il trovatore - theatro municipal de são paulo de 2014
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IL TROVATOREÓpera em quatro atos
Música de Giuseppe Verdi
Libreto de Salvatore Cammarano
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Março 2014
Giuseppe Verdi
Il Trovatore
Terças (11 / 18), Quintas (13 / 20) e
Sábados (08 / 15 / 22) às 20h
Domingos (09 / 16) às 18h
Regência
Direção Cênica
Cenografia
Figurinos
Desenho de Luz
Regente do Coro
Conde de Luna
Leonora
Azucena
Manrico
Ferrando
Ines
Ruiz
Velho cigano
Mensageiro
John Neschling
Gabriel Rhein-Schirato
Andrea De Rosa
Sergio Tramonti
Alessandro Ciammarughi
Pasquale Mari
Bruno Greco Facio
Alberto Gazale
Rodolfo Giugliani
Susanna Branchini
Hui He
Marianne Cornetti
Denise de Freitas
Stuart Neill
Sergio Escobar
Enrico Giuseppe Iori
Felipe Bou
Ana Lucia Benedetti
Eduardo Trindade
Leonardo Pace
Walter Fawcett
08 09 11 13 15 16 18 20
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Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Coro Lírico Municipal de São Paulo
Programa sujeito a alterações.
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No átrio do palácio da Aljafería, em Saragoça, no início do
século XV, em período de guerra civil pelo trono, Ferrando,
o chefe da guarda do Conde de Luna, narra a seus subordi-
nados a história da família do nobre. Muitos anos atrás, sob
a acusação de ter colocado mau olhado no irmão do Conde,
uma cigana foi levada à fogueira. Para se vingar, sua filha
colocou fogo em uma criança, que se acredita ser o outro fi-
lho do Conde.
Enquanto isso, nos jardins do palácio, à noite, Leonora
espera pela vinda de seu amado, o trovador Manrico. Chega
o Conde, apaixonado pela moça que, na penumbra, toma-o
por Manrico. Este entra em cena, e a confusão se desfaz. Rivais
no amor, trovador e nobre também se encontram em campos
opostos na luta pelo poder, e se batem em duelo.
Em um acampamento, na Biscaia, Azucena, a filha da cigana,
narra a Manrico o suplício de sua mãe, dizendo que, para
vingá-la, raptou o irmão do atual Conde de Luna, porém,
transtornada, equivocou-se e acabou por lançar às chamas
seu próprio filho. O trovador fica perturbado: se Azucena,
que ele trata como mãe, queimou seu rebento, de quem en-
tão ele é filho? A cigana se diz sua progenitora, atribuindo as
palavras recém-ditas à perturbação causada pela lembrança
dolorosa. Manrico narra então seu embate com o rival: teve-
-o à sua mercê, porém, no momento decisivo, uma voz do
céu impediu-o de desferir o golpe fatal.
Eles são interrompidos por um mensageiro, informando
que, na crença de que o amado morreu no duelo com o
Conde, Leonora pretende ingressar na vida monástica. Luna
se precipita na direção do convento, com o intuito de raptá-
-la, mas é impedido pela chegada de Manrico e seus homens.
parte I
O Duelo
parte II
A Cigana
Sinopse
As tropas do Conde de Luna cercam o castelo em que Man-
rico e Leonora estão refugiados. Azucena, que estava ron-
dando o acampamento, é capturada, e Ferrando reconhece
nela a filha da cigana. Uma pira é erigida, para queimá-la.
Dentro do castelo, preparam-se as bodas do trovador. Ao
saber, contudo, da captura de Azucena, Manrico reúne suas
tropas para resgatá-la.
Leonora chega ao palácio da Aljafería para salvar o amado
das mãos do Conde. Promete entregar-se a Luna caso Man-
rico seja liberado, e é levada à cela em que estão o trovador
e Azucena. Nesse meio-tempo, ingere veneno, para não ter
que cumprir sua parte do acordo. Leonora diz a Manrico que
ele está livre, porém ela deve ficar. Desconfiado da barganha,
o trovador faz uma cena de ciúmes, interrompida pelo des-
falecimento de Leonora, que agoniza em seus braços. Luna,
que tudo ouvia em segredo, ordena a execução do rival. Azu-
cena, que até então dormia, tenta deter o suplício do trova-
dor, mas é tarde. Diante do fato consumado, revela ao Conde
que ele acaba de executar seu próprio irmão. Azucena fes-
teja sua vingança, enquanto Luna lamenta por estar vivo.
parte III
O Filho da Cigana
parte IV
O Suplício
Intervalo 30'
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Edição original da Casa Ricordi para a redução de piano de Il Trovatore.
Estreia mundial
19 de janeiro de 1853 no
Teatro Apollo de Roma
Regente Emilio Angelini
Rosina Penco (Leonora), Emilia Goggi
(Azucena), Carlo Baucardé (Manrico),
Giovanni Guicciardi (Conde), Arcangelo
Balderi (Ferrando), Francesca Quadri
(Ines), Giuseppe Bazzoli (Ruiz)
Primeira apresentação no Brasil
Setembro de 1854 no Teatro Lírico
Fluminense, no Rio de Janeiro
Arsène, Casaloni, Gentile,
Arnaud, Bouché
Primeira apresentação em São Paulo
30 de dezembro de 1874 no Teatro
Provisório
Regente Gabriel Giraudi
Emilia Pezzoli (Leonora), Marietta Polonio
(Azucena), Giuseppe Limberti (Manrico),
León Barcena (Conde), Jorge Mirandola
(Ferrando), Canepa (Ines), François (Ruiz)
Primeira apresentação no
Theatro Municipal de São Paulo
26 de outubro de 1923
Regente Vincenzo Bellezza
Claudia Muzio (Leonora), Luisa Bertana
(Azucena), John Sullivan (Manrico), Carlo
Galetti (Conde), Michele Fiore (Ferrando),
Maria Lilluni (Ines), Nello Palai (Ruiz)
Mais recente apresentação no
Theatro Municipal de São Paulo
Outubro de 2001
Orquestra Sinfônica Municipal e Coral Lírico
Regentes György Györiványi Ráth e
Mário Zaccaro
Diretor Cênico Oscar Figueroa
Vladimir Bogachov / Richard Bauer (Manrico),
Cynthia Makris / Ana Paula Brunkow
(Leonora), Giancarlo Pasquetto / Sebastião
Teixeira (Conde), Graciela Alperyn / Mara
Alvarenga (Azucena), Dimitri Kavrakos / Sávio
Sperandio (Ferrando), Sergio Weintraub (Ruiz),
Edinéia de Oliveira (Ines), Dimas do Carmo
(Mensageiro), Gustavo Schlecht (Cigano)
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“No coração da África ou Nas ÍNdias, você sempre vai ouvir Il
Trovatore”, afirmou Verdi, não sem orgulho, a seu amigo es-
critor, o Conde Opprandino Arrivabene, por carta, em 1862.
