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NATÁLIA RODRIGUES GUIMARÃES Impacto da Coagulação Química na Remoção de Compostos Orgânicos em Efluente Tratado por Processo de Lodos Ativados São Paulo 2017

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NATÁLIA RODRIGUES GUIMARÃES

Impacto da Coagulação Química na Remoção de Compostos

Orgânicos em Efluente Tratado por Processo de Lodos Ativados

São Paulo

2017

Page 2: Impacto da Coagulação Química na Remoção de Compostos … · utilizando ultrafiltração (UF) e cromatografia por exclusão de tamanho (SEC) para separação dos compostos orgânicos

NATÁLIA RODRIGUES GUIMARÃES

Impacto da Coagulação Química na Remoção de Compostos

Orgânicos em Efluente Tratado por Processo de Lodos Ativados

Tese apresentada à Escola Politécnica

da Universidade de São Paulo no processo de

obtenção do título de Doutor em Ciências

São Paulo

2017

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NATÁLIA RODRIGUES GUIMARÃES

Impacto da Coagulação Química na Remoção de Compostos

Orgânicos em Efluente Tratado por Processo de Lodos Ativados

Tese apresentada à Escola Politécnica

da Universidade de São Paulo no

processo de obtenção do título de Doutor

em Ciências

Área de Concentração: Engenharia

Hidráulica e Ambiental

Orientador: Prof. Dr. Sidney Seckler

Ferreira Filho

São Paulo

2017

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Este exemplar foi revisado e corrigido em relação à versão original, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador.

São Paulo, ______ de ____________________ de __________

Assinatura do autor: ________________________

Assinatura do orientador: ________________________

Catalogação-na-publicação

Guimarães, Natália Rodrigues Impacto da Coagulação Química na Remoção de Compostos Orgânicos emEfluente Tratado por Processo de Lodos Ativados / N. R. Guimarães -- versãocorr. -- São Paulo, 2017. 92 p.

Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.Departamento de Engenharia de Hidráulica e Ambiental.

1.Coagulação-floculação 2.Tratamento de Efluentes 3.Cromatografia porExclusão de Tamanho 4.Distribuição do Peso Molecular I.Universidade de SãoPaulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Hidráulica eAmbiental II.t.

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RESUMO

Os compostos (coloidais, suspensos e solúveis) presentes na água residual

possuem diferentes características físico-químicas e diferentes massas moleculares.

Pesquisadores têm se dedicado ao entendimento mais específico da parte solúvel

do efluente. O fracionamento das substâncias orgânicas em diferentes classes e

diferentes tamanhos é um dos métodos utilizados para a caracterização dos

compostos orgânicos da água residual. Acredita-se que este método possa detectar

as alterações nos valores residuais dos compostos orgânicos de forma mais precisa

que os métodos tradicionais, i.e. DBO e DQO. Sendo assim, e sabendo do

crescente uso dos projetos de pós-tratamento dos efluentes de ETE e reúso destes,

fica a clara a avaliação da eficiência dos processos de pós-tratamento e a

importância da quantificação e caracterização da matéria orgânica residual no

efluente pós-tratado. Os objetivos deste projeto de pesquisa foram avaliar a remoção

da carga orgânica residual no efluente do tratamento biológico do processo de lodo

ativado da ETE Jesus Netto, utilizando diferentes parâmetros de

coagulação/floculação utilizando cloreto férrico, sulfato de alumínio e cloreto de

polialumínio como coagulantes, e análise de carbono orgânico dissolvido juntamente

com a técnica de distribuição da massa molecular para avaliar essa remoção. As

análises mostraram uma redução dos compostos orgânicos presentes no efluente

secundário, em termos de carbono orgânico dissolvido, da ordem de 45% para o

cloreto férrico e 38% para os sais de alumínio. A distribuição da massa molecular

também sofreu alterações, notando-se o aumento dos compostos de menor massa

molecular e a redução dos compostos de maior massa molecular. Os resultados

corroboram com outros estudos realizados com efluentes secundários e águas de

abastecimento sobre o impacto dos processos físico-químicos na distribuição da

massa molecular.

Palavras-chave: efluente secundário, massa molecular, coagulação-floculação,

reuso, COD

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ABSTRACT

The compounds (colloidal, suspended and soluble) present in the waste water have

different physicochemical characteristics and different molecular masses.

Researchers have dedicated themselves to the more specific understanding of the

soluble part of the effluent. The fractionation of the organic substances in different

classes and different sizes is a method widely used for the characterization of the

organic compounds of the residual water. It´s believed that this method can detect

changes of organic compounds residual values more accurately than traditional

methods, i.e. biological oxygen demand and chemical oxygen demand. Therefore,

knowing the increasing use of WWTP effluent after post-treatment processes and

their reuse, it is clear that the evaluation of the post-treatment efficiency and the

importance of the quantification and characterization of the residual organic matter in

the post-treated effluent. The objectives of this research project were to evaluate the

removal of the residual organic matter in the effluent from the biological treatment of

the activated sludge process of the Jesus Netto WWTP using different

coagulation/flocculation parameters with ferric chloride, aluminium sulfate and

polyaluminum chloride (PAC) as coagulants, and dissolved organic carbon and

molecular mass distribution analyses to evaluate the organic matter removal. The

analyzes showed a reduction of the organic matter present in the secondary effluent,

in terms of dissolved organic carbon, up to 45% for ferric chloride and 38% for

aluminum salts. The distribution of the molecular mass also changed, with the

increase of the compounds of lower molecular mass and the reduction of the

compounds of higher molecular mass. The results corroborate with other studies

carried out with secondary effluents and water supply on the impact of

physicochemical processes on the molecular weight distribution.

Keywords: secondary effluent, molecular mass, coagulation-flocculation, reuse, DOC.

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Lista de Tabelas

Tabela 3.1. Caracterização da matéria orgânica natural e remoção de Carbono

Orgânico Total em radiação UV específica para águas de abastecimento brutas. ... 21

Tabela 3.2. Principais parâmetros de caracterização das águas residuárias e suas

medidas nos níveis fraco, médio e forte. ................................................................... 22

Tabela 3.3. Métodos de tratamento de esgoto e respectivos valores de remoção de

compostos orgânicos (DBO). .................................................................................... 23

Tabela 3.4. Exemplos de estudos realizados utilizando diferentes parâmetros para

medição dos compostos orgânicos do efluente. ........................................................ 28

Tabela 3.5. Resultados de massa molecular (MM), em porcentagem, encontrados

utilizando ultrafiltração (UF) e cromatografia por exclusão de tamanho (SEC) para

separação dos compostos orgânicos de efluente de tratamento de lodo ativado.

“Parâmetro” indica o método utilizado para medição da carga orgânica. .................. 30

Tabela 3.6. Classificação dos compostos orgânicos da água residuária,

representação de DQO(%), COT(%) e massa molecular (µm). ................................ 32

Tabela 3.7. Principais tipos de processos para remoção de compostos orgânicos do

efluente do tratamento biológico e suas capacidades de remoção. .......................... 36

Tabela 3.8. Eficiência de remoção dos diferentes tratamentos de filtração testados:

FP – Filtro Biológico Percolador; FA – Filtro de Areia; CF – Coagulação/Filtração. .. 38

Tabela 4.1. Parâmetros operacionais de execução dos ensaios de jar-test. ............ 51

Tabela 4.2. Amostras selecionadas para análises por Espectrometria de Massas, e

respectiva concentração de coagulante aplicada ao tratamento. .............................. 52

Tabela 5.1. Coletas de efluente secundário realizadas na ETE Jesus Netto e

caracterização físico-química e biológica do mesmo. (*) representam análises não

realizadas por problemas técnicos ou perdidas. ....................................................... 57

Tabela 5.2. Amostras tratadas com Cloreto férrico no processo de coagulação-

floculação, e suas respectivas características pós-tratamento.................................. 58

Tabela 5.3. Amostras tratadas com Sulfato de alumínio no processo de coagulação-

floculação, e suas respectivas características pós-tratamento.................................. 59

Tabela 5.4. Amostras tratadas com PAC no processo de coagulação-floculação, e

suas respectivas características pós-tratamento. ...................................................... 59

Tabela 5.5. Amostras tratadas com PAC no processo de coagulação-floculação, e

suas respectivas características pós-tratamento. ...................................................... 59

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Lista de Ilustrações

Figura 3.1. Representação da dupla camada das partículas coloidais. .................... 14

Figura 3.2. Diagrama esquemático mostrando as etapas da hidrólise do coagulante

de alumínio. ............................................................................................................... 17

Figura 3.3. Diagrama de solubilidade do alumínio .................................................... 18

Figura 3.4. Diagrama de solubilidade do ferro........................................................... 18

Figura 3.5. Conformação típica do Tratamento Biológico com Processo de Lodos

Ativados..................................................................................................................... 24

Figura 3.6. Divisão por tamanho molecular dos compostos orgânicos do efluente do

tratamento biológico de esgoto. ................................................................................ 31

Figura 3.7. Remoção de COD por diferentes processos em efluentes do tratamento

biológico de esgoto. .................................................................................................. 40

Figura 4.1. Fluxograma da ETE Jesus Netto............................................................. 42

Figura 4.2 (A) - Tratamento preliminar – gradeamento grosseiro .............................. 43

Figura 4.3. Caixa de areia ......................................................................................... 44

Figura 4.4. Visão da Calha Parshall. ......................................................................... 45

Figura 4.5. Vista do decantador primário. ................................................................. 46

Figura 4.6 Tanques de aeração. .............................................................................. 46

Figura 4.7. Decantador secundário. .......................................................................... 47

Figura 4.8. Ponto de Coleta do Efluente Secundário – saída do decantador

secundário. ................................................................................................................ 47

Figura 4.9. Tanque de desinfecção. .......................................................................... 48

Figura 4.10. Equipamento de jar-test utilizado na execução dos ensaios

experimentais. ........................................................................................................... 50

Figura 4.11 . Análises por espectrometria de massas de alta resolução .................. 54

Figura 4.12. Espectrômetro de massas híbrido (MicroQ-TOF) ................................. 55

Figura 5.1. Remoção de COD com uso dos coagulantes cloreto férrico, sulfato de

alumínio e PAC para as coletas de Maio/2013 e Maio/2014. .................................... 61

Figura 5.2. Gráficos de Remoção de COD (%) vs. pH. ............................................. 63

Figura 5.3. (Continua) Gráficos de remoção de COD vs. Concentração dos

coagulantes ............................................................................................................... 64

Figura 5.4. Gráficos de Remoção de COD vs. Potencial Zeta. ................................. 67

Figura 5.5. Espectros de massas representativos de amostras, coletadas em

fevereiro de 2013. ..................................................................................................... 70

Figura 5.6. Representação das moléculas permeando os poros da fase estacionária.

.................................................................................................................................. 72

Figura 5.7 (Continua) Cromatogramas representativos da distribuição da massa

molecular (Intensidade (x106) vs. Tempo (min)) do efluente secundário (preto) e dos

pós-tratados com cloreto férrico (azul).. .................................................................... 73

Figura 5.8. (Continua) Cromatogramas representativos da distribuição da massa

molecular (Intensidade (x106) vs. Tempo (min))do efluente secundário (preto) e dos

pós-tratados com sulfato de alumínio (azul). ............................................................. 76

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Figura 5.9. Cromatogramas representativos da distribuição da massa molecular

(Intensidade (x106) vs. Tempo (min)) do efluente secundário (preto) e dos pós-

tratados com PAC (azul). .......................................................................................... 79

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Lista de Abreviaturas

CF – Coagulação/Filtração

COD – Carbono Orgânico Dissolvido

COT – Carbono Orgânico Total

DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO – Demanda Química de Oxigênio

ETB – Efluente do Tratamento Biológico

ETE – Estação de Tratamento de Efluentes

FA – Filtro Arenoso

FP – Filtro Biológico Percolador

HPLC – High Performance Liquid Chromatography (Cromatografia líquida de alta eficiência)

MO – Matéria Orgânica

MS – Mass Spectrometry (Espectrometria de Massas)

PAC – Policloreto de Alumínio

MM – Massa molecular

PMS – Produtos Microbianos Solúveis

POA – Processo Oxidativos Avançados

PZ – Potencial Zeta

SEC – Size Exclusion Chromatography (Cromatografia por exclusão de tamanho)

SST – sólidos solúveis totais

THM – trialometanos

UV – Ultravioleta

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SUMÁRIO

1 Introdução ....................................................................................................................... 8

2 Objetivos....................................................................................................................... 11

3 Revisão Bibliográfica .................................................................................................... 12

3.1 O Processo de Coagulação ................................................................................... 12

3.1.1 Mecanismos de Coagulação ........................................................................... 13

3.1.2 Tipos de Coagulante ....................................................................................... 17

3.2 Floculação ............................................................................................................. 19

3.3 Coagulação e a Remoção de Matéria Orgânica .................................................... 19

3.3.1 Composição da Matéria Orgânica presente na água ...................................... 19

3.4 Águas Residuárias e Tratamento Biológico de Lodos Ativados ............................. 22

3.4.1 Efluente do Tratamento Biológico: caracterização .......................................... 25

3.5 Descarte e Reúso do Efluente do Tratamento Biológico ........................................ 35

4 Metodologia .................................................................................................................. 41

4.1 ETE Jesus Netto .................................................................................................... 41

4.2 Realização dos Ensaios Experimentais ................................................................. 49

4.3 Análise dos compostos orgânicos por cromatografia por exclusão de

tamanho(SEC)........................................................................................................51

4.3.1 Análise dos compostos orgânicos por espectrometria de massas........53

5 Resultados e Discussão ............................................................................................... 56

5.1 Remoção de Carbono Orgânico...................................................................58

5.2 pH .......................................................................................................................... 62

5.3 Concentração do Coagulante e a Remoção de Carbono Orgânico Dissolvido

................................................................................................................................64

5.4 Potencial Zeta e a Remoção de Carbono Orgânico Dissolvido .............................. 66

5.5 Distribuição da Massa molecular ........................................................................... 68

6 Conclusão ..................................................................................................................... 81

Referências ......................................................................................................................... 83

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1 Introdução

O tratamento do esgoto visa à remoção dos compostos orgânicos acumulados nas

águas residuais. Além de compostos orgânicos, essas águas são caracterizadas

pela presença de diferentes contaminantes, em diferentes níveis de concentração.

Para remoção destes compostos são empregados o tratamento primário (que usa

aplicações físico-químicas) e o tratamento secundário (que utiliza mecanismos

biológicos ou físico-químicos para remoção da carga orgânica). Dentre os diferentes

tipos de tratamento biológico o processo de lodos ativados utiliza um reator onde os

compostos orgânicos são consumidos por organismos em suspensão na mistura.

