impactos oro-faciais associados à utilização de...

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rev port estomatol med dent cir maxilofac. 2012; 53(2) :108–116 Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial www.elsevier.pt/spemd Revisão Impactos oro-faciais associados à utilizac ¸ão de instrumentos musicais José Frias-Bulhosa Medicina Dentária Preventiva e Comunitária, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa. Servic ¸o de Medicina Dentária, ACES Tâmega II, Vale do Sousa-Sul, Porto, Portugal informação sobre o artigo Historial do artigo: Recebido a 28 de junho de 2011 Aceite a 11 de novembro de 2011 On-line a 22 de dezembro de 2011 Palavras-chave: Medicina Dentária Ocupacional Medicina Dentária Preventiva Música Promoc ¸ão da Saúde resumo A crescente utilizac ¸ ão de instrumentos musicais desde a infância pode conduzir a situac ¸ões clínicas para as quais os profissionais médicos de saúde oral devem estar particularmente atentos, no sentido de prevenir e minimizar sequelas dessa utilizac ¸ão. O desenvolvimento de patologia associada à utilizac ¸ão de instrumentos musicais pode conferir limitac ¸ão tem- porária ou permanente, justificando a importância de incluir de forma válida a condic ¸ão das estruturas orais no âmbito das atividades da saúde ocupacional. Como objetivo deste trabalho de revisão pretende-se abordar, genericamente, as carac- terísticas dos instrumentos musicais que podem afetar as estruturas orais ou periorais e respetivas manifestac ¸ ões clínicas. Procedeu-se a uma revisão da literatura, recorrendo às bases de dados Medline, Scielo, Embase e SciVers, bem como à pesquisa manual em bibliotecas universitárias e de escolas de música em Portugal, Espanha e Reino Unido. Igualmente, adotou-se a pesquisa ativa com base nas referências utilizadas nas diversas publicac ¸ ões encontradas. © 2011 Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados. Oral-facial impacts associated with the use of musical instruments Keywords: Occupational Dentistry Preventive Dentistry Music Health Promotion abstract The increasing use of musical instruments since childhood, can lead to clinical conditions for which medical professionals oral health should pay particular attention in order to pre- vent and minimize consequences of such use. The development of pathology associated with the use of musical instruments can provide temporary or permanent limitations, jus- tifying the importance of including valid form of the condition of the oral structures in the activities of occupational health. Aim of this review paper is intended to address generally, the characteristics of musical instruments that can affect the oral or perioral structures and their clinical manifestations. Correio eletrónico: [email protected] 1646-2890/$ – see front matter © 2011 Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados. doi:10.1016/j.rpemd.2011.11.001

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Revista Portuguesa de Estomatologia,Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial

www.elsev ier .p t /spemd

Revisão

Impactos oro-faciais associados à utilizacãode instrumentos musicais

José Frias-Bulhosa

Medicina Dentária Preventiva e Comunitária, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa. Servico de MedicinaDentária, ACES Tâmega II, Vale do Sousa-Sul, Porto, Portugal

informação sobre o artigo

Historial do artigo:

Recebido a 28 de junho de 2011

Aceite a 11 de novembro de 2011

On-line a 22 de dezembro de 2011

Palavras-chave:

Medicina Dentária Ocupacional

Medicina Dentária Preventiva

Música

Promocão da Saúde

r e s u m o

A crescente utilizacão de instrumentos musicais desde a infância pode conduzir a situacões

clínicas para as quais os profissionais médicos de saúde oral devem estar particularmente

atentos, no sentido de prevenir e minimizar sequelas dessa utilizacão. O desenvolvimento

de patologia associada à utilizacão de instrumentos musicais pode conferir limitacão tem-

porária ou permanente, justificando a importância de incluir de forma válida a condicão

das estruturas orais no âmbito das atividades da saúde ocupacional.

Como objetivo deste trabalho de revisão pretende-se abordar, genericamente, as carac-

terísticas dos instrumentos musicais que podem afetar as estruturas orais ou periorais e

respetivas manifestacões clínicas.

