escritos reais sobre escritores imaginários

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  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Tadeu Sarmento

    Escritos Reais (Sobre

    Escritores

    Imaginrios)

    2005

    1

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    Na tarde em que voc aan!ava "i#tros de cigarro na ca#$ada ara acend%#os novamente o

    c&u estava mesmo restes a desabar' no estava *oc suava em bicas aesar do "rio

    cortante' entrando (ara se roteger da c!uva que se estreitava no a+u# antes #imo de #ou$a

    do c&u) em um desses centros comerciais da cidade de So ,au#o' as bitucas de cigarro

    "#orescendo nas ruas como rosas quebrando o imoss-ve# avimento e voc #' a#imentando

    seu v-cio gra$as . m educa$o dos cidados' mas' cada um que cuide de si no E mesmo

    diante dessa m/ima as vitrines no suam de vergon!a Em uma de#as' ! um #ivro do

    au#ner 3 caa #!e rende a aten$o 4 Som e a ria 6acbet! 7bvio 3 8osac 9

    Nai": ;e ara "oder nas edi$;es' no *e

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    Neste mesmo instante' em 1>2?' um !omem recosta%se na

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    er#e/idade a a#tura dos edi"-cios 6as & voc quem aaga o cigarro na so#a do saato e o

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    6as voc "ina#mente decide #evantar%se ara circu#ar o sangue um ouco Na verdade' !

    uma dvida que aira sobre sua cabe$a' o incomodandoF um incndio ou um crescu#o or

    detrs da casa *o#tando . #ivraria' voc constata se tratar mesmo de uma casa em c!amas'

    observe estas "agu#!as no canto suerior . esquerda da caa' um incndio' no

    8onvencido Sim Ento' deois disso' v desenro#ar%se uma segunda descobertaF a edi$o

    ossui' na verdade' duas caas' or isso o re$o e/orbitante de 5D reais' esse esmero todo

    com a obra 3 segunda caa & de um cin+a s@brio e austero' com o nome do #ivro e do

    autor em re#evo' um tratamento c#ssico disensado somente aos grandes como e#e *oc

    abre novamente o #ivro' sentindo a mgica do seu eso e a sensua#idade do seu contorno'

    "o#!eia%o devagar como quem abre a orta de um !osita#' deois o aroma' ercebendo o

    de#icioso c!eiro de "o#!a nova e/tirada da me#!or rvore que e/iste' e no' voc no quer

    #%#o Sabe que se come$ar a #er o rimeiro argra"o ter que #ev%#o embora' mas voc

    no tem din!eiro' & um obre coitado que aan!a bitucas de cigarro na rua ara saciar o

    v-cio Ento ter que roub%#o 6as no ! como' o sistema da #ivraria & imecve# e anti%

    Rimbauds e *i##ons' e ! ainda "uncionrios amestrados or toda arte' or todos os #ados'

    ve

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    ombros como um sentimento de sames *oc reco#oca o #ivro no #ugar e vo#ta ara

    sentar%se no mesmo banco de antes

    To desconso#ado quanto se encontra o escritor "rente .

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    em articu#ar esta #ivraria+in!a de merda' quando o escritor ra um segundo ara resirar'

    em dois voc entra na #ivraria derrubando uns #ivros em seu a#voro$o' au#ner estra#a os

    dedos a#voro$ado e sorri rego+i

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    4s dois arados no temo daque#a tarde' daque#a nica e tediosa tarde' a tarde quente do

    ms de setembro' r@/imos . orta que abriria ara a rua' a rua da tarde de cromo cin+a

    tediosa suando morma$os no cimento das ruas' no duro cimento das ruas' c!overia #ogo'

    dentro de onde estavam os dois estacionados' e aos cHntaros' im@veis no temo que o

    re#@gio contava' tiquetaqueava' in"enso ao temo' um re#@gio de ! oitenta anos (as

    ersianas umedecidas como #ebras' c!overia #ogo' mo#!ando a -ris) c!overia como

    ontem' o ca#or emurrou as nuvens reciitadas no cin+a araeito dos edi"-cios a#tos'

    muito a#tos' e#a dedi#!ou os #ivros que

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    #-quidas #u+es' suas #u+es #-quidas' como uma "oto mergu#!ada na iscina' o eso severo do

    maior de#es entre os dedos' os magros dedos' entre e#es' ser quando #igar a #Hmada ara

    #er me#!or' sem recisar e#a Ks os @cu#os quando anoiteceu' mas' anoiteceu E#e estaria

    quieto' sobretudo si#encioso' tentando ver a"ina# o que e#a #ia' o que #ia e#a' o cora$o

    estreito no eito em comasso ao ndu#o do re#@gio de rata' re#u+ente re#@gio' !eran$a

    que gan!ar do avK' do avK #ouco' s@ que o rob#ema & que o re#@gio & muito antigo e

    constantemente dever ser #evado ao conserto' quando e#e no conseguir ver qua# #ivro

    orque e#a

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    casa' e que certa ve+ #!e "e+ a barba' embora no recisasse muito "a+%#a' e#e sendo quase

    um imberbe que correr a aan!ar o caderno e anotaria esta imagem ara no esquecer'

    ara no esquecer como esqueceu' como se esquecendo%se inventasse a#go me#!or' a#guma

    imagem ainda no ensada or ningu&m' e que no estivesse em nen!um daque#es #ivros

    todos' escondida' #ivros devorados e#a acincia da umidade' nas rate#eiras devorando%se'

    todos guardados or e#e ara serem #idos' um dia #idos' e ara matar o temo' matar o

    temo um dia Isso o

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    quente e concernente .que#a tarde emurrou as

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    em quanto ouco va#e um +ero no universo dos nmeros todos' na se#va dos nmeros todos

    que & o mundo' entre e#e e o restante da reta aenas a v-rgu#a esremendo mais e mais e

    mais uns contra os outros' outros contra os uns' esremidos os decimais' os !omens

    tornam%se "antasmas com o 8, semre . mo' disso#vidos no c#cu#o das tabe#as (os o#!os

    abertos como dois ra%quedas e#e abre os o#!os midos) Esta & a cidade de So ,au#o' e#e

    dir ara si' s&cu#os e s&cu#os e mais d&cadas de cimento armado or onde tra"egam

    !omens sem sentido a#gum' disso#vidos no c#cu#o das estat-sticas' imersos no "#u/o dos

    acasos das ruas ma# sina#i+adas que no c!egaro a #ugar a#gum' a nen!um #ugar' sob c!uva

    ou sob so#' ou sob grani+o ou sob vidro' rangendo correntes como "antasmas' a nen!um

    #ugar como e#e

    E e#e no #embrar nen!um rosto con!ecido' "ar at& um es"or$o ara #embr%#o' mas'

    aenas "aces aagadas acenderam%se em sua mem@ria' ascenderam%se No ser nunca

    caa+ de di+er um nico nome de a#gu&m que con!e$a (e quem con!ece a#gu&m de "ato)

    nessa metr@o#e' nessa grande cidade erguida em mem@ria a nada' ao vidro ta#ve+' ao "erro

    que sustenta as vigas dos edi"-cios' mas nunca ao omem' !omens aqui e/istiro durante

    muito temo ainda' mas aenas ara

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    Esta angstia o assa#ta' sobretudo quando est escrevendo (ou tentando escrever)' mas'

    escrever ara quem' e#e ensou e' no entanto' manter a escrita como "orma de a#acar a

    mesma angstia' como um c-rcu#o vicioso a#imentado or uma id&ia "i/a (tantos #ivros na

    estante e nen!um de#es #!e dir nada' nada' nada' nada) a so#ido do !omem mergu#!ado no

    abismo dos mi#!;es iguais a e#e' o esade#o socia# da democracia' cada um' um em seu

    canto' em seus aartamentos a#ugados ou agos . resta$o' cada um uma i#!a iso#ada'

    temerosa' im@ve#' !inoti+ados e#a T*' e#e dir' a gina branca aberta . sua "rente' o

    #is que "ec!ar entre os dedos "rios e ca#mos' ao mesmo temo a conscincia da

    inuti#idade de tudo aqui#o a#iada . convic$o de que no saber "a+er outra coisa durante

    toda sua vida' durante toda a sua miserve# e no #iterria vida' que no saber "a+er de

    outra "orma' de outra "orma a sua vida' a sua miserve# vida' esta como e#e a con!ece' e#o

    menos

    No camin!o ara o traba#!o e#a abre o #ivro que acaba de tirar da bo#sa' uma de couro que

    re"ere' continuar abrindo durante toda a viagem' durante todas as viagens de todas as

    man!s que se seguiro a esta 4 trem range ve#o+ os tri#!os que cortam rente a cidade ao

    rio Tiet' os vag;es #otados' o temo que escoa di"erente dentro de#es' semre o mesmo

    temo' todas as man!s' e as mesmas essoas indo traba#!ar como vasos va+ios' va+ios

    vasos que se quebraro nas escadas' como no oema de ,essoa' que est dentro do #ivro que

    tra+ aberto ao co#o 4ntem e#a o visitou' a rea#idade imutve# da viagem diria e rotineira

    do trem a #evar a conc#uir que a vida no se a#tera nunca' sequer um mi#-metro de#a

    mesma Nada muda' ou mudar um dia' a#&m dos #ivros di"erentes que se a#ternaro a cada

    semana' ou ms' deendendo do nmero das ginas 3 cada semana ou ms em que # um

    novo #ivro' um #ivro di"erente' e#a conc#uir que a vida' a verdadeira vida diria' & "i/a na

    1D

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    rigide+ do mrmore do destino que nos reserva' e que o temo dinHmico do mundo e/iste

    aenas no movimento das ginas que #' que vivencia' estas mutveis como uma corrente

    sangu-nea' estas semre e em constante mudan$a' er&tua mudan$a' na mesma medida em

    que a vida estaciona' estagna' no temo de mrmore im@ve# daque#es vag;es de trem

    6as come$a a c!over' sim' c!over & bom' as gotas descrevero arcos #-quidos no ar e'

    quando derramadas no ese#!o imundo do rio' esa#!aro #u+es a+uis entre os rotundos e

    narigudos cocKs 3#gumas se esti#!a$am #etais antes disso' de encontro ao vidro "rio das

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    se e#es no "ossem ara e#a a#gum tio de ersonagens #iterrios em otencia# 3t& o

    instante em que o trem arou na esta$o (a borrac!a entre as mo#as dos vag;es rodu+iriam

    um som de so#o de sa/) e mesmo deois que e#a desceu (condu+ida e eno

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    6e#!or no sentido de mais dinHmico' mais vivo' mas' descu#a' no sabia que voc ia

    aborrecerO a vo+ c!orosa de mu#!er "a+endo man!a' a #Hnguida vo+ de mu#!er man!ando

    c!oro' o timbre doce da vo+ de#a a vo+ macia na ai#a da #-ngua um si bemo# de do$ura

