ilustração: adailton da silvastatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3742286.pdf · os animais...
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Há algum tempo atrás, vivia na floresta uma linda jovem com o nome de
Clara. Ela possuía poderes de fada. Todos os dias, ela voava sobre os arredores do
ambiente para garantir que tudo estava perfeito. Ao notar qualquer problema na
floresta, acenava suas mãozinhas de fada e tudo se fazia novo. Assim, permanecia
cada dia mais lindo, perfeito. Além de Clara, outros moradores também
compartilhavam daquele paraíso. A fada estava muito feliz, todos a amavam e ela
correspondia sendo amiga e ajudando a quem precisasse.
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Um dia, a jovem acordou e pela primeira vez sentiu-se sozinha, achou que
precisava de um amor. Um amor verdadeiro capaz de enfrentar qualquer barreira.
Um amor assim de um homem e uma mulher. Certo dia, Clara se lembrou do que
sua mãe havia lhe dito antes de morrer:
- Minha filha você possui poderes de fada, se um dia você se apaixonar,
perderá seus poderes. E se isso acontecer você se tornará uma mulher comum.
Se você precisar, pode procurar a família do meu irmão Onofre que mora
alguns quilômetros daqui, suas filhas poderão ajudar. Você sabe onde encontrá-las.
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A fada resistiu alguns dias, mas aqueles desejos permaneceram. Não
suportando mais, Clara despediu-se de todos e foi embora. Voou por vários dias até
encontrar um vilarejo onde morava Ana, filha mais nova de seu tio Onofre.
A moça foi recebida com uma grande festa. Durante a festa, Clara
conheceu um rapaz bem divertido chamado Renan. Os dois conversaram e se
tornaram amigos. Dançaram até a festa acabar.
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Uma semana depois, Clara já pensava na possibilidade daquela amizade
se tornar um grande amor. Porém, em uma bela tarde, Renan chegou à casa de
Ana. Para a surpresa de Clara, ele estava acompanhado de uma moça que dissera
ser sua noiva. Eles cumprimentaram a todos, inclusive Clara, que ficou sem jeito e
envergonhada com aquela situação. Desculpou-se e foi para o quarto.
No dia seguinte, Clara continuou sua procura, triste porque nada de novo
aconteceu em sua vida. Assim, ela seguiu seu caminho.
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Voou um dia e uma noite, até encontrar um lugar bem próximo de um riacho.
O nome do lugar era Ribelo, por causa da sua grande beleza. Clara meditou alguns
minutos olhando o ambiente amável e acolhedor. Refletiu no horizonte, dourado do
sol intenso e brilhante. Naquele momento, ela desejou muito que seu sonho
acontecesse ali, porque era a cidadezinha de que sua mãe lhe falou. Procurou por
algum tempo e encontrou a casa de Marta, irmã de Ana. Bateu à porta e ela
atendeu, espantada. Durou certo tempo para que Marta reconhecesse a fada, mas,
quando a reconheceu, seu coração encheu-se de alegria. Marta não esperava a
visita de uma mulher tão poderosa e querida.
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Clara fez questão de dizer que estava à procura de um amor. Ser fada não a
fazia mais feliz. Ela nem gostava de tocar no assunto. Então Marta prometeu ajudá-
la.
Ela explicou que em Ribelo tinha poucos rapazes... Então lembrou de
Fernando, o filho de dona Marly, uma senhora bem velhinha e muito bondosa.
- Ele é um moço muito educado, quem sabe? Mas quero te alertar que o amor
acontece naturalmente, às vezes chega no momento em que não esperamos.
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Na mesma tarde, Clara foi apresentada a Fernando, um rapaz simpático,
alegre e bastante interessante. Como já era de se esperar, surgiu daí uma grande
amizade. Fernando passou a frequentar a casa de Marta. Ele parecia solitário,
carente. O amor construía-se lentamente. Mas em uma simples conversa o rapaz
confessou que jamais pretendia casar-se porque cuidar de sua mãe era apenas o
propósito de sua vida. Clara ficou decepcionada, não esperava essa atitude. Sofreu,
chorou e saiu novamente em busca de seu sonho.
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Desta vez, Clara estava muito fragilizada, seus poderes estavam diminuindo.
O desgaste emocional, o envolvimento com as pessoas e a insistência na busca do
amor prejudicaram seus poderes. A fada demorou dias voando devagar... Parando
aqui e ali. O sofrimento era muito grande.
Depois de algumas semanas, ela finalmente encontrou-se com Alice, irmã de
Ana e Marta. Alice morava em uma cidadezinha bem simples, limpinha.
