iluminação teatro

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A estética da iluminação cênica na obra da iluminadora Jamile Tormann julho de 2013 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 julho/2013 A estética da iluminação cênica na obra da iluminadora Jamile Tormann Renata Maria de Araujo Campos [email protected] Iluminação e Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação e Graduação IPOG Manaus, 09/12/2012 Resumo: O presente artigo aborda a estética da iluminação cênica na obra da iluminadora Jamille Tormann, visando demonstrar a aplicação do conhecimento sobre iluminação de cenários, para proporcionar uma experiência interativa entre a obra e o espectador. A exploração dos trabalhos de Tormann foi conduzida enquanto Estudo de Caso e precedido por uma contextualização e fundamentação da temática abordada no texto, ou seja, busca-se compor um breve referencial teórico, partindo de uma apropriação histórica e conceitual do fenômeno luminoso. Buscou-se, ainda, entender de que maneira a luz foi compreendida, apropriada e controlada ao longo dos séculos, assim como também se apresentou as principais construções teóricas acerca da iluminação. Nas considerações finais, reafirma-se que o conceito de luz está imbuído de subjetividade, possibilitando o estreito vínculo com o campo da Arte e, consequentemente, o estabelecimento de contribuições significativas capazes de reelaborar o conceito e a função da iluminação. Palavras-chave: Iluminação. Arte. Cenário. 1. Introdução O domínio sobre a existência de luz e a consequente ampliação da compreensão dos mecanismos que possibilitam a permanência da luminosidade, a partir de experiências, conferiram à iluminação diversas propriedades, das quais se enfoca relevante importância a rica variedade de elementos que são carregados de estímulos ambientais para aguçar os aspectos cognitivos, emocionais, funcionais e simbólicos tanto nos cenários quanto nos espectadores. Conforme Mota (2000, p. 80), a iluminação, com o decorrer do tempo e das pesquisas, tornou-se “tão eficaz no palco do serviço como nos espetáculos artísticos”, demonstrando que a força dramática transmitida pela luz parece ser capaz não só de iluminar um ambiente, mas também de gerar a oportunidade de criar movimentos dificilmente executáveis, mesmo utilizando-se de qualquer outro recurso para compor o cenário. Nesse aspecto, a iluminação dos cenários pode ser vista sob uma perspectiva estratégica, nascida da necessidade. No que se refere a procedimento metodológico, o artigo foi produzido tendo por base o Estudo de Caso, por meio do qual, segundo Creswell (1994, p. 12), é possível explorar um “fenômeno limitado pelo tempo e atividade (um programa, evento, processo, instituição ou grupo social) e detalhada coleta de informação, utilizando uma variedade de procedimentos de coleta de dados, durante um período de tempo definido”.

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  • A esttica da iluminao cnica na obra da iluminadora Jamile Tormann julho de 2013

    ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goinia - 5 Edio n 005 Vol.01/2013 julho/2013

    A esttica da iluminao cnica na obra da iluminadora Jamile Tormann

    Renata Maria de Araujo Campos [email protected] Iluminao e Design de Interiores

    Instituto de Ps-Graduao e Graduao IPOG Manaus, 09/12/2012

    Resumo:

    O presente artigo aborda a esttica da iluminao cnica na obra da iluminadora Jamille

    Tormann, visando demonstrar a aplicao do conhecimento sobre iluminao de cenrios, para

    proporcionar uma experincia interativa entre a obra e o espectador. A explorao dos trabalhos

    de Tormann foi conduzida enquanto Estudo de Caso e precedido por uma contextualizao e

    fundamentao da temtica abordada no texto, ou seja, busca-se compor um breve referencial

    terico, partindo de uma apropriao histrica e conceitual do fenmeno luminoso. Buscou-se,

    ainda, entender de que maneira a luz foi compreendida, apropriada e controlada ao longo dos

    sculos, assim como tambm se apresentou as principais construes tericas acerca da

    iluminao. Nas consideraes finais, reafirma-se que o conceito de luz est imbudo de

    subjetividade, possibilitando o estreito vnculo com o campo da Arte e, consequentemente, o

    estabelecimento de contribuies significativas capazes de reelaborar o conceito e a funo da

    iluminao.

    Palavras-chave: Iluminao. Arte. Cenrio.

    1. Introduo

    O domnio sobre a existncia de luz e a consequente ampliao da compreenso dos

    mecanismos que possibilitam a permanncia da luminosidade, a partir de experincias, conferiram

    iluminao diversas propriedades, das quais se enfoca relevante importncia a rica variedade de

    elementos que so carregados de estmulos ambientais para aguar os aspectos cognitivos,

    emocionais, funcionais e simblicos tanto nos cenrios quanto nos espectadores.

    Conforme Mota (2000, p. 80), a iluminao, com o decorrer do tempo e das pesquisas,

    tornou-se to eficaz no palco do servio como nos espetculos artsticos, demonstrando que a fora dramtica transmitida pela luz parece ser capaz no s de iluminar um ambiente, mas tambm

    de gerar a oportunidade de criar movimentos dificilmente executveis, mesmo utilizando-se de

    qualquer outro recurso para compor o cenrio. Nesse aspecto, a iluminao dos cenrios pode ser

    vista sob uma perspectiva estratgica, nascida da necessidade.

