implicações biológicas do autismo - a nutrição como base do tratamento - monografia maria rosa...

94
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL- UNICSUL VP CONSULTORIA NUTRICIONAL DIVISÃO DE ENSINO E PESQUISA CURSO DE NUTRIÇÃO CLÍNICA FUNCIONAL Maria Rosa Etcheverry Centeno Rodrigues Implicações biológicas do autismo: a nutrição como base do tratamento CURITIBA 2010

Upload: mariarosaetcheverry

Post on 27-Jul-2015

1.957 views

Category:

Documents


6 download

TRANSCRIPT

Page 1: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

1

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL- UNICSUL VP CONSULTORIA NUTRICIONAL DIVISÃO DE ENSINO E PESQUISA

CURSO DE NUTRIÇÃO CLÍNICA FUNCIONAL

Maria Rosa Etcheverry Centeno Rodrigues

Implicações biológicas do autismo: a nutrição como base do tratamento

CURITIBA 2010

Page 2: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

2

Maria Rosa Etcheverry Centeno Rodrigues

Implicações biológicas do autismo: a nutrição como base do tratamento

CURITIBA 2010

Monografia apresentada ao curso de pós-graduação Lato sensu da VP Consultoria Nutricional – Divisão Ensino e Pesquisa e da Universidade Cruzeiro do Sul como requisito para conclusão do curso de Especialização em Nutrição Clínica Funcional. Orientador: Dra. Gilberti Helena

Hübscher Lopes

Page 3: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

3

Dedicatória

Dedico este trabalho a todos àqueles que se encontram no espectro autista e seus

familiares, pela admirável dedicação, carinho e amor incondicional a estas crianças

especiais, que me inspiram a buscar cada vez mais conhecimentos que possam lhes

ajudar a desabroxar.

Page 4: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

4

Agradecimentos

Agradeço às pessoas que de alguma forma fizeram parte desse processo.

Ao Dr. Rogério Rita, que me abriu as portas para este trabalho, sempre me

impulsionando com casos desafiadores e sendo facilitador da minha busca pelo

conhecimento através da construção do acervo da “nossa biblioteca”.

À Lola, pelo apoio e incentivo no meu trabalho no consultório.

Aos queridos pais dos meus pacientes autistas, que muito me ensinam com sua

postura paciente e amorosa, me motivando a buscar cada vez mais.

Às minhas grandes amigas e colegas da nutrição, Juliana Rey, Graziela Popper e

Caroline Broering, que muito contribuiram com este trabalho, cada uma a sua

maneira.

À Juliana Lopes, amiga querida e psicóloga de crianças especiais, por todas as

dúvidas e conhecimentos compartilhados sobre este assunto tão misterioso e

fascinante. Obrigada pelos conselhos e pelo “empurrãozinho” para que eu me

sentisse capaz de cumprir com o prazo final.

Como não podia deixar de ser, à minha mãe, pela paciência nesses dias anteriores

à entrega do trabalho e pelo apoio a todo momento, e ao me pai, por me aconselhar

e tentar revisar esse trabalho “muito técnico”.

Page 5: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

5

RESUMO

O autismo é um transtorno do desenvolvimento caracterizado por uma disfunção nas áreas do comportamento, comunicação e interação social. Comumente se manifesta nos três primeiros anos de vida e os déficits no desenvolvimento normal podem ser progressivos quando não tratados adequadamente. Sua prevalência vem crescendo nos últimos anos, assim como a quantidade de pesquisas na área. A etiopatogenia do autismo é complexa e não está bem definida. A multifatoriedade parece ser a hipótese mais plausível, com fatores ambientais determinando o espectro de manifestações biológicas em indivíduos geneticamente suscetíveis. Os estudos têm evidenciado que a presença de desequilíbrios bioquímicos e metabólicos contribui para o quadro de sintomas típicos do autismo. Sistema gastrointestinal, imunológico e de destoxificação estão normalmente comprometidos nesses indivíduos, formando uma teia de interconexões que afeta, sobretudo, o sistema neurológico. Nesse contexto de desequilíbrios biológicos, a nutrição tem um papel fundamental. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão da literatura em termos das implicações fisiológicas mais comuns no autismo, associado às diferentes estratégias de intervenção nutricional existentes, com enfoque nas dietas especiais para o autismo. Ainda são poucos os estudos comprovando a eficácia de tais dietas, mas tanto as pesquisas quanto as evidências empíricas se mostram promissoras nesta área. As dietas não foram desenvolvidas especialmente para autistas, mas utilizam princípios que podem ser direcionados aos sintomas e comprometimentos mais acentuados em cada indivíduo. Esse ajuste individual pode ser complexo e de difícil implementação, podendo trazer prejuízos nutricionais ao paciente. Neste sentido, a avaliação e o acompanhamento do profissional nutricionista nas intervenções dietéticas dos transtornos do espectro autista são fundamentais, permitindo maior adequação e efetividade no tratamento.

Palavras-chave: Autismo, Transtorno do Espectro Autista, Implicações Biológicas

do Autismo, Intervenção Nutricional, Intervenção Dietética, Dietas Especiais para o

Autismo.

Page 6: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

6

ABSTRACT

Autism is a developmental disorder characterized by a dysfunction in the areas of

behavior, communication and social interaction. Commonly manifests in the first

three years of life and the deficit in normal development may be progressive if not

treated properly. Its prevalence is increasing in recent years, as the amount of

research in the area. The pathogenesis of autism is not well defined. The

multifactorial nature seems to be the most plausible hypothesis with environmental

factors determining the spectrum of biological events in genetically susceptible

individuals. Studies have shown that the presence of biochemical and metabolic

imbalances contributes to the symptoms typical of autism. Gastrointestinal system,

immune and detoxification are usually compromised in these individuals, forming a

web of interconnections that affects mainly the neurological system. In this context of

biological imbalances, nutrition has a key role. The aim of this study was to review

the literature in terms of physiological implications more common in autism, linking

the different existing nutritional intervention strategies, focusing on special diets for

autism. There are only few studies demonstrating the efficacy of such diets, but much

research and empirical evidence have shown promise in this area. The diets were

not designed specifically for autistic children, but they use principles that can be

directed to the symptoms and impairment most noticeable in the individual. This

individual adjustment can be complex and difficult to implement and can bring harm

to the patient nutrition. In this sense, assessment and monitoring of professional

nutritionists in dietary interventions for autism spectrum disorders are crucial,

allowing for greater adequacy and effectiveness of treatment.

Keywords: Autism, Autism Spectrum Disorder, Biological Implications of Autism,

Nutritional Intervention, Dietary Intervention, Special Diets for Autism.

Page 7: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 4

2.1 HISTORICO ........................................................................................................................... 4

2.2 DEFINIÇÃO E DIAGNÓSTICO ............................................................................................ 6

2.3 PREVALÊNCIA E ETIOLOGIA ...........................................................................................10

2.4 IMPLICAÇÕES BIOLÓGICAS DO AUTISMO ...................................................................13

2.4.1 Metilação, Transulfatação e Sulfatação ......................................................................13

2.4.2 Toxicidade, Metais Pesados e Mercurio .....................................................................19

2.4.2.1 Avaliação laboratorial de toxinas e da destoxificação ........................................22

2.4.3 Sistema Gastrointestinal e Digestão ...........................................................................24

2.4.3.1 Digestão prejudicada .............................................................................................25

2.4.3.2 Disbiose ..................................................................................................................26

2.4.3.3 Supercrescimento de leveduras ...........................................................................28

2.4.3.4 Síndrome de hiperpermeabilidade intestinal (Leaky Gut Syndrome) ................36

2.4.3.5 Hipersensibilidade alimentar e opióides ..............................................................39

2.4.3.6 Avaliação laboratorial da saúde gastrointestinal .................................................44

2.4.5 Sistema Endócrino e Glandular ...................................................................................47

2.4.5.1 Avaliação laboratorial de hormônios e glândulas ...............................................48

2.4.6 Sistema Imunológico e Inflamação (Intestino e Cérebro) .........................................49

2.4.7 Deficiências Nutricionais comuns no Autismo ............................................................52

2.4.7.1 Avaliação laboratorial do estado nutricional ........................................................53

2. 5 INTERVENÇÕES NUTRICIONAIS NO AUTISMO: UMA VISÃO FUNCIONAL............55

2.5.1 Hiperpermeabilidade e Inflamação Intestinal .............................................................56

2.5.2 Deficiências Nutricionais ..............................................................................................57

2.5.3 Supercrescimento de Leveduras .................................................................................58

2.5.4 Toxicidade e Destoxificação Insuficiente ....................................................................59

Page 8: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

8

2.5.5 Metilação, Transulfatação e Sulfatação Prejudicadas ...............................................60

2.6 INTERVEÇÕES DIETÉTICAS NO AUTISMO: DIETAS ESPECIAIS..............................62

2.6.1 Dieta Sem Glúten e Sem Caseína (SGSC) ................................................................62

2.6.2 Dieta do Carboidrato Específico (Specific Carbohydrate Diet - SCD) e Dieta da

Síndrome do Intestino e Psicologia (Gut and Psychology Syndrome - GAPS) ................64

2.6.3 Dieta da Ecologia do Corpo (The Body Ecology Diet™ - BED) ................................65

2.6.4 Dieta Weston A. Price (WAP) / Nutrindo Tradições (Nourishing Traditions) ...........66

2.6.5 Dieta Anti-Fúngica (Feast Whithout Yeast) ................................................................67

2.6.6 Dieta Pobre em Fenóis (Feingold Diet e Failsafe Diet – Low Phenols) ...................69

2.6.7 Dieta Pobre em Oxalato (Low Oxalate Diet) ..............................................................69

2.6.9 Dieta de Eliminação e de Rotação (Sensibilidades Alimentares) .............................72

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 77

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 79

Page 9: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

1

1 INTRODUÇÃO

O autismo é um transtorno do desenvolvimento caracterizado por uma disfunção nas

áreas do comportamento, comunicação e interação social. Sua prevalência vem

crescendo nos últimos anos. O envolvimento dos pais tem acelerado o

entendimento desta patologia e com isso cresce o interesse da comunidade

científica em testar novas hipóteses e estabelecer relações causais, contribuindo

para o avanço no conhecimento e tratamento desta condição.

Muitas vezes o autismo pode ser acompanhado de déficits cognitivos, neurológicos,

epilepsia, convulsões, doenças auto-imunes e outras particularidades. Comumente o

transtorno se manifesta nos três primeiros anos de vida e os déficits no

desenvolvimento normal podem ser progressivos quando não tratados

adequadamente. Sua etiopatogenia não está bem definida, mas a multifatoriedade

parece ser a hipótese mais plausível. A literatura mais recente sugere que a

hereditariedade associada aos fatores ambientais desempenha um papel importante

no desenvolvimento do autismo.

Exposições tóxicas no pré-natal (teratógenos) e vacinações freqüentes nos primeiros

anos de vida são coerentes com a sintomatologia do espectro autista, mas além

destas, diversas outras teorias e correlações são apresentadas na literatura atual.

Anormalidades nas vias de metilação e sulfatação, alterações da metalotioneína e

deficiências nutricionais são levantadas em vários estudos. Estas alterações

acarretam na inabilidade de destoxificar xenobióticos e metais tóxicos, o que eleva o

estresse oxidativo gerando danos neurológicos, além de afetar a resposta

imunológica e o sistema gastrointestinal. Quando a via de sulfatação se mostra

ineficiente pode comprometer a permeabilidade da mucosa intestinal e da barreira

hemato-encefálica, o que leva a perda da seletividade de substâncias tóxicas.

A hiperpermeabilidade da membrana intestinal, presente nos autistas, tem como

manifestações clínicas múltiplas intolerâncias alimentares, formação de exorfinas

(opióides) através de componentes da dieta, exposição elevada a metais pesados, a

xenobióticos e toxinas microbianas. Estes fatores comprometem sobremaneira o

organismo desses indivíduos. Desequilíbrios no sistema imunitário ocorrem com

Page 10: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

2

elevada freqüência, podendo ser causa ou conseqüência das anormalidades

observadas. Desarranjo na produção de anticorpos, desvio das subpopulações de

células T, aumento de citocinas inflamatórias e outras deficiências imunes, são

compatíveis com a inflamação crônica e auto-imunidade presentes em muitos

casos.

Problemas gastrointestinais, intoxicação, alergias, distúrbios do sono, dificuldade de

interação social, comprometimento em áreas do desenvolvimento neurológico e

cognitivo, hiperatividade, agressividade e múltiplas estereotipias são implicações

desses desequilíbrios no organismo e definem o quadro complexo de alterações

físicas, emocionais e psicológicas no autismo.

Neste contexto de desequilíbrios bioquímicos e metabólicos que afetam múltiplos

sistemas orgânicos, a alimentação parece desempenhar um papel bastante positivo,

auxiliando no equilíbrio do indivíduo como um todo.

Alguns estudos, relatos empíricos e inquéritos familiares mostram evidências de que

as intervenções dietéticas têm alcançado algum sucesso na melhora dos sintomas

do autismo. Existe à disposição de pais, cuidadores e profissionais uma gama de

opções de dietas especiais que podem ser direcionadas ao tratamento de indivíduos

com autismo.

O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão da literatura em termos das

implicações fisiológicas mais comuns no autismo, assim como as diferentes

estratégias de intervenção nutricional existentes. As dietas especiais popularmente

difundidas entre as comunidades de autismo serão descritas neste trabalho, sob as

perspectivas da gastroenterologia, imunologia e excitotoxicidade.

Para tal, foi realizada uma revisão da literatura científica indexada ao Pubmed. Os

descritores utilizados foram: autism, autism spectrum disorder, ASD, diet, yeast,

candida, biofilm, gastrointestinal, gut permeability, leaky gut, dysbiosis, probiotic,

Saccharomyces boulardii, clostridium, detoxification, gut microflora, gluten, casein,

opioid, allergy, food sensitivity, immune system, cytokine, oxidative stress, oxalate, salicylate e neuroinflamation. Foram levados em consideração artigos datados de

Page 11: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

3

1992 a 2010, com ênfase nas publicações mais recentes. Livros relacionados ao

tema também foram utilizados.

Page 12: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

4

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 HISTORICO

Em um artigo intitulado "distúrbios autísticos do contato afetivo" o psiquiatra Leo

Kanner, publicou em 1943 os primeiros relatos de casos sobre um distúrbio no

desenvolvimento infantil denominando-o de autismo. Ele definiu três padrões de

sintomas: (1) falha de usar a linguagem para desenvolvimento da comunicação, (2)

anormal reciprocidade social e (3) desejo obsessivo e ansioso pela manutenção da

mesmice, como visto nos rituais repetitivos e interesses circunscritos (KIDD, 2002).

Kanner acreditava que o autismo tinha uma causa neuropsicológica e com base

nesse contexto, em 1950, quando as teorias psicanalíticas de Sigmund Freud

estavam em voga, o autismo foi atribuído às "mães geladeiras”, atribuindo à frieza

materna, o desencadeamento do autismo. Esta visão, posteriormente pautada pelo

professor Bruno Bettelhem em seu livro "A fortaleza vazia: autismo infantil e o

nascimento do eu" em 1967 (“The empty fortress: infantile autism and the birth of the

self”), que alegou que o trauma da criança não amada a conduz à doença (CUBAŁA-

KUCHARSKA, 2010), foi tão amplamente aceita pela categoria médica, que a

maioria dos pesquisadores e os médicos não buscaram respostas para autismo,

pois acreditavam que era uma doença intratável do ponto de vista da

medicina. Ainda hoje muitas crianças que recebem o diagnóstico de autismo não

são submetidas a maiores investigações médicas, já que esta condição é ainda

percebida como psicológica por muitos profissionais.

O primeiro grande ataque a teoria de Bettelheim foi conduzido por Bernand Rimland,

psicólogo e pai de um menino autista, ele foi a primeira voz com autoridade para

contrapor a pesquisa de Bettelheim e pôr em dúvida as suas teorias (CUBAŁA-

KUCHARSKA, 2010). Rimland fundou Associação Americana de Autismo em 1965 e

o Instituto de Pesquisa de Autismo (Autism Research Instituto – ARI) em 1967, após

publicar o livro "Autismo Infantil: a síndrome e suas implicações para a teoria neural

do comportamento". No ano de 1995 deu início ao movimento Derrote o Autismo

Agora! e Protocolo DAN! Desde então tem contribuído para a pesquisa e tratamento

no campo biomédico do transtorno do espectro autista. Seus primeiros estudos

focaram na toxicidade do mercúrio nas vacinas (ARI, 2010.). Dentro da comunidade

Page 13: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

5

médica em geral o diagnóstico e a avaliação também melhorou, assim como o

ritmo e a intensidade das investigações (KIDD, 2002).

Page 14: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

6

2.2 DEFINIÇÃO E DIAGNÓSTICO

O autismo é um transtorno do desenvolvimento, que atualmente pode ser associado

a diversas síndromes. Os sintomas variam amplamente, o que explica por que hoje

se referem a esta patologia como um espectro de transtornos. O autismo se

manifesta de diferentes formas, variando o grau de comprometimento

desencadeado.

Atualmente a comunidade médica define o autismo como um transtorno psiquiátrico,

justificando o diagnóstico com base em critérios encontrados no Manual Diagnóstico

e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV (APA, 2000). (MELLO, 2005)Esses

critérios incluem disfunção na interação social, comprometimento da comunicação e

padrões de comportamento característicos, como movimentos repetitivos e

esteriotipias. De acordo com o DMS-IV, o autismo é um transtorno invasivo do

desenvolvimento (TID), geralmente manifestado nos primeiros 3 anos de vida e se

insere no espectro mais amplo de anormalidades, classificada como Transtorno do

Espectro Autista (TEA). Dentro do TEA existem cinco variantes, incluindo:

1. Transtorno autístico ou Autismo clássico (com ou sem regressão)

2. Síndrome de Asperger

3. Transtorno Desintegrativo da Infância (Síndrome de Heller)

4. Síndrome de Rett

5. Transtorno Invasivo do Desenvolvimento - Sem Outra Especificação (PDD-NOS) /

Autísmo atípico

O diagnóstico médico do autismo é feito basicamente através da avaliação do

quadro clínico da criança por meio de diferentes sistemas de avaliação. Todos eles

utilizam critérios de comportamento para diagnóstico do autismo, baseado em

prejuízos apresentados nos três domínios ou “tríade”, conforme caracterizaram

Lorna Wing e Judith Gould em seu estudo em 1979: a) prejuízo qualitativo na

interação social; b) prejuízo qualitativo na comunicação verbal e não-verbal; c)

comportamento e interesses restritivos e repetitivos (JOHNSON e MYERS,

Page 15: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

7

2007;MELLO, 2005). Para se obter um diagnóstico de autismo é necessário haver

sintomas nesses três domínios: pelo menos dois sintomas dos aspectos sociais,

pelo menos um de comunicação e pelos menos um de comportamento, com um total

de seis desses sintomas.

A Tríade é responsável por um padrão de comportamento restrito e repetitivo, mas

com condições de inteligência que podem variar do retardo mental a níveis acima da

média. A dificuldade de comunicação é caracterizada pela dificuldade em utilizar

com sentido todos os aspectos da comunicação verbal e não verbal. Isto inclui

gestos, expressões faciais, linguagem corporal, ritmo e modulação na linguagem

verbal; a dificuldade de sociabilização é a dificuldade de relacionar-se com os

outros, a incapacidade de compartilhar sentimentos, gostos e emoções. Há uma

dificuldade em se colocar no lugar do outro, e de compreender fatos a partir da

perspectiva de outra pessoa; e por fim, se estende às várias áreas do pensamento,

linguagem e comportamento da criança e pode ser mais bem visualizada pela

presença de comportamentos obsessivos e ritualísticos, compreensão literal da

linguagem, falta de aceitação das mudanças e dificuldades em processos criativos

(MELLO, 2005).

Estes critérios de diagnóstico estão publicados em alguns documentos de

referência, como a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) da Organização

Mundial de Saúde (OMS, 1992) e no Manual de Diagnóstico e Estatístico – 4ª edição

(DSM-IV) da Associação Americana de Psiquiatria (APA, 2000). Ambos seguem um

esquema de diagnóstico bastante semelhante, no entanto são problemáticos porque

excluem e desaconselham o diagnóstico de outras condições coexistentes com o

autismo (por exemplo: TDAH, transtornos bipolar e psicótico) (GILLBERG, 2005).

Entre outros questionários existentes, os formulários desenvolvidos pelo Dr. Bernard

Rimland do Instituto de Pesquisa do Autismo (ARI) são bastante utilizados e

consideram o autismo como um transtorno neurológico e não psiquiátrico, ou seja, o

autismo é caracterizado como um conjunto de desequilíbrios bioquímicos que levam

a desbalanços neurológicos e de neurotransmissores, os quais resultam em

sintomas psicológicos (sociais e comportamentais), além de manifestações físicas. O

Formulário ARI’s E-2 checklist para Diagnóstico tem sido utilizado por muitos pais e

Page 16: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

8

profissionais para auxiliar no diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Para verificar a eficácia das várias intervenções feitas em seus filhos, o ARI também

utiliza o Formulário ARI’s E-3 checklist para Pesquisa, compilando em um banco de

dados de acesso livre todas as informações obtidas dos pais (ARI, 2010.).

Apesar de não existirem exames laboratoriais específicos para diagnosticar o

autismo, o que dificulta a detecção precoce e um diagnóstico conclusivo, vários

marcadores biológicos podem ser utilizados para identificar alterações metabólicas

freqüentemente associadas ao autismo, servindo de auxílio na avaliação do quadro

e principalmente na escolha do tratamento mais adequado. Exemplos de exames

são o teste de alergias e sensibilidades alimentares (IgA, IgE e IgG), avaliação de

metais tóxicos, análise fecal, pesquisa de fungos nas fezes, avaliação dos ácidos

graxos, presença de anticorpos no soro, marcadores hepáticos e da via de

metilação, ácidos orgânicos na urina, entre outros.

Enquanto os pais relatam alterações no comportamento da criança no primeiro ano

de vida, muitas não recebem o diagnóstico até idade mais avançada. Essa

dificuldade em estabelecer um diagnóstico precoce ocorre pela distribuição bimodal

do autismo, com grupos de crianças apresentando graves problemas já nos

primeiros anos de vida, enquanto outros apresentam essas dificuldades somente

após um período de desenvolvimento aparentemente normal (ASSUMPÇÃO e

PIMENTEL, 2000). Portanto, embora às vezes surjam sintomas característicos do

autismo por volta dos dezoito meses, raramente o diagnóstico é conclusivo antes

dos vinte e quatro meses, sendo este feito com maior freqüência após os trinta

meses de vida (MELLO, 2005). O diagnóstico precoce é importante para poder

iniciar a intervenção educacional especializada o mais rápido possível juntamente

com intervenção nutricional.

Arthur Krigsman classifica três formas de autismo de acordo com o início do seu

aparecimento: autismo de “aparecimento precoce”, quando diagnosticado muito

cedo, por volta dos 6 meses de idade e parece ser bastante raro; “regressivo”, no

qual o desenvolvimento ocorre normalmente até por volta dos 18 aos 24 meses,

quando o progresso na linguagem e habilidades sociais são perdidas, as vezes de

uma hora para outra; e “platô”, no qual o desenvolvimento parece ter estabilizado em

Page 17: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

9

torno de um ano de idade, mas ao longo do tempo fica evidente que a criança está,

na verdade, regredindo lentamente (MATTHEWS, 2008).