Procedeu-se a uma revisão da literatura, recorrendo às bases de dados Medline, Scielo,

Embase e SciVers, bem como à pesquisa manual em bibliotecas universitárias e de escolas

de música em Portugal, Espanha e Reino Unido. Igualmente, adotou-se a pesquisa ativa com

base nas referências utilizadas nas diversas publicacões encontradas.

© 2011 Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Publicado por

Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados.

Oral-facial impacts associated with the use of musical instruments

Keywords:

Occupational Dentistry

Preventive Dentistry

a b s t r a c t

The increasing use of musical instruments since childhood, can lead to clinical conditions

for which medical professionals oral health should pay particular attention in order to pre-

vent and minimize consequences of such use. The development of pathology associated

Music

Health Promotionwith the use of musical instruments can provide temporary or permanent limitations, jus-

tifying the importance of including valid form of the condition of the oral structures in the

activities of occupational health.

Aim of this review paper is intended to address generally, the characteristics of musical

affect the oral or perioral structures and their clinical manifestations.

instruments that can

Correio eletrónico: [email protected]/$ – see front matter © 2011 Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados.

doi:10.1016/j.rpemd.2011.11.001

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The authors conducted a literature review using the Medline, Scielo, Embase and SciVers,

as well as the manual search in university libraries and in music schools in Portugal, Spain

and United Kingdom. Also adopted an active research based on the references used in the

various publications found.© 2011 Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Published by Elsevier

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eterminados hábitos podem condicionar o estado de saúderal ou das estruturas anexas e a utilizacão de instrumen-os musicais sempre foi considerada como um fator causal deotenciais complicacões oro-faciais, com particularidade parauso da voz ou de instrumentos de sopro1,2.

A utilizacão de instrumentos musicais tem vindo a cres-er em Portugal e frequentemente os indivíduos sofrem deomplicacões que os afetam profissionalmente ou nas suastividades de lazer, com consequentes implicacões na qua-idade de vida e expectativas económicas, sociais e culturaisos indivíduos3.

Um estudo publicado em 1988 mostrou que 82% de.212 músicos pertencentes a 48 grandes orquestras sinfó-icas dos EUA reportavam um qualquer problema de saúdeque 76% dos inquiridos afirmavam terem pelo menos um

roblema médico que interferiu com a sua capacidade comonstrumentista4.

Ao longo dos tempos, um importante número de regis-os na literatura científica5–16 tem reportado um conjuntoe impactos na saúde dos profissionais de música podendo,o limite, conduzir a mortes prematuras. Contudo escas-eiam estudos longitudinais que permitam uma efetivaonitorizacão nos indicadores de saúde nestes indivíduos e

ventualmente comparar esses dados com indivíduos exer-endo outras actividades ocupacionais.

Numa outra perspetiva, alguns tipos de tratamentos oraiseste grupo de profissionais podem provocar importantes

imitacões na performance instrumental17. Assim, torna-sextremamente importante para os profissionais de saúde oralpara os instrumentistas perspetivarem a vigilância periódicaas estruturas orais num sentido estritamente preventivo,as perante a necessidade de uma intervencão operatória,

stabelecer um completo entendimento das perspetivas tera-êuticas e suas condicionantes, como forma de prevencão deonflitos éticos e até do foro médico-legal2,3,12,18–20.

Neste trabalho de revisão pretende-se abordar de formaeneralista as características dos diversos instrumentos musi-ais, principalmente na interacão com as estruturas oraisu periorais e respetivas manifestacões clínicas que pode-ão advir desse contacto. Assim, ir-se-á restringir a análisee impactos nas estruturas orais aos instrumentos musicaisue pela sua técnica de execucão demonstram poder estar naénese de alguma patologia.

