impactos da selic e dos impostos na rentabilidade dos...

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REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 4 - Número 2 | 2º trimestre de 2019 | http://insepe.org.br/revistainsepe ....................................................................................................................................................... IMPACTOS DA SELIC E DOS IMPOSTOS NA RENTABILIDADE DOS ATIVOS DE RENDA FIXA AUTORES (AS): Hugo Rocha Carvalho Moraes; Vander Lúcio Sanches RESUMO Ter um fluxo eficiente de capitais entre poupadores e investidores é de grande importância para o desenvolvimento de qualquer país. Nesse sentido, o presente artigo tem o objetivo de demonstrar como a taxa Selic e os impostos influenciam a rentabilidade do mercado de renda fixa para o pequeno investidor, sendo, desse modo, abordadas as características dos ativos de renda fixa brasileiros. Tendo em vista a queda acentuada da taxa Selic nos últimos anos, o estudo se justifica a fim de que seja verificado o cenário atual do mercado. Trata-se de uma pesquisa descritiva realizada com o uso de estudos exploratórios apoiados em livros, sites, artigos, publicações de agências de rating, entre outros conteúdos. Palavras-chave: Análise de ativos de renda fixa. Imposto sobre aplicações financeiras. Taxa Selic. Rendimentos reais e nominais. 1 INTRODUÇÃO Ter um fluxo eficiente de capitais entre poupadores e investidores é de grande importância para o desenvolvimento de qualquer nação.

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REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 4 - Número 2 | 2º trimestre de 2019 |

http://insepe.org.br/revistainsepe

.......................................................................................................................................................

IMPACTOS DA SELIC E DOS IMPOSTOS NA RENTABILIDADE DOS ATIVOS DE RENDA FIXA

AUTORES (AS): Hugo Rocha Carvalho Moraes; Vander Lúcio Sanches

RESUMO

Ter um fluxo eficiente de capitais entre poupadores e investidores é de grande importância

para o desenvolvimento de qualquer país. Nesse sentido, o presente artigo tem o objetivo de

demonstrar como a taxa Selic e os impostos influenciam a rentabilidade do mercado de renda

fixa para o pequeno investidor, sendo, desse modo, abordadas as características dos ativos de

renda fixa brasileiros. Tendo em vista a queda acentuada da taxa Selic nos últimos anos, o

estudo se justifica a fim de que seja verificado o cenário atual do mercado. Trata-se de uma

pesquisa descritiva realizada com o uso de estudos exploratórios apoiados em livros, sites,

artigos, publicações de agências de rating, entre outros conteúdos.

Palavras-chave: Análise de ativos de renda fixa. Imposto sobre aplicações financeiras. Taxa

Selic. Rendimentos reais e nominais.

1 INTRODUÇÃO

Ter um fluxo eficiente de capitais entre poupadores e investidores é de grande

importância para o desenvolvimento de qualquer nação.

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No Brasil, são incentivados os investimentos nos setores imobiliário, de agronegócio e

de infraestrutura. Nas aplicações no Tesouro Direto, o pagamento de imposto de renda é

obrigatório; por sua vez, as aplicações em Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de

Crédito do Agronegócio (LCA), Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificado de

Recebíveis Agronegócio (CRA) e Debêntures Incentivadas são isentas de imposto de renda

(PERLIN, 2019). Parte da isenção é repassada ao investidor que consegue taxas melhores com

este tipo de ativo. Assim, a correta avaliação dos ativos disponíveis pode contribuir bastante

para aumentar a rentabilidade de uma carteira.

Igualmente, identificar que o cenário econômico pode oferecer ganhos com os juros é

uma forma importante de aumentar o retorno de uma carteira, tendo em vista que os juros das

aplicações de renda fixa podem ser pós-fixados ou prefixados, como aponta Cerbasi (2008, p.

138):

A diferença é simples.

Taxa pré-fixada: ao contratar o investimento, você já sabe qual taxa irá

receber pelo prazo que deixar o seu dinheiro ‘aplicado’ (o termo correto

deveria ser ‘emprestado’). Por exemplo, ao pesquisar os CDBs que seu

banco lhe oferece para uma aplicação de R$ 1.000, uma das opções é

investir durante 12 meses, a juros de 10% ao ano. Ao optar por este

investimento, você sabe que receberá, antes do pagamento do Imposto de

Renda, um montante de R$ 1.100 ao final de um ano.

Taxa pós-fixada: normalmente, a remuneração que lhe é proposta está

vinculada ao desempenho de algum índice que pode variar ao longo do

tempo.

Assim, mesmo aplicações de renda fixa consideradas por investidores iniciantes como

de baixo risco podem ter grandes variações de resultado. De acordo com Fontes (2017), no

ano de 2012, um título do Tesouro Direto, o NTN-B com vencimento em 2035, rendeu

44,32% contra 8,39% do CDI e, em 2013, o mesmo título público teve uma rentabilidade

negativa de 34,7%.

