imaginários urbanos

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  • Grupo de Estudos e Pesquisas em Design na Amaznia - GEPDAM 1

    CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FUCAPI 1

    FICHAMENTO DA OBRA IMAGINRIOS URBANOS

    1) Ttulo do Livro:

    Silva, Armando. Imaginrios urbanos / Armando Silva. So Paulo: Perspectiva; Bogot, Col: Convenio Andres Bello, 2011. (Estudos;173)

    2) Autor (Perfil):

    Armando Silva, PhD pela

    Universidade da Califrnia, com estudos em filosofia, semitica e psicanlise, fundador da rea de Comunicao Visual da Universidade Nacional da Colmbia, onde atualmente ensina e dirige o Instituto de Estudos em Comunicao. Autor de numerosos ensaios, alguns deles traduzidos para o ingls, francs, italiano e portugus, e de vrios livros, entre eles cabe destacar Graffiti: una ciudad imaginada e Imaginarios Urbanos publicados por Tecer Mundo Editores; lbum de Famlia (em ingls, UMI nos E.U.A. e, brevemente, em alemo por Weiner Symposiun, da ustria), pesquisa visual realizada tanto na Colmbia, quanto nos Estados Unidos. Seu trabalho terico abrange a arte, a cidade e os meios de comunicao, sobre os quais costuma desenvolver a sua reflexo a partir das disciplinas do simblico: a psicanlise, a semitica, a filosofia crtica e a antropologia. Atualmente dirige o projeto sobre culturas urbanas na Amrica Latina e Espanha, sob a tica dos seus imaginrios sociais.

    3) Quando foi escrito: 2001 4) Questes:

    O que ser urbano nas nossas sociedades na Amrica Latina? (p. XXIII)

    5) Ideias-chave:

    O urbano tambm deve ser

    analisado pela perspectiva imaginria e simblica. O imaginrio de uma cidade construdo a partir de seus habitantes. 6) Palavras-chave:

    Imaginrios Urbanos, Percepo,

    Cidade.

    7) Etapas Metodolgicas:

    Anlise de fotografias de diversos acontecimentos urbanos;

    Reunio de fichas tcnicas onde se descrevem episdios e organizam tecnicamente dados de localizao;

    Recorte e avaliao de discursos e imagens de jornais em comparao com os acontecimentos urbanos;

    Tcnicas de observao contnua para estabelecer possveis lgicas de percepo social;

    Elaborao de um formulrio-padro de questionrio sobre projees imaginrias de cidados segundo explicaes de croquis urbanos

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    8) Transcries: Apresentao

    Isso no quer dizer que

    deixamos de ver a cidade como espao da linguagem, de evocaes e sonhos, de imagens de variadas escrituras. No nos deve causar estranheza pois que a cidade tenha sido definida como a imagem de um mundo, mas essa ideia se completaria dizendo-se que a cidade tambm o contrrio: o mundo de uma imagem que lenta e coletivamente vai sendo construda e volta a construir-se, incessantemente.

    Com isso quero ressaltar que me proponho a estudar a cidade como o lugar do acontecimento cultural e como cenrio de um efeito imaginrio. (p. XXIII)

    assim que o urbano da

    cidade se constri. Cada cidade tem seu prprio estilo. Se aceitamos que a relao entre coisa fsica, a cidade, sua vida social, seu uso e representao, suas escrituras, formam um conjunto de trocas constantes, ento vamos concluir que em uma cidade o fsico produz efeitos no simblico: suas escrituras e representaes. (p. XXIV)

    Alm disso, uma cidade se faz

    por suas expresses. A cidade tambm a construo de uma mentalidade urbana. A vida moderna vai pondo tudo em um tempo, um ritmo, umas imagens, em uma tecnologia, em um espao que no s real (como se diz daquele lugar onde cabem e se colocam as coisas) mas tambm simulado, para indicar o lugar da fico que nos atravessa

    diariamente: os outdoors, as publicidades, os grafites, as placas de sinalizao, os publik, os pictogramas, os cartazes de cinema e tantas outras fantasmagorias.(p. XXV)

