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Iluminação indireta em sancas e mobiliário para ambientes residenciais janeiro/2013 Iluminação indireta em sancas e mobiliário para ambientes residenciais Simone Ito da Silva - [email protected] Iluminação e Design de Interiores Instituto de Pós-graduação - IPOG Resumo O propósito deste estudo é evidenciar formas de aplicação da iluminação indireta em Projetos Residenciais, através do uso de sancas e mobiliário que possam abrigar sistemas de luz adequados a várias situações. Este tema foi motivado pelo grande potencial que o sistema indireto possui frente ao conforto visual, à qualidade de luz e às possibilidades de inovação. No entanto, nota-se que estas características não são tão exploradas quanto poderiam em Projetos de Iluminação Residenciais. Com a pesquisa bibliográfica, foram expostas as principais características, materiais e equipamentos disponíveis para a composição das propostas. Para a demonstração da variedade de usos desses princípios, listaram-se situações cotidianas de uma casa padrão atual, que pudessem ser atendidas satisfatoriamente pela iluminação indireta. A partir disso, revelaram-se as propostas para cada situação, indicando os efeitos desejados e as lâmpadas adequadas para tal. O arremate deste estudo indica que a iluminação indireta pode suprir necessidades tanto funcionais quanto emocionais de uma residência, através de soluções que dependem do detalhamento das instalações, da especificação dos equipamentos e das visões técnica e artística do Lighting Designer. Palavras-Chave: Iluminação Indireta; Sancas; Aplicações. 1. Introdução A evolução dos sistemas e produtos voltados para a Arquitetura fez evoluir também a percepção dos clientes. O que antes servia para todos e era reproduzido sem questionamentos, hoje não atende o comprador que conhece suas necessidades e sabe que sua casa pode atendê-las. Exigências em torno de inovação e qualidade instigam os profissionais do ramo a buscar formas de reinventar antigas soluções, aprimorando-as. Hoje, as possibilidades são múltiplas, seja através da tecnologia e dos materiais que se desenvolveram, seja pela criatividade e adaptações de uso que são mais aceitos do que no passado. Assim, tanto o cliente quanto o profissional procuram por soluções que atendam os anseios particulares de um projeto, mesmo que estas saídas estejam fora do velho padrão. Entre os novos desejos de uma residência, está a iluminação adequada. Pessoas que passaram anos contentando-se com um simples ponto central para cada ambiente, hoje reconhecem o valor funcional e estético que um Projeto de Iluminação tem a oferecer. A necessidade do mercado consumidor estimulou o desenvolvimento do setor, que atualmente conta com grande variedade de luminárias e lâmpadas, automação, uso de forros rebaixados e uma infinidade de efeitos, resultantes da combinação destes itens.

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Iluminação indireta em sancas e mobiliário para ambientes residenciais janeiro/2013

Iluminação indireta em sancas e mobiliário

para ambientes residenciais

Simone Ito da Silva - [email protected]

Iluminação e Design de Interiores

Instituto de Pós-graduação - IPOG

Resumo

O propósito deste estudo é evidenciar formas de aplicação da iluminação indireta em

Projetos Residenciais, através do uso de sancas e mobiliário que possam abrigar sistemas

de luz adequados a várias situações. Este tema foi motivado pelo grande potencial que o

sistema indireto possui frente ao conforto visual, à qualidade de luz e às possibilidades de

inovação. No entanto, nota-se que estas características não são tão exploradas quanto

poderiam em Projetos de Iluminação Residenciais. Com a pesquisa bibliográfica, foram

expostas as principais características, materiais e equipamentos disponíveis para a

composição das propostas. Para a demonstração da variedade de usos desses princípios,

listaram-se situações cotidianas de uma casa padrão atual, que pudessem ser atendidas

satisfatoriamente pela iluminação indireta. A partir disso, revelaram-se as propostas para

cada situação, indicando os efeitos desejados e as lâmpadas adequadas para tal. O

arremate deste estudo indica que a iluminação indireta pode suprir necessidades tanto

funcionais quanto emocionais de uma residência, através de soluções que dependem do

detalhamento das instalações, da especificação dos equipamentos e das visões técnica e

artística do Lighting Designer.

Palavras-Chave: Iluminação Indireta; Sancas; Aplicações.

1. Introdução

A evolução dos sistemas e produtos voltados para a Arquitetura fez evoluir também a

percepção dos clientes. O que antes servia para todos e era reproduzido sem

questionamentos, hoje não atende o comprador que conhece suas necessidades e sabe que

sua casa pode atendê-las.

Exigências em torno de inovação e qualidade instigam os profissionais do ramo a buscar

formas de reinventar antigas soluções, aprimorando-as. Hoje, as possibilidades são

múltiplas, seja através da tecnologia e dos materiais que se desenvolveram, seja pela

criatividade e adaptações de uso que são mais aceitos do que no passado. Assim, tanto o

cliente quanto o profissional procuram por soluções que atendam os anseios particulares de

um projeto, mesmo que estas saídas estejam fora do velho padrão.

Entre os novos desejos de uma residência, está a iluminação adequada. Pessoas que

passaram anos contentando-se com um simples ponto central para cada ambiente, hoje

reconhecem o valor funcional e estético que um Projeto de Iluminação tem a oferecer.

A necessidade do mercado consumidor estimulou o desenvolvimento do setor, que

atualmente conta com grande variedade de luminárias e lâmpadas, automação, uso de

forros rebaixados e uma infinidade de efeitos, resultantes da combinação destes itens.

