlamentar a ponto da

desconstituição da inviolabilidade processual, em face da analogia abusiva empregada a

norma para beneficio pessoal do parlamentar, o legislador constituinte derivado, pode ter

invadido o a seara da tripartição doa poderes e deste modo violando o princípio da igualdade,

com ato desconstitutivo da prerrogativa determinada pelo constituinte originário.

136 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002.p.407.

69

3.4. OS BENEFÍCIOS DA IMUNIDADE FRENTE AO PROCESSO CRIME.

3.4.1.Imunidade Material e o Delito Hediondo

A imunidade material sendo caracterizada pela inviolabilidade do parlamentar que

subtrai a responsabilidade das opiniões palavras e votos, na ótica do delito mais gravoso pode

ser um a possível ferramenta para a incitação ao terrorismo137, se considerarmos a influencia

de um representante do Poder Legislativo no meio social, o uso abusivo desta inviolabilidade

se utilizada neste contexto, pode resultar em casos extremos a pratica de tal delito, e no que se

refere ao processo pelo delito equiparado a hediondo o fator de acusar um membro do

legislativo por crime de opinião, mesmo sendo este um líder oculto, a fase probatória seria

extremamente conturbada e duvidosa face a analogia do artigo art. 53, “caput” da

Constituição Federal, Alexandre de Moraes138. De modo que, pode-se deduzir que um

membro do congresso no uso de suas atribuições pode liderar um movimento, alegar que este

não é de caráter subversivo aos bons costumes e ainda litigar sobre o mesmo, com base na sua

prerrogativa imunitária, usando de todas as imperfeições da norma a seu favor.

3.4.2.Imunidade Formal e o Delito Hediondo.

Tendo em vista o entendimento primário de imunidade formal estabelecido no

Capitulo I é a garantia que tem o parlamentar de não ser ou permanecer preso e a

possibilidade de sustar o andamento de ações penais diante da pratica de crimes cometidos

posteriormente a diplomação, neste caso, havendo um delito hediondo como homicídio ou

seqüestro, ausente o flagrante delito e com um inquérito policial e judicial de baixa

consistência probatória, poderia ser possível obter beneficio através da imunidade

parlamentar, na primeira hipótese o partido poderia facilmente pedir a sustação do processo

137 ALMEIDA, Gevan Carvalho. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.p.164.138 MORAES, Alexandre. Curso de Direito Constitucional, 11. ed. São Paulo, Atlas, 2002. p.400.

70

alegando insuficiência de provas, na segunda hipótese o parlamentar poderia ser processado

no Supremo Tribunal Federal e obter beneficio indevido através da morosidade processual

que nos relatou Flavio Gomes139 no subtítulo que trata do foro especial por prerrogativa de

função, através da prescrição da prescrição da pretensão punitiva, contar com a possibilidade

de uma sentença de absolvição proveniente de uma boa defesa acerca da fragilidade das

provas, ou ainda esgotar todos os recursos legais a posteriormente ao mandato na justiça de

primeira instância.

Em relação ao estudo da proposta sustentada por este capitulo, pode-se dizer que o

instituto das imunidades parlamentares confrontadas com a temática dos crimes hediondos é

um assunto particularmente fascinante pois engloba em seu raciocínio o melhor e o pior que o

universo jurídico pode oferecer, de um lado um instituto nobre com seu embasamento

fundado na evolução jurídico-cultural da humanidade, destinado ao emprego honesto da

justiça e da igualdade na estrutura do Estado Democrático de Direito, todavia necessitado de

lapidação, mas justificável pois é utilizado por homens e suas divergentes opiniões sobre a

verdade.

Por outro lado os crimes hediondos, trazendo átona a face perversa do ser humano,

materializada através do direito quanto o ser humano pode ser imperfeito e o preço que a

humanidade paga por isso, os retrocessos morais da conduta em busca da satisfação imediata

das ânsias e fraquezas do ser, digno do flagelo da pena, para servir como exemplo, para

poder-mos amadurecer.