    #evemente dosada

    No aborreci no' mas resondendo . sua ergunta' re"iro a vida' discordo de voc' ac!o

    a vida me#!or e mais dinHmica inc#usiveO

    E eu ac!o que so os #ivros' um bom romance & bem mais dinHmico e me#!or que a vidaO

    os o#!os de#a a#itariam como uma c!uva de grani+o quebrando os ese#!os re#u+es de

    vidro so#tos no ar

    m romance dinHmico 6as como Se as a#avras so as mesmas e "icam #'

    estacionadas Se voc #er mais de uma ve+ e sab%#o de cor me diga' me diga se e#e no

    erde a gra$aO

    8omo erde a gra$a' erde a gra$a como 8ada ve+ que eu #eio' ara seu e/em#o' o

    rande Serto' eu descubro a#go novo ne#e' a#go que no !avia ercebido antes' como se

    e#e se movesse constantemente' como se a cada ve+ que eu o #esse e#e me viesse di"erente'

    e#e me "osse outroO a vo+ antes c!orosa agora esta#aria um timbre mais met#ico' met#ico

    en"erru

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    *oc "oi quem mudouO e#a disse

    6udei sim' todo mundo muda' me inc#uo nesse ro# tamb&m' or isso a vida & mais

    dinHmica' mais interessante que um #ivroO

    Ento orque toda ve+ que eu "ec!o um #ivro me sinto dececionada em vo#tar a rea#idade'

    or que' or quO

    No seiO

    No sabe' & c#aro que no,orque voc escreve ento' se a vida & to boa' orque voc

    no vai viv%#a em ve+ de "icar a-' escrevendoO

    *oc deveria di+er or que aindaO

    ,or que ainda entoO

    6as no "oi isso que voc me erguntou' voc "e+ uma comara$o absurda' absurda' eu

    escrevo or outros motivos' or diversos outros motivosO o temo matar o temo' no #ume

    dos o#!os de#a uma #aca de acr-#ico estendida a #grima como um vitra# de quart+o

    eseda$ado es"atiado em mi# minscu#os vaga%#umes

    Ento' ento' voc no entendeu o que eu disseO

    3c!o que orque voc no me e/#icou direitoO

    3 cu#a & semre min!a no &O e#e no veria aque#e o#!ar "urioso nunca mais daque#e

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    3- segue o gosto de cada umO um breve tom de sarcasmo na nota da vo+ or mais -n"ima

    que se

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    !omem nascer sobre a terra' si#enciosa queda' rumor de ra-+es quebrando o so#o rumo ao

    descon!ecido' ao nada' ao imrevis-ve#' ao imrovve#' ao que no se ode anteceder' .

    vida en"im' e e#a no gostar nem um ouco de con!ec%#a assim' assim "ora das ginas

    sa#tadas sobre e#a E e#e a#i arado' dentro da sombra que "a+ia a estante c!eia de #ivros' a

    r@ria sombra de e#e misturada na de#a' sumindo e sumindo e sumindo at& misturar%se

    com a de#a ara "ormar uma massa negra e uni"orme' estendida no c!o' quando imaginou

    or um segundo que oderia tornar%se invis-ve#' invis-ve# or um segundo que "osse' o dedo

    en"iado no coo que e#a trou/e

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    VVI #is e caderno ainda' assim como "a+iam os escritores . #u+ de ve#as' assim como

    antigamente os monges E diro or ma#dade que e#e no sabe dati#ogra"ar' ou usar o

    comutador' o que no dei/a de ser verdade' e a verdade desrendendo a e#e ve#!a sobre a

    nova no assa de uma serente escondida sob o casca#!o quando e#e de osse do #is que

    aontar come$a a escrever a#go' um a#go ainda inde"inido' que #ogo ver se tratar de#a' que

    & e#a o a#go inde"inido que nunca se "orma dentro de#e (en/ergar o dia em que se

    con!eceram quando descobriu que atrs dos o#!os de#a reciitavam%se #u+es re"ratadas de

    sua a#ma do diamante bruto incrustado em sua carne #embrou o omo de a$car embai/o de

    suas ai#as gustativas' gustativas' gustativas' um doce que e#a guardar na muscu#atura da

    #-ngua e em como e#a se movia dentro da boca mo#!ada de#e como um r&ti# sono#ento e

    aciente como um #agarto adormecendo na grama mida e#a c!uva era vero)

    Era vero quando e#e co#!er da gina em branco a me#!or imagem de#a' a me#!or

    imagem que uder de#a' como quem co#!e a uva mais doce na temorada das vin!as' como

    co#!eu o susto o mscu#o tenso de sangue' irrigado e#o avinagre circuito das veias

    entre#a$adas Cesnecessrio di+er entre#a$adas Sua imagem assim como a verdade era uma

    serente de vrias e#es' escondida venenosa nos casca#!os' des#i+ando desde ! eras na

    medida em que e#e ver que nunca e/istiu nen!uma verdade' quando a verdade na verdade

    no assa de "atos' vrios "atos sucedHneos' sucessivos como a e#e que a serente troca

    quando gasta' quando ve#!a' ento e#e escrever sobre e#a' riscando a gina em branco

    com o carvo do #is' ainda que ese e ense em como tudo de origina# que tanto a#me

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    Ce ve+ em quando o rio bri#!ava durante todo o tra

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    tra+endo o morma$o dei/ando no ar um resirar aba"ado No assam de nmeros' e#a

    ensar' de#es no se aiedando at& #!e assa#tar a sbita imresso de que tamb&m oder

    ser um de#es' e#a tamb&m um nmero' um vaso va+io como e#es' como no oema

    ortugus' massacrado e emurrado rente ao abismo assim como e#es 4 cotidiano semre a

    eno

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    encontravam (mas que ra+o teriam ara estarem a#i ) um instante e e#a erceber que "a#ta

    um No universo de centenas de #ivros e se deu conta de que um #!e "a#tava' um entre todos'

    ordenados no em ordem a#"ab&tica' mas biogr"ica' entardecer muito rido !o

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    6udou de id&ia entoO

    *ai "icar me reetindoO

    B' u#timamente tem acontecido muitoO e#e

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    Ento' ega outro e #eva ara #er no camin!o ro SE traba#!oO outra mudan$a no tom da

    vo+' agora e#e estaria sendo sarcstico' rude at&' um r-gido sarcasmo no interva#o da

    !armonia' e#a erceber isto' no con!ecia este tom novo de#e

    Gue que "oi !einO e#a no !avia #ido isto em nen!um romance' estava mesmo sem saber

    como reagir

    B voc' que insiste em c!amar este seu traba#!o de TR3X3A4O as maiscu#as so

    necessrias 3#gu&m ensar

    E no &O

    3!' dei/a ra # entoO

    3! dei/a ra # o cacete' dei/a ra # nada' voc me ouviu' dei/a ra # uma ova' um

    cara#!o' a orraO e#a "a#aria "uriosa' # "ora a tarde morrendo rido' o re#@gio tiquetaqueou

    tateando o temo #embrando a e#a de toda uma seqncia sua

    Eu vou embora' que estou atrasada' outrora a gente conversa' outra !ora a gente se "a#a' s@

    quero di+er uma coisa' uma coisa que & ra voc #embrar quem nos sustenta' antes de cusir

    no rato que comeuO e#a "a#a "uriosa' a garganta verme#!a esraiando esraiada de sangue'

    e#a corar' envergon!ada da r@ria dvida de#e quando e#a sair sem di+er tc!au' #evando

    a obra o&tica com#eta de ernando ,essoa' coi#ada e#a editora 3gui#ar em uma

    be#-ssima edi$o

    No quer #evar o #ivro que estou #endoO mas e#a bater a orta de "erro sem sequer

    resonder' embora saia reocuada orque e#e estaria come$ando a #er 4 Idiota de

    Costoievsi' mas o que e#a no sabe & que e#e

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    3inda a tarde naque#e vago de trem' era vero' e o ca#or aba"ado aesar da c!uva' e #ogo

    deois de#a ainda ior' com o morma$o que daria n@s no ar esesso e o#u-do E#a o#!aria

    o rio' ainda mais o#u-do que o ar' com o escKo de esgotos a#imentando suas margens'

    #adri#!adas de orgHnica gordura e aberto como um cadver dissecado 4 "rio na mesa de

    meta# So ,au#o & articu#armente uma cidade de c#ima "rio' e#a ensar' mas mais

    articu#armente quente que todas no vero' o so# esquentando o concreto' o ca#or crestando

    nos avimentos queimando as sementes de areia nas ca#$adas' as essoas suando e "edendo'

    suando e "odendo com marcas de suor desen!adas nas bordas das a/i#as' suam e so va+ias'

    e#a dir' e#a mesma suada e se sentindo va+ia e su

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    ertence o ve#!o sentado . sua "rente' os o#!os in

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    quando e#a mergu#!a or um instante no eco desmesurado destas #embran$as' na vibrante

    msica das ginas riscadas or seus dedos' e se sair deste transe momentHneo de a#egria'

    erceber o si#ncio constrangedor daque#es que erram ao seu #ado' daque#es que eram'

    daque#es que' segundo e#a' "racassaram como indiv-duos e o ior' como ersonagens

    #iterrios' quando conc#uir que a vida & um

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    e/resso sincera o que mais c!amou sua aten$o' at& o ouvire#e di+er % e tudo o que e#e

    diria seria mu#ti"acetado o#iedro ara e#a' como se s@ sa-ssem de sua boca a#avras

    virgens' ou ainda no gastas e#o uso' e sua #-ngua "osse o esmeri# a esmeri#!ar o diamante

    uro daqui#o que di+ia' da rique+a ineserada com que di+ia' como se demKnios movessem

    seus a#v&o#os de &ter ara insir%#o at& o si#ncio com o qua# entrecortava suas "rases' mais

    arecidas com so#u$os' so#u$os gerados na verdadeira e/erincia distra-da da vida' e e#a se

    encantaria % aos dois que reso#veram encarnar ne#e que !avia vo#tado . cidade deois de

    quatro anos "ora' deois de quatro anos tentando em outra cidade de c#ima mais ameno

    curar%se da ei#esia ou' como di+iam de#a em sua cidade nata#' curar%se da dan$a de So

    *ito' este o ma# que #!e acometia 3 aten$o de#a agu$ar%se%ia or com#eto a artir

    daque#e instante' como se o encontro dos dois

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    engrenagem minscu#a 3ssim & o temo' conc#uir' o#!ando ara o re#@gio que !erdar

    de seu avK' ! oitenta anos marcando o temo com a ininterruta abnega$o cega das

    mo#as

    E ser assim' ensando no temo' que e#e no se dei/ar domar e#o "racasso' como a e#e

    de#a doma o tecido sobre sua r@ria suer"-cie' outra imagem criada or e#e' dentro do

    esa$o de meia !ora aenas .que#a tarde Teimar em ser um escritor nos dias de !o

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    bo$ais que se

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    erguntar' e antes mesmo do mesmo onteiro maior marcar um minuto' e#e saber a

    resosta

    Na verdade' o que aqui se "a+ & aenas construir #abirintos ara no se entediar' & reciso

    matar o temo antes que e#e nos mate' & o que dir' na borda mida da boca este resmungo'

    a#&m de uma a"ta que o incomoda um ouco 8omo 8risto tentou mat%#o' o temo'

    quando na cru+ constru-da or e#e mesmo indagou ao ,ai orque E#e o !avia abandonado' o

    sangue brotando da e#e erodida Na verdade' & o cime o que o est corroendo' a#&m do