Aplicações em títulos prefixados, quando o objetivo não é mantê-las até o vencimento,

podem oferecer prejuízo, pois, nesse tipo de investimento, a rentabilidade nominal é somente

aquela contratada se o investidor ficar com o título até a data de vencimento.

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Nesse cenário, a análise fundamentalista pode contribuir muito, como destaca Póvoa

(2012, p. 7):

[O] objetivo principal da Escola Fundamentalista é reduzir a

‘imponderabilidade’ natural do cálculo do valor de um ativo. Ela busca,

através de projeções individuais de futuro ou comparações com os ativos já

existentes, atingir um valor justo para o objeto em questão.

Desse modo, o presente artigo objetiva identificar como a taxa Selic e os impostos

influenciam os resultados de renda fixa do investidor pessoa física no Brasil.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 IMPOSTOS NO MERCADO DE RENDA FIXA

As aplicações do mercado de renda fixa são taxadas pelo imposto de renda e pelo

imposto sobre operações financeiras. A alíquota de imposto de renda pode variar entre

22,25% e 15%, dependendo do período da aplicação, nos termos da lei n. 11.033, de 11 de

dezembro de 2004:

I - 22,5% (vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento), em aplicações

com prazo de até 180 (cento e oitenta) dias;

II - 20% (vinte por cento), em aplicações com prazo de 181 (cento e

oitenta e um) dias até 360 (trezentos e sessenta) dias;

III - 17,5% (dezessete inteiros e cinco décimos por cento), em aplicações

com prazo de 361 (trezentos e sessenta e um) dias até 720 (setecentos e

vinte) dias;

IV - 15% (quinze por cento), em aplicações com prazo acima de 720

(setecentos e vinte) dias (BRASIL, 2004, art. 1°).

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TABELA 1 – IMPOSTO DE RENDA

Índice Alíquota

Aplicações de até 180 dias 22,5%

Aplicações de 181 dias até 360 dias 20%

Aplicações de 361 dias até 720 dias 17,5%

Aplicações acima de 720 dias 15%

FONTE: Lei n. 11.033, de 11 de dezembro de 2004 (BRASIL, 2004).

Com relação ao IOF, as aplicações financeiras estão sujeitas à sua incidência apenas

nos primeiros 30 dias.

TABELA 2 – IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS

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TABELA 2 – IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS

Número de dias Alíquota do IOF sobre o rendimento

01

02

03

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05

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07

08

09

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27

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29

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86

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80

76

73

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30

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13

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06

03

00

FONTE: Anexo do Decreto n. 6.306, de 14 de dezembro de 2007 (BRASIL, 2007).

2.2 ATIVOS DO MERCADO DE RENDA FIXA

Um ativo de renda fixa representa o empréstimo de determinado valor de um

investidor a uma instituição, com a expectativa de recebimento de juros sobre o montante

dentro de um intervalo de tempo previamente fixado (CAOUETTE et al., 2009).

Segundo Fontes (2017), esses empréstimos diferem conforme o indexador da dívida

(juros), o emissor da dívida (governo, banco ou empresa que recebe e paga o empréstimo), o

vencimento/prazo, o lastro ou a garantia do empréstimo e o tipo de marcação ou preço de

negociação.

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2.2.2 Títulos públicos

Quando são pós-fixados ou levados até o vencimento, geralmente, os títulos públicos

são ativos mais seguros e, por isso, as taxas de juros pagas pelo governo tendem a ser

menores do que as taxas de juros pagas por entidades do setor privado.

Contudo, no mercado prefixado, se o título não for mantido até a data de vencimento,

a rentabilidade não é fixa, tendo em vista que ele perde valor com a precificação das

elevações da taxa e ganha valor com a precificação das quedas (FONTES, 2017).

Atualmente, o único título público pós-fixado é o Tesouro Selic.

TABELA 3 – TÍTULOS PÚBLICOS

Título Vencimento Rentabilidade nominal

Tesouro IPCA+ 2024 15/08/2024 IPCA + 3,37

Tesouro IPCA+ 2035 15/05/2035 IPCA + 3,91

Tesouro IPCA+ 2045 15/05/2045 IPCA + 3,91

T. IPCA+ com juros semestrais 2026 15/05/2026 IPCA + 3,43

T. IPCA+ com juros semestrais 2035 15/05/2035 IPCA + 3,80

T. IPCA+ com juros semestrais 2050 15/05/2050 IPCA + 3,98

Tesouro Prefixado 2022 01/01/2022 6,58

Tesouro Prefixado 2025 01/01/2025 7,53

T. Prefixado com juros semestrais 2029 01/01/2029 7,90

Tesouro Selic 2025 01/03/2025 Selic + 0,02

FONTE: Secretaria do Tesouro Nacional (2019).