étodos

ara esse efeito, procedeu-se a uma revisão da literatura publi-ada, quer como trabalhos científicos, quer material editado

España, S.L. All rights reserved.

sob a forma de manuais de técnica instrumental musical,recorrendo-se para esse efeito às bases de dados Medline,Scielo, Embase e SciVers, bem como à pesquisa manual embibliotecas universitárias e de escolas de música em Por-tugal, Espanha e Reino Unido. Igualmente, adoptou-se apesquisa ativa com base nas referências utilizadas nas diver-sas publicacões encontradas.

Foram combinados os seguintes limites e descritoresMeSH: ((«Oral Health»[Mesh] OR «Dentistry»[Mesh]) AND«Music»[Mesh]) AND («Occupational Medicine»[Mesh]OR «Occupational Diseases»[Mesh] OR «OccupationalDentistry»[Mesh]) AND («humans»[MeSH Terms] AND(English[lang] OR French[lang] OR Italian[lang] OR Spa-nish[lang] OR Portuguese[lang]) AND («1960/01/01»[PDAT]:«2010/12/31»[PDAT])).

Tipos de instrumentos musicais

Sob o ponto de vista físico, os instrumentos musicais sãodispositivos sonoros, construídos por vários tipos de materi-ais, escolhidos essencialmente por razões de ordem práticae acústica. A configuracão com que cada instrumento musi-cal é fabricado obedece às propriedades anátomo-fisiológicashumanas, principalmente no que se refere à forma e dimensãoda mão.

Segundo Henrique21 deve-se a Hornbostel e Sachs aclassificacão dos instrumentos musicais em funcão dos seusprincípios acústicos (modo como é produzido o som) em4 categorias: Aerofones – o som é produzido pela vibracão demassa de ar originada sobre o instrumento, Cordofones – o somé produzido por uma corda tensa, Idiofones - o som é produzidopelo próprio instrumento, feito de materiais elásticos sonoros,sem estarem submetidos a tensão e Membranofones – o som éproduzido por uma membrana esticada.

Aerofones ou instrumentos de sopro

Os aerofones, vulgarmente designados instrumentos de soproserão aqueles que mais impactos poderão desencadear nasaúde oral dos instrumentistas e deveter-se em conta queas diferencas nas técnicas de execucão de cada instrumentopoderão refletir condicões clínicas diferenciadas.

Assim, classificaremos os diversos aerofones em funcão doseu tipo de bucal ou boquilha, ou seja, a porcão do instrumentoque entra em contacto com os lábios ou a boca (fig. 1), o qualtambém pode ser designado por embocadura mas neste caso

já deveremos ter como referência todo o conjunto da boquilhae das estruturas orais ou periorais, deste modo, os aerofonespoderão ser divididos em 6 grupos dos quais apenas 4 terãointeresse neste trabalho (tabela 1);
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Tabela 1 – Principais instrumentos de sopro com implicacões diretas nas estruturas oro-faciais

Aerofones de aresta (o som é produzido pela passagem do fluxo de ar naembocadura em forma de aresta)

Simples Flauta transversal, FlautimBisel Flauta de bisel, Apito

Aerofones de palheta [o som é produzido pela vibracãoda(s) palheta(s)]

Livres Órgão de boca, BerimbauBatentes Simples Saxofone, Clarinete

Duplas Oboé, Fagote, Corne InglêsAerofones de bucal (o som é produzido pela vibracão dos lábios) Trompete,

Trombone,Trompa, Tuba,Clarim, Feliscone

Voz (o som é produzido pela passagem da colunade ar nas cordas vocais)

Femininas Soprano, Mezzo-Soprano, ContraltoMasculinas Tenor, Barítono, Baixo

Figura 1 – Tipos de boquilhas e respetiva interacão coma cavidade oral durante a execucão musical: A-bucal,B-palheta simples, C-palheta dupla e D-bisel (adaptadode Yeo et al2 - Reproduzido com permissão do Australian

Figura 2 – Bucal de uma tuba.

Dental Journal©).