Os compostos presentes na água residual (coloidais, suspensos e solúveis)

possuem diferentes características físico-químicas, com diferentes faixas de massas

moleculares, e são basicamente convertidos pelos microrganismos do tratamento

em dióxido de carbono, bioprodutos, compostos provenientes do metabolismo e

água. Os compostos orgânicos do efluente do tratamento biológico formam uma

complexa matriz de materiais orgânicos e podem apresentar-se na forma solúvel,

sendo esta forma de grande preocupação para caracterização do efluente e

adequação aos limites de descarte do mesmo.

Pesquisadores têm se dedicado ao entendimento mais específico da parte solúvel

do efluente, mostrando que esta possui material de origem microbiana e não

necessariamente o resíduo do substrato consumido. Isto é, os compostos orgânicos

presentes no efluente podem ser divididos em compostos: (a) provenientes da lise

dos microrganismos, (b) produzidos pelos microrganismos e, (c) liberados por meio

da interação dos microrganismos com o substrato. O fracionamento das substâncias

orgânicas em classes de diferentes massas moleculares e biodegradabilidade é um

método muito utilizado para a caracterização dos compostos orgânicos da água

residual.

Alguns métodos analíticos são mais comumente utilizados para detecção dessa

carga orgânica, tanto do afluente quanto do efluente do tratamento de esgoto. São

estes: Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), Demanda Química de Oxigênio

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(DQO), Carbono Orgânico Total (COT), Carbono Orgânico Dissolvido (COD) e

absorção por Ultravioleta (UV). Estudos mostram que a aplicação do tratamento de

esgoto baseado no método do lodo ativado remove, aproximadamente, 90% da

DQO e 95% DBO. Além dos métodos citados acima, a distribuição da massa

molecular (MM) também tem sido utilizada para a caracterização e identificação dos

compostos orgânicos presentes neste efluente, no entanto somente em pesquisas

de cunho científico.

Apesar do desenvolvimento de técnicas eficaz e na remoção de MO, o aumento na

geração de efluentes domésticos e industriais devido ao constante crescimento dos

centros urbanos e aparecimento de compostos emergentes, os órgãos ambientais

reguladores têm determinado valores mais restritos dos parâmetros de qualidade do

efluente lançado nos corpos d´água. Por este motivo, e levando em consideração a

crescente escassez das fontes de águas de abastecimento, tem-se considerado a

adoção de sistemas de pós-tratamento para efluentes produzidos em sistemas

biológicos de tratamento, visando o reúso para diferentes fins.

O reúso da água tem se tornado uma opção atraente, visto que pode:

substituir o uso de água direta das fontes naturais para usos que não exigem

um alto padrão de qualidade;

aumentar as fontes de água, fornecendo uma alternativa para uso presente e

futuro de água;

proteger sistemas aquáticos da deposição de efluentes do tratamento de

esgoto, preservando assim a qualidade das águas naturais em relação ao

excesso de nutrientes e outras substâncias tóxicas;

reduzir a necessidade de estruturas e planos para o controle no fornecimento

de água;

Algumas técnicas de tratamento já foram testadas para serem aplicadas ao efluente

secundário do tratamento biológico como forma de tratamento terciário. Porém,

muitas dessas técnicas como processo de oxidação avançada (POA), tratamento

com ultravioleta e ozônio, ou ainda, tratamentos com membranas de ultra ou

nanofiltração podem ser de alto custo ou possuírem a necessidade de

monitoramento especializado e constante durante o processo. Sendo assim, um

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processo citado como opção para esse pós-tratamento do efluente secundário que

possui um custo e nível de dificuldade operacional medianos é o processo de

coagulação-floculação química.

Como citado anteriormente, sabe-se que o tratamento de lodo ativado, aplicado nas

ETE, é capaz de remover até 90% da DQO e 95% da DBO presente nas águas

residuais. A aplicação de um pós-tratamento deverá reduzir ainda mais a parcela de

carga orgânica (DQO/DBO) podendo reduzi-la a níveis abaixo do limite de detecção

dos métodos citados.Por isso, técnicas como distribuição da massa molecular,

separação de frações através de membranas ou cromatografia, têm sido avaliadas

para detecção e caracterização da matéria orgânica presente no efluente terciário.

O presente estudo avalia a hipótese de que a Cromatografia líquida unida á

espectrometria de massas é capaz de detectar as mudanças no efluente secundário

após este ter sido tratado com processo de coagulação-floculação.

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2 Objetivos

Objetivo geral:

avaliar a remoção da carga orgânica residual no efluente do tratamento

biológico da ETE Jesus Netto, que possui tratamento de lodo ativado e sistema de

reúso de água, através dos métodos de medida de massa molecular e análises

clássicas como DQO e DBO, assim como avaliar a diferença na remoção da carga

orgânica através de diferentes parâmetros de coagulação/floculação do efluente

secundário da ETE.

Objetivos específicos:

estudar as diferentes condições de operação de coagulação (tipo de

coagulante, dosagem, pH da coagulação) que permitam a otimização da remoção

dos compostos orgânicos no efluente tratado;

propor metodologias analíticas que possibilitem avaliar a quantificação de

compostos orgânicos em efluentes tratados, com vista na obtenção da distribuição

da massa molecular dos mesmos.

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3 Revisão Bibliográfica

3.1 O Processo de Coagulação

Segundo (Awwa, 2011) a coagulação é um processo que aumenta a tendência de

partículas presentes em uma suspensão aquosa de unirem-se umas às outras e às

superfícies, tais como o leito de um filtro. A coagulação é um processo complexo,

que envolve numerosas reações químicas interligadas e etapas de transferência de

massa. Na visão do tratamento de água, esse processo possui essencialmente

quatro etapas separadas e sequenciais: transformação do coagulante, a tomada das

espécies adsorvidas, a desestabilização de partículas e colisões entre as partículas.

A transformação do coagulante, a interação da partícula com o coagulante e a

desestabilização das partículas normalmente ocorrem durante e imediatamente após

a dispersão química na mistura rápida; as colisões entre partículas que provocam a

formação de agregados (flocos) começam durante a mistura rápida, mas geralmente

ocorrem com maior efeito no processo de floculação (mistura lenta).

Embora a terminologia de coagulação não seja padronizada, na maior parte da

literatura de tratamento de água, a coagulação refere-se a todas as reações e

mecanismos que resultam na agregação das partículas na água a ser tratada,

incluindo as transformações dos coagulantes, a desestabilização de partículas, a

tomada do adsorbato, e contatos físicos entre as partículas. O processo de produção

de contatos físicos e agregados das partículas (flocos) é denominado de floculação.

(Stumm e O'mélia, 1968) consideram que na agregação de partículas de uma

dispersão coloidal é preciso diferenciar duas etapas: 1) o transporte de partículas

para efetivar o contato entre elas; e 2) a desestabilização de partículas para permitir

aglomeração quando o contato ocorre. O transporte de partículas no sistema aquoso

é essencialmente físico e é acompanhado de fenômenos tais como difusão

Browniana, movimento do fluido e sedimentação, e é controlado por parâmetros

físicos tais como temperatura, gradiente de velocidade e tamanho da partícula. A

desestabilização é um processo de interação coloide-coagulante controlado por

parâmetros físicos e químicos (Andrade, 2002).

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3.1.1 Mecanismos de Coagulação

3.1.1.1 Teoria da Dupla Camada e Estabilidade de Partículas Coloidais

Quando partículas em suspensão ou em um fluido circulante se aproximam de uma

superfície estacionária, tal como um meio filtrante, surgem forças que tendem a

manter as superfícies separadas, causadas pela interação das duplas camadas

elétricas das superfícies (estabilização eletrostática), e forças que tendem a unir

essas partículas, as chamadas forças de van der Waals (Letterman e Yiacoumi,

2011).

A maioria das partículas presentes na água, minerais e orgânicas, possuem

superfícies eletricamente carregadas, e o sinal da carga geralmente é negativo

(Niehof e Loeb, 1972); (Hunter e Liss, 1979); (Stumm, 1992)). Numa suspensão

coloidal não pode haver desequilíbrio líquido na carga global elétrica e a carga

primária sobre a partícula deve ser balanceada no sistema aquoso - porque a

partícula é carregada negativamente e os íons em excesso de carga oposta

(positivos) se acumulam na região interfacial. Estes íons, em conjunto com a carga

primária, formam uma camada elétrica dupla (Figura 3.1) (Letterman e Yiacoumi,

2011).

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Figura 3.1. Representação da dupla camada das partículas coloidais.

Fonte: adaptado de AWWA (2011).

O modelo de Gouy-Chapman, aplicado para explicação da formação da dupla-

camada, afirma que atração eletrostática e difusão são os processos interativos

responsáveis pela formação da camada difusa. Quando duas partículas coloidais

semelhantes se aproximam, suas camadas difusas começam a se sobrepor e

interagir. Este encontro de cargas cria uma energia com potencial repulsivo R que

aumenta de magnitude conforme a distância que separa as partículas diminui.

Forças atrativas (forças de van der Waals), A, diminuem com o aumento da

distância entre as mesmas partículas. A rede de forças em um sistema coloidal é

uma sobreposição de forças de repulsão eletrostática e interações atrativas de van

der Waals. Em outras palavras, a soma das R e A produz a energia de interação

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entre duas partículas coloidais. Quando a repulsão eletrostática domina durante

interações partícula-partícula, a suspensão é eletrostaticamente estabilizada, e a

coagulação desta solução é dita lenta. O entendimento da estabilização eletrostática

é fundamental para a compreensão da coagulação no tratamento de água.

3.1.1.2 Desestabilização da dupla camada e mecanismos de coagulação

São conhecidos quatro mecanismos de desestabilização da dupla camada: A)

compressão da dupla camada; B) neutralização de carga superficial; C) varredura; e

D) adsorção e formação de pontes (Johnson e Amirtharajah, 1983). A predominância

de determinado mecanismo depende das espécies hidrolisadas do metal utilizado

como coagulante, que, por sua vez, são dependentes do pH, concentração do

coagulante e das características do meio.

A) Compressão da dupla camada

A compressão da dupla camada é alcançada através da adição de íons contrários à

composição desta, isto é, coagulantes denominados eletrólitos indiferentes (ex.

NaCl) são adicionados à suspensão de forma que os íons contrariamente

carregados (contra-íons) interagem com a camada difusa. Quando adicionados em

certa quantidade, estes íons são capazes de reduzir a energia da camada difusa,

comprimindo-a. Assim, a energia requerida para aproximar duas partículas coloidais

é reduzida, proporcionando esse encontro com mais facilidade. No entanto, este não

é um método prático para o tratamento de águas devido à quantidade de sal

necessária para realizar tal desestabilização (Letterman e Yiacoumi, 2011).

B) Neutralização de cargas superficiais

A desestabilização por neutralização de cargas superficiais baseia-se na presença

de coagulantes que carregam uma carga oposta à carga superficial das partículas.

Estes são adsorvidos na superfície da partícula a tal ponto que a carga é invertida. A

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16

desestabilização através deste mecanismo ocorre imediatamente após a dispersão

do coagulante na massa líquida. Vale ressaltar que na maioria dos casos são os

produtos de hidrólise e não os íons propriamente ditos (de alumínio e ferro) os

principais agentes na coagulação (Stumm e O'mélia, 1968). Um segundo processo é

o ajustamento químico da solução que pode desestabilizar alguns tipos de

suspensões através da redução das cargas superficiais das partículas. Por exemplo,

quando a maior parte da carga superficial é provocada pela ionização de sítios de

superfície, o ajuste do pH com ácido ou base pode conduzir a uma desestabilização

(Letterman e Yiacoumi, 2011).

C) Varredura

A desestabilização por varredura envolve a supersaturação de coagulantes

metálicos na suspensão coloidal de forma que os sais precipitem na forma de

hidróxido, envolvendo as partículas coloidais e neutralizando as cargas coloidais, ou

então, para que as partículas colidam com este precipitado sendo removidas da

água (Andrade, 2002).

Este mecanismo, segundo (Packham, 1965) depende apenas da quantidade de

coagulantes adicionada, do pH da fase líquida e das espécies de alguns íons

presentes na água, decorrentes da adição dos sais de ferro e alumínio.

Este tratamento é utilizado nas estações de tratamento de água que possuem

floculação e sedimentação antecedendo a filtração rápida (Di Bernardo e Dantas,

2005).

D) Adsorção e formação de pontes

O mecanismo de adsorção e formação de pontes caracteriza-se por envolver o uso

de polímeros de grandes cadeias moleculares (massa molar > 106), os quais servem

de ponte entre a superfície à qual estão aderidos e outras partículas (Di Bernardo e

Dantas, 2005)

A molécula de polímero tem de ser suficientemente longa para se estender além da

dupla camada elétrica (minimizar a repulsão pela dupla camada quando as

partículas se aproximam), e as partículas a serem unidas devem ter superfície

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17

suficiente disponível. A adsorção de polímero em excesso pode levar a

restabilização da suspensão (Letterman e Yiacoumi, 2011).

3.1.2 Tipos de Coagulante

Os principais tipos de coagulante utilizados são os sais de ferro e alumínio, que

contêm os íons Fe+3 e Al+3.

Estes coagulantes são chamados de coagulantes de sais metálicos hidrolizados, e a

química das reações de hidrólise e dos produtos destes sais é complexa (Figura

3.2). À medida que aumenta o pH e a hidrólise procede, se houver uma alta

concentração total de íons de metal na solução, produtos simples mononucleares

podem formar complexos polinucleares. Os vários produtos de hidrólise podem

adsorver (e continuam a hidrolisar) em vários tipos de superfícies de partículas,

podendo formar um precipitado com a fração de alta massa molecular de matéria

orgânica natural (Letterman e Yiacoumi, 2011).

Figura 3.2. Diagrama esquemático mostrando as etapas da hidrólise do coagulante de alumínio.

Fonte: adaptado de AWWA (2011).

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18

A solubilidade do precipitado de hidróxido de metal é um dos fatores que

devem ser considerados na maximização do desempenho coagulante e para

minimizar as quantidades de alumínio e ferro residual na água tratada. As Figuras

Figura 3.3 e Figura 3.4 mostram os diagramas de solubilidade dos sais de alumínio e

ferro, respectivamente.

Figura 3.3. Diagrama de solubilidade do alumínio

Fonte: adaptado de AWWA (2011).

Figura 3.4. Diagrama de solubilidade do ferro.

Fonte: adaptado de AWWA (2011).

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19

Os coagulantes mais utilizados no tratamento de águas são:

- os coagulantes de sais metálicos simples: sulfato de alumínio (Al2(SO4)3.14 H2O),

sulfato férrico (Fe2(SO4)3.x H2O) e cloreto férrico (FeCl3.x H2O);

- o coagulante pré-hidrolizado Policloreto de Alumínio (PAC).

3.2 Floculação

O propósito da floculação é promover a interação das partículas e formar agregados

que podem ser eficientemente removidos em uma subsequente separação por

processo como sedimentação, flotação e filtração em meio granular. Em sistemas

típicos de tratamento de água existem três mecanismos importantes para promover

a floculação: movimento Browniano, velocidades de sedimentação diferenciadas e

transporte turbulento (Letterman e Yiacoumi, 2011).

