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IMPLANTAÇÃO DE UNIDADE DEMONSTRATIVA EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS Sylvio Gonçalves Neto *1 , Eusângela Antônia Costa *2 1 Bolsista da Gerência de Agroecologia e Meio Ambiente da EMATER –DF, 2 Engenheira agrônoma da Gerencia de Agroecologia e meio ambiente da EMATER DF RESUMO A unidade demonstrativa implantada na granja do torto em Brasília, tem se mostrado uma excelente forma de cultivo para o pequeno produtor por trazer uma grande diversidade em alimentos, além do ganho ambiental com espécies arbóreas nativas e exóticas, podendo ser utilizado para ministrar cursos para técnicos da Emater-DF e agricultores da região. O SAF foi uma ótima ferramenta de observação, através do plantio e manejo foi possível ver consórcios que deram certo, plantas que se ajudam dentro do sistema, também observamos alguns erros que nos ajudaram a melhor entender o sistema, para em outros plantios buscar corrigir essas falhas. Palavras-chave: Agrofloresta, Agroecologia, Sustentável, Extensão rural. INTRODUÇÃO A agricultura moderna tem se baseado no uso intensivo de insumos com altos aportes de fora dos agroecossistemas. O Sistema agroflorestal vem se apresentando como uma alternativa viável para a produção sustentável em solos tropicais. O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil ocupando cerca de 30% do território nacional, e do mundo. Apresenta vegetação tipicamente savânica, campos, veredas e formações mais exuberantes, como os cerradões e as matas de galeria. Conta, atualmente, com uma diversidade de mais de 6.400 espécies vegetais catalogadas (Mendonça et al. , 1998 citado por Borges, 2005). Nas ultimas décadas, o referido bioma tem sofrido intensas modificações em sua estrutura original cujas principais causas residem na expansão das cidades, agricultura, pecuária, exploração mineral, ferrovias, indústrias, dentre outras (Anjos, 2005). Os sistemas Agroflorestais dirigidos pela sucessão natural apresentam-se como um sistema de produção que, além de produzir matérias primas de interesse para o homem, conservam os recursos naturais, inclusive a biodiversidade, sem a necessidade de insumos externos como, principalmente, fertilizantes e agrotóxicos. Os Sistemas Agroflorestais possibilitam a produção de alimentos de qualidade e a geração de renda para a agricultura familiar. O objetivo do trabalho foi a implantação de uma Unidade Demonstrativa de Sistema Agroflorestal sucessional com alta diversidade para demonstração e capacitação de produtores e extensionistas rurais. Esta área será utilizada para cursos técnicos voltados para agricultores do Distrito federal e entorno que estão no processo de transição agroecologica, de sistemas convencionais para sistema com maior biodiversidade. METODOLOGIA A implantação foi realizada dos dias 15 a 18 de agosto de 2008. A área em estudo possui 68 m². A adubação utilizada na área foi de ½ saco de calcário , ½ saco de termofosfato magnesiano, 1 saco de pó de rocha e 25 sacos de esterco de gado. O preparo do solo foi feito com uma passagem de grade aradora, e uma segunda passagem para incorporação dos adubos. Foi feita a implantação de um sistema de irrigação por aspersão devido ao plantio ter sido feito no período de seca, para plantios no inicio da estação chuvosa a irrigação não seria necessária. Com a utilização de enxadas, enxadões, escavadeiras, picaretas e pás, foi feita a abertura de berços para plantio das mudas com 60 cm X 60 cm X 60 cm destinados ao plantio de mudas de bananas e berços menores de 40cm x 40cm x 40cm para os plantios onde não seria utilizada a banana. Todos foram bem adubados com 200 gramas de calcário, 100 gramas de termofosfato magnesiano e 9 litros de esterco de curral. Nos berços de 60 cm foi feito o plantio de banana, café, pupunha, mamão, hortaliças, adubos verdes e espécies arbóreas nativas do cerrado. Nos berços de 40 cm foi feito o plantio de café, manga, jabuticaba, limão, mamão, graviola, mogno, pau de balsa, paineira, entre outras, além do plantio de espécies nativas. Nas entre linhas dos berços foi feito o plantio de adubos verdes, milho, feijão, hortaliças, inhame, taioba, abacaxi, sorgo, mamona, amora, mandioca e um coquetel de mais de 70 espécies de semente de árvores, do cerrado e de madeira lei. Dentre as frutíferas plantadas em muda, podemos citar na tabela 1 a quantidade e as espécies arrecadadas para o plantio junto com as hortaliças. Também foram plantadas algumas mudas de heliconias com o objetivo de observar o seu desenvolvimento em ambiente sombreado natural. Após o plantio foi feita a cobertura morta com palha de arroz. Todos os recursos foram arrecadados pela (GEAMB) Gerência de Agroecologia e Meio Ambientes – Emater-DF.