A execucão dos instrumentos de sopro obriga a uma com-plexa interacão neuromuscular estabelecida entre os lábios eos músculos da face e os dentes, palato e a língua e a boquilhado instrumento, tudo isto articulado com a producão, direcãoe intensidade da coluna de ar (ventilacão) que produz as sono-ridades próprias de cada instrumento.

Cada tipo de embocadura (figs. 2–8) requer uma articulacãoespecífica entre a boquilha, os lábios e o sistema respirató-rio de forma a permitir a correta execucão musical, assimalguns distúrbios presentes na boca e face dos instrumentistasde sopro estão intimamente relacionados com o formato daembocadura, tempo e frequência de execucão do instrumento.

Desta forma as características anatómicas dos indivíduospode facilitar a execucão de alguns instrumentos enquanto

noutros terão de haver mecanismos compensatórios da man-díbula e dos músculos da cabeca e pescoco que poderão ser acausa de problemas dento-faciais a posteriori. Esta perspetiva

Figura 3 – Bucal de uma trompete.

pode limitar a escolha dos indivíduos relativamente a um ououtro instrumento musical.

Frequentemente os músicos de sopros referem alteracõesnas suas estruturas oro-faciais que os impedem cabalmentena execucão do instrumento e podem criar limitacões naqualidade de vida dos indivíduos. Assim os distúrbios maisfrequentes serão os problemas ortodônticos, traumatismos eulceracões dos tecidos moles, xerostomia, herpes labial e dis-

tonia focal.

Ao cuidado com os procedimentos de higiene e de controleda infeccão cruzada das embocaduras deve ser dada a máxima

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Figura 4 – Bucal de um clarinete (frente).

Figura 5 – Bucal de um clarinete (perfil).

pifucu

Figura 7 – Bucal de um oboé (perfil).

Figura 8 – Bucal de uma flauta transversal.

Figura 9 – Análise de cultura microbiológica comparativade palhetas musicais novas e usadas durante mais de

Figura 6 – Bucal de um oboé (frente).

rioridade, a par com os primeiros ensinamentos técnicos donstrumento de sopro, pois pode constituir um importanteator de risco biológico para os instrumentistas, de acordo com

m ensaio piloto realizado por laboratório de microbiologia aoomparar o potencial bacteriológico de uma palheta nova vsma paleta já usada (uso > 1 mês) (fig. 9).

1 mês.

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Figura 10 a 12 – Interposicão do violino entre o corpoda mandíbula e o ombro.

112 r e v p o r t e s t o m a t o l m e d d e n

A voz como instrumento de sopro

A producão da emissão sonora vocal ocorre pela formacãode uma coluna de ar a partir do ar expelido pelos pulmões epela perturbacão dessa coluna de ar junto das cordas vocaise em funcão da capacidade vibratória das mesmas. A res-tante caracterizacão acústica da voz e respetiva aplicacãono canto musical está relacionada com a textura e posicãoassumida por movimentos da laringe, pelos lábios, pela língua,pela mandíbula e dentes22; de acordo com estes princípios avoz é classificada como um instrumento musical de sopro.

Tradicionalmente a voz é classificada segundo 3 parâme-tros: amplitude, timbre e tessitura23,24 e estes podem sermodelados em funcão das estruturas anátomo-funcionais daorofaringe.

Os cantores, os atores e os professores são as clas-ses profissionais que maioritariamente reportam problemasde saúde associados à utilizacão da voz como instrumento detrabalho8,25,26.

Nos músicos uma das queixas mais evidentes é securadas mucosas provocada pelo atrito resultante da passagemda coluna de ar; este facto poderá constituir um fator de riscopara a desmineralizacão acentuada do esmalte dentário.

De igual forma os ambientes onde são realizadas as ati-vidades podem influenciar significativamente a capacidadepara o desempenho desta atividade pois os palcos em algumassalas de espectáculo podem estar sujeitos ao fumo, poeiras ear condicionado27.