    No que se refere a procedimento metodolgico, o artigo foi produzido tendo por base o

    Estudo de Caso, por meio do qual, segundo Creswell (1994, p. 12), possvel explorar um

    fenmeno limitado pelo tempo e atividade (um programa, evento, processo, instituio ou grupo social) e detalhada coleta de informao, utilizando uma variedade de procedimentos de coleta de

    dados, durante um perodo de tempo definido.

  • A esttica da iluminao cnica na obra da iluminadora Jamile Tormann julho de 2013

    ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goinia - 5 Edio n 005 Vol.01/2013 julho/2013

    Nesse sentido, foram selecionadas seis cenas de trs trabalhos de iluminao realizados por

    Jamile Tormann1, para serem observados, visando, conforme Gil (2009, p. 14), proporcionar uma

    viso mais clara do produto, possibilitando, dessa forma, um estudo das caractersticas essenciais, sem desprezar o contexto em que ocorrem. Ressalta-se que a descrio promovida no Estudo de Caso se apropria de diferentes formas de observao [] no apenas para identificar, mas tambm para descrever e avaliar a influncia dos fatores relacionados, neste caso, a iluminao cnica. Precedendo o estudo das obras de Tormann, teceu-se consideraes acerca do percurso

    empreendido pelo homem na busca do controle da iluminao e na aplicabilidade desta, que se

    entendeu desde a simples funo de iluminar at a utilizao deste recurso artisticamente, atravs da

    explorao das caractersticas estticas e expressivas da luz cnica para alcanar diversos efeitos

    desejados pelos produtores.

    Assim, desde ento, a performance tcnica das ferramentas tem oferecido condies para

    serem aplicadas esteticamente a luz sobre os ambientes. Dessa forma, a partir das ltimas dcadas

    do sculo passado e at o presente momento, a sociedade est assistindo ao nascimento de novas

    formas de expresso artstica ligadas luz, considerando, principalmente, que as atuais lmpadas,

    luminrias e equipamentos utilizados para iluminao foram inspirados nos equipamentos da

    iluminao cnica e em suas caractersticas para valorizar o movimento, as trocas de cores, o

    espao, que sempre possibilitaram um leque bastante variado de aplicaes criativas sobre os

    palcos.

    2. Da luz solar eletricidade

    A luz solar contribui para a perpetuao da vida na Terra das espcies humana, animal e

    vegetal, componentes da base das cadeias alimentares do planeta, pois, por meio da luz, os vegetais

    realizam a fotossntese, por meio do qual fornecem oxignio e alimento para os ecossistemas. No

    que se refere aos animais, a presena da luz solar possibilita reaes orgnicas essenciais, como a

    sntese das vitaminas do Complexo D, que se processa a ao dos raios ultravioletas presentes na

    luz solar (SILVA JR. & SASSON, 1999), e a regulao do ciclo circadiano e de condies gerais da

    sade (REA, FIGUEIRO & BULLOUGH, 2002).

    Alm de influenciar com a permanncia da vida terrestre, a luz solar fonte de iluminao,

    que por muito tempo foi a nica forma de promover a claridade. No perodo pr-histrico da vida

    humana, acrescenta-se fonte solar, a descoberta do fogo e as vantagens de utiliz-lo para

    iluminao, por meio de fogueiras e tochas, que, posteriormente, foram aperfeioadas com a

    utilizao de fibras retorcidas do caule de rvores colocadas no interior de bambu cortado, ao qual

    era adicionado gordura animal, produzindo, assim, a primeira espcie de vela, que durava quase

    uma noite.

    O primeiro prottipo de vela foi aperfeioado e iluminou, com exclusividade, at o sculo

    XVI, quando surgiu outra fonte de iluminao, a lamparina, que a partir do leo de baleia e um

    pavio encravado em um pedao de cortia, produzia uma chama, cuja permanncia de iluminao

    1 Jamille Tormann Ligthing Designer desde 1989. Ps-Graduada em Iluminao pela UCB RJ. Coordenadora do Curso de Ps-Graduao em Iluminao e Design, do Instituto de Ps-Graduao IPOG. Scio-fundadora da Associao Brasileira de Iluminao - ABIL. Membro da CIEE-BR comisso 3 (Comission Internationale

    de Lclairage). Autora do livro Caderno de Iluminao: arte e cincia. Rio de Janeiro: Editora Msica e Tecnologia, 2006.

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    tinha estreito vnculo com quantidade de leo depositado no recipiente, determinando a durao por

    horas, dias ou at meses.

    A tcnica utilizada para promover a iluminao com lamparina avanou, a partir da

    descoberta do petrleo e, consequentemente, do querosene, que passou a ser utilizado, em

    substituio ao leo natural, e foi acrescentado ao modelo um tubo de vidro, que protegia a chama e

    a tornava mais brilhante, devido circulao de ar no tubo, que entrando de baixo para cima

    enriquecia o oxignio no interior do vidro.

