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1 Suely de Almeida Holanda Ilustração: Adailton da Silva

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Suely de Almeida Holanda

Ilustração: Adailton da Silva

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Há algum tempo atrás, vivia na floresta uma linda jovem com o nome de

Clara. Ela possuía poderes de fada. Todos os dias, ela voava sobre os arredores do

ambiente para garantir que tudo estava perfeito. Ao notar qualquer problema na

floresta, acenava suas mãozinhas de fada e tudo se fazia novo. Assim, permanecia

cada dia mais lindo, perfeito. Além de Clara, outros moradores também

compartilhavam daquele paraíso. A fada estava muito feliz, todos a amavam e ela

correspondia sendo amiga e ajudando a quem precisasse.

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Um dia, a jovem acordou e pela primeira vez sentiu-se sozinha, achou que

precisava de um amor. Um amor verdadeiro capaz de enfrentar qualquer barreira.

Um amor assim de um homem e uma mulher. Certo dia, Clara se lembrou do que

sua mãe havia lhe dito antes de morrer:

- Minha filha você possui poderes de fada, se um dia você se apaixonar,

perderá seus poderes. E se isso acontecer você se tornará uma mulher comum.

Se você precisar, pode procurar a família do meu irmão Onofre que mora

alguns quilômetros daqui, suas filhas poderão ajudar. Você sabe onde encontrá-las.

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A fada resistiu alguns dias, mas aqueles desejos permaneceram. Não

suportando mais, Clara despediu-se de todos e foi embora. Voou por vários dias até

encontrar um vilarejo onde morava Ana, filha mais nova de seu tio Onofre.

A moça foi recebida com uma grande festa. Durante a festa, Clara

conheceu um rapaz bem divertido chamado Renan. Os dois conversaram e se

tornaram amigos. Dançaram até a festa acabar.

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Uma semana depois, Clara já pensava na possibilidade daquela amizade

se tornar um grande amor. Porém, em uma bela tarde, Renan chegou à casa de

Ana. Para a surpresa de Clara, ele estava acompanhado de uma moça que dissera

ser sua noiva. Eles cumprimentaram a todos, inclusive Clara, que ficou sem jeito e

envergonhada com aquela situação. Desculpou-se e foi para o quarto.

No dia seguinte, Clara continuou sua procura, triste porque nada de novo

aconteceu em sua vida. Assim, ela seguiu seu caminho.

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Voou um dia e uma noite, até encontrar um lugar bem próximo de um riacho.

O nome do lugar era Ribelo, por causa da sua grande beleza. Clara meditou alguns

minutos olhando o ambiente amável e acolhedor. Refletiu no horizonte, dourado do

sol intenso e brilhante. Naquele momento, ela desejou muito que seu sonho

acontecesse ali, porque era a cidadezinha de que sua mãe lhe falou. Procurou por

algum tempo e encontrou a casa de Marta, irmã de Ana. Bateu à porta e ela

atendeu, espantada. Durou certo tempo para que Marta reconhecesse a fada, mas,

quando a reconheceu, seu coração encheu-se de alegria. Marta não esperava a

visita de uma mulher tão poderosa e querida.

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Clara fez questão de dizer que estava à procura de um amor. Ser fada não a

fazia mais feliz. Ela nem gostava de tocar no assunto. Então Marta prometeu ajudá-

la.

Ela explicou que em Ribelo tinha poucos rapazes... Então lembrou de

Fernando, o filho de dona Marly, uma senhora bem velhinha e muito bondosa.

- Ele é um moço muito educado, quem sabe? Mas quero te alertar que o amor

acontece naturalmente, às vezes chega no momento em que não esperamos.

.

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Na mesma tarde, Clara foi apresentada a Fernando, um rapaz simpático,

alegre e bastante interessante. Como já era de se esperar, surgiu daí uma grande

amizade. Fernando passou a frequentar a casa de Marta. Ele parecia solitário,

carente. O amor construía-se lentamente. Mas em uma simples conversa o rapaz

confessou que jamais pretendia casar-se porque cuidar de sua mãe era apenas o

propósito de sua vida. Clara ficou decepcionada, não esperava essa atitude. Sofreu,

chorou e saiu novamente em busca de seu sonho.

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Desta vez, Clara estava muito fragilizada, seus poderes estavam diminuindo.

O desgaste emocional, o envolvimento com as pessoas e a insistência na busca do

amor prejudicaram seus poderes. A fada demorou dias voando devagar... Parando

aqui e ali. O sofrimento era muito grande.

Depois de algumas semanas, ela finalmente encontrou-se com Alice, irmã de

Ana e Marta. Alice morava em uma cidadezinha bem simples, limpinha.