O autismo regressivo é o tipo mais comum e parece estar estreitamente relacionado

a etiologia ambiental, pois a regressão no desenvolvimento é clara, quando não

súbita, sendo freqüentemente relacionada pelos pais à algum evento ou gatilho,

como à exposição à pesticidas causando convulsões, exposição à vacinas,

causando febre alta e perda da fala (MATTHEWS, 2008). Segundo o relatório do

VAERS – “Vaccine Adverse Event Reporting System” – banco de dados mantido

pelo “Centers for Disease Control and Prevention” (CDC) e “Food and Drug

Administration” (FDA) – 61% das crianças tiveram evidências de regressão no

desenvolvimento após vacina no ano de 2007 (VAERS, 2010).

De acordo com o ARI, antes de 1990, aproximadamente dois terços das crianças

autistas eram autista desde o nascimento e um terço regredia após um ano de

idade. Os resultados foram baseados no Formulário ARI’s E-3 checklist para

Pesquisa, respondidos por centenas de famílias de autistas (ARI, 2010.).

Page 18: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

10

2.3 PREVALÊNCIA E ETIOLOGIA

O autismo pode ser identificado em todos os grupos raciais, étnicos e

socioeconômicos, porém os estudos epidemiológicos apontam maior incidência no

sexo masculino, com média de 3,5 a 4 vezes meninos para cada menina, mas

existem evidências mostrando maior severidade dos sintomas no gênero feminino

(ASSUMPÇÃO e PIMENTEL, 2000;KLIN, 2006).

Antes de 1980, o termo “autismo” foi usado primeiramente para se referir a um

transtorno raro, que afetava aproximadamente 1 em cada 2.000 crianças (RICE,

2009). De acordo com a estatística mais recente do Centro de Prevenção e Controle

de Doenças (CDC, 2006), a prevalência média de autismo nos Estados Unidos é de

aproximadamente 1 em cada 110 crianças.

Nos Estados Unidos houve um aumento na prevalência de autismo superior a

1.000% em 20 anos. Dados similares foram notificados no Reino Unido, Oriente

Médio e Ásia. (CDC, 2006). No Brasil não existem dados estatísticos, mas conforme

o censo escolar do INEP/MEC – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira do Ministério da Educação – o qual é realizado

anualmente em âmbito nacional, nos anos de 2005 e 2006 foram catalogadas 7.123

e 7.513 escolas e classes especiais com atendimento de alunos autistas,

respectivamente. A partir de 2007, com a mudança de terminologia de autismo para

TID, incluindo outros transtornos na categoria, como Rett, Asperger e Transtorno

Desintegrativo da Infância (TDI), esse número aumentou, passando para 25.050 e

26.189 em 2008 (LAZZERI, 2010).

Há fortes indicações que a incidência do autismo esteja aumentando, mas nenhum

marcador biológico de diagnóstico definitivo ainda foi encontrado (BULL, 2003).

Alguns autores referem-se a esse fenômeno como epidemia de autismo. As

Hipóteses levantadas para essa ocorrência são a ampliação do conhecimento a

cerca da doença, tanto pelos profissionais como pelos familiares destas, com

aumento do número de diagnósticos e notificações dos casos pelos órgãos

competentes; e o real aumento da incidência da doença, que sugere fortemente a

influência dos fatores ambientais no desencadeamento do autismo (CDC,

2006;KLIN, 2006;SHAW, 2009).

Page 19: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

11

Os estudos na área do autismo infantil, desde as primeiras considerações, feitas por

Kanner em 1943, até as mais recentes reformulações em termos de classificação e

compreensão da síndrome, têm sido permeados por controvérsias quanto a sua

etiologia.

Crescem as evidências de que o autismo é uma desordem complexa e multifatorial

que envolve o cérebro e o corpo, sendo resultado de vulnerabilidades genéticas

interagem com fatores ambientais.

Hoje a ciência já identifica vários distúrbios biológicos associados a esta doença, os

quais podem desempenhar um papel na etiologia da doença ou agravar esta

condição. As pesquisas na área do autismo infantil têm identificado inúmeros

problemas médicos associados a esta patologia.

O mais proeminente dos problemas parece estar relacionado às patologias do trato

gastrointestinal, incluindo a disbiose, supercrescimento fúngico, hiperpermeabilidade

intestinal, formação de exorfinas (opióides), má digestão, insuficiência hepática e do

pâncreas exócrino, múltiplas sensibilidades alimentares, alergias, doença

inflamatória intestinal, doença celíaca, síndrome de má absorção com conseqüente

deficiência nutricional (HORVATH e PERMAN, 2002).

Na maioria dos pacientes autistas investigados até o momento observa-se alteração

do sistema imunológico. A inflamação crônica, com citocinas inflamatórias

aumentadas, parece ter papel muito importante no agravamento das suas condições

(MOLLOY, 2006). Além disso, alguns trabalhos sugerem a auto-imunidade como um

mecanismo na patogênese do autismo, devido aos achados de auto-anticorpos

contra estruturas do sistema nervoso central (LI, 2009).

Os pacientes com autismo freqüentemente apresentam distúrbios nas principais vias

bioquímicas do organismo, incluindo a metilação, sulfatação e transulfatação,

levando ao aumento da permeabilidade intestinal e do estresse oxidativo, diminuição

da destoxificação de xenobióticos, metais pesados, pesticidas e endotoxinas, como

amônia, arabitol, ácido tartárico (CUBAŁA-KUCHARSKA, 2010)

Page 20: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

12

Muitos pesquisadores identificaram distúrbios do metabolismo de

neurotransmissores em pacientes autistas, incluindo a dopamina, serotonina,

glutamato e ocitocina (CUBAŁA-KUCHARSKA, 2010). Achados recentes mostram

também alterações mitocondriais com interferência no metabolismo energético

(GARGUS e IMTIAZ, 2008;ROSSIGNOL e BRADSTREET, 2008).

Page 21: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

13

2.4 IMPLICAÇÕES BIOLÓGICAS DO AUTISMO

2.4.1 Metilação, Transulfatação e Sulfatação

Esses processos são essenciais para a manutenção da saúde e quando não estão

funcionando adequadamente trazem sérios prejuízos às funções celulares.

As vias bioquímicas de sulfatação, metilação e transulfatação são interdependentes

e essenciais para muitos processos no organismo, incluindo a destoxificação,

eliminação de metais pesados, digestão, função imune, função celular e metabólica,

desenvolvimento neurológico, integridade da mucosa intestinal e equilíbrio da

microbiota (MATTHEWS, 2008). Uma disfunção nesse mecanismo parece explicar

as desordens comumente encontradas nos indivíduos com Transtorno do Espectro

Autista.

A metilação é necessária para a cura e regeneração, vital para todos os processos

envolvendo o DNA, controlando a ativação e o silenciamento de genes. Dela

dependem os hormônios, vitaminas, neurotransmissores, enzimas e anticorpos.

Desempenha papel importante na disposição, humor, bem-estar, concentração e

estado de alerta (JAMES, 2006).

A transulfatação envolve uma etapa da cascata bioquímica após a homocisteína e

lida com substâncias como cisteína, taurina, sulfato e glutationa. Essas substâncias

estão altamente envolvidas na destoxificação, função antioxidante e outros

processos importantes. A cisteína pode ser convertida em taurina, a qual é usada

para produção do sal biliar para digestão de gorduras, além de possuir função no

sistema nervoso central. Cisteína também participa da formação de metalotioneínas,

proteínas essenciais na eliminação de metais tóxicos, incluindo o mercúrio, proteção

do cérebro contra toxicidade induzida pelo glutamato, além da expressão de genes

(MATTHEWS, 2008).

Quando a metilação e a transulfatação estão funcionando adequadamente, a

cisteína pode ser convertida em glutationa, maior antioxidante intracelular. Ela é

necessária para a manutenção da vitamina C e E, para destoxificação de

substâncias químicas e metais pesados, para a integridade da barreira intestinal,

Page 22: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

14

formação e ativação das células T auxiliadoras, aumentando as resposta da via Th1

(combate a infecções) e reduzindo a Th2 (inflamação e auto-imunidade)

(MATTHEWS, 2008).

A cisteína pode também ser convertida em sulfato para participar da sulfatação, que

é a habilidade de utilizar sulfato em uma gama de processos bioquímicos. Esse

processo também é chamado de fase II da destoxificação hepática, onde o sulfato

se conjuga a toxinas possibilitando sua eliminação. O sulfato é uma molécula

enxofrada, que precisa ser convertida a sua forma ativa, fosfoadenosil fosfosulfato

(PAPS), a qual está envolvida com respiração celular, destoxificação, digestão,

integridade da barreira intestinal e hemato-encefálica, produção de ácidos biliares,

enzimas, proteínas e síntese de tecidos (MATTHEWS, 2008).

Considerando os processos na qual está envolvida, a deficiência na sulfatação

levará a um conjunto de problemas secundários, que podem perpetuar um ciclo

vicioso de desequilíbrios, por exemplo: baixa destoxificação (permite que toxinas

exógenas e endógenas causem disrupção no cérebro); aumento da permeabilidade

intestinal (permite absorção de toxinas que causam danos neurológicos e de

macromoléculas, que podem aumentar as sensibilidades alimentares ou formar

opióides com ação cerebral, além de reduzir a absorção de nutrientes); digestão

prejudicada (leva à menor absorção de nutrientes, necessários para todas as

funções orgânicas), entre outros.

A pesquisadora Rosemary Waring foi quem primeiro apontou este problema em

crianças autistas, quando encontrou baixos níveis da enzima fenol-sulfotransferase

(PST) e de seu substrato (sulfato) no soro, resultando na diminuição da capacidade

de oxidação dos compostos fenólicos. Em sua revisão, a autora encontrou diversos

estudos mostrando transtornos de sulfatação em 73% a 92% das crianças com TEA

(WARING e REILLY, 1993).

A enzima PST, responsável pelo processamento dos compostos sulfúricos, ou

fenólicos, deve processar fenóis (ingredientes artificiais e aditivos derivados do

petróleo), os salicilatos (encontrados naturalmente em frutas e vegetais) e as aminas

fenólicas (como a dopamina e serotonina). Anterior a Dra Waring, ainda na década

de 1970 o Dr. Feingod reconheceu que crianças com TDAH não eram capazes de

Page 23: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

15

processar ingredientes artificiais e alimentos ricos em fenóis, sugerindo uma

incapacidade nesse mecanismo (FEINGOLD, 2010).

A membrana celular dos compostos fenólicos é composta por água e gordura, o que

permite a passagem através da barreira hemato-encefálica. Os neurotransmissores

são basicamente compostos fenólicos. Alguns desses fenóis químicos (aditivos

alimentares) são muito similares a neurotransmissores, e podem agir como

neurotoxinas, ligando-se aos receptores de neurotransmissores e estimulando

artificialmente o cérebro, podendo causar manifestações como hiperatividade, dor de

cabeça, agressividade e comportamento auto-agressivo, impaciência, distúrbios do

sono, vermelhidão nas orelhas e bochechas, fadiga, riso inapropriado e redução da

função neuromuscular. Essas reações ocorrem de 20 minutos a 2 horas após a

ingestão do alimento. Segundo Dr. Feingold, isso ocorre quando essas substâncias

que não são devidamente processadas e destoxificadas, atravessam a barreira

hemato-encefálica e causam disrupção no cérebro (FEINGOLD, 2010)

Muitos dos sintomas se sobrepõem a outros desequilíbrios, causando dúvidas

durante a avaliação. Os dois sinais mais óbvios são bochechas e orelhas vermelhas

e um desejo incomum por alimentos ricos em fenóis e/ou salicilatos. Os que mais

causam confusão no diagnóstico são sinais de riso inapropriado, muito comum no

supercrescimento de leveduras; comportamento auto-agressivo e agressividade,

efeito clássico dos opióides do glúten e caseína; fadiga ou hiperatividade, que pode

ser relacionada a muitos fatores, incluindo leveduras. Um diário alimentar

documentando todos os sintomas da criança é uma excelente maneira de auxilia os

pais e profissionais nessa identificação (MATTHEWS, 2008).

Com relação à metilação, recentemente um estudo conduzido por James e

colaboradores (2009 -art.8) analisou o plasma de crianças autistas e encontrou

significativa redução na proporção média de S-adenosil-metionina plasma (SAMe)

para S-adenosil-homocisteína (SAH), assim como na concentração de glutationa

reduzida (GSH) e seus precursores, indicando uma baixa capacidade de metilação e

da capacidade de destoxificação, com aumento no estresse oxidativo. Esses

achados mostram resultados semelhantes a estudos anteriores, que encontraram

concentrações plasmáticas significantemente reduzidas de metionina, SAMe,

Page 24: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

16

homocisteína, cistationa, cisteína e glutationa total, enquanto os níveis de SAH,

adenosina e glutationa oxidada estavam extremamente elevados no plasma de

autistas, mostrando não só uma deficiência de metilação, mas de transulfatação

(JAMES, 2004;JAMES, 2006;KERN e JONES, 2006;PASCA, 2006).

De acordo com Dr. Richard Deth, altas concentrações de SAH levam à inibição do

ciclo da metionina, pela limitação da enzima metionina-sintetase. A atividade desta

enzima é necessária para a ativação do receptor de dopamina D4, que promove a

atenção e sincronização neuronal (DETH, 2008). A dopamina tem um papel central

na atenção. Alguns estudos mostram a relação do mau funcionamento da dopamina

em razão da metilação insuficiente, contribuindo para o Transtorno de Déficit de

Atenção e Hiperatividade (TDAH) (MATTHEWS, 2008).

Em seu artigo, Deth e colaboradores descrevem a “hipótese redox/metilação do

autismo'', no qual o estresse oxidativo, iniciado por fatores ambientais em indivíduos

geneticamente vulneráveis, iniciam múltiplas respostas adaptativas, envolvendo o

metabolismo de sulfatação. A baixa proporção entre SAMe/SAH reduz a

probabilidade de metilação do DNA, interferindo na regulação epigenética

(silenciamento ou ativação de genes), fundamental para o desenvolvimento normal.

O déficit neurológico (atenção e cognição) secundário à redução na capacidade de

sincronização de redes neurais é conseqüência desta interferência. Polimorfismos

genéticos que afetam o metabolismo de enxofre, metilação, destoxificação,

sinalização de dopamina e a formação de redes neuronais ocorrem mais

freqüentemente em indivíduos autistas (DETH, 2008).

Considerando que o estresse oxidativo é uma característica sistêmica do autismo,

as conseqüências do comprometimento na metilação e disrupção epigenética serão

expressas em tecidos não-neuronais, dando origem aos diversos sintomas comuns

do autismo, como disfunção imune e gastrointestinal (DETH, 2008).

Diversos nutrientes são necessários para metilação, como o precursor metionina e

cofatores, colina, betaína vitamina B12, ácido fólico e magnésio. Para a

transulfatação é fundamental a adequação da vitamina B6, magnésio, zinco e na

sulfatação o molibdênio é o cofator. A limitação dos nutrientes ou polimorfismos nas

enzimas que fazem a sua conversão parecem ser uma das razões para a deficiência

Page 25: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

17

de componentes essenciais, como por exemplo, sulfato, cisteína, taurina e

glutationa, levando aos prejuízos da maioria dos processos metabólicos encontrados

nos indivíduos autistas.

Estudos têm demonstrado resultados bastante positivos com a suplementação de

nutrientes que participam das vias de metilação e transulfatação. Crianças autistas

normalmente respondem bem a suplementação de vitamina B12, segundo mostra o

inquérito com pais de autistas pelo realizado pelo Instituto de Pesquisa do Autismo,

com 72% de respostas positivas (ARI, 2009 ).

Dr. James Neubrander, pioneiro no uso de injeções de metilcobalamina em TEAs,

afirma que 85% a 90% das crianças autistas respondem positivamente à

suplementação (MATTHEWS, 2008). No estudo de Jill James, após a

suplementação de ácido folínico (forma ativa do ácido fólico) e TMG (trimetilglicina

ou betaína), houve a normalização dos metabólitos do ciclo da metionina, enquanto

os da transulfatação permaneceram anormais Após adição de metilcobalamina,

todos os metabólitos foram normalizados (JAMES, 2006). Em seu estudo mais

recente, James demonstrou aumento significativo na capacidade metabólica dessas

vias após suplementação de metilcobalamina e ácido folínico, cofatores da enzima

metionina-sintetase, responsável pela remetilação da homocisteína (JAMES, 2009).

Estudos com altas doses de vitamina B6 foram iniciados na década de 1960 e a

combinação com o magnésio, tem mostrado resultados bastante positivos nas áreas

da interação social, comunicação e comportamento. Findling e colaboradores

avaliaram a eficácia de altas doses de piridoxina e magnésio no tratamento de

autistas, a partir da revisão de 18 estudos realizados entre 1966 e 1996,

comprovando a eficácia da suplementação (FINDLING, 1997). Dr. Shaw, em 1964,

avaliou o uso de mega doses vitamina B6, B3, B5 e vitamina C, em 200 crianças

com autismo e verificou melhora significativa em 40% dos casos em 21 itens

relacionados ao comportamento após o uso da vitamina B6. Em estudo posterior,

Shaw observou melhora no contato visual, do interesse pelo mundo ao redor, da

comunicação verbal e redução das estereotipais após o uso de altas de vitamina B6

e magnésio (SHAW, 2009). Na avaliação mais recente feita pelo ARI, o uso da

Piridoxal-5-Fosfato – P5P (vitamina B6 na sua forma ativa) foi positiva em 48% das

Page 26: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

18

crianças e a vitamina B6 em associação com o magnésio obteve 48% de eficácia

(ARI, 2009 ).

Além da importância na metilação, a P5P age como cofator para a maioria das vias

metabólicas de formação de neurotransmissores e catecolaminas incluindo a

serotonina, o ácido gama amino-butírico (GABA), dopamina, epinefrina e

norepinefrina (KIDD, 2002), contribuindo para o prejuízo da atenção e sincronização

neuronal.

Os defeitos na metilação e sulfatação podem ter muitas razões. Muitos genes já

foram identificados como responsáveis por erros de metilação. As causas para o

defeito de sulfatação podem ser genéticas ou adquiridas (ex: mercúrio de vacinas),

ou as duas. Além da baixa regulação por interferência de nutrientes e enzimas

deficientes, conforme descritos acima, algumas substâncias tóxicas como o cloro

parece afetar negativamente a sulfatação. Na realidade, níveis elevados de

substâncias tóxicas que se utilizam de substâncias destoxificantes desempenham

um papel causal no defeito de sulfatação (MATTHEWS, 2008).

Page 27: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

19

2.4.2 Toxicidade, Metais Pesados e Mercurio

Conforme explicitados anteriormente, indivíduos autistas possuem uma baixa

capacidade de eliminação de xerobióticos e metais pesados, estando expostos a

elevada toxicidade e aumento do estresse oxidativo.

Os primeiros estudos envolvendo a influência da exposição a metais pesados no

autismo e aumento do estresse oxidativo, surgiram a partir da suspeita de que

vacinas estariam desencadeando sintomas autísticos em diversas crianças. Essa

hipótese começou a ser largamente investigada pautada na presença do timerosal,

conservante utilizado na maioria das vacinas desde a década de 1930. Segundo

Bernard, o timerosal contém 49,6% de etilmercúrio (BERNARD, 2001).

Recentemente o mercúrio foi removido da maioria das vacinas na América e Europa,

porém, durante décadas milhões de crianças foram afetadas pela grande quantidade

de mercúrio usada como preservativo. Mas em muitos países o timerosal ainda é

utilizado. No Brasil, algumas vacinas como a da gripe, por exemplo, mantêm este

conservante.

O timerosal nas vacinas é injetado diretamente na corrente sanguínea, ignorando

muitos dos sistemas de defesa, como o intestinal. O mercúrio atravessa a barreira

hemato-encefálica e se aloja no tecido, causando dano cerebral. Além do mais,

bebês não possuem defesas para destoxificá-lo, já que a bile, que ajuda a eliminar

as toxinas do organismo, não é produzida em crianças antes dos 4-6 meses de vida

(MATTHEWS, 2008).

As reações de intoxicação por mercúrio são muito semelhantes aos sintomas vistos

em indivíduos autistas. Os sintomas compartilhados por ambos são, entre outros,

abano das mãos, balanço e andar incessante e sobre a ponta dos pés, aumento da

sensibilidade para barulhos e cheiros, interrupção do desenvolvimento da fala, pobre

contato visual, redução do tônus muscular, dificuldades com o sono, transtornos

concentração, memória, irritabilidade, depressão, ansiedade, aumento da

agressividade (BERNARD, 2001).

Page 28: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

20

Além da presença do mercúrio em vacinas, existem outras fontes de intoxicação,

como as amalgamas dentárias, brinquedos infantis, através do leite materno

(quando a mãe foi exposta), alimentação, especialmente através de peixes e frutos

do mar contaminados, principalmente a cavala, peixe espada e cação, seguido do

robalo e atum (MATTHEWS, 2008), além de corantes como o amarelo tartrazina e o

xarope de milho, utilizado com principal adoçante da indústria alimentícia desde a

década de 1980, a partir da qual houve grande aumento na prevalência de casos de

autismo (DUFAULT, 2009).

A toxicidade do mercúrio das vacinas é maior que a da exposição ambiental ao

mercúrio, segundo observou Dr. Harley. Em presença da albumina e testosterona, a

toxicidade deste metal aumenta. O pesquisador demonstrou 100% de morte celular

em cultura de neurônios quando adicionado o hormônio masculino, contra 5%

somente na presença do timerosal. Em contraposição, o estrogênio teve efeito

protetor com a toxicidade pelo mercúrio, o que pode explicar a diferença de 4:1 vista

entre meninos e meninas que desenvolvem autismo (MATTHEWS, 2008).

Crianças com TEA apresentam um aumento da carga corporal de mercúrio

demonstrada em diversos estudos. O mercúrio inibe ligantes da cisteína na

metalotioneína (MT), proteína que normalmente se liga a íons metálicos, tais como

cobre e zinco e é responsável pela eliminação de metais tóxicos (DUFAULT, 2009).

O consumo de alimentos contaminados por mercúrio leva à deficiência de zinco e

induz ao mau funcionamento da MT. Esse funcionamento alterado pode levar a

grave deficiência de zinco e permitir que o cobre atinja níveis tóxicos nas

membranas, levando a peroxidação lipídica e dano celular. A exposição cerebral ao

estresse oxidativo excessivo pode levar a perda na capacidade de aprendizagem.

Evidências sugerem que crianças com TDAH possuem deficiência de zinco e que o

consumo de aditivos alimentares que empobrecem o zinco plasmático aumentam o

comportamento hiperativo (desatenção e impulsividade) tanto em indivíduos com

TDAH quanto na população normal (DUFAULT, 2009). Conforme o levantamento do

ARI sobre as avaliações realizadas com os pais, o tratamento com zinco foi eficaz

em 54% das crianças autistas (ARI, 2009 ).