150 anos depois, a frase continua atual. As árias de Verdi para
os protagonistas da ópera constituem pedras de toque de
seus respectivos registros vocais, enquanto “Vedi! Le fosche
notturne spoglie”, coro de ciganos que abre o segundo ato,
é daquelas melodias conhecidas mesmo por quem não tem
familiaridade com o mundo da ópera. Ao lado de Rigoletto
e La Traviata, Il Trovatore constitui a trinca de títulos com que
Verdi mudou o paradigma da ópera italiana de seu tempo,
consolidando de vez a reputação de maior compositor de
seu país no século XIX.
Se o amor do público, dos cantores e dos regentes
vem mantendo Il Trovatore consistentemente no repertó-
rio desde sua estreia, no Teatro Apollo, em Roma, em 19
de janeiro de 1853, a crítica jamais escondeu suas reservas
com relação à partitura.
Il Trovatore Irineu Franco Perpetuo
Irineu Franco Perpetuo é jornalista,
colaborador do jornal Folha
de S. Paulo, da Revista Concerto
e correspondente no Brasil da
revista Ópera Actual (Barcelona).
O musicólogo Abramo Basevi (1818-1885), contempo-
râneo do compositor, em seu pioneiro Studio sulle opere di
Giuseppe Verdi (1859), já destaca as “inverossimilhanças” e
“absurdos” da ópera, queixando-se de que, embora pertença
ao que ele identifica como “segunda fase” do compositor,
ela ainda carregue os “exageros” de sua produção inicial.
Wagneriano de carteirinha, o literato irlandês George
Bernard Shaw (1856-1950) chamava Il Trovatore de ópera
única, “mesmo entre as obras de seu compositor, em seu
país. Tem poder trágico, melancolia pungente, vigor impe-
tuoso e um páthos fresco e intenso, que jamais perde a dig-
nidade. É veloz na ação, e perfeitamente homogênea em
atmosfera e sentimento”. Faz, contudo, uma ressalva: “é com-
pletamente desprovida de interesse intelectual; apela aos
sentidos o tempo todo. Se deixasse você pensar, ela desmo-
ronaria no absurdo, como o jardim de Klingsor”.
As ressalvas costumam se dever a um suposto “recuo”
formal de Verdi, com relação às “ousadias” de Rigoletto e,
principalmente, à própria escolha do tema. Eufórico com o
êxito da partitura que trazia aquela que talvez seja até hoje
sua mais célebre ária (La donna è mobile), no Teatro La Fe-
nice, em Veneza, em 1851, Verdi imediatamente entrava
em negociações com Bolonha para uma nova ópera. E, en-
quanto ainda estava na cidade dos canais, escreveu ao poeta
napolitano Salvatore Cammarano (1801-1852) – seu libretista
em Alzira (1845), La Battaglia di Legnano (1849) e Luisa Miller
(1849) – propondo como tema a peça El Trovador, do drama-
turgo espanhol Antonio García Gutiérrez (1813-1884).
Andaluz de Chiclana de la Frontera, Gutiérrez foi tradutor de
francês, libretista de zarzuelas e dramaturgo prolífico. De-
pois de abandonar a faculdade de medicina, serviu no exér-
cito, morou em Cuba e no México, atuou com representante
de seu país em Londres e Gênova, e dirigiu o Museu Arque-
Vingança e amor
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ológico Nacional. Contudo, embora seu Simon Boccanegra
também tenha sido posteriormente adaptado para ópera
por Verdi, nenhuma de suas peças repetiu o sucesso de El
Trovador, cuja estreia, em 1836, foi um marco na História do
teatro espanhol: pela primeira vez, naquele país, o público
pedia para o autor de uma peça ir à cena receber aplausos.
Em crítica publicada à época, Mariano José de Larra
louva a habilidade de Gutiérrez em conduzir as duas tra-
mas paralelas da intriga: uma de amor, e outra de vingança.
“Essas duas ações dramáticas, não menos interessantes, não
menos terríveis uma do que a outra, se encontram, apesar
de sua duplicidade, tão perfeitamente entrelaçadas, tão de-
pendentes entre si, que seria difícil separá-las sem prejuízo
recíproco”, afirma o resenhista.
O “drama cavalheiresco em cinco jornadas, em prosa e
verso” está ambientado em Aragão, no século XV. Boa parte
da ação se desenrola em torno do Palacio de la Aljafería, em
Saragoça, cuja torre quadrangular (erigida por volta do sé-
culo IX) recebeu, graças ao drama de Gutiérrez, o apelido
de “torre do Trovador”.
