implementação das línguas nacionais no sistema de ensino angolano - que vantagens

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IMPLEMENTAÇÃO DAS LÍNGUAS NACIONAIS NO SISTEMA DE ENSINO ANGOLANO: Q U E V A N T A G E N S ? Por: Joaquim Sapalo CASTILHO CACUMBA Mestre em Linguística Aplicada, University of South Africa (UNISA) Docente da Repartição de Inglês, ISCED-Huíla Trabalho apresentado para as XIII Jornadas Científicas do ISCED-Huíla, 2005

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  • IMPLEMENTAO DAS LNGUAS

    NACIONAIS NO SISTEMA DE

    ENSINO ANGOLANO: Q U E V A N T A G E N S ?

    Por: Joaquim Sapalo CASTILHO CACUMBA

    Mestre em Lingustica Aplicada, University of South Africa (UNISA)

    Docente da Repartio de Ingls, ISCED-Hula

    Trabalho apresentado para as XIII Jornadas Cientficas do ISCED-Hula,

    2005

  • DADOS SOBRE FASE EXPERIMENTAL

    DA IMPLEMENTAO DAS LNGUAS

    NACIONAIS NO ENSINO ANGOLANO Lnguas a serem ministradas: Cokwe, Kikongo,

    Kimbundu, Nganguela, Nyaneka, Oxikwanyama, e Umbundo

    Incio: prximo ano lectivo;

    N de Alunos: 4,5 mil alunos da 1 Classe de algumas escolas do ensino primrio de Luanda; outras provncias: ???

    Staff: 35 coordenadores, cinco para cada lngua a ser ministrada e 105 professores do ensino primrio (fonte RNA e TPA);

    Investimento: 241 mil = material + 287 = form. de quadros (RNA e TPA, 2005)

  • Objectivos do Trabalho

    Apresentao de alguns dados histricos e cientficos sobre a implementao das lnguas nacionais no sistema de ensino em Angola, frica e no mundo;

    Consciencializao da audincia e dos futuros leitores sobre as fases e vantagens deste processo, bem como as condies que contribuem para o seu sucesso ou insucesso;

    Levantamento de algumas questes para uma anlise mais crtica sobre a actual realidade; e

    Proporcionar um documento de consulta para a populao universitria e no s.

  • PERGUNTAS A SEREM

    RESPONDIDAS

    O que ?

    Quem deve participar?

    Porqu implementar uma lngua nacional

    na educao?

    Por quanto tempo deve ser ensinada?

    Como deve ser feita a implementao?

    Quais so as condies necessrias para

    o sucesso deste processo?

  • O QUE ?

    Palavras Chaves

    Planificao Lingustica

    Lngua Nacional

    Lngua Indgena

    Dialecto

    Lngua Oficial

    Lngua Materna

    Lngua Franca

  • SIGNIFICADOS

    Planifificao Lingustica tentativa deliberada e sistemtica para resolver problemas lingusticos

    Lngua Nacional a principal de uma nao Lngua Indgena aquela usada pelos nativos de uma

    regio ou pas.

    Dialecto variaes de gram., vocab., pron., e escrita. Lngua Oficial lngua usada na governao, na

    aquisio e transmisso de conhecimentos cientficos, na cincia e tecnologia, pelos medias, etc.

    Lngua Materna (1) a primeira adquirida por um indivduo; (2) a lngua dos progenitores; ou (3) a lngua mais falada numa regio.

    Lngua Franca a utilizada entre falantes de duas lnguas diferentes.

