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SÉRIE POESIS CARISSIMI[1] [12/2012] Tenho Saudades Saudades eu tenho [Primeiro] João Carissimi [P ORTO A LEGRE /RS/B RASIL ]

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Apresentação. Saudades eu tenho....... Tenho saudades........[Primeiro] - Poesis - poesia. O primeiro da Série Poesis Carissimi, provoca um olhar de todas as travessias habitadas e vividas que agora reveladas da memória – de uma história vivida -durante a travessia, entre o bem para o mal e, do mal para o bem – descoberto e proveitoso e, hoje partilhado. Tenho Saudades. Saudades eu tenho.Primeiro, vamos atravessar ? João Carissimi

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SÉRIE POESIS CARISSIMI[1]

[12/2012]

Tenho Saudades Saudades eu tenho

[Primeiro]

João Carissimi

[ P O R T O A L E G R E / R S / B R A S I L ]

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Sumário

Cuidado com as formigas..............................4

Saudades eu tenho do que é natural...............5

The end, Brazil...............................................8

Indo e Maria.................................................11

Por um fio, Cecília Meireles........................15

Ninho...........................................................16

Enclausurado...............................................17

Ouriço / Riccio............................................18

Apresentação

Saudades eu tenho.......

Tenho saudades........

[Primeiro]

- Poesis - poesia.

O primeiro da Série Poesis

Carissimi, provoca um olhar

de todas as travessias

habitadas e vividas que

agora reveladas da memória

– de uma história vivida -

durante a travessia, entre o

bem para o mal e, do mal

para o bem – descoberto e

proveitoso e, hoje

partilhado.

Tenho Saudades

Saudades eu tenho

Primeiro,

vamos atravessar ?

João Carissimi

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Série Poesis Carissimi [1] Tenho saudades Saudades eu tenho [Primeiro]

Autor:

João Carissimi relações-públicas, conrerprs n. 969, e-mail: [email protected] Textos e fotos: João Carissimi Porto Alegre, 8 dezembro de 2012.

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Cuidado com as formigas

Ano (2011) fez dias de frio intenso em Itajaí.

Há 10 anos não experimentava

a sensação da colcha de plumas de ganso. As formigas, onde estão?

O telefone mudo, há 15 dias não toca. Está mudo faz tempo! Mas, as formigas, estão onde?

Percebi que algumas estão na pia, em trilhas pelos azulejos,

são muitas, muitas e pequeninas, algumas formiguinhas se perdem e ralo abaixo vão para o mar.

Outras encontro no pão, nas migalhas – para o lixo orgânico.

Resolvi, não sei por que tentar entender o silêncio do telefone. Ao levantar, uma surpresa: Quantas?

Milhares de formigas – onde elas estão? Aqui. No calor do telefone é um formigueiro...

Chocado, assustado, de imediato resolvi colocar o aparelho e o suporte

na geladeira. Correndo vou buscar a máquina fotográfica e faço vários registros,

As formigas em movimento, espraiam-se pela prateleira da geladeira.

Desesperadas pela mudança radical do clima, todas – todas as formigas, em um movimento frenético,

tentam saber: O que aconteceu? Mas, João, quer chegar aonde? Diz o dito popular: “Formigas em casa é

sinal de mudança”. Mudança? Sim! Ao tomar café na Padoka,

pergunto a Luciana: – Lu, o quer dizer formigas em casa? – Mudança... Mudança de casa, mudança de emprego...

Isso aconteceu, fui demitido após três meses. Há oito meses mudei de Estado, cidade, apartamento e instituição. Agora, em Porto Alegre, novamente,

encontro formigas no apartamento. Qual será a mudança?

João Carissimi

14 de maio de 2012

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Saudades eu tenho do que é natural De sexo, eu tenho saudades Sexo hoje só se for com camisinha Beijo só se for com proteção

Abraço sem tocar as mãos Aperto de mão somente se for com luvas De preferência na cor branca Ar-condicionado, em casa, no carro, na igreja, Na sala de aula, no jardim de inverno Pois o calor em Santa Catarina [Itajaí] É o próprio inferno

Flores, para “mortos” As que não morrem Somente perdem a cor, desbotam Tenho saudades do natural, De brinquedos feitos artesanalmente Mas ele já está há mais de 18 horas jogando videogame E/ou em um chat com

Um “pedófilo” do bairro Fazenda. Enquanto ele janta sozinho, Ela não desgruda da cena da novela Onde a amante trai sua melhor amiga. Logo estará pensando em fazer a sua vigésima plástica. Na parede, um quadro que retrata o nada Ela pintou o vazio contemporâneo Um quadro na sala de 30 cm2 “tela preto”

E isto é arte, foi premiado no concurso Organizado pela Fundação Cultural de Itajaí O direito de espaço na casa da Maria É respeitado, cada filho tem o seu quarto Sua TV plasma, seu computador, seu Aviso: “Antes de entrar, bata”. Ou prefiro ficar só

Filhos “adotados” são resultado de vários casamentos, Talvez cinco ou seis. No entanto, o álbum de fotografia virtual Não comporta todas as relações, Cabeças foram cortadas São filhos sem a presença de seus pais E os símbolos “religiosos” agora no governo Lula estão proibidos Todos ficam em caixas – no porão, acompanhados de traças.