O pano de fundo é a guerra sucessória em torno do reino
de Aragão, depois da morte do rei Martín I, El Humano (ou El
Viejo), em 1410. D. Nuño de Artal, conde de Luna, e partidário
de Fernando de Antequera, disputa o amor de D. Leonora de
Sesé com D. Manrique, que está do lado de Jaime II, conde
de Urgel. Dividida em partes denominadas “O Duelo”, “O
Convento”, “A Cigana”, “A Revelação” e “O Suplício”, a trama
sangrenta e mirabolante é intensificada pela presença de Azu-
cena, velha cigana obcecada pela ideia de vingar a mãe, quei-
mada como bruxa pelo pai do conde de Luna.
O gosto mudou bastante nos últimos 170 anos, e hoje
parece necessário explicar não os motivos para o drama de
Gutiérrez ferir as suscetibilidades dos séculos XX e XXI, mas
sim as razões para seu êxito na primeira metade do século
XIX. Ele deve ser entendido dentro da revolução teatral feita
pelos autores românticos que, influenciados pelas peças de
Shakespeare, romperam com as unidades aristotélicas que
governavam os palcos no Classicismo. Um dos principais
dramaturgos dessa revolução era justamente o francês Vic-
tor Hugo (1802-1885), cuja peça O Rei se Diverte foi transfor-
mada por Verdi em Rigoletto. Logo depois do sucesso desta
ópera, parecia lógico, então, que o compositor italiano bus-
casse um autor claramente influenciado por Hugo, e segui-
dor dos mesmos preceitos estéticos.
Não se sabe até hoje como Verdi chegou à peça, já que não
foi descoberta nenhuma tradução italiana do texto. O mais
provável é que tenha sido trazida de Madri por algum can-
tor, amigo do compositor, e depois vertida, para uso domés-
tico, por sua companheira, Giuseppina Strepponi. Sabe-se que,
em 1850, absorto na composição de Rigoletto, Verdi pediu
com urgência a seu editor, Giulio Ricordi, um dicionário de
espanhol. O fato é que, em correspondência com Camma-
rano, Verdi afirmou considerar El Trovador “muito belo, cheio
de imaginação e situações fortes. Gostaria que houvesse dois
papéis femininos: o principal é a cigana, uma mulher de ca-
ráter muito especial”.
A empolgação do compositor não parece ter tido con-
trapartida em seu libretista, cuja demora em responder so-
bre o projeto da ópera levou Verdi a escrever a um amigo em
comum, o napolitano Cesare de Sanctis: “estou realmente
furioso com Cammarano. Ele não tem consideração alguma
pelo tempo que, para mim, é extremamente precioso. Ele
não escreveu uma palavra sobre o Trovador; gostou ou não?”.
As tratativas com Bolonha acabaram não dando em
nada, e a resposta de Cammarano, quando chegou, estava
cheia de objeções. Diferentemente do que acontecia com o
libretista de Rigoletto, Francesco Maria Piave (com o qual tra-
balhou em dez óperas, e não tinha escrúpulos em tratar com
Situações fortes
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Manuscrito do drama El Trovador, de Antonio García Gutiérrez.
rudeza ou autoritarismo), Verdi respeitava o poeta napoli-
tano, que escrevera o libreto da Lucia di Lammermoor, de
Donizetti, e ao qual confiara seu mais caro projeto: a jamais
realizada adaptação operística do Rei Lear, de Shakespeare.
Assim, o tom da réplica foi cuidadoso: “você não me diz
uma palavra a respeito de ter gostado ou não do drama. Eu
o sugeri a você porque me parecia oferecer belos efeitos te-
atrais e, acima de tudo, algo de original e fora do comum. Se
você não compartilhava da minha opinião, por que não pro-
pôs outro tema?”
Outro tema não surgiu, e o libretista elaborou, então,
uma sinopse – que Verdi rejeitou, preferindo fazer a sua pró-
pria. Cammarano finalmente concordou com as linhas ge-
rais verdianas, e se lançou ao trabalho – lentamente, devido a
problemas de saúde que se agravariam de modo irreversível.
Em julho de 1852, Verdi se dirigiu a De Sanctis: “não te-
nho palavras para escrever quão profunda é a minha dor. Li
sobre sua morte não numa carta de amigo, mas num estú-
pido jornal teatral. Você o amava tanto quanto eu e compre-
enderá os sentimentos para os quais não encontro expressão.
Pobre Cammarano. Que perda”.
O poeta deixava seis filhos; o compositor pagou à viúva
600 ducados (em vez dos 500 combinados), e pediu a De
Sanctis a indicação de um literato para finalizar o libreto. A
tarefa ficou a cargo de Leone Emmanuele Bardare.
A primeira apresentação, em Roma, foi um sucesso absoluto:
a cena final teve que ser inteiramente bisada, como informou,
no dia seguinte, a Gazzetta Musicale, classificando a ópera
de “celestial”: “o compositor mereceu este triunfo esplêndido,
pois aqui ele escreveu música num estilo novo, imbuída de
características castelhanas. O público ouviu cada número em
silêncio religioso, prorrompendo em aplausos a cada inter-
valo, no final do terceiro ato, e com todo o quarto ato des-
Triunfo esplêndido
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pertando um tal entusiasmo que sua repetição foi exigida”. À
condessa Clarina Maffei, o compositor escreveria: “dizem que
essa ópera é muito triste e que há nela mortes demais. Mas,
afinal, tudo na vida é morte! O que mais existe?”
Tamanho êxito levou a Opéra de Paris a encomendar
uma nova versão da partitura ao compositor. Estreada em
janeiro de 1857, Le Trouvère mantinha os contornos gerais
da ópera ouvida na Itália, trazendo, contudo, algumas alte-
rações sensíveis (além do idioma). A mais notável é a inclu-
são, no terceiro ato, logo depois do coro dos soldados, de
um balé (item obrigatório na capital francesa) das ciganas;
também chama a atenção o prolongamento da última cena
da ópera, com a reprise do Miserere.
