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08/05/12 Problema do Racismo a Brasi leira - Roberto da Matta

ebah~Material deEstudo

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AcademicaBuscar arquivos. pessoas, cursos ...

Problema do Racismo a Brasileira - Roberto da

Matta=-=.~=-........-... . . . . .- . . . . . . --~-.-~-~-----:=~~-=.: .=: : . : . ,~~~~

Enloiadopor: Antonio Maia I 0 comentsnos

Arquivado no curso de Cii~ncias Sociais na UNAMA

AdC 0 D >

o PROBLEMA DO RACISMO A BRASILEIRA

PRIMEIRA: Roberto da Mat ta, em sua digressao no l ilol "OUma Introdur;ao a Antropo/ogia Social, pretende demonst rar como aperspectiva sociol6gica encontra resistl !ncias no cenario social brasileiro. Segundo 0 seu ponto de Ioista, lLperspectiva

soclologica tem sido s is tematicamente relegada a um plano secundario, dado que sao as DOUTRINAS DETERMINISTAS que

sempre Ihe tomam a 1iente.

SEGUNDA: Apresentar 0 "racismo Iibrasi le ira" como prova da dif iculdade de pensar soc ial mente 0 Brasi l e como tentativa de

especular sobre as razi ies que mot ivam as relaeoes profiundas entre credos cientificos supostamente eruditos e dilAJrciados

da realidade social e as ideologias vasadas na experil !ncia concreta do dla-a-dla,

Podemos perceber alguns aspectos ideol6gicos no discurso do autor.

assume uma postura radicalmente contrar ia ao "racismo"; e

e adepto da "antropologia da l iber tacao" (pag. 62), buscando a compreensao da "substancla" acima da "forma" das relayoes

s6cio-econOmicas (final da pag. 61), isto e, em perceber 0 "ete~' das relacoes sociais (cf. Marx); considera os intelectuais

(antrop6Iogos) como atores sociais transformadores (inlcio da pag. 62).

o QUE SAO DOUTRINAS DETERMINISTAS?

Sao complexos te6rico-ideol6gicos suoostamente eruditos, f iundamentados em fatores sempre superiores ao dominio da

IAJntadee dos desejos dos indilAduos ou grupos soc iais , que f lorescem tanto no campo erudi to, quanta no campo popular e

que totalizam e determinam inexorawlmente 0 comportamento social, polit ico e cultural de uma sociedade. 0efeito imediato

dessas doutr inas e 0de suprimir gualguer discussao da realidade enguanto fato soc ial e his t6rico espec if ico e impedir

gualguer tentativa de transformacao. Em geral, tais doutrinas sao dif iundidas e uti lizadas como suporte ideol6gico

pseudocient if ico para justificar e estabil izar sistemas de domlnacao social, pollt ica e econOmica.

Sao exemplos de doutrinas deterministas:

o rac ismo contido na "fibula das tr is ra!;as" - f iundamentado em "determlnacoes biol6gicas"

Teorias poslt lvstas de Augusto Comte - pressupostos elAJlucionistas.

o marxismo wlgar como moldura pela qual se pode orientar em grande parte a Ioidasocial , pol it ica e cul tural do Pais -

fiundamentos politicos e s6cio-econOmicos distorcidos.

A modema definicao abrangente do "econOmico" e das "forcas produtivas" - f iundamentada em "determlnacoes econOmicas"

a priori.

PRECONCEITOS ANTROPOL6GICOS DOS BRASILEIROS

(Levantar junto aos ass istentes qual a ideia que cada um t inha da Antropologia antes de iniciar0

curso.)

1 0 sempre menor do que supomos a famosa dist llncia que dew separar as teorias erudi tas (ou c ient lf icas) da ideologia

evaloresdif iundidos pelo corpo social, ldelas que formam 0 que podemos denominar "ideologia abrangente" porque estao

disseminadas por todas as camadas, permeando os seus espacos soc iais .

o termo "antropcloqo" e desconhec ido para a grande maioria dos brasi le iros. Aqueles que t l!m uma vaga n09110da palawa

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DESCRI<;:Ao

Roberto da Matta, em sua digressao no lilol"OUma

lntroducao IiAntropologia Social, pretende

demonstrar como a perspectiva sociol6gica

encontra resistl !ncias no cenario social brasileiro.

Segundo 0 seu ponto de Ioista, a perspectiva

socioloqica tem side sistematicamente relegada a

um plano secundado, dado que sao asDOUTRINAS DETERMINISTAS que sempre Ihe

tomam a 1iente.

ARQU~SSEMELHANTES

~~=!..=

Alem ds Gramados

o Prob lema do Racismo aBrasileira - Roberto da Matta

RobertodaMat ta, emsua digressliono livroUrnaIntrodu~aoa AntropologiaSocial,p re te nd s d er mn st ra r .. .

Hist6ria e inven! ;i io das t radi !;6es

o Futebo Brasileiro

Hist6riaeinvenoaodas lradiooes0 FuteboBrasileiro

o Legado Moral

T ext o sa bre R aci sr m e H ist A3ria

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08/05/12 Problema do Racismo a Brasi leira - Roberto da Matta

supiiem ser a antropologia uma ati loidade misteriosa enwlvendo ossos, cranlos, tumulos e tOsseis ou idealizam 0 antropoloqo

como urn heroi aventurei ro ( Indiana Jones). Estes, com base em conceitos da escola primana, f ieqOentemente indagam a

respeito das "racas formadoras do Brasi l" e da connrmacao c ientl fica da "preguica do lndlo", da "melancol ia do negro" e da

:cupidez" e estupidez do branco lusitano, degredado e degradado. Segundo essa Ioisi lo t ilo errOnea quanta popular, tais

seriam os fatores responsasels pelo nosso atraso econemlco-soclal , por nossa indigencia cul tural e da nossa necessidade de

autoritarismo polit ico, fator corretlvo baslco deste universo social que, entregue a si mesmo, s6 poderia degenerar-se. Isto

reproduz exatamente 0 pensamento racista do famoso Conde de Gobineau (A Diversidade Moral e Inte/ectual das Rar;as,

1856).

No imaginario popular brasileiro, 0 antropologo Ii:

Urn Indiana Jones: urn senhor grisalho, de roupas caqul , 6culos f inos e capacete de explorador que descobre esqueletos

antigos enterrados no Egito.

Urn sagaz contador de histor ietas de negros escrasos, lendas de indios ideal izados ou episodios his tcr ioos de damas,

ca\6leiros e principes portugueses, na graciosa fBbula das tres rac;;as.

Em suma, fica a imagem do antropoloqo social como:

Urn medidor de cranios confirmador de teorias sobre as rac;;ashumanas;

Urn arqueoloqo c lass ico perdido ent re dlscussoes lniclat lcas egipcias ou indianas que encontram ressoni incia no mundo

ideologico brasileiro: no espirit ismo kardecista, nos terreiros de Umbanda e nas teorias "cientificas" da Parapsicologia.

o brasileiro situa a Antropologia ...

. .. no contexte cient if ico como:

Junto a Biologia (medindo caveiras e discutindo raeas);

Como a Arqueologia pra-Hist6rica .

. .. no contexte espaco-ternporal (escopo):

Na secular Hist6r ia do Brasi l (entendida como "hist6r ia de racas" e nilo de homens);

Fora do mundo conhecido (na velha Grac ia, no Antigo Egito ou junto com os homens das cavemas).

o conhecimento social Ii reduz ido a algo natural como "racas", "misc igenac ilo" e t races biologicamente determinados por

tais "racas",

o senso comum brasileiro l imita 0 conhecimento ant ropol6gico a urn tempo anterior ao mundo social , no seu l imiar . Nilo

percebe (ou nilo admite) as suas possibilidades de lnsercao no contexte social contemporaneo.

