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Implementação do princípio do
poluidor-pagador no setor dos
resíduos João Simão Pires, CLSBE
Implementação do princípio do poluidor-pagador no setor dos resíduos – Tópicos abordados
1. Práticas tarifárias atuais
2. Tipos de sistemas tarifários PAYT
3. Barreiras à implementação e medidas de mitigação
4. Estratégias alternativas e recomendações
Soluções para incrementar a
reciclagem e cumprir as metas de
desvio de biodegradáveis de aterro
“Estudo sobre a viabilidade de implementação do princípio
poluidor-pagador no sector dos resíduos (PAYT), tendo por
base, nomeadamente, os poucos casos de estudo portugueses
e a experiência internacional mais relevante.”
Relatório ERSAR n.º 1/2013 - “Implementação do princípio do poluidor-pagador no setor dos resíduos”
disponível em: www.ersar.pt (Documentação/ Publicações ERSAR/ Série “Relatórios Técnicos”)
1. Práticas tarifárias atuais Grau de recuperação de custos
O nosso País parte de um quadro generalizado de insuficiente
recuperação de custos do serviço por via tarifária...
JSPires, 20/4/2016
Fonte: ERSAR, RASARP 2015
(dados provisórios de 2014)
Média aritmética
1. Práticas tarifárias atuais Níveis tarifários
... e de uma grande disparidade nos encargos suportados pelos
utilizadores finais.
JSPires, 20/4/2016
Encargos dos utilizadores finais domésticos com o serviço de gestão de resíduos
em Portugal - 2011
(para um consumo de água de 120 m3/ ano - 10 m³/ mês)
1. Práticas tarifárias atuais Tipos de tarifários praticados
Por outro lado, a maioria dos tarifários de resíduos em Portugal estão
indexados ao consumo de água...
JSPires, 20/4/2016
Tipos de tarifário do serviço de gestão de resíduos urbanos aplicados aos utilizadores finais
1. Práticas tarifárias atuais Ilustração - Açores
JSPires, 20/4/2016
Encargos dos utilizadores finais domésticos com o serviço de gestão de resíduos nos Açores
(para um consumo de água de 120 m3/ ano - 10 m³/ mês e ou zonas urbanas)
€0 €25 €50 €75 €100 €125 €150
Praia Ambiente (2014)
SMAHeroísmo (2012)
CM da Madalena (2010)
CM de Lajes do Pico (2006)
CM de São Roque do Pico (2013)
CM da Calheta
CM de Velas (2010)
CM da Horta (2014)
CM de Santa Cruz da Graciosa (2013)
CM das Lajes das Flores
CM de Santa Cruz das Flores
CM do Corvo (2009)
CM de Vila do Porto
SMAS de Ponta Delgada (2014)
CM de Lagoa (2012)
CM do Nordeste (2013)
CM da Povoação (2008)
CM da Ribeira Grande (2011)
CM de Vila Franca do Campo (2014)
Fixo
Fixo com diferenciação
Fixo + indexação AA
Média aritmética 15 municípios
RAA = €46/ ano
N/A
N/A
N/A
N/A
Implementação do princípio do poluidor-pagador no setor dos resíduos – Tópicos abordados
1. Práticas tarifárias atuais
2. Tipos de sistemas tarifários PAYT
3. Barreiras à implementação e medidas de mitigação
4. Estratégias alternativas e recomendações
Soluções para incrementar a
reciclagem e cumprir as metas de
desvio de biodegradáveis de aterro
“Estudo sobre a viabilidade de implementação do princípio
poluidor-pagador no sector dos resíduos (PAYT), tendo por
base, nomeadamente, os poucos casos de estudo portugueses
e a experiência internacional mais relevante.”
2. Tipos de sistemas PAYT Grau de difusão na U.Europeia
JSPires, 20/4/2016
Embora, exista uma variação assinalável em função do tipo de sistema e seu local de
aplicação, em termos médios, na UE15, a adoção de sistemas PAYT tem implicado:
• Uma redução em 10% da quantidade total de resíduos produzidos;
• Uma redução em 30% da produção de resíduos indiferenciados;
• Um aumento da reciclagem em mais de 60%.
Grau de implementação de
sistemas PAYT na UE-15
em 2005
2. Tipos de sistemas PAYT Síntese
Elemento comum a todos os sistemas PAYT é a possibilidade de o utilizador influenciar o
nível de encargos por si suportado em função do seu comportamento no tocante à
produção e separação de resíduos da sua responsabilidade.
JSPires, 20/4/2016
Alternativas genéricas de implementação de sistemas PAYT
2. Tipos de sistemas PAYT Síntese (ii)
Três grandes tipos de sistemas consoante a forma como, do ponto de vista do utilizador, é feita a deposição de resíduos indiferenciados:
1. Modelos com base em contentores individuais contratados (“ID contentor”), em que a sua recolha porta-a-porta assenta numa identificação do binómio contentor-utilizador. No caso em que temos contentores utilizados por um conjunto de moradores, a relação contratual é estabelecida com o condomínio. A faturação do serviço pode à partida basear-se nas variáveis peso, capacidade contratada e/ ou frequência de recolha (volume), embora estas duas últimas tendam a prevalecer neste cenário.