    Por ltimo, uma cidade se

    autodefine por seus prprios cidados, seus vizinhos e seus visitantes. (p. XXV)

    Uma cidade ento, do ponto

    de vista da construo imaginria do que representa, deve responder, ao menos, por condies fsicas naturais e fsicas construdas; por alguns usos sociais; por algumas modalidades de expresso; por um tipo especial de cidados em relao com os de outros contextos, nacionais, continentais ou internacionais; uma cidade faz uma mentalidade urbana que lhe prpria. (p. XXV)

    O que faz uma cidade

    diferente da outra no s sua capacidade arquitetnica que ficou para trs aps o modernismo unificador, em avanada crise, mas os smbolos que os seus prprios habitantes constroem para represent-la. E os smbolos mudam como mudam as fantasias que uma coletividade elabora para fazer sua a urbanizao de uma cidade.(p. XXVI)

    S atravs do exerccio

    contnuo da pesquisa, registrando a participao cidad em cada participao simblica, poderemos averiguar como os cidados usam a sua cidade e tambm como eles imaginam que a cidade se segmenta para mostrar-se aos seus moradores e aos estranhos. (p. XXVI)

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    nesse sentido que a construo da imagem de uma cidade, em seu nvel superior, aquele que se faz por segmentao e cortes imaginrios de seus moradores, produz um encontro de especial subjetividade com a cidade: cidade vivida, interiorizada e projetada por grupos sociais que a habitam e que em suas relaes de uso com a urbe no s a percorrem mas interferem dialogicamente, reconstruindo-a como imagem urbana. (p. XXVII)

    1. Cidade Vista: As imagens

    da cidade Por ponto de vista cidado

    entendo, precisamente, uma srie de estratgias discursivas por meio das quais os cidados narram as histrias de sua cidade, mesmo quando tais relatos possam, igualmente, ser representados em imagens visuais. (p. 9)

    A soma imaginvel dos pontos

    de vista dos cidados de uma cidade integra a leitura simblica que se faz da cidade. (...) Quando tais pontos de vista podem ser projetados por grupos sociais ou outras marcas demogrficas (sexo, idade, etc.), passamos a perceber formas imperantes de percepo cidad. (p.11)

    O estudo sobre o olhar levou-

    me finalmente a compreender que o que qualifica o ponto de vista urbano a exposio pblica e, portanto, no estamos ante o olhar de um espectador ou de um assistente, mas de um cidado. Da se depreendem consequncias importantes, pois tais conjuntos iconogrficos no apenas cumprem a funo de mostrar-se mas, simultaneamente, definem uma cidade: trata-se de uma definio

    socioletal, na qual a cidade vista por seus cidados, mas em que tambm os cidados so recebidos e inscritos por sua prpria cidade como exerccio de escrita e hierglifo urbano. (p. 13)

    2. A CIDADE MARCADA:

    TERRITRIOS URBANOS O territrio uma noo

    desenvolvida nos estudos sobre comportamento animal por parte dos etlogos, mas tambm uma categoria utilizada pelos gegrafos e antroplogos em suas consideraes sobre o uso dos espaos. (p.15)

    Dentro do mapa de um pas,

    os habitantes podem visualizar seus territrios, mas nem sempre o territrio tem um suporte icnico; na maioria dos casos funciona eventualmente como um croqui e ento o imaginamos, mas nem por isso menos real. sem dvida esse poder evocador da nossa imaginao que proporciona ao territrio a sua maior consistncia. (p.18)

    Quando falo em limites quero

    apontar um aspecto no s indicativo, mas tambm cultural. O uso social marca as margens dentro das quais os usurios familiarizados se auto-reconhecem e fora das quais se localiza o estrangeiro ou, em outras palavras, aquele que no pertence ao territrio. Reconhece-se um territrio precisamente em virtude da visita do estrangeiro, que sob diversas circunstncias deve ser-indicado fora do campo respectivo. Cumpre dizer que em nosso vocabulrio o territrio territorializa-se na medida em que estreita os seus limites e no permite