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IMPLANTAÇÃO DE UNIDADE DEMONSTRATIVA EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS

Sylvio Gonçalves Neto*1, Eusângela Antônia Costa*2

1Bolsista da Gerência de Agroecologia e Meio Ambiente da EMATER –DF,

2Engenheira agrônoma da

Gerencia de Agroecologia e meio ambiente da EMATER DF RESUMO A unidade demonstrativa implantada na granja do torto em Brasília, tem se mostrado uma excelente forma de cultivo para o pequeno produtor por trazer uma grande diversidade em alimentos, além do ganho ambiental com espécies arbóreas nativas e exóticas, podendo ser utilizado para ministrar cursos para técnicos da Emater-DF e agricultores da região. O SAF foi uma ótima ferramenta de observação, através do plantio e manejo foi possível ver consórcios que deram certo, plantas que se ajudam dentro do sistema, também observamos alguns erros que nos ajudaram a melhor entender o sistema, para em outros plantios buscar corrigir essas falhas. Palavras-chave: Agrofloresta, Agroecologia, Sustentável, Extensão rural. INTRODUÇÃO A agricultura moderna tem se baseado no uso intensivo de insumos com altos aportes de fora dos agroecossistemas. O Sistema agroflorestal vem se apresentando como uma alternativa viável para a produção sustentável em solos tropicais. O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil ocupando cerca de 30% do território nacional, e do mundo. Apresenta vegetação tipicamente savânica, campos, veredas e formações mais exuberantes, como os cerradões e as matas de galeria. Conta, atualmente, com uma diversidade de mais de 6.400 espécies vegetais catalogadas (Mendonça et al. , 1998 citado por Borges, 2005). Nas ultimas décadas, o referido bioma tem sofrido intensas modificações em sua estrutura original cujas principais causas residem na expansão das cidades, agricultura, pecuária, exploração mineral, ferrovias, indústrias, dentre outras (Anjos, 2005). Os sistemas Agroflorestais dirigidos pela sucessão natural apresentam-se como um sistema de produção que, além de produzir matérias primas de interesse para o homem, conservam os recursos naturais, inclusive a biodiversidade, sem a necessidade de insumos externos como, principalmente, fertilizantes e agrotóxicos. Os Sistemas Agroflorestais possibilitam a produção de alimentos de qualidade e a geração de renda para a agricultura familiar. O objetivo do trabalho foi a implantação de uma Unidade Demonstrativa de Sistema Agroflorestal sucessional com alta diversidade para demonstração e capacitação de produtores e extensionistas rurais. Esta área será utilizada para cursos técnicos voltados para agricultores do Distrito federal e entorno que estão no processo de transição agroecologica, de sistemas convencionais para sistema com maior biodiversidade. METODOLOGIA A implantação foi realizada dos dias 15 a 18 de agosto de 2008. A área em estudo possui 68 m². A adubação utilizada na área foi de ½ saco de calcário , ½ saco de termofosfato magnesiano, 1 saco de pó de rocha e 25 sacos de esterco de gado. O preparo do solo foi feito com uma passagem de grade aradora, e uma segunda passagem para incorporação dos adubos. Foi feita a implantação de um sistema de irrigação por aspersão devido ao plantio ter sido feito no período de seca, para plantios no inicio da estação chuvosa a irrigação não seria necessária. Com a utilização de enxadas, enxadões, escavadeiras, picaretas e pás, foi feita a abertura de berços para plantio das mudas com 60 cm X 60 cm X 60 cm destinados ao plantio de mudas de bananas e berços menores de 40cm x 40cm x 40cm para os plantios onde não seria utilizada a banana. Todos foram bem adubados com 200 gramas de calcário, 100 gramas de termofosfato magnesiano e 9 litros de esterco de curral. Nos berços de 60 cm foi feito o plantio de banana, café, pupunha, mamão, hortaliças, adubos verdes e espécies arbóreas nativas do cerrado. Nos berços de 40 cm foi feito o plantio de café, manga, jabuticaba, limão, mamão, graviola, mogno, pau de balsa, paineira, entre outras, além do plantio de espécies nativas. Nas entre linhas dos berços foi feito o plantio de adubos verdes, milho, feijão, hortaliças, inhame, taioba, abacaxi, sorgo, mamona, amora, mandioca e um coquetel de mais de 70 espécies de semente de árvores, do cerrado e de madeira lei. Dentre as frutíferas plantadas em muda, podemos citar na tabela 1 a quantidade e as espécies arrecadadas para o plantio junto com as hortaliças. Também foram plantadas algumas mudas de heliconias com o objetivo de observar o seu desenvolvimento em ambiente sombreado natural. Após o plantio foi feita a cobertura morta com palha de arroz. Todos os recursos foram arrecadados pela (GEAMB) Gerência de Agroecologia e Meio Ambientes – Emater-DF.

Tabela 1- Plantas utilizadas no SAF com 68 m²

Foram realizados manejos. O manejo consiste na poda da plantas que estejam sombreando excessivamente as outras. Essa poda parece promover a aceleração do processo de amadurecimento da agrofloresta.