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2.2.3 Títulos bancários

Os bancos são intermediadores financeiros que emprestam e captam recursos de

terceiros. A diferença de juros entre os empréstimos e os recursos captados é chamada de

spread e serve tanto para gerar o lucro do banco quanto para cobrir as inadimplências.

Os principais produtos bancários são: Certificado de Depósito Bancário (CDB),

Caderneta de Poupança, Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), Letra de Crédito

Imobiliário (LCI) e depósitos à vista. Todos esses produtos são assegurados pelo Fundo

Garantidor de Crédito (FGC) até o valor de R$ 250 mil em cada instituição, sendo garantido

até R$ 1 milhão por pessoa física/CPF (FGC, 2019).

Todos os bancos contribuem para o FGC com 0,0125% do valor garantido e,

portanto, apenas as aplicações bancárias têm a garantia do FGC (FONTES, 2017).

2.2.4 Caderneta de Poupança

Segundo dados da ANBIMA (2019), em dezembro de 2018, o mercado de varejo tinha

R$ 730 bilhões alocados na Caderneta de Poupança, que ainda é a forma mais popular e

conhecida de aplicação no Brasil.

TABELA 4 – CONHECIMENTO SOBRE APLICAÇÕES

Conhecimento

espontâneo

Conhecimento geral

(espontâneo + estimulado)

Utilização

Poupança 32% 92% 37%

Ações na Bolsa 11% 77% 1%

Fundos de investimento 9% 58% 2%

Títulos públicos 8% 43% 1%

Títulos privados 7% 36% 2%

Previdência privada 3% 71% 3%

Moedas digitais 2% 43% 1%

Não lembra 1% 1% -

Não conhece/pretende utilizar 54% 3% 57%

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FONTE: ANBIMA (2019).

Contudo, os juros da Caderneta de Poupança são de apenas 4,55% ao ano, pois ela

rende 70% da Taxa Selic mais a Taxa Referencial, nos termos da lei 8.171/91:

Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança serão remunerados:

I - como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação das

TRD, no período transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento,

inclusive, e o dia do crédito de rendimento, exclusive;

II - como remuneração adicional, por juros de: (Redação dada pela Lei nº 12.703, de

2012)

a) 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano,

definida pelo Banco Central do Brasil, for superior a 8,5% (oito inteiros e cinco

décimos por cento); ou (Redação dada pela Lei nº 12.703, de 2012)

b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco Central

do Brasil, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento, nos

demais casos. (Redação dada pela Lei nº 12.703, de 2012)

§ 1° A remuneração será calculada sobre o menor saldo apresentado em cada

período de rendimento.

§ 2° Para os efeitos do disposto neste artigo, considera-se período de rendimento:

I - para os depósitos de pessoas físicas e entidades sem fins lucrativos, o mês

corrido, a partir da data de aniversário da conta de depósito de poupança;

II - para os demais depósitos, o trimestre corrido a partir da data de aniversário da

conta de depósito de poupança (BRASIL, 1991).

Mesmo tendo isenção de imposto de renda, a rentabilidade deste ativo é uma das

menores, como será comentado posteriormente.

A Caderneta de Poupança também não está sujeita ao IOF, pois rende juros uma vez a

cada 30 dias; as retiradas em períodos inferiores a 30 dias são excluídas do rendimento de

juros.

2.2.5 Títulos privados

Os principais títulos privados não bancários são o Certificado de Recebíveis do

Agronegócio (CRA), o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) e as Debêntures.

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2.3 RISCO

A avaliação da atratividade do retorno de qualquer ativo pode ser feita corretamente

apenas quando há ponderação com os riscos envolvidos na aplicação. Os principais riscos

associados com títulos de renda fixa são risco de taxa de juros, risco de reinvestimento, risco

de crédito, risco de inflação e risco de liquidez.

2.3.1 Risco de taxa de juros

Para efetuar uma correta avaliação de títulos de renda fixa, é necessário algum

conhecimento do cenário macroeconômico do país, pois as variações na taxa de juros

influenciam o valor dos títulos. Segundo Santos (2017, p. 79):

À medida que as taxas de juros sobem, o preço de um título cai, e vice-versa.

Se um investidor deseja vender um bônus antes do vencimento, estará

exposto a essas variações no preço, podendo ter ganhos ou perdas de valor

de mercado em relação à trajetória de preços que seria obtida se o título

fosse mantido até o seu vencimento.

