imil be 17_01_2012

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Que o Brasil tem todas as condi- ções econômicas para conti- nuar crescendo e, cada vez mais, liderar o desenvolvimen- to latino-americano parece não haver dúvida. Mas a percep- ção regional sobre o país nem sempre tem sido tão positiva quando o assunto é a política. Um levantamento realizado pe- la IE Business School, de Ma- dri, com 328 diretores de em- presas de 18 países da América Latina, aponta que a imagem brasileira apresenta distancia- mento quando se trata de com- parar o desempenho político com o econômico do país. “O que tem prejudicado a imagem política brasileira é que, tanto com Lula quanto com Dilma, a percepção que se tem é que o nível de corrupção é muito alto”, afirma Igor Ga- lo, diretor da IE Business School e responsável pelo rela- tório de pesquisa. “Economica- mente, porém, o Brasil é visto como a locomotiva latino-ame- ricana, tendo realizado o gran- de feito de criar uma classe mé- dia forte, que sustenta o consu- mo interno e abre possibilida- des às empresas.” Os executivos entrevistados para a pesquisa atribuíram mé- dia 6,97 (em variação de 0 a 9) ao papel econômico do Brasil re- gionalmente, enquanto a nota para o papel político ficou em 5,93. Os países nos quais os de- sempenhos econômico e políti- co apresentaram as maiores dis- paridades foram Uruguai (com nota 6 para a economia e 4 para a política) e Chile (com 7,7 e 5,5, respectivamente). Segundo o estudo, outra ques- tão que afeta fortemente o de- sempenho do Brasil é a burocra- cia, pois prejudica também o ambiente econômico. No relató- rio Doing Business, do Banco Mundial, que mensura as facili- dades de realização de negócios em 183 países, o Brasil ocupa a sofrível 126ª colocação. “O am- biente de negócios chileno, por exemplo, é muito melhor que o brasileiro. Precisamos urgente- mente de uma reforma política e do fim da sistematização da propinagem para que o país evo- lua em termos políticos e institu- cionais”, diz Júlio Hegedus Net- to, economista do Instituto Mil- leninum. “Estamos no cami- nho. O atual governo mostra es- forços para tentar reverter essa situação, mas não alcançamos o amadurecimento ainda.” Para Igor Galo, além do apri- moramento político, o Brasil também deve aproveitar o mo- mento para abrir ainda mais seu mercado. “Alguns direto- res com os quais falamos se queixam de que o Brasil é extre- mamente protecionista e isso pode desestimular os empresá- rios da região aos negócios, até mesmo sugerindo que seus go- vernos taxem a entrada de pro- dutos brasileiros. Isso já ocorre com a Argentina às vezes, mas também poderá ocorrer com outros países, na medida em que crescer o fluxo de comér- cio regional”, sugere. A economia brasileira vai cres- cer menos que o esperado tam- bém em 2012 em razão da crise mundial que aumentará os ris- cos para as empresas e elevará os custos de financiamento. A análise é da Coface, uma agên- cia de seguros e análise de risco francesa com escritório no Bra- sil, que prevê expansão de 3% para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano, contra projeção de 3,5% do Banco Central do Brasil e estimativa entre 4% e 5% do Ministério da Fazenda. Embora projete crescimento menor para o país, a agência, que realizou ontem sua confe- rência anual em Paris, manteve o “rating” (nota de risco) do Bra- sil em A3 — numa escala de bai- xo risco de A1, A2, A3, A4, e ris- co elevado B, C, D. A agência destaca que existem riscos, co- mo a vulnerabilidade a choques externos ou o elevado custo do crédito, mas ressalta que o país tem cumprido os pagamentos de suas dívidas. “A experiência de pagamentos do Brasil está melhor”, disse ao Diário Econó- mico Bart Pattyn, presidente da Coface América Latina. O problema, segundo a agên- cia, é o elevado custo de finan- ciamento das empresas, que au- mentou nos últimos anos e ex- pôs uma parte das companhias aos riscos cambiais. Ainda as- sim, a Coface não prevê uma des- valorização do real neste ano. Outro fator apontado como preocupante pela Coface foi o endividamento das empresas no mercado interno. A avalia- ção é de que essas companhias poderão ser afetadas caso os bancos locais repassem os au- mentos de custos para os finan- ciamentos, o que pode provo- car uma quebra na rentabilida- de das empresas. Além disso, Bart Pattyn consi- dera que com a ascensão da clas- se média brasileira e o aumento do consumo das famílias pode haver um avanço no déficit da conta corrente do Brasil com o exterior, devido à maior deman- da por produtos importados. Esta tendência, alerta a Cofa- ce, deverá elevar a necessidade de financiamento do país, que, ainda assim deverá ser coberto pelos fluxos de capitais estrangei- ros, por meio dos investimentos estrangeiros diretos (IDE). Mónica Silvares, do Diário Económico, em Paris [email protected] Agência francesa prevê expansão menor para o Brasil em 2012 Goh Seng Chong/Bloomberg Cláudia Bredarioli [email protected] Avaliação é de que a crise mundial vai encarecer o custo de financiamento das empresas Presidente uruguaio fará visita hoje a Lula Divulgação Percepção de executivos latino-americanos é de que corrupção e burocracia são altas no Brasil Embora projete crescimento menor para este ano, a Coface manteve a nota de risco brasileira em A3 Economicamente, o Brasil é visto como a locomotiva latino-americana, tendo realizado o grande feito de criar uma classe média forte, que sustenta o consumo interno e abre possibilidades às empresas Igor Galo Diretor da IE Business School O presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, chega hoje a São Paulo exclusivamente para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que faz tratamento para combater um câncer de laringe. Mujica passará apenas a terça-feira (17) no Brasil. Esse será seu único compromisso. O local do encontro ainda está sendo definido. Pepe e Lula se tratam de “amigos”. A assessores, Mujica disse que quer prestar solidariedade a Lula “neste momento difícil.” ABr Imagem política do país é aquém da econômica Alexandre Tombini, presidente do BC, que tem como missão manter a inflação na meta Terça-feira, 17 de janeiro, 2012 Brasil Econômico 7