Ao ser esclarecido sobre 0que realmente Iiurn antrop61ogo social (ou cultural), 0 brasileiro decepciona-se e tende a

consldera-lo como "mais urn desses chatos espec ialistas em problemas contemporaneos", problemas pol it icos e sociais dos

quais ele deseja fugi r a qualquer custo.

o fato social e ideoloqlco fundamental Ii que, na consclsncta social brasileira, 0 antropoloqo surge como urn CIENTISTA

NATURAL, com . ..

unidades e objeto de estudo bern determinados: AS RACAS E A BIOLOGIA DO HOMEM COMO ESPECIE ANIMAL;

uma diretriz essencial: 0 PLANO DE EVOLUQAO DESSAS RACAS;

uma contnbucao para 0 saber: 0MODO PELO QUAL TAIS RACAS ENTRAM EM RELACAO PARA CRIAR UM POVO

AMBfGUO EM SEU CARATER . (Uma banalidade empirica: "0 que todo 0mundo ja esta careca de saber desde os tempos

da escola prtmaria") .

Esta Ioisi lo de mundo e de c ienc ia leva 0 brasileiro comum as seguintes conclusOes:

Nada ha que os homens ou seus grupos possam realizar concretamente;

Tudo Iideterminado por causas biol6gicas e nunca pelas razOes soc iais , no tempo bis torico:

o "tempo biol6gico" tern razees que 0 tempo dos homens concretos e his tericos desconhece, de nada \6lendo qualquer

rebelii lo contra ele;

o antrop6logo social torna-se urn c ient is ta desumanizado preso e sujei to ao estudo das coisas dadas, jamais daqui lo que Ii

realizado pelo homem em sociedade.

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I ft lS to ri a u ra l d ~V id a d e N eg ro s n o F ut eb o B ra sile iro

Educac io Anti -racisla: caminhos

abertos pela Lei Federal ...

L iv ro : C ole CB o E du ca CB o p ar a l od es

Os negros no brasil ( 18 88 -1 98 8) :

cem anos de lu ta e IIber ta !;io

R ES UM O E ss e t ra ba lh o,p ub li ca do n o

http://gppusp.blogspot.comtsa p ro pO a a

investigar a Bvoluyao da...

A Luta Pela Hegemonia Uma

Perspectiva Negra

o A U TO R p ro pO e u rn a e st ra te gi a d e

ac urrulaC Bo de forc as de s n eg res e

rrestiyos q ue c on duza a rm ioria ...

Capi tu lo 03 - Estudo da Realidade

Brasileira

Cap it ulo 0 3 - E st ud o d a R ea li da de B ra si le ir a

A!;oes Afi rmativas e Eslado

democratico de direi to

D is se rta ca o r re str ad o p ro f. E de r B cn fi m

dCho II >

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08/05/12 Problema do Racismo a Brasi leira - Roberto da Matta

S ua "e sto ria " e o rd en ad am en te p es sim ista e ln dlsfa rca da rn en te e litis ta ; n BO e u ma n arra tiv a d e p os sib ilid ad es e a lte ma tiva s,

a titu de q ue fa z n as ce r 0 otim ism o, mas de derrotas e fecham entos, num unberso onde a IoOntade e 0 espaco para a

e sp era nc e e m uito re du zid o.

E m o ut ra s palawas, a conclusao e que a realidade soc ia l e im utaw i. 05 h om en s si'lo im po te nte s d ia nte d a su a re alid ad e

soc ia l ("deixa com o esta para wr como e que fica."l.

o autor atribui a inda um a outra 'lis i'lo da "consc lenc la popular" acerca do an trop6logo: um a espec le de econo mista produtor

de urn discurso form alista acerca de con ceitos basicos com o "m odo de producao", "sobre-trabalho", "un idade produtiva", etc .,

q ue , e m q era l, ig no ra a s q ue stO es c on ce me nte s a s ub st ii nc ia d as r ela co es s oc lo -e co nem lc as :

A nosso wr, n i'lo se trata aqui do pon to de 'lista da consc ienc ia popular, m as sim da 'lis i'lo pr6pria dos c irculos academ icos

b ra sile iro s, p oi s, c om o b ern a ss in alo u 0 autor, a consc lenc la popular esta m uito distan te da real concepcac do que wm a ser

u rn a ntro p6 lo go so cia l p ara e mitir ta l ju fz o. S eria m ais c oe re nte c olo ca r-s e 0 p r6 prio e co no mista c om o o bje to d es ta 'lis i'lo e

a uto r d as n ov as te oria s d ete rm in is ta s q ue la stre ia m 0 n ov o m od elo b ra sile iro d e d orn ln aca o s ocia l.

Ass im, 0 a ntig o d ete rm in is mo b io l6 gico te nd e a tu alm en te a s er s ub stitu fd o p elo d ete rm in is mo e co nO mic o. T en de -s e

novam ente a estabelecer urn quadro em que, um a tota lidade abranqen te e superior que tudo subm ele e explica esconde as

p os sib ili da de s d e re sg ata r 0 hum ane den tro do soc ia l, ja que ele jamais pode ser con ti do em "le is", "f6rm ulas", "regras" ou

determ lnacees, a m enos que 0jogo das fo~as soc ia is assim 0 deseje.

UM IDEAL PARA A ANTROPOLOGIA BRASILEIRA

(s eg un do R ob erto d a M atta )

N a 'lis i'lo d e R ob erto d a M atta , 0 an trop6logo brasile iro, para chegar a percepcao daquilo que M arx denom inou de "ete~' das

re la cO es s ocia is, o u s eja , 05 valores e as motivacoes que - como cultura e ideologia - emolduram e dao sen tido as pr6prias

re lacO es socia is e de prodU CBO , dew inw stigar e responder a questO es com o, por exem plo:

C om o s e d es en lo Olw 0 c ap ita lis mo n o B ra sil?

C om o se di'lo concretam ente as relacO es de producao e trabalho e ntre n6s?

C om o esse e ditrc io e percebido pelos que nele estao enloOl ' l idos?

A le rn d is to , d efe nd e 0 autor, 0 an tropologo dew perceber as ideias com o elem entos soc ia is atilo05 "atores soc ia is" agindo

quer como catalizadores, quer com o in ib idores de acO es e condutas da soc iedade - sob 0 risc o d e ca ir n a p os tu ra te 6ric o-

fo rm al e , co m e la , n o p la no a bs tra to d as d ete rrn ln ac oe s (d ete rm in is mo ).

O bsene-se aqui a diw rgencia de Roberto da M atta em relaCBo a posiCB O de Laplan tine que condena a etuacao do

a ntro p6 lo go c om o a ge nte tra ns fo rm ad or d a p r6 pria s ocie da de q ue e stu da .

o "RACISMO A BRASILEIRA"

(ID EJA : levan ta ra discussi'lo "EX IS TE R AC IS MO N O BR ASIL? C OM O ELE SE M AN IF ES TA ?").

A soc iedade brasile ira apresen ta, ao longo de sua hist6ria , S IS TE MA S H IE RA RQ UIZA DO S plenam ente concordan tes com as

DOUTR IN A S DE TERM IN IS T AS .

05 d e te rm in is m os a pr es en tam 0 todo com o algo concreto, fom ecendo urn lugar para cada coisa e colocando cada coisa em

~.