Tenho saudades do natural Bom-dia! Boa-tarde, senhor! Como vai? Não tem mais tempo para isso – isso se chama “mercado” Isso se chama “sobrevivência” e, se for preciso Matar o pai, sequestrar a mãe, ofender os filhos, Falar mal da ex, por exemplo, se for preciso A lei da “sobrevivência” dirá SIM.

Tenho saudades do natural, ao preparar o jantar Com a “nona” ou com a mãe,

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O capeletti, o tortei, com garfo apertava Que terapia familiar, não se precisava de Psicólogos, profetas, padres, videntes... Eram longos os bate-papos sobre a vida, Sobre a essência do viver, da dor, do prazer

– não tinha o twitter que limita em até x caracteres. Hoje tudo é tão rápido Três minutos para se comer Três minutos para falar com você Três minutos para se defender uma tese Três minutos não posso saborear Muito menos sentir o gosto, o cheiro

Três minutos não posso questionar Três minutos não dá para dizer “que não sei nada” sobre A natureza humana O tempo, o tempo me foi roubado Até as plantas da sacada são artificiais É o artificial em tudo Tenho saudades do natural

O sorriso da foto postado no facebook É artificial, e o que dizer Da foto no iogurte, azedou. Sei lá o.k... OK! É a modernidade. OK! É o progresso, OK! é o excesso de dados. OK! É a inclusão, e ao mesmo tempo a exclusão. OK! É a minha visão de vida.

E tenho saudade de quando o homem era humano E o cachorro, apenas um cachorro Só isso. Agora tudo é descartável Tudo se joga fora, Para quem quer iniciar um negócio, ser empreendedor Entre no negócio do descartável que o lucro será certo.

Parece que tudo é lixo, serviços descartáveis, Produtos descartáveis, humanos descartáveis. Até a fé é descartável, você já percebeu? Cada mês eu frequento, acredito e rezo Para o mesmo “Deus” Que virou um negócio. Hoje, muitos são proprietários, sócios e franqueadores Da tua palavra

Confesso que não tenho saudade do laissez-faire Que hoje permite que empresas, governos, organizações da sociedade civil organizada Possam mentir, manipular, sonegar dados e informações Em seus “balanços sociais” Ah, irresponsabilidade socioambiental! Tudo em nome do mercado

Não tenho saudade do tempo da “Guerra Fria” Mas hoje “a guerra está quente”, talvez mais transparente,

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Ceifa vidas antes da sua concepção, E joga milhares de corpos em uma vala Então, não percebemos a diferença entre ontem e hoje, Pois a morte é lenta, talvez na ignorância Morte pela vaidade, morte pela inveja

Morte sem pressa (cigarro, o álcool), A morte em segundos – todas as drogas em uma mão. E agora eu tenho saudades do corpo limpo Tenho saudades da fé, que não pede “esmola”, muito menos moedas. Tenho saudades do ensino, da sala de aula, de alguns professores Que não fizeram o pacto da mediocridade. Tenho saudade da família reunida, a escutar os mais idosos

E, aprender que cada cicatriz, aranhão, sequela São lições de vida. Tenho saudade da presença do Estado-público E não do Estado-privado. Tenho saudade do “leite” da vaca Nas manhãs de outono, Do alimento sem uso de agrotóxicos,

Do remédio caseiro, Do cheiro da grama, que está no pátio do vizinho, Ou do esterco em que acabo de pisar. Tenho saudades das estrelas, No domingo contava, e sonhava na segunda Do sol que a qualquer hora ou lugar podia “tomar banho” sem me preocupar com a indústria da beleza. Tenho saudades de pegar a laranja

E ficar ali sentado sob a árvore abrindo lentamente seus gomos Enquanto outros animais podiam comer as sobras. Na verdade, tenho saudades Do barulho da chuva que percorria as calhas da minha casa Ou das goteiras que caíam sobre a colcha de malha. Tenho saudades da verdade

que não é relativizada. Tenho saudades do amor incondicional, Tenho saudade da lealdade, Depois de ser fiel, Tenho saudades De ser “Internacional”.