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Por essa disponibilidade, o profissional responsável pelo Projeto de Iluminação às vezes

tende a concentrar-se somente nas opções de luminárias já existentes. No entanto, há

situações em que as necessidades do projeto não são supridas por uma peça produzida em

larga escala - pela limitação de tamanho, pelo alto custo ou pelo próprio desempenho no

ambiente em questão.

Para estas situações, tem-se a opção de abrir mão das luminárias industrializadas e utilizar-

se do potencial que o espaço oferece para a associação da luz. Em vista disso, este estudo

procura evidenciar soluções de iluminação indireta para os ambientes de uma residência,

através de sistemas de luz embutida, sobretudo em sancas e em mobiliário.

A pesquisa teve início em literatura especializada, onde buscou as bases teóricas da

iluminação residencial para cada cômodo; da luz indireta e difusa; dos forros rebaixados; e

dos tipos de lâmpadas adequados à aplicação estudada. Após esta revisão, puderam-se

listar situações para cada ambiente residencial em que a iluminação embutida tem

condições de atender o usuário em relação à inovação estética e ao comportamento

funcional da luz.

2. Revisão da Literatura

2.1. Características da Luz Indireta

É comum encontrar, em literatura especializada, a indicação de iniciar um Projeto

Luminotécnico através de questionamentos sobre o usuário, as atividades que serão

desenvolvidas e os elementos que se deseja destacar no ambiente. Por meio destas

respostas, traça-se o tipo de luz desejada para o local e então parte-se para a definição dos

equipamentos que possibilitem seus efeitos.

Dificilmente um só sistema consegue suprir as necessidades luminosas de um espaço.

Normalmente, utiliza-se um sistema principal, focado na funcionalidade, e um ou mais

sistemas secundários, responsáveis pelo apelo emocional do Projeto de Iluminação.

“Para a Iluminação, tanto natural quanto artificial, a função é o primeiro e mais

Importante parâmetro para a definição de um projeto. Ela irá determinar o tipo

de luz que o ambiente precisa. O primeiro objetivo da iluminação é a obtenção

de boas condições de visão associadas à visibilidade, segurança e orientação

dentro de um determinado ambiente. (...) É a luz da razão. O segundo objetivo da

iluminação é a utilização da luz como principal instrumento de ambientação do

espaço – na criação de efeitos especiais com a própria luz ou no destaque de

objetos e superfícies ou do próprio espaço. (...) É a luz da emoção.” (Iluminação,

Conceitos e Projetos :10)

Entre as vantagens do sistema indireto estão as inúmeras possibilidades de aplicação –

exatamente o que este estudo visa evidenciar. Essa versatilidade de uso contribui para que

os princípios tenham condições de adequar-se tanto no papel de luz funcional quanto no de

luz emocional, o que será comprovado no decorrer da pesquisa.

A iluminação analisada neste trabalho é a embutida em sancas e mobiliário, utilizando o

sistema de luz indireta. Segundo Bigoni (2011), nesta forma de iluminar tem-se “de 90 a

100% do fluxo da luminária direcionados para o hemisfério superior. A fonte de luz fica

oculta e a iluminação é obtida apenas por reflexão de tetos e paredes”. Ao abrigar a fonte

de luz, eleva-se a simplicidade visual. Percebe-se a luminosidade, mas não se enxerga

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luminárias nem lâmpadas. Essa característica é de grande importância em situações em que

se deseja trabalhar o forro, sendo desnecessário inserir a imagem de luminárias.

Além do aspecto mais limpo, o fato de as lâmpadas estarem ocultas também tem papel

essencial no controle do ofuscamento. Novamente: sente-se a luminosidade, mas a sua

fonte não atinge diretamente o olhar.

“Um dos principais complicadores da iluminação é o ofuscamento. Controlá-lo é

mais do que uma arte. É, acima de tudo, uma necessidade. A luz intensa e

descontrolada provoca o ofuscamento, que é um efeito indesejável e

desagradável. (...) Caso a pessoa ousar olhar para cima, com certeza ficará „cega‟

por alguns segundos.” (SILVA, 2009:61)

Outra vantagem do sistema indireto é a homogeneidade da luz obtida. Essa característica

proporciona uma iluminação suave, sem contrastes marcantes, o que é certamente

almejado em várias aplicações de uma residência.

“Os sistemas de iluminação indireta proporcionam uma luz difusa, uniforme,

igualmente distribuída nas superfícies verticais e horizontais. Com isso, os

contrastes também estarão totalmente equilibrados, já que as fontes primárias de

luz concentrada em teto e paredes e com sombras são praticamente extintas.”

(BIGONI, 2011:30)

“A luz reflete na parede do fundo, dos lados e ainda no teto, provocando um

ambiente muito bem iluminado com uma suavidade fascinante provocada pela

difusão da luz. Nesse caso, eliminamos o maior problema, que é a reflexão da luz

no espelho. Esse efeito problemático de ofuscamento simplesmente desaparece

com a iluminação indireta.” (SILVA, 2009:109)

2.2. Iluminação Indireta, Gesso e Mobiliário

A difusão das sancas está profundamente relacionada à ampliação do uso de gesso no

interior de residências. A aplicação de elementos deste material muitas vezes tem apenas

função decorativa. Os mais simples são molduras que fazem a transição entre as paredes e

a laje, ornamentando e dando acabamento para estes dois planos, às vezes com pinturas em

cores diferentes (Figura 1).

Figura 1 – Moldura de Gesso Figura 2 – Sanca Fechada

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

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O aumento da largura e profundidade destas molduras - que passam a se chamar “sancas” -

, possibilita a implantação de luminárias embutidas no gesso (Figura 2). Como as molduras

estão associadas ao perímetro do espaço, as luminárias, a princípio, seguiram este partido.