3.3 Coagulação e a Remoção de Matéria Orgânica

3.3.1 Composição da Matéria Orgânica presente na água

As partículas presentes na água natural variam quanto à origem, concentração,

tamanho e propriedades químicas da superfície. O tamanho das partículas pode

variar de algumas dezenas de nanômetros (e.g. vírus e compostos de alta massa

molecular) para algumas centenas de micrômetros (e.g. zooplâncton). O efeito da

gravidade sobre o transporte de partículas coloidais tende a ser insignificante em

relação ao movimento de difusão provocado pela interação com o fluido (movimento

Browniano) e, em comparação com as partículas em suspensão, as partículas

coloidais possuem uma maior área superficial por unidade de massa. Sendo assim,

a coagulação para a agregação das partículas pode ser importante na remoção de

compostos suspensos e solúveis presentes na água.

Os métodos mais clássicos de medida da remoção de partículas no tratamento de

água são as medidas de turbidez e contagem de partículas. Ambas possuem

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limitações e, sozinhas, não podem fornecer toda a informação necessária para o

monitoramento do processo de coagulação e remoção de partículas.

A matéria orgânica (MO) natural presente em águas naturais pode ser de origem

autóctona (produzida no próprio corpo d’água) ou alóctona (introduzida no mesmo).

Ainda, pode ter origem húmica, proveniente da decomposição de plantas e matéria

animal; ou não húmica, proveniente do metabolismo de plantas e algas. A parcela

não húmica dessa MO não é removida com tanto sucesso pelos processos de

coagulação, clarificação e filtração. A chamada MO natural pode dar cor à água,

causando efeitos estéticos, e reagir com desinfetantes e oxidantes, causando a

formação de sub-produtos da desinfecção (DBPS – desinfection by-products) que

podem ter efeitos sobre a saúde. Pode causar fouling ou interferir com alguns

processos de tratamento de água. Adicionalmente, a matéria orgânica natural pode

ter efeitos na qualidade da água no sistema de distribuição (Awwa, 2011).

A medida de Carbono Orgânico Dissolvido (COD) é utilizada para medir a

quantidade de matéria orgânica presente em águas superficiais ou residuárias. Em

relação às águas superficiais, o COD representa cerca 90-99% do Carbono

Orgânico Total (COT), por isso é utilizado como medida para este parâmetro.

Além do COD, o método UV254 pode ser utilizado como um parâmetro de medida

para MO. Sabe-se também da sua utilidade no monitoramento de estações de

tratamento de água para as remoções de precursores de COT e Trialometanos

(THM).

A radiação UV a 254 nm é absorvida por uma variedade de moléculas orgânicas e

inorgânicas, mas especialmente pelos compostos orgânicos com uma estrutura

aromática ou de compostos que tenham ligações duplas C = C conjugadas. A

matéria húmica aquática possui estas características estruturais, de modo que ela

absorve mais luz por unidade de concentração de COD do que outros tipos de

fontes de água em MO natural. O método de Absorbância de UV Específica foi

desenvolvido por (Edzwald et al., 1985) para avaliar se a concentração de COT e

precursores de THM poderiam ser correlacionados com UV254. Essa medida fornece

uma maneira simples de caracterizar a natureza da MO e é calculada através dos

valores obtidos para absorbância de UV254 e COD. Os valores são expressos em:

absorbância (m-1 de absorbância)/(Mg/LCOD).

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21

A Tabela 3.1 apresenta a caracterização da MO e da remoção de COT por

coagulação em águas naturais.

Tabela 3.1. Caracterização da matéria orgânica natural e remoção de Carbono Orgânico Total em radiação UV específica para águas de abastecimento brutas.

Absorbância específica de UV

Composição Efeitos Remoção de COT pela Coagulação

> 4

Alta fração de matéria húmica

Caráter aromático e hidrofóbico

Alta massa molecular (MM)

Alta absorbância de UV

Alta demanda de oxidantes e cloro

60 – 80%

2 – 4

Mistura de matéria húmica e não-húmica aquática

Mistura de caráter aromático e alifático

Mistura de alto e baixo PM

Média absorbância de UV

Média demanda de oxidantes e cloro

<40 – 60%

< 2

Alta fração de matéria não-húmica

Alto caráter alifático e baixo caráter hidrofóbico

Baixo PM

Baixa absorbância de UV

Baixa demanda de oxidantes e cloro

<20 – 40%

Fonte: (Awwa, 2011)

Assim como na remoção do material particulado, a coagulação e a floculação podem

ser formas eficazes para remover uma fração significativa da MO natural.

Ressaltando que a dosagem necessária para a remoção eficaz MO é tipicamente

maior do que a necessária para a remoção de partículas (turbidez).

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22

3.4 Águas Residuárias e Tratamento Biológico de Lodos Ativados

As águas residuárias são normalmente caracterizadas por apresentarem elevada

carga orgânica, sólidos em suspensão, sólidos sedimentáveis, nitrogênio, fósforo e

alta concentração de microrganismos patogênicos. A Tabela 3.2 apresenta esses

parâmetros dentro de níveis fraco, médio e forte, sendo estes um padrão

comparativo dentro do estudo de tratamento de águas residuárias e de

abastecimento.

Tabela 3.2. Principais parâmetros de caracterização das águas residuárias e suas medidas nos níveis fraco, médio e forte.

Parâmetro Forte Médio Fraco

DBO5 (mg/L) 400 220 110

DQO (mg/L) 1000 500 250

Carbono orgânico total (mg/L) 290 260 80

Nitrogênio orgânico (mg/L) 35 15 08

Fósforo total (mg/L) 15 08 04

Sólidos totais (mg/L) 1200 720 350

Sólidos dissolvidos (mg/L) 850 500 05

Sólidos sedimentáveis (mg/L) 20 10 -

Bactérias totais (/100mL) - 109 - 1010 -

Coliformes totais (NMP/100mL) - 107 – 108

Fonte: Metcalf & Eddy (1991)

Os objetivos do tratamento biológico de águas residuárias são: 1) transformar os

constituintes biodegradáveis, dissolvidos ou particulados, em produtos finais dentro

dos parâmetros regulamentados; 2) a captura pelos microrganismos de sólidos em

suspensão e sólidos coloidais não sedimentáveis e sua incorporação em flocos ou

bioflocos; 3) transformar ou remover nutrientes como nitrogênio e fósforo e; 4) no

caso de efluentes industriais, remover ou reduzir a concentração de substâncias

tóxicas, além dos compostos orgânicos e inorgânicos. Para atingir esses objetivos,

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microrganismos são utilizados para oxidar os compostos orgânicos dissolvidos ou

particulados em produtos mais simples (Metcalf e Eddy, 1991). Os principais

métodos de tratamento de esgoto e suas eficiências na remoção de compostos

orgânicos estão descritos na Tabela 3.3.

Tabela 3.3. Métodos de tratamento de esgoto e respectivos valores de remoção de compostos orgânicos (DBO).

Tratamentos Remoção DBO (%)

Tratamento primário 25 – 50%

Tratamento físico-químico 50 – 60%

Lodo Ativado 90 – 95%

Lagoa Aerada 90 – 95%

Lagoa Facultativa 80 – 85%

Filtro biológico percoladora 80 – 90%

Fonte: baseada em Von Aperling (2003) e Hespanhol (1986)

O tratamento de lodo ativado é basicamente constituído por um reator onde os

microrganismos responsáveis pelo tratamento são mantidos em suspensão e

recebendo aeração constante, um tanque de sedimentação para separação líquido-

sólido e um sistema de reciclagem, que retorna os sólidos sedimentados para dentro

do reator (Metcalf e Eddy, 1991). O esquema simplificado de uma Estação de

Tratamento de Esgoto (ETE) com base no tratamento biológico de lodo ativado pode

ser visto na Figura 3.5.

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Figura 3.5. Conformação típica do Tratamento Biológico com Processo de Lodos Ativados.

Fonte: baseado em (Metcalf e Eddy, 1991).

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25

3.4.1 Efluente do Tratamento Biológico: caracterização

Os compostos orgânicos nas águas residuárias são convertidos pelos

microrganismos em biomassa, dióxido de carbono, água, bioprodutos orgânicos e

compostos orgânicos proveniente do metabolismo (Dignac et al., 2000) formando o

efluente do tratamento biológico (ETB). Este efluente é uma complexa matriz

contendo uma variedade de compostos orgânicos solúveis, incluindo substratos

afluentes biodegradáveis, não biodegradáveis ou lentamente biodegradáveis, além

de produtos intermediários e finais da degradação do substrato (Guo et al., 2011).

Compostos orgânicos complexos formados durante as reações entre materiais

orgânicos afluentes, intermediários e finais, e produtos microbianos solúveis (PMS)

também são encontrados (Barker e Stuckey, 1999).

Em uma análise mais específica, o ETB é constituído de 1) compostos orgânicos

chamados matéria natural refratária, proveniente da água potável; 2) traços de

compostos orgânicos sintéticos, gerados durante o uso doméstico da água; 3)

produtos provenientes da desinfecção no tratamento de água e, 4) PMS derivados

do tratamentos biológico de esgoto (Guo et al., 2011).

O termo Produtos Microbianos Solúveis (PMS) tem sido adotado para definir, pela

perspectiva da engenharia, a variedade de compostos orgânicos que são liberados

em solução através do metabolismo do substrato do tratamento do esgoto e da

morte dos organismos formadores da biomassa (enfraquecimento da biomassa)

(Barker e Stuckey, 1999).

A existência de produtos microbianos residuais produzidos por culturas microbianas

envolvidas no tratamento de águas residuais foi demonstrada em 1961 por (Gaffney

e Heukelekian, 1961). Desde então, muitos pesquisadores ((Chudoba, 1967),

(Chudoba et al., 1968a); (Chudoba et al., 1968b); (Grady e Williams, 1975); (Daigger

e Grady, 1977); (Baskir e Hansford, 1980); (Siber e Eckenfelder Jr, 1980); (Saunders

e Dick, 1981); (Parkin, G.F. e Mccarty, P.L., 1981a); (Parkin e Mccarty, 1981b);

(Gaudy Jr e Blahy, 1985); (Namkung e Rittmann, 1986); (Rittmann et al., 1987);

(Noguera et al., 1994) e (Schiener et al., 1998)) têm demonstrado que a maior parte

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da matéria orgânica solúvel em efluentes de processos de biológico de tratamento é,

na verdade, o PMS (Barker e Stuckey, 1999).

Pesquisadores ((Noguera et al., 1994); (Kuo e Parkin, 1996); (Kuo et al., 1996) e

(Schiener et al., 1998) mostraram que a parte solúvel do efluente possui material

residual de origem microbiana, e não de substrato residual ou substratos

intermediários (Barker et al., 1999). Além disso, foi observado por esses e outros

autores que os parâmetros de funcionamento da ETE de tratamento biológico (i.e.

tempo de retenção dos sólidos) afetam a produção e o tipo de PMS presente no

efluente ((Barker e Stuckey, 1999); (Guo et al., 2011).

As características do efluente do tratamento de esgoto são de grande interesse para

que a eficiência das estações de tratamento de esgoto e a qualidade de descarte do

efluente sejam mensuradas (Jarusutthirak e Amy, 2007). Os resíduos orgânicos e

suas concentrações no efluente do tratamento dependem das condições de

operação da ETE. Ainda, é importante ressaltar que a presença dos produtos

orgânicos no efluente (PMS) pode dificultar a purificação do mesmo (Rittmann et al.,

1987). O nível de compostos orgânicos residual presente no esgoto tratado deve

estar dentro da concentração das águas naturais onde o esgoto tratado vai ser

liberado (Dignac et al., 2000), ou seja, deve estar dentro de parâmetros pré-

definidos.

De uma maneira geral os compostos orgânicos residuais podem ser classificados,

segundo Chudoba (1985b), em:

compostos liberados pelos microrganismos através da sua interação com

ambiente;

compostos produzidos pelos microrganismos através do metabolismo do

substrato e do crescimento bacteriano;

compostos liberados pela lise e degradação dos microrganismos.

Dentro desta classificação geral, estes compostos podem ser fracionados e

identificados de maneira mais detalhada. Um exemplo é a classificação dos

compostos orgânicos como sugere Imai et al. (2002):

1) Ácidos hidrofóbicos;

2) Compostos neutros hidrofóbicos;

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3) Bases hidrofóbicas;

4) Ácidos hidrofílicos;

5) Compostos neutros hidrofílicos;

6) Bases hidrofílicas.

O fracionamento das substâncias orgânicas em diferentes classes de diferentes

tamanhos e biodegradabilidade é um método muito utilizado para a caracterização

dos compostos orgânicos da água de esgoto ((Henze et al., 1987) e (Dignac et al.,

2000).

Utilizando uma classificação semelhante, Chefetz et al. (2006) avaliaram as

características da matéria orgânica dissolvida de efluentes de tratamento de esgoto

e sua capacidade de adsorção de pesticidas, quando aplicados ao solo em duas

estações de tratamento de efluentes em Israel: Netanya (lodos ativados) e Lachish

(lagoas de oxidação). A matéria orgânica dissolvida foi separada em ácidos

hidrofóbicos e compostos neutros hidrofóbicos.

Dentre os resultados encontrados, os autores apontam que na estação de Netanya

(lodos ativados) a MO dissolvida era composta por 67% de frações hidrofóbicas,

sendo que destas 60% era de ácidos hidrofóbicos. Na estação de Lachish as frações

hidrofóbicas (ácidos e compostos neutros) representaram apenas 38% da matéria

orgânica dissolvida. As frações de compostos neutros hidrofóbicos eram

semelhantes nas duas estações, representando 8 a 9% da MO dissolvida. Os

autores ainda afirmam que o tratamento de lodos ativados reduz com mais eficiência

os compostos prontamente biodegradáveis (fração hidrofílica).

Métodos analíticos como Carbono Orgânico Total (COT), Carbono Orgânico

Dissolvido (COD), Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), Demanda Química de

Oxigênio (DQO) e Ultravioleta (UV) são os mais utilizados para a análise da

presença de compostos orgânicos no afluente e efluente do tratamento de esgoto. A

Tabela 3.4 traz alguns exemplos de estudos realizados com afluente e efluente do

tratamento de esgoto utilizando estes parâmetros.

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Tabela 3.4. Exemplos de estudos realizados utilizando diferentes parâmetros para medição dos compostos orgânicos do efluente.

Em relação aos testes apresentados, pode-se destacar que as medidas de DBO e

DQO possuem limitações. Segundo Metcalf e Eddy as limitações do teste de DBO

são:

1) é necessária uma alta concentração de bactérias aclimatadas e ativas;

2) os efeitos dos organismos nitrificantes deve ser reduzido e as substâncias

tóxicas pré-tratadas;

3) após o consumo dos compostos orgânicos, o teste perde sua validade

estequiométrica;

4) o tempo para obtenção do resultado do teste é relativamente longo;

5) o tempo de 5 dias pode ou não corresponder ao ponto onde os compostos

orgânicos solúveis são consumidos.