2.3.2 Risco de reinvestimento

O cálculo de retorno de um título supõe que os valores recebidos como retorno serão

reaplicados. Santos (2017, p. 79) compreende que:

Os riscos de reinvestimentos e de taxas de juros têm efeitos contrários, já

que o primeiro decorre de perdas do valor do título quando as taxas de juros

sobem, e o segundo, de redução da rentabilidade obtida com o

reinvestimento dos fluxos de caixa do papel.

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2.3.3 Risco de crédito

Um ativo de renda fixa representa o empréstimo de determinado valor de um

investidor a uma instituição, com a expectativa de recebimento de juros, dentro de um

intervalo de tempo previamente fixado. O risco de crédito, como apontam Caouette et al.

(2009, p. 1), “é a chance que essa expectativa não se cumpra”.

Portanto, este é um dos principais riscos do mercado de títulos privados.

2.3.4 Risco de inflação

Santos (2017, p. 79) afirma que:

Taxas de juros nominais são compostas das taxas de juros reais, mais a

inflação esperada. Assim, um aumento na taxa esperada de inflação leva a

um aumento das taxas de juros nominais e, portanto, à redução nos preços

dos títulos.

2.3.5 Risco de liquidez

É o risco de precisar vender rapidamente o papel e não ter compradores que desejem

adquiri-lo ao preço de mercado, sendo preciso a redução do valor. Nas palavras de Santos

(2017, p. 79):

Decorre da redução do preço de um papel em função da necessidade de se

vender, em dado horizonte de tempo, uma quantidade de títulos

relativamente grande para o tamanho do mercado, deprimindo o preço do

título no próprio processo de venda.

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3 DISCUSSÃO

3.1 METODOLOGIA

O procedimento de pesquisa adotado neste artigo foi o bibliográfico, tendo como base

livros, artigos, sites e outros conteúdos sobre o tema.

Lakatos et al. (2003, p. 182) observam que:

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia

já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas,

boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material

cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita

magnética e audiovisuais: filmes e televisão.

Ainda de acordo com Lakatos et al. (2003, p. 162):

Delimitar a pesquisa é estabelecer limites para a investigação. A pesquisa

pode ser limitada em relação: a) ao assunto - selecionando um tópico, a fim

de impedir que se torne ou muito extenso ou muito complexo; b) à extensão

- porque nem sempre se pode abranger todo o âmbito onde o fato se

desenrola; c) a uma série de fatores - meios humanos, econômicos e de

exiguidade de prazo - que podem restringir o seu campo de ação.

Nesse sentido, no que se refere a estratégias de investimento, são diversas as opções

que podem ser combinadas em uma estratégia mais ampla de alocação de carteira no mercado

de renda variável e renda fixa, dependendo do cenário macroeconômico. Este trabalho,

porém, teve como objetivo apontar a influência atual da taxa Selic e da tributação no mercado.

A abordagem utilizada foi a qualitativa, com a finalidade de adequar a bibliografia

disponível à situação atual do mercado, considerando-se o que aponta Richardson (1999, p.

80):

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Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a

complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas

variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos

e possibilitar, em maior profundidade, o entendimento das particularidades

do comportamento dos indivíduos.

3.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E ANÁLISE DA PESQUISA

3.2.1 Como os investidores utilizam o mercado de títulos privados

A busca de melhores ativos para otimizar o retorno de um portfólio combinando

ganhos de capital com ganhos de juros é chamado pelos especialistas de estratégia do retorno

total. Nas palavras de Caouette et al. (2009, p. 73):

Enquanto um banco ou uma seguradora focaliza primeiramente os riscos

individuais, um administrador de dinheiro focaliza riscos individuais e riscos

de carteira – construindo um grupo diversificado de investimentos e

tentando, o mais rápido possível, vender quaisquer propriedades que não

estejam apresentando bom desempenho ou que não tenham perspectiva de

vir apresentá-lo. Esta abordagem é conhecida como retorno total na

administração de carteira.

O investidor que busca maior rentabilidade nos ativos deve obter informações sobre o

potencial de retorno desses ativos e os riscos envolvidos.

A principal diferença de risco entre um título público e um título privado é o risco de

crédito (inadimplência). Esse risco pode ser avaliado através dos ratings das agências de

classificação de risco de crédito, tendo em vista que elas fornecem dados de inadimplência de

acordo com os ratings.

Caouette et al. (2009) afirmam que a taxa de mortalidade acumulada segundo o rating

da Standard & Poor’s, em 10 anos após a emissão do título, no período entre 1971 e 2006, foi

de 0,09% para empresas com rating AAA, de 0,54% para empresas com rating AA, de 0,71 %

para empresas com rating A, de 8,00% para empresas com rating B, de 19,88% para empresas

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com rating BB, de 37,06% para empresas com rating B e de 59,36% para empresas com rating

CCC. A taxa média de recuperação dessas empresas é de 40%.

É importante ressaltar que, apesar dos ratings das agências de classificação de risco de

crédito terem sido um dos fatores determinantes para a crise de 2008, o erro de rating estava

concentrado em uma classe de ativos: os imóveis. Isso ocorreu porque os títulos financeiros

que tinham como garantia esses ativos passaram a ter histórico cada vez melhor com o

aumento do preço dos imóveis e, além disso, pode ter havido um conflito de interesse, pois a

receita de agências de rating cresceu conforme o número de ratings positivos foi aumentando

no período anterior à crise (SOROS, 2009). Todavia, inadimplências são previstas também

nos ativos de rating AAA e devem ser consideradas em qualquer modelo.