A FABULA DAS T~S RAC;;AS

A im portiincia dessa fabula reside, en tre outras coisas, no fato de ela perm itir a junC Bo d as pon tas do popular e do elab orado

(ou erudito) na nossa cultura, isto e, os seus aspectos em piricos (associados ao popular) e te6ricos (assoc i ados ao

concebido, erudito ou c ien tffico, aquilo que im pO e a distancla e as lntermedlacees),

A p ro fu nd id ad e h ist6 ric a d es sa fB bu la e im pre ss io na nte . Q ue 05 tres elementos soc ia is - branco, negro e indigena - ten ham

sid o im portan tes en tre n6s e 6b'lio , constltu lndo-se sua afirm ativa ou descoberta quase que num a banalidade em pfrica. E

c laro que foram ! M as 0 im po rta nte e 0 s eu u so c om o re cu rs o id eo l6 gic o n a c on stru cB o d a id en tid ad e so cia l b ra sile ira .

Isto nBo ocorreu da mesm a form a nos dem ais pafses da A merica. Nos Estados Un idos, por exemplo, as coisas ocorreram de

form a m uito diw rsa do caso brasile iro. N aquele pais nBo hi! escalas en tre elem entos etn icos: ou IoO ce e indio ou negro ou nBo

e!

Tais gradacO es poriam em risco aqueles que te rn 0 pleno dire ito a igualdade. N os Estados U nidos n i'lo tem os 0 " tri A ng ul o d e

racas" que fo i m an tido com o urn dado fundam ental na com preensi'lo do B rasil pelos brasile iros. E ssa triangulac i'lo etn ica

tornou-se um a ideologia dom inan te, abrangen te, capaz de perm ear a 'lisBO do noio, dos in te lec tuais , dos polit icos e dos

academ icos de esquerda e de dire ita. T odos proclam am unan im em ente a m estlcaqern e utlllzarn -se dessas un idades baslcas

- branco, negro, ind io - atraws das quais se realiza a exploracao ou a redencao das m assas.

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NO BRASIL DEU-SE UMA JUNCJl.O IDEOL6GICA BAslCA ENIRE UM SISTEMA HIERARQUIZADO REAL, CONCRETO E

HISTORICAMENTE HERDADO DA MAIRIZ PORTUGUESA E A SUA LEGITIMACJl .O IDEOL6GICA NUM PLANO MUlTO

PROFUNDO.

A sociedade portuguesa era ext remamente hierarquizada tanto no contexte pol itico quanto no soc ial, com muitas camadas

ou "estados" sociais diferenciados e complementares.

A IGUALDADE ERA RIGOROSAMENTE PROIBIDA.

Prelados, fidalgos, letrados, c idadaos (homens bons com direi tos pol iticos) e, em ult imo lugar, a grande massa, sem

representacao em cortes.

NINGUEM ERA IGUAL PERANTE A LEI !

Assim era estruturada a complicada sociedade portuguesa, que se diferenciou das demais sociedades mercantil istas

modemas por consen.ar jus tamente a aristocracia em seu seio. Embora fundada no modelo mercant il is ta modemo, era

r ig idamente controlada por leis e decretos que impediam a ascensao pol it ica de uma burgues ia comerc ial com sua

indil lidual idade e interesses prepnos, Ou seja, EM PORTUGAL IMPERAVA 0 MERCANTILISMO, MAS NAO HAVIA UMA

MENTALIDADE BURGUESA, COM SEUS IDEAlS IGUALITARIOS E INDIVIDUALISTAS. AS HIERARQUIAS TRADICIONAIS

(ARISTOCRACIA E IGREJA CAT6L1CA) FORAM MANTIDAS. Temos, pois, em Portugal a f igura impar do ARISTOCRATA-

COMERCIANTE OU DO FIDALGO-BURGU~S, personagens de urn drama soc ial e pol itico ambiguo, cujo sistema de l lida

sempre esteve fundado nos ideais da HIERARQUIA.

Nessa sociedade portuguesa dominada pelas hierarquias sociais abrangentes TUDO TEM UM LUGAR DEFINIDO. A

cateqorlzacao social e geral, lncluslve em relal;i lo aos grupos etnlcos diferenciados.

o portugulls colonizador, longe de ser urn indil lfduo degredado e degradado, urn marginal sem eira nem beira, RECONSIRUIU

AQUI A SOCIEDADE PORTUGUESA ORIGINAL.

A colonlzacao nilo foi uma empresa sem abos e rnetodos def in idos. Portugal realizou urn \erdadeiro transplante ideol6gico

durante a colonizacao do Brasi l, t ranspondo de 113ara ca as suas formas de c lass if ical ;ao soc ial, tecnioas jur id icas e

administrativas, etc.

REPRODUZIU-SE AQUI EXATAMENTE A ESIRUTURA DA MEIR6pOLE.

Embora nao seja possbel demarcar com preclsao as ORIGENS DO CREDO RACIAL brasi le iro, e possbel ass inalar seu

CARATER PROFUNDAMENTE HIERARQUIZADO.

No momento em que as nossas estruturas cornecaram a ser abaladas pelas GUERRAS DE INDEPEND~NCIA, hou\e uma

REORIENTACJl.O DOS SISTEMAS HIERARQUICOS lligentes no Brasil. Mesmo tendo esse carater elitista, de cima para

baixo, e nilo tendo, portanto, 0 rnerlto de promover transformacees sociais mais profundas, a ruptura em relal;i lo a Corea

Portuguesa forlfoU as elites dominantes a buscar uma nova identidade brasileira, na \erdade urn NOVO ARRANJO

IDEOL6GICO que justificasse, racionalizasse e legit imasse as diferencas intemas da nossa sociedade.

Na llisao de Roberto da Matta, e justamente nesse momento que se introduz a FABULA DAS IR~S RACAS E 0 "RACISMO

A BRASILEIRA", uma ideologia que permite conci liar os impulsos contradit6r ios de nossa soc iedade, sem que se cr ie urn

plano para a sua transformacao profunda.

o perfodo que antecede a Proclemacao da Republica e a Abol il ;i lo da Escravatura, momento de crise nac ional profunda,

quando se abalam as hierarquias soc iais , eo marco hist6r ico das doutr inas raciais brasi le iras . A crise iniciada com a

lndependenc la acabou se adiando e, por f im, desaguou no Mol limento Abol ic ionista (progress ista e igual itar io) e na

Proclemacao da Republica (reacionf lr io e fechado, destinado a manter 0 poder dos donos de terra) .

A Abol il ;i lo representou uma terr i\el arneaca ao edi ficio econOmico e soc ial do pais. A IDEOLOGIA CAT6L1CA E 0

FORMALISMO JURiDICO PORTUGUES nao se const itufam mais em elementos capazes de sustentar 0 sistema hierarquico,

era preciso uma nova ideologia. Essa ideologia, ao lado das cadeias de relal ;Oes soc iais dadas pela pat ronagem e que se

rnantivsram aparentemente intactas, foi dada com 0 RACISMO. E ela surgiu de modo complexo, no bojo de dois impulsos

contradit6rios: urn caracterizado pelo projeto reacionario de manter 0 status quo, libertando legalmente 0escraso, mas

mantendo-o de fato sem condlcoes de llbertar-se social e cient if icamente; 0outro tratando de perceber como 0 racismo foi

uma motival;ao poderosa para in\estigar a realidade brasileira.