Se essas alterações, feitas pelo próprio compositor, não
“pegaram”, uma outra modificação, realizada por um intér-
prete, parece hoje inseparável da partitura. Trata-se da inser-
ção de um dó agudo em “Di quella pira”, ao fim do terceiro
ato. Há controvérsias quanto ao autor da façanha: para al-
guns, foi Carlo Baucardé (ou Boucardé), o Manrico da estreia,
em uma performance posterior da ópera, em Florença, em
1855, enquanto outros preferem colocar o agudo na conta
de Enrico Tamberlick (ou Tamberlik), tenor que correu o
mundo (Brasil inclusive) cantando o que na época era uma
novidade: o dó de peito.
Reza a lenda que, ao ouvir um dos dós de Tamberlick,
Rossini teria pedido para ele deixar a nota na chapelaria do
teatro, recolhendo-a na saída. Verdi teria sido mais compla-
cente: “longe de mim negar ao público o que ele quer. In-
clua o dó agudo, se quiser, desde que seja bom”. A nota ficou
tão arraigada na tradição que tenores com dificuldade em
alcançá-la preferem transpor a cena inteira meio tom abaixo,
e cantar um si (que passa ao ouvinte, especialmente o leigo,
uma impressão similar), do que o sol originalmente escrito
por Verdi. Intérpretes que tentam retomar a partitura original
(como o maestro Riccardo Muti, no Scala de Milão, em 2000,
com o tenor Salvatore Licitra) normalmente enfrentam a in-
compreensão – quando não a ira – do público.
Durante o processo criativo de Il Trovatore, Verdi escreveu a
Cammarano: “se na ópera não houvesse cavatinas, duetos,
trios, coros, finais etc., e a obra inteira consistisse, digamos,
em um único número, eu acharia tudo mais certo e adequado”.
Apesar das palavras que parecem ecoar um ideal wag-
neriano de continuidade musical, a ópera vai no sentido
oposto, mantendo uma rígida estrutura de números musi-
cais que parece a alguns comentadores um “retrocesso” com
relação às ousadias de Rigoletto.
Para o Dicionário Grove, contudo, “o êxito da ópera re-
side precisamente nessa restrição do discurso formal, com a
energia emocional do drama sendo constantemente canali-
zada através de unidades formais controladas do modo mais
estrito. O sucesso de Trovatore deve nos lembrar de que é
perigoso ver o desenvolvimento verdiano em uma linha ex-
cessivamente simples, nem ligá-lo, de forma impensada, a
uma ‘emancipação’ gradual das restrições formais: apesar de
sua celebração das formas tradicionais, a ópera é tudo, me-
nos um retrocesso a realizações anteriores”.
Retrocesso?
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Em sEu VocabulÁrio ortogrÁfico dE 1839, Francesco Anto-
lini assim descreve a função de libretista: “Título de desprezo
de quem faz libretos de óperas teatrais, sendo indigno do
de ‘poeta’”. Havia acabado o tempo em que Apostolo Zeno
(1669-1750) e Pietro Metastasio (1698-1782) dominavam a
cena lírica e tinham suas obras musicadas por diversos com-
positores, mesmo após suas mortes. A figura do compositor se
sobrepunha definitivamente, e cada vez mais, à do libretista,
taxado como mero “fornecedor de versos a serem musicados”.
Um olhar mais atento, porém, mostra que, com Salva-
tore Cammarano (1801-1852) a situação era outra. Aclamado
como um dos melhores de sua época – sua fama só se equi-
parava à de Felice Romani (1788-1865), conhecido sobretudo
pela parceria com Vincenzo Bellini –, o libretista napolitano ti-
nha uma formação literária bastante sólida. Sabia muito bem
o francês e conseguia, através dessa língua, ler obras ingle-
sas e alemãs que chegavam traduzidas a Nápoles. Lamen-
tava não conhecer bem o latim e o grego, embora tivesse
Um Libreto Trovadoresco José Luiz Águedo-Silva
José Luiz Águedo-Silva é literato,
músico, mestre em teoria e história
literária e autor da dissertação Il
Trovatore e o Libreto Belcantista.
acesso às obras clássicas também pelas traduções. Todo esse
saber influenciaria tanto a escolha dos temas para seus libre-
tos como sua relação com os diversos gêneros, sendo capaz
de adaptar peças e romances para a forma-libreto.
Uma vez que o tema fosse escolhido, Cammarano par-
tia para a sinopse do enredo. Na verdade, eram duas: uma
resumida, com os pontos principais que seriam desenvolvi-
dos, e outra detalhada (chegando a ter cinco ou seis pági-
nas) com toda a estrutura delineada, inclusive os diálogos e
o desenvolvimento das cenas, já divididas em numeri chiusi
(os “números fechados”, típicos da ópera romântica italiana).
Aliado ao conhecimento literário e teatral, essa orga-
nização textual de Cammarano era essencial para que o li-
bretista pudesse criar uma obra que satisfizesse tanto a ele,
quanto ao compositor com o qual trabalhava. E mais: a repu-
tação de Cammarano estava também na qualidade de seus
versos, cheios de uma “musicalidade textual” que iria se re-
fletir na própria composição.
Após o sucesso de Rigoletto (1851), Verdi percebeu que
estava implantando uma verdadeira revolução na ópera
italiana, e que tinha o público a seu lado. Viu na peça El
trovador (1836), de Antonio García Gutiérrez, uma ótima
oportunidade para continuar essa revolução.