Já o método de DQO, também muito utilizado, tem sua limitação pelo fato de que

mede o oxigênio, (i.e. compostos orgânicos) do afluente ou efluente estudado, que

pode ser oxidado quimicamente e o teste depende da presença em grande

quantidade do composto orgânico para se obter resultados confiáveis (Metcalf e

Eddy, 1991).

PUBLICAÇÃO

PARÂMETRO UTILIZADO

DBO DQO COT COD UV

Chudoba, 1985 X

Barker e Stuckey, 1999

Dignac et al., 2000 X X X

Imai et al., 2002 X X X

Shon et al., 2005 X X X

Jarusutthirak e Amy, 2007 X X X

Guo et al., 2011 X X

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Além destes parâmetros analíticos, a distribuição da massa molecular tem sido

utilizada, através da separação das frações de compostos orgânicos do efluente

através da cromatografia ou filtração em membranas (ultra- e nanofiltração), para a

uma melhor caracterização dos componentes formadores do efluente do tratamento

biológico, assim como para caracterização da MO em diferentes tipos de efluentes.

O papel da técnica de cromatografia é promover a separação dos componentes da

mistura (i.e. compostos orgânicos do efluente) para permitir a sua identificação ou

sua determinação quantitativa. Os componentes a serem separados são distribuídos

entre duas fases, uma fase estacionária e uma fase móvel. A identificação é

baseada na comparação das características físico-químicas e no tempo de retenção

de uma amostra desconhecida com os materiais de referência determinados sob

condições experimentais idênticas (Ardrey, 2003).

Alguns autores já utilizaram a técnica de separação dos componentes por massa

molecular através da cromatografia para melhor compreensão do efluente de

tratamentos biológicos aeróbios.

Barker e Stuckey (1999) apresentam uma revisão sobre a caracterização, produção

e implicação dos produtos microbianos solúveis no tratamento de águas residuárias.

A revisão destaca alguns pontos importantes em relação ao uso da distribuição por

massa molecular para caracterização dos compostos orgânicos de efluentes. Os

autores afirmam que, como não existe um procedimento padronizado para a técnica,

isso dificulta a comparação de resultados de diferentes estudos (Tabela 3.5).

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Tabela 3.5. Resultados de massa molecular (MM), em porcentagem, encontrados utilizando ultrafiltração (UF) e cromatografia por exclusão de tamanho (SEC) para separação dos compostos orgânicos de efluente de tratamento de lodo ativado. “Parâmetro” indica o método utilizado para medição da carga orgânica.

PARÂMETRO UF SEC MM REFERÊNCIA

DQO X 4 150 kDa: 25%,

<1.2 4 kDa: 75%

(Zuckerman et al., 1970)

COD X >1 kDa: 85%;

< 1 kDa: 15% (Levins, 1971)

COD X

>1.8 kDa: 43%;

0.8-1.8 kDa: 30%;

0.165-0.8 kDa: 21%;

<165 kDa: 6%

(Keller et al., 1978)

COT X

>1.8 kDa: 9%;

0.78-1.8 kDa: 17%;

330-780 kDa: 25%;

150-330 kDa:8%;

62-150 kDa: 7%;

26-62 kDa: 5%;

<26 kDa: 18%

(Hart, 1980)

DQO X

>1.8 kDa: 9%;

0.78-1.8 kDa: 16%;

340-780 kDa: 22%;

165-340 kDa: 7%;

<165 kDa: 6%

(Parkin, G. F. e Mccarty, P. L., 1981a)

COT X

>1.8 kDa: 10%;

0.78-1.8 kDa: 13%;

330-780 kDa: 20%;

< 330 kDa:57%;

(Van Steenderen e Malherbe, 1982)

COT X <1 a >100 kDa (Grady e Williams, 1975)

Fonte: adaptado de Barker e Stuckey (1999).

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A distribuição da massa molecular dos compostos do efluente do tratamento

biológico auxilia o entendimento do processo de remoção das partículas de

diferentes tamanhos utilizando diferentes métodos de tratamento (Shon et al., 2006).

Segundo Shon et al., 2006, os compostos orgânicos do efluente podem ser

agrupados em Carbono Orgânico Particulado (acima de 0,45 μm) e Carbono

Orgânico Dissolvido (abaixo de 0,45 μm). A figura 3.6 mostra a separação dos

compostos orgânicos presentes no efluente segundo essa classificação, indicando

também o massa molecular referente a cada classificação.

Figura 3.6. Divisão por tamanho molecular dos compostos orgânicos do efluente do tratamento biológico de esgoto.

Fonte: adaptado de Shon et al. (2006).

Ainda com base nas observações de Shon et al. (2006), a Tabela 3.6, mostra as

diferentes partes dos compostos orgânicos presentes no efluente (solúvel, coloidal,

supracoloidal e sedimentável), sua DQO, COT e tamanho molecular.

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Tabela 3.6. Classificação dos compostos orgânicos da água residuária, representação de DQO(%), COT(%) e massa molecular (µm).

Classificação

Solúvel Coloidal Supracoloidal Sedimentável

Tamanho

Molecular (µm) <0,08 0,08 – 1,0 1,0 - 100 >100

DQO (% do total) 25 15 26 34

COT (% do total) 31 14 24 31

Fonte: adaptada de Shon et al. (2006) e Levine et al. (1985).

Dignac et al. (2000) investigaram a transformação dos compostos orgânicos

presentes no efluente durante o tratamento de lodo ativado. Os autores utilizaram a

distribuição molecular através de cromatografia para detectar as mudanças na

presença de proteínas, ácidos graxos, açúcares, aminoácidos e compostos

fenólicos. Em seus resultados os autores discutem a remoção aparente dos

compostos orgânicos. De acordo com modelos de remoção dos compostos

orgânicos (Henze et al., 1987) a concentração de uma molécula medida na água

tratada é a combinação da concentração residual da molécula parcialmente

removida pelo tratamento biológico mais a concentração da molécula que se formou

durante o tratamento (Dignac et al., 2000). Isto é, apesar de a remoção dos

compostos orgânicos pelo tratamento biológico, medida em COT, observada pelos

autores, ter sido de 88%, a remoção aparente em COT foi de 93%. Os autores

afirmam que os grupos de biopolímeros não foram reduzidos de maneira igual após

o tratamento biológico e que a composição da MO depois do tratamento era

diferente da composição da MO que entrava no tanque de aeração. Afirma também

que a fração de MO que não foi identificada por técnicas moleculares aumentou

bastante após o tratamento biológico, sendo a fração caracterizada no afluente do

tratamento (esgoto) 41% e no efluente secundário do tratamento biológico apenas

22%. Dignac et al. (2000) apontam que muitas substâncias não puderam ser

caracterizadas após o tratamento do esgoto devido à possível transformação de

compostos biodegradáveis e relativamente bem caracterizado no afluente do

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33

tratamento para materiais químicos e biológicos recalcitrantes, formados durante a

degradação do tratamento, presentes no efluente.

Imai et al. (2002) utilizaram resinas adsorventes para fracionar a MO de estações de

tratamento de esgoto domésticos em seis classes: substâncias húmicas aquáticas,

bases hidrofóbicas, hidrofóbicos neutros, ácidos hidrofílicos, bases hidrofílicas, e

hidrofílicos neutros, comparando os resultados desta separação com absorção UV e

distribuição de massa molecular. Os autores afirmam que a distribuição das frações

de matéria orgânica no efluente do tratamento depende muito do tipo de água

residuária e do tipo de tratamento empregado. Entre os resultados apresentados, os

autores afirmam que em todos os efluentes estudados as substâncias húmicas

aquáticas e ácidos hidrofóbicos representavam 55% da MO dissolvida e da DQO.

Em relação à distribuição da massa molecular, as amostras ficaram entre 380 a 830

g.mol-1.

Dentre os trabalhos citados anteriormente podemos destacar também o trabalho de

Jarusutthirak e Amy (2007), no qual os autores investigam a formação de PMS

durante a degradação biológica de compostos orgânicos em reatores de tratamento

biológico sequencial em batelada, em escala de laboratorial, utilizando cromatografia

em fase líquida (HPLC) para separação dos diferentes tamanhos de partículas. Em

relação à distribuição da massa molecular, os autores afirmam que os compostos de

menor massa molecular eram mais facilmente biodegradáveis, em quanto os de

maior massa molecular possuíam características mais refratárias. No efluente do

tratamento o PMS continha 30-50% de compostos de baixo massa molecular e 25-

45% de compostos com alta massa molecular.

Outros autores também estudaram diferentes tipos de efluentes, domésticos e

industriais, e a mudança na composição da MO após tratamento biológico aeróbio

utilizando a análise da distribuição de massa molecular e identificação de diferentes

classes de compostos por esta metodologia ((Leiviskä et al., 2008; Wang e Wu,

2009); (Worms et al., 2010) e (Guo et al., 2011)). Todos os trabalhos apontam as

mudanças na composição da MO dissolvida e na distribuição dos massas

moleculares no afluente e efluente do tratamento biológico, mostrando assim, que a

metodologia aplicada permite uma visualização mais precisa da composição destes

efluentes.

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34

Embora as ETE sejam primariamente projetadas e operadas para garantirem uma

elevada eficiência na remoção de compostos orgânicos biodegradáveis, uma fração

destes, como citado acima, ainda permanece na fase líquida do efluente, podendo-

se citar compostos produzidos pelos microrganismos durante a interação com o

substrato e compostos liberados pela lise e degradação dos microrganismos.

Considerando que a maioria das ETE implantadas no Brasil e no mundo efetua o

lançamento de seus efluentes em corpos receptores, pode-se considerar como

aceitável a remoção de carga orgânica na ordem de 90 a 95% avaliada pelos

parâmetros de DBO e DQO.

No entanto, como algumas ETE possuem implantação de sistema de reúso para fins

diversos, tem sido necessária a implantação de sistemas complementares de

tratamento, como a coagulação química seguida de floculação, filtração em meio

granular, adsorção e oxidação química.

Desta forma, como a concentração de compostos orgânicos no efluente tratado por

processo biológico de tratamento é bastante reduzida, a avaliação dos processos

complementares de tratamento na composição físico-química do efluente final é

comprometida quando são empregadas as técnicas analíticas mais usuais,

podendo-se citar os parâmetros de DBO e DQO.

Tomando conhecimento destas condições e da exploração de resultados de estudos

a nível molecular, como os apresentados nos trabalhos previamente citados, fica

clara a limitação dos resultados fornecidos pelos testes de DBO e DQO após o

efluente secundário ter recebido pós-tratamento, isto é, tendo eliminado, a maioria

dos compostos orgânicos restantes no mesmo. Sendo assim, o uso de técnicas mais

precisas, como a distribuição da massa molecular e caracterização das substâncias

residuais podem ser de grande uso para as novas finalidades do efluente do

tratamento biológico (i.e. reúso).

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35

3.5 Descarte e Reúso do Efluente do Tratamento Biológico

Como citado anteriormente, a forma mais comum de descarte do efluente do

tratamento de esgoto é a disposição em corpos d’água como rios, lagos, estuários

ou no oceano.

O reúso do efluente do tratamento de esgoto tem sido visto como uma estratégia

essencial para minimizar o consumo de água potável para fins menos nobres, como

lavagens de vias públicas, uso industrial, etc. Apesar do tratamento secundário do

esgoto permitir sua disposição no ambiente, não permite que o efluente possa ser

utilizado para reúso (Shon et al., 2005), onde se requer baixa concentração de

sólidos solúveis totais (SST), turbidez e características microbiológicas, não

interferindo nos padrões da saúde pública.

Segundo o Water Reuse Guidelines (2004) levantamentos sobre o reúso da água

concluem que os melhores projetos de reúso, em termos de viabilidade econômica e

aceitação pública, são aqueles que substituem o uso da água potável pela água de

reúso para irrigação, limpeza pública, descargas de sanitários e uso industrial

(Lazarova (2001) e Mantovani (2001)).

O reúso da água pode ser dividido em sete categorias (Metcalf e Eddy, 1991):

1) reúso na agricultura, visando a irrigação;

2) irrigação de parques e praças públicas;

3) resfriamento de máquinas na indústria e na construção civil;

4) recarga de lençóis subterrâneos de água;

5) criação de lagoas e riachos recreacionais e decorativos em parques e praças

municipais;

6) utilização em casos de incêndio, ar-condicionado, descarga doméstica;

7) reúso potável da água tratada.

Apesar das vantagens econômicas e ecológicas associadas ao reúso do efluente do

tratamento de esgoto, a maior preocupação no reúso é a implicação na saúde

pública. Ainda segundo Water Reuse Guidelines (2004), o ponto de partida para os

projetos de reúso é assegurar a segurança e adequação aos parâmetros de saúde

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36

pública. Por essa razão, os parâmetros microbiológicos têm recebido atenção na

regulamentação do reúso da água.

O tratamento convencional do esgoto não remove todos os contaminantes e

descobertas indicam que traços de componentes químicos no efluente podem

impactar peixes mesmo numa concentração da ordem de nanogramas por litro

((Bevans et al., 1996); (Kramer et al., 1998); (Renner, 1998); (Jobling et al., 2002);

(Snyder et al., 2004a) e (Parrott e Blunt, 2005). A presença dessas substâncias,

acrescida de moléculas orgânicas artificiais, aumentou a preocupação com os

parâmetros do tratamento de esgoto, pois muitas delas não podem ser decompostas

biologicamente (Shon et al., 2006).

Visando o descarte de um efluente dentro dos parâmetros precisos e o possível

reúso do efluente do tratamento biológico, o efluente secundário do tratamento

biológico tem recebido pós-tratamentos visando a remoção dos compostos

orgânicos solúveis. Tratamentos como coagulação/floculação, adsorção e

tratamento com membranas têm sido testados para remoção dos principais grupos

de compostos orgânicos no efluente do tratamento biológico (Shon et al., 2006).

A Tabela 3.7 mostra alguns dos principais tipos de tratamento utilizados na remoção

dos compostos orgânicos do efluente de tratamento biológico e suas capacidades na

remoção de DQO e o tamanho molecular que cada tratamento consegue alcançar.

Tabela 3.7. Principais tipos de processos para remoção de compostos orgânicos do efluente do tratamento biológico e suas capacidades de remoção.

Tipo de Tratamento Remoção DQO (%) Tamanho Molecular (µm)

Floculação (FeCl3) 30-60% 10-1 - 10 1

Adsorção (Carvão Ativado) ~ 95% 10-4 - 10-1

Membranas Ultrafiltração

Nanofiltração

~ 40-60%

~ 80%

10-3 - 10

10-4 - 10-1

Fonte: adaptado de Shon et al. (2006).

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37

Para que o efluente possa ser reutilizado com segurança, um tratamento terciário

(pós-tratamento) deve ser efetuado.