Page 29: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

21

Um número grande de estudos tem demonstrado que a exposição ao mercúrio pode

causar disfunções imunológicas, sensoriais, neurológicas, motoras e

comportamentais e essas semelhanças se estendem a neuroanatomia e bioquímica

(GEIER, 2009). O último Consenso científico sobre agentes ambientais associados a

distúrbios do desenvolvimento neurológico publicado pelo “Collaborative on Health

and the Environment's Learning and Developmental Disabilities” afirmou que não há

dúvidas que a exposição ao mercúrio leva ao transtorno do espectro autista (LDDI,

2008).

É hipotetizado que o autismo resulta da combinação da suscetibilidade genéticas e

bioquímicas sob a forma de uma reduzida habilidade de excreção do mercúrio e/ou

aumento da exposição ambiental em um momento decisório do desenvolvimento

(DETH, 2008).

O estresse oxidativo em autistas está associado ao aumento dos marcadores de

peroxidação lipídica, níveis de ácidos graxos urinários e malondialdeído plasmático,

assim como elevados níveis de citocinas inflamatórias (DETH, 2008). Os danos

causados pelo stress oxidativo incluem, principalmente, a clivagem do DNA (LEE,

2002), lise mitocondrial, oxidação de proteínas, (ADAMS, 2001), bem como

a peroxidação de lipídios da membrana celular (MARKS, 1996).

Devido à sua alta taxa metabólica e sua capacidade relativamente reduzida de

regeneração celular, o cérebro é particularmente sensível aos danos oxidativos

(ANDERSEN, 2004). Além disso, é altamente suscetível à peroxidação lipídica, visto

sua composição principalmente de ácidos graxos poliinsaturados. Os mecanismos

de defesa antioxidante normais contra essas agressões (glutationas, vitamina E, C e

carotenóides) encontram-se freqüentemente diminuídos em indivíduos autistas,

agravando o dano oxidativo ao tecido cerebral.

As citocinas inflamatórias somadas ao estresse oxidativo levam à ativação

microglial, indicando neuroinflamação e anomalias neuroimunes, conforme

observado no cérebro post-mortem de autistas (DETH, 2008;PARDO, 2005). O

maior efeito da ativação da microglia é a excreção de glutamato para o espaço

extracelular. A microglia ativada é citotóxica para os neurônios e acredita-se o

Page 30: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

22

principal mecanismo seja esse. Evidências de neurotoxinas aumentadas em cérebro

de autistas já foram documentadas (PASTURAL, 2009).

As células da glia perfazem cerca de 90% de todas as células do cérebro e só

iniciam a sua formação após o nascimento, enquanto a maioria dos neurônios já

está formada nessa etapa (MATTHEWS, 2008). Esse processo envolve elevada

necessidade de sulfato, na qual a criança possui boa reserva adquirida da mãe logo

antes do nascimento. A maturação do cérebro é mais intensa pouco antes dos dois

anos de idade, justamente na mesma época que ocorre a grande maioria das

vacinações. As mães com sulfatação deficiente podem não suprir a criança com

sulfato suficiente através da placenta, prejudicando o processo de formação

neuronal.

Durante a gravidez, a ocitocina, um peptídeo neuroativo é necessário para o

trabalho de parto. A ocitocina requer sulfato. Quando o nascimento está

comprometido, talvez pela falta de ocitocina, uma ocitocina sintética é aplicada na

gestante. Pesquisas indicam que um grande percentual de mães de crianças

autistas, necessitou de ocitocina sintética durante o trabalho de parto. A ocitocina,

também conhecida como “hormônio social” ou “hormônio do amor” é responsável

pelo reconhecimento social e ligação afetiva. Sua deficiência pode ser responsável

por muitos casos de anormalidade sociais em crianças com TEA (MATTHEWS,

2008).

2.4.2.1 Avaliação laboratorial de toxinas e da destoxificação

Perfil completo de destoxificação (sangue, saliva e urina): avalia a destoxificação

hepática através da fase I e II, incluindo a sulfatação. Feito no Exterior (Genova

Diagnostics)

Teste de provocação de urina para toxicidade de metais pesados: é necessário

usar altas doses de um agente quelante para avaliar eliminação de metais tóxicos.

Esse teste é bastante utilizado no protoloco DAN!, mas alguns pesquisadores

Page 31: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

23

consideram muito agressivo. Feito somente no exterior (Metametrix Clinical

Laboratory, Doctor’s Data e Great Plains Laboratory)

Painel de metais no cabelo para toxicidade de metais pesados: para avaliar

principalmente exposição recente e o que está sendo excretado. Feito no exterior

(Metametrix Clinical Laboratory, Doctor’s Data e Great Plains Laboratory)

Painel de poluentes ambientais na urina: analisa níveis de fitalatos, benzeno,

estireno e outros poluentes ambientais. Feito no exterior (U.S. Biotek)

Porfirinas (urina): avalia os efeitos de toxicidade na via de biossíntese do

grupamento Heme. Avalia os efeitos negativos da sobrecarga tóxica no sistema

orgânico. Realizado no exterior (Metametrix Clinical Laboratory, Great Plains

Laboratory, Laboratoire Philippe Auguste)

Page 32: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

24

2.4.3 Sistema Gastrointestinal e Digestão

Crianças com Transtorno do Espectro Autista freqüentemente são acometidas por

sintomas gastrointestinais (GI). Recentemente, muitas pesquisas se dedicam a

encontrar uma associação entre o autismo e as patologias do trato gastrointestinal.

Um número cada vez mais significativo de pacientes autistas é atendido em clínicas

pediátricas de gastroenterologia, sugerindo um aumento na prevalência de sintomas

GI, incluindo diarréia crônica, obstipação, flatulência, distensão e dor abdominal.

Alguns autores relataram uma associação entre autismo e doença inflamatória

intestinal, esofagite de refluxo, gastrite, má absorção de dissacarídeos (GILGER e

REDEL, 2009;JYONOUCHI, 2005 ;JYONOUCHI, 2002;SMITH, 2009), hiperplasia

nodular linfóide e enterocolite (SRINIVASAN, 2009;WAKEFIELD, 1998)

(GALIATSATOS, 2009;KRIGSMAN, 2010). De acordo com o ARI, 50% das crianças

com TEA sofrem de obstipação e/ou diarréia (ARI, 2010.).

Diversos estudos documentaram a presença de sintomas GI em 80% das crianças

autistas (D’SOUZA, 2006;HORVATH e PERMAN, 2002;HORVATH e PERMAN,

2002). Valores similares foram relatados neste estudo, com 70% das crianças dentro

do espectro autista com sintomas GI, contra 28% do grupo controle (VALICENTI-

MCDERMOTT, 2008). Recentemente, Smith e colaboradores compararam crianças

autistas, crianças com outros transtornos de desenvolvimento neurológico e grupo

controle. O estudo confirmou o aumento dos sintomas GI em crianças com autismo,

no entanto, não encontrou diferença significativa entre autistas e crianças com

outros transtornos neurológicos, sugerindo que essa pode não ser uma questão

específica do autismo (SMITH, 2009).

No presente ano de 2010, 143 crianças autistas com sintomas GI crônicos foram

submetidas à biopsia de intestino por ileonoscopia. Dos sujeitos analisados, 78%

apresentavam diarréia, 59% dor abdominal e 36% com obstipação. A análise

histológica mostrou inflamação crônica do íleo e/ou do cólon em 74% dos pacientes,

consistindo em colite ativa ou crônica (69%). Foi encontrada uma significativa

associação entre a inflamação intestinal e o início do aparecimento transtorno.

Sendo que o tipo “platô” e o “regressivo” apresentaram maior risco de inflamação

quando comparado aos autistas com “aparecimento precoce” da doença. Não se

Page 33: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

25

sabe ao certo razão para esta diferença, mas pode ter uma ligação com a o tipo de

agente etiológico para cada grupo, sendo necessárias maiores investigações

(KRIGSMAN, 2010).

A prevalência de sintomas GI em indivíduos com TEA tem sido objeto de muitas

pesquisas, porém, os resultados permanecem controversos. Enquanto muitos

estudos mostraram o aumento de sintomas em autistas, outros não encontraram

diferenças significativas entre autistas e os grupos controles (MOURIDSEN,

2009;NIKOLOV, 2009). Segundo a Academia Americana de Pediatria (GILGER e

REDEL, 2009), apesar da ampla aceitação popular de uma conexão entre o autismo

e doenças gastrointestinais, ainda são limitados os estudos epidemiológicos que

investigam esta relação, sendo necessários mais estudos de base populacional e

com metodologias melhor delineadas para avaliar essa relação.

Investigações a cerca do papel do intestino no comportamento e desenvolvimento

neurológico de crianças autistas tem suscitado muitas hipóteses e correlações pelos

pesquisadores. Algumas das alterações GI mais estudadas no autismo serão

descritas a seguir:

2.4.3.1 Digestão prejudicada

A digestão dos alimentos nos autistas normalmente está prejudicada. Uma das

causas é a baixa sulfatação, conforme mencionado anteriormente. O sulfato ativa a

gastrina, a qual inicia a cascata para outras reações da digestão. A gastrina libera o

ácido clorídrico e pepsina, que aumentam a acidez, proporcionando a quebra das

proteínas e utilização dos aminoácidos, matérias-primas para hormônios, enzimas,

neurotransmissores e tecidos. O pH reduzido estimula a secretina, hormônio

digestivo produzido no duodeno e jejuno, pela ação das proteínas parcialmente

digeridas no intestino. A secretina estimula o pâncreas a produzir bicarbonato, bile e

enzimas pancreáticas para dar seguimento à digestão. A gastrina também estimula

a liberação da secreção de enzimas pancreáticas e de colecistoquinina, a qual ativa

a liberação da bile. A bile emulsifica as gorduras para serem digeridas e absorvidas

pelo intestino delgado, mas também tem um papel importante na eliminação de

Page 34: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

26

toxinas do organismo. As enzimas pancreáticas são necessárias para digestão

posterior das gorduras, carboidratos e proteínas (MATTHEWS, 2008). Fica bastante

clara a importância do sulfato na digestão após descrever todo o processo.

Baixos níveis de secretina, colecistoquinina, ácido clorídrico, enzimas digestivas,

além de ácidos graxos essenciais, vitaminas e minerais são comumente

encontrados em indivíduos autistas e podem ser explicadas pelo mecanismo acima

descrito. Dentre as diversas terapias utilizadas no tratamento biomédico do autismo,

pode-se citar a suplementação de enzimas digestivas, ácidos graxos essenciais,

vitaminas e minerais e secretina. Esta apresentou eficácia em 43% das crianças

autistas, enquanto enzimas digestivas obtiveram 62% de aprovação no tratamento e

os ácidos graxos 59%, segundo o último levantamento do ARI. As vitaminas e

minerais foram analisadas separadamente (ARI, 2009 ).

2.4.3.2 Disbiose

Existem dois tipos principais de bactérias no trato gastrointestinal (TGI), as aeróbicas

e as anaeróbicas. A primeira necessita de oxigênio para viver no ambiente intestinal,

enquanto as anaeróbicas podem morrer se o oxigênio estiver presente. Outro grupo

de microorganismos que colonizam naturalmente o intestino são os fungos e as

leveduras, além de poder abrigar helmintos, protozoários e vírus.

Estima-se que existam 500 espécies diferentes de bactérias no trato intestinal

humano, predominando as bactérias anaeróbicas (95 a 99%), num total de

aproximadamente 100 trilhões, ou seja, mais que o total de células do organismo. A

colonização das bactérias não se dá de maneira uniforme ao longo do TGI, visto que

elas apresentam atividades diferentes dependendo do local de colonização. No

estômago o número de bactérias é pequeno devido ao ácido clorídrico, que

neutraliza e controla sua proliferação. A partir do íleo a quantidade de bactérias

começa a ficar mais evidente e o intestino grosso é a região com maior massa

bacteriana, com 13 gêneros diferentes. Devido ao trânsito mais lento em

comparação ao restante do TGI, permite uma maior adesão e colonização

bacteriana (DAVISON e CARVALHO, 2008;SHAW, 2009).

Page 35: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

27

A microbiota intestinal sofre constante modificação, por conta do dinamismo

fisiológico de eliminação fecal, sendo que a colonização do TGI é temporária. Existe

um complexo equilíbrio entre os microorganismos residentes no intestino, pela

interação entre bactérias probióticas (representam um percentual pequeno e

exercem efeito benéfico); bactérias comensais (maior parte das bactérias e podem

promover tanto o equilíbrio quanto o desequilíbrio); bactérias patogênicas (podem

causar doenças agudas e crônicas e devem estar em baixa população num intestino

saudável, proliferando rápido em um ambiente oportuno). Esse equilíbrio entre os

microorganismo é chamado de microbiota normal (DAVISON e CARVALHO, 2008).

A microbiota intestinal equilibrada é um dos componentes de defesa mais

importantes do organismo, juntamente com a integridade da barreira mucosa e o

sistema imune entérico. As bactérias intestinais possuem diversos mecanismos de

proteção do hospedeiro, que agem individualmente ou em conjunto: competição pelo

substrato e pelos sítios de adesão de mucina; manutenção de um ambiente

fisiologicamente restritivo (pH, potencial redox e produção de metabólitos tóxicos

para os patógenos); produção de antibióticos como a bacteriocina (DAVISON e

CARVALHO, 2008).

A maturação e o desenvolvimento da imunidade local e sistêmica, assim como o

equilíbrio entre Th1 e Th2 (conforme será explicado mais adiante), sofrem grande

influência da microbiota intestinal. A maior parte das células imunes do organismo

encontra-se no intestino e seu desenvolvimento diário depende do estímulo dos

microorganismos.

Quando o equilíbrio da microbiota é perturbado temos um estado de disbiose

intestinal, o qual é definido pelos efeitos nocivos da microbiota via: (1) mudanças

quantitativas e qualitativas na própria microbiota intestinal; (2) mudanças na sua

atividade metabólica; (3) mudanças em sua distribuição no TGI (HAWRELAK e

MYERS, 2004).

Os fatores que influenciam neste desequilíbrio podem iniciar no momento do parto,

pelo primeiro contato da criança com as bactérias do canal vaginal e região anal da

mãe, colonizando o intestino do bebê principalmente com lactobacilos e

bifidobactérias, considerando uma mãe sem disbiose. Outro fator importante é a

Page 36: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

28

amamentação, que fornece matéria-prima para o crescimento das bactérias

probióticas. Essa relação já é bem documentada na literatura.

Ao considerar o quadro inverso, gestante com disbiose, nascimento de parto

cesáreo, falta de aleitamento materno e uso de fórmulas infantis, o resultado será

uma criança com elevada propensão à disbiose. Adicionalmente, o uso de

antibióticos, principalmente precoce; alimentação desequilibrada, com alto consumo

de açúcar refinado, laticínios, alimentos industrializados, excesso de gordura

proteína e álcool, associado ao baixo consumo de frutas, hortaliças e cereais

integrais; além de má digestão; jejum prolongado; estresse físico e emocional,

infestações e infecções intestinais; decréscimo do sistema imune; motilidade

intestinal reduzida; exposição à xerobióticos; doenças inflamatórias intestinais; uso

crônico de medicamentos; entre outros, são fatores que podem causar alteração da

ecologia intestinal.

2.4.3.3 Supercrescimento de leveduras

A partir da segunda guerra mundial os antibióticos foram produzidos em escala

comercial. Enquanto em 1949 a produção era de 80 toneladas por ano, uma

quantidade bem baixa e grande parte de uso injetável, em 1954 a indústria produziu

250 toneladas/ano, já de uso oral. Mas em 1990 é que houve uma explosão na

comercialização e uso de antibióticos, alcançando 20.000 toneladas no ano. A partir

dessa década os casos de autismo, TDAH e outros distúrbios como fibromialgia

aumentaram consideravelmente a sua incidência (SHAW, 2009).

Nos Estados Unidos uma das principais razões do uso de antibióticos em crianças é

para tratar otite média, uma infecção no ouvido. De acordo com dados do Painel

para Otite Média, pediatras e cientistas americanos concluíram que as infecções de

ouvido são responsáveis por 1/3 de todas as consultas pediátricas e 75% dos

retornos, sendo que entre 1975 e 1990 os atendimentos de otite aumentaram 150%

(24,5 milhões de consultas/ano). Crianças menores de dois anos possuem a maior

incidência de consultas, como também são responsáveis pelo maior aumento

(224%) (SHAW, 2009).

Page 37: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

29

Infecções de ouvido e uso excessivo de antibióticos são extremamente freqüentes

na população com TEA, acarretando no aumento de leveduras intestinais, as quais

enfraquecem o sistema de defesa contra infecções, estabelecendo um verdadeiro

ciclo vicioso. Outra hipótese segundo Shaw, é que o uso de antibióticos permite o

crescimento das leveduras, enquanto o sistema imunológico ainda está em

desenvolvimento. O sistema imune não “percebe” a levedura como um patógeno e

não desenvolve anticorpos que permite que o sistema imune a mantenha sob

controle (SHAW, 2009).

Concomitantemente ao uso de antibióticos, tem aumentado o número de bactérias

resistentes. Alguns estudos demonstraram que o aumento do uso de antibióticos em

animais destinados à alimentação humana seleciona as bactérias multi-resistentes,

que acabam infectando humanos, seja pela carne, leite e subprodutos ou pelas

fezes por contaminação (SHAW, 2009).

Os antibióticos acarretam no desequilíbrio da microbiota ao matar não só a bactéria

patogênica causadora da infecção, mas também as bactérias probióticas, permitindo

o crescimento das leveduras e das bactérias patogênicas mais rapidamente.

Bactérias probióticas apresentam mais dificuldade de recolonizar o intestino. Esse

não é o único mecanismo que desencadeia o supercrescimento de leveduras, mas

muitas vezes é um fator contribuinte (SHAW, 2009)

Esse processo ocorre com qualquer indivíduo, saudável ou não, em uso de

antibióticos. Entretanto, parece afetar mais severamente crianças com autismo,

sendo muito comum apresentarem supercrescimento de leveduras (MATTHEWS,

2008) e infecções por Clostridium spp (FINEGOLD, 2008;MARKIEWICZ e

MACQUEEN, 2009). As leveduras, para defesa e sobrevivência, produzem

substâncias que são tóxicas quando absorvidas, principalmente através da mucosa

permeável, adentram a corrente sanguínea, circulam por todos os tecidos e são

excretadas através da urina (CARREIRO, 2009). Esses subprodutos do metabolismo

microbiano podem ser analisados através do teste de ácidos orgânicos na urina.

Além da produção dessas toxinas, as leveduras são capazes de se converter em

formas mais invasivas, potencializando a sua virulência e dificultando seu controle.

Quando na sua forma micelial, as leveduras se fixam firmemente na mucosa através

Page 38: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

30

das hifas (prolongamentos) e produzem exoenzimas que digerem as células da

parede intestinal e facilitam ainda mais sua invasão e fixação no tecido. Uma

variedade de enzimas digestivas é secretada pelas leveduras, como fosfolipase A2,

catalase, aspartil proteases, fosfatases ácidas e alcalinas, coagulases, quaratinases

e proteases, desencadeando um processo inflamatório local. Evidências sugerem

que a enzima aspartil protease é capaz de digerir anticorpos IgA e IgM, produzidos

pelo sistema imune como reação às leveduras (SHAW, 2009). Esses processos

associados desencadeiam ou agravam a permeabilidade da mucosa intestinal.

De todos os fungos oportunistas relacionados a infecções humanas, a Candida sp é

sem dúvida a mais comum e estudada, especialmente Candida albicans,

microorganismo inicialmente comensal do intestino humano. As infecções

provocadas pelas várias espécies de Candida são extremamente difíceis de tratar e

manter sob controle, devido aos seus eficientes mecanismos de virulência, descrito

em diversos estudos.

Os mecanismos mais importantes parecem ser a aderência à mucosa intestinal e

sua alta capacidade de formação de biofilmes (DONGARI-BAGTZOGLOU,

2009;KUMAMOTO e VINCES, 2005;RAMAGE, 2005;UPPULURI, 2009). Estes

patógenos produzem um biofilme como mecanismo de defesa para evitar a detecção

do pelo sistema imunológico, o que lhes permite sobreviver em ambientes hostis.

Evidências sugerem que este é o principal fator infecções recorrentes e resistência

aos antibióticos e antifúngicos (MORALES e HOGAN, 2010;SCHULZE e

SONNENBORN, 2009;USMAN, 2009). O biofilme caracteriza-se pela associação de

microorganismos em relações simbióticas que aderem fortemente à superfície

mucosa pela formação de uma matriz protetora composta por polissacarídeos, os

quais são mantidos juntos pela combinação de minerais carregados negativamente,

como o cálcio, magnésio e ferro (Figuras 1 e 2). Infelizmente, com a expansão

anormal de bactérias e biofilmes de levedura, a microbiota benéfica é reduzida muito

rapidamente, aumentando a disbiose. Os íons negativos em biofilmes são

vulneráveis a certos quelantes, como o EDTA. A adição de enzimas específicas

ajuda a romper a matriz de polissacarídeo. Essa combinação permite a exposição

das bactérias e leveduras anteriormente protegidas pela camada do biofilme, ficando

Page 39: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

31

vulneráveis ao ataque do sistema imune, medicamentos antimicrobianos e

antifúngicos naturais.

Figura 1 – Ilustração esquemática demonstrando a formação do biofilme: Na sequência de cima para baixo: (1) sítios de ligação dos microorganismos na superfície; (2) aderência (primeiras espécies); (3) co-aderência (outras espécies); (4) microcolônias (biofilme). Fonte: (KLEESSEN e BLAUT, 2005).

Figura 2 - Microscopia de biofilme formado por bactérias Staphyloccocus aureus na superfície de um cateter. Fonte desconhecida.

Page 40: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

32

Esse tratamento faz parte do Protocolo do Biofilme, estabelecido pela Dra. Usman,

médica DAN e pesquisadora na área de desequilíbrios bioquímicos e tratamentos

em crianças com TDAH e autismo especialista no tratamento biomédico do

autismo. Seu protocolo é um trabalho ainda em andamento, que consiste em quatro

etapas: 1) Lise e descolamento do biofilme com o uso de enzimas que degradam

poli e dissacarídeos, EDTA, lactoferrina (quelante de ferro), 2) ataque aos

microorganismos com agentes antimicrobianos e 4) limpeza do intestino, com fibras

solúveis e carvão ativado, 4) restabelecimento da ecologia intestinal, com o uso de

pré e probióticos, alimentos fermentados e antibióticos naturais (alho, orégano,

tomilho, páprica) (USMAN, 2009).

Outros fatores de virulência muito importantes são a produção de exoenzimas, já

descritas anteriormente, o “switching fenotípico” e a produção de tubos germinativos,

ou seja, habilidade das leveduras de transição morfológica para forma de micélio

(hifas), com maior capacidade invasiva, entre outros fatores (CARREIRO,

2009;KUMAMOTO e VINCES, 2005).

Os principais subprodutos do metabolismo de fungos e leveduras, resultantes do

processo de fermentação dos carboidratos, principalmente o açúcar, são

(CARREIRO, 2009;SHAW, 2009):

Arabinose: é uma aldose, tipo de açúcar formado a partir do arabitol, um álcool de

açúcar produzido pela Cândida. Bactérias intestinais e provavelmente o fígado

convertem o arabitol e arabinose. Existem suspeitas de que o arabitol é absorvido

pela circulação portal, convertida no fígado em arabinose e eliminada na urina sem

metabolização endógena.