A FABULA DAS IRES RACAS se consti tu i na mais poderosa for lfa cultural do Bras il , permi tindo pensar 0 pais, integrar

idealmente sua soc iedade e indil lidual izar sua cul tura. Essa tabula tern hoje a for lfa e 0estatuto de uma IDEOLOGIA

DOMINANTE:

urn s is tema totalizado de ideias que interpenetra a maior ia dos dominios expllcathos da cul tura, fomecendo por mui to tempo

as bases de urn pro jeto politico e social para 0 brasileiro (atra\1flsda tese do "branqueamento" como objet i\ {) a ser buscado);

permi te ao homem comum, ao sablo e ao ide61ogoconceber uma sociedade altamente dil lidida por hlerarqulzacoes como

uma totalidade integrada por tacos humanos dados com 0 sexo e os atributos "raciais" complementares;

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Possibili ta IAsualizar nossa sociedade como algo singular - especif icidade que nos e presenteada pelo encontro harmonioso

das tres "racas";

Une a soc iedade num plano "biol6gico" e "natural" , dominic unl tano, prolongado nos r itos de Umbanda, na cordial idade, no

camaval, na com ida, na beleza da mulher (e da mulata) e na milsica.

AS FONTES ERUDITAS DO RACISMO BRASILEIRO

o rac ismo nasceu na Europa do seculo XVI II, na crise da ReloOlucaoFrancesa, mas 56 vaio dominar 0cenano intelectual

europeu no seculo seguinte, na forma das teor ias evoluclonis tas c ient if icamente respeitadas, com as quais ja estamos

familiarizados.

No seculo XIX;0 rac ismo aparece em sua forma acabada, como um instrumento do imper ialismo e como uma just if icativa

"natural" para a supremacia dos POIoOS da Europa Ocidental sobre 0 resto do mundo. Foi esse tipo de racismo que a e lite

intelectual brasileira bebeu sofregamente, tomando-o como doutrina explicativa acabada para a realidade que exist ia no pais.

Adotaram-se amplamente as teor ias rac is tas produzidas pelo norte-americano Agass iz e pelos europeus Buck le, Gobineau e

Couty (mais inf luentes aqui por terem feito referencias expressas ao Brasil). Na IAsao desses estudiosos 0 Brasi l t inha um

futuro dulAdoso, pois a sociedade brasileira se caracterizava por "conjuncOes raciais rigorosamente condenadas" entre

negros, brancos e indios.

AS DOUTRINAS RACISTAS DO SECULO XIX

PRESSUPOSTOS DAS TEORIAS RACISTAS

As teor ias rac is tas baseavam-se em PRESSUPOSTOS simples e, justamente por isso, t inham alto poder atratlso sobre os

circulos intelectuais politicos:

CADA RAC;:AOCUPA UM CERTO LUGAR NA HISTClRIA DA HUMANIDADE e eram tomadas como especles altamente

diferenciadas, seja no tempo, seja no espaco, ou em ambas as dimensOes; dai a ilaeao de que as d ife rencas entre as

sociedades e naeOes expressavam as poslcees biol6gicas diferenciadas de cada uma numa escala eloOlut iva;Louis Agassiz,

por exemplo, considerado 0 maior pol igenista americano, nao hes itava em si tuar a raea branca como super ior e, ap6s sua

famosa IAs ita ao Brasi l, mencionar este pais como um exemplo negati loOda "deterioracao decorrente do amalgam a de racas

que vai apagando rapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do indio, deixando um t ipo indef in ido, hibrido,

def ic iente em energia fisica e mental" . Como se W, 0diagn6stico nao e muito diferente do de Gobineau.

o DETERMINISMO, outro ponto essencial nas doutrinas racistas, estabelece que as diferenciacOes biol6gicas produziram

(no "tempo bioI6gico") TIPOS acabados e que cada t ipo esta determinado em seu comportamento e mentalidade pelos

fatores intrfnsecos ao seu componente biol6gico. Gobineau estabeleceu uma perfeita equacao entre traces biol6gicos,

psicol6gicos e pos iCao his t6rica em seu A Diversidade Moral e Inte/ectuaESQUEMA DAS RAC;AS HUMANAS

SEGUNDO GOBINEAU (1856)

NEGRA AMARELA BRANCA

INTELECTO Debil Mediocre Vigoroso

PROPENSOES ANIMAlS Muito fortes Moderadas Fortes

MANIFESTAC;OES MORAISParcialmente latentesComparativamente desenloOllAdasAltamente cultivadas

Idas Rar;as:

Observa-se aqui a divargenc ia de Roberto da Matta em relaeao a pos lcao de Laplant ine que condena a etuacac do

antrop6logo como agente transformador da propria sociedade que estuda.

o "RACISMO A BRASILEIRA"

(IDEIA: levantara discussao "EXISTE RACISMO NO BRASIL? COMO ELE SE MANIFESTA?").

A sociedade brasi le ira apresenta, ao longo de sua hist6r ia, SISTEMAS HIERARQUIZADOS plenamente concordantes com as

DOUTRINAS DETERMINISTAS.

Os determinismos apresentam 0 todo como algo concre to , fomecendo um lugar para cada coisa e co locando cada coisa em

seu lugar.

A FABULA DAS TRES RAC;AS

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08/05/12 Problema do Racismo a Brasi leira - Roberto da Matta

A lrnportanc la dessa fabula reside, ent re outras coisas, no fato de ela permiti r a jun~ao das pontas do popular e do elaborado

(ou erudi to) na nossa cul tura, isto a, os seus aspectos empir icos (associados ao popular) e te6r icos (assoc i ados ao

concebido, erudito ou cientHico, aquilo que impOe a distl lncia e as lntermedlacoes),

A profundidade his t6rica dessa tabula a impressionante. Que os t~s elementos soc iais - branco, negro e indfgena - tenham

sido importantes ent re nOs a 6b-.io, const ltu lndo-se sua afi rmat iva ou descoberta quase que numa banal idade empir ica. E

c laro que foram! Mas 0 importante a 0 seu usc como recurso ideol6aico na const rucao da identidade social brasi le ira.

Isto nao ocorreu da mesma forma nos demais paises da America, Nos Estados Unidos, por exemplo, as coisas ocor reram de

forma muito diversa do caso brasi le iro. Naquele pais nao ha escalas entre elementos atnicos: ou IoOcea indio ou negro ou nao

a!

Tais gradacOes por iam em risco aqueles que tAm 0 pleno direito a igualdade. Nos Estados Unidos nao temos 0 "trillngulo de

racas" que foi mantido como um dado fundamental na compreensAo do Bras il pelos brasi le iros. Essa t riangula~Ao atnica

tornou-se uma ideologia dominante, abrangente, capaz de permear a - .isao do noio, dos intelectuais, dos pol iticos e dos

acadAmicos de esquerda e de direi ta. Todos proclamam unanimemente a mesticagem e utl llzarn-se dessas unidades bas lcas

- branco, negro, indio - a traws das quais se rea liza a exp lora~Ao ou a redencao das massas.

NO BRASIL DEU-SE UMA JUNyAO IDEOL6GICA BAslCA EN1RE UM SISTEMA HIERARQUIZADO REAL, CONCRETO E

HISTORICAMENTE HERDADO DA MA1R1ZPORTUGUESA E A SUA LEGITIMAcAo IDEOL6GICA NUM PLANO MUlTO

PROFUNDO.

A sociedade portuguesa era ext remamente hierarquizada tanto no contexte pol itico quanta no soc ial, com muitas camadas

ou "estados" sociais diferenciados e complementares.

A IGUALDADE ERA RIGOROSAMENTE PROIBIDA.

Prelados, fidalgos, letrados, c idadaos (homens bons com direi tos pol iticos) e, em ult imo lugar, a grande massa, sem

reprssentacao em cortes.

NINGUEM ERA IGUAL PERANTE A LEI !