A sobreposição destes institutos propiciou juridicamente como em alguns aspectos

poder ser frágil o direito, tendo em vista que na sede da democracia nacional lugar que

deveria servir de exemplo jurídico, onde habitam grandes discussões de valor relevante,

entretanto ali residem falhas, algumas vezes na distorção das normas ou na busca por superá-

las de algum modo visando a manutenção do poder pelo poder, simplesmente, manifesto nesta

trajetória ambígua de algumas normas, e na impunidade de alguns poucos.

139 GOMES, Luiz Flávio. Corrupção, foro por prerrogativa de função e juizados de instrução . Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1492, 2 ago. 2007. Acessado em 23 de maio de 2009.

71

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no contexto histórico, o instituto da imunidade é um componente de origens

remotas que além de servir como uma ferramenta à Democracia, ganhou com o passar do

tempo importância fundamental, em nosso país esta em fase de maturação esperando a

evolução da sociedade para o entendimento correto da República.

A controversa legal e doutrinaria acerca da imunidade parlamentar é justificável

quando nos deparamos com a batalha diuturna das facções ideológicas e dos indivíduos na

busca de se estabelecer no poder, simplesmente a falta de entendimento correto do texto

normativo do legislador originário, de modo que é de suma importância direcionar a lógica

ponderada para evitar as dilações interpretativas já utilizadas.

Houve durante as modificações do texto normativo da imunidade a busca de melhores

analogias para instituto, com a finalidade de atender as expectativas de uma adequação mais

eficaz do texto normativo, entretanto, a instauração da norma especifica e seus ajustes não

conseguiram abarcar plenamente a finalidade da norma.

Sobre os crimes hediondos e equiparados, pode-se considerar que a previa reserva de

delitos foi coerente pelo legislador originário através do prévio apontamento do objetivo da

tipificação, desde a implantação da norma especifica e durante suas três mudanças de redação

o legislador buscou um aprimoramento, e com base na analise do estudo desta pesquisa

obteve êxito mesmo utilizando primariamente o método estritamente legalista, principalmente

no que se refere a adequação da norma aos delitos individualmente, também foi crucial a

colaboração do poder judiciário para o sucesso das adequações da lei, que atualmente é na

forma de sua redação, digna do adjetivo de satisfatória.

A ultima redação da Lei dos crimes hediondos, através da concessão de progressões de

regime, a autorização de liberdade provisória, dentre outros benefícios concedidos, não

descaracterizaram a finalidade da norma, mas sim veio trazer uma resposta ao judiciário que

há tempos aguardava uma solução para o exercício da jurisdição em casos de menor

lesividade ou relevância jurídica.

72

Sobre a analise das imunidades parlamentares diante da pratica de crimes hediondos é

primariamente importante considerar que não se pode alegar a imunidade diante da pratica de

crimes desta natureza, principalmente em caso de flagrante delito.

As imunidades parlamentares através da do foro privilegiado por prerrogativa de

função a partir da Constituição Federal de 1988, podem de uma maneira direta beneficiar o

apenado, em primeiro plano por ser julgado no Supremo Tribunal Federal, e por conseguinte

beneficiar-se da morosidade processual, também é benéfico ao acusado de crime hediondo ser

julgado em tal instancia jurisdicional tendo em vistas as condições em que se manifesta o

processo, uma vez que o Ministro ou Desembargador julgador esta vinculado a fase material

preliminar, ficando suscetível aos frutos da investigação por este mesmo efetuada.

A condição de sobrecarga imposta aos julgadores do Supremo Tribunal Federal,

implica em uma resultante de jurisdição abaixo da real demanda existente, beneficiando o

acusado de crimes hediondos efetivamente, pelo fenômeno da prescrição da pretensão

punitiva, conforme dados apresentados em anexo.