Cordofones ou instrumentos de corda

De entre os instrumentos de corda, a técnica de execucãodo violino e da viola de arco ou violeta (o violino é ligeira-mente mais pequeno e leve do que a viola de arco ou violeta)será a que apresenta maior potencial de dano nas estrutu-ras oro-faciais28–30, pois o seu principal suporte (queixeira– dispositivo de apoio anatómico que auxilia o instrumen-tista a acomodar de maneira mais confortável o violino ou aviola de arco ao queixo) permite fixar o instrumento entre orebordo inferior do corpo da mandíbula e o ombro esquerdo(figs. 10–12).

O equilíbrio de forcas exercidas entre o ombro e a mandí-bula vai estar em constante modificacão durante a execucão,esta posicão induz a desgastes das cúspides dentárias prin-cipalmente entre o 2.◦ e o 3.◦ quadrante, podendo ocorrerfraturas dessas cúspides, principalmente dos dentes molares epré-molares, bem como pode induzir à ocorrência de mordidascruzadas31,32.

Estes instrumentistas apresentam uma prevalência de40% de dores de pescoco e dos músculos faciais contra cercade 14% da populacão geral2,33.

Devido à existência de pequenas lesões de repeticão podeocorrer remodelacão da ATM conduzindo à degeneracão pre-matura do menisco e cápsula articular, sob a forma de

2,34

irregularidades no côndilo .Num estudo35 conduzido em 30 músicos com aplicacão de

dispositivos intraorais de apoio dentário (férulas), 80% repor-taram melhoria dos sintomas predominantes, sendo que o

tratamento com este tipo de dispositivos contribuiu para umadiminuicão significativa na dor no pescoco em 91%, dos den-tes / dor na ATM em 83%, e de dor no ombro ou extremidadesuperior em 76% dos músicos.

Outro tipo de lesão típica nestes músicos é a relaci-onada com as glândulas salivares e linfoadenopatias por

33

degeneracão tecidual unilateral .Durante a prática musical há um contacto permanente,

mais ou menos intenso, entre o instrumento e a pele do

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úsico. Segundo Onder et al.36 a prevalência de problemase pele relacionados com a execucão dos instrumentos ocorrem 32% dos executantes de cordas e 27% dos executantes denstrumentos de sopro, comparativamente a 9% numa amos-ra de não músicos. Já Ostwald et al.37, através de um estudoransversal, determinaram que 20 em 97 músicos apresenta-am problemas dermatológicos e Nethercott e Holness38 numstudo prospetivo determinaram que a incidência de proble-as dermatológicos ocorreu em 32% dos instrumentistas de

orda e em 20% dos instrumentistas de sopro, respetivamente.utros autores39 determinaram uma frequência de 49,7% em

odos os tipos de músicos estudados.A dermatite de contactorovocada pela friccão do instrumento sob o queixo e rebordoandibular pode assumir uma variabilidade patológica desdedermatite crónica no local de abrasão até ao estabelecimentoe processo infeccioso, passando por eczema atópico ousoríase, eventual hipersensibilidade ou alergia a deter-inado tipo de madeiras e vernizes constituintes do

nstrumento. O agravamento de algumas doencas de peleodem ser mediadas pela transpiracão e higiene2,40–42.

A utilizacão de suportes do instrumento no ombroespaleira - acessório utilizado para apoiar o violino aombro do músico.) é uma possível abordagem terapêutica,ontudo existem outras como métodos de relaxamento pos-ural e fisioterapia. Outro tipo de dispositivos de protecão euporte dentário43 foram criados e estão a ser desenvolvi-os com o objetivo de permitir um equilíbrio na estabilizacãoas estruturas oro-dentárias e promover mecanismos prote-ores sem alteracão das características acústicas produzidaselos músicos.

roblemas ortodônticos

ão vários os problemas do foro ortodôntico que podem surgiros músicos, mais em particular daqueles que utilizam ins-rumentos de sopro, pois a estabilizacão da embocadura comboca e com os dentes pode provocar desvios na sua inter-

elacão de toda a estrutura maxilofacial18,44–47. Igualmenteposicão dos dentes poderá influenciar a postura corporal

a execucão de notas de alguns instrumentos, contribuindoara uma maior fadiga e, ao longo de tempo, uma reducão naapacidade de resposta ergonómica à atividade musical48.