Se as sancas forem rebaixadas e abertas, criando um espaço entre o gesso e a laje,

lâmpadas podem ser acomodadas (Figura 3). Nesse caso, o efeito da luz é central, gerando

um grande plano iluminado, em que a própria laje funciona como refletor.

Figura 3 – Sanca Aberta, luz central. Figura 4 – Sanca Invertida, luz de contorno.

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

Ao utilizar o forro de gesso rebaixado, este se estende por toda a área do teto. As sancas,

antes perimetrais, neste caso são invertidas: se antes direcionavam a luz ao centro do

cômodo, agora passaram a contornar o espaço com luminosidade (Figura 4).

A evolução dessas aplicações, sempre relacionadas ao formato do ambiente, deu-se quando

as sancas passaram a valorizar a diferenciação de planos em alturas diferentes no forro,

libertando-se assim da imitação da planta arquitetônica. Estes planos ganharam

independência, com aparente soltura do teto devido aos efeitos da luz indireta. E já que o

verbo era “soltar”, as superfícies desprenderam-se dos forros e transportaram-se também

para as paredes, sempre aplicando iluminação embutida nas sancas.

Os conceitos aplicados para o funcionamento das sancas no teto e nas paredes podem ser

conduzidos para o mobiliário de uma residência. Para isso, as peças devem ser detalhadas

pelo profissional responsável e executadas sob medida, com as devidas cavas destinadas

aos equipamentos especificados. Há muito potencial, e sua realização varia de acordo com

os efeitos desejados pelo profissional de iluminação, sua criatividade e planejamento.

2.3. Lâmpadas para Iluminação Indireta

Quando as sancas começaram a aparecer nos Projetos de Interiores, as lâmpadas utilizadas

limitavam-se às fluorescentes tubulares, modelo disponível na época e que atendia bem as

necessidades. Ainda hoje este padrão é bastante empregado, porém, houve evolução no

desempenho do produto ao longo dos anos. Com isso, ele continua satisfazendo as

condicionantes mais atuais, de boa reprodução de cores - fator largamente desejado - e alto

fluxo luminoso em alguns casos.

“A luz indicada deve vir preferencialmente das laterais, para evitar o efeito de

sombreamento no rosto. (...) A preferência deve ser por luz fluorescente –

sempre com boa reprodução de cores, porque é luz fria e, como sabemos, o calor

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é inimigo dos produtos de beleza. Uma boa dica é usar fluorescentes de grande

luminosidade, como as T-5 de 28 ou 54 w atrás do espelho, no perímetro mesmo,

fazendo com que a luz saia de trás do espelho, reflita na parede e venha de forma

suave para o rosto e para o corpo das pessoas.” (SILVA, 2009:96)

O progresso das florescentes tubulares vem buscando diminuir seu diâmetro, ao passo que

aumenta o fluxo luminoso. Para iluminação indireta, estes avanços são de extremo valor:

as cavas que alojam as lâmpadas podem ser menores, o que amplia seu aproveitamento em

mobiliários.

Mas, além das tradicionais fluorescentes tubulares, o mercado atual oferece outras opções

de lâmpadas que também podem ser aplicadas em sancas e mobiliário, com alguns

diferenciais em relação às pioneiras.

“Iluminação por sancas é cada vez mais utilizada por dar uma luz indireta

importante, que valoriza o ambiente. Conforme a lâmpada que colocarmos na

sanca, podemos fazer a variação de luminosidade chegar até aos níveis de

ambiente de festas e reduzi-la até baixas iluminâncias que geram conforto e

aconchego. Podemos ainda variar a cor da luz com a utilização do Sistema RGB,

com ou sem o uso do Sistema DALI, ou seja, troca de cores simples – manual –

ou sofisticada e automática – DALI.” (SILVA, 2009:97)

As mangueiras luminosas comuns (com lâmpadas incandescentes) e as de LED, bem

conhecidas em iluminação festiva, podem ser empregadas em sancas e móveis, desde que a

luz desejada seja tênue, já que estes produtos atendem mais adequadamente a iluminação

decorativa do que a funcional. As mangueiras são disponíveis nas cores branca, amarela,

verde, azul, vermelha, entre outras, que podem ser interessantes ao se relacionarem com o

partido da iluminação.

As fitas LED são mais uma alternativa para destacar contornos, com a vantagem de ter

fluxo luminoso mais alto. Além da branca, também há variedade de cores, sempre intensas,

e ainda a opção RGB, que permite variar a coloração através de programadores especiais.

Por fim, existem as lâmpadas de catodo frio, ainda não tão conhecidas, mas também

aplicáveis na iluminação indireta, como alternativa aos LEDs em sistemas de cores fixas.

“É uma lâmpada de descarga, cujo principal componente é o tubo de vidro,

revestido com pó fluorescente e preenchido com gás nobre. Em suas

extremidades são fixados eletrodos, onde é feita a conexão elétrica. (...) O catodo

frio possui mais de oitenta cores, sendo que a branca pode variar a temperatura

de cor de 1900K a 8300K, com IRC de até 99. Já o fluxo luminoso pode variar

de 500 a 2800 lumens por metro. O tempo de vida útil da lâmpada de catodo frio

é de 100 mil horas (...). Este produto também pode ser até 70% mais econômico

que outros tipos de fontes luminosas”. (GOBI, 2010)

Vale ressaltar que a variabilidade é ferramenta importante para fazer o sistema de

iluminação embutida atender tanto a luz funcional quanto a luz emocional. Esse desejo de

variação pode estar relacionado ao fluxo luminoso, bastando incluir dimerização; e às

trocas de cores, disponíveis nos LEDs RGB.