    @cio' a#&m do t&dio' a#&m da dor da a"ta na carne macia do #bio' o que sentir como um

    veneno em suas veias' di#uindo%se' gangrenando%o or dentro Imaginar e#a indo ara o

    traba#!o' aque#e o qua# e#e tanto no gosta' e#e tanto detesta' sequer conseguindo imagin%#o

    sem sa#gar a boca com o gosto met#ico%vinagre da raiva mas' como matar o temo' e#e se

    erguntar' e se ergunta e se ergunta e se ergunta como se erguntando o matasse de

    "ato No "oi o temo o que mudou ento' e#e dir' mas os instrumentos ara medi%#o que

    sim' ou o que ser ior ainda' a ordem das coisas essenciais "oi o que mudou na vida das

    essoas o

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    indi"erenciada de !o

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    E#a em "rente ao ese#!o move suas #ebras' dese%se de rouas e em si#ncio Sabe que

    dentro de instantes ter que entrar em cena ara "a+er o que recisa ser "eito' mesmo

    sabendo que e#e no gostar do que ser "eito' assim como e#a tamouco' mas e#a consigo &

    bem mais indu#gente que e#e' e . vida nua de signi"icados maiores e#a aresentar a

    mscara que #!e caber no momento No ese#!o seus o#!os tero a#go de "ria' a "ria da

    mentira' a mentira & o que rodu+ir ne#a o o#!ar va+io' va+io como o de#es' estes que

    a#audiro . sua c!egada' a nica maneira de conseguir engan%#os & co#ocando a mscara'

    e a mscara s@ ser oss-ve# com seus o#!os esva+iados' sem bri#!o' mortos 8omo "osse

    uma ersonagem' e#a dir' atravessando a sono#ncia dos corredores escuros' na contramo

    das outras garotas que vo#tam do a#co E#as tero notas de de+ e at& cinqenta quem sabe

    resas ao e#stico de suas ca#cin!as' a#&m de o#!eiras e convites ara sair' e certo no

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    "erro' o som de uma msica de ma# gosto a emba#ando os quadris' o ventre c!eio de no

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    se

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    *oc sabe que eu me sinto cu#ada or tudo isso ter te acontecido no sabeO

    No "oi cu#a sua' a vida & assim mesmoO e#e riscava a un!a na mesa de madeira os o#!os

    ainda bai/os

    3inda bem que dei/aram voc tra+er suas coisas ra c' os #ivros' o re#@gioO

    3c!o que e#es tm ena da min!a doen$a' no da min!a doen$a em si' mas de mim or

    estar doenteO

    4 imortante & que voc no recisa dividir esa$o com mais ningu&mO

    Zs ve+es eu at& re"eriria ter a#gu&m ara conversar sabe' nos dias da semana' ou quando

    voc vai emboraO !averia triste+a em sua vo+' um semitom de angstia ercutindo

    No "a#a assim que eu "ico de um

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    E orque me incomodariaO

    Sei #O

    No' no' voc & #inda de qua#quer

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    No sabe comoO o tom de vo+ de#a subiria "urioso um atona# de "ria e as mos de#a e#a

    seguraria "irme no bra$o da cadeira

    No sei' s@ isso' s@ ando ensando muitoO um si#ncio entre e#es "eito de cu#a e mgoa

    amorda$aria a ambos or um instante quandoF

    *oc sabe que eu morro de cimes de voc no sabeO

    E voc sabe que eu sou "ie#' "ide#-ssima a voc no sabeO

    Sei' & o que voc me di+ no &O

    No & o que eu digo no' no & o que eu digo no' mas & o que & de verdade' mas & o que &

    de "atoO e#a diria' agora mais a#to' mais raivosa' mais susenso no ar um !#ito de "e#

    quando e#e #evantaria os o#!os

    Cescu#e B que eu "ico imaginando voc a#i' voc a#i sabe' e aque#e monte de "e#a da

    uta agando ara voc tirar a rouaO

    6as voc sabe que eu s@ "a$o isso no &O

    Isso o quO

    Gue s@ dan$o' que no "a$o rogramasO

    *oc quer di+er que no d or din!eiro no &O agora eu"emismos de#e' saindo de sua

    boca' como "osse a sua ve+ de maniu#ar a verdade atrav&s do sentido das coisas

    Isso mesmo' se voc quer semre co#ocar nestes termosO e#a diria' a vo+ agora bai/a'

    como se estivesse rea#mente magoada

    No so os meus termos' no so os meus termos' mas a vida como de "ato e#a &' sem

    "#oreios B or isso que voc re"ere os #ivros no &O e#e diria' o#!os e vo+ #evantados

    4 que voc quer di+er com istoO

    4 que eu quero di+er com isso & este seguinteF eu #i o #ivro sabiaO

    Gue #ivroO e#a erguntar assustada' na #-ngua atado um medo que no con!ecia ainda

    D>

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    4 #ivro' o que voc no queria que eu #esse' ou que no "undo no "undo queria'

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    Se voc di+ que no era coincidncia ento me resonde s@ issoF como eu saberia que voc

    estaria a#i' naque#e trem e .que#a !oraO e#a disse' e e#e ensaria em como rea#mente' isto

    era verdade' e em como sua vida seria di"erente se no tivesse "eito aque#a viagem

    4 que "oi No vai resonder no *oc & quem deve estar en#ouquecendo' no sou eu

    no' vai me resonde' se de "ato nada daqui#o "osse mera coincidncia ento voc tamb&m

    deveria estar sabendo no & Sabendo que no era' seno de que outra "orma seria Eu

    conseguiria Kr voc a#i contra sua vontade m !omem desse taman!oO aque#a viagem'

    aque#e trem que tomou' seu o#!ar ara trs' nunca' nunca o#!ou' at& !o

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    sentiu aque#a "acada no eito' uma sensa$o que a acometia semre que recisava ir

    embora E#a se sentiria cu#ada' era isso' cu#ada or e#e' e#o #ugar onde e#a o !avia

    #evado e que s@ a essa a#tura seria desen!ado e descrito' embora soubesse que tudo no

    assava de uma @tima est@ria' uma @tima est@ria ara um romance' at& aqui e#o menos

    E#e' no entanto' ouviu ainda or um bom temo os cadeados sendo trancados enquanto a

    mesma mo "irme o condu+ia de vo#ta . ce#a 3 mesma mo "irme de semre' de ! tanto

    temo' e que' ao contrrio do que e#a ac!ava' no era a mo de um escritor' no era a mo

    de um autor' de um artista' mas sim a de um maestro orquestrando seu duro camin!o' seu

    camin!o r-gido e c#austro"@bico' entre os esa$os m-nimos onde !avia sido con"inado

    Ta#ve+' mas' rincia#mente or isto' e#e & o !omem que esera 3ssim como tantos

    outros iguais a e#e' atrs de ortas trancadas ara semre' e#e esera Entre as aredes duras

    do seu cub-cu#o imagina [ e assim assa a maioria das tardes % as "issuras que no e/istem'

    no e/istem mais' mesmo sendo atrav&s de#as que escuta o si#ncio dos corredores' os

    assos do guarda vindo busc%#o ara #ev%#o . sa#a de visitas -ntimas 8om e#e' or&m' em

    ve+ deste ercurso duvidoso' aenas um re#@gio e um amontoado de #ivros' brinquedos com

    os quais tenta matar o t&dio do temo Zs ve+es tem a imresso de que #ogo acordar' e

    que tudo isso no assar de um esade#o' mas no' continua a assa#tar%#!e todas as man!s

    aque#e breve desesero que tanto incomodou ran+ Wa"aF o de que' ao desertar do sono'

    nada seria ou estaria como era antes' o que no seu caso seria bom de acontecer' o que o

    "aria sair da r@ria e#e' brotar' como uma borbo#eta que #arga o casu#o seco sem cu#a

    a#guma e voa' voa' voa e voa A "ora a c!uva #ava os gerHnios do camo onde

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    No que e#e !ouvesse sido vio#ento com e#a' no' de"initivamente no se tratava disso' esta

    no era sequer a causa que o #evou at& a#i' ou mesmo a que a #evou ! semanas no ir

    visit%#o' e#e no sabe' e isto o que mais #!e angustia' a#&m da cu#a or ter "eito o que "e+

    8u#a inc#usive' "oi o que o #evou a entregar%se' no "undo sabia que estaria reso # "ora

    tamb&m' assim como aqui dentro est' e tudo orque em ambas as !i@teses no seria

    ermitido a e#e recome$ar' vo#tar atrs' o temo a"ina#' no ode ser retrocedido nunca 3

    man! da "oto endurada na arede' e#e escuta o "rio esta#ar o ese#!o como "osse trinc%#o

    *enta' e as cortinas dan$am como #abaredas so#tas do r@rio "ogo' sim' ! cortinas em sua

    ce#a' a#&m de grades cortando o c&u em seis artes iguais 3man! & domingo e ta#ve+ e#a

    ven!a' ta#ve+' e#e ensa' os o#!os "i/os na "oto do dia osterior ao que se con!eceram Tudo

    aconteceu to rido' to ve#o+' como se

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    *oc no & o raa+ de ontem do vago do tremO e#a diria' a vo+ suave como se co#!endo

    a asma das "#ores

    Sou' e voc & a 3! simO

    E#a mesmaO os dedos bai#arinos na mesma rate#eira de #ivros se cru+aram' deois os

    o#!os' deois a boca

    ,rocurando que #ivroO e#a disse' atrs de si uma estante re#eta de autores descon!ecidos

    e edantes (!avia uma &ta#a "in-ssima que carregava sua vo+ at& c!egar aos ouvidos de#e

    quando)

    Nen!um em esecia#' estava s@ dando uma o#!adaO

    Sabe Engra$ado' a gente se encontrar novamente e#o segundo dia consecutivoO

    ,ois &O

    Isso s@ ode signi"icar uma coisaFO e#a diria' e os u#m;es abertos como "ossem

    mergu#!arF duas nava#!as eqi#teras

    Gue voc est me seguindoO e#e brincaria' um !omem com senso de !umor "ina#mente'

    as mos ve#o+es erdendo%se entre ore#!as e re"cios

    No' no' eu estava "a#ando deO

    8oincidnciaO

    Ta#ve+' mas a a#avra que eu estava querendo o temo todo era destinoO

    CestinoO as mos de#e sem querer tomariam um #ivro "ec!ando%o sonHmbu#as entre os

    dedos

    4 som e a "riaO e#a disse' atrs da #-ngua um ese#!o de sa#iva

    osta do au#nerO

    3! sim E Naboov' e Xe#o\' e 6e#vi##e' e 6i##erO

    Cestino*oc ac!a ento que "oi destino de e#e escrever este #ivroO

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    8omo assimO

    Sei #' desatino' digo' destino e#e ter "icado tanto temo sem editora e amargurado deois

    da recusa de tantos originais do seu terceiro romance eO

    E ter escrito o Som deois dissoO

    B' orque arece que a todo o momento no romance e#e est escrevendo contra a#gu&m'

    contra um inimigo dec#arado' tentando a todo custo acabar com e#es' que seriamO

    Seus #eitoresO

    BO

    No entendiO

    E/#icoF a re#a$o de au#ner com seus #eitores' semre "oi tumu#tuada no E#e ac!ava

    que a cu#a era de#es seus originais serem to recusados assim e#as editoras'

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    Se e#e no tivesse "icado uto o su"iciente or ter sido to recusado' #ogo e#e' que era to

    ouco modesto' no teria escrito esta &ro#aO

    ,ara

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    No "oi 3c!ei tamb&mO e#a diria quando e#e garga#!ou a#to e sonoro uma risada de dar

    gosto de to "orte e tanto e to "orte que e#a sorriu tamb&m e garga#!ou na mesma

    intensidade tanto e tanta que a garganta u#saria as veias sa#tando abrindo a garganti#!a'

    quando oi oi quando e#e ercebeu as marcas no seu esco$o

    1

    E#a #!e contaria de um son!o "reqente que andava tendoF aos oito anos de idade' no

    ban!eiro da esco#a' e#a acabava de entrar ara "a+er /i/i m ban!eiro sem ese#!os' com

