Imagem da Chuva

David Vieira

Um barco no porto Embarco no ponto

Na fruta do ver-o-peso

no peso da minha luta

Há uma foto do meu passado

Filmada no meu presente

Sou menino de rua Menina da rua

Eu no teu olhar eu vi asas

E nas tuas asas olho a cidade

Uma janela para a rua

Tua rua nosso rio

Uma avenida para nós dois

Duas aves em busca de ninho

Uma baia guajará E uma praia barca arena

Uma rua e um veículo E um beijo guardado

no tempo

Um universo e uma cidade

Um momento e eternidade

Um rio na cumplicidade E um mar caudaloso

de nós dois

Um arranha céu na chuva

Um desejo de arranhar tua pele

Uma praça e uma fruta Todo segredo

no sabor da boca

O vento da tarde na orla E na varanda

o banco balança

O rio é tanto mar infinito Tal qual

essa espera

Nenhuma ponte me leva Sou apenas um voltar

constante

Não tenho porto de chegada

Estou na ilha de mim mesmo

Sou o sabor da tarde De uma Belém que não se vai

Faço poesia embaixo da mangueira Que caiu

E leio no meu livro, a página que nunca escrevi.