    No Sculo XVIII, Van Helmont observou que, da combusto (queima) de sdio, desprendia-

    se uma substncia que ele chamou de gs. Por sua vez, John Clayton prendeu, em um recipiente, o

    gs proveniente da queima do carvo e o acendeu, produzindo outra fonte de iluminao. Esse gs

    foi distribudo por tubulaes residncias e locais pblicos, iluminando algumas cidades.

    Em 1802, Humphry Davy demonstrou a luminosidade produzida por um fio de platina, ao

    ser percorrido por uma corrente eltrica. J em 1808, apresentou a emisso de luz, proveniente da

    passagem da corrente eltrica de um eletrodo para outro, ao juntar dois fios aos plos de uma pilha,

    presos a uma barra de carvo na extremidade de cada ponto, vinculados a pedaos de carvo, sendo

    separando-os em seguida.

    Thomas Edison, em 1879, diante da certeza de que a maneira mais prtica de se obter

    energia luminosa partia da transformao da energia eltrica em energia trmica e,

    consequentemente, em luz, utilizou-se do carvo, que queimava sob a forma de filamentos e

    exposto ao ar se consumia rapidamente, e da luminosidade que era produzida ao ser colocado no

    interior de um receptculo de vidro, para criar uma lmpada, no entanto, Thomas Edson no foi o

    inventor da primeira lmpada, visto que Warren De La Rue foi quem de fato o fez. Posteriormente,

    o carvo foi substitudo por tantlio, e este por tungstnio. Para aumentar a vida da lmpada, o

    vcuo no interior do tubo, foi substitudo por uma atmosfera de nitrognio, depois argnio e

    criptnio.

    Contemporneo de Thomas Edison, Paul Jablochkoff, baseando-se na teoria do arco

    voltico, produziu luminrias eltricas. Posteriormente, esses modelos foram sendo aperfeioados

    por outros estudiosos e, assim surgiram outras lmpadas, como a de gs neon, que emite luz

    vermelha-amarelada, quando atravessado por corrente eltrica, alm das lmpadas de mercrio,

    sdio e de vapores metlicos.

    Conforme Munari (1968, p. 32), a apropriao de mecanismos que possibilitam o controle

    da luz artificial no representou apenas a dominao da iluminao, mas tambm o fornecimento

    aos homens da possibilidade de criar um segundo mundo, onde podem prolongar a prpria existncia e as possibilidades de conhecimento, pois o domnio do mecanismo de produzir eletricidade ultrapassa a produo de luminosidade.

    Encerra-se, assim o ciclo experimental por fontes de luz, e consagra-se a eletricidade como

    soluo luminotcnica eficiente. Nesse processo de apropriao e controle sobre a iluminao,

    verifica-se que a luz artificial pode ser produzida por diversas formas, das quais se destacam duas:

    uma, produto do aquecimento de corpos slidos at atingir seu grau de incandescncia e a outra,

    provocada pela descarga eltrica no interior de um gs ou vapor, confirmando que a produo de

    luz ultrapassa a emisso de luminosidade, configurando-se como um fenmeno de transformao de

    energia.

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    3. Luz: De Fonte de Iluminao a Instrumento Cnico

    A luz artificial comumente transmitida pelo equipamento denominado lmpada, detentora

    de caractersticas que transformam tipos de energia em luminosidade. Os aspectos que processam o

    aperfeioamento dessa transformao de energia relacionam-se com as funes e a aplicabilidade da

    lmpada, ocasionando diversidade de tipos de lmpadas.

    As lmpadas mais utilizadas tm a funo de iluminar os ambientes projetados e construdos

    pelo ser humano. Para essa funo, destacam-se, conforme Carvalho (2003, p. 42-43), as lmpadas incandescentes, que geram luz prpria por meio do aquecimento de um filamento metlico e as

    lmpadas fluorescentes, que operam por outro princpio, fazendo com que a luminosidade seja

    criada como consequncia da descarga de um gs. A diversidade de meios de promover a iluminao relaciona-se s observaes, s hipteses

    e, consequentemente, s invenes do homem de diversos instrumentos para propiciar luz artificial.

    Nesse processo de descobertas, destaca-se o experimento de Isaac Newton sobre um feixe de luz

    branca, que, proveniente do sol ou de uma outra fonte primria, poderia ser decomposto em vrias

    cores por um prisma, utilizado para analisar a luz.

    Os resultados tericos advindos do estudo sobre a luz, a partir de uma dimenso subjetiva,

    tem permitido que sejam agregadas contribuies acerca do estudo da cor, demonstrando infinitas

    possibilidades da relao entre luz e cor, e da aplicabilidade desse estudo em diversas reas de

    pesquisa, enquanto temas de investigaes tericas e prticas. Desses campos de pesquisa,

    limitaremos o olhar s artes, que engloba o mundo da pintura, da escultura, do teatro, da arquitetura,

    da dana e, mais recentemente, do cinema. Nesse contexto artstico, especialistas passaram a

    observar como a luz, a sombra e a cor poderiam contribuir para que a vida humana fosse melhor

    expressada artisticamente.