Segundo Dr William Shaw, a arabinose pode reagir com a lisina, aminoácidos

presente em várias proteínas. Essa molécula (arabinose-lisina) pode formar um

cruzamento com a arginina de uma proteína adjacente, dando origem a um

composto chamado pentosidina. Essa estrutura pode cruzar proteínas diferentes e

alterar tanto a estrutura quanto a função biológica das mesmas, podendo ter um

efeito devastador em todo o organismo. A estrutura patológica característica é o

emaranhado neurofibrilar, que está associado à doença de Alzheimer e também

Page 41: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

33

podem ser encontrados danos similares no cérebro de autistas. É possível que e

formação da pentosidina seja responsável por desmielinização, estimulação de

doenças auto-imunes e redução da flexibilidade das proteínas estruturais do

colágeno e músculo. Além disso, por se ligar à lisina, a pentosidina bloqueia a

ativação de enzimas que possuem lisina em seus sítios de ativação, diminuindo o

acesso às suas coenzimas, vitamina B6, biotina e ácido lipóico, durante as reações

enzimáticas. Isso pode levar à deficiência funcional dessas vitaminas, mesmo com

ingestão adequada.

Apesar de não ser um ácido orgânico, a arabinose pode ser identificada na urina,

por esse exame. Alguns estudos encontraram níveis elevados de arabinose na urina

de mulheres com candidíase vulvo-vaginal recorrente e em pacientes autistas,

sendo nesses valores normalmente muito elevados. A arabinose pode ser

encontrada naturalmente em alguns alimentos, sendo a maçã sua a maior fonte. O

tratamento antifúngico pode prevenir a formação de novas pentosidinas, pela

redução da arabinose.

Ácido tartárico: é uma substância altamente tóxica que pode lesar músculos e rins.

É produzido pela fermentação de alguns fungos, como o Saccharomycies

Cerevisiaie, e segundo Dr. William Shaw, parece poder ser formado a partir da

quebra da arabinose, ou seja, a partir da Cândida.

O ácido tartárico é uma substância química análoga ao ácido málico, componente

chave do ciclo de Krebs, processo necessário para fornecer energia ao organismo.

O ácido tartárico pode então, inibir a enzima fumarase, responsável pela conversão

de fumarato em ácido málico, interrompendo o ciclo de Krebs nesta etapa, além de

reduzir o suprimento do ácido málico para outras funções celulares, como a

neoglicogênese – processo de formação de glicose a partir de outros substratos

energéticos, como aminoácidos e o próprio ácido málico – a fim de evitar queda de

energia para o sistema nervoso central e músculos.

A falta de energia para sistema nervoso e músculo acarreta vários sintomas

relacionados à hipoglicemia, como tontura visão turva, mãos e pés frios, taquicardia,

suor, dor de cabeça, sonolência, falta de concentração, confusão mental, desânimo,

vontade excessiva de comer doces, falta de saciedade, depressão, síndrome do

Page 42: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

34

pânico e convulsões, além de dores musculares, cansaço e fraqueza nas pernas e

fibromialgia.

É comum o ácido tartárico encontra-se elevado na urina de autistas pela avaliação

dos ácidos orgânicos.

Acetaldeído: é uma substância neurotóxica que pode ser formada tanto pelo

metabolismo do álcool, através da fermentação do açúcar pelos fungos e leveduras

(ex: Candida albicans), como pela exaustão de combustíveis fósseis e queima do

fumo.

Para ser excretado, o álcool é primeiro convertido em acetaldeído pela enzima álcool

desidrogenase, depois em ácido acético pela enzima aldeído desidrogenase, sendo

então eliminado. Quando substâncias tóxicas são destoxificadas pela mesma via do

acetaldeído, o organismo pode acumular as tóxicas. Essa conversão é dependente

de vários nutrientes, como o molibdênio, niacina e vitamina B5. Indivíduos com

supercrescimento de Candida comumente apresentam deficiência de molibdênio. A

fermentação do açúcar da dieta pela Candida albicans irá promover o aumento na

produção de acetaldeído, potente agente neurotóxico. Através de diferentes vias o

acetaldeído pode danificar estruturas cerebrais, especialmente sob exposição

crônica.

O acetaldeído pode reagir com neurotransmissores, como dopamina e serotonina,

formando compostos parecidos com opióides, capazes de reduzir os impulsos

sensoriais. Esse composto é classificado como tetrahidroisoquinolonas, a qual está

relacionada à adicção por substâncias tóxicas. Além disso, o acetaldeído pode

diminuir a habilidade da proteína tubulina de acessar os microtúbulos – que

conferem suporte e sustentação às células nervosas e dendríticas – interferindo

assim na transferência de substâncias bioquímicas essenciais para as células

dendríticas, que fazem a comunicação das células nervosas no cérebro e induzindo

à atrofia e morte gradual das mesmas. Além de estar envolvido com a degeneração

cerebral de indivíduos com doença de Alzheimer e alcoolistas crônicos, esse

processo de toxicidade induzido pelo acetaldeído pode estar relacionado à

patogênese ou interferir no desenvolvimento neuronal de autistas.

Page 43: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

35

O acetaldeído também induz a deficiência de vitamina B1, utilizada no processo de

produção de energia e necessária para a produção de acetilcolina, neurotransmissor

responsável pela atenção, foco, concentração e aprendizado. Outra vitamina afetada

é a niacina (vitamina B3), juntamente com sua coenzima NAD, que é indispensável

para energia celular, principalmente das células nervosas, para formação de

neurotransmissores e para ativação das enzimas álcool desidrogenase e aldeído

desidrogenase, responsável pela destoxificação do acetaldeído.

O ácido pantotênico (vitamina B5), na sua forma ativa (coenzima A), exerce um

papel crítico na adequação da função cerebral. A coenzima A reage com o acetato

para formar Acetil-CoA, que alimenta o ciclo de Krebs. O acetaldeído possui alta

afinidade pelo Acetil-CoA, suprimindo a sua atividade e, por conseguinte a produção

de energia celular. Essa toxina tem afinidade pela piridoxal-5-fosfato, forma ativa da

vitamina B6, necessária para a formação de todos os neurotransmissores. Essa

ligação impede que a vitamina exerça suas diversas funções no organismo, mesmo

em níveis adequados.

Outra via na qual o acetaldeído interfere é na metabolização dos ácidos graxos

essenciais, ômega-3 e ômega-9 em sua forma ativa, pois desativa fortemente a

delta-6-dessaturase, enzima necessária para essa conversão.

Após entendimento de todas as interferências que o acetaldeído gera no organismo

por meio do supercrescimento de fungos e leveduras, é possível associar muitos

sintomas vistos em indivíduos autistas com a síndrome fúngica: falta de

concentração e memória, depressão, redução dos reflexos, irritabilidade, ansiedade,

inquietação reações de pânico, confusão mental, menor acuidade sensorial,

diminuição da energia mental, desejo por doces e frutas, tendência a vícios (ex:

açúcar).

Gliotoxinas: são substâncias imunotóxicas, ou seja, tóxicas para o sistema

imunológico. Elas induzem apoptose em muitas células imunológicas, suprimindo as

repostas específicas contra microorganismos (ex: Candida sp), reduzindo a

capacidade do hospedeiro de combater infecções. Segundo Dr. William Shaw, essa

toxina é uma das principais causas de deficiência imunológica dos autistas, além do

Page 44: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

36

Mannan, outra toxina de leveduras (Candida e Saccharomyces cerevisiae) com

efeito imunossupressor.

Antígenos presentes na Candida: foram identificados 178 antígenos diferentes na

Candida, o que pode ser responsável pelas reações cruzadas a outros fungos e

também ao tecido humano, devido à similaridade que possuem na seqüência de

aminoácidos a esses antígenos. Uma reatividade cruzada potencial dos anticorpos

produzidos contra alguns antígenos da Candida e o glúten – na seqüência de

aminoácidos da alfa e gama-gliadina – foi recentemente documentada. Esse

mecanismo pode conduzir à intolerância ao trigo ou mesmo à doença celíaca em

pessoas geneticamente predispostas. Além disso, pode desencadear inflamação

intestinal pela presença das glicoproteínas da parede celular, que tem o potencial de

estimular a liberação de substâncias pró-inflamatórias – histamina e prostaglandina

(PGE2) – por mastócitos.

Além dos sintomas já relacionados acima, decorrentes da ação tóxica dos

subprodutos das leveduras, outros sintomas comuns de supercrescimento de fungos

incluem: flatulências, distensão abdominal, obstipação ou diarréia, infecções

fúngicas (vagina, unhas, pé de atleta, sapinho), pruridos em áreas quentes e úmidas

(cotovelos, joelhos, genitais), congestão nasal crônica, aparência de embriaguês,

pensamento “embaçado” e riso inapropriado. Enquanto muitos desses sinais podem

sobrepor-se a outros desequilíbrios, como hipersensibilidades alimentares, o

“comportamento estranho”, como começar a rir do nada, parece ser o mais óbvio

sintoma de aumento de fungos em pacientes autistas.

2.4.3.4 Síndrome de hiperpermeabilidade intestinal (Leaky Gut Syndrome)

A mucosa intestinal possui uma função paradoxal, pois é responsável pela absorção

de nutrientes e ao mesmo tempo age como uma barreira celular que seleciona os

componentes tóxicos e macromoléculas, sendo fundamental a sua integridade para

a saúde do indivíduo.

Os nutrientes são absorvidos por dois mecanismos: mais comumente, as células

transferem as moléculas alimentares para a corrente sanguínea pela membrana

Page 45: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

37

basal pela via transcelular; a segunda via é chamada paracelular, ocorre quando as

moléculas alimentares passam através de espaços entre as células. A intensidade

com que ocorre essa passagem entre as células reflete a permeabilidade intestinal.

Quando as células epiteliais da mucosa intestinal são danificadas, ocorre uma

redução na absorção transcelular proporcional ao aumento da absorção paracelular.

Quando ocorre uma agressão na integridade da mucosa intestinal, a estrutura de

adesão das células epiteliais – os desmossomos – é danificada, aumentando a

absorção paracelular como consequencia (DAVISON e CARVALHO, 2008),

conforme visualizado abaixo na figura 3:

Figura 3 – Ilustração esquemática da mucosa intestinal intacta (esq.) e danificada, demonstrando a hiperpermeabilidade intestinal, com aumento da absorção transcelular (dir). Fonte: (KLEESSEN e BLAUT, 2005).

A alteração da integridade da mucosa decorre de um processo crônico de

inflamação na mucosa intestinal, podendo ser causado por diversos fatores, que

permite que macromoléculas alimentares não digeridas, metais tóxicos, subprodutos

de fungos e bactérias patogênicas e outros xenobióticos consigam entrar na corrente

sanguínea, e provoque sintomas sistêmicos. Ao mesmo tempo, a alteração da

permeabilidade intestinal também compromete a absorção dos nutrientes, que

geralmente são absorvidos via transcelular, podendo levar à depleção das reservas

Page 46: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

38

corporais de antioxidantes, derivados de sulfato, glutationa e metionina,

exacerbando o quadro já comprometido, pela deficiência de substratos para fazer a

renovação do epitélio celular danificado (CARREIRO, 2008;DAVISON e

CARVALHO, 2008;MATTHEWS, 2008).

Esse processo, por si só, pode provocar sintomas físicos, mentais e emocionais,

consequentes do desencadeamento de alergias alimentares e ambientais,

dificuldade de destoxificação, desequilíbrios hormonais, comprometimento das

funções do sistema imunológico e carência dos nutrientes necessários para

formação, manutenção, renovação e função celular (CARREIRO, 2008).

Muitos fatores podem alterar a integridade da mucosa intestinal, sendo a causa ou

fator agravante da inflamação, incluindo: desequilíbrio da microbiota intestinal,

supercrescimento de leveduras, infecções GI por bactéria, fungos ou vírus (natural

ou por imunização), alergias e sensibilidades alimentares (ex: caseína e glúten),

intolerâncias alimentares (ex: lactose), neutralização do ácido clorídrico, respostas

auto-imunes excessivas e crônicas, deficiência de enzimas digestivas seguida de

digestão incompleta de proteínas, gorduras e carboidratos, uso de medicamentos

(anti-inflamatórios não esteroidais, corticóides, anticoncepcionais, antióticos,

laxantes e quimioterápicos), jejum, parto prematuro e exposição alimentar precoce

antes de 4-6 meses; carências nutricionais (zinco, ácido fólico, vitamina A, B12, B5 e

glutamina), baixo cosumo de fibras dietéticas e excesso de carboidratos refinados e

substâncias químicas e sulfatação insuficiente dos glicosaminoglicanos (GAGs),

entre outras (CARREIRO, 2008;DAVISON e CARVALHO, 2008;MATTHEWS, 2008).

As glicosaminoglicanas (GAGs) são longas cadeias de polissacarídeos que

possuem muitas funções, incluindo a integridade intestinal. Para que as GAGs

exerçam sua função, elas precisam ser sulfatadas. GAGs não sulfatadas tem um

dos maiores impactos nos indivíduos com autismo, pois são altamente variadas,

específicas e reguladas, influenciando nos seguintes processos celulares: função da

membrana (integridade intestinal e cerebral), interação proteína/proteína, interação

ligante/receptor, sinalização da proteína G, sinalização de cálcio, junções celulares

(comunicação célula/célula), diferenciação, crescimento, endocitose, gerenciamento

dos cátions na superfície celular (MATTHEWS, 2008).

Page 47: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

39

Os processos listados a cima são ameaçados quando o pool de sulfato do

organismo é muito baixo. Na presença de infecção, no intestino ou outro local do

organismo, as GAGs são derramadas e macrófagos vão para o local, rompem o

tecido e liberam sulfato, o qual é posteriormente excretado pela urina. Essa

combinação de eventos em resposta à infecção pode ser a explicação do porque as

enterocolite ou infecções crônicas de ouvido em autistas podem induzir os

problemas crônicos de sulfatação (MATTHEWS, 2008).

Quando o sulfato está baixo e as GAGs não são sulfatadas, podem levar ao mau

funcionamento do sistemas, especialmente na barreira intestinal e hemato-

encefálica, ambos locais que necessitam de boas defesas. Em suas pesquisas, Dra.

Waring encontrou baixos níveis de sulfato no sangue e altos níveis de sulfato na

urina de autistas (WARING e REILLY, 1993). Da mesma forma, White documentou

níveis elevados de permeabilidade intestinal em crianças autistas (WHITE, 2003).

Indivíduos com aumento do transporte paracelular são mais predispostos a absorção

de metais pesados, xenobióticos e macromoléculas alimentares, que ao estimularem

o sistema imune, liberam mediadores inflamatórios típicos do processo de

hipersensibilidade alimentar (DAVISON e CARVALHO, 2008). Esses, por sua vez,

aumentam ainda mais a permeabilidade do intestino, criando um círculo vicioso.

2.4.3.5 Hipersensibilidade alimentar e opióides

Sensibilidade alimentar é um tipo de alergia, mediada por anticorpos IgG, IgM, que

formam imunocomplexos (ligação antígeno-anticorpo) e envolve o sistema

complemento. Segundo a classificação de Gell e Combs, é uma reação de

hipersensibilidade tipo III, desencadeadas por macromoléculas, relacionada ao

desenvolvimento de alergias tardias ou “escondidas”. Diferentemente da alergia

imediata (mediada por IgE), desencadeia sintomas de 2 a 72h após o contato inicial

com o antígeno, nesse caso, o alimento, dificultando a identificação do causador A

imunoglobulina IgG específica tem meia-vida de 21 dias na circulação e o mastócito

sesibilizado por ela circula por 2 a 3 meses (CARREIRO, 2008).

Page 48: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

40

A sensibilidade alimentar pode ser herdada da mãe ou mais comum, adiquirida

devido um estado de hiperpermeabilidade intestinal, que pode ser resultado de

supercrescimento de leveduras. Danos na barreira intestinal propiciam a passagem

de proteínas alimentares mal digeridas para a corrente sanguínea. Proteínas

presentes na corrente sanguínea são identificadas como antígenos, desencadeando

uma reação imunológicas contra esses “agentes invasores”.

O antígeno alimentar após entrar na corrente sanguínea desencadeia uma cascata

de reações imunológicas, mediante o estímulo de citocinas, culminando na formação

do imunocomplexo, ou seja, ligação antígeno-anticorpo. Em condições normais

esses imunocomplexos logo serão removidos da corrente sanguínea pelo Sistema

Monócítico Fagocitário (SMF); porém, quando presentes em grandes quantidades,

podem desencadear reações alérgicas por ação citotóxica primária e por ação

mecânica. Os imunocomplexos pequenos e médios são circulante, solúveis e

tóxicos; enquanto os grandes são pesados e insolúveis, causando obstruções

mecânicas por precipitação. Os anticorpos IgM e IgG também podem ativar o

sistema complemento para amplificar o combate ao agressor, quando esse não é

eliminado normalmente, resultando em um processo inflamatório mais intenso que

pode virar crônico quando não regulado. O local de circulação (ação tóxica) ou

obstrução (ação mecânica por deposição na superfície de órgãos ou capilares) do

imunocomplexo no organismo é que irá definir o quadro clínico do indivíduo, pela

reação inflamatória gerada (CARREIRO, 2008).

Os sintomas advindo de alimentos alergenos podem ser os mais diversos, incluindo

alterações comportamentais e emocionais como hiperatividade, inquietação,

irritabilidade, agressividade, birra, depressão, fadiga e retração, além de sintomas

físicos de obstipação, diarréia, dores musculares e muitos outros. Esses são muitos

dos sintomas vistos em indivíduos autistas. Apesar de não serem a causa do

autismo, a identificação e eliminação dos alimentos alergênicos pode reduzir muitos

dos seus sintomas, com a melhora do comportamento e aprendizado.

O alimento mal digerido também pode gerar inflamação por ação direta no intestino

e aumentar a permeabilidade da barreira intestinal. Esse “efeito dominó” pode levar

a mais sensibilidades alimentares devido à mudança da ecologia intestinal, que

Page 49: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

41

permite o crescimento de leveduras e outros microorganismos patogênicos,

produtores de toxinas, que sobrecarregam o fígado e depletam as reservas de

nutrientes. Normalmente a inflamação acarreta prejuízos na absorção de nutrientes,

a qual pode afetar qualquer sistema do organismo, incluindo energia celular,

reparação de tecidos e função imune.

Os alimentos que mais causam reações de hipersensibilidade são indiscutivemente

o glúten e os laticínios, seguido da soja, milho, ovos, amendoim, oleaginosas, peixes

e frutos do mar, cítricos, fermento de pão, açúcar e chocolate. Entretanto, qualquer

alimento pode causar alergias dependendo da individualidade bioquímica e do

hábito alimentar de cada um.

O aumento da permeabilidade intestinal pode levar à hiper-reatividade do sistema

imune e causar sensibilidade e alergias a substâncias químicas e inalantes,

deprimindo ainda mais o sistema imunológico e podendo precipitar reações auto-

imunes. Estudos realizados por Jyonouchi mostraram que crianças autistas tem

maior produção de citocinas pró-inflamatórias em resposta às proteínas da dieta

(leite, glúten e soja) em comparação com o controle. Ambos estudos encontraram

maior resposta imune inflamatória nas crianças autista com problemas GI quando

comparadas às autistas sem sintomas GI, sugerindo uma possível ligação entre

problemas GI e sintomas comportamentais mediados por alterações imunológicas

inatas (JYONOUCHI, 2005 ;JYONOUCHI, 2005 ;JYONOUCHI, 2002).

Além de causarem reações de hipersensibilidade, glúten (proteína presente no trigo,

centeio, cevada e aveia comercial) e a caseína (proteína presente no leite e

derivados), são altamente agressivas aos autistas, devido à capacidade de formar

compostos com atividade opióide. Quando uma proteína não é quebrada

adequadamente em aminoácidos (possivelmente pela deficiência de enzimas

digestivas), restarão peptídeos de cadeia longa no intestino, os quais poderão

escapar para corrente sanguínea através da mucosa intestinal permeável.

Esses peptídeos conseguem atravessar a barreira hema-hencefálica e causar um

efeito opióide-like, ligando-se a receptores opióides no cérebro, sendo capazes de

mimetizar o efeito de drogas opiáceas como a morfina e heroína (SHAW, 2009).

Kidd descreve os opióides como pequenos polímeros de aminoácidos também

Page 50: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

42

chamados de exorfinas (KIDD, 2002). O peptídeo do glúten com ação opióide ficou

conhecidos como glúteomorfina ou gliadomorfina (fração da gliadina) e a caseína

como caseomorfina. Os opióides reagem com áreas do cérebro como o lobo

temporal, envolvido com a fala e integração auditiva (SHAW, 2009). A interferência

nos neurotransmissores em nível simpático e reduz a força dos impulsos sensoriais,

induzindo respostas e interferindo diretamente com o sistema nervoso central

(BRUDNAK, 2002;KIDD, 2002;SHAW, 2009;WHITE, 2003).

Muitos dos sintomas da morfina são similares aos que observamos nos autistas,

como insensibilidade a dor e pensamento nebuloso (embaçado). Alguns acham que

é por isso que algumas crianças balançam a cabeça incessantemente, pois estão

tão entorpecidos que tentam sentor algo ou libertar-se do “nevoeiro” que estão

experienciando. De acordo com Braverman (1987), a taurina, aminoácido sulfurado,

pode ter um efeito anti-opióide (MATTHEWS, 2008).

A digestão do glúten e da caseína no lúmen do intestino delgado é dada pela ação

de peptidases pancreáticas e intestinais, que libera peptídeos de cadeia curta,

estruturalmente semelhantes às endorfinas naturais. Indivíduos autistas mostraram

níveis elevados de β-caseomorfina-7 na urina, um derivado das caseomorfinas

(WHITE, 2003).

A caseomorfina e a gliadomorfina são compostas por sete aminoácidos, ambas

iniciando o N-terminal na seqüência TYR-PRO (tirosina e a prolina) com os pró-

resíduos adicionais (prolina) nas posições 4 e 6 dos peptídeos, como indicado

abaixo (SHAW, 2009):

A incapacidade de quebrar esses peptídeos pode indicar uma deficiência genética

possível da dipepitidil peptidase IV (DPP IV) em crianças com autismo. Essa enzima

também está presente nas células do sistema imunológico chamadas linfócitos. Esta

célula particular é denominada células TCD4+ auxiliadoras (Thelper), a qual é

Page 51: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

43

idêntica ao marcador de superfície celular CD26. A DPP IV é responsável pela

quebra dos peptídeos nos quais o aminoácido prolina (Pro) encontram-se na

segunda posição, tanto para caseomorfina como para gluteomorfina. Além do

sistema imune, a enzima é encontrada na mucosa intestinal, rins e vasos

sanguíneos (BRUDNAK, 2002;SHAW, 2009). A DPP IV é inativa ou ausente em

crianças com autismo (CAVE, 2001).

A gliadorfina e caseomorfina são substratos importantes para a enzima DPP IV.