    #Hmadas sem boca# #ate

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    ouviria o trinco da orta girar nem veria a #u+ entrando enviesada i#uminando as sombras da

    arede quando no notou a resen$a de#e' um garoto de de+esseis anos' com a cabe$a

    rasada seme#!ante a um ovo co+ido e tosado de cascas' que entraria trancando a orta or

    trs de si Guando ercebesse o estran!o visitante que a observava

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    4 c!eiro de#e reacendendo a toda !ora no quarto (quase va+io) tra+ia saudade (quase

    cont-nua)' subindo em ondas na v&rtebra do ar aberta' um gosto de c!uva "resca nos #en$@is'

    ("oram #avados) enro#ados no si#ncio da cama (e#es secaram) e#e "oi embora' !avia ido'

    mas em tudo denunciou seu rastro' como se quisesse ser encontrado deois' deois de

    muito temo' como um !eterKnimo' um seudKnimo que se usa ara ve#ar%se' na sombra

    que "a+ia o armrio o seu a#et@

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    uma me no aeroorto' as

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    naque#a tarde quando crian$a na o"icina' vendo o Sen!or arar a terra com suas un!as su

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    sombras) e#e ensaria ne#a' semre nesta !ora' da noite' !ora das #u+es aagadas' desde o

    #timo domingo em que veio v%#o' deois disso nada' o corredor va+io' s@ isso

    Ser que e#a esqueceu or cu#a de quem eu estou aqui' e#e se erguntaria' amargurado'

    triste' remoendo ainda um cime que s@ con!eceu quando a con!eceu e assim or diante at&

    que Aembraria que ta#ve+ "osse cu#a sua' cu#a sua e#a no aarecer mais' a"ina#' e#e

    quem come$ar com aque#a est@ria toda do #ivro 3s mu#!eres so umas "odas' e#e dir' na

    boca sa#gando uma sa#iva "ermentada Tamb&m' vai ser dissimu#ada assim # na casa do

    cara#!o' e#e dir' mais nervoso' agora mais a#to ainda A] N3 Na medida em que

    #embrar ter tido esta imresso de#a desde o dia em que a viu' esta imresso de ese#!os e

    de orce#anas 6as o que mais #!e doer ser imaginar que oderia ter evitado tudo se

    tivesse #ido o #ivro antes (uma id&ia "i/a ainda' mas' ara aonde e#a nos #evar) antes de t%

    #a con!ecido' mas' como e#e saberia Ci+er que e#a no era e#a' antes a soma de vrias

    ersonagens de #ivros que #eu seria demais' at& ara uma essoa como e#e (Nastcia

    i#-ovna 6adame Xovar: Ciadorim Qune i#st) que cr em mir-ades e em vrias

    ossibi#idades de destino' que oderia esco#!er a dedo ara si' como se a verdadeira vida

    que vivia no se #!e bastasse' mas 4#!e ara e#a Seriam reciso muitas ainda' muitas

    outras' e#e dir' como se tra$ando seu camin!o na egada de outros udesse en"im rever o

    que #!e aconteceria (mas e#e reviu) assim como no reviu' assim como e#a o esco#!eu a

    dedo ara ser o seu 6-c!im' sem saber que e#e no aceitaria' no "ina#' erdoar o agressor

    de sua amada' acariciando%o no rosto No sen!or' sua ersonagem era outra' e#e no

    aceitaria' assim como no aceitou' no aceitou' no aceitou (tanto que aqui est e#e'

    so+in!o' dentro do si#ncio' o seu r@rio inv@#ucro)

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    E#e nunca aceitou aque#as tatuagens que e#a ese#!ava e#o coro' como inscri$;es de um

    assado que no seria nunca esquecido Tatuagens so cicatri+es que se esco#!e' e#e dir' e

    e#a esco#!eu as suas' as marcadas . agu#!a' . tinta' em um ritua# secu#ar e do#oroso de

    imrimir a mem@ria na r@ria carne' no r@rio coro' ara #embrar semre (e#e di+endo'

    as mos agarradas na grade da

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    Estran!o nada' so estas "otos mesmo' este rato e essa barata' mortos ,or que no nos

    dei/am "umar em a+O qua# a mentira que e/iste entre e#es' entre n@s' e#e s@ est

    rovocando e#a' tentando arrumar uma briga gratuita' sem sentido a#gum

    ,orque voc "uma ento No sabe que "a+ ma# ro u#moO e#a morde a isca' truta

    enganc!ada e#a goe#a' os cotove#os riscando o a#um-nio da mesa como uma agu#!a

    c!iando um vini# ve#!o

    8#aro que eu sei' s@ no quero & ter que me #embrar disso a toda !ora em que comro um

    cigarroO e#e dir' e o vento si#encioso e "rio "ar dan$ar a "o#!a na ca#$ada' bai#arina

    as"i/iada

    3!' mas agora & #ei' e a que eu ac!o mais !orr-ve# & aque#a daque#es u#m;es

    acin+entadosO

    B' ento quer "a+er o "avor de virar esta orra de "oto ara bai/oO e#e dir' um tom de

    mando que e#a tanto no gosta' mas que estende a mo obediente ara "a+%#o quando do

    movimento a manga do casaco u/a ara trs' e e#e v mais uma ve+ a inscri$o na e#e

    No gosto dessa tatuagemO e#e dir' a msica dos o#!os bai/os tocando seu rosto

    4 que tem e#aO e#a "a#ar' um tom acima do de#e' como se estivessem cometindo'

    visive#mente cansada deste assunto semre que oss-ve# retomado or e#e

    No sei o que tem' aenas no gostoO

    B "ci# criticar sem argumentos no ac!aO a "o#!a move%se at& deitar em um canto da

    ca#$ada' o vento arava si#ente na "o#!a e na avimenta$o

    3t& que ten!o argumentos' s@ que voc no ir gostar nem um ouco de#esO e#e diria' e o

    "rio da tarde atravessava os oros do casaco de # que e#a usava' conge#ando%a or dentro'

    um arreio de gar"o arran!ando o rato na esin!a um ru-do ruim de orce#ana arran!ada

    3rgumentos mac!istas' s@ se "orO

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  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    ,ode serO e#e dir' r-sido na #-ngua sera um movimento gratuito de desd&m' e#a

    #embrar as tatuagens que ossui' cinco ao todo' cinco ao todo' como cinco so os dedos da

    mo' como c-nico e#e estava sendo' como o c-rcu#o em vo#ta de sua ui#a di#atada' cinco

    ao todo' esa#!adas no coro' cada uma com um signi"icado di"erente ara e#a' como

    digitais de mos a#!eias' mas' condutoras' cinco dedos em cada

    ,ode ser 4 que anda acontecendo !ein *oc est mudadoO

    Nada' s@ no gosto de#as' da id&ia que e#as querem transmitirO

    No estou entendendo nadaO

    B que .s ve+es eu enso ne#eO

    Ne#e quemO

    NEAEO e#e dir' arrega#ando os o#!os como "ossem sair%#!e os ossos esetados'

    e/ressivos' mesmo sabendo que e#a

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Nada dissoO

    Nada disso nada' nada disso nada' nada disso o cara#!o' voc ensa que s@ orque eu

    ten!o tatuagens no coro e "a$o stri' voc ac!a que isso & o bastante' voc ac!a que isso d

    o direito de re#arem a mo em mim' dos !omens terem esse tio de id&ia sacana comigo no

    &' no &' "a#aO e#a dir' como se !ouvesse sido rea#mente magoada e#o comentrio de#e'

    como de "ato "oi' ta#ve+ uma breve ausa entre e#es' a "o#!a im@ve# !aver de ser c!utada

    or um edestre incauto quando e#eF

    6e descu#a amor' drogaO

    Cescu#a no' e no me esqueci de nada e voc sabe muito bem disso e no tem o direito

    de vir "a#ar assim comigoO e e#e sabia' mas era @dio aqui#o # ne#e' cime' "ervendo quente'

    um @dio que no con!ecia' que o #evava a atac%#a gratuitamente' como quem c!uta um

    cac!orro na rua' ensar' imaginar' vis#umbrar coisas que a "eriam' e a "eriam orque "a#adas

    assim de uma maneira dura

    No ac!o que voc teve cu#a' e#o contrrio' s@ enso que' que ta#ve+' ta#ve+ se voc no

    tivesse tantas tatuagens sabe No & voc' & o que os !omens ensam' & o que e#es ac!am

    quando vem uma mu#!er tatuadaO

    E o que & que vocs ensam !einO e#a erguntar' incisiva como se abrisse uma nava#!a

    em sua #-ngua' os dedos de#a dedi#!ariam a cicatri+ na garganta a nica que no !avia

    esco#!ido' dentre todas a nica

    Nada' dei/a essa orra ra # S@ enso que tudo oderia ter sido evitado' imagino o que

    o "i#!o da uta no ensou quando viu as iniciais que voc tem naO e#e diria' como se

    engo#isse as a#avras no "ina#' atroe#ado

    3s inicias que eu ten!o ondeO e#a erguntaria ainda mais incisiva' agora duas #Hminas

    movendo%se como se "atiassem o a#ato

    5J

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    3!' voc sabe onde' nem reciso "a#ar ondeO

    Sei sim' e sei desse seu rodeio todo que voc "a+ ra novamente tocar no assunto Eu

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    No gosta quando e#a #!e o#!a desse

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    ser a esosa do escritor' quer ser e#a mesma a escritora' assim e/ige de#e e de si mesma

    outra comensa$o

    3migos va+ios' mesmo este que #!e disse que e#a o destruiria dar um tiro no eito daqui a

    a#guns anos *a+io Escreve um romance sobre e#es' sobre si' sobre esta sua gera$o

    erdida' e/atriada' escrevendo como #oucos sob o "rio que trinca as cabines te#e"Knicas'

    envo#tos na neb#ina de a-ses estran!os' sorvendo do vin!o ge#ado que mo#!a a garganta

    aberta como se or uma "aca' uma es&cie de son!o' e#e mesmo quando bebe' vive a "a+er

    besteiras' outro dia' #embra' tentou abrir a "ec!adura da casa com um cigarro 4 #ivro vai

    bem' e & isto o que a imacienta' esta inve

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    garras desta mu#!er que a#me

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    me viu' mac!ado . mo' . moda antiga dos c#ssicos' com se com o 6ac!ado . mo E

    ediu tanto or sua vida' ediu tanto' im#orou tanto' "a#ou tanto e to demasiado tanto que

    ac!o que se no o matasse #ogo morreria or si s@ engasgado na r@ria #-ngua' quase mi

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    como a querem os "-sicos e os "antasistas' to rea# quanto agora' e#e atrs das grades da

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    sob !i@tese a#guma e#e dei/aria de correr rimeiro os dedos at& a #tima gina' ara ver o

    que di+ia sua derradeira ora$o B o que aconse#!a a todos inc#usive 6ais do que

    curiosidade' era uma "orma de evitar surresas' e erdas de temo' como se gostasse de

    saber e/atamente ara aonde estaria sendo condu+ido e#o autor' "osse no #ivro' "osse na

    vida' um meio de no ser ego nunca com as ca#$as na mo' o que no "uncionou' or

    e/em#o' com o #isses de Qo:ce' aesar de que' ara o morto agora' no imortaria mais

    este "ato' ou qua#quer outro "ato da vida'