Figura 1. Plantio do sistema agroflorestal.

RESULTADOS E REFLEXÃO No inicio do desenvolvimento houve uma grande infestação por tiririca o que dificultou o desenvolvimento de outras culturas. Deveria ter sido feito primeiramente antes do plantio um controle dessa tiririca com o uso de feijão de porco ou mucuna, assim facilitaria o manejo. Por causa de falha inicial e por alguns problemas técnicos o primeiro manejo foi feito com atraso, com isso a tiririca dominou algumas espécies, isso nos trouxe algumas perdas de mudas que ficaram sufocadas com a

MUDAS QUANTIDADE

Café 20,00 muda

Jussara 9,00 muda

Gueroba 4,00 muda

Açai 4,00 muda

Graviola 2,00 muda

Manga 2,00 muda

Jaboticaba 1,00 muda

Tangerina 1,00 muda

Mamão 20,00 muda

Banana Prata Antiga 10,00 muda

Helicónias 6,00 muda

Abacaxi 60,00 muda

HORTALIÇAS QUANTIDADE

Pimentão 25,00 muda

Couve-Flor 25,00 muda

Rucula 1,00 saquinho

Rabanete 1,00 saquinho

Alface Roxa 50,00 muda

Alface Lisa 50,00 muda

tiririca. O primeiro manejo acabou sendo muito trabalhoso, pois foi preciso fazer uma capina seletiva e o plantio de feijão de porco em toda a área para controle da tiririca. No primeiro manejo foi colhido tomate cereja, alface, rúcula e rabanete. As mudas de abacaxi foram plantadas muito secas, mas com o passar do tempo ficaram muito bonitas, as espécies plantadas próximas ao mamão se mostraram muito resistentes e bonitas, demonstrando que o mamão tem boas características como planta companheira. Houve um predomínio de mamona que necessitou ser podada para permitir a passagem de luz e desenvolvimento de outras culturas. Não foi observado nenhum tipo de dano por parte de insetos ou fungos embora haja uma alta diversidade de insetos presentes na área. Essa área poderá ser utilizada para realização de trabalhos futuros de bolsitas e técnicos que podem avaliar parâmetros produtivos e de melhoria do solo.

Figura 2 – Sistema Agroflorestal em desenvolvimento com 6 meses.

RELAÇÃO DO TRABALHO COM A SUSTENTABILIDADE Através desse trabalho é possível disseminar um pouco do conhecimento para técnicos e agricultores que tenha interesse em conhecer e observar uma forma de cultivo mais sustentável. CONCLUSÃO E LIÇÕES APRENDIDAS Este trabalho se tornou uma ferramenta para disseminação do uso de SAf’s na agricultura familiar por extensionistas na região do Distrito Federal e Entorno. E uma forma de estudo por parte das pessoas que buscam um entendimento maior sobre SAF’s através do trabalho e observação. Dentro do SAF foi possível aprender um pouco sobre alguns consórcios que se tornaram vantajosos, como o mamão e as frutíferas, o mamão e o café, a utilização de inhame e taioba como um excelente estrato baixo, a mamona também se tornou muito útil ocupando o estrato alto no inicio do SAF. O maior desafio observado foi a mão de obra qualificada para plantio e manejo dos SAF’s, sendo esta unidade uma boa alternativa para cursos sobre o assunto, já existem projetos para aumentar essa área, assim teriam áreas com diferentes idades, o que facilitaria no aprendizado dos produtores. Outro desafio é a transição de produtores convencionais para estilos de cultivos agroflorestais, pois o produtor depende da terra para viver e tem medo de arriscar em algo que não tem conhecimento, por isso a necessidade da extensão rural no campo, disponibilizando o conhecimento para os que têm menos condições ou não conseguem chegar a ele. Os conhecimentos dos princípios de funcionamento de um sistema agroflorestal e das dificuldades de manejo permitem uma maior segurança na recomendação técnica dos extensionistas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS BORGES, H. C. F. Plano de recuperação de áreas degradadas. Jazida de Cascalho Laterítico Santa Maria. Brasília, 2005. 302 p. ANJOS, E. F. La cuestión ambientale en el Brasil: los avanzos en el útimo años. 2005. 703 p.

EHLERS, E. Agricultura sustentável. Origens e perspectivas de um novo paradigma. São Paulo: Livros da Terra, 1996. p. 178. REDE DE CONTATO Gerência de Agroecologia e Meio Ambiente - Emater-DF. Tel 33403093 Eng° Agrônomo Sylvio de Campos Gonçalves Neto. Tel: 84418242 Eng° Agrônoma Eusangela Antônia Costa. Tel: AGRADECIMENTOS A Juã Pereira pelas orientações técnicas na implantação e manejo do SAF, a Paulo Neneve, Rafael Pupe e Leandro Couto pelo trabalho voluntário no SAF, à Embrapa Cerrados, SEAPA e Novacap pela doação de mudas e sementes e a todos mais que fizeram com que esse projeto se concretizasse.