2. Modelos com base na utilização de locais de deposição comum (“ID utilizador”), em que tipicamente se condiciona o acesso ao local de deposição de resíduos indiferenciados, designadamente através de um cartão identificativo do utilizador. Através da utilização de sistemas de pesagem incorporados, o peso dos resíduos tende a ser mais frequentemente utilizado como base de faturação do serviço. Variantes podem não exigir uma identificação do utilizador (p.e. pagamento através de moedas ou fichas específicas compradas para o efeito).
3. Modelos pré-pagos, designadamente com base em sacos (“ID neutrais”), em que os utilizadores compram sacos claramente identificáveis em diferentes pontos de retalho e em que diferentes preços podem ser aplicados consoante a dimensão do saco e o tipo de resíduo ao qual este se destina. Esta abordagem tem a característica de não exigir à partida que a recolha seja feita porta-a-porta ou em locais de deposição comum. Variantes incluem a utilização de etiquetas (com ou sem códigos de barras).
JSPires, 20/4/2016
2. Tipos de sistemas PAYT Experiência Portuguesa
Em Portugal, nenhum dos projectos PAYT conhecidos chegou a uma fase
de efetivo ensaio de uma alteração do sistema de faturação do serviço de
gestão de resíduos.
Com efeito, nos três casos analisados (Maiambiente, CM Óbidos e EMARP) o que se
assistiu nos últimos anos foi a uma reformulação dos sistemas de recolha apoiados por
significativos esforços de sensibilização das populações.
JSPires, 20/4/2016
“Rácio de conveniência” para os utilizadores
da separação e deposição de recicláveis face à
deposição de indiferenciados
CM de Óbidos – Evolução da recolha de
resíduos desde o início da instalação de
“ilhas ecológicas”
Implementação do princípio do poluidor-pagador no setor dos resíduos – Tópicos abordados
1. Práticas tarifárias atuais
2. Tipos de sistemas tarifários PAYT
3. Barreiras à implementação e medidas de mitigação
4. Estratégias alternativas e recomendações
Soluções para incrementar a
reciclagem e cumprir as metas de
desvio de biodegradáveis de aterro
“Estudo sobre a viabilidade de implementação do princípio
poluidor-pagador no sector dos resíduos (PAYT), tendo por
base, nomeadamente, os poucos casos de estudo portugueses
e a experiência internacional mais relevante.”
2. Barreiras e sua mitigação Síntese
A análise de casos internacionais tem evidenciado três tipos de fatores, que
frequentemente interagindo entre si, tendem a constituir-se como efetivas barreiras a uma
maior implementação de sistemas PAYT.
JSPires, 20/4/2016
Fatores
comportamentais
Fatores técnicos
e financeiros
Fatores
institucionais
• Falta de divulgação pública transparente dos custos e formas de financiamento da gestão de resíduos;
• Falta de informação aos consumidores sobre os tarifários, os reais custos dos serviços e os benefícios da mudança;
• Receio de efeitos secundários indesejáveis (em particular no tocante à deposição ilegal de resíduos).
• Sistemas de recolha seletiva nem sempre cómodos e convenientes; • Baixa recuperação dos custos da gestão de resíduos através dos tarifários atualmente
aplicados; • Receio de ausência de retorno financeiro face aos investimentos iniciais que, consoante as
características do sistema, podem ser significativos, e face à incerteza sobre os proveitos tarifários gerados no futuro;
• Restrições orçamentais ao financiamento dos investimentos iniciais necessários.
• Falta de um conhecimento mais aprofundado sobre as diferentes soluções de tarifários PAYT por parte dos decisores políticos e dos responsáveis técnicos;
• Preocupação com potenciais impactos adversos em famílias com menor capacidade económica;
• Receio de reação pública, mediática e eleitoral adversa.
2. Barreiras e sua mitigação Eventuais efeitos secundários
A experiência acumulada internacionalmente tem evidenciado variadas medidas de
mitigação de eventuais efeitos secundários indesejáveis.
JSPires, 20/4/2016
Implementação do princípio do poluidor-pagador no setor dos resíduos – Tópicos abordados
1. Práticas tarifárias atuais
2. Tipos de sistemas tarifários PAYT
3. Barreiras à implementação e medidas de mitigação
4. Estratégias alternativas e recomendações
Soluções para incrementar a
reciclagem e cumprir as metas de
desvio de biodegradáveis de aterro
“Estudo sobre a viabilidade de implementação do princípio
poluidor-pagador no sector dos resíduos (PAYT), tendo por
base, nomeadamente, os poucos casos de estudo portugueses
e a experiência internacional mais relevante.”
4. Estratégias alternativas Ponto de partida e prioridades
Na medida em que um tarifário PAYT deve idealmente cumprir três
funções fundamentais...