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    @bvio' coisa que "a+ com maestria' como o

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    m acorde er"eito e quase si#encioso eu ouviria vir de trs de#e' quando me segredaria

    estes dese

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    que estava rereendendo ne#e' aenas "a+ia rodeios ara criar coragem de di+er a e#e que

    no oderia "a+er o que estava me edindo' no oderia mesmo' ta#ve+

    6as' gra$as a msica que arecia emergir sonora dos seus "#ancos' no ermaneci surdo aos

    seus ae#os or muito temo' na terceira visita consenti em "a+%#o' quedado que estava or

    aque#es seus o#!os de #atitudes artidas' como se coubesse entre e#es um !ori+onte rac!ado

    ao meio' o#!os c!armosos mesmo' ouso di+er magn&ticos' enetrantes' negros como a

    #aringe de uma caverna ina#mente' deois de tanto discurso' !avia me convencido de que

    e#e era' em sua essncia' uma @tima ersonagem Tudo em seus movimentos assaria a

    rea"irmar isso' uma gra$a #iterria em cada gesto' made#eines imersas no c!' um abai/ar de

    ernas cru+adas que oderia ser descrito em cinqenta ginas' ou mais' ou at& mesmo em

    uma Seria como se naque#a tarde eu tivesse c!eirado ben+ina' assando a en/erg%#o' e

    com e#e tudo ao seu redor' #ento e "ragmentado' como omos de riscos de #u+ arran!ando o

    vidro da brisa que nos envo#via Eu

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    CevagarO

    B' ara que eu ossaO

    6as ac!o que no consigo' ac!o que no consigo' escreva istoF e#e ac!a que no

    consegueO

    8erto ento *oc deveria arar de "umar tantoO

    No osso' eu no osso' & um atrs do outro no & Eu sei' e semre terminava em briga

    esta est@ria' quero di+er' !ist@ria' sei #' eu edi ara e#a abai/ar a "oto do cigarro sabe

    virar o ma$o ra bai/oO

    Xai/ar ara bai/oO

    RedundHncia' no escreve isso' mas' o#!a' o rob#ema no eram as tatuagens' no ;e isso

    no seno vo ensar que eu sou mac!ista' e eu no sou entendeu No sou' conte a

    verdade' no esque$a disso Ca verdadeO

    Sim sen!or' vou contar direitoO

    6e descu#e o tomO

    *oc ac!a mac!ismo di+er que #!e incomodava sua mu#!er ser tatuadaO

    Eu ac!o' e vocO

    Ta#ve+ 3 min!a mu#!er tamb&m tem uma sabiaO

    B mesmoO

    B' uma triba#' nas costas' e eu no gosto muito da id&iaO

    ,orquO

    ,orqu ,or que a orcaria da triba# & uma es&cie de c-rcu#o' e dentro do c-rcu#o tem uma

    es&cie de doub#ets' voc sabe' aque#es quebra%cabe$as do Ae\is 8arro##O

    Sei' aque#as a#avras de mesma e/tenso' #igadas e#a interosi$o de outras que se

    a#ternam di"eridas em aenas uma #etraO

    JL

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Isso mesmoO

    6as qua# o rob#emaO

    4 rob#ema & que ,orra 3 rimeira a#avra & o nome de#a' entende' dentro do

    c-rcu#oO

    SeiO

    6as a segunda & o nome do uto do e/ de#aO

    3- & di"-ci# de agentar noO

    E no &O

    3 orcaria de um casa# de #iteratos Gue merda !einO

    Ento E qua# a tatuagem de sua mu#!er que voc mais no gostavaO

    m c-rcu#o tamb&m' s@ que dentro deste c-rcu#o no !avia nada de #iterrio' s@

    vu#garidade gratuitaO

    E o que eraO

    3s iniciais' de#a e a do e/%uto de#a tamb&mO

    ,orque as mu#!eres "a+em isso !einO

    Sei #' e#as se entregam demais no &O

    ,ra mim isso & "a#ta de ter o que "a+erO

    m dos "#age#os da a#ma "eminina esse tio de "rivo#idadeO

    E qua# a inicia# do uto de#aO

    No sei' e#a nunca me contouO

    8omo assim no contou E voc no viu noO

    *i 6as & que as iniciais esto escritas em

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    ,orra' tu t me go+ando no &O

    ,orquO

    ,orra' que imorta e#a ter isso tatuado se nem voc nem ningu&m sabe o que t escrito

    3#gu&m que voc con!ece sabe

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Q' mas quer saber de uma coisa E#a di+ que d@i muitoO

    B' mas ro e/ de#a e#a "e+ o sacri"-cio no &O

    A vem voc' quer me dei/ar com mais cimes ainda no &O

    Esquece' esqueceO

    *ai ser romance no vaiO

    4 quO

    4 #ivroO

    3! sim' vai sim' vai ter que serO

    Xacana Sabe que aqui em So ,au#o o que no "a#ta &

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    ,ode dei/arO

    E quantas ginas vo serO

    *o ser o quO

    4 romanceO

    3! no sei' muitas eu ac!o' o bastanteO

    Xacana E como eraO

    8omo era o quO

    4 doub#et carro##ianoO

    No seiO

    8omo no sabeO

    Estava escrito em a#emoO

    Em a#emoO

    B' em a#emoO

    4 cara era a#emo ento' um uto na+istaO

    No Era

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    8 3 R 4 A

    T 3 R 4 A

    T 3 R 4 4

    T 3 R C 4

    T 3 R C 3

    T 3 E C 3

    Traduo alemo-portugus: Gioconda Petrarca K. Freincvia

    L2

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    Escrever um romance requer uma soma de t&cnicas narrativas ara "a+%#o' um con

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    atrav&s dos anos' d&cadas' s&cu#os' e

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    & a mesma que nos move ara # e ara c' como uma orquestra de t-teres abesta#!ados' ou

    de bonecos de ventr-#oquo rec!eados de a#!a e ao sabor da e/trema casua#idade E & or

    estar aqui e agora' "a+endo o que estou "a+endo' e a#&m disto aqui#o que rometi "a+er' que

    se su;e que eu acredite na segunda !i@tese' caso contrrio no estaria aqui gastando #atim

    com um "a#so santo Cirei que a conc#uso est correta' assim como estar correta a

    constata$o de que o c#ima da noite est "rio' e "rio orque venta bastante' e venta orque

    daqui eu ve

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    do gnio !umano' ao mais a#to grau dentro do o"-cio da #iteratura' & c#aro No e/iste uso

    mais nobre' mais digno' que ossa ser dado . madeira do que torn%#a um instrumento' do

    que retir%#a da imobi#idade da 8oisa ara trans"orm%#a em msica' em msica' em

    mem@ria' em msica 6eu ai "oi um Aut!ier de rimeira' e mesmo deois de ter erdido

    com#etamente a viso' continuou sendo um e/ce#ente art-"ice destas cai/as de ressonHncias

    com cordas' embora no gostasse muito de msica' embora traba#!asse semre em si#ncio'

    e dentro de#e ainda um outro Era essa 3rte de trans"ormar madeira em me#odia o que o

    "ascinava' e#e que tin!a um sobrenome esquisito' ac!o que qua#quer coisa em Tui' ou em

    outra #-ngua ind-gena qua#quer' que signi"ica madeiraO em nosso ortugus civi#i+ado

    No a msica em si' no a orcaria da msica em si' mas o ta#!e er"eito que rodu+iria a

    artir de#e o instrumento er"eito' "eito sob encomenda ara uma determinada essoa que'

    esta sim' comoria uma e$a com e#e' uma can$o ou#ar quem sabe' e tudo com o

    instrumento criado e#o Aut!ier cego' meu ai' muito con!ecido naque#a &oca' sobretudo

    em nossa vi+in!an$a Aembro da sombra sobre as sobras de madeira' dos eda$os intactos

    de mogno' do aroma do "are#o da serra entrando via min!as narinas' eu vendo meu ai

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    e ova#' a outra embutida em um cabo dedi#!ado or madre&ro#as E como tudo aqui#o me

    ertencia' eu "o#!eando as ginas e/tra-das de uma rvore assim como meu ai

    traba#!ando sobre a mesma mat&ria%rima Ta#ve+ or isso' a ana#ogia ten!a "icado to

    boa' to bem "ormada na min!a cabe$a' to dessa "orma como um son!o er"eito o

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    im#orando ara ser trans"ormada' re%uti#i+ada' como se a rvore ne#a morta dese

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Ento vai arendendo "i#!o' arende o o"-cio do teu ai' um !omem tem que ter um o"-cio

    na vida no & ma serventiaO

    B ai' tem que terO

    Ento Eu asso a madeira no "erro que & ra e#a "icar mo#in!a entendeuO

    EntendiO

    Xem mo#in!a' mas resistente ao mesmo temo entendeuO

    EntendiO

    E sabe orquO

    No ai' me diga orquO

    Ento digoF & ra quando eu co#ocar a vo#uta' a madeira a#ainar

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Entendeu nada' s@ com o temo & que tu vai acertar esse onto meu "i#!o' esse de dei/ar o

    instrumento no #imiar entre a destrui$o e a cria$o entendeu Nesse abismoO

    3gora com#icou demais aiO

    8om#icou nada' & "ci#' s@ estou di+endo que o instrumento tem que "icar numa tenso

    er"eita e constante' s@ assim e#e vai oder mover o ar ra "a+er o som entendeu 3

    me#odiaO

    Entendi agora aiO

    Esse & o meu tabacudin!o 3gora vo#ta # e # o #ivro Gua# & mesmoO

    6e#vi##e aiO

    E isso # & nome de #ivroO

    6as no & o nome do #ivro ai' & o nome do autorO

    Co autorO

    B' do autor' autor & o !omem que escreve o #ivro entendeuO

    No entendi no' no entendi nada meu "i#!o ,aai no entende nada de #ivro

    estrangeiroO

    E este era meu ai' o grande #ut!ier cego Sandro Ce#mo 6auetete No "a#ei que era

    esquisito 6as ve

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    o que digo' o que rea#mente quero di+er 4 vio#o "icou uma obra de arte deois de ronto'

    o bra$o "orte' o corte reciso' as cordas estiradas no m/imo ermitido de que "a#ei a

    ouco' a curvatura e/ata e c#ssica' a verdadeira obra er"eita de um arteso aciente 4

    rob#ema "oi que este amigo de meu ai era um su

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    guardar os ratos ou

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    & o nico #ut!ier do o"-cio' o nico com a recisa obsesso e generosidade o bastante ara

    dedicar seu temo . constru$o de um grande Romance' um grande e esado Romance no

    qua# cada !omem que o #eia' ve

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Guem te disse isso meninoO

    Ningu&m me disse no' eu #iO

    Isso & o que d essas #eituras' daqui a ouco vai querer me di+er que Qesus viveu na `ndia'

    ou que em ve+ de morrer na cru+' conseguiu escaar gra$as a uma distra$o do guarda'

    mudou de cidade' casou%se duas ve+es' teve um monte de "i#!os ra morrer ve#!in!o' de

    in"ec$o genera#i+ada no &O

    NoO

    *oc devia era estar aqui' arendendo a traba#!ar com a madeira' em ve+ de "icar #endo

    essas bobagens' voc & meu "i#!o mais ve#!o' aque#e a quem devo transmitir meus

    con!ecimentos' assim como Qos& "e+ como Seu' 4 qua# no deserdi$ou temo ta#!ando

    cru+ ros gentios no' E#e constru-a mob-#ias' mesas' cadeiras' biombos' armrios' tudo

    antes de se tornar escador de !omens' a cru+ era Seu destino' mas no "oi "eita e#as suas

    mos no' E#e morreu "oi em uma' aos trinta e trs anos' e "oi ara nos sa#var' sa#var a