Segundo Koning et al. (2008), as exigências em relação à qualidade da água a ser

reutilizada podem ser divididas em grupos:

relacionadas à saúde pública, isto é, contaminação com microrganismos;

relacionadas a aspectos funcionais, por exemplo, o entupimento de

membranas;

relacionadas à aceitação dos usuários.

Os autores ainda discutem alguns tipos de tratamento terciário que podem ser

aplicados ao efluente secundário para seu reúso. A combinação de processos de

filtração com processos de desinfecção mostrou resultados satisfatórios de redução

de matéria orgânica e patógenos. A Tabela 3.8 mostra os resultados obtidos pelos

processos de filtração testados.

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38

Tabela 3.8. Eficiência de remoção dos diferentes tratamentos de filtração testados: FP – Filtro Biológico Percolador; FA – Filtro de Areia; CF – Coagulação/Filtração.

Parâmetro Unidade Processo de Filtração

FP FA CF

SS % 64,2 42,1 42,4

Turbidez % 95,3 43,9 67,7

DQO % 36,9 12,5 11,7

DBO % 100 36,3 100

COT % 46,2 11,0 24,8

Coliformes fecais Ulog/100mL 2,19 0,29 0,66

Bateriófagos Ulog/100mL 3,30 0,12 0,10

Fonte: adaptado de Koning et al. (2008).

Neste estudo os autores afirmam que o processo de FP é o mais eficiente no

aspecto geral da remoção, dado que é um processo que já prevê a diminuição de

microrganismos. Em relação aos processos de desinfecção, o processo de ozônio é

o mais eficiente.

Meneses et al. (2010), em um estudo com pós-tratamento em efluente secundário,

avaliaram diferentes formas de tratamento baseada na desinfecção com ozônio.

Além de avaliar o impacto ambiental das formas de tratamento e do reúso do

efluente final, compararam o impacto ambiental deste tratamento com o tratamento

convencional de água. Os autores concluíram que os impactos ambientais causados

pelo tratamento quando se utiliza ozônio seguido de UV para desinfecção e pelo

tratamento convencional (tratamentos físico-químicos) de água são muito

semelhantes.

Meneses et al. (2010) ainda afirmam que a substituição da água dessalinizada ou

potável pela água reciclada (efluente com tratamento terciário) deve ser considerada

principalmente em áreas com estresse hídrico, ou seja, áreas que sofrem com a falta

de fontes de água em certas estações. Afirmam, ainda, que o tratamento com ozônio

é eficaz, porém, possui um alto custo, e que o tratamento utilizado como terciário

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39

deve ser escolhido com base no impacto ambiental, na economia, características

tecnológicas e condições do local onde será aplicado.

Os limites de descarte do efluente tendem a ser cada vez mais restritivos, o que

torna necessária a remoção de componentes como pesticidas, produtos

farmacêuticos, etc., e é necessária a inovação dos processos de tratamento (Koning

et al., 2008). Em relação à caracterização do efluente terciário, ou pós-tratado,

alguns trabalhos já estudaram a composição orgânica e a distribuição da massa

molecular.

Manka e Rebhun (1982) estudaram o efluente secundário de um pós-tratamento

com lagoa de oxidação e clarificação e polimento com cal. Para separação das

diferentes frações de tamanhos moleculares utilizaram ultrafiltração. Em seus

resultados os autores afirmam que no efluente secundário puderam identificar 100%

dos constituintes orgânicos, enquanto no pós-tratado da lagoa de oxidação, apenas

82% após clarificação com cal e 68% após o polimento final com cal. A maior

remoção no clarificador foi no grupo dos ácidos húmicos. Em relação à distribuição

da massa molecular, os autores afirmam que no efluente final (pós-tratado) ocorre

uma remoção dos compostos de alta massa molecular, com aumento dos

compostos de baixo massa molecular.

Shon et al. (2006) apresentam uma ótima revisão sobre o efluente secundário do

tratamento biológico, sua composição e implicação desta nas inovações e novos

parâmetros das estações de tratamento biológico. Os autores discutem resultados

apresentados sobre remoção de matéria orgânica e outros compostos considerados

importantes em relação à saúde pública (i.e. fármacos e hormônios) por diferentes

tratamentos terciários (floculação, adsorção, biofiltração, troca de íons, oxidação

avançada e tecnologia de membranas). Focando na remoção de compostos

orgânicos por coagulação-floculação, os autores afirmam que, considerando a

matéria orgânica em termos de COD, a floculação, junto à ultrafiltração, mostrou

menor remoção quando comparada com os outros métodos avaliados (Figura 3.7).

Isso sugere que a MO do efluente continha compostos orgânicos de menor massa

molecular.

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Figura 3.7. Remoção de COD por diferentes processos em efluentes do tratamento biológico de esgoto.

Fonte: adaptada de (Shon et al., 2006).

Considerando a distribuição da massa molecular, a floculação removeu

principalmente os compostos de alta massa molecular e não removeu a maioria dos

compostos de baixo massa molecular (263 Da, 330 Da e 580 Da). O processo de

adsorção removeu os compostos de menor massa molecular e a nanofiltração

removeu praticamente todas as variações de PM do efluente (Shon et al., 2006).

Tendo em vista as conclusões dos trabalhos citados e os pontos presentados

anteriormente, fica claro que o desenvolvimento de estudos e protocolos para o

estudo da remoção de matéria orgânica do efluente do tratamento biológico de

águas residuárias e a caracterização do efluente terciário são de extrema

importância para o desenvolvimento de projetos mais refinados e seguros à saúde

humana de reúso de água.

1

Re

mo

ção

de

CO

D

100

80

60

40

20

0

2 3 4 5 6 7 8

1. Floculação com FeCl32. Adsorção por PAC

3. Troca de Íons

4. Oxidação Avançada

5. Biofiltração por Carvão

Ativado Granular

6. Ultrafiltração

7. Nanofiltração 1 (700 Da)

8. Nanofiltração 2 (200 Da)

Diferentes tratamentos

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41

4 Metodologia

O Projeto de Pesquisa está inserido dentro da linha de pesquisa no Departamento

de Engenharia Hidráulica e Sanitária da EPUSP intitulada “Processos Físico-

químicos e sua Otimização em Engenharia Sanitária e Ambiental”.

Com o objetivo de permitir um melhor conhecimento dos principais mecanismos

envolvidos nos processos de remoção de matéria orgânica em efluente secundário

de tratamento biológico de esgotos sanitários por processos físico-químicos de

precipitação química, o efluente secundário produzido pela ETE Jesus Netto,

localizada no município de São Paulo, pertencente e operada pela Sabesp

(Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), foi utilizado nos

testes realizados no presente estudo.

4.1 ETE Jesus Netto

Inaugurada em 1935, a Estação Experimental de Tratamento de Esgotos do

Ipiranga, hoje é mais conhecida como Estação Experimental de Tratamento de

Esgotos Engenheiro João Pedro de Jesus Netto ou, simplesmente, ETE Jesus

Netto. Localizada às margens do Rio Tamanduateí, possui uma área de 8.620m2,

recebe contribuição da bacia de esgotamento (Córrego Moinho Velho), com área de

2,5 km2 e aproximadamente 5.000 ligações, tornando-a predominantemente

doméstica e atendendo à uma população de 40.000 habitantes (Fonte: SABESP –

Descritivo ETE Jesus Netto).

O Fluxograma (Figura 4.1) atual da ETE Jesus Netto é descrito da seguinte forma:

• Processo de Tratamento Preliminar (comum para os dois processos de

tratamento);

• Processo de Tratamento Lodo Ativado;

• Processo de Tratamento Combinado;

• Processo de Tratamento Físico Químico (comum para os dois processos de

tratamento);

• Armazenamento e Distribuição.

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42

Figura 4.1. Fluxograma da ETE Jesus Netto. 1 - Entrada da ETE; 2 - Gradeamento; 3 - Caixa de Areia; 4 - Tanque de Distribuição; 5 - Decantador Primário; 6 - Tanque de Aeração; 7 - Decantador Secundário; 8 - Tanque de desinfecção e coagulação; 9 - R.A.F.A; 10 - Tanque de Pré-oxidação; 11 - Filtro Biológico 2; 12 - Filtro Biológico 1; 13 - Tanque de desinfecção e coagulação; 14 - Caixa de mistura de efluentes; 15 - Filtros Granulares; 16 - Filtros de Cartuchos; 17 - Reservatório de Água de Reúso.

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A. Processo de Tratamento Preliminar

Composto pelas unidades de tratamento denominadas por grade grosseira,

mecanizada e caixa de areia. Essas unidades de tratamento são responsáveis pela

remoção dos sólidos grosseiros em suspensão e materiais abrasivos presentes nas

águas residuarias, evitando a obstrução e desgastes das tubulações e

equipamentos (Figura 4.2 A e B e Figura 4.3). Os materiais retirados do efluente

durante o tratamento preliminar, denominados por material gradeado e areia, são

posteriormente encaminhados para aterro sanitário.

Figura 4.2 (A) - Tratamento preliminar – gradeamento grosseiro

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44

Figura 4.2 (B) - Tratamento preliminar – grade mecanizada.

Figura 4.3. Caixa de areia

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45

Em seguida o efluente do tratamento preliminar passa pela medição de vazão

(medidor tipo Calha Parshall e Ultra-sônico), e é encaminhado para os processos de

tratamento lodo ativado e combinado (Figura 4.4).

Figura 4.4. Visão da Calha Parshall.

B. Processo de Tratamento Lodo Ativado

Classificado como processo de tratamento de nível secundário, com capacidade

nominal de 30 litros por segundo, é composto pelas unidades de tratamento

denominadas por:

• 01 decantador primário com 253 m3 (Figura 4.5)

• 03 tanques de aeração com 209 m3 cada (Figura 4.6)

• 01 decantador secundário com 217 m3 (Figura 4.7)

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Figura 4.5. Vista do decantador primário.

Figura 4.6 Tanques de aeração.

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Figura 4.7. Decantador secundário.

Figura 4.8. Ponto de Coleta do Efluente Secundário – saída do decantador secundário.

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C. Processo de Tratamento Combinado

O processo de tratamento combinado da ETE Jesus Netto surgiu da necessidade de

complementar a produção de água de reúso, que anteriormente era apenas do

processo lodo ativado, e é composto por:

• 01 R.A.F.A - Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente;

• 01 tanque de pré-oxidação ou tanque Híbrido;

• 02 filtros biológicos operados em série.

D. Processo de Tratamento Físico Químico

Composto por Tanques de Desinfecção/Coagulação (Figura 4.9) e Sistema de

Filtração Pressurizado.

Figura 4.9. Tanque de desinfecção.

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E. Armazenamento e Distribuição

Os reservatórios para a água de reúso totalizam 1.600 m3, dando uma autonomia

média de bombeamento de treze horas, o que permite a realização de intervenções

preventivas ou corretivas no sistema sem comprometer a distribuição da água de

reúso.

4.2 Realização dos Ensaios Experimentais

As coletas foram realizadas em 1 (um) ponto amostral da ETE Jesus Netto (saída do

decantador secundário), compreendendo um total de 10 coletas realizadas ao longo

do período de estudo. O efluente secundário da ETE JN foi coletado e disposto em

bombonas com capacidade de 10 litros cada, sendo coletados volumes mínimos de

120 litros por amostragem. Imediatamente após a sua coleta, estes foram

conduzidos ao Laboratório de Saneamento Prof. Lucas Nogueira Garcez para a sua

caracterização físico-química.

A avaliação dos parâmetros físico-químicos compreendeu medidas de turbidez

(NTU), alcalinidade (mg CaCO3/L), carbono orgânico dissolvido (mg/L), potencial

Zeta, demandas química e bioquímica de oxigênio (total e solúvel) (mg/L), e

concentrações de fósforo total, solúvel e hidrolisável e ortofosfato (mg/L). Dentre as

amostras, apenas algumas foram selecionadas para análise por jar-test e

cromatografia. As análises foram efetuadas de acordo com APHA (2005).

Foram realizados ensaios em escala de jar-test, método utilizado para a

determinação das dosagens ótimas dos coagulantes a serem empregados no

tratamento de águas e efluentes e para estudos de concepção de ETA e ETE. O

equipamento (Nova Ética®) é composto por seis pás anexadas a um sistema de

rotação e 6 jarros com capacidade para 2 litros. O equipamento empregado na

condução dos ensaios experimentais está apresentado na Figura 4.10.

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Figura 4.10. Equipamento de jar-test utilizado na execução dos ensaios experimentais.

Os coagulantes empregados foram cloreto férrico, sulfato de alumínio e cloreto de

polialumínio (PAC). As concentração dos coagulantes nos ensaios experimentais

variaram de 20 a 50 mg Fe+3/L ou mg Al+3/L e o pH de coagulação foi variado entre 5

e 8.

Em cada ensaio de jar-test manteve-se fixa a dosagem de coagulante, sendo o pH

de coagulação variado em cada um dos jarros, para que a sua faixa ótima de

atuação nos mecanismos de remoção de carga orgânica fosse determinada.

Dado que a otimização dos parâmetros operacionais mistura rápida, mistura lenta e

sedimentação não era pretendida, estes foram mantidos constantes ao longo de

todos os ensaios de precipitação química por jar-test. Os valores de gradiente de

velocidade, tempos de mistura rápida, de mistura lenta e de sedimentação adotados

na execução dos ensaios experimentais foram de acordo com o design típico dos

reatores utilizados nas estações de tratamento de água (AWWA, 2011) e estão

apresentados na Tabela 4.1.

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Tabela 4.1. Parâmetros operacionais de execução dos ensaios de jar-test.

Operação Rotação (rpm)

Tempo

(segundos e minutos)

Coagulação (mistura rápida)

Gradiente de velocidade (s-1)

150

30”

Floculação (mistura lenta)

Gradiente de velocidade (s-1)

25

15’

Tempo de sedimentação 0 5’

As soluções de produtos químicos utilizados na condução dos ensaios foram

preparadas diariamente e sempre anteriormente à sua execução. As soluções de

coagulante empregados foram preparadas com uma concentração de Fe+3 ou Al+3 de

2,0 g/L, sempre utilizando como solução-estoque uma solução de coagulante

comercial. Os coagulantes utilizados foram: Cloreto férrico (Sigma Aldrich), Sulfato

de alumínio (Sigma Aldrich) e PAC (Kemira Chemicals). O controle do pH de

coagulação-floculação foi efetuado mediante a aplicação de volumes de NaOH 0,1

M e HCl 0,1 M, sendo estes determinados em função da curva de titulação efetuada

imediatamente antes da execução dos ensaios de jar-test.

