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Universidade Federal de Pernambuco Disciplina: Sociologia Jurídica Gabriel Albuquerque Dantas da Silva 1º Exercício Imagem escolhida: “A ascensão do homem” O Conceito Atual de Sociedade é limitado por nossa soberba. A sociedade é tradicionalmente vista como um conjunto de pessoas, dividindo certas características que os unem em comunidade. Com a globalização a sociedade não é vista apenas sob uma perspectiva nacional, mas também mundial, porém sempre sob a ótica de que apenas os seres humanos fazem parte da sociedade.

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Trabalho de Sociologia de Direito Apresentado na Universidade Federal de Pernambuco, pelo Aluno Gabriel Albuquerque Dantas da Silva, no curso de Direito, para o Professor Arthur Stamford.

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Page 1: Imagem de Sociedade

Universidade Federal de Pernambuco

Disciplina: Sociologia Jurídica

Gabriel Albuquerque Dantas da Silva

1º Exercício

Imagem escolhida: “A ascensão do homem”

O Conceito Atual de Sociedade é limitado por nossa soberba.

A sociedade é tradicionalmente vista como um conjunto de pessoas,

dividindo certas características que os unem em comunidade. Com a

globalização a sociedade não é vista apenas sob uma perspectiva nacional,

mas também mundial, porém sempre sob a ótica de que apenas os seres

humanos fazem parte da sociedade.

O humanismo nos trouxe essa ilusão de que apenas nós podemos ser

agentes transformadores dos valores e papeis exercidos socialmente pelos

indivíduos, mas o humanismo também nos livrou da ilusão de que a moral é

divinamente revelada e os seres humanos são especiais entre as outras

criaturas. Imaginar que a sociedade só se faz presente pelo elemento humano

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é vaidoso como achar que o mundo foi criado para si. Porém, nos textos

examinados a sociedade é examinada como se fosse exclusivamente uma

experiência humana, formada apenas por indivíduos conscientes.

Desde que a teoria da evolução foi proposta por Darwin já se discutia a

ideia que a consciência não é um traço exclusivo do ser humano e a mente é

um mecanismo cerebral que varia em grau e não em gênero. Sendo assim,

onde traçamos a linha entre quem pode ou não ser parte da sociedade é

totalmente vinculada a um sentimento nobreza em ser humano.

No texto de Rodrigo G. Azevedo faz-se a distinção entre quem faz

parte da sociedade, ou não, pelo processo de socialização, ou seja,

implantação de valores e padrões de comportamentos que, segundo Durkheim,

tem a função de transmitir as normas e valores da sociedade para as gerações

seguintes. Ou seja, o autor aduz que é necessária a socialização das crianças

para que a partir daí façam parte da sociedade. Essa ideia apesar de

reducionista por implicar que recém-nascidos e pessoas com deficiências

mentais severas não fazem parte da sociedade, não é incompatível com a ideia

de que outros seres podem fazer parte da sociedade, uma vez que certos

animais podem ser “socializados” ao se transmitir valores e normas que são

compreendidas por um cérebro sem sofisticação para abstração, de forma mais

eficiente do que certas crianças humanas. Do mesmo modo, inteligências

artificiais, por mais primitivas que hoje sejam, podem ser programadas para

servir um propósito, absorvendo assim normas e valores independentes da

senciência.

Sendo assim é preciso traçar uma linha que defina os pré-requisitos

para ser considerado participante da sociedade. A razão parece ser um forte

candidato a ser o requisito básico da participação social, porém cai no mesmo

problema da Socialização como elemento diferenciador, ou seja, a capacidade

de tomar um caminho que não seja o instinto ou a emoção. A própria razão é

um elemento que é considerado um privilégio da espécie humana, mas é lógico

que ela não surgiu do nada, e assim sendo é compartilhada de forma reduzida

por nossos ancestrais e primos. A linha que traçamos também não pode ser

derivada de uma diferença genética, uma vez que não só tratamos pessoas de

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diferentes etnias como parte da sociedade (atualmente), mas como também é

cientificamente comprovado que o homo sapiens conviveu com o homo

neanderthalensis, inclusive gerando descendentes híbridos. Além disso, caso

outros animais pudessem verbalizar e possuíssem um nível comparável de

inteligência ou uma raça alienígena pousasse na terra, teríamos dificuldade em

dizer que eles não fariam parte da sociedade. A linha da participação na

sociedade então deve ser aberta a todos os seres capazes de ser agentes

transformadores e sujeitos transformados pela sociedade, por meio de valores

e comportamentos.