    Essa articulao entre luz, sombra e cor foi, inicialmente, defendida por Johann Wolfgang

    von Goethe, que passou a defender o nascimento da cor a partir do choque da luz com a sombra, e a

    negar, conforme Vieira (1994, p. 60), as teorias sobre a luz e as cores propostas por Newton, derivadas da experincia de decomposio da luz branca pelo prisma e, passando a acusar o fsico

    ingls de manipulao dos dados cientficos apurados, rejeitando, dessa forma, a ideia de que a luz

    branca formada por sete faixas coloridas.

    A proposio de Goethe sobre o aparecimento das cores influenciou no surgimento dos

    movimentos artsticos inspirados no impressionismo e no simbolismo (WERNECK LIMA, 1999),

    j que possibilitou aos pintores do sculo XIX a liberdade para que fosse trabalhado o claro-escuro

    sem a utilizao do preto. O posicionamento de Goethe foi precedido por alguns pintores, a

    exemplo de Rembrandt, Caravaggio e Tintoretto, interessados em expressar nas suas obras os

    efeitos de luz e sombra, que, inconscientemente, contribuiu, tambm, para o desenvolvimento da

    esttica teatral.

    O entendimento de Johann von Goethe sobre o conceito de cor, sem a limitao sustentada

    sobre a teoria clssica da luz, determinou, segundo Vieira (1994, p. 60), a preparao da pintura para o triunfo definitivo da cor no incio do sculo XX, pois as experincias empreendidas por Goethe sobre s cores complementares, aos contrastes sucessivos e simultneos, s sombras

    coloridas e s iluses de ptica acumularam informaes, consideradas fundamentais na formao

    da esttica impressionista e que tambm foram importantes para o aperfeioamento da cenografia

    teatral.

    No que se refere especificamente ao teatro, o controle da luz foi o ltimo fator a ser

    incorporado produo teatral (WILSON, 2000), precisamente em 1879, quando ento, conforme

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    Jablonski (1980, p. 1), se iniciou a era da iluminao criativa no teatro, desempenhando um papel primordial na multiplicao das possibilidades da realizao teatral.

    Essa influncia da luz na arte to significativa que, segundo Roubine (1982, p. 120), nas

    obras do diretor suo Adolphe Appia, o trabalho do encenador resumia-se a certificao de que os

    atores conheciam e sabiam o momento de aplicar suas falas, seus papis, suas cenas, pois os demais

    aspectos poderiam encarregar a iluminao de fazer. Conforme Carvalho (2003, p. 50), com o decorrer do tempo, especificamente, com o

    advento da sociedade ps-industrial e a elevao da comunicao visual condio de alternativa

    primeira de interao entre o homem e seu mundo, as discusses sobre imagtica e luz ganharam

    relevncia e as pessoas envolvidas com atividades ligadas a encenaes tm buscado aprimorar as formas de utilizao da luz para a melhoria do trabalho.

    No que se refere cnica, de acordo com Saraiva (1992, p. 22), os homens envolvidos nesse

    trabalho de palco atingiram a compreenso sobre a essncia do fenmeno luminoso, propiciada pela

    imaginao dramatrgica, ou seja, a iluminao a vida do teatro, a grande fada do cenrio, a alma de uma encenao, que teve corrigido, pelo encenador francs Andr Antoine, o uso inadequado da iluminao cnica, at ento limitada a uma luz fraca, neutra, que no contribua com a

    valorizao do cenrio ou do desempenho dos atores.

    Segundo Carvalho (2003, p. 51), nas peas encenadas pela companhia de Molire, durante o sculo XVII, a iluminao restringia-se a oito candeias nas laterais do palco, alguns candelabros

    para iluminar o auditrio e uma fileira de pequenas lamparinas no proscnio, para separar a plateia

    dos atores, porm, na antiga Roma e depois na Idade Mdia utilizava-se tochas, velas e lamparinas a leo para realar situaes especficas, dramatizando-as por meio de jogo de sombras; em muitos teatros, a cor era obtida quando fontes de luz eram situadas atrs de recipientes de vidro contendo

    vinho ou gua tinturada. As formas de iluminao utilizadas outrora, tais como luz solar, tochas, lampies a gs,

    visavam apenas possibilitar que os espectadores enxergassem os fatos ocorridos nas cenas, assim

    como na plateia, que tambm era iluminada, mas sem causar distino significativa. Essas fontes de

    iluminao utilizadas tambm acentuavam ao olhar projetado da plateia para os objetos e pessoas

    que estavam sobre o palco uma viso de imagens achatadas e sem importncia dramtica aos

    elementos principais.

    Porm, com a chegada da luz eltrica, foi possvel estabelecer uma relao mgica entre a

    plateia e a cena, possibilitando que o espetculo teatral acentuasse o carter ilusionista do palco. A

    ausncia de distino entre pblico e atores foi corrigida com o simples ato de apagar as luzes,

    ocorrido em 1888, na estreia do Festival de Bayreuth/Festpielhaus, por Richard Wagner, iniciando,

    dessa forma, outro contexto para o teatro.