    !umanidade toda' sa#var o !omem dos seus ecados' sa#var inc#usive voc' que anda

    "a#ando essas merdas' essas bobagens todas que # Se no quer arender o o"-cio do teu

    ai' tudo bem' mas "ique a- ca#ado' seu desgosto' no "ique tagare#ando tudo que #eu que

    voc no & aagaio ra t reetindo as coisas' guarde ra si' seu boneco de ventr-#oquo da

    orra Se gosta tanto mesmo de #ivros orque no arende a escrever o seu No #ugar de

    "icar reetindo essas bobagens escreva o seu' seu tabacudin!o da gota' escreva o seu'

    aque#e um que s@ voc oderia ter escrito' aque#e que se

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    no so#' so"rendo mart-rios !orr-veis que no consigo nem "a#ar ento no ven!a me enc!er a

    tama com essas bobagens' no me ven!a com orcarias ra cima de mim' no invente

    marmota ro meu #ado noO

    8risto morrendo regado na cru+' esva+iando%se de vida como um ba#o "urado de ar'

    agoni+ando #ento erodido e#o veneno das "errugens que in"eccionavam suas mos ma

    @tima imagem criada or meu ai' eu #embro 6os de marceneiro' eu acrescentaria Eu

    oderia us%#a ara escrever o Romance a que me rous' ta#ve+ um ara#e#o entre o

    8ruci"icado e o amante reso e#o assassinato do esturador de sua mu#!er' uma ana#ogia

    no m-nimo bri#!ante que' co#ocada

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    de sueto' e no ter que eserar at& trs dias antes do noivado ara o#!%#a de um

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    E#e !erdou do ai uma "a+enda ve#!a e decadente . beira do 6ississii' onde escuta sentado

    na varanda de madeira carcomida o arrastar das eras nos so#os midos e das edras cresas

    nas quais seus negros #evam toadas e as c!utam ara #onge enquanto #amentam um

    spiritualdebu#!ando o a#godo macio entre seus dedos grossos So esses os sons que

    emba#am sua #eitura' como a #-ngua suave do CemKnio a #amb%#o os #@bu#os Ci+em que

    tem arte com E#e' com o Cemo' a quem se deve reseito e iniciais em maiscu#a Ci+em

    que co#eciona armas e o costume de en"orcar negros "ugidios e regui$osos sem saber que'

    aque#a msica que entoam com tanta triste+a e devassido' e#es a entoam ara e#e' ara e#e'

    o atro+in!o E#e arecia a msica que "a+em' esses arreios que sente' mas' sobretudo a

    msica que rodu+em quando se as"i/iam' minutos antes da corda #!es quebrar o esco$o

    Este & o seu mundo' a"ina#' a 3m&rica ,ro"unda onde nasceu e vive desde ento' sentado

    naque#a varanda de madeira carcomida' mas' esere E#e "ec!a o #ivro or um instante e

    em um segundo toma uma decisoF e#e ir con!ecer o outro #ado do mar' o *e#!o 6undo e

    seus reis decaitados e est@rias de "antasmas agourando caste#os assombrados 3#go ne#e

    mudou deois de #er o #ivro' a#go ne#e creita' embora no ten!a terminado a #eitura do

    #ivro e nem queira 3que#a rimeira "rase' o rimeiro argra"o' deu a e#e a imresso de

    que o autor oderia inc#uir o mundo naque#as ginas' o mundo inteiro' com suas cores e

    c!eiros e todos os sons que e/istem' a e/erincia !umana' toda a e/erincia !umana em

    um nico #ivro' e tudo misturado' como & a vida rea#mente' essa um torve#in!o de sensa$;es

    nau"ragadas boiando em um mar de a+uis ossibi#idades' um tour-de-force devorando a

    vida' a vida em sua e/erincia m/ima' aro/-stica' descrita dentro da verdade interna e

    c-c#ica da #inguagem 3#go mudou ne#e' quando decide #evar consigo na viagem o

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    uma ordem do sin!K atro+in!o Na man! do dia quatro de mar$o de 1>2 e#es artem

    ara a EuroaF e#e' o

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    encordoadas de barro e ainda re#etas de ata#!os onde antigamente assassinos emboscavam

    suas v-timas Ceois da inven$o do ae#%moeda' o sangue dei/ou de ser derramado e#o

    ouro' e o crime tornou%se necessrio aenas ara os verdadeiros artistas' um requinte a mais

    ara e#es

    ,are de #amentar nessa guitarra' negro do cara#!oO

    6as no "oi ra isso que o sen!or me trou/e atro+in!oO

    Era a rimeira ve+ que Robert Qo!nson resondia ao atro+in!o 4 gnio !avia visto a

    #iberdade e o gosto met#ico que dei/aria em sua boca trans"ormaria sua #-ngua em uma

    #Hmina avia na ancestra#idade do seu sangue uma #iga$o -ntima com o mar aberto' or

    onde seus ancestrais !aviam sido tra+idos acorrentados ara traba#!arem como escravos no

    Novo 6undo 4 discurso sero de suas msicas' a magia negra de suas cren$as' a#&m de

    seus enormes e rotundos cara#!os trans"ormaria ara semre a terra branca e rometida aos

    esco#!idos de Ceus 4s "undadores da 3m&rica sero os errantes ento' aque#es de vida

    breve' aque#es intensos' erversos' bbados e #unticos artistas de "igurino duvidosoF

    c!a&u u-do a#et@ su

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    vagabundo' o reto ruim e musica#' que esa#!ou as "&rteis sementes do CemKnio no so#o

    rotestante 9 ou o 3r#equim sustentado e#as negras re"inadas e ciumentas que cantavam

    em 8abar&s de madeira =i##iam o admirava na e/ata medida em que nutria or e#e um

    @dio nascido da inve

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    cerve1

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    !asci contrariando a vontade de min"a irm mais vel"a. !o #uarto dos ventos, onde tudo

    move meus sinin"os. $la #ueria uma %one#uin"a de presente e &droga'( vocs sa%em como

    as mul"eres so: teimosas desde pe#ueninin"as.

    ,ercebam essa &ro#a de argra"o inicia# do grande escritor 3madeu T Bden de Aorento

    ,&ro#a aos orcos' eu diria'

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    B o maior de todos meu "i#!oO

    Guem aiO

    4 6ac!ado 8o#oca todos esses teus outros no c!ine#oO

    B aiO

    B ai' & ai' mas eu s@ veD

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Entendeu nada Ento orque voc erde teu temo com outrosO

    No erco temo ai' no ten!o nem temo ra erderO

    ,ois ra mim erde' or mim voc no #ia mais essas orcariasO

    6as o sen!or

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    8ovardes aiO

    Esse russo a-' esses orra' e aque#e que tu gosta tamb&m 4 auquinere no &O

    au#ner aiO

    B esse covarde a-O

    ,orqu covardeO

    4ra' se no "oi tu quem me contou aque#e neg@cio # de quando e#e "oi ra ,aris encontrar

    um ta# de Qames Qo$aO

    Qames Qo:ce aiO

    Ento' e' a#is' onde voc arende essas coisasO

    Essas coisas eu sei orque no #eio s@ o 6ac!adoO

    B' e or isso "ica sabido demais e "a#ando um monte de bobagens sobre Nosso Sen!or

    Qesus 8ristoO

    E#e no era covarde aiO

    GuemO

    4 au#nerO

    No era' mas correu da raia na !ora O

    E#e s@ no teve coragem de "a#ar com o Qo:ce E#e entrou no bar' viu e#e de costas' tin!a

    um monte de gente' e#e deu meia vo#ta e "oi emboraO

    8ovarde noO

    No ac!o 3c!o que "icou meio sem 5

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    B' en"rentou' at& que na !ora de ser morto e#e "oi erdoado da senten$a de morteO

    6as en"rentou como E#e odia "ugirO

    8#aro que no ai' e#e tava amarradoO

    3marradoO

    B' amarrado e vendadoO

    Ento e#e no odia "ugirO

    No n& aiO

    Ento no en"rentou nada' "icou or que no tin!a

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    ,or isto & que atravesso a escurido arti#!ada e#as #u+es "racas e morti$as das #Hmadas

    que #adeiam todo o corredor ,or isto & que estou aqui' quase or um equ-voco' como um

    grito sustentado ainda na garganta' um que quer sair' mas que se segura or temer%se as

    conseqncias que traro 3enas or isto' e or no querer ter arendido o o"-cio de meu

    ai & que estou aqui No queria ser um escritor Ento' estou aqui m escritor como

    aque#es que escreveram os grandes romances que #ia na o"icina de meu ai' aque#es

    imensos e vo#umosos #ivros de caa dura' imondo uma severidade no ar como se !ouvesse

    um L

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    um "rio "erindo tudo or aqui' esetado no ar como "acas a"iadas No' como "acas

    ve#oc-ssimas e a"iadas no "io do sei/o' "acas ara cortar sedas no ar' tra$ar quadri#teros na

    gua' se duvidar at& cortam ensamentos' &ta#as' vidros' asas de bei

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    3ssim eu ia desacontecendo ara as coisas do mundo' na medida em que u#traassava as

    #in!as das ginas mais e mais' at& mistur%#as com as #in!as da r@ria vida que vivia' at&

    con"undi%#as no e/ato instante No e/ato onto de que "a#ava meu ai' quando ne#as eu me

    tornava c#aro e n-tido' s@#ido e articu#ar' como uma edra' uma edra no meio da gina'

    no meio da gina tin!a uma edra' cu

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    comigo' como se o c!o se abrisse #-quido debai/o de meus &s' na mesa onde eu #ia meu

    romance encic#o&dico' um o#!o na gina o outro na terra semre . vista E Ceus criou as

    ba#eias' e na tarde seguinte o nome de Ao#ita esta#aria tamb&m em min!a #-ngua como um

    ssaro ecoando em #eno vKo desenrai+ado da terra' uma cita$o b-b#ica adocicada na

    boca de Naboov' em vKo constante e indeendente' gorgo#e

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    carto#a' os o#!os mais densos ainda' im@veis' "i/os' como se "itando um adversrio bem .