Logo, a fim de diminuir o risco, é importante diversificar uma carteira com títulos de

empresas de diversos setores. Quanto menor o rating, maior deve ser a diversificação e o

prêmio pelo risco. O valor esperado em 10 anos pode ser medido com a seguinte fórmula:

[(1+i)^10]*(1-R/100)-(R/100)-1, em que i são os juros e R é a taxa média de recuperação.

O retorno nominal esperado de uma aplicação que rende 10% ao ano, descontando-se

os valores de recuperação, é apresentado na TABELA 5.

TABELA 5 – RETORNO ESPERADO COM RENDIMENTO DE 10% A.A.

Rating Mortalidade Retorno esperado em 10 anos

AAA 0,09% 159,05%

AA 0,54% 157,43%

A 0,71% 156,82%

BBB 8,00% 130,62%

BB 19,88% 87,93%

B 37,06% 26,19%

C 59,36% -53,95%

FONTE: CAOUETTE et al. (2009, p. 271) e cálculos do autor.

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Como pode ser visto na tabela, o retorno esperado varia muito pouco entre os ativos de

empresas com rating A. Os ativos de empresa com rating BBB ou menor precisam de juros

maiores para compensar o risco e os ativos de empresas com rating C têm retorno nominal

esperado negativo com juros de 10%.

Contudo, no mercado brasileiro, o rating é calculado de forma diferente. Em razão do

risco soberano do país, todos os ativos brasileiros que a Standard & Poor’s classifica com BB

ou superior, o rating se torna brAAA (STANDARD & POOR’S, 2019).

3.2.2 Rentabilidade com as decisões do Copom

Fontes (2017, p. 52) afirma que:

O Banco Central só estabelece os juros de curto prazo (taxa Selic). Os juros

com vencimentos mais longos são decididos pelo ‘mercado’ com base na

expectativa da trajetória da Selic, acrescida de um prêmio de risco.

Por isso, se a finalidade for otimizar a avaliação risco/retorno, é necessário observar

quais são as motivações dos formuladores de políticas econômicas e como eles tomam

decisões sobre as políticas monetária e fiscal.

Diante disso, pode ser determinante observar como a doutrina econômica é formada e

se torna majoritária. Por exemplo, até 1930, a escola clássica de economia era

majoritariamente aceita. Contudo, o arcabouço teórico dessa escola, que apontava o pleno

emprego como nível de renda de equilíbrio, não conseguiu explicar a Grande Depressão

(FROYEN, 2001).

A doutrina de Keynes surgiu depois desse período. Inclusive, como aponta Froyen

(2001, p. 44), “Keynes utilizava o termo ‘clássicos’ para se referir a todos os economistas que

tinham escrito sobre questões macroeconômicas antes de 1936”.

Outra corrente muito forte de economia surgiu na década de 1960, a monetarista.

Tendo intensa influência de Milton Friedman, os monetaristas concordavam com os

keynesianos e, após a Grande Depressão, a teoria clássica entrou em descrédito. Todavia, a

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explicação dessa escola era diferente. Considerava que a principal causa da Grande Depressão

foi o declínio do estoque monetário no período (FROYEN, 2001).

Apesar disso, como aponta Resende (2017, l. 1845) – um dos integrantes da equipe

econômica que elaborou o Plano Real – os monetaristas e os keynesianos acreditam que “a

inflação é inerentemente instável e precisa ser estabilizada pela atuação do Banco Central”.

Hipótese que, atualmente, é contestada pelo autor supracitado, pois, após avaliar o efeito das

medidas tomadas pelo FED (Federal Reserve) a fim de controlar a crise de 2008, compreende

que a ortodoxia monetarista é incompatível com a realidade e aponta que a hipótese

neofisheriana sobre o tema (em que a inflação esperada é dada pela taxa nominal menos a

taxa real de juros e, por conseguinte, em longo prazo, juros altos significam inflação alta e

juros baixos significam inflação baixa) é “uma surpreendente inversão, que ainda está por ser

comprovada, do que ensina a macroeconomia convencional” (RESENDE, 2017, l. 111).