    Essa alterao na visualizao do espetculo provocou, consequentemente, mudana no

    comportamento dos espectadores, que outrora percebiam o teatro como espao para encontros

    sociais, porm, com a inovao da iluminao, passaro a ter o foco direcionado ao espetculo em

    si.

    Alm da plateia, o surgimento da eletricidade influenciou na concepo de diretores,

    cengrafos e iluminadores, j que estes perceberam as mltiplas possibilidades estticas que o

    espetculo poderia sofrer com o controle da intensidade e da colorao da luz, integrando-as para

    traduzir a atmosfera de cada cena, e resolvendo as limitaes surgidas para a criao de efeitos

    como as luzes do crepsculo ou da aurora.

    Conforme Carvalho (2003, p. 53), outro avano significativo na iluminao cnica foi a criao do resistor que permitia a diminuio da intensidade da luz em cada lmpada,

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    possibilitando a reduo, paulatinamente, da intensidade da luz. Ressalta-se que esse efeito j era

    objeto de desejo dos encenadores h muito tempo, desde antes da eletricidade. Para realizar o

    referido efeito, as velas do palco eram apagadas ou afastadas da boca de cena.

    A compreenso e utilizao dos recursos de iluminao empreendidos a partir do surgimento

    da eletricidade foram possibilitadas devido aos encenadores e dramaturgos passarem a realizar

    pesquisas para ajud-los a construir a concepo que se tem atualmente sobre iluminao cnica.

    Esse trabalho de pesquisa foi realizado por cengrafos, encenadores e arquitetos, principalmente, de

    acordo com Carvalho (2003, p. 54), durante as primeiras dcada do sculo XX, para estabelecer os preceitos de utilizao da luz que, ainda hoje, constituem a base para a iluminao de qualquer

    espetculo. Segundo o referido autor (2003, p. 54), antes do controle da luz eltrica pelo diretor do espetculo, ignorava-se as dimenses da profundidade, e dessa forma os cenrios restringiam-se a uma tela pintada no fundo do palco e aos objetos dispostos pela cena. Para alterar essa realidade, Appia props desmaterializar a cena, utilizando a luz como um refletor capaz de projetar sombras, produzir espaos atravs da iluso de distanciamentos entre os elementos no palco. Esses efeitos ocorrem a partir da eletricidade, porque a iluminao caracterizada enquanto

    elemento fortemente expressivo, que, conforme Jablonski (1980, p. 01), por meio da luz pode expressar to somente o que pertence essncia inerente viso de todas as vises, auxiliada por instrumentos, tais como refletores, holofotes e pinos de luz, que contribuem para o espao ser

    recortado e esculpido pela luz.

    Dessa perspectiva, a luz ultrapassa o limite da funo de apenas iluminar para clarear ou

    causar efeitos, passando, dessa forma, a ser caracterizada como ambiente do ator, pois, segundo

    Ratto (1999, p. 96), a partir da utilizao da iluminao por Appia, a luz transformou-se em

    elemento indispensvel para o processo cnico, ou seja, sem a luz no h valores plsticos, pois esse elemento povoa o espao com claridades e sombras em movimento, diminuindo penumbras suaves ou comea a brotar em feixes coloridos e vibrantes. [...] a luz de uma flexibilidade quase milagrosa. Possui todos os graus de intensidade, todas as possibilidades de cor, todas as tonalidades.

    Pode criar sombras, invadir o espao com a harmonia de suas cores, podendo produzir toda a expressividade do espao, se esse espao for posto a servio do ator. Essa nova postura em relao contribuio da iluminao nas atividades cnicas contribuiu para que muitos passassem a

    acreditar que para a realizao do espetculo teatral era suficiente a presena do ator e da luz.

    Nesse processo de aperfeioamento da utilizao da iluminao, a Escola Bauhaus buscou

    promover a reflexo visual-cintica, ou seja, integrar viso e movimento para projetar, conforme Mantovani (1989, p. 42), o homem no campo do espao tridimensional, com suas leis e seus mistrios, irradiando sua energia. Essa inteno buscava proporcionar o jogo das formas e das cores de forma que se organizassem e se integrassem na cena, juntamente com o movimento, a luz,

    os gestos, por meio da percepo visual, para que os espectadores contemplassem a criao do ser

    humano em totalidade plena, ou seja, fsica, emocional e espiritualmente.

    Os avanos no campo da iluminao denotam luz a funo de ser usada no teatro para

    projetar viso para os mundos exterior e interior da plateia, j que, de acordo com Stone (1991, p.

    104), a iluminao serve como um sussurro subliminar para a sensibilidade, enfatizando o que a plateia deve fazer a partir daquilo que ela v. Nesse sentido, no h outro instrumento cenogrfico que possa ser comparado luz, no que se refere s possibilidades de ilustrao, iluso, imaginao e

    introspeco, elementos considerados essenciais ao teatro, juntamente com atores, texto e plateia.