Cada molécula de caseomorfina e gliamorfina é processada duas vezes pela

enzima. Após a remoção de dois peptídeos, os tripeptídeos permanecem com a

prolina na posição central. Os peptídeos são potentes inibidores da DPP IV, que irão

essencialmente desativar a enzima que se auto-destrói após a quebra da

gliadomorfina e caseomorfina. Como resultado, muitas outras funções da DPP IV

podem ser prejudicadas, como a inibição de outros peptídeos regulatórios

importantes. De fato, a inibição da DPP IV pela caseomorfina e a gliadorfina, podem

ser mais importantes que os efeitos opióides destas moléculas (SHAW, 2009).

Uma pesquisa preliminar feita pelo Laboratório Great Plains indica que a gelatina

bovina, subproduto do colágeno de ossos, tendões e patas de animais após abate, é

um potente inibidor da DPP IV. A gelatina bovina é usada em muitos produtos pela

indústria alimentícia e farmacêutica. É o ingrediente principal das cápsulas de

suplementos alimentares e medicamentos. Muitas vacinas, em especial a MMR

(sarampo, caxumba e rubéola) e a DPT (= tríplice, que protege contra difteria,

coqueluche e tétano), utilizam a gelatina hidrolizada em sua composição (SHAW,

2009). É interessante testar a sensibilidade das crianças a gelatina, eliminando

todos o resquícios da dieta, inclusive dos suplementos alimentares. Hoje é possível

solicitar cápsulas vegetais na manipulação de suplementos nutricionais, além de

existir marcar no mercado com essa opção.

A vacina MMR é um potente inibidor da DPP IV in vitro, provavelmente pelo seu

conteúdo de gelatina hidrolizada, que na hidrólise libera peptídeo com prolina na

terceira posição ou tripeptídeos com prolina na segunda posição. Mas são

necessárias maiores pesquisas para determinar se a gelatina hidrolizada é um fator

de reação adversa nas vacinas para as crianças autistas. Vários trabalhos apontam

Page 52: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

44

a gelativa como principal fator de risco para as reações vacinais imediatas graves,

indicando uma reação imunológica anormal no autismo após vacinação com MMR,

DPT e Varicela. As crianças que apresentaram reações possuem elevado número

de anticorpos IgG e IgE no soro para gelatina (SHAW, 2009).

A restrição do glúten e da caseína como intervenção inicial no tratamento biomédico

do autismo se pauta nessas teoria de opióides e hiperpermeabilidade intestinal, que

permite a passagem dos peptídeos não digeridos para a corrente sanguínea, com

posterior dano neurológico.

Alguns laboratórios internacionais avaliam a presença dos peptídeos de glúten e

caseína na urina, atravez do teste de peptídeos urinários. Em muitas investigações a

cerca da teoria dos opióides de glúten e caseína foram encontradas evidências

desses peptideos aumentados na urina de crianças autistas, exercendo o papel de

marcador biomédico na avaliação da doença. Em contrapartida, outros estudos

como o de Cass e colaboradores não evidenciou peptidúria opióide em crianças com

autismo e S. Asperger ou qualquer outra alteração urinária em correspondência ao

grupo controle, indicando uma fraqueza do marcador em termos de plausibilidade

biológica e clínica (CASS, 2008). Ainda não existe um conceso na literatura sobre a

validade desse exame.

2.4.3.6 Avaliação laboratorial da saúde gastrointestinal

Sensibilidades alimentares / avaliação de imunoglobulinas: teste sanguíneo de

IgG para alimentos e alergenos ambientais. Exame realizado no exterior (Great

Plains Laboratory, Genova Diagnostics, Metametrix Clinical Laboratory, US Biotec)

ou no Brasil (Instituto de Microecologia do Brasil)

Alergias alimentares imediatas / avaliação de imunoglobulinas: teste de IgE

para alimentos e alergenos ambientais, os quais são realizados no Brasil. Existem

testes se sangue para IgE total e específico (Rast); e testes cutâneos: Skin Prick

Test, Skin Patch test e Intradermal Test.

Page 53: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

45

Alimentos e substâncias inflamatórias: avaliação de inflamação celular mediada

por alimentos e aditivos alimentares, como glutamato monossódico (GMS). Ao invés

de medir a resposta IgG, esse teste avalia a real resposta inflamatória celular a

alimentos e aditivos. Feito somente no exterior. Pode ser medido por LEAP Test

(Signet Diagnostic Corporation).

Exames de fezes gastrológico completo / Coprológico Funcional: avalia a

digestão, absorção e assimilação, crescimento de leveduras, parasitas e disbiose

intestinal. Feito no exterior (Genova Diagnostics, Great Plains Lab., Doctor’s Data)

ou no Brasil (Instituto de Microecologia do Brasil). O coprológico funcional menos

completo é feito em laboratórios tradicionais.

Efeitos Gastrointestinais: usa análise do DNA para identificar microorganismos

nas fezes, incluindo anaeróbicos, os quais são inviáveis nas culturas de células.

Podenão ser são efetivo quanto o gastrológico completo pois em somente amostra

de fezes pode-se perder alguns micróbios. Feito no exterior (Metametix Clinical

Laboratory).

Permeabilidade Intestinal: teste de urina para síndrome do intestino permeável.

Avalia a presença de dois açúcares não metabolizados, lactulose e manitol, na urina.

Exame realizado no Brasil.

Teste de Doença Celíaca (Imunoglobulinas): trasglutaminase-IgA, antiendomísio

(IgA e IgG), anti-gliandina (IgA e IgG). Exames realizados no Brasil. A biopsia

intestinal é o teste definitivo para diagnóstico, porém mais invasivo.

Teste de Ácidos Orgânicos na Urina: detecta subprodutos do metabolismo de

leveduras, fungos e bactérias; metabolismo dos ácidos graxos e carboidratos;

intermediários do ciclo de krebs (energia celular e produção de energia); marcadores

de vitaminas e cofatores de metilação; marcadores do metabolismo de

neurotransmissores; dano oxidativo e marcadores antioxidantes; indicadores de

destoxificação; oxalatos e outros. Segundo Jullie Matthews, existe alguma

discrepância nos marcadores usados no teste de arabinose ou arabitol entre os

laboratórios e leveduras são notoriamente difícies de testar com precisão. Great

Page 54: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

46

Plains parece ser melhor para oxalatos e Metametrix para leveduras. Exame feito

somente no exterior (MATTHEWS, 2008).

Teste de suco de beterraba (para ácido clorídrico): teste caseiro, normalmente

usado médicos naturopatas para determinar os níveis de HCl no estômago. Beber ½

copo de suco de beterraba com algumas gramas de proteínas (30 ou 60g). Registrar

a coloração da urina nas próximas 6h. A cor vermelha da beterraba é quebrada pelo

HCl. Se ele estiver baixo, a urina terá um tom de rosa claro a vermelho. Se o HCl

estiver normal, a urina ficará amarela.

Page 55: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

47

2.4.5 Sistema Endócrino e Glandular

Indivíduos autistas freqüentemente cursam com problemas endócrinos, como

desordens da tireóide e insuficiência adrenal, além do mau funcionamento do

pâncreas (ARI, 2010.).

A hipoglicemia é comum naqueles com TEA, assim com a resistência insulínica

desencadeada pela inflamação (MATTHEWS, 2008). Uma intervenção dietética com

baixo consumo de carboidrato refinado e açúcar, priorizando proteínas e gorduras

normalmente são suficientes para regular a glicemia. Alterações no funcionamento

da tireóide podem causar fadiga, depressão, obstipação intestinal, dores

musculares, falta de atenção e irritabilidade, sintomas comuns do autismo, além de

ser a maior responsável por retardo mental no mundo. De acordo com o ARI,

“hormônios sintéticos para tireóide não são recomendados, já que são incompletos”

(ARI, 2010.).

As glândulas adrenais, produtoras de hormônios importantes como o DHEA e

cortisol, com freqüência apresentam baixo funcionamento no autismo, podendo

causar sintomas como ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo (TOC),

dificuldade em alternar tarefas, problemas de integração sensorial, birras,

movimento corporal repetitivo, inabilidade de tolerar as pessoas. Em contrapartida o

cortisol, hormônio de resposta ao estresse encontra-se elevado, freqüentemente

levando a distúrbios do sono. A resposta ao estresse prolongado pode criar

inflamação no cérebro. Os glicocorticóides do estresse persistentemente em níveis

elevados prejudicam a função neural do hipocampo, causando a morte dos

neurônios (MATTHEWS, 2008).

Além do aumento do cortisol, a inabilidade de produzir ou metilar a melatonina

(hormônio que regula o sono) pode ser uma das causas do distúrbio do sono desses

indivíduos. A suplementação de melatonina em crianças com TEA tem auxiliado as

crianças a entrar no sono, diminui a vigilância noturna e o caminhar durante a

madrugada. Além disso, a melatonina é um poderoso antioxidante cerebral, que

protege os neurônios dos danos por mercúrio (SHAW, 2009). Alguns autores

recomendam uso por pequenos períodos (3 meses) até regularizar outras causas.

Page 56: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

48

De acordo com a pesquisa do ARI, 66% dos pais relataram melhora em seus filhos

com este tratamento (ARI, 2009 ). O Instituto também afirmar que a melatonina é

extremamente segura e altas dosagens em animais não possui toxicidade (ADAM,

2007). No Brasil, até o dado momento, a comercialização da melatonina não é

aprovada pela ANVISA. Refluxo gastroesofágico e dores abdominais provenientes

da má digestão também podem manter a criança acordada. A vitamina B6 também

pode auxiliar com o sono, além de outros suplementos que impulsionam a metilação,

como a vitamina B12, ácido folínico e dimetilglicina (DMG), podem ajudar se a

mesma estiver reduzida (MATTHEWS, 2008).

2.4.5.1 Avaliação laboratorial de hormônios e glândulas

Análise da Melatonina (saliva): pode ajudar em indivíduos com distúrbios do sono.

Tireóide (soro): uma avaliação completa da tireóide envolve TSH, T3 e T4 livro, e

anticorpos anti-tireoglobulina e anti-peroxidase. O T3 reverso também pode ser

avaliado.

Adrenal (soro e saliva): análise de cortisol e DHEA. A avaliação pela saliva é mais

precisa.

Todos os exames são realizados no Brasil.

Page 57: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

49

2.4.6 Sistema Imunológico e Inflamação (Intestino e Cérebro)

É sabido que a integridade funcional do intestino também é essencial para o

equilíbrio do sistema imune, que possui 70% do tecido linfóide associado ao

intestino, o GALT, produtor de linfócitos B e T (corresponde a 20% das células

intetsinais), além de outros componentes da mucosa como IgA secretora e fagócitos.

O GALT torna o intestino o principal órgão imune do corpo. É um sistema

responsável pela tolerância à antígenos alimentares e bactérias colonizadoras do

intestino, além do reconhecimento e rejeição de patógenos (CARREIRO,

2008;DAVISON e CARVALHO, 2008).

As células T auxiladoras (T helper cells = Th) são componetes cruciais para o

funcionamento do sistema imune. Th1 é o sistema imune celular, responsável pelo

combate a microorganismos, diretamente através dos macrófagos. Th2 é o sistema

imune humoral, mediado por anticorpos, envolvido com a inflamação e respostas

auto-imunes. Idealmente, os sistema Th1 e Th2 devem estar equilibrados, cada um

respondendo apropriadamente quando necessário.

O balanço entre Th1 e Th2 está frequentemente alterado em crianças autistas,

conforme obserado em alguns estudos (CROONENBERGHSA, 2002;LI,

2009;MOLLOY, 2006). Tipicamente os linfócitos Th1 estão reduzidos, levando à

inabilidade de lutar contra vírus, bactérias e fungos, enquanto o Th2 predomina,

aumentando alergias e problemas auto-imunes. Não é incomum crianças com

autismo apresentarem auto-anticorpos contra a proteínas básica da bainha de

mielina e outras estruturas do Sistema Nervoso Central (GOINESA e WATER,

2010), contra a tireóide (T. Hashimoto) e contra o pâncreas (diabetes). A resposta

inflamatória é superativada enquanto a anti-inflamatória é menos ativa. Isso leva a

significativa inflamação em todo o organismo, incluindo o intestino e o cérebro. No

entanto, os artigos apresentam resultados conflitantes na avaliação das citocinas,

sendo que alguns mostram ambas as vias Th1 e Th2 significativamente

aumentadas, com predominância da Th2, sem aumento compensatório da citocina

regulatória IL-10 (MOLLOY, 2006), enquanto outros mostram maior estimulação da

via Th1 (por aumento do TNF-gama), sem diferença significativa de Th2, porém com

Page 58: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

50

aumento significativo das citocinas pró-inflamatórias, IL-6 e o fator de necrose

tumoral-alfa (TNF-alfa) (CROONENBERGHSA, 2002;LI, 2009).

Essa alteração da regulação imune pode ser um fator contribuinte para a inflamação

e estresse oxidativo nas crianças autistas. Suh e colaboradores estudaram o papel

do metabolismo de aminoácidos sulfurados na regulação da função de leucócitos no

sangue e no estresse oxidativo e encontraram redução significativa na concentração

de SAMe, cisteína e glutationa intracelular de leucócitos de autistas em comparação

com crianças normais (SUH, 2008).

Quando as reservas de sulfato encontram-se reduzidas e a enzima fenol-sulfo-

transferase (PST) não funciona adequadamente para fazer a destoxificação dos

fenóis, o sistema imune pode ser severamente afetado. Fenóis podem causar

sobrecarga tóxica e/ou estimular respostas alérgicas. A exposição a compostos

fenólicos pode causar deprimir a serotonina enquanto eleva a histamina e

prostaglandinas. Substâncias fenólicas (como os derivados de petróleo) podem

reduzir as células T-supressoras ou o total de células T (MATTHEWS, 2008).

Os fenóis sobrecarregam o sistema de destoxificação, exterminando muitos dos

antioxidantes necessários para as funções imunes, como as vitaminas A, C e E,

além da glutationa, importante para a relação Th1 e Th2 (MATTHEWS, 2008).

Estudo recente avaliou os antioxidantes plasmáticos de crianças e adolescentes

autistas e encontrou níveis significativamente reduzidos (KRAJCOVICOVA-

KUDLACKOVA, 2009). O mercúrio também bloqueia a sulfatação, além de deprimir

diretamente as funções imunes. Achandos recentes mostraram que pequenas doses

de mercúrio estimula mastócitos a liberar fator de crescimento endotelial vascular

(VEGF) e interleucina-6 (IL-6), uma citocina inflamatória, ambos responsáveis por

causar disrupção na barreira hemato-hencefálica e inflamação no cérebro

(KEMPURAJ, 2010).

Outras citocinas inflamatórias começaram recentemente a ser estudadas no

autismo. A interleucina-23 (IL-23) é um fator de sobrevivência recém-descrito para

uma população especial de linfócitos T, ou seja, as células Th-17, que secretam IL-

17, TNF-alfa e IL-6. Tem sido demonstrado que as células Th-17 são um

subconjunto de células T patogênicas envolvidas na auto-imunidade e doenças

Page 59: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

51

inflamatórias crônicas. Com base nas evidências crescentes de disfunção

imunológica no autismo, incluindo, possíveis processos auto-imunes e inflamatórios,

um grupo de pesquisadores avaliou pela primeira vez as células Th17 de indivíduos

autistas e demonstrou que os níveis de citocinas IL-23 foram significativamente

diferentes em crianças com autismo em comparação aos controles com

desenvolvimento típico, porém, não houve diferença estatística na IL-17 em

comparação aos controles. A diminuição da produção de IL-23 plasmática

observado em crianças com autismo pode exercer um efeito sobre a produção e

sobrevivência das células Th-17, contribuindo para condições as neuroinflamatórias,

como a observada no autismo (ENSTROM, 2008).

Page 60: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

52

2.4.7 Deficiências Nutricionais comuns no Autismo

Deficiências nutricionais são comuns no autismo, o que acarreta em muitos

desbalanços bioquímicos e sintomas comuns do transtorno. Enquanto a maioria das

crianças com autismo tem uma alimentação limitada em nutrientes, mesmo que ela

consuma uma dieta variada e nutricionalmente adequada, ela precisa ser capaz de:

(1) digerir e quebrar adequadamente o alimento até uma forma absorvível; (2)

absorver os nutrientes através de um trato GI saudável; (3) converter os nutrientes a

uma forma utilizável em nível celular. Infelizmente, a maioria das crianças com TEA

são incapaz de executar essas três funções.

As deficiências mais comuns nos TEA incluem as vitaminas B6, B1, B3, B5, B12, A e

C, ácido fólico, biotina, taurina, zinco, selênio, magnésio e ácidos graxos essenciais

(MCCANDLESS, 2004). O estudo de Vagellar em 2000 avaliou o “status” nutricional

de 20 crianças autistas e demonstrou que mais de 50% apresentavam baixos níveis

desses nutrientes (KIDD, 2002). E estudo mais recente encontrou níveis

insuficientes de licopeno e vitaminas A e E no plasma de autistas, indicando baixo

consumo de alimentos fontes (KRAJCOVICOVA-KUDLACKOVA, 2009).

James Adams, em 2006 encontrou níveis de piridoxina 75% maiores em autistas,

resultado consistentes com a revisão de trabalhos anteriores, que esclarece seus

resultados aparentemente contraditórios: (1) a enzima piridoxal-quinase tem uma

atividade muito baixa em autistas e (2) os níveis da vitamina ativa, piridoxal-5-fosfato

(P5P) são anormalmente baixos em crianças com autismo, mostrando uma

inabilidade da enzima em converter a piridoxina em P5P, sua forma ativa

(MATTHEWS, 2008)..

Para determinar as deficiências nutricionais alguns exames laboratoriais são

oferecidos por laboratórios, nacionais e internacionais. Os testes funcionais

mensuram status de vitaminas e minerais, além de metais tóxicos (painel de

minerais no cabelo, sangue total e eritrócitos), função hepática de vias específicas,

níveis de aminoácidos plasmáticos, painel de ácidos graxos, avaliação da digestão,

absorção e perfil de microorganismos nas fezes.

Page 61: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

53

Essas análises auxiliam muito o profissional a escolher a melhor forma de

suplementação e intervenção dietética, entretanto, como todos os exames, não são

perfeitos já que dependem de interpretação humana e entendimento científico. Não

é possível mensurar, por exemplo, o nível exato de neurotransmissores ativos no

cérebro avaliando aminoácidos e outras matérias primas. No entanto, juntando todas

as “peças do quebra-cabeça”, exames laboratoriais e avaliação de sinais e sintomas,

nos permite um entendimento melhor do paciente, assim como a escolha da

intervenção nutricional mais adequada.

2.4.7.1 Avaliação laboratorial do estado nutricional

Painel de ácidos graxos (sangue): avaliação dos ácidos graxos EPA, DHA, GLA e

outros, juntamente com as proporções necessárias para função cerebral e resposta

inflamatória apropriadas. Feito no exterior (Great Plains Laboratory, Genova

Diagnostics, Metametrix Clinical Laboratory)

Painel de Aminoácidos (urina e sangue): a análise de urina é preferencial. Ajuda a

avaliar deficiências nutricionais e marcadores bioquímicos e metabólicos, usados na

metilação, na formação de neurotransmissores e outros. Teste realizado no exterior

(Great Plains Laboratory, Genova Diagnostics, Metametrix Clinical Laboratory)

Painel de Minerais ou Mineralograma (sangue total e eritrócitos): avalia o estado

nutricional dos minerais no sangue total (plasma + intracelular) e somente no

eritrócito (intracelular). Feito no exterior (Great Plains Laboratory, Genova

Diagnostics, Metametrix Clinical Laboratory) e no Brasil, a avaliação do sangue total

(Biominerais e Toxilab)

Estresse oxidativo: Muitos testes podem ser feitos, incluindo estado de Coenzima

Q10, estado de peroxidação lipídica (soro), 8-hidroxi-2’-deoxiguanosina (urina),

marcador de dano oxidativo, entre outros testes. Alguns são realizados somente no

exterior (Metametrix Clinical Laboratory) e outros também no Brasil.

Vitaminas e antioxidantes totais (sangue): avaliação de vitaminas no soro. Podem

ser feitos em separado, alguns necessitando de interpretação. Vitamina D (25-

Page 62: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

54

hidroxi vitamina D3 ou 25-OH-D3, é o hormônio ativo), vitamina B12, ácido fólico,

ferritina (reserva de ferro), ceruloplasmina (análise de cobre e ferro), fosfatase

alcalina (auxilia avaliação de vitamina B6), cálcio iônico e PTH, entre outros. Testes

realizados no Brasil.

Perfil Lipídico (colesterol e frações e triglicerídeos): a avaliação do colesterol é

fundamental no autismo, pois muitas crianças possuem colesterol baixo devido a

uma desordem genética chamada Síndrome de Smith-Lmni-Optiz (SLOS), que

causa deficiência de colesterol e provoca sintomas autísticos, além de ser comum

no autismo em geral. A suplementação de colesterol pode reverter muitos sintomas

do autismo na SLOS (TIERNEY, 2006;TIERNEY, 2000).

Page 63: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

55

2. 5 INTERVENÇÕES NUTRICIONAIS NO AUTISMO: UMA VISÃO FUNCIONAL

Segundo Hipócrates, pai da medicina moderna, "Toda a doença começa no

intestino”, e isso certamente se mostra verdadeiro no autismo. Conforme descrito no

capítulo anterior, a digestão e a saúde do intestino afetam o cérebro por diversos

mecanismos, refletindo em muitos dos sintomas vistos no autismo.

O alimento interage constantemente com o intestino e pode ter um profundo impacto

nesses sintomas. Eliminar os alimentos ofensivos e que contribuem para infamação,

desencadeiam respostas imunes (sensibilidades alimentares), e aumentam a

toxicidade, é crucial. Em contrapartida, é essencial adicionar alimentos que

oferecem suporte para as funções do organismo, através do fornecimento dos

nutrientes necessários.

O entendimento de que intestino e cérebro estão conectados ajuda a explicar porque

os sintomas do autismo e a saúde em geral melhoram através de uma alimentação

que oferece suporte para a digestão, saúde gastrointestinal (GI) e processos

bioquímicos. Existe uma estreita relação entre bioquímica e saúde GI, visto que

todos os processos celulares que requerem energia, nutrientes e enzimas para a

sua função, requerem uma digestão adequada, capaz de absorver todos os

nutrientes necessários para estes processos.

Estado de deficiência nutricional, incapacidade para digerir e absorver nutrientes,

limitação de um nutriente particular, ou uma incapacidade para converter um

nutriente em sua forma ativa, pode comprometer os processos bioquímicos. Por

isso, a alimentação é determinante. Oferecendo suporte à digestão e processos

bioquímicos de todo o organismo por meio da nutrição e uso de dietas específicas, é

possível melhorar os sintomas do autismo. A seguir serão elucidadas algumas das

intervenções nutricionais no autismo, direcionada aos problemas mais comuns desta

população, conforme descrito no capítulo anterior.