    "rente' como se ainda no terceiro round' um dese

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Ca

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    noras os dedos grossos e marcados or dobras de anos de traba#!o esado So"ria de

    g#aucoma' a descu#a er"eita ara tocar as carnes macias que tanto areciava tatear m

    ve#!o sa"ado esse meu ai' era o que min!a me di+ia' embora areciasse sentar de saia

    curta semre que se acomodava ao seu #ado no so"' as ernas tran$adas e sucu#entas

    6in!a "i#!a re"erida' e#e ba#buciava' na vo+ um qu de nosta#gia' de desesero doce' do

    +inco a+edo e me#anc@#ico da saudade

    3#&m de construir re#@gios' e de aa#ar as co/as de qua#quer anima# mam-"ero do gnero

    "eminino que aarecesse em sua casa' o ve#!o 6ateus ossu-a outra ai/oF a #inguagem

    3! ostava de #er' gostava de #er' sobretudo de inventar

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    E eu #ia' semre devagar' semre so#etrando bem cada s-#aba de cada a#avra' como se

    "osse gago' como se esmeri#!asse na #-ngua a edra daque#es di+eres' min!a #-ngua uma

    nava#!a odando cada e/cesso' cada aresta' cada' quandoF

    Essa "rase seu orra' vo#te nessa "raseO

    E eu vo#tava' e #ia novamente' agora mais ausado ainda' agora ainda mais #ento' enquanto

    e#e egava um b#oquin!o de "o#!as que semre tra+ia consigo e a anotava' ara deois

    reeti%#a N ve+es e N ve+es de "orma di"erente' como se buscasse descobrir a#goF

    E#es esto querendo me di+er a#guma coisaO

    E#es quem vKO

    E#es' os ma#ditos "ascistasO

    ascistasO

    E/atamenteO

    6as vKO

    Guieto menino' quieto seu merda' me dei/e ensar' me dei/e ensarO

    6eu avK assou anos co#aborando ara os

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    traba#!o como re#o

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    organi+adas' eu "#utuava 3bria um #ivro qua#quer e encostava o nari+ r@/imo de suas

    #in!as ara resirar no mesmo u#so das a#avras # escritas' como se e#o aroma eu

    udesse cat%#as me#!or ao #%#as deoisF

    Este #ivro & muito bomO

    B vKO

    Se quiser ode #ev%#o emrestado' eu sei que # na tua casa no tem desses Teu ai e essa

    monomania #iterria de#eO

    E#e s@ gosta do 6ac!adoO

    B um !omem "ran+ino esse teu ai' ac!a que & caa+ de contro#ar sua vida se redu+i%#a ao

    m/imo que uder ,or isso e#e s@ # 6ac!ado de 3ssis' or isso e#e #argou a 6arcenaria

    ara se dedicar somente ao traba#!o de construir instrumentos ,or mim min!a "i#!a no

    tin!a casado com esse atetaO

    Este & bom mesmoO

    6uito bomO

    osto de vir aqui vK' tem tantas o$;esO

    3ssim como a vida 6in!a bib#ioteca & to variada e com#e/a quanto a vidaO

    ,orque o sen!or tem tantos #ivros vKO

    3ndo "a+endo uma esquisaO

    ,esquisaO

    B' ando esquisando sobre o "enKmeno das coincidncias' mas voc & muito novo ara

    entender issoO

    3!' me conta vai vKO

    6e conta o qu raa+ Xom' a vida & rec!eada de ara#e#ismos e simetrias' sabia dissoO

    10J

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    No vKO

    8#aro que no' que isso & uma brincadeira de Ceus com a gente' entendeu E#e andava

    muito entediado deois que o 8aeta caiu do c&uO

    4 8aetaO

    E/atamente Era E#e quem divertia Ceus Era Seu bobo da corte 8ontava iadas sem

    gra$a enquanto rebo#ava bbado com um co#ar de !avaiana endurado no esco$o Ceois

    que "oi emboraO

    ,ara ondeO

    ,ara o In"erno' que & ara onde tu vai se no arar de "a+er tantas erguntas e no me

    dei/ar e/#icarO

    Cescu#a vKO

    Ento quieto ,ois &' Ceus "icou entediado deois disso e reso#veu

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    de 6atemtica' um neg@cio "in-ssimo' essa brincadeira de Ceus' de "a+er as coisas se

    re#acionarem sem nen!uma causa aarente E as causas no aarecem orque so ve#adas

    Esto no movimento en/adr-stico de suas e$as' entendeu' seus reis rain!as e e;es

    Guando searadas' as coisas no "a+em sentido' s@

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    U Aot bobo no &' bobo nada' e#es vo ver Eu sabia que os na+istas estavam metidos

    nisso tamb&m Entendeu agora meninoO

    No vKO

    No disse ara "icar ca#adoO

    Ento orque o sen!or me ergunta as coisasO

    ,ergunto' mas no & ara resonder noEst tudo aqui entendeu Nestes #ivrosO

    ()O

    N@s somos as e$as inteis disostas no /adre+ de Ceus' e E#e nos rogramou ara

    errarmos ao sabor de suas

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Tentaram isso com Qo:ce tamb&m' os "i#!os da uta 6as e#e no se deu or vencido' e

    escreveu o innegans =ae mesmo estando cego Est tudo #' todas as #-nguas do mundo

    misturadas' a #inguagem do son!o deci"rada B reciso entender' & reciso entender E

    aque#es que se di+iam amigos do Qo:ce Xando de no

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    3s #u+es morrendo ante o mundo aberto' abrindo aragens escuras nesse abrir de#e'

    inocu#ando escurido nessa esgueira' meus o#!os "ec!am So e#es que esto escuros' no o

    mundo' o mundo est a-' a#to e c#aro' eu o escuto' o toco' sou tocado or e#e c!eiros e sons'

    me#odia 6as v%#o est se tornando cada ve+ mais di"-ci# Sombras' ve

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    8a#ma' vou escrever ro `ta#o e edir a#gum ara comermos sandu-c!es' #eia esta gina

    que acabei de escreverO

    (E#a #' arece ter gostado' o tom da vo+ muda)

    Qaimin!o' voc & um orquin!o su

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    "oda%se' mesmo assim escrevo' e & ara voc que o "a$o' a vista escurecendo como um

    ci#indro que se "ec!a aos oucos

    1c"uler est+ em seu escrit9rio, protegido da c"uva #ue castiga a cidade constantemente.

    Tenta 8untar as peas #ue o auiliem a decifrar o caso da putin"a retal"ada. 1egundo

    Donaldo l"e disse, o assassino peneirou a desgraada inteira, deiando intacto apenas seu

    rosto, nele nem um arran"o. 4inda teve a man"a de l"e a8eitar os ca%elos, acender velas,

    como se arrependesse-se do ato depois de feito. Tpico crime passional, pensa consigo,

    interrompido em seguida por algum #ue entra ata%al"oado em seu escrit9rio. )uem

    porra est+ a; 3eu nome

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    4 "ato (eming\a: co"ia os bigodes' os o#!os tristes' o#!ar de touro abatido' a#guns anos

    deois se daria um tiro no eito) recisamos nos ater aos "atos certoO

    *oc e sua mania de re@rterO (Stein traba#!a outra a+eitona com a #-ngua' uma boa

    c!uadora de bocetas & o que &' escrever que & bom' icas' coisa que nunca areciou

    muito)

    6as os "atos esto a- ara serem ana#isados' o#!a Qo:ce' o que voc "a+ de me#!orO (,aris

    no vero' bo#!as a+uis de gua iocam no ar quente .s margens do Sena)

    Eu escrevoO

    6as ento' nen!uma outra qua#idadeO (E+ra e#a rimeira ve+ abre a boca ara "a#ar' o

    !#ito de a#ic!e e a#!o)

    8omo assim' recisa maisO

    *e

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    (ertrude entorna um coo inteiro' ,icasso surge do nada' semre de au duro' ercebe o

    c#ima tenso e engata uma iadaF)

    Sabem' ontem o it+gera#d tomou todas comigo # na boate onde o 8ount Xasie anda se

    aresentandoO

    E a e#da dei/ouO

    E#a no "icou sabendo' mas o que eu quero di+er & que aque#e americano & doido' e#e "oi

    ra casa trocando as ernas' e eu decidi segui%#o de #onge' ara me certi"icar de que

    c!egaria bem Xem' c!egando na orta de casa' o uto (come$a a rir) o uto (ri mais a#to

    ainda) vocs sabem como o Scott "ica quando bebeO

    a#a #ogo ,ab#itoO (coro na mesa' s@ a risada do esan!o#

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    detal"e, a moa > e moa um modo de di7er > tava com o dedo arrancado, 8usto o onde

    se p?e aliana de compromisso' @ma puta casada presumo' em presumido c"efe, e "o8e

    em dia so tantas' $nto #uem a matou foi o marido, ou noivo, #uando desco%riu a

    verdade. ril"ante c"efe, %ril"ante' 4delante meu amigo, o caso est+ para ser

    solucionado... 3e passa os amendoins7in"os;

    4 neg@cio & o seguinteF tu tem que escrever a#go mais a#atve# ao mercado editoria#' a#go

    que venda' enquanto no conc#ui essa bendita obra%rimaO (`ta#o acaba de c!egar e

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    E a grana vem ridoO (Ernest' a

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    3que#e a#i Cesde que a gente c!egou e#e o#!a atravessado ra c' como se quisesse "a#ar

    com a#gu&mO

    ViO

    (6eus amigos' os ve

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Escrever na gina em branco & reescrever o son!o na #auda va+ia' & dar ritmo e coeso

    ara aqui#o que se en/erga quando os o#!os se abrem ao mundo' ou se "ec!am cansados .

    noite' tanto "a+ Car "orma ao mundo & o que quero di+er' intu-%#o sim' mas sob uma nova

    "orma' com um outro movimento 3 rea#idade & um

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    em que meu avK era demasiado aberto a e#e' enquanto que a mim coube a tare"a de esco#!er

    entre os dois um camin!o' mas' qua# de#es Aembro meu ai acordando de man! o

    desertador ressonando no quarto que seus o#!os assavam ridos em revista Ridos

    mesmo' uma "ra$o de segundos' s@ ara ver se tudo continuava resirando em seu devido

    #ugar' e si#enciosamente' assim como ontem' ou antes' de ontem' ou mesmo antes de

    anteontem tamb&m' o medo que tin!a de tudo ser revo#vido durante a noite era at&tico e

    absurdo Na mesma roor$o recordo meu avK so"rendo de insKnia matando o temo da

    noite . un!a escrevendo "rases descone/as e reescrevendo%as de "orma di"erente at& que a

    man! sangrasse suas

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    "atores' um romance recisa de um bom motivo ara ser escrito' seno' que no o se

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    virgem da #auda em branco Eu no consigo Wa"a conseguia 6as no ten!o essa

    imagina$o' no consigo e/trair do nada sua r@ria contradi$o' sim#esmente no osso

    8ara#!o' se e#o menos !ouvesse esco#!ido a 6adeira' devia ter seguido o conse#!o do meu

    ai' ta#ve+ agora conseguisse ensaiar um ta#!o' um sorriso riscado na madeira com meu

    "ormo a"iado' mas nem isso me sobrou E nem oderia me sobrar'

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    os gatos' segundo meu ai di+ia Guando eu era crian$a e#e no dei/ava nen!um gato se

    aro/imar de mim enquanto dormisse gatos sugam o ar e os son!os das crian$asO e#e

    di+ia' o tom

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    m@ve# e contagioso 3ntes de dormir' or&m' #embrou%se e' antes mesmo de Kr o ma$o e a

    c!ave sobre a cKmoda' entre os orta%retratos si#enciosos' "umou um cigarro

    ra+erosamente' encostando%se no araeito da

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    que quando os encontro' esto va+ias 8ebres escritores venderam a a#ma ao Ciabo ara

    serem ou arecerem originais No In"erno' ! um #ivro re#eto de nomes e datas secretas

    de aniversrio e morte' E#e no comra mais nen!uma a#ma' est com e/cesso de

    contingente' tentei vender a min!a quando ercebi que

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    decidiu no mais se mover' sentando%se em "rente . arede branca do quarto e e#egendo

    como inti# todo e qua#quer movimento No "a#ava' no ouvia' comia com di"icu#dade' no

    movia sequer os o#!os' "i/os que estavam no branco da arede e na msica do#orosa do

    remorso m !omem que decidiu morrer antes mesmo do cora$o decidir arar' que

    re"eriu o si#ncio . uma "e#icidade amargurada' consentida' e#e tamb&m' en"im' uma boa

    est@ria ara se escrever' e que e#a ossibi#idade de ta#ve+ eu vir a escrev%#a' no

    discorrerei aqui sobre os orqus de e#e ter "icado assim' no sen!or' no entregarei o