Os moradores da cidade eram aparentemente felizes. Clara contou a Alice o que

procurava. Alice pensou por alguns minutos, passou a mão na testa e falou:

- Eu trabalho em uma fábrica de cotonetes. Amanhã posso levar você lá, quem

sabe você conhece alguém.

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Ao chegar à fábrica, a fada assustou-se com a quantidade de homens que

trabalhavam com Alice. Ela conheceu e simpatizou com todos os rapazes, mas foi

de Alex que Clara mais gostou. Alice percebeu e permaneceu quieta, pois sabia

que Clara precisava ser uma mulher capaz de viver em um mundo sem magia. Era

isso que ela queria.

Alex era um homem lindo, sedutor e atraente. Ele era daqueles homens

maravilhosos do tipo que toda mulher gosta e que muitos homens invejam. O

coração de Clara saltitava de alegria. Certa de que finalmente tinha encontrado o

homem de sua vida, a fada saia todas as tardes para encontrar-se com o rapaz.

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A jovem finalmente envolvera-se emocionalmente. Três meses depois,

Alice perguntou Clara se Alex dissera alguma coisa sobre o futuro, se esse amor

acabaria em uma união entre os dois.

Clara desconfiada da pergunta de Alice decidiu enfrentar a situação e

resolveu esclarecer tudo com o rapaz.

- Alex, eu estou procurando um grande amor, um amor para sempre. Quero

construir um lar e ser feliz como todo mundo. Sei que você é a pessoa que procuro.

O rapaz ficou encabulado e nervoso. Antes que Clara terminasse de falar, ele disse:

- Estou surpreso com que me diz. Então ninguém lhe disse das minhas

condições? Sou um homem casado, minha esposa trabalha fora da cidade e só

vem aqui uma vez por ano, sempre no natal. Amo minha família, viver assim não

me incomoda, eu preciso de companhia. Pensei que soubesse disso, todos sabem,

inclusive sua prima Alice.

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A jovem saiu correndo, chorando e culpando Alice por não ter lhe contado

a história de Alex

Como não encontrou o que procurava, muito abatida e sem poderes

nenhum, Clara decidiu voltar. Caminhou muito dias e noites. Parava e voltava a

caminhar, até chegar na floresta.

Ao chegar, percebeu que a floresta estava toda destruída. As árvores

estavam derrubadas, os rios poluídos, a temperatura elevada, as águas escassas,

os peixes haviam morrido.

Os moradores? Muitos tinham ido embora. Dos que permaneceram, alguns

estavam doentes, outros sem alimentos. A maioria dos animais havia morrido.

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A fada chorou, chorou muito. Aquilo que ali havia em abundância, agora já

estava quase escasso.

Como resolver tanto problema? A fada lamentando e pensava:

- Se eu não tivesse sito tão egoísta, isso não estaria acontecendo. Resolvi

abandonar meus amigos, meu mundo ao invés ficar. Preferi sair em busca de

alguém que não existia. Preciso reverter essa situação. Para tudo deve ter uma

solução, talvez seja conciliar amor e trabalho, isso deve fazer alguma diferença.

Bem, vou conversar com os moradores que restam e chamar as crianças, ensina-

los a se defenderem.

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E também a defender a floresta, principalmente, contra os invasores, mas

conscientizando de uma forma passiva, fazendo-os entender que a floresta faz bem

para todos. Até mesmo, às pessoas que aqui não moram.

E os poucos moradores que restaram aceitaram o desafio. Os adultos

trabalhavam, as crianças estudaram e aprenderam a ler, calcular, raciocinar e

solucionar; aprenderam também sobre direitos e deveres.

A importância de viver em grupo, manter suas casas e quintais sempre

limpos, permanecer no seu lugar de origem, e principalmente, conservar a floresta.

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Se derrubarem uma árvore, deverão plantar duas, aprenderam o que é manejo

sustentável.

Em poucos anos a floresta estava refeita. Os animais voltaram à vida

saudável. Os moradores não precisavam mais ir embora. A fada, bastante satisfeita,

trabalhou muito para que tudo voltasse a existir.

Então, ela conheceu Fernando, um rapaz pesquisador que procurava mais

conhecimento sobre biodiversidade. Aliou-se em defesa do meio ambiente, e então

surgiu um grande amor entre os dois com tranqüilidade.Clara e Fernando se

apaixonaram, casaram-se e foram muito felizes.

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Clara finalmente compreendeu que o amor verdadeiro não é apenas aquele

que nasce de um homem e uma mulher, mas também o que brota de uma causa

nobre, envolvendo o que nos cerca e as pessoas com quem convivemos e

aprendemos.

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