Page 64: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

56

2.5.1 Hiperpermeabilidade e Inflamação Intestinal

Primeiramente deve-se melhorar a digestão e recuperação da mucosa intestinal,

reduzindo a inflamação. Esses são passos importantes, que irão auxiliar todo o

tratamento nutricional, devido à influência da saúde GI sobre todos os processos

bioquímicos do organismo. Seguindo o princípio dos 4R’s, devemos:

1. Remover: patógenos intestinais, alergenos alimentares e xenobióticos. É

preciso eliminar todos os alimentos que inflamam o intestino - alimentos

alergênicos (glúten, caseína, soja, milho, ovos, são os mais comuns,

dependendo da individualidade); eliminar alimentos ricos em pesticidas e

aditivos alimentares; auxiliar na redução de microorganismos patogênicos

através do consumo de alimentos com propriedades antifúngicas, antibióticas

e antiparasitárias (óleo de coco virgem, sementes de frutas cítricas, semente

de abóbora e de melão, alho, cebola, orégano, cúrcuma, tomilho e outras

ervas); aumentar a freqüência evacuatória, diminuindo o contato das toxinas

com o intestino. Priorizar uma ótima hidratação e consumo de fibras;

2. Recolocar: enzimas digestivas e reequilibrar o pH estomacal, por meio de

chás digestivos e estimulantes do HCl (alecrim, sálvia, gengibre, canela, erva-

doce, hortelã cidreira, etc.), limão, vinagre de maçã crú, abacaxi, aloe vera.

Essa última também é rica em enzimas digestivas e auxilia na reparação da

mucosa.

3. Reinocular probióticos: recomendar o uso de alimentos fermentados, como

kefir de água de coco verde, kefir de leites vegetais, kefir de água, vegetais

fermentados, como chucrute caseiro (não pasteurizado), além de

suplementos de probióticos com pelo menos 5bilhões de UFC. É importante

prover a matéria-prima para fermentação pelas bactérias benéficas,

oferecendo alimentos prebióticos, ricos em fibras solúveis e fermentáveis,

como FOS, inulina ou amido resistente (banana verde, alho, cebola, raiz de

bardana, batata yacon, aspargo, lentilha, feijão, ervilha, raiz de chicória,

alcachofra de Jerusalém, mel, entre outros).

4. Reparar a mucosa intestinal: através de uma dieta não irritativa, com a

exclusão de açúcar, farinhas refinadas, frituras, gordura trans, café, chá preto,

refrigerantes, cacau, alimentos industrializados em geral; o reparo da mucosa

Page 65: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

57

é feito com aporte de nutrientes necessários para a regeneração e

proliferação celular, e deve ser feito através de uma alimentação equilibrada e

variada, além de suplementos alimentares. Os nutrientes prioritários neste

processo são: zinco, vitaminas E, A, C, B12, ácido fólico, glutamina, além de

antioxidantes e antiinflamatórios (ômega-3, óleo de linhaça, gengibre, alho,

açafrão, aloe vera). Pode ainda se pensar nas frutas e vegetais crus, fontes

de fibras solúveis para produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC)

pelas bactérias probióticas. Os AGCC servem de energia para as células

intestinais, assim como a glutamina, combustível principal dos enterócitos. O

óleo de coco virgem é rico em triglicerídeos de cadeia média (TCM) e a

manteiga Ghee é fonte de butirato, um AGCC.

2.5.2 Deficiências Nutricionais

É papel do nutricionista buscar a melhora da qualidade da alimentação, adequando

tanto em quantidade quanto em qualidade e variedade, com o objetivo de ofercer

todos os nutrientes necessários para a complexidade de processos bioquímicos do

organismo. Para que a absorção desses nutrientes ocorra adequandamente, é

necessário um TGI saudável e funcional. Então, melhorar a digestão é de extrema

importância para se obter a variedade de nutrientes provenientes dos alimentos e

suplementos nutricionais. Algumas das estratégias que podem ser utilizadas são:

1. Melhorar a digestibilidade dos alimentos: socar, hidratar e germinar grãos

aumenta a sua digestibilidade, hidratar e germininar sementes e oleaginosas,

fermentar os vegetais; sucos vegetais aumentam a digestibilidade e

densidade de nutrientes;

2. Melhorar a qualidade nutricional da dieta: umentar o consumo de alimentos

ricos em nutrientes, como vegetais, frutas, cereiais integrais, sementes; além

de retirar toda a alimentação vazia; Como grande parte das crianças, autistas

frequentemente tem um baixo consumo de hortaliças. Além de apresentar de

diferentes formas à crianças, adicioná-las às preparações de forma

imperceptível também é uma forma de aumentar os nutrientes da dieta;

Page 66: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

58

3. Esconder as verduras e legumes para as crianças autistas que são altamente

seletivas na escolha da comida, popularmente conhecidas como “picky

eaters”, ou “comedores exigentes”. Adicionar vegetais nos sucos,

almôndegas, panquecas, muffins, molhos e sopas é uma boa maneira de

disfarçá-los;

4. Suplementação nutricional: vitaminas, minerais, ácidos graxos e aminoácidos

quando necessário, podem ser prescritos, visto a dificuldade de obter níveis

ótimos da alimentação nesses casos.

2.5.3 Supercrescimento de Leveduras

A levedura é um microorganismo prejudicial que pode afetar o nível de energia,

clareza de pensamento e saúde intestinal, na maioria das vezes, desencadeado pelo

uso de antibióticos. Conforme descrito anteriormente, seu crescimento gera

inflamação no intestino e reduz a função intestinal. As seguintes intervenções

nutricionais podem auxiliar no combate/controle dos fungos:

1. Remover açúcar e todos os doces, principal fonte para fermentação e

crescimento dos fungos;

2. Remover alimentos que promovem fermentação por fungos: principalmente

amidos e farinhas refinadas (biscoitos, bolos, pães). O açúcar das frutas,

especialmente frutas secas e sucos de frutas, contém maiores quantidades

de açúcar, e pode ser um problema para alguns; É prudente evitar as frutas

mais doces e altamente fermentáveis, como uva, maçã, laranja; Algumas

dietas, descritas mais a frente, eliminam todos os amidos ou todas as frutas.

3. Remover da dieta os alimentos que contêm fungos: fermento de pão e

alimentos freqüentemente contaminados por bolores (frutas secas,

oleaginosas, alguns cereais, carnes e queijos curados, vinagres, melão,

melancia, entre outros);

4. Suplementar probióticos e alimentos fermentados: para criar um ambiente

competitivo com as leveduras e bactérias patogênicas.

Page 67: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

59

2.5.4 Toxicidade e Destoxificação Insuficiente

Quando o sistema de destoxificação não está funcionando otimamente ou está

sobrecarregado por toxinas pré-existentes, evitar toxinas adicionais provenientes da

dieta é importante. Estes produtos químicos conseguem atravessar a barreira

hemato-encefálica e afetar o cérebro, criando hiperatividade, agressividade,

irritabilidade e comportamento de auto-agressão. Algumas medidas a serem

tomadas:

1. Evitar aditivos alimentares: ingredientes artificiais são todos muito difíceis

para o organismo processar. Dentre eles, os mais deletérios são: corantes

artificiais (vermelho 40# e amarelo tartrazina), flavorizantes (vanilina),

conservantes (BHA e BHT), glutamato monossódico, adoçantes artificiais,

hidrolisado de proteínas vegetais, autolisado de leveduras, extrato de

leveduras e gordura trans;

2. Evitar alimentos e preparações que possam conter toxinas: (a) de

microorganismos, bactérias e bolores, evitar o consumo de alimentos

preparados e armazenados por mais de dois dias, frutas e verduras

estragadas (b) metais pesados, como o alumínio presente nas panelas, na

água tratada, no papel alumínio e alimentos enlatados; (c) migrantes de

embalagens, como o plástico de utensílios de armazenamento, copinhos

plásticos, garrafas pet, etc.; (d) contaminantes de origem animal e vegetal,

drogas veterinárias usada na criação de animais, como promotores de

crescimento, antibióticos, esteróides, além dos metais pesados provenientes

de peixes e frutos do mar (mercúrio, cádmio e arsênico), e pesticidas usados

na agricultura convencional;

3. Consumir alimentos orgânicos: livres xenobióticos e metais pesados

(dependendo do solo) e não transgênicos (organismos geneticamente

modificados - OGM). O gado deve ser livre e alimentado com pasto (sem

agrotóxico), os ovos e frangos devem ser orgânicos, garantindo que não

sejam contaminados por arsênico. Orgânicos normalmente contêm mais

vitaminas e minerais, portanto são mais nutritivos.

4. Adicionar alimentos que dão suporte ao fígado: nutrientes que participam da

destoxificação hepática (zinco, cobre, vitamina A, B2, B3, B5, B6, B12, ácido

Page 68: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

60

fólico, ferro, colina); compostos enxofrados, sendo as brássicas a principal

fonte, além do alho. Outros alimentos e fitoterápicos que dão suporte para o

fígado podem ser utilizados: silimarina (cardo mariano), resveratrol, dente-de-

leão, chá verde, boldo, alcachofra, própolis, extrato de arroz integral, aloe

vera, entre outros.

2.5.5 Metilação, Transulfatação e Sulfatação Prejudicadas

Conjunto de reações bioquímicas que não funcionam adequadamente em muitas

crianças com autismo. Essas vias podem ser melhoradas através do fornecimento

dos nutrientes necessários e redução/ eliminação de substâncias que

sobrecarregam essas vias.

1. Excluir os alimentos ricos em compostos fenólicos: é importante limitar os

alimentos ricos em fenóis e salicilatos. Fenóis artificiais estão presentes em

aditivos derivados de petróleo, como todos os corantes e flavorizantes e

conservantes artificiais. Mesmo os fenóis naturais, os salicilatos, encontrados

em muitas frutas, vegetais e oleaginosas, como uvas, passas, maçãs,

morangos, amêndoas, mel, e outros, podem gerar diversas alterações de

comportamento, sintomas emocionais e físicos.

2. Auxiliar as vias da metilação e sulfatação através de suplementação:

nutrientes que podem dar suporte para essas vias bioquímicas são os

doadores de metil e nutrientes que participam como cofatores enzimáticos da

metilação e transulfatação (vitamina B12, ácido fólico, vitamina B6, zinco,

magnésio, colina, DMG e TMG (betaína) e molibdênio) são importantes

suplementos a se considerar. O consumo de alimentos ricos em doadores de

metil, como o MSM (metil-sulfonil-metano), destaque para a couve, é

recomendado, além da ingestão dos outros nutrientes.

Segue exemplo de algumas fontes alimentares de nutrientes importantes para os

processos descritos:

Page 69: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

61

Beta caroteno e vitamina A: cenoura, batata doce, damasco, abóbora,

abóbora, melão, manga, couve, couve, espinafre, brócolis, óleo de fígado de

bacalhau, manteiga Ghee, fígado e gema de ovo

Vitamina C: batata doce, abóbora, brócolis, couve-flor, folhas verdes, cítricos;

Vitamina B6: semente de girassol, pistache, nozes, lentilhas, feijão, farelo de

arroz, melado;

Vitamina B12: fígado, ovos, peixes, cordeiro, vaca;

Ácido fólico: feijão, germe de arroz, fígado, aspargos, brócolis, bananas;

Ferro: melado, fígado, semente de abóbora, ovo de pata;

Zinco: semente de abóbora, nozes, legumes, gengibre, aveia

Magnésio: batata doce, abóbora, brócolis, folhas verdes, algas marinhas,

cereais integrais, nozes, castanhas, leguminosas;

Cálcio: gergelim, semente de girassol, brócolis, couve, folhas verdes,

abóbora, algas marinhas, nozes;

Ômega 3: peixes e óleo de fígado de bacalhau, semente de linhaça, semente

de abóbora, sementes de cânhamo, gema de ovo (orgânico)

Page 70: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

62

2.6 INTERVEÇÕES DIETÉTICAS NO AUTISMO: DIETAS ESPECIAIS

A dieta é uma estratégia intencional quanto à ingestão de alimentos. Existem dois

principais focos na intervenção dietética do autismo. Primeiro, a remoção de

alimentos ofensores, ingredientes artificiais e alimentos vazios, seguido da adição de

alimentos nutritivos, fundamentais para o sucesso da intervenção dietética na

criança.

Neste capítulo serão descritas as principais dietas utilizadas no tratamento do

autismo em todo o mundo, popularmente conhecidas como “Dieta Especiais para o

Autismo” (ASD Special Diets). As particularidades de cada uma, assim como a

indicação de seu uso são pautadas nas teorias descritas anteriormente e nas suas

implicações refletidas no organismo dos indivíduos com TEA.

As dietas mais utilizadas e com maior eficácia, conforme o levantamento do ARI

incluem a Dieta do Carboidrato Específico (SCD), seguida da Dieta Sem Glúten e

Sem Caseína (SGSC) (ARI, 2009 ). Além destas, a dietas de Eliminação, de

Rotação, da Síndrome do Intestino e Psicologia (GAPS), da Ecologia do Corpo

(BED), Feingold, Pobre em Oxalato e Weston A. Price são também utilizadas par o

autismo e serão descritas a seguir:

2.6.1 Dieta Sem Glúten e Sem Caseína (SGSC)

Normalmente a dieta SGSC é o ponto de partida na jornada de intervenções

dietéticas no autismo e costuma ser a base de muitas outras dietas mais

avançadas. As informações a cerca da dieta são bastante abundantes e o mercado

é cada vez mais favorável àquele que precisam restringir glúten e caseína.

Como afirmado anteriormente, esta dieta elimina o glúten, proteína encontrada em

trigo, centeio, cevada, espelta (trigo vermelho), kamut (variedade de trigo), aveia

comercial, e caseína, proteína encontrada em produtos lácteos. Estas proteínas

podem ser muito inflamatórias levando a problemas digestivos, tais como diarréia,

constipação, gases, flatulência, bem como confusão mental e falta de atenção.

Page 71: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

63

Muitos pais consideram a dieta de exclusão do glúten e caseína uma intervenção

muito efetiva e relatam melhorias em vários níveis: digestão, comunicação verbal,

contato visual, conexão e outros. De acordo os resultados da pesquisa do ARI , 69%

dos pais reportam notável melhora nos sintomas com a dieta SGSC. No entanto,

55% dos pais que implementam uma dieta de eliminação de somente glúten ou

caseína, relatam melhora significativa. Várias hipóteses têm sido sugeridas para

explicar esses resultados positivos, conforme já apresentado no capítulo anterior.

Knivsberg e colaboradores relataram em um estudo duplo-cego de uma dieta de

eliminação de glúten e caseína, com testes feitos antes e depois de um ano,

mostrando melhorias estatisticamente signifcantes no grupo da dieta com relação ao

distanciamento social, rotinas e rituais, e respostas para a aprendizagem

(KNIVSBERG, 2002). Em seu trabalho Elder comentou sobre relatórios notáveis de

pais e professores de crianças serem "curados" de autismo pela implementação com

dietas livre de glúten e de caseína, adquiririndo linguagem e notável entrosamento

social. Seu artigo descreve um estudo prévio com 149 crianças diagnosticadas com

autismo submetidas a dieta SGSC, com 81% das crianças apresentando melhora

em 3 meses (ELDER, 2006).

Vojdani e colaboradores mediram os anticorpos IgG, IgM e IgA contra gliadina e

caseína, proteína básica da mielina do cérebro, ovo, milho e soja em 50 crianças

com diagnosticadas com autismo. Análises indicaram que um número signifcante de

crianças desenvolveram anticorpos contra caseína e gliadina. Além disso, foi

demonstrado que a caseína e a gliadina ligam-se a linfócitos enzima CD26

tecidual, sugerindo o um gatilho para infamação e resposta imune (ELDER, 2006).

Essa discussão indica que mais de um mecanismo suporta a hipótese que justifica a

escolha de um dieta isenta de glúten e caseína para o autismo (VOJDANI, 2003).

Sem dúvida essa é a intervenção dietética mais utilizada por pacientes autistas,

porém muitos estudos ainda buscam verificar a sua validade. Uma recente revisão

procurou determinar a eficácia da dieta livre de glúten e / ou caseína na melhora do

comportamento, funcionamento cognitivo e social em indivíduos com autismo,

encontrou somente 35 ensaios clínicos randomizados, amostra pequena para

realizar uma meta-análise. Destes apenas três tratamentos obtiveram significativos

Page 72: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

64

efeitos a favor da intervenção dietética, três resultados não mostraram diferença

significativa entre os grupos da dieta e controle. Dez estudos não puderam ser

calculados porque os dados foram distorcidos e nenhum estudo relatou

desvantagens ou danos com a dieta (MILLWARD, 2009).

Embora a eliminação do glúten e da caseína da dieta possa ser útil, muitos

pacientes geralmente necessitam de refinamentos posteriores dessa dieta, adotando

outras abordagens dietéticas.

2.6.2 Dieta do Carboidrato Específico (Specific Carbohydrate Diet - SCD) e Dieta da

Síndrome do Intestino e Psicologia (Gut and Psychology Syndrome - GAPS)

A Dieta do Carboidrato Específico (SCD) é uma dieta que elimina todos os açúcares

complexos, incluindo a remoção do melado, açúcar de cana, o néctar de agave,

xarope de arroz, de mandioca, de milho, e outros. Ela também remove todos os

amidos e féculas, tais como grãos, cereais e tubérculos. Não se trata de uma dieta

de baixo carboidrato ("low carb"), mas de carboidrato específico ("specific carb"). Os

carboidratos nessa dieta são predominantemente açúcares simples

(monossacarídeos), como o mel, frutas, iogurte corretamente fermentado e alguns

vegetais. A dieta também permite a ingestão de carnes, peixes, ovos, nozes, alguns

tipos de feijão e lentilha após hidratar, e todos os vegetais não-amiláceos.

A SCD foi idealizada por Elaine Gotschall, inicialmente como um tratamento para a

colite ulcerativa, sendo posteriormente popularizada entre a comunidade autista

como um meio de tratar os sintomas gastrointestinais e possíveis problemas

comportamentais.

A SCD tem como objetivo reduzir a inflamação no intestino, baseada na premissa de

matar de fome os microorganismos patogênicos, restabelecendo a saúde intestinal.

Essa teoria é apresentada no livro “Breaking the Vicious Cycle”, que descreve o ciclo

que se estabelece como resultado da má digestão de carboidratos complexos. Os

CHO que não são digeridos e absorvidos, permanecem no intestino e são

fermentados pelos microorganismos. O supercrescimento de levedura e bactérias

Page 73: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

65

resulta em disbiose, subprodutos bacterianos e fúngicos, e produção de muco, mas

também pode causar injúria na mucosa intestinal, contribuindo para digestão

deficiente dos dissacarídeos, criando assim, um ciclo vicioso. SCD é baseada na

premissa de não oferecer matéria-prima para o crescimento dos fungos e assim

restabelecer a saúde intestinal (GOTTSCHALL, 2007).

Normalmente a SCD não é a primeira dieta de escolha por ser mais restritiva que a

dieta SGSC e de mais difícil aplicação. No entanto, na presença de condições

inflamatórias intestinais significativas, alguns pais iniciam direto com a SCD.

Segundo a nutricionista DAN, Jullie Matthews, a SCD é uma dieta ideal para o

autismo, porém normalmente é aplicada quando a dieta SGSC não é suficiente e os

problemas digestivos permanecem ou quando benefícios adicionais são almejados

com a evolução das dietas (MATTHEWS, 2008).

Uma variação da SCD é a dieta “Gut and Psychology Syndrome” (GAPS), que

estabelece uma conexão entre as funções do sistema digestivo e o cérebro. Este

termo foi criado pela Dra. Natasha Campbell McBride em 2004, após trabalhar com

centenas de crianças e adultos com doenças neurológicas e psiquiátricas, como

TEA, TDAH, esquizofrenia, dislexia, dispraxia, depressão, transtorno obsessivo-

compulsivo (TOC), transtorno bi-polar e outros problemas neuropsicológicos e

psiquiátricos. Ela usa os mesmos fundamentos da SCD, mas com inclui outros

princípios, como o uso de alimentos fermentados e caldos/brodos nutritivos

(CAMPBELL-MCBRIDE, 2010).

2.6.3 Dieta da Ecologia do Corpo (The Body Ecology Diet™ - BED)

Donna Gates foi pioneira da BED, que centra na reconstrução da imunidade e da

microbiota intestinal. Esta dieta usa princípios tradicionais de cura, como o uso de

alimentos fermentados (Kefir de coco verde e fermentação caseira de vegetais);

alimentos alcalinizantes (vegetais são os principais), alimentos de fácil digestão,

princípios da combinação de alimentos, limitação/exclusão de açúcar e amido entre

outras recomendações direcionadas ao supercrescimento de leveduras e promoção

do reequilíbrio da microbiota intestinal (GATES, 2006). Os benefícios desta

Page 74: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

66

abordagem no autismo são apoiados por estudos sobre a microbiota intestinal nesta

população (FEINGOLD, 2010). Utilizando uma dieta limitada em carboidratos

simples em um modelo animal, Vargas observou a redução da colonização por

Candida (VARGAS, 1993).

Semelhante à dieta macrobiótica, a BED recomenda o uso de algas e grãos menos

amiláceos e acidificantes, como quinoa, amaranto, trigo-sarraceno, painço,

propriamente hidratados e germinados para permitir fácil digestão. Grãos como

arroz, trigo e aveia não são permitidos, além de frutas e leguminosas nos primeiros

estágios da dieta. Cada refeição deve ser combinada e seguir a proporção da regra

80:20, com 80% de vegetais sem amido e 20% de proteínas ou grãos. Não é

permitida a combinação de proteínas com vegetais amiláceos, pois, segundo os

princípios da dieta, necessitam de pH estomacal diferentes, sendo neutralizado

quando consumidos em associação, permitindo a fermentação do amido pelas

leveduras. Produtos lácteos não são incentivados inicialmente, pois a lactose serve

de substrato para os fungos, porém o uso de Ghee é investigado em uma fase

posterior (GATES, 2006).

Embora a BED seja difícil de implementar, é uma dieta equilibrada, que retorna a

atenção para o poder de alimentos tradicionais e o uso de alimentos fermentados

em favor de uma microbiota intestinal saudável. É considerada uma das dietas de

base da intervenção nutricional do autismo, tendo 58% de aprovação pelos pais,

juntamente com outras dietas antifúgicas, segundo levantamento do ARI que relatam

incrementos significativos na digestão e outros quesitos (ARI, 2009 ).

2.6.4 Dieta Weston A. Price (WAP) / Nutrindo Tradições (Nourishing Traditions)

Desenvolvida na década de 1930 e 1940 por Weston A. Price, após estudar as

culturas indígenas em vários lugares no mundo antes da globalização, na busca de

uma conexão entre nutrição e saúde nessas populações. Price verificou que todas

as culturas que tinham uma dieta mais balanceada, a base de vegetais e alimentos

de origem animal, eram mais saudáveis. Nesta época os alimentos processados e

aditivos alimentares estavam recém sendo introduzidos, inclusive na cultura

Page 75: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

67

indígena, influenciadas pela alimentação moderna. O autor pode então observar os

efeitos da dieta ocidental versus as dietas tradicionais indígenas (PRICE, 2010).

Suas pesquisas estão publicadas em seu livro “Nutrition and Physical Degeneration”,

um alerta sobre os malefícios da ocidentalização e mecanização da produção de

alimentos sobre a saúde. Em 1970 os fundamentos de Price para uma alimentação

saudável foram popularizados por Sally Fallon no livro “Nourishing Traditions”

(FALLON, 2001).