Estudo de Maia e Araújo49 destaca que uma vez adquiridaembocadura as estruturas constituintes não devem sofrerodificacões, pois as variacões na embocadura resultantes deodificacões anatómicas dos dentes anteriores e que podem

urgir ao longo de tratamentos dentários poderão interfeririretamente no desempenho do músico. Quando surge estaituacão o instrumentista deve adaptar-se e adquirir outroosicionamento da embocadura.

A ocorrência de movimentos dentários está condicio-ada a um processo biológico múltiplo, caracterizado por umonjunto sequencial de alteracões dos tecidos periodontais.uando um conjunto de forcas é aplicado sobre os dentesurante um determinado tempo provoca a movimentacão

entária através de um procedimento de remodelacão do ossoircundante50.

Todo o processo de remodelacão óssea será influenci-do pela intensidade das forcas aplicadas sobre os dentes,

a x i l o f a c . 2 0 1 2;53(2):108–116 113

contudo a quantificacão dessas forcas são um processode difícil monitorizacão no ser humano, pois mediado-res bioquímicos (prostaglandinas) ou efeitos piezoeléctricospoderão também condicionar a resposta biológica às forcasmecânicas51.

O conceito atual de otimizacão das forcas para amovimentacão dentária é baseado numa sinergia criada entrea magnitude e o período de exposicão à forca, de forma a pro-duzir movimento dentário sem sequelas nos tecidos e como máximo de conforto para o paciente, essencialmente nodomínio da sintomatologia dolorosa52. Contudo, a maioria dosdados disponíveis nesta matéria reportam-se a estudos ani-mais, condicionando a sua adaptacão ao Homem53–57.

A forca ótima para a movimentacão dos dentes dependedo tipo de dente e do indivíduo, no entanto existe algumavariabilidade apresentada pelos diversos autores. Proffit58

considerou que idealmente as forcas envolvidas na maioriados tratamentos ortodônticos são na ordem de grandeza dos50 a 150 g; já Ricketts et al.59 indica que esse valor «ideal» seriacerca de 100 g/cm2 da face radicular afectada pelo movimentodentário; Krishnan e Davidovitch60 refere que a mecano-terapia ortodôntica produz resultados com forcas entre os20 e os 150 g consoante o tipo de dente.

Todos estes relatos apresentam-se francamente inferio-res às verificadas durante a normal utilizacão dos váriosinstrumentos de sopro, que podem atingir na classe dasmadeiras 211 a 270 g, ou nos metais 500 g, tornando-se destemodo potencialmente nocivo para a harmonia dento-facialdos indivíduos46,61.

Num estudo62 que permitiu a monitorizacão das forcasexercidas por 4 tipos de instrumentos de sopro foi determi-nado que a variacão das forcas exercidas pelos bucais sobreos dentes incisivos era de 29 N (tuba) a 50 N (trompete) eque as flexões sofridas pelos dentes incisivos, devido a essasforcas, variavam entre os 43 microns (tuba) e os 100 microns(trompete). Com base nestes resultados, será válido prevenira deslocacão dos dentes e lesões periodontais que poderãoconduzir a anquilose dentária.

Num estudo desenvolvido junto de 78 músicos de instru-mentos de sopro, submetidos a tratamento ortodôntico fixo,Raney63 refere que apenas 14% dos indivíduos referem não tertido efeitos adversos na sua atividade musical; nesse estudoigualmente foi referido o facto de o tempo de adaptacão ànova situacão clínica ser superior para os instrumentistas deflauta e de metais, esse facto poderá ser explicado devidoao tipo de embocadura que obriga à pressão de encontroaos lábios e destes contra as faces vestibulares dos dentesanteriores.