  • Estrutura do Trabalho

    1. A Situao Sociolingustica de Angola

    2. Planificao Lingustica

    3. Vantagens do Uso das Lnguas Indgenas no Sistema de Ensino

    4. Condies Necessrias para o Sucesso do Processo de Implementao

    5. Algumas Reflexes Sobre a Fase Experimental da Implementao das Lnguas Nacionais no Sistema de Ensino Angolano

  • 1. A Situao Sociolingustica de Angola

    1.1. O Problema da Intercompreenso

    Verbal no Tempo Colonial

    1.2. As Relaes Lingusticas no

    Passado

    1.3. A Poltica Lingustica Colonial

    1.4. A Reconverso Lingustica

    1.5. Esforos Feitos para a Promoo

    das Lnguas Indgenas

  • 2. Planificao Lingustica

    2.1. Tipos de Planificao Lingustica

    2.2. Fases da Planificao Lingustica em

    Educao

    2.3. Orientaes Subjacentes Poltica

    e ao Planeamento Lingusticos

    2.4. Os Modelos de Implementao de uma

    Lngua Nacional

  • 3. Vantagens do Uso das Lnguas

    Indgenas no Sistema de Ensino

    3.1. Vantagens Econmicas

    3.2. Vantagens Culturais

    3.3. Vantagens Pedaggicas

    3.4. Vantagens Legais (Direitos Humanos)

    3.5. Estudos que Compravam as Vantagens

  • 4. Condies Necessrias para o

    Sucesso do Processo de

    Implementao

    4.1. Condies Psicolgicas

    4.2. Conscincia dos Domnios Lingusticos

    4.3. Motivao dos Alunos

    4.4. Atitudes da Comunidade e dos Alunos

    4.5. Perfil do Professor de Lngua

    4.6. Outras Condies

  • Tipos de Planificao

    Lingustica

    STATUS

    CORPUS

    PLANIFICAO LINGUSTICA EM

    EDUCAO ou IMPLEMENTAO

  • Tipos de Planificao

    Lingustica

    Status decises sobre o papel das diversas lnguas numa sociedade

    Corpus elaborao de novos termos, reforma da escrita, adopo do alfabeto, gramtica, vocabulrio, pronncia, etc.

    Planificao Lingustica em educao ou Implementao - decises sobre a lngua a ser utilizada no sistema de ensino

  • QUEM DEVE PARTICIPAR?

    FASES DA PLANIFICAO LINGUSTICA

    1. Seleco

    2. Codificao

    3. Elaborao e Modernizao

    4. Asseguramento da Aceitao da Lngua

  • FASES

    TAREFAS PARTICIPANTES

    1.

    Seleco

    escolha e fornecimento

    da base para a nova

    forma. A lngua

    escolhida pode ser

    tanto a do colono, ou

    ento uma lngua

    indgena ou uma que

    socialmente prestigiosa

    governantes,

    investigadores,

    historiadores,

    socilogos,

    encarregados,

    alunos,

    professores, ...

  • FASES

    TAREFAS PARTICIPANTES

    2.

    Codifica-

    o

    padronizao da

    lngua atravs da

    escolha do alfabeto, a

    determinao do

    sistema fonolgico e o

    seu correspondente

    sistema ortogrfico, da

    morfologia, sintaxe,

    etc.

    linguistas de

    diversas reas,

    lexicgrafos

  • FASE

    TAREFAS PARTICIPANTES

    3.

    Elabora-

    o e

    Moder-

    nizao

    expandir a nova norma

    para que seja usada

    em vrias

    necessidades

    comunicativas da

    sociedade, tais como

    rua ou vizinhana,

    educao, cincia e

    tecnologia, medias,

    direito, agncias

    comerciais, ...

    especialistas,

    desenhadores

    de curricula,

    desenhadores

    de materiais de

    ensino em

    vrias reas do

    saber

    (economia,

    cincias, artes,

    etc.

  • FASE

    TAREFAS PARTICIPANTES

    4.

    Assegu-

    ramento

    da

    aceitao

    fazer com que se

    mantenha o prestgio

    da lngua

    encorajando para tal

    que se desenvolva

    um orgulho na e para

    a mesma e lealdade

    para com ela

    Governo,

    psiclogos,

    encarregados,

    alunos e

    comunidade

  • DUAS QUESTES A TER EM

    CONTA DURANTE A SELECO 1. At que ponto esta escolha benfica para as

    nossas crianas e para a sua educao? A seleco tornar a aprendizagem mais fcil ou mais difcil

    agora ou mais tarde?