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    (sobretura exclui) a presena estrangeira. (p. 19)

    A busca de mtodos e tcnicas de estudo foi uma preocupao constante em meus trabalhos, uma vez que se aceite que as pesquisas sobre o urbano ainda se mantm dentro dos critrios do conhecido senso comum ou dentro de enfoques tradicionais, em geral, dominados por anlises sociolgicas ou econmicas nas quais, quando surgem perguntas relacionadas com sua imagem, so resolvidas como problemas visuais, sem problematizar precisamente a prpria noo de imagem.

    Nesse sentido, poderia remeter-me a diversos estudos realizados por arquitetos e socilogos que, embora possam ser teis para os estudos de planejamento ou do espao urbano, carecem claramente de uma reflexo sobre o problema comunicativo que nos cumpriria solucionar relativamente aos procedimentos coletivos na construo da imagem de uma cidade. Seu estudo no mbito da comunicao, como o presente, aponta para uma definio do urbano, para que assim cada cidade possa falar de uma urbanizao dentro de sua urbanidade alm de sua instrumentao fsica e esttica ou, talvez melhor, envolvendo tais aspectos nos horizontes da sua prpria definio. (p. 20-21)

    2.4 Cenrios Urbanos

    A noo de centro e periferia

    interessam-me para ressaltar o fluxo social da cidade. O centro alude ao que cntrico e focal, ponto de vista ou de uso, com base no qual o que o rodeia, em maior ou menor distncia, chamar-se- perifrico. O perifrico alude ao que margeia o

    centro. Mas o que nos importa destacar que o centro e periferia esto em constante deslocamento. No s o centro em seu sentido fsico, como o centro da cidade se desloca permanentemente, mas o centro de poder ideolgico. (p.25)

    Tudo isso me leva a apresentar as cidades no s como o exerccio dos setores dominantes sobre o povo indefeso, segundo diversas apreciaes marxistas, que no s descuraram da estruturao simblica da cidade em sua totalidade, mas como o lugar da mestiagem e do encontro cultural. A cidade mescla hbitos, percepes, histrias, enfim cultura se fazendo como costura, como diz um escritor espanhol, falando da esttica contempornea permevel do light (P. Salbert, 1988: 10); precisamente na fuso de todas essas intermediaes e costuras que vai aflorando a prpria urbanidade ou personalidade coletiva da cidade. Com tal empenho, os territrios des-marcam-se, permanentemente, do centro para a periferia e vice-versa. Assim, essas categorias se mantm no em seu sentido estrito, mas dialtico, sinttico e sincrtico. (p. 26)

    2.5 Olhares Cidados

    A vitrina uma janela. Nela construmos um espao para que os outros nos olhem, mas tambm para olharmos atravs dela. Mais ainda, pela maneira como nos olham podemos compreender como nos projetamos e, pela forma como a vitrina projetada, podemos entender como ela quer ser vista. Assim, a vitrina constitui-se num jogo de olhares, uns que mostram, outros que vem, uns que olham

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    como os vem, outros que vem sem saber que so vistos. (p. 27)

    A vitrina uma janela urbana. Contudo, se pudermos olhar a vitrina de fora da constelao comercial, ultrapassando o umbral da interao simblica com os passantes, se pudermos olh-la sem que ela nos olhe, descobriremos outra vitrina ou o seu outro espao: aquele no qual os seus operadores (de trs para frente) podem ser observados como sujeitos sociais; espao no qual poderamos aprender em que consistem as suas cumplicidades e repens-las como cdigos produzidos por uma mquina que envolve uns e outros. Isso significa que cada comunidade produz os significados simblicos de suas vitrinas. Que cada cidade concebe a sua estilstica. E tambm que em cada cidade vrios tipos de cenrios sociais e estticos sero feitos segundo os seus habitantes; segundo as suas condies econmicas, segundo sua etnia, segundo sua educao, a vitrina, to permevel quanto o enunciado, acomoda-se retrica de seus usurios.