As sequelas labiais que advêm da pressão dos lábios con-tra a boquilha dos instrumentos têm tentado ser minimizadas,quer pelos ortodontistas quer pelos próprios instrumentistas,com o recurso à utilizacão de ceras ortodônticas ou dispo-sitivos de protecão dentária, no entanto este processo podeconduzir a uma deterioracão mais acentuada dos bucais e daspalhetas64.

A idade de início dos tratamentos ortodônticos fixosapresenta-se atualmente mais ampla que no passado, mas

será durante a adolescência que este tipo de tratamentoé mais frequente, período esse bastante importante paraa formacão de um músico, conduzindo por vezes a sérias
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114 r e v p o r t e s t o m a t o l m e d d e n

limitacões nos tratamentos ortodônticos, mas também porvezes a importantes atrasos na evolucão das técnicas deexecucão instrumental.

Distonia focal

A distonia focal é uma patologia de origem neuromuscularrara na populacão geral, mas de extrema importância emsaúde ocupacional, principalmente nos indivíduos que exe-cutem movimentos repetidos durante longos períodos.

Nos músicos pode apresentar uma prevalência signifi-cativa e afeta essencialmente os músculos que executamuma acão repetida ou assumam uma posicão forcosamentecontraída com os dedos das mãos ou com os músculos da faceno controle do instrumento durante a producão de som65–67.

A distonia da embocadura afeta o indivíduo na producão econtrole do som devido a um conjunto de contracões muscula-res involuntárias dos músculos da face, em associacão a umadescoordenacão lingual e respiratória. Os mecanismos tera-pêuticos desta patologia, que pode conduzir à desmotivacãodo indivíduo, e que integrem processos psicoterapêuticos têmpermitido recuperar funcionalmente alguns dos instrumen-tistas afetados.

Este tipo de patologia está associado a longos períodosde tratamento e reabilitacão com uma consequente inativi-dade ocupacional, daí tornar-se importante numa perspetivapreventiva o seu diagnóstico precoce e rápido encaminha-mento para procedimentos terapêuticos67,68.

Atualmente admite-se que a génese da distonia está asso-ciada a alteracões da excitabilidade de determinados circuitoscerebrais ligados ao controle motor induzidos pelos movimen-tos repetitivos e estereotipados, que os músicos assumem nasua atividade, conduzindo a alteracões motoras e sensoriaisdevido ao fenómeno de hiperexcitabilidade intracortical e àhiperatividade cortical focal69.

Consideracões prostodonticas

Em Portugal, devido às elevadas taxas de mortalidade dentáriana populacão adulta, a reabilitacão protética nos músi-cos pode configurar-se como uma necessidade profissional,mas também como um problema acrescido para o médico,pois torna-se muito importante a estabilidade da prótese paraa producão musical.

Se por um lado, o recurso a próteses suportadas por implan-tes pode permitir uma estabilidade aceitável para a práticamusical, por outro lado, as forcas exercidas pelos bucaisno caso dos instrumentos de sopro ou pela pressão oclusalno caso de alguns instrumentos de corda podem ao longo dotempo condicionar o sucesso no seu conjunto17.

Relativamente ao recurso a próteses removíveis tornar-se-á um importante desafio a estabilizacão e resistência dasmesmas durante a prática musical, assim será de todo útil

ao médico tomar conhecimento das características do ins-trumento musical e do conjunto de forcas a exercer sobreas próteses para uma melhor adaptacão destas após a suaconfecão.

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Traumatismos dos tecidos moles orais

Durante o apoio dos bucais sobre os lábios e as forcas exercidasna execucão do instrumento provoca dor e laceracões essen-cialmente pela friccão e vibracão produzida na execucão70.