    Que efeitos ter na vida das crianas em termos da sua integrao ou alienao da comunidade bem como da aquisio de um emprego no seu futuro?

    2. At que ponto esta escolha benfica para a comunidade no geral?

    A lngua preservar o ressentimento das formas de poder?

    Perpetuar ou diminuir a diviso cidade/campo?

    Continuar a privilegiar falantes do Portugus em termos de acesso s notcias e a informao?

    Poder contribuir para o melhoramento do estatuto das lnguas indgenas e encorajar a publicao de textos literrios, cientficos, informativos, e outros nessas lnguas?

  • COMO DEVE SER FEITA A

    IMPLEMETAO?

  • CONDIES MODELOS SIGNIFICADO

    SUBJACENTES

    A lngua como

    um problema:

    extino das

    L1

    Modelo

    Transicional

    instruo em L2, visando a

    assimilao cultural e a

    incorporao das minorias na

    sociedade dominante

    A lngua como

    um direito:

    manuteno

    das L1

    Modelo

    de Manuteno

    Instruo maioritariamente na L1 por

    poucos anos, e aprende-se a

    lngua dominante como L2, e to

    cedo muda-se para a educao na

    lngua dominante, com o contnuo

    suporte da lngua materna (sada

    antecipada)

    A lngua como

    um recurso:

    preservao e

    desenvolver

    as L1

    Modelo de

    Enriquecimento

    estuda-se maioritariamente na L1 por

    um perodo mais longo, com a

    lngua dominante ensinada como

    lngua segunda, e uma mudana

    para a educao na lngua

    dominante, com o contnuo suporte

    da L2 (sada posterior).

  • Porqu implementar uma lngua

    nacional na educao?

    1. Vantagens Econmicas: especialistas defendem que a erradicao da pobreza e da misria no deveria ser mais vista como simples gerao de crescimento econmico; a expanso da capacidade humana deveria se tornar o objectivo mais elementar e essencial do desenvolvimento. Assim, o investimento mais essencial e efectivo para mudar a condio da pobreza e fomes neste mundo, ou expandir capacidades humanas, a educao. Para os povos indgenas a educao primria deve tomar um princpio multicultural e incluir estudos de culturas indgenas.

  • 2. Vantagens Culturais: A participao e transaces em vrias facetas de uma cultura, especialmente, artes verbais, letras, msica, e literatura, processos de governao, articulao de direitos fundamentais do homem e a comunicao entre grupos feita atravs da lngua, que um direito inalienvel do ser humano e smbolo de identidade cultural. Quando fornecida de maneira mais adequada, a educao bilingue:

    resulta numa identidade forte, positiva, multilingue e multicultural, com atitudes positivas para consigo mesmo e para com os outros;

    desenvolve e preserva uma diversidade cultural desejvel, promove identidade tnica, permite uma adaptabilidade social, aumenta segurana psicolgica da criana, e promove uma sensibilidade lingustica [e cognitiva];

    padroniza e enriquece as lnguas nacionais

  • Por outro lado, um Modelo Transicional na lngua dominante:

    priva as crianas da oportunidade para sucessos acadmicos e da vida, confiana, e auto-respeito, bem como respeito pela sua cultura e cultura da lngua maioritria;

    tira da criana a habilidade de comunicar-se bem com os pais e sua comunidade, removendo efectivamente as crianas da sua cultura e colocando-as numa cultura alheia, que a da lngua maioritria;

    contribui para a perca do conhecimento, da tradio, e de crenas sagradas do grupo minoritrio/indgena, e acelera o desaparecimento das lnguas e culturas.