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Que o Brasil tem todas as condi-ções econômicas para conti-nuar crescendo e, cada vezmais, liderar o desenvolvimen-to latino-americano parecenão haver dúvida. Mas a percep-ção regional sobre o país nemsempre tem sido tão positivaquando o assunto é a política.Um levantamento realizado pe-la IE Business School, de Ma-dri, com 328 diretores de em-presas de 18 países da AméricaLatina, aponta que a imagembrasileira apresenta distancia-mento quando se trata de com-parar o desempenho políticocom o econômico do país.

“O que tem prejudicado aimagem política brasileira éque, tanto com Lula quantocom Dilma, a percepção que setem é que o nível de corrupçãoé muito alto”, afirma Igor Ga-lo, diretor da IE BusinessSchool e responsável pelo rela-tório de pesquisa. “Economica-mente, porém, o Brasil é vistocomo a locomotiva latino-ame-ricana, tendo realizado o gran-de feito de criar uma classe mé-dia forte, que sustenta o consu-mo interno e abre possibilida-des às empresas.”

Os executivos entrevistadospara a pesquisa atribuíram mé-dia 6,97 (em variação de 0 a 9)ao papel econômico do Brasil re-gionalmente, enquanto a notapara o papel político ficou em5,93. Os países nos quais os de-sempenhos econômico e políti-co apresentaram as maiores dis-paridades foram Uruguai (comnota 6 para a economia e 4 paraa política) e Chile (com 7,7 e5,5, respectivamente).

Segundo o estudo, outra ques-tão que afeta fortemente o de-sempenho do Brasil é a burocra-cia, pois prejudica também oambiente econômico. No relató-rio Doing Business, do BancoMundial, que mensura as facili-dades de realização de negócios

em 183 países, o Brasil ocupa asofrível 126ª colocação. “O am-biente de negócios chileno, porexemplo, é muito melhor que obrasileiro. Precisamos urgente-mente de uma reforma políticae do fim da sistematização dapropinagem para que o país evo-lua em termos políticos e institu-cionais”, diz Júlio Hegedus Net-to, economista do Instituto Mil-leninum. “Estamos no cami-nho. O atual governo mostra es-forços para tentar reverter essasituação, mas não alcançamos oamadurecimento ainda.”