Assim era estruturada a complicada sociedade portuguesa, que se diferenciou das demais sociedades mercantil istas

modemas por conservar jus tamente a aristocracia em seu seio. Embora fundada no modelo mercant il is ta modemo, era

r ig idamente controlada por leis e decretos que impediam a ascensao pol it ica de uma burgues ia comerc ial com sua

indi- .idual idade e interesses pr6pr ios. Ou seja, EM PORTUGAL IMPERAVA 0 MERCANTILISMO, MAS NAO HAVIA UMA

MENTALIDADE BURGUESA, COM SEUS IDEAlS IGUALITARIOS E INDIVIDUALISTAS. AS HIERARQUIAS TRADICIONAIS

(ARISTOCRACIA E IGREJA CAT6L1CA) FORAM MANTIDAS. Temos, pois, em Portugal a f igura impar do ARISTOCRATA-

COMERCIANTE OU DO FIDALGO-BURGU~S, personagens de um drama soc ial e pol itico ambiguo, cujo sistema de -.ida

sempre esteve fundado nos ideais da HIERARQUIA.

Nessa sociedade portuguesa dominada pelas hierarquias sociais abrangentes TUDO TEM UM LUGAR DEFINIDO. A

oateqonzacao social a geral, inclusive em rela~ao aos grupos atnicos diferenciados.

o portuguAs colonizador, longe de ser um indiv fduo degredado e degradado, um marginal sem eira nem beira, RECONS1RUIU

AQUI A SOCIEDADE PORTUGUESA ORIGINAL.

A colonizacao nao foi uma empresa sem abos e rnetodos def in idos. Portugal realizou um verdadeiro transplante ideol6gico

durante a colonlzacao do Brasi l, t ranspondo de la para ca as suas formas de c lass if ica~Ao soc ial, tecnicas jur id icas e

administrativas, etc.

REPRODUZIU-SE AQUI EXATAMENTE A ES1RUTIJRA DA ME1R6pOLE.

Embora nAo seja poss ivel demarcar com preclsao as ORIGENS DO CREDO RACIAL brasi le iro, a possivel ass inalar seu

CARATER PROFUNDAMENTE HIERARQUIZADO.

No momento em que as nossas estruturas cornecaram a ser abaladas pelas GUERRAS DE INDEPEND~NCIA, houve uma

REORIENTAGAO DOS SISTEMAS HIERARQUICOS -.igentes no Brasi l. Mesmo tendo esse carater eli tista, de c ima para

baixo, e nao tendo, portanto, 0 rnerito de promover transformacoes sociais mais profundas, a ruptura em relacao a Corea

Portuguesa fo~ou as eli tes dominantes a buscar uma nova identidade brasi le ira, na verdade um NOVO ARRANJO

IDEOL6GlCO que justificasse, racionalizasse e legit imasse as diferen~as intemas da nossa sociedade.

Na -.isAo de Roberto da Matta, a justamente nesse momento que se introduz a FABULA DAS 1R~S RAGAS E 0 "RACISMO

A BRASILEIRA", uma ideologia que permite conci liar os impulsos contradit6r ios de nossa soc iedade, sem que se cr ie um

plano para a sua transforma~ao profunda.

o per iodo que antecede a Proclernacao da Republica e a Abol i~ao da Escravatura, momento de crise nac ional profunda,

quando se abalam as hierarquias soc iais , a 0marco hist6r ico das doutr inas raciais brasi le iras . A crise iniciada com a

independAncia acabou se adiando e, por f im, desaguou no Mo-.imento Abolicionista (progressista e igualitario) e na

Proclama~Ao da Republica (reaclonario e fechado, destinado a manter 0 poder dos donos de terra) .

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A A bolit;:BO represen tou uma terriw l arneaca ao edific io econem lco e soc ia l do pais. A IDEOLO GIA CA T6L1CA E 0

FORM ALISM O JURfD ICO P ORTUGU~S nBO se constitu iam m ais em elementos capazes de susten tar 0 s is tema h i er ar qu ic o ,

era preciso um a nova ideologia. E ssa ideologia, ao lado das cadeias de relat;:O es socia is dadas pela patronagem e que se

m antiw ram a paren tem ente in tac tas, fo i dada com 0 RA CISM O. E ela surgiu de modo complexo, no bojo de dois impulsos

c on tra dit6 rio s: u rn c ara cte riza do p elo p ro je to re ac io na rio d e m an te r 0 status quo, l ib e rt a nd o l eg a lm en te 0 e sc ra vo , m as

m an te nd o-o d e fa to s em c on dlc oe s d e lib erta r-se s oc ia l e c ie ntific am en te ; 0 o utro tra ta nd o d e p erc eb er c om o 0 ra cis mo fo i

u ma m otiv ag Bo p od ero sa p ara in ws tig ar a re alid ad e b ra sile ira .

A FA BULA DA S TR~S RA QA S se constitu i na m ais poderosa forya cultura l do Brasil, perm itindo pensar 0 pa ls , i nt e gr ar

idealm ente sua sociedade e indilo idualizar sua cultura. Essa tabula tern hoje a forya e 0 e sta tu to d e u ma ID EO LO GIA

DOMINANTE :

urn sis tem a tota lizado de ideias que in terpenetra a m aioria dos dom in ios expllcathos da cultura, fom ecendo por m uito tem po

as bases de urn projeto politico e socia l para 0 brasile iro (atraw s da tese do "bran queam ento" com o objeti\O a ser buscado);

perm ite ao hom em com um , ao sable e ao ide61ogo conceber um a soc iedade altam ente dilo id ida por hierarquizagO es com o

um a tota lidade in tegrada por tacos hum anos dados com 0 s ex o e o s a trib uto s " ra cia is " c om ple me nta re s;

P ossib ilita Io isualizar nossa soc iedade com o algo singular - espec ific idade que nos e p re se nte ad a p elo e nc on tro h arm on io so

d as t r1 !s " ra ga s" ;

U ne a soc iedade num plano "bio l6gico" e "natura l", dom ln io un ltarto, pro longado nos ritos de U rn b anda, na cordia lidade, no

cam aval, na com ida, na beleza da mulher (e da m ulata) e na m Llsica.

AS FONTES ERUDITAS DO RACISMO BRASILEIRO

o racism o nasceu na Europa do seculo XV II I, na crise da Re\O lugBo Francesa, m as s6 w io dom inar 0 c e na ri o i nt el ec tu a l

europeu no seculo seguin te, na form a das teorias e\O lucion is tas c ien tificam ente respeitadas, com as quais ja estam os

famil iar izados.

N o s ec ulo XiX, 0 rac ism o aparece em sua form a acabada, com o urn instrum ento do im peria lism o e com o um a justificativa

"natura l" para a suprem acia dos pO \O S d a E uropa O ciden ta l sobre 0 resto do m undo. Foi esse tipo de rac ismo que a elite

in te le ctu al b ra sile ira b eb eu s ofre ga me nte , to rn an do -o c om o d ou trin a e xp lic ativ a a ca ba da p ara a re alid ad e q ue e xis tia n o p als .

A dotaram -se am plam ente as teorias rac is tas produzidas pelo norte-am ericano A gassiz e pelos europeus Buckle, G obineau e

C ou ty (m ais in flu en te s a qu i p or te re m fe ito re fe r1 !n cia s e xp re ss as a o B ra sil). N a Io iS BOd es se s e stu dio so s 0 B ra sil t in ha u rn

fu tu ro d ulo id os o, p ois a s oc ie da de b ra sile ira s e c ara cte riz ava p or "c on ju ng oe s ra cia is rig oro sa me nte c on de na da s" e ntre

n eg ro s, b ra nc os e in dio s.