    Com o avano das pesquisas tecnolgicas, a iluminao tende a oferecer maior aporte e,

    consequentemente, mais possibilidades de utilizao da luz como recurso cnico. Conforme

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    Carvalho (2003, p. 56), uma lmpada automtica, por exemplo, seria sensvel aos movimentos dos atores em cena, respondendo com sinais luminosos diversos aos diferentes gestos do elenco; ou mesmo separando a luz branca em seus diferentes componentes cromticos para criar transies suaves e quase imperceptveis entre as cores. Assim, a partir da inveno da lmpada incandescente foi possvel criar uma srie de

    equipamentos tecnolgicos para serem usados em diversos contextos cnicos, desde pequenas at

    superprodues, que, independentemente da qualidade dos recursos aplicados, possibilitou que a

    iluminao assumisse o papel de um dos principais elementos cnicos.

    4. A iluminao cnica de Jamile Tormann

    Iluminao cnica refere-se arte de projetar e implementar fontes de luz e sua respectiva

    focagem, temperatura de cor e sua respectiva intensidade ao longo do guio dos espetculos de

    teatro, cinema, dana, pera, msica, dentre outros. Ressalta-se que essa iluminao, quer seja de

    show ou pea teatral, no apenas a colorao ou enfeite do cenrio, mas sim a tcnica de

    emoldurar o espetculo.

    No procedimento de iluminao, no h receita ou molde definido, pr-estabelecido, pois o

    iluminador poder se valer de quaisquer elementos, quer seja apenas refletores, ou lamparinas, ou

    lmpada comum, ou ainda associar esses equipamentos a outros, para alcanar o resultado

    idealizado. Isto , possibilitar que a iluminao seja considerada um elemento mgico, uma cena

    com sopro de luz e personalidade.

    Essa concepo artstica da utilizao da luz enquanto elemento cnico no est limitada

    tcnica em si, pois as pessoas que desenvolvem o trabalho de iluminao, com o decorrer do tempo,

    tendem a criar conceitos e significados prprios para reinventar e reelaborar as tcnicas e o uso de

    uma quantidade limitada de elementos, tais como, lmpadas, refletores, para que projetem

    iluminao artstica o sentimento desejado e proporcione aos espectadores uma iluminao que

    traduza por meio de desenhos, texturas, cores e vivacidade as sensaes sentidas.

    A capacidade de recriar uma mensagem na iluminao cnica, de forma harmnica, para que

    confira encenao uma lgica funo do iluminador, que dever ter olhar fragmentado, visando

    produzir uma sequncia de cenas, nas quais sejam criados quadros de luz que complementem as

    aes dos atores e d o destaque necessrio aos demais elementos das cenas, de acordo com sua

    importncia, interligando, dessa forma as preocupaes de mostrar e de interpretar, fazendo com

    que o espectador no apenas assista ao espetculo, mas tambm o complemente.

    Conforme Carvalho (2003, p. 57), ao montar os quadros do espetculo, tendo por base as estratgias, norteadoras da colagem dos quadros cnicos, o iluminador dever escolher as tticas a serem utilizadas para a elaborao artstica de cada quadro. As possibilidades so muitas e os

    encenadores podero criar uma variedade quase que inesgotvel de efeitos cnicos por meio da luz e seus derivados.

    Dentre esses efeitos cnicos, a iluminao, segundo Carvalho (2003, p. 59,) poder propiciar

    visibilidade no lugar preciso no qual for necessria; dar vitalidade a um ambiente por meio do

    destaque dos espaos claros e escuros; criar um efeito definido de tempo e localidade; possibilitar

    que sejam anuladas as percepes de tempo e localidade; aumentar ou diminuir as silhuetas dos

    atores e dos objetos de cena; simular a iluminao natural propiciada pelo sol; motivar os

    espectadores, prendendo sua ateno ao que ocorre no palco; fazer com que o espao da sala teatral

    parea maior ou menor; representar os sentimentos dos personagens, assim como suas mudanas;

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    ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goinia - 5 Edio n 005 Vol.01/2013 julho/2013

    dar a impresso de que as paredes se movimentam, avanando ou retrocedendo; modificar as

    qualidades de movimento dos atores no palco; corrigir imperfeies do cenrio, do figurino e do

    rosto dos atores; realar texturas dos objetos de cena.

    De acordo com o argumento de Tormann (2008, p. 126), a criao de uma iluminao para um determinado espetculo [...] depende de uma srie de fatores, pois a iluminao, enquanto produto da juno entre conhecimento e criatividade, age como uma personagem silenciosa, polivalente, polimorfa, carregada de mistrio e todavia inteligvel, orgulhosa, podendo ser tranquila,

    acolhedora e at agressiva quando necessrio. Desse entendimento sobre a arte da iluminao vem a prerrogativa de que iluminar um

    espetculo depende [...] de uma srie de fatores tcnicos espao, disponibilidade de material, operacionalidade do equipamento e fatores subjetivos interpretao da obra, valores estticos, teoria versus prtica, [...] o produtor, o diretor e at mesmo os atores. Isto , iluminar no uma ao simples, apesar de se saber que a funo bsica da iluminao exatamente ILUMINAR.