A Fundação Weston A. Price promove o retorno ao antigo modo de viver e produzir

alimentos, que suporta a saúde dos animais e das pessoas que se alimentam

destes, além da qualidade da terra para produção de vegetais (PRICE, 2010).

Alguns dos princípios desta dieta incluem o consumo de: gorduras de boa qualidade,

como ovos, manteiga, leite, carnes, todos orgânicos e alimentados com pasto, além

de óleo de coco virgem; laticínios crus, não pasteurizados; grãos, leguminosas e

sementes hidratados e germinados; brodos e caldos nutritivos; alimentos lácteos

fermentados; além, é claro, de abolir os alimentos da cultura moderna, como todos

os industrializados contendo aditivos, alimentos a base de soja (exceto fermentados)

e açúcar refinado.

Essa dieta é rica em ômega-3, gorduras saturadas (de boa qualidade) e colesterol,

todas importantes para o desenvolvimento neurológico e funções celulares. Mas seu

uso deve ser avaliado individualmente, principalmente para aqueles com

comprometimento da vesícula biliar e dificuldade na digestão de gorduras.

2.6.5 Dieta Anti-Fúngica (Feast Whithout Yeast)

Esta é a dieta mais básica e popular das dietas anti-candida, baseada no livro “Feast

Whithout Yeast” (SEMON e KORNBLUM, 1999). Apesar de restritiva, é umas das

menos complicadas dentre as dietas antifúngicas conhecidas, pois restringe o

consumo de alimentos que alimentam a Candida: açúcares, incluindo frutas e

carboidratos refinados, alimentos fermentados (exceto fermentação por

lactobacilos), alimentos mofados, envelhecidos e curados (ex: carnes e queijos) e

Page 76: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

68

fermento biológico usado em pães e massas. Além disso, restringe ou recomenda a

redução de trigo, lácteos, ovos, corantes artificiais, flavorizantes e conservantes,

baseando-se em uma alimentação saudável e natural.

Assim como a maioria dos protocolos antifúngicos, a maioria dos alimentos

fermentados não é recomendada. No entanto, muitos estudos têm demonstrado os

benefícios do consumo de probióticos (BOIRIVANT e STROBER, 2007;CULLIGAN,

2009;HART, 2009;KAUR, 2009), assim como alimentos contendo probióticos, por

exemplo, chucrute “cru”, kefir, kombucha e vinagre de maçã não-pasteurizado, ricos

em lactobacilos, os quais desempenham um papel fundamental no restabelecimento

da microbiota saudável e controle do crescimento desordenado de leveduras,

associado à melhora na função imune.

Maior precaução no uso dos alimentos fermentados deve-se ter em indivíduos com

forte sensibilidade (IgG) ao fermento biológico e levedo de cerveja, visto que alguns

alimentos como o kefir e kombucha, também contém leveduras. Não obstante,

possuam cepas de leveduras probióticas, como o Saccharomycies Boulardii, que

tem demonstrado eficácia em doenças inflamatórias e infecciosas do trato

gastrintestinal em ensaios clínicos randomizados, duplo-cego controlados. Os

mecanismos de ação de S. boulardii dependem, principalmente, da inibição de

algumas toxinas bacterianas, efeitos antiinflamatórios e efeitos estimulantes sobre a

mucosa intestinal, tais como estímulo trófico das enzimas da borda em escova e

efeitos imunoestimulador. Em pediatria há evidências de que S. boulardii é benéfico

para o tratamento de gastrenterites agudas e prevenção da diarréia associada a

antibióticos (VANDENPLAS, 2009). Revisão sistemática e meta-análise comprova a

segurança e eficácia do uso deste probiótico em várias doenças, porém, mais

ensaios clínicos são incentivados para o tratamento de doenças inflamatórias

crônicas (doença de Crohn, síndrome do intestino irritável e diarréia relacionada com

o HIV) e prevenção de recorrências de Clostridium difficile (MCFARLAND, 2010).

A dieta antifúngica para o autismo normalmente está associada a outras dietas,

como a SGSC, restrição ou rotação dos alimentos alergênicos, eliminação dos

produtos industrializados, GMS, corantes, conservantes e adoçantes artificiais.

Page 77: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

69

2.6.6 Dieta Pobre em Fenóis (Feingold Diet e Failsafe Diet – Low Phenols)

A dieta de Feingold (1985) foi descrita primeiramente no livro “Why your child is

hyperactive”. Os fundamentos da dieta baseiam-se nos benefícios da restrição

alimentar em crianças com TDAH. O autor, Ben Feingold, prevê várias melhorias

comportamentais após a eliminação dos corantes alimentares e flavorizantes. Na

observação de Feingold, a eliminação de aditivos alimentares da dieta de seus

pacientes hiperativos leva a um de declínio dramático dos sintomas, podendo

inclusive eliminar o uso de medicamentos (FEINGOLD, 2010).

Além das substâncias sintéticas, ele também recomenda evitar os salicilatos

naturais, encontrados em uma variedade de frutas, como maçãs, damascos, frutas

vermelhas, cerejas, uvas, bananas, nectarinas, laranjas, pêssegos, ameixas, uvas e

passas, tomates e pepinos, além de amêndoas, nozes, amendoim, entre outros.

Dentre os aditivos artificiais, destacam-se a maioria dos cereais produzidos

industrialmente, lanches prontos, assados, peixes congelados, doces, bebidas com

adoçantes, sobremesas e outros alimentos que contenham aditivos sintéticos, como

corantes, flavorizantes, conservantes, realçadores de sabor e adoçantes artificiais

(BETH, 2010).

A deficiência da enzima fenol-sulfo-transferase (PST) é a responsável pelos

sintomas de sensibilidade aos salicilatos, que incluem olheiras profundas,

hiperatividade, dificuldade de adormecer à noite, riso inadequado e bater a

cabeça/rindo, hiperatividade e agressividade.

Uma variação da dieta Feingold é a Failsafe, descrita por Sue Dengate (2008) como

uma intervenção para indivíduos com TEA. Esta dieta preconiza a redução de

aditivos alimentares, salicilatos, aminas e realçadores de sabor, como o GMS

(MATTHEWS, 2008).

2.6.7 Dieta Pobre em Oxalato (Low Oxalate Diet)

Oxalato é um sal formado no fígado como produto residual do metabolismo de

aminoácidos. Também está presente em uma ampla gama de alimentos e bebidas,

Page 78: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

70

incluindo chá, café, chocolate, frutas e produtos hortícolas. O oxalato se liga a certos

minerais como o cálcio e forma cristais de oxalato. Normalmente, um intestino

saudável não absorve uma quantidade excessiva de oxalatos da dieta, pois são

metabolizados por enzimas de bactérias intestinais e excretados nas fezes

juntamente com o cálcio . A principal espécie de bactéria envolvida na degradação

de oxalato no intestino é a anaeróbia Oxalobacter formigenes, encontrada no cólon

de seres humanos (COLIN, 2004;DUNCAN, 2002).

A ausência ou redução deste microrganismo no intestino pode ser acompanhada da

elevação da concentração do oxalato urinário, aumentando o risco de formação de

cristais de oxalato. Estudos mostrando uma ligações entre a ocorrência de

nefrolitíase e a presença de Oxalobacter formigenes sugerem que a terapia com

antibióticos pode contribuir para a perda deste organismo da microbiota. No estudo

de Duncan, a doxiciclina, claritromicina e alguns outros antibióticos inibiram a

degradação de oxalato de duas cepas humanas de O. Formigenes (COLIN,

2004;DUNCAN, 2002;SIVA, 2009). Considerando que indivíduos autistas

frequentemente possuem histórico de uso de antibióticos e disbiose intestinal, esta

pode ser uma das razões para os níveis excesivos de oxalato nos testes de ácidos

orgânicos urinários desses pacientes, especialmente na presença de

supercrescimento de leveduras intestinais.

Estudos em animais e em voluntários humanos indicaram que, quando administrado

terapeuticamente, o O. formigenes pode se estabelecer no intestino e reduzir a

concentração de oxalato após administração de uma carga de oxalato, reduzindo

assim a incidência provável de formação de cálculos de oxalato de cálcio. Além

disso, a utilização de probióticos com bactérias lácticas que metabolizam oxalato

pode fornecer uma alternativa válida para o O. formigenes (DUNCAN, 2002;SIVA,

2009).

Na presença de hiperpermeabilidade intestinal os cristais de oxalatos podem

alcançar a corrente sanguínea e atingir altas concentrações no sangue, na urina,

nos tecidos e causar lesões. Nos tecidos, o oxalato leva à inflamação e dor. Esse

processo no intestino cria um ciclo vicioso com aumento da permeabilidade da

mucosa decorrente da inflamação, levando à absorção excessiva de oxalato. Nas

Page 79: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

71

células, o oxalato aumenta estresse oxidativo, depleta a glutationa e acentua a

inflamação relacionada ao sistema imunológico (MATTHEWS, 2008).

Diversos alimentos contêm oxalatos, em diferentes proporções, concentrando-se

nas raízes e talos. As maiores fontes são: soja e derivados, feijão branco,

amendoim, amêndoas, castanha de caju, trigos, espinafre, acelga, beterraba, couve,

salsinha, aipo, vagem, alho-poró, frutas roxas (berries), morango, kiwi, uvas tintas,

figo, tangerina, ameixa, cacau, chocolate e chá preto (OWENS, 2010). Não existem

evidências suficientes de que uma dieta com baixo oxalato seja necessária em caso

de oxalatos aumentados para indivíduos autistas. É possível que a correção da

disbiose intestinal e recuperação da permeabilidade intestinal sejam prioritárias, já

que pode ser uma das maiores causas do excesso de absorção de oxalatos.

2.6.8 Dieta Crudista (Raw Food Diet)

A alimentação crudista, crudívora ou “viva” é baseada no consumo de alimentos crus

e não processados. A “Alimentação Viva” preocupa-se com a vitalidade ou “Energia

Vital” de todos os alimentos. Segundo esse conceito, o alimento proveniente da terra

com maior vitalidade é o vegetal no início de seu crescimento e, por isso, as

sementes germinadas e brotos constituem as bases da Culinária Viva. As

informações básicas e fundamentais sobre a “Alimentação Viva” são encontradas

nos trabalhos da Dra Ann Wigmore, que escreveu vários livros sobre o assunto na

década de 80 na Califórnia – EUA. Embora o conhecimento sobre os benefícios

remonte a Hipócrates (Dieta Hipocrática), a autora tem o mérito de organizar e

popularizar o conhecimento que hoje se constitui num movimento ecológico baseado

no “Estilo de Vida da Alimentação Viva”. O programa culinário proposto por Ann

Wigmore se baseia no consumo de sementes em processo de germinação e de

brotação, acompanhado de verduras, legumes e frutas cruas, in natura, além dos

alimentos fermentados e desidratados. Segundo ela, as sementes quando

germinadas produzem grande quantidades de enzimas digestivas que facilitam o

processo digestivo de todos os alimentos, além de potencializarem a energia vital

em seu interior. Também os sucos e os alimentos fermentados são fontes de

Page 80: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

72

enzimas digestivas e carregados de energia vital. A culinária viva é então, um

conjunto de alimentos elaborados de forma que facilitem a digestão, sem

processamento pelo fogo e pelo resfriamento (FIOCRUZ, 2010).

No Brasil, os trabalhos sobre Alimentação Viva foram adaptados inicialmente pela

professora Ana Branco – Dep. de artes e design da PUC - Rio, que tem o mérito de

associar a arte com a saúde, através do laboratório de pesquisas do Biochip e

ampliado posteriormente pelo grupo Terrapia, constituindo uma parceria para

fortalecer o caminho da Promoção da Saúde no Centro de Saúde Escola Germano

Sinval Faria (CSE) da Escola Nacional de Saúde Pública-FIOCRUZ (FIOCRUZ,

2010).

Os princípios da “alimentação viva” baseiam-se na preservação das enzimas

presentes nos alimentos crus e da vitalidade dos mesmos, visto que o aquecimento

acima de 46ºC destrói as enzimas, além de muitas vitaminas e antioxidantes. Os

alimentos que necessitam cocção, como grãos, devem ser germinados para permitir

a digestão. Sementes e oleaginosas também devem ser hidratadas por 8h e/ou

desidratadas em baixas temperaturas. Acredita-se que a germinação reduza a

quantidade a quantidade de salicilatos (compostos fenólicos) dos vegetais, sendo

benéfica para indivíduos com dificuldade de sulfatação (MATTHEWS, 2008).

Por ser rica em vegetais, esta dieta auxilia no balanço ácido/básico e no reequilíbrio

da microbiota intestinal. Para indivíduos autistas que tem problemas de processar

fenóis, a germinação de grãos, sementes e oleaginosas parece ser benéfica. A dieta

crudista não precisa ser seguida estritamente. Seus princípios podem ser

incorporados a outras dietas. Algumas pessoas não têm uma boa capacidade

digestiva para consumir certos tipos de alimentos crus, já que a cocção auxiliar na

quebra das moléculas e torna mais fácil a digestão.

2.6.9 Dieta de Eliminação e de Rotação (Sensibilidades Alimentares)

Independente da dieta de base escolhida, a remoção dos alimentos alergênicos é

crucial. Essa dieta funciona mais como um refinamento para outras dietas do que

Page 81: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

73

uma dieta por si só. Dependendo do indivíduo, é preciso remover totalmente alguns

alimentos, mas em alguns casos pequena quantidades são toleradas, tendo um bom

resultado com a dieta de rotação.

Para determinar quais alimentos devem ser eliminados ou rotacionados deve-se

fazer uma dieta de eliminação/provocação ou basear-se em exames laboratoriais de

que testam anticorpos IgG para uma variedade de alimentos, porém podem

apresentar 10 a 15% de falso-positivos e falso-negativos.

Maior dificuldade na implementação ocorre em indivíduos sensíveis a praticamente

todos os alimentos, tornando a dieta de eliminação extremamente restritiva.

A dieta de eliminação/provocação envolve a eliminação de grande quantidade de

alimentos possivelmente problemáticos por no mínimo uma semana,

preferencialmente por um mês. Os alimentos mais alergênicos são: leite e derivados,

glúten, ovos, milho, açúcar, chocolate, amendoim, oleaginosas, cítricos, produtos

contendo corantes artificiais, aditivos e conservantes. Posteriormente deve ser

reintroduzido um alimento por vez, de duas a três porções no mesmo dia, com o

registro dos resultados nos próximos três dias. Existem diferentes metodologias de

provocação. Cada alimento novo pode ser testado a cada três dias, quando não

houve reação do anterior, ou, aguardar um mês para testar alimento. Além disso, a

provocação pode ser feita por grupos alimentares ou por alimento em separado.

Esse teste é mais confiável que o exame laboratorial, porém pode ser muito restritivo

e difícil de identificar as reações, devido aos diferentes fatores que podem causar o

mesmo sintoma.

Após a remoção do glúten e caseína da dieta é comum a substituição por produtos a

base de soja e milho, dois alimentos que comumente causam sensibilidades,

especialmente em indivíduos autistas. A remoção de ambos freqüentemente é

acompanhada da melhora no comportamento e atenção dessas crianças.

A soja possui proteínas de difícil digestão, portanto é inflamatória para o intestino.

Além disso, interfere na função tireoidiana, possui ação estrogênio-símile e contém

muitos fatores anti-nutricionais que reduzem a absorção de cálcio, magnésio, zinco,

e outros minerais. Por estas e outras razões, o uso da soja e seus derivados deve

ser evitado para paciente autistas, incluindo soja fermentada, óleo de soja e lecitina

Page 82: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

74

de soja. Além do mais, praticamente toda a soja comercializada é geneticamente

modificada e com grande quantidade de pesticidas, o que pode trazer ainda mais

prejuízos para o organismo.

O milho também é um alergeno bastante comum e que permeia a alimentação

moderna. Seus subprodutos são largamente utilizados pela indústria alimentícia

como ingrediente base, aditivos e adoçantes. Como exemplo é possível citar o

álcool, vinagre, xarope de milho rico em frutose, xarope de milho rico em

glicose, maltodextrina, amido de milho, dextrose, goma xantana, algumas vitaminas

C e xilitol, corante caramelo, ácido cítrico e aromas naturais. Praticamente toda a

produção de milho do mundo é geneticamente modificada (GM). Segundo Matthews,

o milho GM contém o gene de uma bactéria produtora de toxina e seu uso ainda não

foi testado em seres humanos e no meio ambiente. O milho GM parece ser

particularmente inflamatório para o intestino, mesmo em indivíduos não sensíveis. O

milho orgânico não é transgênico, porém, são necessários mais estudos a cerca da

contaminação de culturas não GM via polinização (MATTHEWS, 2008).

Dependendo do nível de sensibilidade do indivíduo, é necessário evitar todos os

produtos derivados do milho, enquanto em outros casos, é possível consumir

somente milho orgânico e limitar ou rotacionar os produtos e ingredientes à base de

milho. A goma xantana é uma substância comumente utilizada nos produtos sem

glúten, para conferir elasticidade à massa, porém a fração protéica do milho está

ausente. Mesmo assim, indivíduos muito sensíveis podem não tolerar esse

ingrediente. O amido de milho é outro ingrediente extensamente utilizado produtos

industrializados e caseiros, em especial os isentos de glúten. Conforme já citado no

capítulo anterior, alguns estudos mostram a relação do xarope de milho com o

autismo por conta do mercúrio. Adicionalmente, esse produto pode ser inflamatório e

propiciar o supercrescimento de leveduras intestinais pelo seu conteúdo alto de

açúcares.

Ovos são extremamente difíceis de eliminar por completo numa dieta isenta de

glúten, pois conferem maciez e emulsificação às massas. Mas além de receita sem

ovos, existem algumas opções de substituição dos mesmos, como goma de linhaça,

Page 83: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

75

biomassa de banana verde, bicarbonato de sódio, suco e limão e vinagre, gelatina e

purês de frutas e vegetais.

Qualquer alimento de consumo freqüente pode desencadear uma reação de

hipersensibilidade em indivíduos suscetíveis e aumento da permeabilidade intestinal.

A retirada do alimento alergênico auxilia muito no processo de recuperação da

mucosa intestinal, pois reduz o processo inflamatório local. No entanto, uma dieta

que elimina muitos alergenos alimentares pode resultar em uma alimentação restrita

e pouco variada, especialmente em crianças seletivas (picky eaters), favorecendo o

desencadeamento de novas sensibilidades no organismo. A variação e rotação dos

alimentos é a melhor maneira de evitar as reações de hipersensibilidade.

Após o período de dessensibilização do alimento alergênico (mediado por IgG),

tempo variável para cada indivíduo, muitas vezes é possível retornar o consumo do

mesmo sem desencadear reações de sensibilidade no organismo, quando o

consumo é rotativo, ou seja, com intervalo mínimo de 4 dias. No entanto, esta regra

não se aplica a todos os alimentos. Depende tanto da individualidade bioquímica,

quanto da associação de outros fatores. No caso de autistas, glúten, caseína, soja,

açúcar, aditivos alimentares e outros não devem ser reintroduzidos na dieta.

Conforme se pode visualizar no resumo das dietas especiais (Quadro 1), a dieta de

rotação é aprovada por 55% dos pais, enquanto a eliminação isolada de alguns

alimentos também foi eficaz para algumas crianças autistas, segundo último relatório

do ARI (ARI, 2009 ).

Page 84: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

76

Quadro 1: Dietas especiais para o autismo – Avaliação de pais de crianças autistas

sobre os efeitos comportamentais das intervenções dietéticas (ARI, 2009 ).

Opções de dietas especiais para o autismo

Resultados da Pesquisa do ARI

% de pais que relataram uma significativa melhora

dos sintomas de seus filhos

SGSC

Sem glúten (trigo, centeio, cevada, espelta, kamut,

aveia comercial) ou Sem caseína (laticínios)

SGSC - 69%

Sem Laticínios - 55%

Sem Trigo - 55%

Dieta de Eliminação/Rotação (Sensibilidades

alimentares)

Elimina todos os outros alimentos alergênicos: soja,

milho, ovos, cítricos, amendoim, chocolate, açúcar

Sem Ovos – 45%

Sem Chocolate – 52%

Sem açúcar– 52%

Dieta de Rotação – 55%

Dieta do Carboidrato Específico (SCD) / GAPS

Restringe os carboidratos a somente frutas, vegetais

não amiláceos e mel. Não permite grãos, vegetais

amiláceos e fibras mucilaginosas

SCD - 71%

Dieta pobre em Salicilatos e Fenóis

(Feingold/Failsafe)

Restringe alimentos ricos em fenóis, incluindo todos os

ingredientes artificiais e frutas ricas em salicilatos

Feingold - 58%

Dieta da Ecologia do Corpo (BED)

Dieta antifúngica que combina princípios de dieta anti-

candida incluindo: sem açúcar, equilíbrio ácido/básico,

alimentos fermentados e combinações de alimentos Dietas antifúngicas em geral –

58% Dietas antifúngicas

Restringe todos os açúcares, incluindo as frutas, além

de carboidratos refinados (pães, massas, biscoitos...)

Dieta de baixo Oxalato (LOD)

Restricts high oxalate foods (nuts, beans, greens) LOD - 50%

Weston A. Price / Nutrindo tradições

Boa qualidade de gorduras e melhora da digestibilidade

de grãos

------

Dieta Crudista

Alimentos crus, germinados e desidratados em baixas

temperaturas. Dieta a base de verduras, frutas,

castanhas, sementes e grãos germinados.

------

Page 85: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

77

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Até recentemente o autismo era considerado uma doença de base neurológica com

enfoque psiquiátrico e os dados a cerca desta patologia na literatura eram bastante

limitados. Hoje, as evidências apontam cada vez mais para uma causa multifatorial,

com influências ambientais sobre uma genética suscetível. Atualmente o autismo é

estudado sob a perspectiva bioquímica e metabólica, considerando os múltiplos

sistemas orgânicos em desequilíbrio, como o neurológico, gastrointestinal,

imunológico e de destoxificação.

Não obstante a crescente produção científica relacionada ao tema, grande parte dos

dados ainda são fragmentados, reflexo da complexidade desta patologia que parece

não ter uma explicação única. O encaixe das peças deste quebra-cabeça – símbolo

para a conscientização do autismo – permite um olhar integralizado destes

indivíduos, fundamental no processo terapêutico proposto atualmente, onde a

intervenção nutricional é peça integrante e pré-requisito para outras abordagens.

Este trabalho apresentou algumas opções de dietas especiais à disposição de pais,

cuidadores e profissionais, que podem ser direcionadas aos indivíduos autistas.

Estas dietas, conhecidas com “dietas especiais para o autismo” vem sendo

largamente utilizadas, principalmente fora do Brasil, onde o conhecimento sobre o

tratamento biomédico do autismo está mais avançado e as informações sobre as

dietas especiais, mais acessíveis ao público.

