improcedência liminar do pedido no código de processo civil de 2015

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Caso para trabalho em salas de graduação

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Improcedncia liminar do pedido no Cdigo de Processo Civil de 2015Guilherme Pupe da Nbrega A improcedncia liminar do pedido foi introduzida no Cdigo de Processo Civil de 1973 pela lei 11.277/06, na onda das reformas processuais.Com o instituto, passou a ser possvel que o juiz deixasse de determinar a citao do ru e julgasse desde logo o mrito, ou seja, adentrasse o exame da causa de pedir e do pedido, para rejeit-lo.Natural questionamento no demorou a surgir: o exame do mrito, sem citao do ru, no estaria a vulnerar o contraditrio e o devido processo legal? O questionamento serviu de fundamento, mesmo, para o ajuizamento, pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, da Ao Direta de Inconstitucionalidade 3.695, at hoje pendente de julgamento. A resposta, contudo, segundo este escrito, negativa.A deciso dada pelo juiz ser necessariamente desfavorvel ao autor e, via de consequncia, favorvel ao ru, motivo por que no se frustra o contraditrio. A improcedncia liminar respeita, ademais, o devido processo legal, estabelecido pela lei de forma mais sofisticada quando presentes hipteses especficas.Feito esse registro inicial, convm, para o fim de aprofundar a comparao entre os tratamentos dispensados improcedncia liminar por um e outro Cdigo, transcrever a norma na lei de 73, estabelecida no artigo 285-A: Quando a matria controvertida for unicamente de direito e no juzo j houver sido proferida sentena de total improcedncia em outros casos idnticos, poder ser dispensada a citao e proferida sentena, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada.Do ponto de vista tcnico, a norma trazia equvocos. Em primeiro lugar, porque no h falar em matria controvertida se a improcedncia liminar do pedido acontece antes da citao do ru. A controvrsia pressupe conflito entre alegaes, conflito esse que faz surgir os chamados pontos controvertidos, questes a serem dirimidas pelo juiz e que integram o objeto do processo. Dado que a improcedncia liminar ocorre antes da citao, ainda no foi ofertada contestao pelo ru, razo por que no h, ainda, controvrsia. Ora, as alegaes do autor no encontraram oposio da parte contrria.Outra impreciso contida no antigo artigo 285-A dizia respeito ao requisito de que a matria fosse unicamente de direito. Toda demanda, porm, traz consigo, em alguma medida, elemento ftico. Desde Miguel Reale e sua teoria tridimensional do direito que as normas vm colorir fatos, preceitos primrios a atrair a incidncia de dispositivo legal ressalva que merece ser feita a hiptese de controle de constitucionalidade in abstracto.A expresso casos idnticos tambm se revelava inconveniente. Quando se fala em casos idnticos, se pressupe identidade dos elementos da ao (partes, pedido e causa de pedir). A norma inserta no artigo 285-A, quando falava em sentena de total improcedncia em outros casos idnticos, dava a entender que ou haveria coisa julgada (se a sentena proferida no caso idntico j houvesse transitado em julgado), ou haveria litispendncia (se a sentena proferida no caso idntico ainda no houvesse transitado em julgado). Obviamente, a norma busca, em verdade, alcanar casos distintos (porque ao menos as partes sero diferentes), mas com causas de pedir e pedidos, esses sim, idnticos.Derradeira inconsistncia residia na expresso reproduzindo-se o teor da [sentena] anteriormente prolatada. Quando desse pela improcedncia liminar do pedido, o juiz no deveria reproduzir a sentena antes prolatada. Ao menos o relatrio da sentena haveria de ser diferente. O que se pretendia dizer que a sentena de improcedncia liminar adotaria as razes de decidir das sentenas antes proferidas, com adaptao, no mais, s peculiaridades do caso concreto, argumento esse que ganha ainda mais fora em razo do nus argumentativo que com o CPC/2015 recai de forma expressa sobre o juiz ao enquadrar o caso concreto hiptese que d ensejo improcedncia liminar (artigo 489, 1, V, CPC/2015).O ganho de qualidade tcnica com o novo Cdigo, pois, foi evidente. A redao foi simplificada, retificadas as impropriedades aduzidas acima. Eis, alis, a norma inserta no antes mencionado artigo 332, em seu caput: Nas causas que dispensem a fase instrutria, o juiz, independentemente da citao do ru, julgar liminarmente improcedente o pedido (...).As expresses matria controvertida unicamente de direito, casos idnticos e reproduzindo-se o teor da [sentena] anteriormente prolatada desapareceram.Especificamente sobre a substituio do termo matria unicamente de direito por causas que dispensem a fase instrutria1, houve, para alm de melhoramento tcnico, uma ampliao do mbito de incidncia da norma, que passa a abarcar a hiptese em que haja matria ftica e todas as provas pr-constitudas j sejam trazidas na inicial, mas insuficientes para respaldar a pretenso autoral.Dito de outro modo, os fatos provados pelo autor j com a inicial dispensam a fase instrutria. A uma, porque todas as provas