AS DOUTRINAS RACISTAS DO SECULO XIX

PRESSUPOSTOS DAS TEORIAS RACISTAS

A s teorias rac istas baseavam -se em P RESSUP OSTOS sim ples e, justam ente por isso, tinham alto poder atrativo sobre os

c ir cu lo s i nt ele ct ua is p oli ti co s:

CA DA RAQA OCUPA UM CERTO LUGA R NA H ISWRIA DA HUM ANIDADE e eram tomadas como sspec les a ltamente

diferenc iadas, seja no tempo, seja no espaco, ou em ambas as dim ensOes; dal a ilaCBo de que as diferencas en tre as

soc iedades e nacoes expressavam as poslcoes bio l6gicas diferenciadas de cada um a num a escala e\O lutiva; Louis A gassiz,

p or e xem plo , c on si de ra do 0 m aior poligen ista am ericano, nB o hesitava em situar a raga branca com o superior e , ap6s sua

fam osa Io isita ao Brasil, m encionar e ste pais com o urn exem plo negati\O da "deterioracao decorren te do am algam a de ragas

que vai apagan do rapidam ente as m elhores qualidades do branco, do negro e do indio, deixando urn tipo indefin ido, h ibrido,defic ien te em energia fis ica e m ental". C om o se 'Iii, 0 d ia gn 6stic o n Bo e m uito d ife re nte d o d e G ob in ea u.

o D ET ER MIN IS MO , o utro p on to e ss en cia l n as d ou trin as ra cis ta s, e sta be le ce q ue a s d ife re ncia gO es b io l6 gic as p ro du zira m

(no "tem po bioI6gico") TIPO S acabados e que cada tipo esta determ inado em seu comportamento e mentalidade pelos

fa to re s in trin se co s a o s eu c om po ne nte b io l6 gic o. G ob in ea u e sta be le ce u u ma p erfe ita e qu ac ao e ntre tra ce s b io l6 gic os,

ps icol6gicos e poslcao hist6rica em seu A Diversidade Moral e Intelectual das Racas:

ESQUEMA DAS RACAS HUMANAS

SEGUNDO GOBINEA U (1856)

NEGRA AMARELA BRANCA

INTELECTO Debil M edioc re V igoroso

PROPENSCES ANIMAlS Muito f ortes M oderadas Fortes

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MANIFESTAC;:OES MORAISParcialmente latentesComparativamente desemolloidasAltamente cultivadas

Gobineau afirmava:

a existencia de diwrsas "ragas brancas";

a superioridade das "ragas brancas";

que cada raga tern uma determinada tendsncla baseada numa equacao entre RAQA = CULTURA = NAQAo = 1RIBO (os

fenicios eram mercadores; os gregos, "professores das futuras geragoes" e os romanos, modeladores de gowmo e leis;

que os poderes ou instintos rac iais nunca mudam enquanto a raga permanece pura;

se as "propensoes animais" sao fortes e nao contrabalangadas por "manl festacoes morais" , a "raga" estar ia condenada a ter

uma Ioidacolet iva deficiente e desorganizada; quando as "propensoes animais" s!lo fortes eo "intelecto" l!loigoroso, como nas

"ragas brancas", 0 resul tado a uma "grande axpansao no senti do moral, com uma complexa e variada organizagao pol itica

emergindo";

que as misturas infel izes de ragas levariam ciloi lizagoes a decadencla, a ruina, a ser dominadas por out ras ou ate mesmo

extintas.

Gobineau foi embaixador no Bras il e extemava uma fantast lca preocupacao diante da realidade f is ica de mulatos, cafuzos emamelucos, afirmando que 0 branco estava perdendo suas qualidades para 0 indio e, sobretudo para a "raga negra".

FATORES QUE DETERMINARAM A ADo c;:Ao DO RACISMO NO B RASIL

Essa teoria que relacionava a Biologia e a His t6ria com a moral idade foi aceita de imediato pelo Bras il . Nada mais teci l para

serloir de "modelo cientrfico" a nossa realidade, dando-Ihe uma forma totalizada e acabada, do que essa sfntese arianista

nascida do ideario europeu tao prest igiado de Gobineau.

Skidmore (1976) indica que a EXPERIr :NCIA HIST6RICA a baslca para a adocao das teses racistas, mas Roberto da Mat ta

afi rma a existencia de outros elementos que dewm ser cons iderados:

o :determinismo geograf ico" foi menos estudado e debat ido do que 0 "determinismo racial". Essa preferencia indica

claramente a profunda relar;:!lo existente entre 0meio soc ial brasi le iro e as doutr inas rac is tas, com 0 seu apelo expllcatho

para uma sociedade diloidida em segmentos, cujo poder e prestrgio diferencial e hierarquizado correspondia, grosse modo, a

diferenr;:as de tipos f isicos e origens sociais.

o racismo Ii la Gobineau tinha 0 rneri to de inaugurar uma ref lexao sobre a diniimica das "ragas", abr indo a discussao das

diniimicas soc iais (a seducao do "branqueamento dos negros" teria nele a sua origem?).

UM A A NA LISE D A CO NJU NTU RA H IST 6R 1C A B RA SILEIR A

Roberto da Matta descrew a situacao hist6r ica e soc ial do Brasi l com os seguintes traces:

A escraloidao estava contida num sistema polit ico antiindiloidualista e antiigualitario; urn sistema totalizante e abrangente,

dominado por uma modalidade mui to bern art iculada e antiga de formalismo jur id ico - legado da colonizaeao portuguesa.

Atl! 0 f inal do seculo XIX;constituiu-se uma sociedade de nobres, com uma ideologia aristocratica e antiigualitana; dominada

pela etica do famil ismo da patronagem e das relacoes pessoais, tudo isso emoldurado por urn s is tema jur id ico formal is ta e

totalizante que sempre priloilegia0 todo (a est rutura hierarauica soc ial) e n!lo as partes (os indivfduos e os casos concretos) .

Tudo isto fez com que 0 regime de escraloid!lo fosse aceito como algo normal pela maior parte dos membros de nossas

elites, tomando-se urn ~uniwrsal pelo fim do saculo XIx; exatamente 0 contrarto do que ocorreu nos Estados Unidos,

onde 0 t rabalho escraso era um fato social regional altamente localizado.

Estrutura polit ica autoritaria central izante. onde 0 pol it ico e a moral idade controlavam e demarcavam de cima os impulsos

economlcos,

S is tema soc ial for temente hierarquizado, onde as pessoas se l igam ent re s i e essas l igagoas sao consideradas fundamentais

(valendo mais do que as leis uniwrsalizantes) , permi tindo aos senhores e escravos realizarem relar ;:oescom muito maior

"intimidade, confianr;a e considerar;ao".

o senhor n!lo se sente ameacado ou culpado por estar submetendo urn out ro homem ao trabalho escraso, pelo contrsno, ~ 0

negro como seu complemento natural.

A Ioisaode urn mundo altamente hierarquizado e totalizado desde os ceus (Igreja Cat61ica com suas ordens de anjos,

arcanjos, querubins, santos de var ios rneri tos, etc . s ituadas em esferas, c irculos e pianos, tudo consoli dado na Sant issima

Tr indade, todo e parte ao mesmo tempo) produz uma ldeia de igualdade e hierarquia s lrnultanea, 0que enseja menores

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pressoes nas relar;: iies entre senhores e escrasos, superiores e inferiores, e dai 0 maior grau de int imidade ent re as partes.

o ponto critico de todo 0 nosso sistema a a sua pro funda desigualdade: n inquam a iqual entre si ou peran te a lei; nem

senhores (diferenciados pelo sangue, nome, dinheiro, t itulos, propriedades, educacao, relaeoes pessoais "cl ientelistas", etc.),

nem os escraeos, criados ou subaltemos, igualmente diferenciados entre si por meio de varios crlterios; estabelece-se

diferenciar ;:oes para c ima e para baixo, de forma que todo 0 universo social acaba pagando 0 prer;:oda sua extremada

desigualdade, colocando tudo em gradar;:oes.