Quando se colocam lado a lado peça e libreto, a primeira
diferença notável é a redução do número de personagens. Em-
bora Il Trovatore tenha sido a primeira obra de Verdi criada an-
tes da escolha de cantores, orquestra e teatro para a estreia, a
experiência de Cammarano levou-o a suprimir Don Guillén de
Sesé, irmão de Leonor, e Don Lope de Urrea, um seguidor do
Conde de Luna, bem como Guzmán e Jimeno, que acabaram
fundidos em Ferrando, personagem que já constava do original.
El trovador está dividida em cinco ‘jornadas’, reduzidas a qua-
tro “partes” na ópera. O primeiro programa de Cammarano,
As jornadas do Trovador
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que consta de uma carta de 1º de abril de 1851, faz um grande
resumo da peça, já propondo basicamente a divisão dos nú-
meros e um esboço dos versos: trata-se de um misto de narra-
tiva onisciente, falas das personagens e “pré-versos” da ópera.
E, como Verdi desejava, o coro inicial foi cortado e substituído
por um racconto: Ferrando conta a um grupo de soldados os
acontecimentos que se passaram 20 anos antes – desde o iní-
cio da ópera há mostras de que o velho Conde de Luna sabia
que seu filho continuava vivo.
A cavatina de Leonora, um dos momentos de maior ex-
pressão lírica (textual e musical) foi uma das divergências en-
tre compositor e libretista. Apesar do impasse, Verdi acabou
cedendo e aceitou enfim a cena, que se assemelha muito à
cavatina de Lucia (lembremos que o libreto de Lucia di Lam-
mermoor também é de Cammarano), com a figura da “aia
palpiteira” e certa retomada à antiga tradição da aria di sor-
tita, quando a personagem entrava, cantava e saía de cena.
Como em diversas obras do Romantismo, Il Trovatore
possui um caráter escuro, noturno, sombrio. A noite dá o tom
a muitas das situações no desenrolar da trama, como a con-
fusão transformada em terceto, cheio de ódio e temor, que fi-
naliza a Parte I, e é ela que acompanha as personagens até o
fim – três dos quatro protagonistas chegam à “noite da vida”,
cada qual com sua sina, seu destino, sua morte.
Após o famoso coro que inicia a Parte II, entra em cena Azu-
cena, que para Verdi era a figura principal da ópera. Além
de ser um dos maiores desafios vocais para mezzo-soprano,
trata-se de uma das personagens mais bem escritas da histó-
ria da ópera italiana, tamanha é sua profundidade num pe-
ríodo em que o psicologismo ainda não estava em voga. A
cavatina de Azucena conta novamente a história narrada por
Ferrando, mas de outro ponto de vista: o da filha da cigana
condenada à fogueira. Em cada verso ela relembra os horro-
Inverossimilhanças
res de ter presenciado a execução da própria mãe, que, expi-
rando, pediu vingança à filha – a última frase da mãe ressoa
sempre na mente de Azucena, ecoando em diversos momen-
tos na música. Depois, continua sua narrativa, na qual men-
ciona um acontecimento importante: atordoada pelo choro
do bebê raptado, num momento de torpor e delírio, jogou o
próprio filho no fogo.
Este é um dos pontos-chave do enredo, e também pro-
porcionou discussões entre compositor e libretista – até hoje
é um dos trechos mais criticados pelos detratores da ópera,
pois o consideram muito inverossímil, colocando a culpa em
Cammarano. Entretanto, ao ler a correspondência recolhida
na publicação intitulada Carteggio Verdi-Cammarano (1843-
1852), percebe-se que Cammarano tinha plena consciência
da trama, fazendo uma longa explanação sobre a cigana,
que só poderia contar tais fatos se estivesse minimamente
demente, alternando momentos de lucidez e de loucura – afi-
nal, segundo suas próprias palavras, “Quando Azucena não
raciocina, raciocina melhor o drama”.
Outro ápice da ópera acontece com a cabaleta “Di
quella pira”, que encerra a Parte III e figura como top five no
repertório tenoril. Por vários anos acreditou-se que esse infla-
mado número fora o último escrito por Cammarano; poste-
riormente descobriu-se que à época de sua morte, o libreto
estava completo, e que Verdi só contratou Leone Emma-
nuele Bardare para fazer pequenos ajustes em trechos que
não o satisfizeram – como “Il balen del suo sorriso”, “Stride
la vampa”, “D’amor sull’ali rosee” e o finale, no qual o jovem
poeta aproveitou os versos rascunhados pelo compositor.
Há críticos que citam esse trecho como uma das razões
da pretensa inverossimilhança: dizem que o sistema de nu-
meri chiusi quebra toda a dramaticidade da obra, além de
não condizer em nada com o que está sendo dito – Manrico
fala que correrá para salvar a mãe, mas continua parado, can-
tando. Entretanto, pela tradição, na cabaleta, assim como na
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 20
ária, a ação se suspende, devendo o tempo ser encarado de
forma diferente: a explicação mais plausível para “Di quella
pira” é que se trata de um tempo totalmente psicológico,
em que Manrico descreve o que sente e planeja os próxi-
mos passos. A volta ao tempo “real” se dá somente na coda,
quando ele se dirige a seus companheiros aos brados de “Às
armas!” – e canta o Dó “de peito” que não está na partitura.
O início da última parte mostra uma ala do Palácio de
Aliaferia, numa escuridão imensa. Leonora está sozinha, re-
fletindo sobre tudo o que aconteceu: canta sua segunda ária,
que mostra outro grande momento lírico da ópera e prenun-
cia o fim da personagem, disposta a se sacrificar pelo amado.
Depois dela, ouve-se o “Miserere”, um tempo di mezzo alon-
gado que constitui um trecho bastante peculiar, quase um
concertato. Nele, Cammarano e Verdi ampliaram a cena origi-
nal, já escrita por García Gutiérrez, colocando um coro interno
de religiosos pedindo a proteção aos que vão morrer, com Le-
onora absolutamente angustiada e Manrico despedindo-se
dela em estrofes trovadorescas. Apesar do compositor ter se
utilizado da mesma estrutura em óperas anteriores, o efeito
alcançado no Trovatore é absolutamente perfeito.