Porto Alegre, 2006.

João Carissimi Itajaí, 2 de março de 2010

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The end, Brazil

Que país é este? Que faz silenciar os sinos. Enquanto cantos de louvores “humilham” os

vizinhos. Que país é este?

Farto de meninos, mão de obra barata que produz a riqueza da China.

Que país é este? Seu povo é escravo de todo o tipo de droga,

da cachaça a coca-cola,

a bola que rola no campeonato faz mais vítimas que no Vietnã.

Que país é este? De gente caçada nas ruas, calçadas, estacionamentos, shoppings,

nos becos, vielas, avenidas, escolas, aeroportos, cinemas

e animais em extinção

caçadores premiados em excursões.

Que país é este? Que percorre em alta velocidade

produz um carro por minuto e nas estradas mata, mata,

a cada segundo vidas ceifadas

vidas interrompidas famílias desunidas jovens inocentes

pagam por suas vidas na velocidade não permitida.

Que país é este? Que dorme abraçado à mentira

e acorda dizendo “Bom dia, Brasil” com fortes gargalhadas durante o dia fez todas as maldades

que já faz parte da vida de homens e mulheres de mulheres e homens.

Que país é este? Da impunidade

suas crianças, educadas,

neste país que se diz por séculos sendo do futuro crianças crescem “estado burro”.

Que país é este? Que se sustenta sob falsas promessas

todos argumentos são mentiras não passa de um país de idiotas

que diante de câmeras

afirma que se distribui a riqueza

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enquanto isso a miséria a pobreza

condena milhões de brasileiros e brasileiras a fazer parte da miséria humana

que nunca acaba

e já faz mais de 500 anos que se produz banana

mas são poucos que podem dizer que essa nação os respeita e os ama.

Que país é este? De gigantes nacionais globalizados

de gente irracional

políticos, policiais, torcedores, credores, artistas, juízes, padres, pastores, vereadores...

gangues, quadrilhas competentes em seus ofícios

viva o extermínio de brasileiros em cada esquina uma vela se apaga

e na mesa farta

dos estrangeiros a luz é o esplendor da riqueza.

Que país é este? Que dorme calado diante das barbáries

das tragédias que enriquecem empresários, políticos, corruptos da impunidade, que alimenta esses vermes

que exporta seus talentos e importa celebridades.

Que país é este? Cheio de história

mas de curta memória que trouxe e mantém “a escoria” nacional

a cantar o Hino Nacional e a venerar seus heróis.

Que país é este? Que canta a sua miséria

e não chora por suas matas que extermina suas mães “Ó Pátria Amada Gentil”.

Que país é este? Que não faz uma guerra civil

que procura assistir a tudo calado

todos os seus desmandos por governados e governantes onde o povo sangra calado.

Que país é este? Que prefere a dor negociada “lobby”

a cicatriz, a bala perdida, a veia aberta, o sequestro, as drogas,

a prostituição de menores, a falta de educação,

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a péssima saúde, a falta de pão e vinho.

Que país é este, senhor? Que esconde os seus podres

nas gomas das bolas que rolam

segunda, quarta, quinta, sábado, domingo. Que país é este?

Que falta tudo tem falta de tudo onde o circo cabe na palma da mão.

Que país é este? Que por anos o seu coração sangra,

sangra, e falta... e o excesso de corrupção

mata seus filhos seja na maca, na grama, no corredor do hospital

ou no ponto de táxi no metrô da capital.

Que país é este? Por que o seu coração parou de bater faz tempo?

The end, Brazil. Que país é este?

Especial, exponencial internacional, gigante,

adormecido e que tem várias nações como

amante. Que país é este?

Que promove a infelicidade e não cuida da sua sustentabilidade.

Que país é este? Que de norte a sul

tem o corpo “despido” o rosto de botox

e bombeado não por natureza

que se escreve Brazil no Twitter.

Que país é este? Que incentiva a desordem

e se diz vivemos em pleno progresso

olhe a Petrobras. BNDES Que país é este?

Enquanto isso eu engesso

o meu cadáver.

João Carissimi Itajaí, 6 de abril de 2011

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INDO e MARIA

Tenho saudades Do pai e da mãe. Tenho saudades, “Laurindo”

Enquanto a minha vida vai indo Com saudades, pai. Tenho saudades, “Maria”, Do tempo que passávamos sentados na escadaria Ou embaixo do pé de cinamomo E durante a conversa olhávamos as pessoas Que pela Avenida Rio Branco, depois Valdomiro Bochesse,

Passavam, nos faziam sinal de saudação. Enquanto isso, você fazia aquelas capas Para o “suga mão” – tudo em tricô, Tudo artesanal, você artista, escolhia as cores, Combinava os desenhos E os pequenos pontos Tornava-se uma obra de arte, Maria.