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    #embran$as uma "orma tota#mente origina# de contar a est@ria (!ist@ria) a que me rous

    Se este "ragmento "osse ub#icado' ou se este caderno de esbo$os ca-sse nas mos de a#gum

    #eitor curioso e "o#gado' e que or ventura tivesse tido acesso aos meus arquivos essoais'

    eu !umi#demente #!e ediria descu#as' so#icitando ainda que esquecesse tudo o que !avia

    #ido at& ento' a#egando se tratar aenas das vrias tentativas de se iniciar o to "amigerado

    romance Cesconsidere tudo meu amigo' orque tudo o que retendo di+er nada tem a ver

    com estas ginas iniciais Se eu "osse um !omem terrive#mente edante e crue#' oderia

    di+er que estes esbo$os so' na verdade' mensagens ci"radas e ortadoras de a#avras

    remonit@rias que' quando descobertas' reve#ariam a verdadeira inten$o da narrativa

    Neste caso' estaria con"erindo aos esbo$os um carter de s-ntese ve#ada' em que o #eitor' ao

    se debru$ar sobre e#es de "orma #dica e investigativa' oderia reso#ver a trama e arar a

    #eitura

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    de um oeta ernambucano

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    6as antes' ! um asecto a ser inserido^ a vo+ do verdadeiro narrador' que aarecer

    inicia#mente em rimeira essoa' #ogo o introdu+ir

    1

    4 que .s ve+es 384NTE8E 846I4F andando nas ruas' deois de escrever durante a

    tarde inteira' os o#!os doendo umas agu#!as "in-ssimas dentro' asso o "im da #tima arte

    do dia asseando sem rumo 8a#$adas acidentadas' escadas -ngremes re#etas de cascas de

    banana' sentindo arreios or todo o coro e com#etamente cansado' as #u+es do c&u sendo

    sugadas ara a garganta da "orca onde Ceus%Sdico aerta seu n@ de marin!eiro quando' de

    sbito' ou$o o te#e"one b#ico tocar Ningu&m na rua' e o que oderia ser um

    acontecimento bana# me enc!e de um terror momentHneo e sem recedentes 8omo disse

    antes e agora reitoF ningu&m a#&m de mim na rua' nem !omem nem mu#!er' cac!orro ou

    demKnio ou onto de t/i r@/imo ao ore#!o B quando me ocorre o seguinteF durante todo

    o temo em que estive en"iado nas ginas sobre as quais comecei a escrever a rande

    4bra que

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    estridente' eu a#i etri"icado' meu re"#e/o na o$a de urina de a#gum mam-"ero ma#%educado

    e incaa+ de eserar c!egar at& sua casa ara mi

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    2 4 *e#!o

    Era or detrs da madeira gasta da

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    como um bom "ado ortugus tocado em um vini# antigo' um "im de "ato a#co@#ico' e que

    aconteceu' re+a a #enda' no dia e/ato de meu nascimento' e . mesma !ora' o que #evou

    min!a me a acreditar' dada que era a tais coincidncias astro#@gicas' que a a#ma "resquin!a

    do morto !avia transmigrado ara meu coro Transmigrado' bonita a#avra' sonora 6as

    isto tamb&m ouco imorta' min!a me era #ouca de edra e assou os #timos vinte e seis

    anos de sua vida internada em um !os-cio b#ico' ena o escrevente do cart@rio no saber

    disso . &oca' o que me ouaria do ve/ame de ter um nome to omoso' to de deutado

    "edera#' mas o "ato & que eu estava a#i' deitado em um co#c!o mido e su

  • 8/13/2019 Escritos Reais Sobre Escritores Imaginrios

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    Aevantei si#encioso e c!eio de dedos' aesar de isando no c!o mo#!ado rodu+isse um

    ru-do seme#!ante ao de gotas ingando em uma torneira' um som met#ico de gua

    esati"ando%se na orce#ana da ia No inverno' morar aqui & quase um tormento' mas no

    temos ara aonde ir' ento 4 que nos resta & arender a nadar' nadar ara no morrer

    a"ogado 3inda mais essa E no se trata de uma comodidade' ve

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    um sortimento ainda maior de arceiros' a"ina#' no ! entre e#es nen!um tio de contro#e

    de nata#idade' ou nen!uma es&cie de o#-tica b#ica ara a reven$o de doen$as

    se/ua#mente transmiss-veis E # esto e#es' os roedores rivi#egiados' cou#ando de

    barriga c!eia o rabin!o sere#ee c!icoteando no ar um risco cin+a' deve ser a#egria esse

    ba#an$o todo' ratos no tem reocua$o com nada' seus mo#ares nunca aram de crescer e

    suas arceiras esto semre disostas e mo#!adas como utas ro"issionais Q viram

    "i#!otes de rato So !orrive#mente "e#i+es' equenos rotundos e verme#!os como cara#!os

    circuncidados ,odem observar' e#es esto or toda arte' ! nin!os e mais nin!os

    esa#!ados or a-' no m-nimo seis e no m/imo do+e ratin!os mimados or nin!o

    eserando mame%mo#!ada c!egar com a comida E o rato Q est em outra arte' em

    busca de novas arceiras' um mac!o #ivre e autntico comedor' com "i#!os esa#!ados or

    todos os cantos e o que & me#!or' sem a reocua$o de ter que cri%#os' ou de agar uma

    enso a#iment-cia 3!' como eu gostaria de ser um rato' um desses esquivos e

    ma#emo#entes desossados sortudos que andam or a- sem se reocuar com a cincia' com

    a arte' com o matrimKnio e muito menos com a vara de "am-#ia *agabundos autnticos'

    artistas errantes e verdadeiros at#etas do se/o e da nata$o E digo da nata$o orque

    acredito que o inverno & a esta$o re"erida de#es todos' e#o menos & a em que os ve

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    3qui onde moro no deveria nem ser c!amado de bairro B um gueto imundo onde nos

    amontoaram ara que morramos de "ome ou a"ogados' de ba#a ou #etosirose' no imorta

    4ntem encontrei um rato gordo dentro da disensa da co+in!a' e#e resirava rido' e outro

    anteontem e#a man! tirando um sono na ane#a de resso va+ia Semre va+ia' e este

    resirava #ento e sossegado' os o#!os bri#!ando um susto anima# como se me dissessemF

    voc me acordou' ora droga' esere um ouco at& que eu termine o son!o que comecei

    Entre o rato e eu' nen!uma di"eren$a e/istente naque#e instante 3mbos acuados' ambos

    sono#entos' ambos assustados' ambos #utando ara sobreviver S@ que naque#a !ora' era e#e

    ou eu' e "oi e#e' en"orcado entre meus dedos' a garganta esmagada' os o#!os sa#tando "ora

    com son!o e tudo ainda rememorando dentro de#es' reconstitu-do bem atrs de suas retinas

    Ceois "oi que aaguei as ve#as e vo#tei a dormir' a #u+ cortada ! uma semana' ainda bem

    que temos a #ua' e de gra$a' rodu+indo com suas #u+es brancas uma "antasmagoria de

    sombras na arede do quarto 4ntem' e#a me disse que no agentaria mais nen!um dia de

    "ome sequer' mas o que e#a quer que eu "a$a No sou Ceus' no sou nada' no sou nem

    mesmo a orcaria de um rato' as un!as arran!ando o a#um-nio da ane#a Ratos ainda

    reocuam o governo' a vigi#Hncia sanitria' sendo motivo de reuni;es em gabinetes

    "ec!ados' enquanto que n@s N@s ora merda' gente como n@s no & motivo de reocua$o

    a seu ningu&m' ningu&m mesmo' nem mesmo uma reunio+in!a sequer E#es querem mais &

    que a gente se vire' se "oda' sobreviva or um mi#agre' assim como e#a e/ige que eu me

    vire' me "oda' que "a$a or um mi#agre min!a "am-#ia sobreviver E isto era tudo o que eu

    recisava !o

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    movimento quase musica# dos u#m;es' como um so#o imrovisado sobre uma mesma nota'

    o movimento instintivo e invo#untrio que "a+ tocar suas coste#as umas nas outras' como

    #Hminas c#ar-ssimas rodu+indo um ru-do met#ico no ar E#a resira uma "#auta entuida de

    sa#iva' um gato doente ronronando no eito' um gato rouco' enquanto enso em meu Ceus

    como e#a est magra 3cima de n@s' o +inco do te#!ado estra#a com o vento "rio da man!

    #!e ercutindo No reciso saber as !oras' aman!eceu' sim#esmente ,ortanto ten!o

    que sair' ten!o que abrir a orta e sair' estou dentro do temo novamente

    *oc me tirou da casa de meus ais ara assar essa necessidade toda' e#a erguntou' e uma

    #tima "rase como esta & caa+ de "icar ecoando na cabe$a da gente or um bom temo'

    dois anos desemregado' dois anos No ! amor que resista . eretua$o de um

    descon"orto desses ,or isso' saio todas as man!s antes que acorde' e vo#to tarde' quando

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    engo#"ado em nuvens' um an

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    #embra de "u#ano 8#aro' su

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    das casas da 1o Peters%urgo entristecida. 4%aio de n9s, enterrados e es#uecidos,

    dormem os mortos da 3e 0*ssia, salivando sufocados com a terra negra dos pIntanos.

    /idade cemitrio, o #ue se di7 por a#ui. Podemos at ouvi-los gritar, suplicar, gemer,

    ac"ando #ue ningum os ouvir+, mas ele sim, ele capa7 de ouvir o tra#ue8o espin"oso de

    suas gargantas secas, c"eias de vermes, de terra, as narinas afogadas em lama, ra7es

    %rotando da fenda de suas vrte%ras, um %arul"o agudo-arrepiante como o de uma

    clepsidra #ue%rada no peito. $ so%re esse %arul"o incJmodo e terrivelmente audvel para

    ele #ue escreve, so%re essa agonia sem nome, suas palavras %rotaro para denunci+-los,

    o #ue pensa, a%rir-se-o todas as valas comuns, e os ossos saltaro como fraturas no solo

    negro, no ar uma infestao de odores doentes, eles no dormiro mais, nem n9s

    conseguiremos se#uer, um terror insone e fre#ente ser+ finalmente instaurado.

    6eus o#!os desbotam de sono Ce sono B' esto a+edos de insKnia No dormiu ontem .

    noite Cormir Nem sei mais ao certo o que & isto Sequer reguei os o#!os' observando a

    goteira que ingava no a#vo de uma bacia que us sobre min!a barriga esva+iada 6as

    orqu 3 doce me#anco#ia da insKnia' a g#@ria de no dormir 3#&m do mais' & um

    baru#!o irritante este de gotas ingando no #stico 3 bacia era de #stico Era ,ior se

    "osse uma ane#a de "erro' mas esta

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