Com o controle destas características, o Lighting Designer tem uma ferramenta importante

em mãos para afinar seu projeto, enriquecendo-o ao atingir níveis de 0 a 100% no fluxo,

associado ainda a milhares de cores. Com estes produtos no mercado, um bom projeto de

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iluminação tem matéria-prima suficiente para aplicar o sistema indireto em qualquer

ambiente de uma residência, com grandes chances de sucesso.

3. Metodologia

O objetivo deste estudo é oferecer formas de aplicação do sistema de luz indireta em

ambientes residenciais. O enfoque está nas sancas de gesso e nos mobiliários produzidos

sob medida, que aceitam iluminação embutida.

Para isso, pesquisaram-se as características da luz indireta, suas vantagens, e lâmpadas

existentes no mercado que se adéquam a esse princípio.

Os ambientes eleitos são os que fazem parte do interior de uma residência típica e do

cotidiano dos Especialistas em Iluminação: Hall de Entrada; Sala de Estar; Sala de Jantar;

Sala de TV; Escritório; Circulação; Dormitório; Closet; Banheiro; Lavabo; Lavanderia;

Cozinha.

Consideraram-se, para cada um desses cômodos, necessidades básicas, comuns a qualquer

casa; e efeitos especiais, que agregam valor emocional ao ambiente.

A partir disso, foram estabelecidas duas situações para cada espaço, que se dividem em

hábitos comuns, festividades e elementos existentes no cômodo que merecem destaque

através da luz (Tabela 1).

Ambientes e Situações

Ambiente Situação 1 Situação 2

1 Hall de Entrada Destaque de Escadas Luz como Arte

2 Sala de Estar Descanso Valorização de Objetos

3 Sala de Jantar Refeições Diárias e Festivas Destaque de Revestimento

4 Sala de TV Assistir filmes Destaque das Cortinas

5 Escritório Trabalho/Lazer Valorização de Silhuetas

6 Circulação Destaque da Linearidade Quebra da Linearidade

7 Dormitório Relaxamento antes do sono Acordar Durante A Noite

8 Closet Valorização dos Armários Luz Geral

9 Banheiro Maquiagem Iluminação de Nicho

10 Lavabo Destaque da Bancada Destaque Revestimento

11 Lavanderia Luz Geral Bancada de Serviço

12 Cozinha Luz Geral Bancada Gourmet Tabela 1 – Ambientes e Situações

Fonte: do Autor

Algumas situações referem-se à luz geral, distribuída de maneira homogênea no ambiente

em questão. Por exemplo, no escritório, quando o trabalho em desenvolvimento exige

concentração e rendimento; na cozinha, durante a cocção ou a limpeza; no closet, para

reprodução mais fiel da imagem no espelho. É importante ressaltar que mesmo sendo

iluminação geral, não significa que ela deve ser convencional. As propostas, aliás, tem a

intenção de ir além das corriqueiras.

Outras situações tratam de ocasiões especiais, quando a luz exerce sua máxima integração

entre o funcional e o emocional. É o caso da sala de jantar em noites festivas; da cozinha

durante um preparo gourmet; do dormitório em horário próximo ao sono. Estes momentos

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têm suas necessidades operacionais que se misturam com os anseios dramáticos, e a

iluminação é capaz de satisfazê-los.

A terceira categoria é a dos destaques: de revestimentos, objetos, áreas de trabalho ou

formas arquitetônicas que dão personalidade aos ambientes e merecem ser valorizados. Na

circulação, por exemplo, a linearidade deixa de lado a monotonia. No lavabo, ressalta-se

um revestimento. Na sala de estar, quadros e objetos de decoração mostram sua

importância afetiva.

Por fim, as iluminações específicas para determinada atividade: na sala de TV, ao assistir a

filmes; no banheiro, para o momento da maquiagem; no quarto, ao acordar durante a noite,

em meio à sonolência.

Delimitados os objetos de estudo, partiu-se para a definição de propostas para cada cena,

baseando-se na teoria de iluminação analisada, nas necessidades atuais das residências, na

luz funcional e emocional e na possibilidade de inovação, priorizando a qualidade em

todos os sentidos.

4. Resultados da Pesquisa

4.1. Hall de Entrada

Na presença de escadas, uma possibilidade é embutir mangueiras ou fitas LED nas pisadas

dos degraus, fazendo os espelhos destes funcionarem como refletor (Figura 5). Este

artifício une estética e funcionalidade, já que melhora a percepção dos desníveis para quem

caminha pela escada.

A condicionante para essa instalação é o material utilizado como revestimento da escada,

que deve permitir o detalhe de cava para que a lâmpada seja acondicionada. Esse é um

exemplo por que o Projeto de Iluminação deve caminhar lado a lado com o Projeto de

Arquitetura. O segundo precisa criar condições favoráveis para que o primeiro possa se

desenvolver.

Figura 5 – Destaque dos Desníveis Figura 6 – Arte Luminosa.

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

Pensando em efeitos especiais, o hall de entrada é um ambiente que permite trabalhar com

impacto visual através da luz. O uso de luminárias nas paredes – situação com alto

potencial, mas pouco explorada – é capaz de criar efeitos surpreendentes. Uma parede de

gesso acartonado pode transformar-se em arte luminosa através de fendas harmonicamente

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dispostas, completadas com lâmpadas embutidas (Figura 6). O efeito se enriquece com a

especificação de lâmpadas de catodo frio, coloridas, ou fitas LED RGB e suas variações de

cores programáveis. A gama de tonalidades pode ser, por exemplo, uma alusão às

aplicadas na residência, ou a uma ocasião especial, ou mesmo ao estado de espírito dos

moradores.