    Essa compreenso sobre o universo das tcnicas, ferramentas e condies oferecidas para

    concretizao dos trabalhos de iluminao produto de observao, e consequente realizao de

    pesquisas estticas, visuais e do conjunto dos elementos participantes da obra, que desencadeiam na

    recriao de novos elementos. Nesse sentido, para ilustrar as atividades desenvolvidas pelos

    designers de iluminao cnica e os designers de iluminao arquitetural, sero analisados,

    brevemente, trs trabalhos desenvolvido por Jamille Tormann, representados em seis cenas, a saber:

    Figura 1 Eliana Ribeiro - DVD Barco a Vela 2009 Fonte: www.jamiletormann.com.br

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    Figura 2 Gravao DVD Dunga Fonte: www.jamiletormann.com.br

    Figura 2 Gravao DVD Dunga Fonte: www.jamiletormann.com.br

    Figura 3 Gravao DVD Dunga Fonte: www.jamiletormann.com.br

    Figura 3 Gravao DVD Dunga Fonte: www.jamiletormann.com.br

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    Figura 4 DVD Oracional Livrai-nos do Mal Fonte: www.jamiletormann.com.br

    Figura 5 DVD Oracional Livrai-nos do Mal Fonte: www.jamiletormann.com.br

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    Figura 6 DVD Oracional Livrai-nos do Mal Fonte: www.jamiletormann.com.br

    As imagens acima, retratando o trabalho da Lighting designer Jamile Tormann, fazem parte

    da produo de trs shows musicais, assim distribudos: a figura 1 apresenta a gravao de DVD da

    artista Eliana Ribeiro, as figuras 2 e 3 referem-se gravao do DVD do artista Dunga e as trs

    figuras finais (4, 5 e 6) tratam da gravao de um DVD coletivo, com meno religiosa.

    Os trs espetculos tratam de shows de msica, nos quais possvel observar, atravs das

    imagens, a utilizao de instrumentos referentes iluminao, tais como Projetor MAC 700,

    Projetor Elipsoidal, Par 64, Ribalta de Led, para criar efeitos, climas e no apenas possibilitar que a

    cena esteja iluminada.

    Esses recursos da iluminao buscam destacar e selecionar a rea considerada primordial

    para ser vista, bem como valorizar mais uma determinada regio do que outra. Ressalta-se que,

    conforme Tormann (2008, p. 126), a quantidade de luz de um espetculo cnico medida pela sensibilidade do iluminador, e que equipamentos devem ser utilizados como recursos e no como

    soluo nica, a exemplo do cenrio da figura 1, que representa um barco ou navio, com escadas em corda e janelas redondas ao fundo em vidro com parafusos nas extremidades. O vidro dessas

    janelas, no entanto, no translcido e possui iluminao por trs, o que proporciona um tom

    amarelado. Quanto iluminao, nessa cena de fcil percepo a utilizao do Projetor Mac 700 e

    do Par 64, com o Mac foi possvel fazer efeito de duas cores de luz por um mesmo refletor,

    predominando no palco o vermelho e o azul, com destaques da luz do refletor Par em tom

    amarelado. A Ribalta de Led foi utilizada para compor o efeito no palco.

    A cantora recebeu destaque especial, sendo focada por uma luz amarelada e central, a nica

    inclusive, luz amarela direta, no momento do registro da imagem. Como composio desse tom de luz, foi registrada tambm a presena de luminrias cnicas, provavelmente utilizadas para

    exclusiva composio de cenrio e no para proporcionar resultados luminotcnicos significativos.

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    Entre os fachos de luz resultantes dos moving heads, formou-se um interessante contraste de

    claro/escuro, que em alguns momentos foram amenizados, pelo efeito indireto da par,

    proporcionando um estado de claro/menos escuro.

    As Figuras 2 e 3 possuem a presena marcante do efeito do Mac 700, imperando na

    iluminao as cores branco e vermelho. H tambm a utilizao de gobos no projetor para causar o

    efeito triangular visvel no piso do palco. A Ribalta de Led tambm foi utilizada, mas no momento

    do registro da foto, esse equipamento no proporciona um efeito relevante para o contexto geral da

    iluminao.

    O cenrio a parte de uma cidade e possvel confirmar tal informao ao observar as

    placas (lateral esquerda das imagens) e tambm as janelas das casas ao fundo, mesmo que, em

    segundo plano.

    Na figura 3, possvel perceber, ainda, algumas janelas, permeadas pela a presena de uma

    luz amarelada, que serve para enriquecer o cenrio, visto que, apesar de indireta, causa um impacto

    significante no resultado luminotcnico e instiga a imaginao de quem v, proporcionando vida

    dentro dos prdios, como se fossem luzes incandescentes acesas no interior dos imveis. Na

    verdade, essas luzes permitem a criao de um efeito de tempo, representando a noite. Essas luzes

    so essenciais para quebrar o efeito das cores vermelho e branco e ajudam, inclusive, a ressaltar o

    efeito de uma luz difusa no centro do palco, de cor azulada.