Os moradores da cidade eram aparentemente felizes. Clara contou a Alice o que
procurava. Alice pensou por alguns minutos, passou a mão na testa e falou:
- Eu trabalho em uma fábrica de cotonetes. Amanhã posso levar você lá, quem
sabe você conhece alguém.
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Ao chegar à fábrica, a fada assustou-se com a quantidade de homens que
trabalhavam com Alice. Ela conheceu e simpatizou com todos os rapazes, mas foi
de Alex que Clara mais gostou. Alice percebeu e permaneceu quieta, pois sabia
que Clara precisava ser uma mulher capaz de viver em um mundo sem magia. Era
isso que ela queria.
Alex era um homem lindo, sedutor e atraente. Ele era daqueles homens
maravilhosos do tipo que toda mulher gosta e que muitos homens invejam. O
coração de Clara saltitava de alegria. Certa de que finalmente tinha encontrado o
homem de sua vida, a fada saia todas as tardes para encontrar-se com o rapaz.
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A jovem finalmente envolvera-se emocionalmente. Três meses depois,
Alice perguntou Clara se Alex dissera alguma coisa sobre o futuro, se esse amor
acabaria em uma união entre os dois.
Clara desconfiada da pergunta de Alice decidiu enfrentar a situação e
resolveu esclarecer tudo com o rapaz.
- Alex, eu estou procurando um grande amor, um amor para sempre. Quero
construir um lar e ser feliz como todo mundo. Sei que você é a pessoa que procuro.
O rapaz ficou encabulado e nervoso. Antes que Clara terminasse de falar, ele disse:
- Estou surpreso com que me diz. Então ninguém lhe disse das minhas
condições? Sou um homem casado, minha esposa trabalha fora da cidade e só
vem aqui uma vez por ano, sempre no natal. Amo minha família, viver assim não
me incomoda, eu preciso de companhia. Pensei que soubesse disso, todos sabem,
inclusive sua prima Alice.
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A jovem saiu correndo, chorando e culpando Alice por não ter lhe contado
a história de Alex
Como não encontrou o que procurava, muito abatida e sem poderes
nenhum, Clara decidiu voltar. Caminhou muito dias e noites. Parava e voltava a
caminhar, até chegar na floresta.
Ao chegar, percebeu que a floresta estava toda destruída. As árvores
estavam derrubadas, os rios poluídos, a temperatura elevada, as águas escassas,
os peixes haviam morrido.
Os moradores? Muitos tinham ido embora. Dos que permaneceram, alguns
estavam doentes, outros sem alimentos. A maioria dos animais havia morrido.
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A fada chorou, chorou muito. Aquilo que ali havia em abundância, agora já
estava quase escasso.
Como resolver tanto problema? A fada lamentando e pensava:
- Se eu não tivesse sito tão egoísta, isso não estaria acontecendo. Resolvi
abandonar meus amigos, meu mundo ao invés ficar. Preferi sair em busca de
alguém que não existia. Preciso reverter essa situação. Para tudo deve ter uma
solução, talvez seja conciliar amor e trabalho, isso deve fazer alguma diferença.
Bem, vou conversar com os moradores que restam e chamar as crianças, ensina-
los a se defenderem.
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E também a defender a floresta, principalmente, contra os invasores, mas
conscientizando de uma forma passiva, fazendo-os entender que a floresta faz bem
para todos. Até mesmo, às pessoas que aqui não moram.
E os poucos moradores que restaram aceitaram o desafio. Os adultos
trabalhavam, as crianças estudaram e aprenderam a ler, calcular, raciocinar e
solucionar; aprenderam também sobre direitos e deveres.
A importância de viver em grupo, manter suas casas e quintais sempre
limpos, permanecer no seu lugar de origem, e principalmente, conservar a floresta.
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Se derrubarem uma árvore, deverão plantar duas, aprenderam o que é manejo
sustentável.
Em poucos anos a floresta estava refeita. Os animais voltaram à vida
saudável. Os moradores não precisavam mais ir embora. A fada, bastante satisfeita,
trabalhou muito para que tudo voltasse a existir.
Então, ela conheceu Fernando, um rapaz pesquisador que procurava mais
conhecimento sobre biodiversidade. Aliou-se em defesa do meio ambiente, e então
surgiu um grande amor entre os dois com tranqüilidade.Clara e Fernando se
apaixonaram, casaram-se e foram muito felizes.
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Clara finalmente compreendeu que o amor verdadeiro não é apenas aquele
que nasce de um homem e uma mulher, mas também o que brota de uma causa
nobre, envolvendo o que nos cerca e as pessoas com quem convivemos e
aprendemos.