4.2. Sala de Estar

Num ambiente de estar, uma das principais atividades é a do descanso. Este momento é

favorecido por uma luz suave, obtida com a utilização de mangueira luminosa ou lâmpada

de catodo frio, na cor âmbar, como contorno de sancas invertidas (Figura 7). Uma variação

desta idéia é substituir a mangueira por fita LED, na cor âmbar ou branco morno, que pode

ser dimerizada para oferecer maior ou menor fluxo luminoso, conforme a ocasião solicitar.

Figura 7 – Sanca Invertida com Mangueira Figura 8 – Downlight e Uplight

Luminosa em Objetos numa Parede

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

O espaço de convívio e recebimento de visitas é propício a exibir adornos nas paredes. São

quadros, fotografias de família e até coleções, todos de valor afetivo para os moradores.

Estas composições merecem ser valorizadas, o que pode ser feito com downlight (luz de

cima para baixo) e uplight (luz de baixo para cima) simultâneos, gerando um visual

equilibrado.

O downlight parte de uma sanca invertida no teto, paralela à parede em questão. Para o

uplight, é necessário um móvel no verso do qual as lâmpadas possam se inserir (Figura 8).

Caso não haja este mobiliário disponível, o downlight sozinho já é suficiente para agregar

valor aos objetos.

4.3. Sala de Jantar

As refeições realizadas neste espaço dividem-se em: dia-a-dia e festividades. A iluminação

em sancas tem condições de atender aos dois eventos com adequação através de uma sanca

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dupla. A existência de dois perímetros permite que sejam instaladas lâmpadas

fluorescentes tubulares em ambos, porém, em temperaturas de cores diferentes (Figura 9).

Em um deles, 4000K atende o dia-a-dia; no outro, 3000K valoriza a cena para datas

comemorativas.

Um adicional curioso para esta instalação seria a fita LED RGB no segundo perímetro, que

poderia ser programado para um tom mais quente, acionado até mesmo em soma às

fluorescentes 4000K.

Figura 9 – Sanca Dupla Figura 10 – Wall Washer

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

O plano de fundo para a mesa de jantar muitas vezes é uma parede com um revestimento

especial, painéis de madeira ou papel de parede. Estes itens podem ser mais apreciados

junto ao efeito wall washer de iluminação (Figura 10). É uma “lavagem de luz” no plano

vertical, através de sanca com iluminação fluorescente tubular, neste caso, representando

fielmente as cores originais do material, com ótimo IRC (Índice de Reprodução de Cores).

4.4. Sala de TV

Assistir à televisão pede um nível de iluminância baixo, para que o contraste com a tela

não seja tão alto a ponto de causar fadiga visual. Para isso, é apropriado o uso de uma luz

suave nas laterais da TV, porém, atrás do plano da tela, para evitar o ofuscamento. Essa

técnica pode ser utilizada em conjunto com painéis ou mobiliário que permitam a

incorporação de lâmpadas fluorescentes tubulares T5 (mais finas) com reatores

dimerizáveis (Figura 11).

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Iluminação indireta em sancas e mobiliário para ambientes residenciais janeiro/2013 Figura 11 – Painel TV Figura 12 – Cortineiro sanca

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

Alguns modelos de cortinas, sobretudo as de tecido, ao receberem iluminação difusa do

tipo wall washer, oferecem um efeito visual agradável para ambientes deste tipo. Além da

estética, a luz resultante também tem a suavidade adequada ao espaço. O próprio cortineiro

em gesso funciona como sanca (Figura 12), que deve abrigar preferencialmente

mangueiras ou fitas LED para que não haja radiação capaz de desbotar a trama.

4.5. Escritório

Em residências, os escritórios acabam divididos entre usos profissionais e de lazer. Basta

pensar em Internet, redes sociais e jogos dos mais variados. Dessa forma, o ambiente deve

estar preparado para estimular a concentração e produtividade, mas também para promover

um cenário relaxante.

O forro de gesso é um aliado ao possibilitar o detalhe de planos em alturas diferentes, com

iluminação embutida em cada nível (Figura 13). Nesse caso, poderiam ser usadas lâmpadas

fluorescentes tubulares, em temperaturas de cor diferentes: 5000K para o trabalho; e

3000K para a diversão. O acendimento individual é responsável pela versatilidade.

Figura 13 – Forro em Planos Variados Figura 14 – Nichos Iluminados pelo Fundo

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

Estantes recheadas com livros e objetos estão presentes em escritórios, mesmo nos

residenciais. Este mobiliário ganha em charme se os nichos forem iluminados pelo fundo,

com a fixação de lâmpadas de catodo frio ou fitas LED nos limites posteriores das

prateleiras, o que valoriza a silhueta dos artefatos (Figura 14).

4.6. Circulação

A linearidade de corredores pode ser exaltada ao traçarmos uma sanca central no forro de

gesso, contínua, seguindo toda a sua extensão (Figura 15). Essa linha horizontal numa

situação já alongada cria a ilusão da distância ainda maior. As lâmpadas empregadas

poderiam ser as fluorescentes tubulares ou catodo frio numa coloração inesperada, caso o

Lighting Designer queira adicionar dramaticidade ao trajeto.

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Figura 15 – Rasgo Contínuo Figura 16 – Iluminação Ritmada

Fonte: do Autor Fonte: do Autor Se, pelo contrário, o desejo do profissional de iluminação for quebrar o ritmo longilíneo de

um corredor, podem ser trabalhados rasgos na parede, no sentido vertical (Figura 16). Estes

elementos oferecem cadência ao andar, diminuindo a monotonia do usuário. A iluminação

fica por conta de fluorescentes tubulares ou fitas LED RGB, novamente para permitir

variação de cores, o que causaria pontos visuais atraentes ao caminhar.