4.3 Análise dos compostos orgânicos por cromatografia por exclusão de tamanho

(SEC)

O método utilizado para análise do perfil de compostos orgânicos por cromatografia

líquida por exclusão de tamanho (SEC) com detecção por espectrometria de massas

(MS) foi baseado no trabalho de Leiviskä et al. (2008). A distribuição dos compostos

orgânicos por massa molecular foi determinada utilizando duas colunas

cromatográficas por exclusão de tamanho: (i) coluna PolySep-GFC-P 2000 (com

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fracionamento entre 100 – 10.000 Da) e (i) coluna PolySep-GFC-P Linear (com

fracionamento entre 1 – 10.000 kDa), ambas com 300 x 7,80 mm (Phenomenex) e

acopladas à uma pré-coluna PolySep-GFC-P (35 x 7,80 mm, Phenomenex). Como

padrões foram utilizados 7 padrões de Dextran com massas moleculares entre 180 e

43.500 Daltons (Dextran Standards Kit, Phenomenex). Como fase móvel utilizou-se

o solvente grau HPLC acetonitrila (J.T. Baker) e água, na proporção de 1:1.

Entre as amostras obtidas pelos ensaios de jar-test realizados nos meses de

amostragem, algumas foram selecionadas para análise por espectrometria de

massas, a fim de avaliar a variação do PM dos compostos orgânicos e a eficiência

da metodologia proposta. O critério de seleção das amostras foi baseado na

remoção de COD. Para cada jar-test a melhor e a pior remoção de COD para cada

coagulante, dentro de uma dada concentração aplicada, foram selecionadas. A

Tabela 4.2 mostra as 22 amostras selecionadas, sendo 12 da coleta de

Novembro/2013 e 10 da coleta de Fevereiro/2014.

Tabela 4.2. Amostras selecionadas para análises por Espectrometria de Massas, e respectiva concentração de coagulante aplicada ao tratamento.

Coagulante

Concentração de coagulante

Novembro de 2013

Fevereiro de 2014

Amostra Amostra

FeCl3.x H2O

20 mg/L A3 NA

A1 NA

30 mg/L B1 B1

B4 B4

40 mg/L NA C1

NA C3

Al2(SO4)3.14 H2O

20 mg/L A4 A2

A1 A1

30 mg/L B4 NA

B2 NA

40 mg/L NA C2

NA C1

PAC

20 mg/L A2 NA

A1 NA

30 mg/L B3 B1

B2 B4

NA: Não analisada.

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53

4.3.1 Análise dos compostos orgânicos por espectrometria de massas

Após a execução dos ensaios, amostras selecionadas eram encaminhadas para

análise de LC-MS. Onde 1L de cada amostra foi transferido para tubos Falcon,

liofilizado (Liofilizador Liotop L101, Liobras) e ressuspendido em 1 ml de solução

acetonitrila:água (1:1). A amostra era então filtrada em membrana PVDF 0,45 µm

(Millipore) e encaminhada para as análises de espectrometria.

As análises prelimiares foram feitas por LC-MS em um espectrometro do tipo ion trap

sem o emprego de colunas cromatográficas (FIA) para observar o perfil das

amostras. Posteriormente, optou-se pelo emprego de um equipamento de alta

resolução, espectrômetro de Massas do tipo Q-TOF, onde foram empregadas

colunas cromatográficas de acordo com protocolo de Leiviskä et al. (2008).

4.3.1.1 Análises por LC-MS por FIA

As amostras foram analisadas por espectrometria de massas usando-se um

equipamento do tipo ion trap (Esquire HCT, Bruker Daltonics, Billerica, MA, USA)

(Figura 4.11 e 4.12), equipado com uma fonte ESI, operada no modo positivo. As

amostras foram acidificadas e alcalinizadas em metanol/água (ácido fórmico ou

hidróxido de amônio) e introduzidas na fonte a 5 µL/min via uma bomba de infusão

(Cole-Parmer, Vernon Hills, IL, USA). As análises foram conduzidas utilizando-se

nitrogênio como nebulizador e gás secante e Hélio como gás de colisão. A voltagem

do capilar foi mantida de acordo com o perfil de cada amostra.

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54

Figura 4.11 . Análises por espectrometria de massas de alta resolução

Análises de alta resolução foram conduzidas em um espectrômetro de massas

híbrido, contendo analisadores do tipo quadrupolo e tempo de vôo (MicroQ-TOF –

Bruker Daltonics) (Figura 4.12), equipado com uma fonte ESI (electrospray), operada

no modo positivo e negativo. As amostras foram introduzidas no analisador da

mesma forma como descrito no item anterior. Nitrogênio foi utilizado como

nebulizador e gás de colisão. Parâmetros como voltagem do capilar, voltagem do

skimmer, do hexapolo, deflector, entre outros, foram ajustados de acordo com o

perfil das amostras. A calibração da acurácia de massa foi obtida utilizando-se uma

solução de trifluoroacetato de sódio como padrão interno.

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55

Figura 4.12. Espectrômetro de massas híbrido (MicroQ-TOF)

Os resultados obtidos pela cromatografia por exclusão de tamanho (SEC) e pelas

análises por espectrometria de massas foram utilizados de forma complementar para

avaliar a remoção das MO do efluente secundário e o desempenho dos diferentes

parâmetros de coagulação utilizados.

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56

5 Resultados e Discussão

O presente estudo propôs a avaliação do s efeitos da coagulação química utilizando

sais de ferro e alumínio para remoção de compostos orgânicos no efluente

secundário do Tratamento de Lodos Ativados da ETE Jesus Netto. Os resultados

das análises dos parâmetros físico-químicos realizadas para as 10 amostras

coletadas de efluente secundário estão apresentadas na Tabela 5.1.

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57

Tabela 5.1. Coletas de efluente secundário realizadas na ETE Jesus Netto e caracterização físico-química e biológica do mesmo. (*)

representam análises não realizadas por problemas técnicos ou perdidas.

Coleta pH Turbidez PZ (mV) Alcalinidade

(mg CaCO3/L)

COD

(mg C/L)

DBO

Total

(mg O/L)

DQO

Total

(mg O/L)

fev/13 5,5 5,5 -18,4 33,0 4,2 2,0 20,0

mar/13 6,7 5,8 -17,0 37,4 8,5 1,7 20,0

mai/13 6,9 2,6 -17,2 18,1 5,9 3,4 18,0

jun/13 7,0 1,5 -13,7 25,5 6,0 2,7 64,0

ago/13 7,1 7,5 -8,5 168,7 5,5 0,6 51,2

set/13 6,6 1,4 * 112,5 4,2 3,8 4,4

nov/13 7,0 5,3 * 152,5 6,0 6,3 26,8

fev/14 6,5 3,3 -10,1 52,5 5,4 0,7 25,2

mai/14 7,1 3,1 * 104,5 6,0 * 29,6

abr/15 6,9 5,0 -15,0 81,3 4,5 * *

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58

5.1 Remoção de Carbono Orgânico

Baseando-se na análise de COD, as melhores remoções de MO de cada

coagulante, e seus respectivos o Potencial Zeta e pH de coagulação, para cada

coleta realizada estão apresentados nas Tabela 5.2, Tabela 5.3 e Tabela 5.4.

Importante ressaltar que, apesar dos coagulantes terem sido aplicados em todas as

amostras coletadas em cada uma das dosagens determinadas na metodologia,

apenas aquelas que apresentaram melhor remoção de COD serão apresentadas

nesta seção.

Tabela 5.2. Amostras tratadas com Cloreto férrico no processo de coagulação-floculação, e suas respectivas características pós-tratamento.

Cloreto férrico

Coleta ppm PZ Coagulação pH Remoção COD (%)

mai/13 30 6,9 4,5 45,0

ago/13 40 2,1 5,5 44,0

nov/13 40 -13,9 6,0 38,0

fev/14 50 0,5 5,5 35,0

mai/14 50 -12,7 7,0 45,0

Avaliando a remoção de carga orgânica no presente estudo, baseada na análise de

COD, a melhor remoção (45% remoção) foi obtida com a aplicação de Cloreto férrico

em dosagens de 30 e 50 mg/L, e pH 4,5 e 7,0 nas coletas de Maio/2013 e

Maio/2014, respectivamente (Tabela 5.2).

Entre as amostras tratadas com o coagulante Sulfato de alumínio melhor remoção

de carga orgânica, baseada na análise de COD, foi obtida com a aplicação de

Sulfato de alumínio em dosagens de 40 e 20 mg/L, e pH 4,5 e 7,0 nas coletas de

Nov/2013 e Maio/2014, respectivamente, nas quais uma remoção de 38% foi obtida

(Tabela 5.3).

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59

Tabela 5.3. Amostras tratadas com Sulfato de alumínio no processo de coagulação-floculação, e suas respectivas características pós-tratamento.

Sulfato de alumínio

Coleta ppm PZ Coagulação pH Remoção COD (%)

mai/13 40 2,4 5,5 35,0

ago/13 40 0,4 4,5 37,0

nov/13 40 -14,9 4,5 38,0

fev/14 50 9,5 5,5 33,0

mai/14 20 -12,9 7,0 38,0

Da mesma forma que para o sulfato de alumínio, uma remoção de carga orgânica de

38% foi obtida nas amostras tratadas com o coagulante PAC com dosagens de 20 e

50 mg/L, pH 5,5 e 7,5, na coleta de Mai/2014 (Tabela 5.4).

Tabela 5.4. Amostras tratadas com PAC no processo de coagulação-floculação, e suas respectivas características pós-tratamento.

PAC

Coleta ppm PZ Coagulação pH Remoção COD (%)

mai/13 20 2,9 7,0 25,0

ago/13 50 3,2 5,5 31,0

nov/13 40 e 50 -6,7 e -1,7 6,0 31,0

fev/14 20 e 50 -13,9 e 3,4 5,5 e 7,5 32,0

mai/14 20 e 50 -12,87 e -2,5 5,5 e 7,5 38,0

A Tabela 5.5 apresenta um resumo das melhores remoções de COD para os 3

coagulantes testados.

Tabela 5.5. Amostras tratadas com PAC no processo de coagulação-floculação, e suas respectivas características pós-tratamento.

Coleta/Coagulante FeCl3 Al2(SO4)3 PAC

mai/13

Remoção COD (%)

45,0 35,0 25,0

ago/13 44,0 37,0 31,0

nov/13 38,0 38,0 31,0

fev/14 35,0 33,0 32,0

mai/14 45,0 38,0 38,0

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60

Os resultados obtidos no presente estudo podem ser comparados com os resultados

obtidos por Amuda e Amoo (2007), Jarvis et al. (2012), Umar et al. (2016) para

estudos de remoção de carga orgânica realizados com coagulação e floculação em

diferentes tipos de água e efluentes.

Jarvis et al. (2012) realizaram um estudo comparativo entre coagulantes de sal de

ferro, sal de alumínio e zircônio para remoção de matéria orgânica em água de

reservatório utilizando-se experimentos de bancada e piloto. Os autores constataram

que ao aumentar as doses dos coagulantes, aumentava-se a remoção do COD. No

maior valor testado, 15 mg/L de coagulante, a remoção de COD foi de 85% e 76%

para Fe e Al, respectivamente, sendo estas maiores do que as obtidas no presente

estudo (45% e 38% para os sais de Fe e Al, respectivamente) (Figura 5.1).

Essa maior remoção no estudo de Jarvis et al. (2012) pode ser devido ao fato de

que as águas de abastecimento contém matéria orgânica não degradada, isto é,

com maior massa molecular (ácidos húmicos, por exemplo) do que o efluente do

tratamento secundário de Lodo Ativado, onde a matéria orgânica já foi previamente

degrada pelos organismos existentes no tratamento. As teorias de coagulação

afirmam que a ação dos coagulantes sobre as partículas em suspensão/coloidais é

facilitada quando estas possuem um maior tamanho/massa molecular (Dignac et al.,

2000).

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61

Figura 5.1. Remoção de COD com uso dos coagulantes cloreto férrico, sulfato de alumínio e PAC para as coletas de Maio/2013 e Maio/2014.

(Umar et al., 2016) encontraram resultados similares ao presente estudo para cloreto

férrico e sal de alumínio (46% e 40% de remoção, respectivamente), ambos com pH

5, utilizando um efluente de alta salinidade. Ainda corroborando com o presente

estudo e com (Jarvis et al., 2012), os autores afirmam que o sal de ferro resultou na

melhor remoção de COD. De acordo com (Umar et al., 2016) a melhor eficiência

associada ao sal de ferro pode ser atribuída ao fato deste produzir flocos maiores,

que proporcionam uma maior adsorção da matéria orgânica aos mesmos,

principalmente aquela de Massa molecular intermediário. Ainda, essa eficiência

pode ser atribuída à sua maior densidade de cargas quando comparada com a dos

sais de alumínio.

Amuda e Amoo (2007) investigaram a remoção de carga orgânica utilizando FeCl3

como coagulante no pré-tratamento de efluente de indústria de bebidas. Os autores

utilizaram DQO como indicador de carga orgânica e constataram uma remoção de

73% desta com a aplicação de 300 mg/L FeCl3, e que a remoção da carga orgânica

era proporcionalmente maior conforme aumentava-se a dosagem do sal de ferro,

porém com uma dosagem limite, a partir da qual as partículas tornam-se estáveis

novamente e a remoção de carga orgânica é prejudicada.

45,0

33,9 28,8

8,5 15,0

25,0

38,3 36,7 38,3 33,3

30,0 26,7

0

10

20

30

40

50

60

70

1,0 2,0 3,0 4,0

Re

mo

ção

CO

D (

%)

pH

Remoção de COD (%) nas amostras tratadas

Cloreto Férrico 30 ppm - Maio 2013 Sulfato de Alumínio 20 ppm - Maio 2014

PAC 50 ppm - Maio 2014

4,7 6,8 5,8 6,6 7,3 6,8 6,9 6,9 7,4 6,9 6,7 8,3

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62

As diferenças entre os resultados publicados por outros autores quando comparados

ao presente estudo devem-se ao fato de que características como a composição da

matéria orgânica presente e a estabilidade (Potencial Zeta) da matéria orgânica na

solução diferem tanto nas águas residuárias entre si quanto entre as águas

residuárias e águas de abastecimento.

5.2 pH

Em relação ao pH de coagulação, os resultados os obtidos no presente estudo, onde

os pHs que apresentaram as melhores remoções de COD estavam entre ácidos e

neutros (pH 4,5 a pH 7), mostraram-se semelhantes a estudos realizados por outros

autores. Enquanto Jarvis et al. (2012) afirmam que as melhores remoções ocorreram

em pH 4,5 a 5 para o Fe e pH 5 para o Al, Amuda e Amoo (2007) concluíram que o

sal de ferro obteve um melhor resultado em pH 7. Umar et al. (2016) constataram

tanto para o sal de Fe quanto de Al que a melhor eficiência de remoção foi em pH 5.

Jarvis et al. (2012) afirmam que as dose de coagulante para Fe e Al é minimizada

em condições ácidas, dado que nessas condições as espécies hidrolisadas de maior

carga destes coagulantes são predominantes, aumentando a neutralização das

cargas negativas dos compostos orgânicos.