Nao ha necessidade de seoreqar 0 rnesnco, 0mulato, 0 indio e 0 negro, porque as hierarouias assequram a superioridade do

branco como qruDo dominante.

Uma totalidade francamente dir iq ida e for temente hierarouizada, aliada com a ausencia de wlores igual itar ios, permi tiu a

concl llacao, num plano profundo, das pos lcoes indil iduais e pessoais, dando lugar a intimidade, a conslderacao, ao falAJre a

confianr;:a. (0 autor refuta a sucostcao de Gilberto Freyre que simplesmente atribufa isto ao carater nacional portuques).

Num sistema hierarquizado como 0 nosso, "cada coisa tem um lugar demarcado e cada lugar tem a sua coisa

correspondente" .

Situar;:oes de segregar;:Ao s6 tendem a ocorrer quando 0elemento nao e conhecido socialmente, isto e, quando a pessoa nao

tem e nao mantern relar ;:oessoc iais naquele meio, nao esta integrada na rede de relar ;:oes altamente est ruturadas que, por

def in icAo, nao pode deixar nada de fora: nem propr iedade nem emocAo nem relacAo. Uma \eZ que tais relac iies sao

estabelec idas, todos ficam dentro de um sis tema total izante, por meio do qual todas as diferencas sao resol lidas.

QUADRO COMPARATIVO ENTRE OS CONTEXTOS HISTORICOS BRASILEIRO E NORTE-AMERICANO, CONFORME

ROBERTO DA MATTA

BRASIL

BURGUESIA PORTUGUESA ATRELADA A ARISTOCRACIA E/OU

SUBMISSA AO REI ("aristocratas-{;omerciantes" ou "fidalgos-

burgueses").

SISTEMA ECONOMICO ORIGINADO SOB FORTE SUJElyAO ACOROA PORTUGUESA.

CAT6L1CISMO (HIERARQUICO)

SISTEMA SOCIAL ALTAMENTE HIERARQUIZADO.

FORMALISMO JURiDICO ACENTUADO

IDEOLOGIA ARISTOCRAllCA ANlllGUALITARIO E

ANll INDIVIDUALISTA. ("Ninguem e igual ent re s i ou perante a lei ".)

INTIMIDADE ENTRE SENHORES E ESCRAVOS, SUPERIORES E

INFERIORES.

SEGREGAQAO AUSENTE; MESTIQOS SAO CLASSIFICADOS EM

GRADAQOES; A MISCIGENAyAO r :: TOLERADA;

SISTEMA TRIANGULAR

ESTADOS UNIDOS

BURGUESIA INGLESA POLl llCAMENTE FORTE E

INDEPENDENTE.

SISTEMA ECONOMICO ORIGINADO SOB FORTE

INFLUr::NCIA DA INICIATIVA PRIVADA BURGUESA.

PROTESTANllSMO (ANTI-HIERARQUICO)

BAIXA HIERARQUIZAQAo DO SISTEMA SOCIAL.

SISTEMA JURiDICO POUCO FORMAL

IDEOLOGIA BURGUESA IGUALITARIA E

INDIVIDUALISTA. (Os cidadaos - leia-se "brancos" -

sao iguais en tre si e peran te a lei)

SEGREGAQAO E DISTANCIAMENTO ENTRE

SENHORES E ESCRAVOS.

MISCIGENAQAo RIGOROSAMENTE CONDENADA;

NEGROS E MESllQOS RADICALMENTE

SEGREGADOS.

REGIME ESCRAVISTA COMO FORMA DOMINANTE (UNIVERSAL) DEREGIME ESCRAVISTA COMO FATO SOCIAL

EXPLORAQAo DO TRABALHO. REGIONAL, AL TAMENTE LOCALIZADO.

AS PRESSOES GERADAS PELA ABOLlyAO DA ESCRAVATURA

FORAM CONTROLADAS ATRAVES DO FORTE SISTEMA

HIERARQUICO E DO FORMALISMO JURIDICO.

As origens do racisrno brasi le iro

AS PRESSOES GERADAS PELA LlBERTAQAO

DOS ESCRAVOS LEVARAM A PROFUNDOS

CONFLITOS RACIAIS.

o mol imento da lndependsnc la (1822) prolAJCOUuma for te reonentacao dos s is temas de hierarquia l igentes no Brasi l. A parti r

desse momento, 0 racismo se coloca como uma ideologia necessaria para subst itui r as ant igas idaias da Igreja Cat61ica que

perdiam forr; :adiante do cresc imento dos ideais l lber tarios e igual itBr ios da Franca e com a consolldacao da burguesia

protestante no cenano mundial . 0 centro de poder, antes localizado no alern-rnar, passava a se local izar no Rio de Janeiro,

sofrendo natural mente todas as pressoes da sociedade local.

Essa busca de uma ident idade nac ional e de mecanismos ideol6gicos de racronanzacao e legitimar;:ao das diferenr;:as sociais

intemas do pais resul tou na adocao da "rabula das t res racas" e no "racismo a brasi le ira" , uma ideologia que permite conci liar

uma sene de impulsos contradit6r ios de nossa sociedade, sem que se crie um plano para sua t ransformacAo profunda.

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o marco his t6rico das doutr inas rac iais brasi le iras eo per iodo que antecede a Proclamacao da Republica e a Abol icao da

Escrawtura, momenta de crise nac ional profunda, quando se abalam as hierarquias soc iais .

A ~ foi um molAmento de sentido progressista e aberto (igualdade e transformacao das hierarquias), enquanto a

Republica se t raduz num movrnento reacionar io e fechado (manutencao do poder dos donos de terras).

A ideologia cat6l ica e 0 formalismo juridico herdado de Portugal nilo eram mais suf icientes para sustentar 0 sistema

hierarquico, era preciso uma now ideologia (destaque-se aqui a l rnportancla do apogeu do pos lt ls is rno comteano nessa

epoca),

As cadeias de relacOes sociais dadas pela patronagem se mantiwram intactas. Associadaa

doutrina racista emergente naEuropa, instalou-se, entao, uma ideologia capaz de justificar 0 sistema sociallAgente e rnante-to equilibrado.

Assim, tratou-se de manter 0 status quo, libertando 0escravc juridicamente, mas deixando-o sem condlcoes de libertar-se de

fato.

A "tabula das t res racas" se const itui na mais poderosa fo~a cul tural do Brasi l, permi tindo pensar 0 pais, integrar idealmente

sua soc iedade e indilAdualizar sua cul tura. Tem a fo~a e 0estatuto de uma ideologia dominante: um sistema total izado de

ldelas que interpenetra a maior ia dos domlnios expllcatbos da cultura. Sustentou por mui tos anos e ainda hoje fomece as

bases de um pro jeto politico e social (atraws da tese do "branqueamento" como a lw a ser buscado) . Permi te a todos

conceber uma sociedade altamente dilAdida por hierarquizacOes como uma totalidade integrada; e, f inal mente, essa tabula

possibili ta IAsualizar nossa sociedade como algo singular - especif icidade que nos e presenteada pelo idealizado encontro

harmonioso das trAs "racas", 0 mito das tres "racas" une a soc iedade num plano "biol6gico"e "natural" , domlnio uni tario,

p rolongado nos rites da Umbanda, na cordialidade, no camawl, na comida , na beleza da mulher (e da mulata) e na rnuslca ...