Outra explicação para o fenômeno da baixa inflação americana dada pelos

economistas é a de que boa parte do dinheiro colocado na economia está parada no balanço

dos bancos, rendendo juros; por isso, a oferta monetária teve como efeito a queda dos juros

sem, até o presente momento, ter desencadeado um processo inflacionário.

Nesse cenário, é interessante ponderar a visão de Hayek (2011, p. 46) sobre a atitude

dos economistas de utilizar ferramentas das ciências físicas para o estudo das ciências sociais:

Quando se trata de um estudo de fenômenos ‘essencialmente complexos’ –

como é o caso do mercado, que depende das ações de diversos indivíduos –

dificilmente se poderão conhecer a fundo ou mesmo dimensionar todas as

circunstâncias que determinam o resultado de um processo.

Ainda assim, tendo em vista que keynesianos e monetaristas aumentarão os juros

quando a inflação subir e diminuirão com a finalidade de aumentar a atividade econômica e

que o oposto também é verdadeiro; que o Banco Central divulga semanalmente o Relatório

Focus, com os dados sobre a expectativa do mercado referente à inflação, à taxa de juros e ao

crescimento do PIB; há como aumentar ou diminuir a rentabilidade de uma carteira

aumentando a posição em títulos prefixados em cenários de inflação abaixo da expectativa

e/ou atividade econômica fraca.

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16

3.2.3 Rentabilidade com as isenções

O imposto de renda incide sobre o valor principal da aplicação e sobre os juros, sem

descontar a inflação do período. Esse impacto é extremamente significativo. Por exemplo,

uma aplicação anual que rende 100% do CDI com desconto do imposto de renda (17,50%)

tem retorno real menor que 1% ao ano, se for considerada a inflação dos últimos 12 meses

(4,66%) divulgada pelo Banco Central.

[(1+0,064*0,825)/1,0466)-1]*100= 0,59%

A TABELA 6 mostra a rentabilidade real anual de aplicações disponíveis atualmente.

TABELA 6 - RETORNO APÓS INFLAÇÃO E IMPOSTO DE RENDA

Rent.

nomina

l

Inflaçã

o

IR

22,5%

IR

20%

IR

17,5%

IR 15% Isento

Poupança 4,55% 4,66%

-

1,0833

%

-

0,975%

-0,8659% -0,7572% -

0,1051%

90% do CDI 5,76% 4,66%

-

0,1873

%

-0,05% 0,0879% 0,2255% 1,0510%

97% do CDI 6,21% 4,66%

0,1445

%

0,293% 0,441% 0,589% 1,4791%

CDI 6,40% 4,66%

0,2866

%

0,44% 0,5924% 0,7453% 1,6625%

Selic 6,50% 4,66%

0,3607

%

0,516% 0,6712% 0,8265% 1,7581%

IPCA +

3,45% 8,11% 4,66%

1,5529

%

1,747% 1,9403% 2,1341% 3,2964%

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17

IPCA +

3,91% 8,57% 4,66%

1,8935

%

2,098% 2,3029% 2,5076% 3,7359%

IPCA + 4,4% 9,06% 4,66%

2,2564

%

2,473% 2,6892% 2,9056% 4,2041%

7,90% 7,90% 4,66% 1,3974

%

1,586%

1,7748% 1,9635% 3,0957%

FONTE: Banco Inter (2019), Tesouro Nacional (2019) e cálculos do autor.

O primeiro ativo foi calculado com a regra de 70% da taxa Selic (0.7*6.5); o segundo

ativo é um CDI do Banco Inter com prazo de 90 dias para resgate, que rende 90% do CDI; o

terceiro também é um CDI do Banco Inter, com a diferença que o prazo de resgate é de 1080

dias; o quarto ativo é um CDB do banco supracitado, que rende 100% do CDI; o quinto ativo

é o título Tesouro Selic; o sexto ativo é uma debênture incentivada da Petrobras (PETR26

IPCA + 3.45%), com vencimento em 15/01/2029; o sétimo ativo é o título público do Tesouro

Nacional, IPCA + 3,90%; o oitavo ativo é uma debênture (ENTV12 IPCA + 4,4%) da

empresa Entrevias Concessionária de Rodovias S.A; e o nono é o Tesouro Direto, prefixado

com juros semestrais 2029. As rentabilidades nominais foram retiradas dos sites do Tesouro

Nacional (2019) e do Banco Inter (2019).

Apenas as rentabilidades sublinhadas são possíveis para os ativos selecionados (as

demais ou têm desconto de imposto de renda para ativos isentos ou não apresentam o

desconto para ativos sem isenção).