Muitas toalhas de rosto eu usei, Até algumas eu levei comigo E no domingo, a TV ligada, A todo volume, ainda lembro As músicas gauchescas Na rádio tocavam. Já são oito horas, Fogão a lenha, a toda brasa,

Sinto o cheiro de café E, o meu pai dizia, Vai ver o que tem aquele guri que ainda não acordou! Dona Maria ria... e resmungava baixinho... Ele ficou até tarde assistindo TV – deixa ele dormir mais... Ele estuda e trabalha... Ela sabia que nas noites de sábados ficávamos a dialogar sobre a minha vida.

O trabalho, a facu... Ele, o Indo, após o Jornal Nacional, ia dormir Enquanto isso, nós, na cozinha, com fogão a lenha apagado, Ou quase, pois o meu pai não queria queimar mais lenha, E como ele já estava quente debaixo dos cobertores, e acha que também deveríamos fazer o mesmo. Assim gastávamos menos lenha e no dia seguinte cedo já estaríamos de pé...

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Nessas noites preparávamos o almoço do dia seguinte, Minha mãe fazia tudo, quase nada se comprava. Era o capelleti, o tortei – tudo comida tradicional italiana, Que talvez hoje não se encontre – tudo está industrializado. E aos poucos “estrucava” com garfo os tortei,

E os capelleti dobrávamos, ficavam perfeitos. Verdadeiros chapéus. Tudo era feito um a um. Neste instante a TV desligada e o rádio “mudo”, Assim podíamos ouvir as nossas preces. Enquanto o diálogo acontecia Mãos abertas, farinha na mesa, pasta “massa”, Os temperos, a “moranga”...

Saudades tenho. Obrigado, mãe, pelos momentos de prazer que toda Comida proporciona, sei que muitas vezes não era farta, Mas tinha pés e coxas de galinha, radite, pão escuro Peixe, uvas, ovos, polenta, arroz, biscoitos, queijo, leite, milho, chuchu, ervilha. Nada em lata, tudo natural, que terapia era abrir a vagem da ervilha,

E sentir o cheiro da terra... Alimentos de nossa vida – escuros, no passado, comida de pobre, que hoje é comida de rico. Saudades eu tenho. pai, Do teu sorriso, da tua paciência, calma, tranquilidade Nunca te vi brigar com alguém. Você foi feliz... Lembra quando te entregava os papaia

Que eu trazia de ônibus na mochila, Comprados no mercado público de Porto Alegre? Você dizia: “Estes mãos papaias são os melhores do mundo”. Eu nem sabia de onde eles vinham, sei que de uma Ceasa, só isso. Tenho saudade de quando eu chegava, Era aquele abraço forte da mãe, beijos... O Pai, como italiano, um forte aperto de mão, bom-dia, ou boa-tarde

Chegava ao sábado... Tenho saudade da minha “italiana mãe”, Tenho saudade do meu “italiano pai”, Laurindo e Maria, A partida, aos domingos, De Antônio Prado para Caxias do Sul, e depois para Porto Alegre, sempre foi cruel para mim. Uma despedida, muitas vezes com lágrimas “escondidas”.

Eram assim, no final de semana, todos os feriados, e Minhas férias, encontros e despedidas. Mas, talvez, posso afirmar que tínhamos mais encontros E assim, 35 anos se passaram E Deus nos permitiu vivenciar todos esses dias De glória e louvor à vida Tenho saudades, mãe, de olhar para trás e ver

Você na janela do teu quarto acenar E sei que a porta do teu coração estava em um movimento constante

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Abre e fecha, fecha e abre. E muitas lágrimas tenho certeza Que os nove vidros você fez lavar Tenho saudade, pai, de quando você me Acompanhava até a rodoviária, que percorríamos em silêncio,

Às vezes em pequenos bate-papos sobre quando iria voltar, O que eu iria fazer na semana, Ou, ainda, para você olhar com atenção para Dona Maria, Pois sabia o quanto você a amava, Sempre me dizia que queria partir antes, mas O destino não o fez. Nesses dez minutos, muitas saudações, apertos de mão de amigos,

E passava pela praça central de Antônio Prado, olhava para Igreja da Matriz, e neste momento Tive várias vezes dúvida se devia partir ou voltar Para casa Já estava no ônibus, empresa São Luiz, depois Caxiense, tudo se vende neste país, Que falta de tradição.