necessrias j acompanharam a inicial e, a duas, porque despicienda a produo de provas pelo ru.O exemplo dado no pargrafo anterior, agora alcanado pela norma trazida pelo artigo 332, CPC/2015, somente possvel porque o que justifica a improcedncia liminar o entendimento jurdico j consolidado em sentido contrrio ao pedido autoral. Ainda que se admitam como verdadeiros os fatos alegados pelo autor (por fora de provas pr-constitudas), esses fatos no produzem os efeitos por aquele almejados. A divergncia, pois, no quanto a que fatos traro que consequncias jurdicas, mas quanto a fatos trazidos pelo autor que tm j sedimentadas na jurisprudncia consequncias jurdicas distintas das invocadas por ele.Ainda quanto ao ponto, a dispensa da fase instrutria como requisito da improcedncia liminar do pedido evidencia a lgica do instituto: prescindindo-se de produo de provas, o processo, caso seguisse seu rito normal, teria o mrito julgado antecipadamente (artigo 355, I, CPC/15)2. A diferena entre a improcedncia liminar e o julgamento antecipado do mrito, pois, seria, no segundo caso, a citao e oferta de contestao pelo ru. Como a improcedncia liminar pressupe o absoluto descabimento da pretenso do autor, dispensada, mesmo, a defesa do ru, haveria economia de tempo com a antecipao da sentena e a eliminao da contestao, absolutamente desnecessria.No novo Cdigo h, ademais, ganho com a objetivao das hipteses em que seja possvel a improcedncia liminar. Em lugar de deixar margem ampla ao subjetivismo judicial sobre a aplicabilidade da improcedncia liminar sempre que no juzo j houver[sse] sido proferida sentena de total improcedncia, o CPC/2015 delimita, restritivamente, quando o instituto ser possvel: sempre que a pretenso contrariar enunciado de smula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justia; acrdo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justia em julgamento de recursos repetitivos; entendimento firmado em incidente de resoluo de demandas repetitivas ou de assuno de competncia.Mais: ao trazer como nova hiptese de improcedncia liminar o pronto reconhecimento da decadncia ou da prescrio, o CPC/2015 corrige equvoco antigo do Cdigo anterior, que situava a matria nas hipteses de indeferimento liminar da inicial (artigo 295, IV, CPC/1973).O equvoco se dava em razo de o artigo 267, I, CPC/1973, prever que o indeferimento liminar da inicial redundava na extino do processo sem resoluo do mrito, quando, em verdade, o reconhecimento da prescrio ou da decadncia importa em extino com resoluo do mrito. Correto, pois, o CPC/2015, que retira a matria das hipteses de indeferimento liminar da inicial e a situa como caso de improcedncia liminar.Pois bem. Caso o autor apele da sentena de improcedncia liminar, o magistrado ter o prazo de cinco dias para retratar-se. Havendo retratao, ser o ru citado para a audincia de conciliao ou de mediao, sendo retomado o natural curso do processo. No havendo retratao, o juiz citar o ru para oferecer contrarrazes no prazo de quinze dias, em seguida remetendo os autos ao Tribunal. Vale registrar que o nus argumentativo do autor contra sentena fulcrada em uma das hipteses dos incisos do artigo 332 se voltar para a demonstrao da singularidade de seu processo, isto , que a demanda atual no igual outra em que proferida a deciso paradigmtica, e que, por isso, no pode ser aplicada ao seu caso.A exemplo do que abordado na apelao contra a sentena que indefere liminarmente a inicial, caberia aqui dvida sobre se em sede de apelao eventualmente provida pelo Tribunal contra sentena de improcedncia liminar adentrar-se-ia de pronto o julgamento do mrito em segundo grau.O artigo 1.013 do CPC/2015 traz as hipteses da chamada teoria da causa madura, que reza que quando o Tribunal cassar/reformar a sentena de primeiro grau, estando o processo em condies de julgamento, dever a Corte, em vez de remeter os autos ao juzo de primeiro grau para prolao de nova sentena, proferir, ela prpria, a Corte, desde logo, acrdo julgando a contenda.A improcedncia liminar est fora das hipteses enunciadas pelo artigo 1.013, que cuidam da aplicabilidade da teoria da causa madura, exceo, unicamente, da prescrio e da decadncia, insertas no 4 daquele dispositivo (Quando reformar sentena que reconhea a decadncia ou a prescrio, o tribunal, se possvel, julgar o mrito, examinando as demais questes, sem determinar o retorno do processo ao juzo de primeiro grau).Isso quer dizer que em tese possvel ao tribunal, provido o apelo e cassada a sentena de improcedncia liminar do pedido por reconhecimento da prescrio ou da decadncia, julgar desde logo o mrito. Nas demais hipteses de improcedncia liminar, provido o recurso, sero os autos devolvidos ao primeiro grau.A natural preocupao que j se levanta sobre o instituto da improcedncia liminar consiste no engessamento dos juzos de primeiro grau e do risco de que casos diferentes acabem caindo em vala comum. Alis, so essas questes que sempre surgem quando da abordagem dos diferentes institutos presentes no novo Cdigo que refletem o fortalecimento dos precedentes judiciais. So esses, porm, temas para escritos futuros.