JSPires, 20/4/2016
Gestão de prioridades e trade-offs na definição de estratégia para introdução de sistema PAYT
4. Estratégias alternativas Ponto de partida e prioridades
... as estratégias alternativas a seguir pelos Municípios dependerão do seu
ponto partida e da priorização relativa destas três funções.
JSPires, 20/4/2016
Influência do “ponto de partida” na avaliação estratégica de alternativas
Ponto de partida (grau de recuperação de custos por via tarifária)
Serviço sem tarifação explícita
Serviço com tarifação mas com grau de recuperação
de custos visivelmente insuficiente
Grau de recuperação adequado (ou superavitário)
• A adopção de um sistema PAYT pode ser equacionada como forma de introduzir tarifação directa do serviço;
• Credibilidade na mensagem de que tal se traduz numa redução de taxas municipais afigura-se fundamental neste cenário.
• Aumento das actuais tarifas numa primeira fase para mais tarde equacionar uma transição para um sistema PAYT poderá ser a estratégia preferida neste cenário.
• Implementação de sistema PAYT poderá proporcinar, não só uma redução global de custos de gestão de resíduos, como uma redução de encargos para muitos utilizadores;
• Incerteza quanto ao impacto nos proveitos será uma consideração-chave neste cenário.
Potencial impacto na reflexão sobre os méritos da introdução de um sistema PAYT
4. Estratégias alternativas Exemplos internacionais (i)
JSPires, 20/4/2016
Experiência na Província de Flemish-Brabant (Bélgica) 1
1 Fonte: D. Hogg (2002), “Financing and incentive schemes for Municipal waste management: Case studies”, Final Report to DG Environment, Comissão Europeia
• O sistema PAYT implementado nesta província da Flandres baseia-se em sacos
para resíduos indiferenciados (“grey bags”), com uma capacidade média entre
60 e 70 litros. O seu preço unitário (em 1999) situava-se entre €0,60 e €1,10.
• No período entre 1993 e 1996, a quantidade média de resíduos indiferenciados
recolhida por habitante decresceu em cerca de 140 kg/ ano a par de um
aumento na entrega de recicláveis de 155 kg/ ano.
• O facto de o preço dos sacos ser superior nesta zona a outras áreas da
Flandres é apontado como fator explicativo para estas variações terem sido
mais pronunciadas na província de Flemish-Brabant.
4. Estratégias alternativas Exemplos internacionais (ii)
JSPires, 20/4/2016
Experiência no Município de Torre Boldone (Itália) 1
1 Fonte: D. Hogg (2002), “Financing and incentive schemes for Municipal waste management: Case studies”, Final Report to DG Environment, Comissão Europeia
• O programa implementado a partir de 1998 por este pequeno município (população de 8 mil habitantes)
integrado na província de Bergamo assentou em três pilares:
- Quantificação volumétrica dos resíduos domésticos produzidos;
- Identificação dos utilizadores;
- Introdução de sistema PAYT com base em sacos comprados para o efeito, com a variante de que
neste caso existe uma identificação do utilizador e, consequentemente, a possibilidade de
monitorizar o seu comportamento no tocante à utilização do serviço.
• Para o efeito, a cada utilizador foi entregue um cartão com chip, através do qual este pode obter sacos em
vários locais (pontos de atendimento do município, ecocentros, agências bancárias) ou máquinas de
venda. O sistema informático de suporte, com base na identificação automática do utilizador, permite o
cálculo e aplicação periódica da componente variável do tarifário com base nos sacos por este adquiridos.
• O tarifário também compreende uma componente fixa e o cartão com chip é igualmente utilizado no acesso
a ecopontos (“chamber systems”) e registo de materiais recicláveis aí entregues (o que possibilita uma
beneficiação da componente variável em função dos quantitativos de recicláveis entregues). O software
permite igualmente a identificação de utilizadores que exibem padrões de comportamento potencialmente
disfuncionais.
4. Estratégias alternativas Recomendações
Na medida em que a introdução de sistemas PAYT frequentemente surge no quadro de
reconfigurações substantivas nos sistemas de recolha, é facilmente compreensível que a
implementação de sistemas PAYT tenda a facilmente adquirir a reputação de ser uma
iniciativa “cara”.
Com efeito, tal será o caso se o sistema PAYT escolhido, ao implicar uma substantiva
alteração ao sistema de recolha, resultar na necessidade de investimentos avultados em
termos de:
– Substituição significativa do parque de contentores;
– Substituição do parque de viaturas ou sua adaptação para permitir o funcionamento de
sistemas de leitura/ pesagem;
– Implementação de sistemas sofisticados de leitura, transmissão e tratamento de dados
complexos.
Consequentemente, atendendo à configuração dos sistemas de recolha mais
frequentemente implantada em Portugal (contentores comuns e “ecopontos” de
proximidade), a implementação de “modelos com base em sacos (ou etiquetas), mas com
identificação do utilizador”, afigura-se como uma avenida mais promissora na
generalidade dos municípios, uma vez que não exige alterações significativas aos
sistemas de recolha. JSPires, 20/4/2016