Isso pôde ser observado nos resultados das amostras de maio/2013 e maio/2014,

ambas com remoção de 45% de COD, tratadas com sal de ferro, onde em pH 4,5 a

dosagem foi de 30 mg/L e para o pH 7,0, a dosagem foi de 50 mg/L (Figura 5.2).

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63

Figura 5.2. Gráficos de Remoção de COD (%) vs. pH para as coletas de maio/2013 e maio/2014 mostrando a aplicação das comcentrações de cloreto férrico 30mg/L e 50 mg/L, respectivamente, e as diferentes faixas de pH testadas.

0

10

20

30

40

50

60

4,7 6,6 6,9 6,9

Re

mo

ção

de

CO

D (

%)

pH

Remoção de COD Cloreto Férrico (30 mg/L) - Maio/2013

0

10

20

30

40

50

60

6,5 6,6 6,8 7,1

Re

mo

ção

de

CO

D (

%)

pH

Remoção de COD Cloreto Férrico (50 mg/L) - Maio/2014

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64

5.3 Concentração do Coagulante e a Remoção de Carbono Orgânico Dissolvido

A aplicação dos coagulantes de sais de ferro e alumínio foi realizada em diferentes

concentrações a fim de verificar se o aumento destas possui alguma relação com a

redução ou aumento da porcentagem de emoção do COD. A Figura 5.3 mostra os

gráficos com a média das remoções de COD de cada coagulante, nas

concentrações testadas, para cada coleta realizada.

Figura 5.3. (Continua) Gráficos de remoção de COD vs. Concentração dos coagulantes utilizados (cloreto férrico, sulfato de alumínio e PAC).

0

10

20

30

40

50

20 30 40 50

Re

mo

ção

CO

D (

%)

Concentração de Cloreto Férrico (mg/L)

Remoção de COD vs. Concentração de Cloreto Férrico

mai/13 ago/13 nov/13 fev/14 mai/14

0

10

20

30

40

50

20 30 40 50

Re

mo

ção

CO

D (

%)

Concentração de Sulfato de Alumínio(mg/L)

Remoção de COD vs. Concentração de Sulfato de Alumínio

mai/13 ago/13 nov/13 fev/14 mai/14

NA

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65

Figura 5.3. (continuação) Gráficos de remoção de COD vs. Concentração dos coagulantes utilizados (cloreto férrico, sulfato de alumínio e PAC).

Avaliando os resultados, conclui-se que, em geral, a concentração dos coagulantes

exerceu pouca influência sobre o aumento da remoção de COD. Entre as diferentes

coletas realizadas, é possível observar que algumas mostram maior remoção de

COD com o aumento do coagulante. (e.g. cloreto férrico coleta de maio/14).

No sal de ferro apesar de observar-se um aumento na remoção de COD

proporcional ao aumento da remoção de COD, a diferença numérica (em termos de

porcentagem) das médias de remoção de COD avaliadas, é muito baixa, sendo a

maior delas na coleta de fev/14.

Nos sais de alumínio, sulfato de alumínio e PAC, essa proporcionalidade é

observada para as concentrações de coagulante 20 mg/L, 30 mg/L e 40 mg/L. Os

valores das médias de remoção de COD da concentração 50 mg/L são semelhantes

ou iguais as médias da concentração 30 mg/L. Com exceção das amostras de

ago/13 e fev/14 para o PAC.

A eficiência do processo de coagulação/floculação depende basicamente do tipo a

taxa de interação entre o coagulante (Fe+3 e Al+3, e seus produtos de hidrólise) e as

0

10

20

30

40

50

20 30 40 50

Re

mo

ção

CO

D (

%)

Concentração de PAC (mg/L)

Remoção de COD vs. Concentração de PAC

mai/13 ago/13 nov/13 fev/14 mai/14

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66

partículas coloidais e os compostos orgânicos dissolvidos agregados a elas, e da

intensidade e força dessa ligação.

Licskó (1997) demonstrou que, em meios aquosos com baixa capacidade de

tamponamento (baixa alcalinidade) os sais metálicos são hidrolisados em uma

menor taxa, o aparecimento dos hidróxidos metálicos solúveis leva mais tempo e

estes sobrevivem por períodos mais longos no meio aquoso, permitindo que estes

sejam responsáveis pela desestabilização das partículas coloidais.

O processo de hidrólise pode seguir dois caminhos: (1) o hidróxido metálico solúvel

adsorve as partículas coloidais, mudando sua carga superficial e permitindo a

agregação das mesmas, seguida de sedimentação; ou (2) ocorre a agregação dos

complexos solúveis (Al+3 e Fe+3), tornando-os estáveis na solução aquosa. Estes

podem formar ligações com as partículas sólidas do meio aquoso, também mudando

seu potencial elétrico e promovendo a sedimentação.

5.4 Potencial Zeta e a Remoção de Carbono Orgânico Dissolvido

Como citado anteriormente, o entendimento da estabilização eletrostática é

fundamental para a compreensão da coagulação no tratamento de efluentes (Awwa,

2011). O sucesso da coagulação, e consequentemente da floculação, depende da

correta utilização de coagulantes para reduzir ao máximo, de forma

economicamente viável, a repulsão eletrostática entre as partículas coloidais

(Marques, 2016). Porém, a determinação da dosagem correta depende de inúmeros

fatores, como características do coagulante utilizado, tipo de partículas coloidais em

questão, qualidade da água, temperatura, entre outros (Crittenden et al., 2012).

Tendo em vista a influência do coagulante no Potencial Zeta (PZ) das partículas do

efluente secundário, o presente estudo avaliou o PZ antes e após a aplicação dos

sais de ferro e alumínio. Os resultados obtidos indicaram que as melhores remoções

de matéria orgânica (aqui mensurada através da análise de COD) não ocorreram

necessariamente no PZ próximo à zero (neutralização das cargas). Por exemplo, na

amostra tratada com Sulfato de alumínio 20 mg/L (pH 6,7), o PZ apresentado foi de

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67

-15,6 mV e a remoção de COD foi 38%; em oposição, a amostra tratada com Sulfato

de alumínio 20 mg/L (pH 6,8), o PZ apresentado foi -7,5 mV e a remoção de COD,

15%. Isso mostra que existem outros fatores que influenciam diretamente no

sucesso da formação de flocos passíveis de remoção por sedimentação (Marques,

2016).

Di Bernardo e Dantas (2005) citam que a coagulação efetiva pode ser obtida em

valores de potencial zeta diferentes de zero. Crittenden et al. (2012) afirmam que

suspensões completamente desestabilizadas tendem a formar flocos com menores

dimensões fractais (mais complexos), uma vez que cada colisão tende a formar um

floco. Quanto menor a dimensão fractal, maior a porosidade do floco, ou seja, mais

difícil é sua sedimentação. Em suspensões menos desestabilizadas, são

necessárias mais colisões forçadas para superar a repulsão das partículas coloidais.

Flocos formados nessa situação tendem a ser mais densos e com geometria mais

próxima à Euclidiana, favorecendo a remoção dos mesmos por

sedimentação (Crittenden et al., 2012).

Figura 5.4. Gráficos de Remoção de COD vs. Potencial Zeta referente aos coagulantes: Cloreto férrico, Sulfato de alumínio e PAC da coleta de Maio/2014. Os valores acima das barras de remoção representam o Potencial Zeta de coagulação de cada amostra.

+1,2 -9,4 -12,7

NA

-7,5

-7,3

-12,9 -15,6 -2,5 -2,9

-7,4 -12,7

0

10

20

30

40

50

60

70

1,0 2,0 3,0 4,0

Re

mo

ção

de

CO

D (

%)

pH

Remoção de COD (%) vs. PZ

Cloreto Férrico 50 ppm Sulfato de Alumínio 20 ppm PAC 50 ppm

6,5 6,8 5,8 6,6 6,8 7,3 6,8 6,9 7,4 7,1 6,7 8,3

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68

Conforme pode ser observado na Figura 5.4, de forma geral, as variações do PZ

apresentaram um padrão em relação à alteração do pH, ou seja, com o aumento do

pH o PZ se torna mais negativo. Por exemplo, na amostra tratada com PAC 50 mg/L

(pH 5,8), o PZ apresentado foi -2,5 mV e a remoção de COD foi 38,3% e na amostra

tratada com PAC 50 mg/L (pH 7,3), o PZ apresentado foi de -2,9 mV e a remoção de

COD, 26,7%.

Diversos autores apontam para a influência do pH na magnitude da dupla camada

elétrica e, consequentemente, do potencial zeta ((Clark, 2009); (Crittenden et al.,

2012); (Jensen, 2003); (Di Bernardo e Dantas, 2005); (Letterman e Yiacoumi, 2011);

(Stumm e Morgan, 1996); (Marques, 2016)). Em teoria, isso deveria representar uma

menor remoção da matéria orgânica, pois esta estaria mais estável no meio aquoso,

porém, isso não se aplica a todos os resultados observados. Na amostra tratada

com cloreto férrico 50 mg/L (pH 6,5), por exemplo, o PZ apresentado foi -2,2 mV e a

remoção de COD, 41,7%. Em contrapartida, na amostra tratada com o mesmo

coagulante e em mesma concentração, porém com pH 6,8, o PZ apresentado foi

-12,7 mV, com uma remoção de COD de 45%. A constatação de que a obtenção do

ponto isoelétrico não é essencial para a formação de flocos e remoção dos mesmos

por sedimentação, reforça as preocupações apresentadas por Letterman e Yiacoumi

(2011), que questionam o uso do potencial zeta como parâmetro absoluto de

controle de processos de separação sólido-líquido (Marques, 2016).

Ainda, pode-se inferir que esses resultados apontam para o fato que os diferentes

tipo de PMS presentes no efluente secundário influenciam a eficiência do processo

de coagulação-floculação na remoção da MO.

5.5 Distribuição da Massa molecular

Foram realizadas 2 análises para a avaliação das mudanças na distribuição da

massa molecular das amostras selecionadas. Dentre as coletas realizadas, apenas

algumas amostras foram selecionadas para as análises de Espectrometria de

Massas (MS) por injeção direta em fluxo (FIA) e análise por LC-MS. Os resultados

estão aqui representados pela amostra

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69

Pela análise da Figura 5.5 pode-se observar uma redução na intensidade do sinal

dos picos detectados – que diminui aproximadamente 2,5 vezes, ou seja, de 2,5 x

104 para 1,0 x 104. Além da menor intensidade, fica evidente uma redução nas

massas dos picos observados, que diminuíram de aproximadamente 800 para 600

m/z. Outras massas aparecem no efluente pós-tratado em oposição à redução das

massas aparentes no espectro do efluente secundário. A presença destes picos

pode ser resultante de reações do coagulante com impurezas contidas no efluente,

formando espécies hidrolisadas com carga positiva.

Page 75: Impacto da Coagulação Química na Remoção de Compostos … · utilizando ultrafiltração (UF) e cromatografia por exclusão de tamanho (SEC) para separação dos compostos orgânicos

70

Figura 5.5. Espectros de massas representativos de amostras, coletadas em fevereiro de 2013 de (A) efluente secundário e (B) tratamento

com cloreto férrico 30 mg/L (pH 5,0), obtidos por injeção direta fluxo (FIA).

139.9

174.1232.2

288.3

413.3

523.3

573.3

691.4 733.5

803.6

+MS, 0.6-0.7min #(36-43)

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

4x10

Intens.

200 400 600 800 1000 1200 1400 m/z

158.1

196.9

232.2

256.8

288.3

316.3

413.3

573.3

627.3

+MS, 0.8-1.0min #(49-60)

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

4x10

Intens.

200 400 600 800 1000 1200 1400 m/z

Efluente secundário – fev/14

Cloreto férrico 30 mg/L (pH5) – fev/14

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71

É importante ressaltar que o princípio da espectrometria de massas baseia-se na

detecção de íons de acordo com a sua razão massa/carga (m/z), sendo m a massa

em u (unidades de massa atômica, chamada também de Dalton) e z, a carga formal.

A essência da técnica envolve a geração de íons, que são depois detectados.

Moléculas que não são passíveis de ionização, ou seja, sem carga, não são

detectadas pelo equipamento. Isso significa que alguns complexos formados pela

adição do coagulante, embora presentes podem não ser detectados pelo

espectrômetro de massas. Além disso, é importante reiterar que as amostras são

filtradas (em membranas de PVDF 0,45 µm) previamente à análise. Tal

procedimento tem como objetivo evitar o entupimento das colunas, aumentando

assim a sua vida útil. Logo, compostos maiores que 0,45 µm não são passíveis de

análise nesta metodologia.

A cromatografia por exclusão promove uma distribuição seletiva e dinâmica das

moléculas a serem separadas entre dois líquidos, a fase móvel presente dentro dos

poros da fase estacionária e a fase móvel externa aos poros. A fase estacionária,

insolúvel na fase móvel, é comumente um polímero ou um gel e apresenta poros de

tamanhos bem controlados, que regulam a entrada e a saída das moléculas que

podem permear parcialmente ou completamente dentro da fase estacionária, sem

qualquer interação química. As moléculas que não têm penetração são excluídas e

saem primeiro, agrupadas, da coluna, enquanto as que penetram completamente

também saem junto no volume total da eluição. Somente as moléculas que

penetram parcialmente são separadas (Figura 5.6).

Page 77: Impacto da Coagulação Química na Remoção de Compostos … · utilizando ultrafiltração (UF) e cromatografia por exclusão de tamanho (SEC) para separação dos compostos orgânicos

72

Figura 5.6. Representação das moléculas permeando os poros da fase estacionária.

A passagem dos compostos pelas colunas de análise é feita baseada no tamanho

molecular dos mesmos. Compostos de maior massa molecular (maior massa

molecular) passam mais facilmente pela coluna, não sendo retidos pelos filtros

internos (Tran et al., 2015). Portanto, ao referirmos ao tempo de retenção, estamos

afirmando que compostos que foram liberados antes de certo tempo possuem maior

massa que compostos liberados após o referido tempo. Estes esclarecimentos são

importantes para se delinear e compreender não só as limitações da técnica como a

representação de cada resultado perante o estudo proposto.

Nas análises por SEC (LC-MS) fica mais evidente a remoção dos compostos

orgânicos e a distribuição do PM no efluente e pós-tratados da ETE Jesus Netto.

Através dos espectros de massas (Figura 5.7, Figura 5.8 e Figura 5.9) pode-se

observar um padrão nos efluentes pós-tratados, independente do tratamento ter

apresentado melhor ou pior remoção de COD.

Page 78: Impacto da Coagulação Química na Remoção de Compostos … · utilizando ultrafiltração (UF) e cromatografia por exclusão de tamanho (SEC) para separação dos compostos orgânicos

73

Figura 5.7 (Continua) Cromatogramas representativos da distribuição da massa molecular (Intensidade (x106) vs. Tempo (min)) do efluente secundário (preto) e dos pós-tratados com cloreto férrico (azul). Efluente coletado em novembro de 2013: (A) está representado o tratamento com melhor remoção de COD (amostra A3), (B), tratamento com a pior remoção (amostra A1), ambos tratados com cloreto férrico 20 mg/L. Em (C) e (D) estão representados os cromatogramas das amostras tratadas com cloreto férrico 30 mg/L, sendo o (C) a melhor (amostra B1), e (D) a pior remoção (amostra B4).