A debênture da Petrobras tem o rating máximo da Standard & Poor’s para empresas

brasileiras (brAAA), o equivalente a BB no ranking global. Porém, se for levado em

consideração o tamanho da Petrobras e seus resultados, esse risco pode ser equiparado ou até

ser menor que o risco dos títulos emitidos pelo governo federal do Brasil, tendo em vista que

a empresa supracitada é uma boa geradora de caixa, apresenta bons resultados e teve R$

349,836 bilhões de receita em 2018 (B3, 2019). Além disso, o valor da sua receita é

equivalente a mais de 5% do PIB brasileiro de 2018 (R$ 6,8 trilhões) e é superior ao PIB de

22 dos 27 estados brasileiros, sendo menor apenas que o PIB de São Paulo, Rio de Janeiro,

Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná (IBGE, 2019).

Em razão da isenção tributária, as debêntures incentivadas (como as supracitadas)

sempre terão rentabilidade positiva, mas os títulos públicos apresentam menor rentabilidade à

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medida que a inflação sobe. Em um cenário de inflação extrema de 25% ao ano, por exemplo,

o Tesouro Selic IPCA + 3,91% teria rentabilidade negativa de -0,3412% a.a. e a debênture da

Petrobrás manteria uma rentabilidade positiva de 2,76% a.a., como mostra a TABELA 7.

TABELA 7 – RETORNO APÓS INFLAÇÃO E IMPOSTO DE RENDA – INFLAÇÃO 25%

Rent.

nominal

Inflação IR 15% Isento

IPCA + 3,91% 28,91% 25,00% -0,3412%

-0,6540%

3,1280%

IPCA + 3,45% 28,45% 25,00% 2,7600%

FONTE: cálculos do autor.

A avaliação do rating da empresa também é importante. No caso da debênture da

empresa Entrevias Concessionária de Rodovias S.A., o rating da empresa pela Standard and

Poor’s é brA- e, apesar da maior rentabilidade do ativo, se colocado o valor na fórmula de

retorno esperado de 10 anos, o resultado seria de 1,02% em todo o período.

Considerando que os títulos da Petrobras têm uma rentabilidade menor que outros

títulos disponíveis com empresas de mesmo rating (brAAA), tendo em vista a solidez e a

lucratividade da empresa, o ENTV12 (BrA-) é um bom exemplo de título com potencial a ser

desconsiderado em uma carteira, em função da relação risco/retorno.

Outro dado que pode ser visto na TABELA 6 é que, com a inflação divulgada pelo

Banco Central para os últimos 12 meses, a Caderneta de Poupança teve rentabilidade real

negativa e o CDI rendeu menos de 1% real ao ano, após o desconto do imposto de renda.

Nesse cenário, quando comparados ao retorno real do CDI, títulos com o IPCA +

3,91% rendem 336,47% a mais e a debênture da Petrobras rende 442,31% a mais. Ativos que

podem ter uma atualização do valor principal e do rendimento, como ações e fundos

imobiliários, com dividendos de 6% do valor do ativo ao ano, podem ter 805,08% do retorno

real do CDI em 12 meses.

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TABELA 8 – RETORNO X CDI

Ativos Retorno real ao ano CDI 100%

CDB: 100% do CDI (IR de 15%) 0,07453% 100%

LCI: 97% do CDI 1,4791% 198,46%

Tesouro IPCA + 3,91% (IR de 15%) 2,5076% 336,47%

Debênture da Petrobras 3,2964% 442,31%

Dividend yeld de 6% 6% 805,08%

FONTE: cálculos do autor.

Ativos como ações e fundos imobiliários têm variações no valor de mercado

superiores ou inferiores à inflação, dependendo das condições do mercado e de como os

ativos são administrados. Se bem geridos, fundos imobiliários rendem mais do que a inflação

quando as condições do mercado estão favoráveis aos imóveis. Os retornos dos aluguéis dos

fundos imobiliários e dos dividendos das ações também são isentos de imposto de renda.

O dividend yeld de 6% dos ativos citados anteriormente não foi escolhido ao acaso,

pois, segundo Bazin (2017, l. 1710), “convencionou-se que qualquer ativo financeiro deve

render no mínimo 6% anuais para ser considerado investimento remunerativo”.

No caso das debêntures (que podem ser negociadas antes do vencimento) e dos títulos

IPCA + 3,91%, há o risco da taxa de juros se os ativos não forem mantidos até seu

vencimento. Como observado, os juros desses títulos são prefixados e, caso o mercado

precifique juros maiores, o ativo será impactado negativamente (o oposto também é

verdadeiro, há variação positiva com juros menores).

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20

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES

Variações na taxa Selic têm grande influência na rentabilidade dos ativos de renda

fixa. Quando os juros caem, os valores dos ativos prefixados aumentam. Quando os juros

sobem, os valores dos ativos prefixados diminuem.