4.7. Dormitório

Sabe-se que é hábito saudável manter os níveis de luminância baixos próximo ao horário

de dormir. A cabeceira, com lâmpadas embutidas numa cava superior, é uma proposta

viável para incentivar este hábito, já que proporciona luz suave ao mesmo tempo em que

cria um efeito visual encantador, principalmente quando há um revestimento especial na

parede iluminada (Figura 17). A lâmpada mais indicada é a fluorescente tubular, para que a

luminosidade seja também luz funcional.

Figura 17 – Cabeceira Iluminada Figura 18 – Luz Embaixo dos Armários

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

Ao acordar durante a noite para ir ao banheiro, por exemplo, os olhos sofrem um choque se

atingidos por uma luminosidade muito intensa, de repente. Para evitar esse desconforto, a

proposta é embutir lâmpadas fluorescentes tubulares embaixo de armários, que podem ser

cômodas, criados, ou mesmo o guarda-roupas, com a frente suspensa (Figura 18). A

iluminação embutida nestes elementos utiliza o piso como refletor, iluminando-o, o que

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permite orientar-se no espaço sem agredir os olhos nem incomodar a esposa ou o marido

que permanece dormindo.

4.8. Closet

Também é possível gerar iluminação indireta embutindo lâmpadas fluorescentes acima dos

armários, desde que haja espaço suficiente entre o topo e o teto, para que a luz tenha

espaço de reflexão (Figura 19). Essa luz consegue ampliar o pé-direito e funciona como

uma sanca, porém, não se basta para a iluminação funcional já que a área interna dos

armários ficará sombreada, o que pode ser corrigido associando luz interna ao mobiliário.

Figura 19 – Luz Acima dos Armários Figura 20 – Painel Teto e Parede

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

Uma variação das sancas invertidas pode ser aplicada com sucesso em closets. O plano do

teto ganha continuidade e desce pela parede, formando um painel. Todo o perímetro deste

elemento, iluminado com fluorescentes tubulares, resulta em iluminação suave e sem

sombras, ideal para boa visualização das roupas e maquiagem, por exemplo (Figura 20).

Nesse caso, o painel de gesso é ideal para receber um espelho colado, que ficaria sem

ofuscamento nem contrastes.

4.9. Banheiro

A iluminação ideal de espelho, para que não haja sombreamento nem ofuscamento no

usuário, é realizada com luz indireta. É necessária uma base em madeira com certa

profundidade, à frente da qual o espelho é colado. A princípio, cavas laterais com

lâmpadas fluorescente tubulares já dão bom resultado. Melhor ainda se forem

acrescentadas lâmpadas também em cavas superiores e inferiores (Figura 21).

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Figura 21 – Espelho, Todos os Lados Figura 22 – Nicho Iluminado pela

Frente

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

Nichos são comuns em banheiros, seja para expor cosméticos ou enfeites, seja para guardar

toalhas limpas. A iluminação interna a eles, neste caso, pode ser feita pela frente,

permitindo melhor identificação dos produtos (Figura 22). Pelas dimensões reduzidas, o

ideal neste caso é o uso de fitas LED.

4.10. Lavabo

O lavabo, ambiente que atende aos visitantes da casa, usualmente tem instalados

revestimentos de destaque. A iluminação de espelho vista no item anterior pode ser

adaptada para continuar o funcional, mas também valorizar o revestimento da mesma

parede. Considerando esse material acima e abaixo da base de madeira, as cavas com

fluorescentes tubulares ficam resumidas à de cima e à de baixo (Figura 23).

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Figura 23 – Espelho, Acima e Abaixo Figura 24 – Embaixo da Bancada

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

Aproveitando o fato de não haver grande necessidade de armários abaixo da bancada, ela

pode servir de suporte para lâmpadas fluorescentes tubulares, direcionando a luminosidade

para baixo, inusitadamente (Figura 24).

4.11. Lavanderia

Ao invés de atravessar de ponta a ponta do ambiente ou então contorná-lo, as sancas

podem ser usadas de maneira contida, simulando luminárias indiretas (Figura 25). Fica a

critério do projetista de iluminação definir em que direções os rasgos serão locados e quais

suas extensões.

Figura 25 – Sancas Contidas Figura 26 – Bancada de Serviço

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

Buscando ampliar as condições visuais nas bancadas, uma solução é embutir lâmpadas

fluorescentes tubulares ou fitas LED abaixo dos armários superiores, fazendo uso da

parede de fundo como refletor para ampliar a luminosidade no espaço de trabalho (Figura

26).

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4.12. Cozinha

O método já conhecido da sanca central tem sucesso quando aplicado em cozinhas,

principalmente com lâmpadas fluorescentes em temperatura de cor 5000K. A abertura no

centro gera um grande plano iluminado que atende bem esse ambiente como luz geral

(Figura 27).

Figura 27 – Sanca Central Figura 28 – Bancada Gourmet

Fonte: do Autor Fonte: do Autor

Em cozinhas gourmet, a bancada é área de trabalho e lazer ao mesmo tempo. Essa

dualidade pode ser satisfeita com a aplicação de lâmpadas fluorescentes tubulares 3000K

embutidas numa cava na bancada mais alta (Figura 28). Essa instalação, além de iluminar o

plano de trabalho, também cria um efeito de destaque para o usuário que está em ação.