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

6x10

Intens.

24_1-3_01_2616.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

2.0

6x10

Intens.

23_1-2_01_2615.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

6x10

Intens.

25_1-4_01_2617.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

6x10

Intens.

26_1-5_01_2618.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

(A)

(B)

(C)

(D)

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74

Figura 5.7. (continuação) Cromatogramas representativos da distribuição da massa molecular (Intensidade (x106) vs. Tempo (min))do efluente secundário (preto) e dos pós-tratados com cloreto férrico (azul). Efluente coletado em fevereiro de 2014: (E) está representado o tratamento com melhor remoção de COD (amostra A3), (F), tratamento com a pior remoção (amostra A1), ambos tratados com cloreto férrico 20 mg/L.

Entre as amostras tratadas pelo coagulante Cloreto férrico 20 mg/L podemos

observar uma distribuição semelhante entre as amostras com melhor remoção de

COD (30%) e pior remoção de COD (11,7%) (Figuras (A) e (B)).

Entre o efluente secundário e o efluente pós-tratado, em ambos os casos, pode-se

notar que nas frações com tempo de detenção de 10 a 14 min o efluente secundário

possui uma maior intensidade dos picos. Isto é, o tratamento com coagulante foi

capaz de remover através do processo de coagulação-floculação uma parcela de

componentes do efluente. A parcela com tempo de retenção entre 17 e 18 minutos

apresenta um pico com maior intensidade no pós-tratado quando comparada com o

efluente secundário (Figura 5.7 A e B).

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

2.0

6x10

Intens.

efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) 34_1-13_01_2626.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

2.0

6x10

Intens.

efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) 33_1-12_01_2625.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

(E)

(F)

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75

Entre as amostras tratadas pelo coagulante cloreto férrico 30 mg/L (Figura 5.7 C, D,

E e F) podemos observar uma distribuição com diferenças entre as amostras

referentes à coleta de novembro de 2013 e fevereiro de 2014. Entre as amostras de

(melhor e pior remoção de COD) de novembro de 2013 pode-se observar que a

amostra com melhor remoção de COD (35%) apresentou uma formação de mais

picos na região de retenção 16 – 18 min quando comparado com o pós-tratado de

pior remoção de COD (28,3%) (B4), que possui um único pico de maior intensidade

no tempo 18 minutos. Já entre as amostras da coleta realizada em fevereiro de 2014

observa-se uma distribuição semelhante entre as amostras com melhor remoção de

COD (24,1%) (B1) e pior remoção de COD (1,9%) (B4).

Em relação à comparação entre o efluente secundário e o efluente pós-tratado,

observa-se que, para as amostras de novembro de 2013, tratadas com 20 e 30 mg/L

de cloreto férrico, pode-se notar que nas frações com tempo de retenção de 10 a 14

min o efluente secundário possui uma maior intensidade dos picos quando

comparado ao pós-tratado, independente da amostra possuir melhor ou pior

remoção de COD. Isto indica que o tratamento com coagulante foi capaz de remover

através do processo de coagulação-floculação uma parcela de componentes do

efluente. Entre as amostras da coleta de fevereiro de 2014, entre o efluente

secundário e o efluente pós-tratado na amostra B1 (melhor remoção de COD), essa

diferença também foi observada nas frações com tempo de retenção de 10 a 14 e de

17-18 min.

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76

Figura 5.8. (Continua) Cromatogramas representativos da distribuição da massa molecular (Intensidade (x106) vs. Tempo (min))do efluente secundário (preto) e dos pós-tratados com sulfato de alumínio (azul). Efluente coletado em novembro de 2013: (A) está representado o tratamento com melhor remoção de COD (amostra A4), (B), tratamento com a pior remoção (amostra A1), ambos tratados com sulfato de alumínio 20 mg/L. Em (C) e (D) estão representados os cromatogramas das amostras tratadas com sulfato de alumínio 30 mg/L, sendo o (C) a melhor (amostra B4), e (D) a pior remoção (amostra B2).

(A)

(B)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

6x10

Intens.

28_1-7_01_2620.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

6x10

Intens.

27_1-6_01_2619.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

2.0

6x10

Intens.

30_1-9_01_2622.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

2.0

6x10

Intens.

29_1-8_01_2621.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

(C)

(D)

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77

Figura 5.8. (Continuação) Cromatogramas representativos da distribuição da massa molecular (Intensidade (x106) vs. Tempo (min))do efluente secundário (preto) e dos pós-tratados com cloreto férrico (azul). Efluente coletado em fevereiro de 2014: Em (E) está representado o tratamento com melhor remoção de COD (amostra A2), (F), tratamento com a pior remoção (amostra A1), ambos tratados com sulfato de alumínio 20 mg/L; Em (G) está representado o tratamento com melhor remoção de COD (amostra C2), (H), tratamento com a pior remoção (amostra C1), ambos tratados com sulfato de alumínio 40 mg/L.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

6x10

Intens.

55_1-27_01_2640.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) 42_1-20_01_2633.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

6x10

Intens.

55_1-27_01_2640.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) 41_1-19_01_2632.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

6x10

Intens.

55_1-27_01_2640.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) 46_1-22_01_2635.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

6x10

Intens.

55_1-27_01_2640.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) 45_1-21_01_2634.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

(E)

(F)

(G)

(H)

Page 83: Impacto da Coagulação Química na Remoção de Compostos … · utilizando ultrafiltração (UF) e cromatografia por exclusão de tamanho (SEC) para separação dos compostos orgânicos

78

Entre as amostras tratadas pelo coagulante Sulfato de alumínio 20 mg/L podemos

observar, na coleta realizada em novembro de 2013, uma distribuição com

diferenças entre as amostras com melhor remoção de COD (36,7%) (Figura 5.8 (A))

e pior remoção de COD (18,3%) (Figura 5.8 B). O efluente pós-tratado com a melhor

remoção (A4) apresentou a formação de um único pico de maior intensidade no

tempo 18 minutos quando comparado com o pós-tratado de pior remoção de COD

(A1) que apresentou mais picos de menor intensidade na mesma região. Porém, nas

amostras da coleta de fevereiro de 2014 tratadas pelo coagulante Sulfato de

alumínio 20 mg/L esse padrão não é observado, isto é, nota-se uma distribuição

semelhante entre as amostras com melhor remoção de COD (18,5%) (Figura 5.8 E)

e pior remoção de COD (11,1%) (Figura 5.8 F).

Assim como observado para o coagulante Cloreto férrico, nas amostras de

novembro de 2013, pode-se notar que nas frações com tempo de retenção de 10 a

14 min o efluente secundário possui uma maior intensidade dos picos. Isto é, o

tratamento com coagulante foi capaz de remover através do processo de

coagulação-floculação uma parcela de componentes do efluente.

Nas amostras de fevereiro de 2014, tratadas com Sulfato de alumínio 20 mg/L (A2 e

A1) e 30 mg/L (C2 e C1), podemos observar que, entre os tempos de retenção de

aproximadamente 10 a 14 min, ambos os efluentes, secundário e pós-tratado,

possuem intensidade muito semelhante, independente da eficácia da remoção de

COD. Isso que pode indicar que o coagulante não causou alteração na amostra. No

tempo de retenção 12 a 15 min, o pós-tratado apresenta uma maior intensidade,

sendo isso mais evidente na amostra A2 (Figura 5.8 E e F).

No efluente da coleta de fevereiro de 2014, pode-se destacar que entre o efluente

secundário e o efluente pós-tratado nota-se na amostra A2 (melhor remoção) que a

fração de retenção 10 min apresenta um pico maior para o pós-tratado, em quanto a

amostra A1 (pior remoção) apresenta configuração inversa. No intervalo do tempo

de retenção de 12 a 14 min, as amostras apresentam uma semelhança nas frações.

Pode-se destacar ainda a parcela com tempo de retenção entre 17 e 18, que

apresenta um pico com maior intensidade no pós-tratado quando comparada com o

efluente secundário (Figura 5.8 E e F).

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79

Figura 5.9. Cromatogramas representativos da distribuição da massa molecular (Intensidade (x106) vs. Tempo (min)) do efluente secundário (preto) e dos pós-tratados com PAC (azul). Efluente coletado em novembro de 2013: Em (A) está representado o tratamento com melhor remoção de COD (amostra B3), em (B), tratamento com a pior remoção (amostra B2), ambos tratados com PAC 30 mg/L. Efluente coletado em fevereiro de 2014: Em (C) está representado o tratamento com melhor remoção de COD (amostra B1), em (D), tratamento com a pior remoção (amostra B4), ambos tratados com PAC 30 mg/L.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

2.0

6x10

Intens.

efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) 34_1-13_01_2626.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

2.0

6x10

Intens.

efluente 211113_1-30_01_2643.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) 33_1-12_01_2625.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

(A)

(B)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]

0.5

1.0

1.5

6x10

Intens.

55_1-27_01_2640.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) 51_1-24_01_2637.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Time [min]0.0

0.5

1.0

1.5

6x10

Intens.

55_1-27_01_2640.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA) 52_1-25_01_2638.d: TIC +All MS, Smoothed (1.01,3,GA)

(C)

(D)

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80

Entre as amostras tratadas pelo coagulante PAC 30 mg/L podemos observar uma

distribuição semelhante entre as amostras com melhor remoção de COD (25%) e

pior remoção de COD (15%). Entre o efluente secundário e o efluente pós-tratado,

em ambos os casos, pode-se notar que o efluente secundário apresenta uma maior

intensidade na maior parte dos tempos de retenção apresentados. Na fração com

tempo de retenção de 12 min na amostra B2 (Figura 5.8 B) o pós-tratado possui uma

maior intensidade do pico. Porém, nos demais tempos de retenção pode-se notar

uma redução na intensidade dos picos em ambas as amostras. Isto é, o tratamento

com coagulante foi capaz de remover através do processo de coagulação-floculação

algumas parcelas de componentes do efluente. Na parcela com tempo de retenção

18 minutos um pico com maior intensidade no pós-tratado quando comparada com o

efluente secundário pode ser observado

Manka e Rebhun (1982), em um estudo sobre as mudanças da distribuição da

massa molecular dos compostos orgânicos do efluente secundário de tratamento

biológico antes e depois do tratamento avançado, concluíram que a maior parte dos

compostos orgânicos formadores do efluente secundário era de alta massa

molecular e que os principais componentes dessa fase eram, provavelmente, ácidos

húmicos, proteínas e carboidratos. Ainda, o estudo constatou que existe um

aumento dos compostos de menor massa molecular após o tratamento avançado

(PM <500 kDa). Isso também foi observado nos resultados do presente estudo.

Wang e Wu (2009) afirmam que moléculas de menor PM (<10 kDa e 10-50 kDa)

eram ausentes no efluente secundário, onde predominavam os PM 100-500 kDa e

>500 kDa. Já no efluente do tratamento de lodo ativado convencional, a maior

porcentagem de PM presente era 10-50 kDa. Isso indica que a MO de maior PM

deve ter sido degradada pelos microrganismos do tratamento. No trabalho de

Leiviskä et al. (2008) os autores afirmam que o Massa molecular dos compostos

orgânicos presentes no efluente secundário é médio (<10KDa).

Yan et al. (2007) revelaram em seu estudo que a MO dissolvida com PM entre 3000

e 10000 Da pode ser eficientemente removida pelo processo de coagulação.

Considerando os resultados observados no presente estudo, isso justifica as

variações na distribuição do PM entre efluente secundário e efluente pós-tratado.

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81

De acordo com Tran et al. (2015), essa compreensão mais profunda em relação à

distribuição de PM da Matéria Orgânica dissolvida é crítica para a concepção e

operação das estações de águas de abastecimento e de tratamento de efluentes. Os

autores apontam que a avaliação através do uso de SEC colabora para estudos de

tratabilidade, toxicidade em processo de tratamento de efluentes.

6 Conclusão

O presente estudo visou avaliar a remoção de compostos orgânicos no pós-

tratamento de efluente secundário proveniente do tratamento de lodos ativados

utilizando o processo de coagulação e floculação. Analisando os resultados obtidos,

conclui-se que:

em relação ao impacto da coagulação floculação podemos afirmar que

este processo é eficaz na remoção da matéria orgânica residual do tratamento de

lodos ativados:

o as melhores remoções de matéria orgânica, mensuradas através da

medida de carbono orgânico dissolvido foram: 45% para cloreto férrico, 38%

para o sulfato de alumínio e 38% para o PAC.

o entre os coagulantes avaliados, o sal de ferro possui a melhor

eficiência na remoção de COD. Essa eficiência pode ser atribuída ao fato

deste produzir flocos maiores, que proporcionam uma maior adsorção da

matéria orgânica aos mesmos, principalmente aquela de Massa molecular

intermediário e à sua maior densidade de cargas quando comparada com a

dos sais de alumínio;

o em relação à concentração dos coagulantes utilizados, conclui-se que,

em geral, a concentração dos coagulantes exerceu pouca influência sobre o

aumento da remoção de COD.

em relação ao pH de coagulação, conclui-se que as melhores remoções

ocorreram nos pHs ácidos ou neutros (pH4,5 a pH7,0). Os resultados corroboram

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outros estudos que afirmam que condições ácidas favorecem a neutralização de

cargas e melhor remoção da matéria orgânica;

em relação ao PZ, conclui-se que as remoções de matéria orgânica

podem ser eficientes em PZ diferentes de, ou próximos a, zero (neutralização das

cargas).

em relação à cromatografia por exclusão de tamanho podemos concluir

que esta é capaz de detectar mudanças entre o efluente secundário e o efluente

pós-tratado. Porém, a SEC não detectou uma diferença entre as melhores e piores

remoções de COD.

o presente estudo corrobora outros trabalhos que afirmam a importância

do entendimento da distribuição do PM nos efluentes e a importância da técnica

para o desenvolvimento de estudos de toxicidade de efluentes e concepção de ETE.

A eficiência do processo de coagulação/floculação depende de inúmeros fatores,

entre eles a característica específica do efluente a ser tratado. Sendo assim, o

presente estudo conclui que não somente uma técnica analítica deve ser utilizada

para guiar os estudos de tratabilidade, reúso, e eficiência de ETAs e ETE, mas sim a

combinação de técnicas que permitam a avaliação dos inúmeros fatores (i.e. PZ, pH,

características do efluente, condições operacionais, etc.) que influenciam a remoção

de MO.

Ainda, através da avaliação dos resultados obtidos no presente estudo, sugere-se

para futuros trabalhos a combinação de técnicas analíticas como COD e SEC,

porém, avaliando o uso de diferentes colunas cromatográficas e efluentes com

diferentes cargas orgânicas, i.e. efluentes industriais, efluentes agrícolas, efluentes

domésticos, etc.

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