Na mochila, algumas vezes a roupa lavada e passada Sim, eu morava em pensão, Ou dividia apartamento ou casa E foram muito importantes todas as pessoas Que convivi nesses ambientes, Aprendi, compartilhei minha cultura, crenças e valores, Recebi abraços e beijos, no início de estranhos, Mas com o tempo se tornavam familiares,

E com eles almoçava como convidado, às vezes o único pensionista. Obrigado, mãe, o pão foi importante para carne Minha comida da semana Feito de farinha comum, a mais escura, a mais barata Que me deu saúde, hoje e comida de rico. Isso eu posso dizer, obrigado, mãe,

Pela comida da natureza, pelo agrião, farto e barato na mesa Pelo biscoito duro, o arroz quebrado escuro, O radite com ovo, a polenta (muito milho), O açúcar mascavo Tudo isso e muito mais foi saudável, isso Antes de 1996, e hoje só se assiste a reportagens sobre “ração humana”. Obrigado, pai e mãe,

Pelo incentivo, por aceitar e compreender os meus desafios E comigo ter caminhado pela estrada da educação Que, muitas vezes, por um fio, Eu queria desistir E tive de provar, suportar tentações Até dos professores, que duvidavam da minha capacidade. Sim, era pobre – estudava sempre na turma “C”

Na turma dos repetentes – e falam hoje de inclusão. Nem por isso desisti ou me tornei um marginal,

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Fui ficando mais forte e corajoso E enfrentei tudo, Pois, lá em casa não tinha biblioteca. Meu pai, pai presente, e daí se era analfabeto, Minha mãe, doente, costureira de mão cheia,

Fez várias camisas para mim. Tinha o primeiro completo Eu posso afirmar que foram os meus primeiros professores na “escola da vida”, hoje tudo é culpa do professor enquanto os pais estão ausentes, ou negligenciando seu papel de educador pai, educadora mãe. Obrigado, Laurindo.

Obrigado, Maria. Tenho saudades. Às vezes, a falta me faz sentir um vazio, Me dá uma angústia, Um frio. E toda vez que preciso, rezo, clamo por vocês. Agradeço, e tenho a certeza neste exato momento

Que sou mordido por uma minúscula formiga Enquanto escrevo Que a dor me traz as tuas presenças, Que estão vivos. Tenho saudades, Indo e Maria, Laurindo, Maria e João Vamos construindo nossos destinos. E até aos 35 anos pude compartilhar

O amor em todas as fases Na sua plenitude e no Encantamento dos teus sorrisos E do silêncio do quarto ao lado Ou dos murmúrios de amor Que eu escutava Sabia que o amor neste momento

Estava tão presente entre vocês. Tenho saudade do lar. Obrigado por me aceitar, Laurindo e Maria.

João Carissimi

Itajaí, 3 de março de 2010, às 03h30min.

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Por um fio, Cecília Meireles

Sem que se mova um pé. Por um fio, o retrovisor da Kombi no meio fio, obriga a dar uma ré.

A revista da cultura sustenta Cecília de bolso

e, na sacola plástica duas bergamotas.

É, segunda-feira, esquina João Pessoa - Venâncio Aires. Por um fio, Cecília Meireles,

no meio fio, quase vai ao chão.

Por um fio, - Cecília! Não iria dar os ares

agora à tarde, na Redenção.

João Carissimi

Porto Alegre,17 de maio de 2012

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Ninho

O ninho acolhe o meu hino todo sto. dia vigia meus inimigos Há tanta coisa mais linda no Parque da Redenção

Nada é igual - o ninho Aquece o meu coração

João Carissimi Porto Alegre, 6 de junho de 2012

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Enclausurado

Tenho medo de bandido

e, de corruptos. Vivo enclausurado

Itaparica é meu porto seguro.

Tenho medo e, vivo nesse abrigo.

O inimigo me assusta - não quero ser seqüestrado,

a justiça é desonesta. Eu vivo trancado,

acuado e no escuro. Por muitos sou procurado

e, sou cassado. Tenho medo.

E já fui assaltado, no passado,

em Porto Alegre.

João Carissimi

Porto Alegre, 20 de julho de 2012

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Ouriço / Riccio Ouriço / minha primeira vez / era il mio compleanno / ero a

Porto Seguro nos arrecifes / Riccio / Ouriço / Tacco di piede / por isso da paura / Che riccio venoso

La secconda volta / recifes de Barra São Miguel – Alagoas Il nostro ouriço Mettere in mano / Che rischio

Oi - Ciao / Riccio luminoso / Ricco Ouriço

João Carissimi

Porto Alegre, 22 de julho de 2012