5. Análise

Já no início da pesquisa ficou claro que, ao se trabalhar com iluminação embutida em

sancas e mobiliário, certamente haverá destaque para um conceito geométrico: a linha. As

características marcantes desse sistema de iluminação – homogeneidade e suavidade – são

inerentes ao formato das lâmpadas aplicadas, que seguem o padrão linear.

Ao permitirem a continuidade da luz ao longo de seu comprimento, as sancas destacam

essa grandeza nos ambientes, o que se torna um recurso nas mãos do profissional de

iluminação. Essa ferramenta é capaz de intensificar formas já longilíneas, ou suavizá-las. E

o mesmo para a situação oposta, quando se tratam de elementos comprimidos.

Seja como forem as linhas, retilíneas ou curvilíneas, há lâmpadas disponíveis no mercado

para valorizá-las com sancas. A maioria das aplicações sugeridas neste estudo pode ser

adaptada para formas orgânicas, principalmente quando se trata de superfícies no forro e

nas paredes.

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5.1. Condicionantes

Há algumas condições para o bom aproveitamento da iluminação proposta no estudo, e

elas referem-se de um lado ao local de instalação; de outro, aos equipamentos que serão

instalados.

Para a escolha dos equipamentos, sobretudo das lâmpadas, o efeito luminotécnico desejado

deve estar muito bem definido. A partir daí, a especificação dos produtos terá relação com

os modelos que atenderão os efeitos, a disponibilidade no mercado, os custos, as

dimensões, etc.

Quando se trata de mangueiras, fitas LED ou catodo frio, não há preocupação com

continuidade, já que estes materiais ou são vendidos por metro ou possuem encaixes

desenvolvidos para evitar o realce das emendas. Mas, no caso de lâmpadas fluorescentes

tubulares, é muito comum haver sombreamentos no plano iluminado, devido à instalação

inadequada. A menos que sejam desejados fachos escuros marcando o encontro de duas

lâmpadas, elas devem ser intercaladas para que as pontas não criem o defeito.

Em relação aos compartimentos que abrigarão as lâmpadas, algumas dimensões devem ser

muito bem planejadas. Há de se considerar as necessidades do projeto em cálculos e

simulações de softwares especializados para determinar, por exemplo, a largura, altura e

profundidade de uma sanca cujo desejo é destacar uma parede repleta de quadros. Estes

espaçamentos modificam-se de projeto para projeto, já que as intenções de luz também são

variadas.

É de extrema valia ressaltar que o trabalho de um bom Lighting Designer faz toda a

diferença nesses casos. As situações onde as sancas têm potencial para bons efeitos e os

modelos de aplicação podem ser reproduzidos por qualquer pessoa. Porém, não há medidas

padronizadas. Para obter resultados de sucesso é necessário conhecimento sobre o

comportamento da luz e dos equipamentos, para que as especificações sejam condizentes

com o desempenho luminotécnico aspirado.

Outro ponto relacionado a dimensões: a manutenção dos equipamentos. O eletricista ou o

próprio usuário precisará de certo espaço para manusear as peças, às vezes até utilizando

alguma ferramenta. Prever essa questão antecipa bons detalhamentos, evitando assim

adaptações que podem não funcionar plenamente.

Além das dimensões das sancas propriamente ditas, é imprescindível considerar a altura do

pé-direito do ambiente onde se pretende inserir este elemento. O rebaixamento de um ou

mais planos iluminados tem influência direta na sensação de amplitude ou compressão

dentro de um cômodo. Novamente, cabe ao profissional responsável pelo Projeto

considerar estas características ao traçar seu plano de iluminação indireta.

5.2. Custo x Benefício

Numa análise inicial, a iluminação indireta em sancas e mobiliários aparenta ter baixo

custo. Em alguns casos realmente tem, uma vez que não há compra de luminárias, em geral

o item mais oneroso do sistema. No entanto, ao optar por sancas, os custos de gesso

aumentam. Ao especificar as lâmpadas e equipamentos auxiliares, a variação de custo

percorre extremos - claro, de acordo com a tecnologia empregada.

Quatro elementos mantêm uma relação complexa: o profissional, os benefícios, o cliente e

os custos. Mais ainda nesse caso, quando se trata de iluminação residencial, em que o valor

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monetário aplicado não é investimento como num ambiente comercial, por exemplo. O

cliente não espera retorno financeiro. Aqui, a aposta é em apelo emocional, efeitos visuais

- que não são palpáveis.

O impasse entre custo e benefício certamente é comum para o profissional que lida com

iluminação. No caso de iluminação indireta, mais precisamente no foco deste estudo, há

várias opções de lâmpadas e equipamentos que oferecem efeitos surpreendentes. A questão

é: onde vale a pena gastar mais e onde é possível encontrar soluções de baixo custo?

As respostas devem ser dadas pelo próprio Lighting Designer, durante o processo de

desenvolvimento do Projeto. Depende do perfil do cliente, do partido da iluminação, da

visão do profissional. Todos os modelos de lâmpadas expostos no estudo são adequados

para iluminação indireta, mas todos têm vantagens e desvantagens. Em geral, cabe o bom

senso do especificador.

Em situações de economia, vale eleger apenas uma aplicação para ser exaltada com um

sistema mais caro, e trabalhar com produtos mais simples nas demais. Dependendo da

disponibilidade do cliente, todas as soluções deverão ser a baixos custos. E esse desafio

pode enriquecer o trabalho do Lighting Designer, já que a busca por novas soluções é um

exercício de aprimoramento.

Alguns detalhes mais elaborados, como a sanca dupla proposta na sala de jantar, oferecem

efeitos que luminárias não alcançariam: em relação à distribuição luminosa, versatilidade

nas temperaturas de cor, limpeza visual do próprio teto. O custo perante o benefício torna-

se razoável.