Ainda são poucos os estudos comprovando a eficácia de tais dietas, mas tanto as

pesquisas quanto as evidências empíricas se mostram promissoras nesta área. No

entanto, as dietas não são desenvolvidas especialmente para o autismo. São

direcionadas aos sintomas e comprometimentos mais pronunciados e devem ser

adaptadas conforme as necessidades individuais. Esse ajuste individual pode ser

complexo e de difícil implementação, podendo trazer prejuízos nutricionais ao

paciente. Além disso, muitos fatores influenciam na efetividade da intervenção

dietética, como a escolha da dieta mais apropriada para cada indivíduo e sua

família, a rigorosidade na implementação dessas estratégias, a adequação às

Page 86: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

78

necessidades nutricionais, a inclusão da família na dieta do autista, os tratamentos

realizados simultaneamente, entre outros.

Neste sentido, a avaliação e o acompanhamento do profissional nutricionista nas

intervenções dietéticas dos transtornos do espectro autista são fundamentais,

permitindo maior adequação e efetividade no tratamento. Além das dietas, outras

estratégias nutricionais devem ser utilizadas. Estudos bem delineados a cerca da

utilização de dietas especiais no autismo são necessários, assim como a

multiplicação dos conhecimentos atuais sobre a nova visão de tratamento do

autismo dentro da área da saúde.

A nutrição parece exercer um caráter de base no tratamento biomédico do autismo,

oferecendo suporte e aumentando a eficácia das diversas terapias existentes. O

funcionamento mais adequado do organismo por meio de ajustes bioquímicos e

metabólicos parece facilitar o processo de aprendizagem e desenvolvimento de

habilidades dos indivíduos dentro do espectro autista. Grande parte das terapias

aplicadas em transtornos invasivos do desenvolvimento trabalha a autonomia dos

pacientes, em busca de melhor qualidade de vida, convívio social e familiar. Existem

diversas possibilidades de terapias para o autismo, mas a interdisciplinaridade tem

se mostrado o caminho mais eficaz. Certamente o acolhimento e o fim do

preconceito são fundamentais para que a inserção desses indivíduos na sociedade

seja cada vez maior.

Page 87: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

79

REFERÊNCIAS

ADAM, J.B. Summary of Biomedical Treatments for Autism ARI Publication. v.40,

p.1-28, 2007.

ADAMS, S.; GREEN, P.; CLAXTON, R., et al. Reactive carbonyl formation by oxidative and non-oxidative pathways Front Biosci. v.6, p.A17-A24, 2001.

ANDERSEN, J.K. Oxidative stress in neurodegeneration: cause or consequence? Nat Med. v.10, p.S18-25, 2004.

APA. Task Force on DSM-IV. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 4ª ed. Washington, DC: American Psychiatric Association; 2000.

ARI. Autism. Autism Institute Research Disponível em: <http://www.autism.com/>.Acesso em: 28 de setembro 2010.

ARI. Parent ratings of behavioral effects of biomedical interventions ARI Publ. v.34, 2009.

ASSUMPÇÃO, B.F.; PIMENTEL, A. Autismo Infantil. Rev Bras Psquiatr. v.22 n.supl I, p.37-9, 2000.

BERNARD, S.; ENAYATI, A.; REDWOOD, L., et al. Autism: a novel form of mercury poisoning Medical Hypotheses. v.56, n.4, p.462-71, 2001.

BETH. Salicylate sensitivity: food guide.Salicilatesensitivity.com Disponível em: <http://salicylatesensitivity.com/about/food-guide/>.Acesso em: 10 de outubro de 2010.

BOIRIVANT, M.; STROBER, W. The mechanism of action of probiotics Current Opinion in Gastroenterology v.23, p.679-92, 2007.

BRUDNAK, A.M.; RIMLAND, B.; KERRY, E.R. Enzyme-based therapy for autism spectrum disorders: Is it worth another look? Medical Hypotheses. v.58, n.5, p.422-8, 2002.

BULL, G.; SHATTOCK, P.; WHITELEY, P., et al. Indolyl-3 acryloylglycine(IGA) is a putative diagnostic urinary marker for autism spectrum disorders Med Sci Monit. v.9, n.10, 2003.

CAMPBELL-MCBRIDE, N. Gut and Psychology Syndrome: the GAPs Diet.International Nutrition, Inc. Disponível em: <http://www.gapsdiet.com/>.Acesso em: 15 de setembro de 2010.

CARREIRO, D.M. Alimentação: problema e solução para doenças crônicas. 2ª

ed. São Paulo: Editora Referência; 2008, 189.

Page 88: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

80

CARREIRO, D.M.; VASCONCELOS, L.; AYOUB, M.E. Síndrome Fúngica: uma epidemia oculta. 1ª ed. São Paulo: Editora Referência; 2009, 175.

CASS, H.; GRINGRAS, P.; MARCH, J., et al. Absence of urinary opioid peptides in children with autism Arch Dis Child. v.93, p.745-50, 2008.

CAVE, S. Autism in Childre International Journal of Pharmaceutical Compounding. v.5, n.1, 2001.

CDC. Autism Spectrum Disorders (ASDs).Centers for Disease Control and Prevention Disponível em: <http://www.cdc.gov/ncbddd/autism/index.html>.Acesso em: 29 de setembro de 2010.

COLIN, S.S.; DUNCAN, H.S.; CAVE, R.D. Oxalobacter formigenes and its role in oxalate metabolism in the human gut FEMS Microbiology Letters. v.230, n.1, p.1-

7, 2004.

CROONENBERGHSA, J.; BOSMANSB, E.; DEBOUTTEA, D., et al. Activation of the Inflammatory Response System in Autism Neuropsychobiology. v.45, p.1-6, 2002.

CUBAŁA-KUCHARSKA, M. The review of most frequently occurring medical disorders related to aetiology of autism and the methods of treatment Acta Neurobiol Exp. v.70, p.141-6, 2010.

CULLIGAN, E.P.; HILL, C.; SLEATOR, R.D. Probiotics and gastrointestinal disease: successes, problems and future prospects Gut Pathogens. v.1, n.19, p.1-12, 2009.

D’SOUZA, Y.; FOMBONNE, E.; WARD, B. No evidence of persisting measles virus in peripheral blood mononuclear cells from children with autistic spectrum disorder Pediatrics. v.118, n.4, p.1664–75, 2006.

DAVISON, P.; CARVALHO, G.D. Ecologia e disbiose intestinal. In: Paschoal V, Naves A, Fonseca ABBLd Nutrição Clínica Funcional: dos prinípios à prática clínica 1ª ed.São Paulo: VP Editora; 2008. p. 142-69.

DETH, R.; MURATORE, C.; BENZECRY, J., et al. How environmental and genetic factors combine to cause autism: A redox/methylation hypothesis NeuroToxicology.

v.29, p.190–201, 2008.

DONGARI-BAGTZOGLOU, A.; KASHLEVA, H.; DWIVEDI, P., et al. Characterization of mucosal candida albicans biofilms Plos one. v.4, n.11, p.1-9, 2009.

DUFAULT, R.; SCHNOLL, R.; LUKIW, W.J., et al. Mercury exposure, nutritional deficiencies and metabolic disruptions may affect learning in children Behavioral and Brain Functions. v.44, n.5, 2009.

DUNCAN, H.S.; RICHARDSON, A.J.; POONAM, K., et al. Oxalobacter formigenes and Its Potential Role in Human Health Applied & Environmental Microbiology.

v.68, n.8, p.3841–7, 2002.

Page 89: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

81

ELDER, J.H.; SHANKAR, M.; SHUSTER, J., et al. The gluten-free, casein-free diet in autism results of a preliminary double blind clinical trial Journal of Autism & Developmental Disorders. v.36, p.413-20, 2006.

ENSTROM, A.; ONORE, C.; HERTZ-PICCIOTTO, I., et al. Detection of IL-17 and IL-23 in Plasma Samples of Children with Autism American Journal of Biochemistry and Biotechnology. v.4 n.2, p.114-20, 2008.

FALLON, S. Nourishing Traditions. Washingtin, DC: New Treds Publishing; 2001,

FEINGOLD. The Feingold Program.Feingold Association of the United States Disponível em: <http://feingold.org/>.Acesso em: 04 de outubro de 2010.

FINDLING, L.R.; WOJTILA, S.L.; MAXWELL, K., et al. High-Dose Pyridoxine and Magnesium Administration in Children with Autistic Disorder: An Absence of Salutary Effects in Double-Blind, Palcebo-Controlled Study Journal of Autism & Developmental Disorders. v.27, n.4, p.467-78, 1997.

FINEGOLD, S.M. Therapy and epidemiology of autism-clostridial spores as key elements Medical Hypotheses. v.70, p.508–11, 2008.

FIOCRUZ. Alimentação viva na promoção da saúde e meio ambiente.Fundação Oswaldo Cruz - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca Disponível em: <http://www4.ensp.fiocruz.br/terrapia/?q=alimenta%C3%A7aovivaoquee>.Acesso em: 10 de outubro de 2010.

GALIATSATOS, P.; GOLOGAN, A.; LAMOUREUX, E. Autistic enterocolitis: fact or fiction? Can J Gastroenterol. v.23, n.2, p.95-8, 2009.

GARGUS, J.J.; IMTIAZ, F. Mitochondrial Energy-Deficient Endophenotype in Autism American Journal of Biochemistry and Biotechnology. v.4, n.2, p.198-207, 2008.

GATES, D. The Body Ecology Diet: recovering your health and rebuilding your immunity. 20ª ed. Bogart, USA: B.E.D. Publications; 2006, 292.

GEIER, D.A.; KERN, J.K.; GARVER, C.R., et al. Biomarkers of environmental toxicity and susceptibility in autism Journal of the Neurological Sciences v.280,

p.101–8, 2009.

GILGER, M.A.; REDEL, C.A. Autism and the Gut Pediatrics. v.124, p.796-8, 2009.

GILLBERG, C. Conferência: Transtornos do espectro do autismo. 15/02/2008; InCor São Paulo: Associação de Amigos do Autista - AMA; 2005. p. 1-6.

GOINESA, P.; WATER, J.V.D. The immune system’s role in the biology of autism Current Opinion in Neurology. v.23, p.111–7, 2010.

GOTTSCHALL, E. Breaking the vicious cicle: intestinal health through diet. 12ª ed. Baltimore Ontário: The Kirkton Press; 2007, 205.

HART, A.L.; KAMM, M.A.; STAGG, A.J., et al. Mechanisms of Action of Probiotics: Recent Advances Inflamm Bowel Dis. v.15, p.300-10, 2009.

Page 90: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

82

HAWRELAK, J.A.; MYERS, S.P. The causes of intestinal disbioses: a review Altern Med Rev. v.9, n.2, p.180-97, 2004.

HORVATH, K.; PERMAN, J. Autistic disorder and gastrointestinal disease Current Opinion in Pediatrics. v.14, n.5, p.583–7, 2002.

HORVATH, K.; PERMAN, J.A. Autism and gastrointestinal symptoms Curr Gastroenterol Rep. v.4, p.251–8, 2002.

JAMES, S.J.; CUTLES, P.; MELNYK, S., et al. Metabolic biomarkes of increased oxidative estress and impaired methylation capacity in children with autism American Journal of Clinical Nutrition. v.80, n.6, p.1611-7, 2004.

JAMES, S.J.; MELNIK, S.; JERNIGAN, S., et al. Metabolic endophenotype and related genotypes are associated with oxidative estress in children with autism American Journal of Medical Genetics: Part B: Neuropsychiatric Genetics. v.141, n.8, p.947-56, 2006.

JAMES, S.J.; MELNYK, S.; FUCHS, G., et al. Efficacy of methylcobalamin and folinic acid treatment on glutathione redox status in children with autism Am J Clin Nutr v.89, p.425-30, 2009.

JOHNSON, C.P.; MYERS, S.M. Identification and evaluation of children with autism spectrum disorders Pediatrics. v.120, p.1183-215, 2007.

JYONOUCHI, H.; GENG, L.; RUBY, A., et al. Evaluation of an association between gastrointestinal symptoms and cytokine production against common dietary proteins in children with autism spectrum disorders The Journal of Pediatrics� p.605-10,

2005

JYONOUCHI, H.; GENG, L.; RUBY, A., et al. Dysregulated Innate Immune Responses in Young Children with Autism Spectrum Disorders: Their Relationship to Gastrointestinal Symptoms and Dietary Intervention Neuropsychobiology v.51, n.2,

p.77-85 2005

JYONOUCHI, H.; SUN, S.; ITOKAZU, N. Innate Immunity Associated with Inflammatory Responses and Cytokine Production against Common Dietary Proteins in Patients with Autism Spectrum Disorder Neuropsychobiology. v.46, p.76-84,

2002.

KAUR, I.P.; KUHAD, A.; GARG, A., et al. Probiotics: Delineation of Prophylactic and Therapeutic Benefits J Med Food. v.12, n.2, p.219–35, 2009.

KEMPURAJ, D.; ASADI, S.; ZHANG, B., et al. Mercury induces inflammatory mediator release from human mast cells Journal of Neuroinflammation. v.7, n.20, 2010.

KERN, J.K.; JONES, A.M. Evidence of toxicity, oxidative stress and neuronal insult in autism Journal of Toxicology & Environmental Health Part B, Critical Reviews. v.9, n.6, p.485–99, 2006.

Page 91: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

83

KIDD, P.M. Autism, An Extreme Challenge to Integrative Medicine. Part 1: The Knowledge Base Alternative Medicine Review. v.7, n.4, p.292-316, 2002.

KLEESSEN, B.; BLAUT, M. Modulation of gut mucosal biofilms British Journal of Nutrition. v.93, n.Suppl.1, p.35-40, 2005.

KLIN, A. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral Rev Bras Psiquiatr.

v.28, p.3-11, 2006.

KNIVSBERG, A.M.; REICHELT, K.L.; HOIEN, T., et al. A randomized, controlled study of dietary intervention in autistic syndromes Nutr Neurosci. v.5, p.251-61, 2002.

KRAJCOVICOVA-KUDLACKOVA, M.; VALACHOVICOVA, M.; MISLANOVA, C., et al. Plasma concentrations of selected antioxidants in autistic children and adolescents Bratislavske Lekarske Listy. v.110, n.4, p.274-50, 2009.

KRIGSMAN, A.; BORIS, M.; GOLDBLATT, A., et al. Clinical Presentation and Histologic Findings at Ileocolonoscopy in Children with Autistic Spectrum Disorder and Chronic Gastrointestinal Symptoms Autism Insights. v.2, p.1-11, 2010.

KUMAMOTO, C.A.; VINCES, M.D. Alternative Candida albicans Lifestyles: Growthon Surfaces Annu Rev Microbiol. v.59, p.113-33, 2005.

LAZZERI, C. Educação inclusiva para alunos com Autismo e psicose: das políticas Educacionais ao sistema de ensino [Dissertação de Mestrado ]. Santa Maria, RS, Brasil Universidade Federal de Santa Maria; 2010.

LDDI. Scientific Consensus Statement on Environmental Agents Associated with Neurodevelopmental Disorders : Developed by the Collaborative on Health and the Environment’s Learning and Developmental Disabilities Initiative LDDI Consensus Statement. p.1-35, 2008.

LEE, J.M.; ZIPFEL, G.J.; PARK, K.H., et al. Zinc translocation accelerates infarction after mild transient focal ischemia Neuroscience (Oxford). v.115, p.8781-878, 2002.

LI, X.; CHAUHAN, A.; SHEIKH, A.M., et al. Elevated immune response in the brain of autistic patients Journal of Neuroimmunology. v.207, p.111-6, 2009.

MARKIEWICZ, K.; MACQUEEN, B.D. The autistic mind: A case study Med Sci Monit. v.15, n.1, p.5-1, 2009.

MARKS, D.B.; MARKS, A.D.; SMITH, C.M. Oxygen metabolism and toxicity. In Basic Medical Biochemistry: A Clinical Approach. p.327-40, 1996.

MATTHEWS, J. Nourishing Hope for Autism: nutrition intesrvention for healing our children 3ª ed. San Francisco: Nourishing Hope; 2008, 223.

MCCANDLESS, J. Children with starving brains. Canada: Bramble Books; 2004,

Page 92: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

84

MCFARLAND, L.V. Systematic review and meta-analysis of Saccharomyces boulardii in adult patients World J Gastroenterol May. v.16, n.18, p.2202-22, 2010.

MELLO, A.M.S.R.D. Autismo: guia prático. : AMA; Brasília:CORDE, 2005. 103 p. 4ª ed. São Paulo: Associação de Amigos dos Autista; 2005, 103.

MILLWARD, C.; FERRITER, M.; CALVER, S.J., et al. Gluten- and casein-free diets for autistic spectrum disorder Cochrane Database of Systematic Reviews. n.2,

2009.

MOLLOY, C.A.; MORROW, A.L.; MEINZEN-DERR, J., et al. Elevated cytokine levels in children with autism spectrum disorder Journal of Neuroimmunology. v.172, p.198-205, 2006.

MORALES, D.K.; HOGAN, D.A. Candida albicans interactions with bacteria in the context of human health and desease Plos Pathogens. v.6, n.4, 2010.

MOURIDSEN, S.E.; RICH, B.; ISAGER, T. A longitudinal study of gastrointestinal diseases in individuals diagnosed with infantile autism as children Child: Care, Health & Development. v.10 n.1111, p.1365-2214, 2009.

NIKOLOV, R.N.; BEARSS, K.E.; JELLELETTINGA, et al. Gastrointestinal Symptoms in a Sample of Children with pervasive developmental disorders Journal of Autism & Developmental Disorders. v.39, p.405–13, 2009.

OMS. A classificação da CID-10 de Transtornos Mentais e de Comportamento: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Genebra, Suíça: Organização Mundial da Saúde; 1992.

OWENS, S. Low Oxalate Diet. Disponível em: <http://lowoxalate.info/index.html>.Acesso em: 15 de setembro de 2010.

PARDO, C.A.; VARGAS, D.L.; ZIMMERMAN, A. Immunity, neuroglia and neuroinflammation in autism International Review of Psychiatry v.17, n.6, p.485–95, 2005.

PASCA, S.P.; NEMES, B.; VLASE, L., et al. High levels of homocysteine and low serum paraoxonase 1 arylesterase activity in children with autism Life Sci. v.78,

p.2244–8, 2006.

PASTURAL, E.; RITCHIE, S.; LU, Y., et al. Novel plasma phospholipid biomarkers of autism: Mitochondrial dysfunction as a putative causative mechanism Prostaglandins, Leukotrienes and Essential Fatty Acids. v.81, p.253–64, 2009.

PRICE, W. The Weston A. Price.The Weston A. Price Foundation for Wise Traditions in Food, Farming, and the Healing Arts Disponível em: <http://www.westonaprice.org/>.Acesso em: 02 de outubro de 2010.

RAMAGE, G.; SAVILLE, S.P.; THOMAS, D.P., et al. Candida Biofilm - an update Eukaryotic Cell. v.4, n.4, p.633–8, 2005.

Page 93: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

85

RICE, C. Prevalence of Autism Spectrum Disorders - Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network, United States, 2006 Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network Surveillance Year 2006 Principal Investigators.

v.58, n.SS10, p.1-20, 2009.

ROSSIGNOL, D.A.; BRADSTREET, J.J. Evidence of Mitochondrial Dysfunction in Autism and Implications for Treatment American Journal of Biochemistry and Biotechnology. v.4, n.2, p.208-17, 2008.

SCHULZE, J.; SONNENBORN, U. Yeast in the gut: From Commensals to Infectious Agents Deutsches Ärzteblatt International v.106 n.51-52, p.837–42 2009.

SEMON, B.; KORNBLUM, L. Feast without yeast: 4 stages to better health. 1ª ed. Winsconsin1999, 389.

SHAW, W. Tratamentos Biológicos do Autismo e TDAH: as últimas pesquisas sobre as causas e terapias médicas Edição em português ed. Brasil: William

Shaw; 2009,

SIVA, S.; BARRACK, E.R.; REDDY, G.P., et al. A critical analysis of the role of gut Oxalobacter formigenes in oxalate stone disease BJU Int. v.103, n.1, p.18-21, 2009.

SMITH, R.A.; FARNWORTH, H.; WRIGHT, B., et al. Are there more bowel symptoms in children with autism compared to normal children and children with neurobiological disorders Autism. v.13, n.343 2009.

SRINIVASAN, P. A review of dietary interventions in autism Annals of Clinical Psychiatry. v.21, n.4, p.237-47, 2009.

SUH, J.H.; WALSH, W.J.; MCGINNIS, W.R., et al. Altered Sulfur Amino Acid Metabolism In Immune Cells of Children Diagnosed With Autism American Journal of Biochemistry and Biotechnology. v.4, n.2, p.105-13, 2008.

TIERNEY, E.; BUKELIS, I.; THOMPSON, R., et al. Abnormalities of Cholesterol Metabolism in Autism Spectrum Disorders American Journal of Medical Genetics Part B (Neuropsychiatric Genetics) v.141B, p.666–8, 2006.

TIERNEY, E.; NWOKORO, N.A.; KELLEY, R.I. Behavioral phenotype of RSH/Smith-Lemli-Opitz syndrome. Ment Retard Dev Disabil Res Rev. v.6, n.2, p.131-4, 2000.

UPPULURI, P.; PIERCE, C.G.; LOPEZ-RIBOT, L. Candida albicans biofilm formation and its clinical consequences Future Macrobiology. v.4, n.10, p.1235-7,

2009.

USMAN, A. Gut Recovery Program: A New Approach To Treating Chronic Gastrointestinal Infections. Autism ONE; Chicago. 2009.

VAERS. Vaccine Adverse Event Reporting System. .USA Government. Disponível em: <http://vaers.hhs.gov/index>.Acesso em: 10 de outubro de 2010.

Page 94: Implicações Biológicas do Autismo - A Nutrição Como Base do Tratamento - Monografia Maria Rosa VP - 2010

86

VALICENTI-MCDERMOTT, M.D.; MCVICAR, K.; COHEN, H.J. Gastrointestinal Symptoms in Children with an Autism Spectrum Disorder and Language Regression Pediatric Neurology. v.39, n.6, p.392-8, 2008.

VANDENPLAS, Y.; BRUNSER, O.; SZAJEWSKA, H. Saccharomyces boulardii in childhood Eur J Pediatr. v.168, p.253-65, 2009.

VARGAS, S.L.; PATRICK, C.C.; AYERS, G.D., et al. Modulating efect of dietary carbohydrate supplementation on Candida albicans colonization and invasion in a neutropenic mouse model Infection & Immunity. v.61, p.619–26, 1993.

VOJDANI, A.; PANGBORN, J.B.; VOJDANI, E., et al. Infections, toxic chemicals and dietary peptides binding to lymphocyte receptors and tissue enzymes are major instigators of autoimmunity in autism Int J Immunopathol Pharmacol. v.16, p.189-

99, 2003.

WAKEFIELD, A.J.; MURCH, S.H.; ANTHONY, A. Ileallymphoidnodular hyperplasia, non-Specific colitis and pervasive developmental disorder in children Lancet v.351, p.637-41, 1998.

WARING, R.H.; REILLY, B.A.O. Enzyme and Sulphur Oxidation Deficiencies in Autistic Children with Known Food/Chemical Intolerances Journal of Orthomolecular Medicine. v.8, n.4, p.198-201, 1993.

WHITE, J.F. Intestinal Pathophysiology in Autism Exp Bio lMed v.228, p.639-49,

2003.