    Portanto a sua permanncia que a far nossa, algo da nossa cidade, da nossa cultura, da nossa forma de perceber a realidade. Uma vitrina indica a forma como os usurios percebem o mundo, suas distncias, seus anseios. Cada vitrina resolve sua maneira, teatralmente, a relao das coisas com as pessoas, gera uma epistemologia, uma forma de conhecer e sentir. As coisas que circulam pelas vitrinas correspondem s coisas que as pessoas usam; por isso os limites das vitrinas, suas verdadeiras fronteiras, sero nada menos que a prpria cidade; e dentro destes limites a

    prpria cidade que vista por suas vitrinas. As vitrinas identificam a cidade. A cidade toda uma grande vitrina. (p28-29)

    2.6 Outras Marcas Territoriais

    No interior das cidades

    coexistem diferentes territrios, hoje mimetizados pelo cruzamento planetrio da comunicao dos mass media e pelo poder de seduo de modas, msicas, estilos e modos de vida do international style. Se defino os territrios como a sobrevivncia necessria dos espaos de auto-realizao de sujeitos identificados por prticas similares que em tal sentido so impregnados e caracterizados, pode-se consequentemente deduzir que os territrios so de naturezas diferentes. H os de exerccio da linguagem, como encenao de um imaginrio que se materializa em qualquer imagem, ou como marcas inscritas no prprio uso do espao, que as torna inconfundveis como o patrimnio de um setor social. (p.33-34)

    Pelo caminho descrito anteriormente, podemos encontrar-nos com diferentes sujeitos sociais que atualizam a sua competncia urbana produzindo simultaneamente uma marca territorial. Se prevemos a cidade como o lugar do encontro das diferenas entre sujeitos competentes, podemos pensar em vrias estratgias de representao. (p.34)

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    3. Cidade Imaginada: Imaginrios Urbanos

    3.2 Percepo Imaginria da Cidade

    A rigor, o imaginrio radical implica a capacidade de fazer surgir como imagem algo que no e nem foi (Castoriadis: 20). Tambm estaria ligado ao que chamamos mentira, que consiste em dar voluntariamente a um interlocutor uma viso da realidade diferente daquela que a pessoa sabe que verdadeira (em Durandin, 193;J. Escamila, 1989). E, tambm diria que junto mentira est o segredo, que consiste em privar o interlocutor de uma informao e, se possvel, no deixar sequer que se possa adivinhar essa omisso. Nesse ltimo caso h uma inteno deliberada de calar, de no dizer tudo, de cumprir o combinado.

    E o que se diz, como coloc-lo na cidade? Este trabalho levou em considerao as discusses que transcrevi anteriormente, e seus pontos de vista eu os introduzi como parte da estrutura metodolgica na anlise prtica dos imaginrios urbanos. (p. 42)

    Se consegui fazer-me entender, ento bem possvel aceitar que na percepoo da cidade h um processo de seleo e reconhecimento que vai construindo esse objeto simblico chamado cidade; e que em todo smbolo ou simbolismo subsiste um componente imaginrio. Esse procedimento corresponde a um percurso similar aceito, segundo modernas aproximaes para qualquer reconstruo lgica das manifestaes concebidas como inconsistentes, como seria o caso

    dos mitos: Os mitos so fluidos, pois neles pode ocorrer qualquer coisa e a emoo substitui a lgica e faz imperceptveis as inconsistncias (L. Bruhl, citado por G. Pramo, 1990:81). Trata-se se uma mitologia dos comportamentos expressivos, e, em seu estudo sobre o tema, G. Pramo (p.123) conclua dizendo, com palavras que tomo emprestadas para os meus objetivos de anlise simblica da cidade: no mundo mtico (e eu acrescentaria, em qualquer manifestao humana onde haja maior funo simblica no seu processo comunicativo), para a sua avaliao, a questo aprender a classific-los olhar como se comportam uns com os outros e averiguar por que razo vivem assim. (p. 47-48)