  • 3. Vantagens Pedaggicas:

    sucessos cognitivos, acadmicos, e meta-lingusticos, e alcanar uma conscincia e competncia necessrias para trabalhar num mundo como o actual;

    Inicia-se a escola com muitas habilidades bem desenvolvidas na sua lngua materna;

    Utilizam a sua L1 para actividades com cunho mais cultural. Essas habilidades constituem a ponte que liga a L1 e a aprendizagem da L2 e entendimento do que no lhes familiar. Sem esta ponte fornecida pela lngua materna a sua chance de atingir um nvel acadmico na L2 pode ser severamente reduzida.

    Podem recorrer s suas estratgias visuais, lingusticas, e cognitivas utilizadas na L1 para ler e escrever na L2

  • 4. Vantagens Legais (Direitos Humanos )

    A Conveno sobre os Direitos da Criana e a Convnio sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais reconhece o direito universal educao de base. Entretanto, educar uma criana atravs de uma lngua que ela no sabe a lngua maioritria negar aquela criana o acesso equitativo a educao;

    Quando a lngua de instruo no a L1, impe-se exigncia dupla no aluno: 1. aprendizagem da lngua, e 2. aprendizagem da capacidade de ler e escrever fardo muito pesado. Muitos povos indgenas no conseguem hoje ler nem escrever devido lngua de instruo usada na altura e a falta de uma oportunidade de aprenderem primeiro na sua prpria lngua.

  • Por quanto tempo deve ser

    ensinada uma lngua?

    A criana precisa de pelo menos 12

    anos para que desenvolva a sua lngua

    materna: 6 anos ininterruptos no seio

    familiar e 6 anos ininterruptos na

    instruo formal (Collier, 1989).

  • Habilidades que devem ser

    Desenvolvidas numa

    Lngua?

    Acadmico

    Lingustico

    Cognitivo

  • BICS vs. CALP

    BICS (Basic Interpersonal Communication Skills) - proficincia lingustica necessria para uma comunicao interpessoal, e que no cognitivamente muito exigente;

    CALP (Cognitive Academic Language Proficiency) - actividades relacionadas com a leitura, escrita, pensamento crtico e vocabulrio que so cognitivamente e linguisticamente mais exigentes. Esta habilidade s se desenvolve caso haja uma exposio adequadamente programada a vrios tipos de documentos escritos (livros do curso, gramticas, dicionrios, jornais, textos de informao publicitria, receitas e informaes, correspondncias, romances, poesias, banda desenhada, textos sobre cincia e tecnologia, etc. (Cummins, 1978; 1979).

  • QUAIS SO AS CONDIES

    NECESSRIAS?

    4.1. Condies Psicolgicas

    4.2. Conscincia dos Domnios Lingusticos

    4.3. Motivao dos Alunos

    4.4. Atitudes da Comunidade e dos Alunos

    4.5. Perfil do Professor de Lngua

    4.6. Outras Condies

  • Qualidades do Professor de Lngua

    Comunicador proficincia em gramt., vocab., semntica, habilidades da lngua, etc.

    Analista que pode explicar a estrutura e funcionamento da lngua

    Professor capaz de transmitir diversas informaes sobre a lngua e criar condies para que os alunos se comuniquem e produzam textos diversos

  • Qualidades do Professor de

    Lngua

    Analista

    Comunicador

    Qualificado Professor

    Pesquisador

    CARCTER

  • 5. Algumas Reflexes sobre a

    Implementao das Lnguas

    Nacionais no Ensino Angolano

    1. Atitudes

    2. Seleco da Lngua

    3. Frequncia e Nvel de Uso

    4. Modelo a Seguir

    5. Docentes

    6. Investigao e Formao

    7. Material Didctico e Outro

    8. Organizao Escolar, Superviso e Inspeco

    9. Horrio

    10. Sustentabilidade

  • GRANDE QUESTO

    VALER A PENA IMPLEMENTAR J AGORA AS LNGUAS NACIONAIS NO SISTEMA DE ENSINO ANGOLANO?