Atualmente, apesar de a taxa Selic estar na sua mínima histórica, em 6,5%, o último

Relatório Focus, de 7 de junho de 2019, apresenta uma expectativa de inflação de 3,89% e

uma expectativa de crescimento do PIB de 1%. A meta de inflação para o ano de 2019 é de

4,25%; a expectativa para 2020 é de 4,00%; e, para 2021, é de 3,75%. Logo, inflação abaixo

da meta e baixa expectativa de crescimento podem indicar novas quedas dos juros ou, ao

menos, que os formuladores da política econômica brasileira tendem a manter ou diminuir a

taxa Selic.

Levando em consideração a inflação abaixo da meta e a baixa expectativa de

crescimento do PIB, com a taxa Selic em sua mínima histórica, a inutilidade dos juros altos no

Brasil se tornou um assunto profícuo para novas pesquisas. Sobretudo porque, como já foi

apontado, os títulos são empréstimos e a taxa Selic alta aumenta o custo do crédito de todas as

instituições públicas e privadas.

Com relação aos impostos, ficou evidente que o governo brasileiro está recolhendo

uma parte considerável da rentabilidade real dos ativos de renda fixa com o imposto de renda.

Um título de 90 dias que rende 100% do CDI pode ter uma grande diferença no

retorno líquido real dependendo do tratamento tributário, pois com a alíquota de IR de 22,5%

e a inflação de 4,66%, a rentabilidade real é de 0,2866% a.a. para o título sem isenção e de

1,6625% a.a. para o título isento, que rende 580% mais.

Em parcela significativa das aplicações financeiras, o governo fica com um retorno

real maior do que o do investidor e, nas aplicações mais conservadoras, em que o investidor

não corre riscos com juros prefixados, a alíquota real do imposto de renda é maior que 50%,

como pode ser visto na TABELA 9, que mostra a rentabilidade de R$ 100 aplicados por um

ano.

TABELA 9 – CEM REAIS APLICADOS POR UM ANO

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Rent.

nomina

l

IPCA Rent. real

sem

imposto

Rent.

real com

IR de

17,5%

IR pago IR com

desconto do

IPCA

Alíquota

real do

IR

CDI 6,40% 4,66% R$ 1,66 R$ 0,59 R$ 1,12 R$ 1,07 64,45%

Selic 6,50% 4,66% R$ 1,75 R$ 0,67 R$ 1,13 R$ 1,08 61,71%

FONTE: dados do BANCEN e cálculos do autor.

Os ativos de baixo risco apresentam baixo rendimento e são bastante impactados pelo

imposto de renda, o qual aumenta à medida que a taxa de inflação se aproxima da taxa de

juros.

Em países desenvolvidos, os grandes investidores que buscam alta rentabilidade

aplicam em renda variável. Atualmente no Brasil, apesar da demonstração de valor

adicionado da maioria das empresas indicar que elas também pagam maior valor em impostos

do que oferecem de rentabilidade ao acionista, as ações se tornaram mais atrativas com a

piora da rentabilidade dos ativos de renda fixa.

Além disso, os valores dos ativos de renda variável são corrigidos conforme a

evolução do preço de mercado, que pode ter variações positivas ou negativas e não dependem

somente da expectativa referente aos juros, apesar de serem determinantes para alguns tipos

de ativos.

Sendo assim, há como buscar retorno neste mercado com uma estratégia parecida com

a dos títulos. Sobre isso, Buffet et al. (2014, l. 476) afirmam:

Um dos grandes lampejos que Warren Buffet teve é que uma companhia

com vantagem competitiva duradoura possui rendimentos tão previsíveis que

sua ‘ação’ comum na verdade é um ‘título’ com cupom variável. Ele chama

isso de equity bonds.

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Os ativos comprados por investidores com a finalidade de receber dividendos, como

algumas ações e os fundos imobiliários, costumam se comportar como os títulos prefixados,

diminuindo de valor com o aumento na taxa de juros e aumentando seu valor com a queda dos

juros. Isso ocorre porque os investidores comparam a rentabilidade de seus “equity bonds”

com a rentabilidade dos títulos do governo. Em um cenário de baixa inflação e de baixo

crescimento, como já referido, esses ativos tendem a ter boa performance em razão das

variações favoráveis nos juros.

Ainda que o mercado de renda variável possa ser utilizado com uma estratégia

próxima daquela empregada no mercado de renda fixa, é prudente avaliar que as variáveis

envolvidas são bem diferentes e que, muitas vezes, por fatores psicológicos ou emergenciais,

o investidor pode comprar ativos caros e vendê-los quando o preço desses ativos estiver em

queda.

Contudo, no atual mercado financeiro brasileiro, com as vigentes regras do imposto de

renda e com a inflação de 4,66%, próxima do CDI (6,40%), não há ativos de baixo risco,

como os pós-fixados, com bons rendimentos.

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2004, 8.850, de 28 de janeiro de 1994, 8.383, de 30 de dezembro de 1991, 10.522, de 19 de

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