    Segundo o que foi dito, podemos compreender que o corte imaginrio que proponho no estudo da cidade nos conduz a um enfrentamento diferente da dinmica perceptiva. Estamos diante de eventos apenas textualizados que so, melhor dizendo, patrimnio de estruturas explcitas de intercomunicao. Sustento pois o seguinte: a percepo imaginria corresponde a um nvel superior de percepo. Isso significa que nesse ponto j ultrapassamos duas instncias anteriores. A primeira, a percepo como registro visual, no caso de ver uma imagem para o seu estudo, com independncia do seu eventual observador, e a segunda, quando se estuda a imagem de acordo com as marcas de leitura, pontos de vista, com previso do seu executor material (ou em outros nveis seu enunciador), ou no sentido de estudar a imagem segundo o patrimnio cultural

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    implcito na imagem, como eu j havia explicado. Mas quando falo da percepo imaginria, fao-o j, no enquanto seja verdadeira ou no a sua percepo; tampouco enquanto seja ou no uma mensagem prevista por seu enunciador, mas na medida em que a sua percepo, digamos inconsistente, afetada pelas intersees fantasiosas da sua construo social e recai sobre cidados reais da urbe. (p.48)

    Elaborar os imaginrios no uma questo de capricho. Obedece a regras e formaes discursivas e sociais muito profundas de densa manifestao cultural. (p. 49)

    O imaginrio afeta e modela a nossa percepo da vida e tem grande impacto na elaborao dos relatos da cotidianidade, contada pelos cidados diariamente, e tais pronunciamentos, a fabulao, o segredo ou a mentira, constituem entre outras, trs estratgicas na narrao do ser urbano. Os relatos urbanos focalizam a cidade gerando diferentes pontos de vista. (p. 50) Narrao Urbana e Estratgias de Representao

    Pode-se pensar que ante o fracasso doutrinrio de levar o Terceiro Mundo ao Primeiro Mundo pela via revolucionria, como se sups desde a concepo marxista, aparecem outras opes de auto-afirmao de cada regio cultural para iniciar assim, uma reincorporao a si mesma, agora pelos canais da cultura, concebida como a nica fonte verdadeiramente emancipadora. Desse modo aparece uma nova contradio: enquanto o mundo se internacionaliza, ao mesmo

    tempo se regionaliza e, inclusive, se interioriza em cada comunidade. Cada cultura primeira na sua prpria escala. Por que no olhar de dentro para fora, buscando uma imagem reflexo-sincrtica e no o reflexo como eco que repete na cultura colonizada a imagem do seu superior, de fora para dentro, como toda imposio? Essa poderia ser uma enunciao da estratgia territorial interiorizada que busca interromper a linha divisria entre dois mundos. (p. 62-63) 3.5 As metforas urbanas

    A compreenso do smbolo urbano como expresso possvel de ser deduzida da imagem da cidade, entendida como construo social de um imaginrio, requer um esforo de segmentao por categorias, em princpio formulveis de maneira abstrata, mas no obstante com uma suficiente operatividade, j que tratamos de experincias que emergem da prpria vida social. Poderamos pensar em um quadro de categorias com as quais no s fosse possvel estabelecer um nvel de formalizao da relao homem-urbe, mas que, ao mesmo tempo, tal quadro de eixos semnticos nos permitisse observar a produo de um sentido urbano. de se supor que um quadro como o que apresento naturalmente incompleto (j que a lista suscetvel de ser ampliada e atualizada conforme as circunstncias de estudo), e s como maneira de mostrar um funcionamento semntico da cidade, funciona em abstrato para ser aplicado em cada cidade-real concreta. (P. 67)