Momentos depois, o Conde entra e Leonora propõe um
acordo: se Manrico for libertado, ela própria se entregará ao
Conde. Ele acaba por ceder e se distancia para pedir que li-
bertem o Trovador; enquanto isso, Leonora toma o veneno
que estava em seu anel, pois prefere morrer a ser de outro.
Este ponto foi sugerido por Cammarano, pois no original Leo-
nora se envenena antes do diálogo com o Conde. Verdi ques-
tionou a mudança, e o libretista foi muito pontual: “Parece
mais verossímil envenenar-se uma vez que tenha conquistado
De Luna, e para não cair em seu poder depois da fuga.”
Devido à censura, palavras relacionadas à religião ou à
política tiveram de ser modificadas, e o público que assistiu
Censura e sucesso
às primeiras récitas ouviu versos diferentes dos que conhe-
cemos hoje. Com o tempo, essas mudanças foram deixadas
de lado e o texto original prevaleceu.
Salvatore Cammarano não viveu para ver sua obra triunfar
nos palcos desde a première. Apesar das críticas que sofreu
durante mais de cem anos, Il Trovatore passou a ser vista com
outros olhos pelos estudiosos, que perceberam qualidades
antes ignoradas. O napolitano sabia de todo o seu potencial,
e escreveu, resumindo o que fizera ao transformar El trovador
em Il Trovatore: “Recapitulando (é necessário deixar de lado
por um momento a modéstia) acredito que meu programa se
esquiva das areias movediças da Censura, serve aos propó-
sitos do Melodrama, tira alguns defeitos do original – conser-
vando a força e a bizarrice das personalidades, a potência das
situações e toda a fisionomia do Drama. E na verdade jamais
escrevi seguindo tão de perto os passos do original.”.
Antonio García
Gutiérrez (1813-1884)
Escritor da peça El Trovador,
que estreou no Teatro del
Príncipe, em Madri, em 1836.
Giuseppe Verdi também
adaptou a peça Simon
Boccanegra de García
Gutiérrez.
Giuseppe Verdi
(1813-1901)
O compositor italiano
teve o bicentenário
de seu nascimento
comemorado em 2013.
Salvatore Cammarano
(1801-1852)
Libretista de Il Trovatore.
Trabalhou com Giuseppe
Verdi nas óperas Alzira, A
Batalha de Legnano e Luisa
Miller. Foi também o libretista
de Lucia de Lammermoor, de
Gaetano Donizetti (1797-1848).
Torre do Trovador
Construção quadrangular
erguida no século IX, faz parte
do Palácio de la Aljafería, em
Saragoça. Ganhou seu nome
atual em homenagem ao drama
de García Gutiérrez.
Giuseppina Strepponi
(1815-1897)
Soprano que
interpretou o papel
de Abigail na estreia
de Nabucco. Amante
e segunda esposa de
Giuseppe Verdi.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 24
A Tragédia da Vingança Herdada Antonio Quinet
a história dE il troVatorE, tão inverossímil quanto simbólica,
está à altura dos mitos que inspiraram os poetas da Antiga Gré-
cia. A temática trágica está em cena na questão do herói sobre
sua origem – “Sou filho de quem?” –, no filicídio (como ato fa-
lho) de uma mãe desesperada, na luta fratricida pelos mesmos
objetos de desejo: a mulher e a pólis e, principalmente, a he-
rança de um funesto destino determinado por uma falha ética
de um antepassado, que é transmitida de geração em geração.
O mito é uma forma ficcional de falar sobre a verdade
que é recusada e sobre o real dos desejos inconscientes – a
tragédia coloca o mito em cena conferindo-lhe uma drama-
turgia centrada no herói. A ópera, herdeira dessa forma ar-
tística, radicaliza o espírito dionisíaco da música e dá a voz
cantada, antes restrita ao coro, a todos os personagens. Il
bello canto. Beleza extraída do pathos trágico: padecimento
e paixão. E a música acrescenta uma narrativa sem palavras,
que toca direto no não-dito dos afetos inconfessáveis e na
caverna dos sentimentos inomináveis.
Antonio Quinet é psicanalista,
psiquiatra, dramaturgo e doutor
em filosofia pela Universidade
de Paris VIII. É autor de diversos
livros como Os outros em Lacan
e de peças teatrais como Hilda
& Freud, encenada no Freud
Museum de Londres.
Manrico é um herói trágico que carrega um manda-
mento que desconhece: vingar a mãe. Mas quem é sua mãe?
Il Trovatore é uma tragédia do destino, como as gregas, em
que está em jogo a ambiguidade do herói: ele age por conta
própria, mas é um joguete dessa herança maldita que está
o tempo todo presente como uma Outra cena – expressão
que Freud primeiro empregou para se referir ao Inconsciente.
Essa cena onipresente é descrita na famosa área Stridi la
vampa: Crepitam as chamas! Chega a vítima vestida de ne-
gro, seminua e descalça. Sinistra resplandece sobre os rostos
horríveis a tétrica chama que se alça ao céu!. E já ardendo na
fogueira grita a mulher acusada de bruxaria: “Vingue-me”.
Essa cena é cantada em verso e gozo sob diferentes óti-
cas. E a tragédia não para aí, pois a filha (Azucena) ao ver a
mãe queimando, rapta o filho do Conde assassino e o atira
na fogueira. Ao completar o gesto ela se dá conta de que
atirou o próprio filho e poupou o filho de seu inimigo mor-
tal. Essa dupla cena é a pré-história – sabidas por uns, igno-
radas por outros e recusada pelo herói – que rege e paira
sobre toda a ação da ópera.