Em casos onde não haja flagrante delito é extremamente benéfico ao acusado de crime

hediondo, uma vez que alei permite a apreciação do juiz ao caso concreto para determinar o

processamento em liberdade, ainda a que se ressaltar na possibilidade de fragilidade das

provas, que podem propiciar uma defesa satisfatória ao acusado de crime hediondo ou

equiparado, caso isto não ocorra ainda pode-se buscar a via recursal.

73

REFERÊNCIAS

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76

ANEXOS

77

ANEXO 1

As cortes que não condenam

Há 40 anos nenhum político é condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)

Dois levantamentos feitos este ano sobre os trabalhos do Supremo Tribunal Federal

(STF) demonstraram uma situação nada positiva do órgão. Segundo o jornal O Globo, nos

últimos 40 anos foram iniciados pelo menos 137 processos criminais contra deputados,

senadores, ministros de Estado e presidente da República. O saldo: nenhuma condenação até

hoje. Já a pesquisa realizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), de 1988 a

2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu 130 processos contra autoridades com foro

privilegiado e julgou apenas seis, todas sem condenação. A ministra Ellen Gracie, presidente

do STF, rebate.

A pesquisa realizada pelo jornal carioca mostra que existem processos que ficaram

parados ou pouco se movimentaram por décadas e não chegaram ao fim. A razão é,

principalmente, a enorme quantidade de processos que o Supremo precisa julgar. Os 137

processos criminais que, até hoje, não tiveram desfecho são oriundos de ações movidas pelo

Ministério Público Federal e envolvem acusações de desvio de verbas, evasão de divisas,

corrupção e até homicídios e um caso de seqüestro.

Já o levantamento feito pela AMB demonstrou ainda que, além do STF, o Superior

Tribunal de Justiça (STJ) julgou, desde 1989, apenas 16 dos 483 processos envolvendo

autoridades - com 11 absolvições e cinco condenações. A pesquisa foi duramente criticada

pela presidente do STF, ministra Ellen Gracie.

    

Defesa

Segundo ela, a dificuldade do STF em julgar autoridades residiu, em grande parte, à

necessidade, que vigorou entre 1988 e 2002, de autorização do Congresso Nacional para abrir

processo contra parlamentares. "E esta autorização não era deferida", afirmou ela. A ministra

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disse que, atualmente, tramitam 50 ações penais no Supremo (agora 51 com a do mensalão) e,

dessas, apenas duas têm mais de quatro anos de tramitação.

Desde 1988, o Supremo recebeu mais de dois milhões de processos para serem

julgados e, de acordo com a ministra, cerca de 50% das ações têm menos de seis meses de

tramitação. Mais do que isso, ela informa que 67% das petições criminais, que ainda não se

transformaram em inquérito, têm menos de seis meses de tramitação. "Creio que tudo isso

revela o intenso trabalho dos eminentes relatores; revela as dificuldades processuais que

temos de enfrentar; revela também o intenso labor feito perante esta Casa, tanto pela

Procuradoria-Geral, na acusação, quanto pelos nobres advogados defensores dos acusados",

disse Ellen Gracie. (Vicente Gioielli) NÚMEROS 137 - processos criminais contra deputados,

senadores, ministros de Estado e presidente da República tiveram início no Supremo Tribunal

Federal (STF) nos últimos 40 anos ZERO - condenação é o saldo, até hoje, dos processos 130

- processos contra autoridades com foro privilegiado tiveram início no STF entre 1988 a 2007

6 - foram julgados ZERO - resultou em condenação 483 - processos contra autoridades

chegaram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) desde 1989 16 - foram julgados pelo STJ 11 -

resultaram em absolvição 5 - resultaram em condenação 51 - ações penais tramitam no STF 2

- tramitam há mais de quatro anos, argumenta a presidente do STF, Ellen Gracie 2 milhões de

processos chegaram ao STF para serem julgados desde 1989140.

140 http://www.amb.com.br/index.asp?secao=mostranoticia&mat_id=10034. Acessado em 25 de maio de 2009.

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