    Proponho inicialmente uma lista de sete sentidos contrapostos

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    como eixos metafricos. Atravs de tais limites, o melhor dentro deles, a cidade no s significa, mas se ritualiza, estabelecendo diversas mediaes. As metforas seguintes, apresento-as segundo marcas de espacialidade, temporalidade, visibilidade e interiorizao e exteriorizao. Algumas marcas aludem ao espacial e geomtrico da cidade, outras se referem a condies narrativas mas, de qualquer modo, todas atendem a procedimentos retricos de representar o urbano da cidade. (p.68) Eixos-Metafricos

    Dentro e Fora (Espao Ps-moderno): Mesmo com as ambiguidades apresentadas, na cidade h um eixo que a percorre, que o estar fora e estar dentro de algo da mesma cidade. Quando dizemos que entramos e quando j samos? (p.68)

    Diante e Atrs (Espao

    Prospectivo): O eixo diante-atrs tem sua melhor expresso em relao com a viso da paisagem urbana: se est atrs da catedral, diante de um restaurante, ou mesmo na esquina de uma quadra, de onde eu vivo a paisagem de um parque. (p.69)

    Publico e Privado (Interiores

    da Rua): Trata-se aqui de um eixo em franca evoluo, hoje, quando os meios de comunicao franqueiam com tanta facilidade as fronteiras de um e de outro.

    Diria que esses eixos se decompem e se recompem nas culturas urbanas contemporneas e que da sua redefinio aparecer uma conscincia maior na avaliao

    da sobreposio dos espaos que podem ser declarados como fundamentais. (p.69)

    Antes e Depois (Ordem Visual e Narrativa): Esse eixo se acha dentro de uma diviso temporal da cidade. (p.69)

    O antes e o depois tornam-se

    assim categorias narrativas fundamentais para contar uma cidade em seus sentidos e tecidos histricos, topolgicos, tmicos e utpicos. (p.70)

    Ver e/ou Ser Visto (Curto-circuito de olhares): Alm de uma experincia entre sujeitos, as imagens da cidade jogam com o mesmo curto-circuito para enganchar ou livrar algum em uma cadeia de mensagens previstas para o cidado. (p.70)

    Centro/Periferia, Circuito/ Fronteira e os Rizomas Urbanos: O que foi dito no motivo para desconhecer o espao rizomtico de falam autores como Deleuze e Guattari e que U. Eco retoma (1987:23) para propor uma concepo diferente da de centro e periferia. Trata-se do rizoma no qual cada rua pode conectar-se com qualquer outra. No tem centro, nem periferia, nem sada, porque potencialmente infinita. Por isso o rizoma, segundo o mesmo autor, o lugas das conjecturas, das apostas, do acaso, das reconstrues, das inspees locais descritveis, das hipteses. Essa noo labirntica pode ter vigncia na construo simblica da cidade. (p.72)

    Talvez, em busca de uma resposta que integre as duas posies centro/periferia e

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    circuito/fronteira, se possa argumentar outro tipo de territrio, no s aquele ligado s condies fsicas do lugar, mas territorialidade simblica, vale dizer, cultural, pois no se pode pensar que uma reconstruo de carter imaginrio, como a que se props no espacial, no conduza a labirintos simblicos, por onde se narra o urbano. (p.73)

    Interior/Exterior (A relao Norte/Sul): Este ltimo plano metafrico da cidade eu o proporia como uma instncia de maior envergadura simblica, pois quer expressar uma relao imaginria vivida pelos habitantes das urbes, afetados por diversos modelos de comportamento, o qual se vive, em algumas ocasies, d maneira mais dramtica nas cidades da Amrica Latina, por sua conscincia de terceirismo marginal com relao aos acontecimentos europeus ou norte-americanos. (p.74) 3.6 O Sujeito da Cidade

    O sujeito da cidade e seus pactos de comunicao

    A partir das categorias desenvolvidas pelo estudioso francs J.A. Greimas para a anlise do relato, prope-se conceber o sujeito da cidade como um sujeito em processo; sujeito virtual sujeito atualizado (competncia); sujeito realizado (performance). (p.76)

    O indivduo potencial pode, tem a virtualidade de atualizar-se como cidado por possuir competncia para isso. (p.76)