No texto de Rodrigo G. Azevedo ainda se discute os conceitos de

organização e estrutura social. Organização social seria o arranjo das partes

constitutivas de determinada sociedade, incluindo assim, a organização de

posições sociais como classe, status e papel. Estrutura social é a articulação

das diversas organizações. Novamente tal conceito parece se encaixar com a

ideia de que outros seres fazem parte da sociedade, uma vez que existe uma

clara determinação de papeis e classes entre homens e outros seres. O

exemplo mais familiar seria a relação entre os seres humanos e os cães, em

que são trocados papéis como guarda, companheiro ou caçador para um e de

chefe da matilha para o outro, mesmo de forma não intencional. As

inteligências artificiais começam a surgir como novos agentes sociais nesse

momento, uma vez que a tecnologia automatizada chegou ao ponto de assumir

papeis que vão desde dirigir um carro até mesmo investir em ações e compor

músicas.

Porém é claro que as relações entre seres humanos possuem um valor

e significado muito mais evidente que com outros seres vivos ou inteligências

artificiais. A importância é tão maior que criamos diversas ciências para

analisar os comportamentos e valores humanos. Além disso, uma vez que o

controle dos outros animais e das I.A. são facilmente alcançados e esses

agentes são incapazes de compreender conceitos sofisticados, o controle

social desses participantes prescindem do Direito, apesar de influenciarem o

mesmo.

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Assim sendo o Direito é uma relação exclusivamente humana, os

outros agentes sociais não possuem a capacidade de serem sujeitos de direito

por um simples fato de serem incapazes de participar desse aspecto social.

Uma vez que o Direito é um aspecto exclusivamente humano, será analisado

apenas por esse viés.

O Direito e a Sociedade

Assim como Dennis Lloyd no texto a Ideia de Lei a primeiro

questionamento a ser feito é se a lei é necessária. O questionamento que vem

é qual a finalidade da Lei. A humanidade sobreviveu milênios sem instituições

jurídicas e apesar das diversas dificuldades que decorriam de uma vida

primitiva as sociedades funcionavam, os comportamentos podiam ser

controlados à força ou com base afetivas e tradicionais. A Lei como controle de

comportamento só parece ser necessária a partir do momento em que as

comunidades se tornaram grande demais para controlar por meio de métodos

simples. A pergunta correta então é se o homem necessita de controle social.

Se o fim da vida em sociedade é possuir uma vida mais agradável, então o

controle social é necessário para limitar as ações negativas para a existência

dessa vida “boa”.

Nesse ponto, Dennis Lloyd ressuscita a discussão inócua sobre a

natureza do homem, ou seja, se o homem é bom por natureza ou mal por

natureza. De um lado temos o bom selvagem de Rousseau que afirmava,

apesar de ser a favor de um estado com base na vontade geral, que o homem

era racional por natureza e por isso se não fosse contaminado por um estado

corrupto seria mais moral em seu estado de natureza. Do outro temos Hobbes,

que enxergava o homem como um autômato egoísta, que se coloca sempre

antes da sociedade, se sacrificando apenas para um ganho mediato. Hobbes

venceu esse argumento, mas dizer que o homem é mal por natureza é

simplista, uma vez que a maldade e a bondade é fortemente relativo ao

momento histórico. Possuir escravos, por exemplo, não foi considerado como

algo imoral durante séculos.

O Direito, porém, se distancia de outras formas de controle social, uma

vez que tem uma aceitação pela maior parte da sociedade no uso da força para

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controlar os transgressores. A força utilizada pelo Estado de Direito é em si

imoral uma vez que é um mal infligido a um cidadão, mas é eficiente não só

porque assusta a sociedade, mas também porque essa força é vista como um

justo castigo, vez que é sistematizada e obedece à diretrizes, o que aumenta

consideravelmente a sua aceitação pelos subordinados.

O Direito de exigir obediência de outras pessoas que deriva dessa

força e o que chamamos de autoridade. Porém, não é só por meio do termor

reverencial que surge o poder dar ordens que são obrigatoriamente cumpridas,

mas como visto no texto, surge também de um dever moral assumido pela

sociedade de obedecer tais pessoas.

Para Max Webber o carisma dá legitimidade ao controle social e a

autoridade pode nascer dessa sensação de que o interlocutor não pode estar

enganado. Também aponta o controle social por meio do domínio tradicional,

ou seja, pelas tradições criadas pelas pessoas carismáticas e domínio legal

que ao contrário das tradições possuem fundamentos institucionais.

É interessante observar que o direito não é só ferramenta de coerção,

mas também cria normas morais e aos poucos molda a sociedade além do

simples cumprimento da lei. Sendo assim não só uma forma da sociedade se

autorregular como de mudar suas bases.