Manrico, criado no lugar do filho assassinado por en-
gano, carrega seu destino sem saber e... sem querer saber.
Ele insiste em ignorar quem são seus pais deixando-se ilu-
dir pelo desmentido da mãe adotiva, Azucena, mesmo de-
pois de ela ter confessado (no segundo ato) seu crime – que
só não o matou por erro, tendo jogado o próprio filho na
fogueira. O desejo assassino da mãe está aí caracterizado,
pela negação.
Diferente de Jocasta, que manda conscientemente matar
seu filho de três dias de idade, Azucena troca um bebê pelo ou-
tro e cria como seu o filho do algoz de sua mãe. Portanto, como
Édipo, Manrico é vítima de tentativa de filicídio. O conflito da
personagem Azucena é o embate entre ela – como filha que
não consegue cumprir o mandamento materno de assassinato
– e ela mesma – como mãe filicida que cria o filho do inimigo.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 26
A ópera começa e termina com a briga fratricida pelo
amor de uma mulher (ou seria em relação ao amor e ódio da
mãe?). Azucena é o pivô de toda a história, mas a ópera não
se chama La Strega (figura mítica da mãe má) e sim Il Trova-
tore – aquele que é definido pela voz.
O espectro da bruxa, mãe de Azucena e avó adotiva de
Manrico, continua vagando. É uma morta que ainda não mor-
reu, que como Hamlet pai continua vivendo clamando vin-
gança. A primeira cena, como na peça de Shakespeare, é a
evocação do espectro que de tão vivo faz suas aparições e
crimes hediondos. Espectro tenebroso que aterroriza a to-
dos. Eis a herança maldita de toda a população pelo erro do
monarca. E, como se vê em seguida, também dos filhos que
devem carregar os crimes dos pais e seus mandamentos ter-
ríveis e insensatos.
As chamas do desejo e da morte inflamam todos os persona-
gens – o fogo é a representação do pathos trágico. Para além
da história narrada no libreto, o tema do fogo (e seus deri-
vados como a chama, a pira, o inferno) percorre toda a obra
e é o mote da história. É um fogo do qual o comando vocal
emana: “Vingue-me!!” Fogo da vingança que arde e ecoa
de geração em geração por duas linhagens que se reúnem:
a de Manrico, que deve vingar a avó (adotiva) queimada na
fogueira pelo Conde de Luna pai, e a do Conde de Luna fi-
lho que deve vingar o irmão Garcia (supostamente) jogado
na fogueira por Azucena, mãe de seu rival. Como Garcia e
Manrico são a mesma pessoa, esta tragédia de erros encon-
tra em sua morte o acerto de contas.
O clamor da vendeta é um comando (do superego) que
Azucena não cumpriu, pois matou o próprio filho em vez do
filho do assassino de sua mãe. Ele se materializa no espec-
tro da bruxa assombrando a todos. Eis o imperativo que é
transmitido a Manrico, que não hesita a ficar sempre ao lado
O fogo da vingança
da mãe, em detrimento da mulher amada, no terceiro ato. O
fogo adquire várias formas de amor e de ódio, incendiando
de paixão os dois irmãos, Leonora e também Azucena. O
fogo consumirá a todos arrastando-os do mal ao pior. O pa-
thos trágico se anuncia e se cumpre. No final da ópera, Azu-
cena, depois de desvelar ao Conde que ele acabara de matar
o próprio irmão, diz “Você está vingada, mãe”.
Os temas do amor e da vingança não só se entrelaçam
como são correntes de lava da mesma pira: a mãe. O assas-
sinato de um filho, a culpa, a devoção ao filho criado como
seu, o ciúmes da futura nora, tudo isso desvela os sentimen-
tos ambíguos que uma mãe pode ter por seus filhos. O per-
sonagem complexo de Azucena reúne todos eles. Daí sua
força dramática para além de qualquer discussão de veros-
similhança. A ousadia de Il Trovatore vai além: mostra que a
verdadeira mãe é aquela que adota o filho, tendo-o parido
ou não. E que a herança simbólica de pais para filhos não é
transmitida pela genética e sim pelo desejo.
Esta obra nos ensina algo que Freud descobriu com seus
pacientes. Como na tragédia grega, a desgraça (até) familiar
começou com a falta trágica (hamartia) do Conde de Luna pai
que, movido por sua desmedida (hybris) manda matar uma
mulher supostamente bruxa. A desgraça é herdada pelas ge-
rações seguintes. O inconsciente é formado por essa herança
simbólica e pelas faltas dos antepassados, cuja culpa o su-
jeito carrega. E também por mandamentos que levam a agir,
mesmo sem a consciência deles, tais como “Salvar a honra do
pai”, “Vingar a mãe”, que é o caso dos dois irmãos. Eis o que
esta ópera coloca em cena como o inconsciente a céu aberto.
Os personagens são agidos pelo desejo do Outro – o incons-
ciente. “Mi vendica! – essa frase deixou um eco eterno neste
coração”, diz Azucena a seu “filho”, para em seguida transmitir
a ele a mesma ordem. Encontramos aí, portanto, os elemen-
tos de tragédia grega que, se é pouco verossímil, bate no co-
ração, povoa o mundo dos sonhos e arde na paixão.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 28
Em Manrico, o trovador, o comando vocal do superego
se transforma em obra de arte: sua voz tem o dom de pro-
vocar o êxtase. Nesta ópera de Verdi vemos as duas ver-
tentes da voz: a voz que, como uma alucinação, comanda,
coage, constrange e obceca, e a voz que encanta, maravi-
lha e extasia.