    De modo descritivo, o contrato, ou melhor, o pacto,

    permite o uso e a apropriao da cidade, dentro de certa competncia, por aqueles que tm capacidade de execut-lo. O indivduo urbano se faz, pois, sujeito competente na medida em que atualiza os diversos contratos sociais que lhe outorga o ser urbano de uma cidade, porm tais convnios passam pela cenificao territorial. Em tal nvel ele se realiza como urbano e sua atuao ou atuaes correspondero mesma teatralizao que leva implcita a vida da cidade, isto , sua condio performtica, acolhendo-nos atos de linguagem estudados por Austin (1962), que tm plena vigncia tratando-se da cidade. (p.76-77)

    Se algum v um aviso, se deduz o seu sentido ou se responde com atos reais a uma motivao urbana, em todos os casos fala com a cidade. (p.77) O Sujeito em Construo

    A cidade, assim, corresponde a uma organizao cultural de um espao fsico e social. Enquanto tal, uma cidade tem a ver com a construo dos seus sentidos. Haveria, conforme disse, vrios espaos que pontuo deste modo em uma diviso fundamental: um espao histrico, que se relaciona com a capacidade para entend-la em seu desenvolvimento e em cada momento; um espao tpico em que se manifesta fisicamente o espao e sua transformao; um espao tmico que se relaciona com a capacidade para entend-la em seu desenvolvimento e em cada momento; um espao tpico em que se manifesta fisicamente o espao e sua transformao; um espao tmico que se relaciona com a percepo do corpo humano, com o

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    corpo da cidade e com outros objetos que o circundam, e outro no menos importante, o espao utpico, onde observamos os seus imaginrios, os seus desejos, as suas fantasias, que se realizam com a vida diria. (p.77)

    Ento torna-se bvio que as atuaes urbanas, nossa teatralidade diria, fazem com que se vincule o indivduo cidade, sua cidade, de maneira permanente e performativa. Dessa modo a cidade est aberta para ser percorrida, e tais confrontaes com a urbe vo gerando as mltiplas leituras dos seus cidados. (p.78)

    A idia brusca e determinstica de que na cidade o que importa o real, o econmico, o social deixou fora outras consideraes mais abstratas, mas no menos reais; podemos dizer que o real de uma cidade no so s a sua economia, a sua planificao fsica ou os seus conflitos sociais, mas tambm as imagens imaginadas construdas a partir de tais fenmenos, e tambm as imaginaes construdas por fora deles, como exerccio fabulatrio, em qualidade de representao de seus espaos e de suas escrituras. (p.79) 9) Resumo do Texto: Em sua obra, Armando Silva desenvolve um caminho metodolgico para interpretar os imaginrios urbanos que so formados a partir da imagem que os cidados constroem atravs das relaes com a cidade. O olhar sobre a cidade apoiado em trs categorias:

    1. A cidade vista: fruto da interao dos seus habitantes com os espaos.

    2. A cidade marcada: delimitada a partir de seus territrios.

    3. A cidade Imaginada: construda a partir das representaes evocadas da cidade.

    10) Anlise:

    Ao olhar para a cidade que est sendo construda nesse incio do sculo XXI, podemos observar as mudanas que esto ocorrendo, segundo (MORAES, 2011) estamos saindo do modelo moderno de sociedade, focado no acmulo de riquezas e na conquista de status sociais, o que revela uma busca pela estabilidade, para um modelo complexo, num cenrio de constantes mudanas e choques entre as realidades que coexistem. Novos modelos estticos, polticos, sociais e econmicos esto sendo construdos, para que possa suprir as novas demandas da modernidade. Segundo Silva, quando os cidados mudam, a cidade muda e acompanha esse ritmo de transformao. Acompanhar a transformaes no imaginrio de uma cidade prev tendncias, ser assertivo quanto a intervenes e desenvolver um planejamento coerente quanto a necessidade de seus cidados.

    Marcus Vincius Ferreira

    Gomes. Manaus, 02 de Outubro de

    2014