Além dos equipamentos, o custo pode elevar-se com as instalações embutidas em paredes.

Para produzir a cava que abriga as lâmpadas, é necessária a execução de painéis em gesso

comum ou acartonado, às vezes sobrepostos à parede de alvenaria. Porém, a consideração

em torno de valores é relativa. Uma parede iluminada como na proposta do hall de entrada,

por exemplo, também poderia ser executada em madeira, provavelmente por um valor

maior. Pensando racionalmente, esse efeito é necessário? Não, funcionalmente poderia ser

substituído por um ponto central no teto. Mas, aqui pesa o aspecto emocional da luz, o

encantamento que ela provoca se aplicada de maneiras especiais.

Enfim, onde vale a pena investir?

6. Conclusão

Algumas soluções de iluminação presentes nas propostas são bem específicas para as

situações em que se apresentaram. A maioria dos efeitos, entretanto, pode e deve ser

aplicada em outras ocasiões, ajustando-se quando necessário. Essa possibilidade de

inovação abre muitos caminhos para o Lighting Designer, visto que há uma pluralidade de

efeitos a serem explorados.

Algumas regras, por exemplo, existem para serem quebradas. Na literatura especializada

encontra-se a orientação de que o elemento refletor da luz deve ser o mais claro e polido

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possível, o que sem dúvida amplia o rebatimento e a percepção de luminosidade. Porém,

pode ser que o nível de luminância desejado seja menor do que as lâmpadas oferecem, e

não haja dimerização neste sistema. Neste caso, o teto ou a parede refletora podem ser

pintados numa cor que diminuirá a luminosidade conforme o partido. Acrescentando um

diferencial, a esse teto pode ser aplicado um papel de parede no estilo do ambiente, que

além de atenuar a luz agrega valor ao efeito.

Pensando no controle da iluminação em vista da versatilidade, o uso de dimerização é

fundamental. Basta diminuir o nível de iluminância para que a ambiência transforme-se

completamente. Em tempos de residências mais compactas, onde os cômodos são

multifuncionais, esse investimento pode ser muito compensador e refletir-se no conforto

diário.

Os Lighting Designers são os responsáveis por inovar e apresentar conceitos reinventados

de iluminação aos clientes. Inspirar-se num caso de sucesso em iluminação, como em

qualquer outra área relacionada à criatividade, é válido, afinal, se a fórmula teve bons

resultados, é inteligente seguir pelo mesmo caminho, ampliando as descobertas, até mesmo

repetindo-as em situações adequadas.

No entanto, repetir sem critério, sem técnica, sem conhecimento do que se está realizando

torna o projeto vazio e sem fundamento. E essa postura, quando disseminada, acaba por

manchar a imagem de um elemento que não foi bem aplicado repetidas vezes.

São muitos os casos de iluminação indireta, sobretudo em sancas, em que a luz resultante

não é funcional ou não destaca o revestimento da parede ou simplesmente não acrescenta

efeito algum ao ambiente. São situações de conflitos entre o efeito desejado e a

especificação dos equipamentos, sem falar nos detalhamentos das instalações.

A iluminação residencial é um nicho de mercado que vem sendo conquistado aos poucos

por profissionais ligados à Iluminação. O nível de exigência dos clientes vem aumentando,

assim como a busca por qualidade neste setor. Essa qualidade, obrigatoriamente deve

atender a funcionalidade de cada cômodo. O apelo emocional, no entanto, é o que encanta

e divulga o Projeto de Iluminação por si só.

O profissional responsável deve ter em mente que, além da repetição do que já foi visto e

revisto, novas soluções e efeitos visuais podem ser interessantes para o cliente - ao

atenderem suas necessidades particulares - e para si mesmos, porque novidades geram

impacto e esse choque atinge a atenção do espectador para o Projeto como um todo.

Este estudo comprova que a iluminação indireta, embutida em sancas e mobiliários, é um

sistema aplicável de diversas formas nos ambientes de uma residência. Cabe ao Lighting

Designer a responsabilidade de utilizá-lo da forma mais adequada a cada situação, sendo

possível agregar funcionalidade e encantamento.

7. Referências

BIGONI, Silvia. Iluminação de Interiores Residencial. Material de Apoio à Pós

Graduação em Iluminação. IPOG, Instituto de Pós-Graduação. Paraná, 2011.

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GOBI, Erlei. Lojas Exclusivas. Artigo publicado na Revista Lume Arquitetura, Edição 47.

São Paulo: De Maio Comunicação e Editora, 2010.

SILVA, Mauri Luiz. Iluminação, Simplificando o Projeto. Rio de Janeiro: Ciência

Moderna, 2009.

Iluminação: Conceitos e Projetos. Material de Apoio ao Curso de Graduação de

Arquitetura e Urbanismo. FAU-USP. São Paulo. Disponível em:

<http://www.usp.br/fau/cursos/graduacao/arq_urbanismo/disciplinas/aut0262/Af_Apostila

_Conceitos_e_Projetos.pdf> Acesso em 01 de outubro de 2011.

7.1. Sites Consultados

<http://www.lighting.philips.com.br/pwc_li/br_pt/connect/Assets/pdf/GuiaBolso_Sistema_

09_final.pdf> Acesso em 20 de setembro de 2011.

<http://www.osram.com.br/osram_br/Profissional/Iluminacao_Geral/Lampadas_Fluoresce

ntes_Tubulares_e_Circulares/A_luz_economica/index.html> Acesso em 20 de setembro de

2011.

<http://ventanaluminosos.com.br/novidades.html> Acesso em 12 de outubro de 2011.