    As Figuras 4, 5 e 6 tambm tratam de um show onde foi realizada a gravao de um DVD,

    porm, o show em questo tem um tema religioso, o que explica a presena do crucifixo ao fundo

    do palco, que nas trs imagens aparece bem destacado, porm, nunca anulando a presena dos

    artistas. O cenrio nesse show composto por tecidos, localizados ao fundo e laterais do palco e

    pelo crucifixo, citado anteriormente. Os tecidos tambm receberam o recurso da iluminao, que foi

    de grande importncia para insero dos mesmos no contexto geral do espetculo e do trabalho

    luminotcnico, utilizando uma espcie de wash, obtendo um produto final lavado. O resultado de luz nesse espetculo, provavelmente por tratar-se de um evento religioso,

    apresentou uma caracterstica mais homognea e calma quanto aos tons e cores escolhidos para a

    luz em si, o que trata de romper a calmaria a presena intensa de gobos, com formatos diversos,

    lembrando porm, que a influncia que os mesmo exercem basicamente sobre o piso do palco. O

    projetores utilizados foram o Moving Head, provavelmente o Mac ou o Beam,. possvel observar

    nas imagens a utilizao tambm do equipamento Ribalta de Led.

    Nas figuras 4 e 5, ocorre um fato interessante no piso do palco logo em frente ao oratrio,

    onde possvel observar a sombra do mesmo exatamente ao centro do crculo de luz, como uma forma de exaltar tambm a sua importncia para o contexto do espetculo, inserindo de maneira

    bem interessante e curiosa o efeito de luz e sombra.

    Analisando as diferenas que um mesmo refletor pode apresentar no resultado final do

    espetculo possvel confirmar a capacidade da iluminao na criao e composio de um

    trabalho, independente de qual seja o tema abordado, mostrando a grande importncia da luz no

    produto final do espetculo, influenciando diretamente o pblico ao mexer com sentimentos e

    sensaes diversas de quem assiste.

    Consideraes Finais

    Desde a pr-histria, aps descobrir o fogo, o homem vem aprimorando as formas de

    dominar a iluminao artificial, para quando a luz solar se fizer ausente. Alm dessa utilizao, a

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    luz artificial vem sendo aliada ao objetivo de criar efeitos em diversas reas do conhecimento, das

    quais se destaca as artes, pois a partir do trabalho com a luz, possvel acrescentar fluidez de

    formas e volumes, interceptao de linhas retas, suavizao de volumes, arredondamento ou

    evidncia de ngulos, estabelecendo principalmente inmeras possibilidades cenogrficas.

    O desenvolvimento de fontes artificiais tem sido marcado pela inveno de fontes de luz de

    grande eficincia, praticidade e convenincia, visando aprimorar inmeras maneiras de iluminar um

    ambiente, cujo ponto de partida a inteno que se busca para cada tipo de espao, na perspectiva

    de fazer um projeto luminotcnico ideal, agregando modelos de luminrias, intensidade da luz e,

    consequentemente, os efeitos projetados por elas.

    No que se refere especificamente arte, o aperfeioamento da iluminao buscou criar

    meios de transferir ao pblico sentimentos, assim como enfatizar os pontos centrais das obras para

    dar vazo a toda sua teatralidade. Dessa forma, atualmente, comum a utilizao de telas mveis e

    luz colorida para criar e recriar o espao do espetculo, revelando efeitos inusitados aos olhos da

    plateia e demonstrando que a criao de uma iluminao cnica depende de uma srie de fatores.

    Dentre os profissionais, que desenvolvem atividades nessa rea, observou-se os trabalhos de

    Jamille Tormman, que se utiliza das propriedades da luz para determinar espaos; evidenciar e

    ocultar; controlar o resultado visual das formas; modular o tempo; reforar e criar climas

    emocionais; criar sensaes de frio, calor, condies climatolgicas, estados mentais, etc. aproximar

    e distanciar seres, objetos, etc.

    Nos trabalhos de Jamille Tormman, verificou-se que as ferramentas e instrumentos de

    iluminao cnica possibilitam criaes inusitadas, possibilitando abertura e liberdade de expresso.

    Alm desses aspectos, observou-se a vinculao de diversos equipamentos de iluminao para

    compor a atmosfera e a cenografia idealizada, projetando na cnica a influncia no s dos avanos

    da tecnologia, mas tambm das mudanas culturais ocasionadas pela liberdade de expresso, que

    deu mais importncia s imagens da vida cotidiana, estimulando criao de produtos inspirados nos

    diversos estilos de vida e, automaticamente transferidos para os palcos, proporcionando a ampliao

    da competncia de utilizar a luz alm da simples tarefa de iluminar, mas ao mesmo tempo contribuir

    para a valorizao das temticas apresentadas nos palcos.

    Essa apropriao da luz acompanhou a mudana do ser humano, acrescentando iluminao

    cores, sons, formas, movimentos mais rpidos, alucinantes, envolventes, para materializar a

    essncia do teatro, da performance cnica, carregada de sentidos, em substituio luz confortvel.

    Ressalta-se que essa criao e execuo da iluminao cnica no uma simples atividade, j que

    requer, alm do conhecimento tcnico, a criatividade aguada, conforme vem sendo demonstrado

    em muitas obras produzidas no nosso cotidiano por diversos profissionais.

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