Para Igor Galo, além do apri-moramento político, o Brasiltambém deve aproveitar o mo-mento para abrir ainda maisseu mercado. “Alguns direto-res com os quais falamos sequeixam de que o Brasil é extre-mamente protecionista e issopode desestimular os empresá-rios da região aos negócios, atémesmo sugerindo que seus go-vernos taxem a entrada de pro-dutos brasileiros. Isso já ocorrecom a Argentina às vezes, mastambém poderá ocorrer comoutros países, na medida emque crescer o fluxo de comér-cio regional”, sugere. ■

A economia brasileira vai cres-cer menos que o esperado tam-bém em 2012 em razão da crisemundial que aumentará os ris-cos para as empresas e elevaráos custos de financiamento. Aanálise é da Coface, uma agên-cia de seguros e análise de riscofrancesa com escritório no Bra-sil, que prevê expansão de 3%para o Produto Interno Bruto(PIB) este ano, contra projeçãode 3,5% do Banco Central doBrasil e estimativa entre 4% e5% do Ministério da Fazenda.

Embora projete crescimentomenor para o país, a agência,que realizou ontem sua confe-rência anual em Paris, manteveo “rating” (nota de risco) do Bra-sil em A3 — numa escala de bai-xo risco de A1, A2, A3, A4, e ris-co elevado B, C, D. A agência

destaca que existem riscos, co-mo a vulnerabilidade a choquesexternos ou o elevado custo docrédito, mas ressalta que o paístem cumprido os pagamentosde suas dívidas. “A experiênciade pagamentos do Brasil estámelhor”, disse ao Diário Econó-mico Bart Pattyn, presidente daCoface América Latina.

O problema, segundo a agên-cia, é o elevado custo de finan-ciamento das empresas, que au-

mentou nos últimos anos e ex-pôs uma parte das companhiasaos riscos cambiais. Ainda as-sim, a Coface não prevê uma des-valorização do real neste ano.

Outro fator apontado comopreocupante pela Coface foi oendividamento das empresasno mercado interno. A avalia-ção é de que essas companhiaspoderão ser afetadas caso osbancos locais repassem os au-mentos de custos para os finan-ciamentos, o que pode provo-car uma quebra na rentabilida-de das empresas.

Além disso, Bart Pattyn consi-dera que com a ascensão da clas-se média brasileira e o aumentodo consumo das famílias podehaver um avanço no déficit daconta corrente do Brasil com oexterior, devido à maior deman-da por produtos importados.

Esta tendência, alerta a Cofa-ce, deverá elevar a necessidadede financiamento do país, que,ainda assim deverá ser cobertopelos fluxos de capitais estrangei-ros, por meio dos investimentosestrangeiros diretos (IDE). ■

Mónica Silvares, do Diário

Económico, em Paris

[email protected]

Agência francesa prevê expansãomenor para o Brasil em 2012

Goh Seng Chong/Bloomberg

Cláudia Bredarioli

[email protected]

Avaliação é de que a crise

mundial vai encarecer o custo

de financiamento das empresas

Presidente uruguaio fará visita hoje a Lula

Divulgação

Percepção de executivos latino-americanos é deque corrupção e burocracia são altas no Brasil

Embora projetecrescimentomenor para este ano,a Coface mantevea nota de riscobrasileira em A3

Economicamente,o Brasil é vistocomo a locomotivalatino-americana,tendo realizado ogrande feito de criaruma classe médiaforte, que sustentao consumo internoe abre possibilidadesàs empresas

Igor Galo

Diretor da IE Business School

O presidente do Uruguai, José PepeMujica, chega hoje a São Paulo

exclusivamente para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

que faz tratamento para combater um câncer de laringe.

Mujica passará apenas a terça-feira (17) no Brasil. Esse será seu

único compromisso. O local do encontro ainda está sendo definido.

Pepe e Lula se tratam de “amigos”. A assessores, Mujica disse quequer prestar solidariedade a Lula “neste momento difícil.” ABr

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