Outro aspecto a ter em consideracão será o aumentoda frequência de lesões do tipo ulcerativo que os músi-cos apresentam com localizacão predominantemente noslábios. Trata-se de uma situacão comum em executan-tes de certos tipos de instrumentos musicais, devido àposicão de execucão das palhetas e respetiva relacão comos lábios e interposicão destes com os bordos dentários,provocando um traumatismo sistemático. Estes indivíduosapresentam constantemente queixas de ulceracões, dor ou atéhiperpigmentacão da mucosa labial71.

Os músicos de sopros devem ser capazes de sustentaraltas pressões intraorais, a fim de tocar as notas mais agu-das. A exposicão prolongada a essas pressões elevadas podelevar à insuficiência no desempenho, relacionado com trans-tornos velofaríngeos. Este tipo de distúrbio ocorre quando opalato mole não fecha completamente a passagem de ar entreas cavidades nasais e orais na cavidade respiratória superiordurante as tarefas de sopro. Esse encerramento é necessáriopara otimizar o desempenho de um instrumento de sopro epode ser potencialmente ameacador da carreira artística doexecutante72.

Lesões do foro dermatológico

A pele é um órgão importante no posicionamento e execucãode instrumentos musicais. Durante a prática musical há umcontacto permanente e intenso entre o instrumento e a pele domúsico, podendo dar origem a lesões. A natureza e a frequên-cia das lesões estão dependentes do instrumento executado edo material que o constitui surgindo nos pontos de contacto:boca, lábios, mento ou dedos70.

Além do agravamento de algumas doencas de pele, taiscomo a psoríase ou o eczema atópico devido à prática musi-cal, podem ainda surgir complicacões do foro dermatológicoespecificamente causadas pela execucão de instrumentosmusicais41,42.

Conclusões

Como se descreveu ao longo deste artigo, a utilizacão de certosinstrumentos musicais deve ser motivo de particular atencãona abordagem estomatológica, pelo facto de estes poderemconstituir uma potencial fonte de alteracões patológicas nacavidade bucal. Contudo, com a crescente adesão por partedos mais jovens à aprendizagem musical e pelo envolvimentode milhares de praticantes musicais em escolas, orques-tras, bandas e filarmónicas torna-se, na opinião do autor,de extrema atualidade o importante desafio de prevencão e

tratamento das complicacões orais junto destes indivíduos,uma vez que daí podem advir sequelas crónicas e incapaci-tantes para a prática musical, com inerentes repercussões, emalguns casos, profissionais.
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Os instrumentos de sopro, os instrumentos de corda comoviolino e a viola de arco ou violeta, e a utilizacão musical da

oz serão os instrumentos musicais mais susceptíveis de ori-inar lesões orais ou da ATM, devido a sua utilizacão implicarenvolvimento de estruturas anatómicas da cavidade oral e

erioral.Os médicos especialistas nestas estruturas orais, bem

omo outros profissionais de saúde e outros agentes queidam com estes indivíduos devem promover, junto des-es, comportamentos de vigilância médico-dentária periódica,oncomitantemente a utilizacão de dispositivos de proteccãondividual deve também ser promovida como uma medidafetiva de prevencão de traumatismos.

ireito à privacidade e consentimento escrito

s autores declaram ter recebido consentimento escrito dosacientes e/ ou sujeitos mencionados no artigo. O autor paraorrespondência deve estar na posse deste documento.

onflito de interesses

s autores declaram não haver conflito de interesses.

gradecimentos

todos músicos envolvidos e que se disponibilizaram paraolaborar no desenvolvimento do estudo, com particular refe-ência ao professor de saxofone Hugo Lopes da Academia deúsica de Castelo de Paiva, igualmente o meu agradecimentoProfessora Doutora Cristina Pina (FCS-UFP) pelo apoio labora-

orial na análise microbiológica das palhetas e por último, aosolegas Mestre Miguel Pais Clemente e Professor Doutor Márioasconcelos da FMDUP por toda a reflexão conjunta que temindo a ser desenvolvida no âmbito desta temática.

i b l i o g r a f i a

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