As fon tes erudilas do racismo brasi leiro

Com 0surgimento das teorias ewlucionistas no seculo XiX, 0 rac ismo assume a sua forma acabada, como um instrumento

de domlnaeao e como justi ficatiw "natural" para a supremacia dos povos europeus ocidentais sobre 0 res to do mundo. A eli te

intelectual brasileira abson.eu so1iegamente essas ldeias, tomando-as como doutrina explicatiw para a realidade que exist ia

no pals.

Mas, na IAsilo dos estudiosos europeus e norte-americanos, 0 Bras il se const itula num exemplo negat iw, "uma arena de

conjuncOes raciais entre negros, brancos e indios" que eram totalmente condenadas. Gobineau afi rmaw que a soc iedade

brasi le ira era inlAawl porque possuia uma enorme populacao "rnestlca", produto indesejado e hibrido das "racas" que eram

IAstas como especles diferenciadas.

Pressupostos das teorias rac is tas

Cada raca ocupa um certo lugar na hist6r ia da humanidade.

As racas eram tomadas como espec les altamente diferenc iadas no tempo elou no espaco. Dai a i lacao de que as diferencas

ent re as soc iedades e nacOes expressawm as pos lcees biol6gicas de cada uma numa escala ewlut iw.

Determinismo - As diferenc iacoes biol6gicas sao IAstas como tipos acabados e cada tipo esta determinado em seu

comportamento e mentalidade pelos fatores intrlnsecos ao seu componente biol6gico. Explicitando essa IAsilo, Gobineau

afi rmaw que os "poderes e os instintos ou asplracees que surgem deles [povos] nunca mudam enquanto a raca permanece

pura.. . nunca alteram a sua natureza". Assim, ele estabeleceu comblnaceas ent re INTELECTO, PROPENSOES ANIMAlS e

MANIFESTAC;OES MORAIS para caracterizar a "natureza" das racas branca, negra e amarela, s ituando a primeira como 0

apice da escala ewlutiw. Essa teor ia gerou 0 "ar ianismo" na Europa e foi prontamente aceita pelo Brasi l.

Como a teoria racista sa incorporou no pensamento brasileiro

r ;: elAdente que a exper ienc la his t6rica e baslca para a adocao das teses "racistas", mas, segundo da Mat ta, ela nilo e tudo:

Nem todas as formas de determinismo foram aceitas para discussao no meio soc ial, pol it ico e cul tural brasi le iro. 0

"determinismo geografico", por exemplo, foi mui to menos explorado do que 0 "determinismo racial". Essa escolha tem razOes

profundas em seu apelo explicatiw para uma sociedade dilAdida em segmentos, cujo poder e presUgio hierarauizado

corresoondia grosse modo a diferencas de t ipos f is icos e origens soc iais .

o racismo a la Gobineau tinha 0 rneri to de inaugurar uma ref lexao sobre a dinamlca das "racas": podia-se, com isso, deixar

de louvar os t ipos puros (sobretudo 0 "ar iano") , passando-se a especular sobre os resultados dos "cruzamentos" ent re as

"racas", No Brasi l n ilo halAa a necessidade de segregar 0mestlco, 0 mulato, 0 Indio e 0 negro, porque as hierarquias

asseguram a super ioridade do branco como grupo dominante. Cabe sal ientar a l rnportancla da ideia do "branqueamento", tida

como uma especle de "ascensao social" dentro da IAsao hierarquica brasileira.

Ta l como na Ind ia, as camadas diferenciadas da sociedade - as castas - sao IAstas como complementares (cada uma com a

sua funcao). Aqui no Brasil, 0 nosso rac ismo fomeceu os elementos de uma IAsao semelhante, colocado no t riangulo das

racas quando situa 0 branco, 0 negro e 0 Indio como formadores de um now padrao rac ial.

A fal ta de seoregaciio se dew a fa lta de wlores igual itarios . Negros e indios tam uma poslcao demarcada num sistema de

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08/05/12 Problema do Racismo a Brasi leira - Roberto da Matta

relal<Oessociais concretas que engendra os laces de patronagem, permitindo conciliar poslcoes indilAduais e pessoais, com

uma totalidade francamente dirigida e fortemente hierarquizada. a maior crime ent re n6s (num sis tema hierarquizado) nllo

esta em ter alguma caracterlst ica distint iva, mas em nllo ter relal<Oessociais, em ser um indilAduo desgarrado, desconhecido

e solitario.

POSITIVISMO - Doutrina criada por Augusto Comte (posteriormente denominada posit ivismo chissico) segundo a qual

toda a ati lAdade filos6f ica e cient if ica deva efetuar-se somente no quadro da analise dos fatos varif icados pela exoeriencia. 0

dominio das coisas em si e inacessival ao espir ito humano, que deva renunciara a todo a priori, l imitando-se a formular leis e

relacOes entre os fenOmenos observados. a pos lt lvsrno foi considerado por Comte como a base e 0 fundamento

metodol6gico de uma now cienc ia soc ial, a " fisica social " ou "sociologia". Mais tarde foi concebido pelo pr6pr io Comte como

uma nOl/areligiiio da humanidade.

No Brasil, 0 poslt lvsrno comteano alcancou grande expressiio, principalmente pelo trabalho de Miguel Lemos e Teixeira

Mendes, exercendo inf luencia sobre divarsos lideres republicanos, em especial Benjamin Constant, tanto que 0 lema "ordem

e progresso", presente na bandeira nacional e um dos ideais do pensamento comteano.

(Grande Enciclopedia larousse Cultural, \01. 19, pp 47364737, Nova Cultural)

RAIMUNDO NINA RODRIGUES, etn6grafo, criminalista, patologista e socloloqo brasileiro, nasceu em Vargem Grande/MA,

no ana de 1862, e faleceu em 1906, em Par is . Considerado como um pioneiro dos estudos afr icanos no Brasi l, estudou as

ati tudes psicol6gicas dos afr icanos e seus descendentes na Bahia sob um prisma nit idamente rac is ta. Defendeu teses como

ada incapacidade c ilAl do negro, pois sua intel igencia ser ia l imitada como a das criancas. Deixou vasta bibli09rafia,

destacando-se: a Animismo Fet ichista dos Negros da Bahia (1900), de especial interesse folcl6rico; as Africanos no Brasil

(1932), onde t ratou de aspectos rel ig iosos e folcl6r icos, deixando um regis tro pioneiro de especial interesse his t6rico acerca

do Quilombo dos Palmares.

(Grande Enciclopedia larousse Cultural, \01. 21, pp. 5095-5096, Nova Cultural)

S ilVIO VASCONCELOS DA Si lVEIRA ROMERO, pensador, crl tico, ensafsta e primeiro histor iador sistemat ico da l iteratura

brasileira, nascido em LagartolSE, 1851, e falecido em 1914, no Rio de Janeiro. Em Reci fe, ao lado de Tobias Barreto,

expressou a ans ia de renovac llo que acompanhou a ascensl lo do pos it ilAsmo. Membro da chamada Escola de Recife,

pretendeu com sua obra uma superaeao do eclet ismo e do pos lt lvsmo, Inspi rando-se sobretudo em Kant e no e\Olucionismo

spenceriano, deu origem a um cu/turalismo socio/6qico. Em 1888, publicou Etn09rafia Brasileira e, em 1894, 0 ensaio

filos6fico Doutrina Contra Doutrina - 0evolucionismo e 0positivismo no Brasil; em 1901, escrevau Ensaios de Sociologia e

Uteratura e, em 1906, A America Latina.

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