Leonora se apaixona pela voz do trovador, pois ao ouvi-la diz
que “Ao coração e ao olhar em êxtase a terra virou um céu”
(Ato 1). É o êxtase provocado pela pulsão vocal. Gozo con-
fesso na estrofe anterior dessa ária que em si é uma clara re-
ferência ao gozo feminino. Gioia provai che agli angeli solo
è provar concesso" ("Tive um gozo que só aos anjos é per-
mitido") é a pura expressão do que Lacan chamou de o Ou-
tro gozo, para além do gozo fálico sexual - gozo feminino por
excelência, mas que podemos referir ao gozo estético. Ela
goza só de ouvir a voz do Trovador. Não esqueçamos que é
ele definido pela voz e não pelo nome próprio e é quem dá
o nome à obra. A pulsão vocal a penetrou e seu coração ar-
deu. “As chamas incandescentes da paixão consomem meu
ser”, canta Leonora. Esse gozo se expressa na voz da cantora
numa linha melódica ascendente com cromatismos e vibra-
tos até alcançar notas muito altas com coloraturas no ponto
culminante, que alcança dramática e drasticamente o arreba-
tamento extático e em seguida o relaxamento. Essa ária re-
mete à famosa ária Sempre libera, de homenagem ao gozo
sem amarras da Traviata, ópera composta no mesmo ano.
Azucena também é livre, como cigana “tem o céu como teto
e o mundo como pátria” (Ato 3). Em ambas as árias, o canto é
a expressão de um gozo sem limites, cujo protótipo é o gozo
do êxtase, sonorizado no canto lírico desde as óperas barro-
cas. Verdi, com sua música e seus trovadores, nos transporta,
como Leonora, para cima da terra – lá onde os espectadores-
-ouvintes são os extasiados.
O gozo da música
O Miserere final corresponde ao preceito da ética trá-
gica enunciado por Sileno, pai de Dioniso (deus do teatro)
“Antes não ter nascido” retomado pelo coro de Édipo em
Colona. A vida é mordida pela pulsão de morte com seu la-
mento triste, porém sublime, que provoca em nós a catarse
que possibilita transformar o terror em prazer estético, lem-
brando-nos que somos todos seres-para-a-morte, que temos
na vida a chama de Eros.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 30
Para fazer um paralelo com o cinema, há grandes obras-pri-
mas que foram adaptadas de romances "absurdos" e vice-
-versa, assim como filmes medíocres que são feitos a partir
de grandes obras-primas da literatura.
Verdi, como os grandes diretores de cinema, faz a dife-
rença! Você compreende imediatamente quando para de
ler o libreto e assiste à ópera, o espetáculo no palco. Todas
as incongruências se tornam secundárias porque Verdi de-
senvolve uma dramaturgia musical independente, na qual
coloca um holofote sobre as relações entre os personagens,
e nesse ambiente o espectador se torna imerso, imediata e
profundamente. Nesse ponto, as inconsistências do libreto
passam a um segundo plano; não existem mais.
A primeira coisa a fazer, então, para a encenação da
ópera, é ouvir bem a música de Verdi. Na minha encenação
insisto bastante em alguns pontos fixos do espaço cênico,
que estarão presentes do início ao fim do espetáculo para
ajudar na compreensão da trama.
Quatro Perguntas
para o Diretor Cênico
Andrea De Rosa
Quais os principais
desafios para a realização
cênica de Il Trovatore, com
seu argumento repleto de
inverossimilhanças?
No centro do palco haverá sempre um buraco aberto,
como uma pira sempre acesa, lugar em que foi queimado o filho
de Azucena, e o mesmo ponto em que, no fim, morre Manrico.
Acho Azucena um personagem extraordinário, por levantar
uma série de questões. Como pode uma mãe matar o próprio
filho por engano? Eu entendo que a única resposta viável é
admitir que isso poderia acontecer conosco, que qualquer um
poderia perder o controle de si mesmo em razão de uma ob-
sessão (nesse caso, a obsessão por vingar a mãe). Não se deve
jamais pensar nela como uma louca. Verdi foi muito claro neste
ponto, como se nos convidasse a descobrir a sua "humani-
dade", escondida atrás de sua aparente insanidade. Se tentar-
mos pensar que o que ela fez poderia acontecer com qualquer
um de nós, se nos aproximarmos dela dessa forma, acredito
que Azucena ainda pode falar ao público de hoje, pois nela
encontramos os medos que nos acompanham sempre. E se
nos esforçarmos para ver a nossa fraqueza em sua fragilidade,
então acredito que uma profunda compaixão a acompanha:
parece-me que a música de Verdi nos conduz nessa direção.
Sim eu deixei a ambientação da ópera em seu contexto his-
tórico original.
Acho muito interessante quando tais mudanças ajudam
o público a se identificar com a história contada. Entretanto,
em muitos casos, um ambiente contemporâneo parece-me
encobrir a falta de boas ideias, se reduzindo a um desejo su-
perficial e genérico de modernidade, que por si só não basta.
Esta produção é realizada em conjunto com Sergio Tramonti
na cenografia, Alessandro Ciammarughi no figurino e Pas-
quale Mari na luz. Eles são verdadeiros artistas, cada um em
sua área, e juntos estamos trabalhando em uma montagem
na qual os valores do "teatro" e da dramaturgia musical flo-
rescem, com total força e nitidez.
Como você desenvolveu
o personagem de Azucena?
Como você vê as mudanças
temporais na ópera, em
comparação à época do
argumento original? Seu
Trovatore permanece em
Biscaia/Aragão do século XV?
O que público de São Paulo
pode esperar cenicamente
deste Trovatore?
Croqui de Sergio Tramonti para o cenário do terceiro ato.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 34
1813 Nascimento de Giuseppe Verdi no dia 10 de outubro,
na cidade de Roncole, próximo a Parma, na Itália.
1835 Salvatore Cammarano (1801-1852), libretista de Il Trovatore,
escreve a ópera Lucia de Lammermoor para Gaetano
Donizetti (1797-1848).
1836 Estreia no Teatro del Príncipe, em Madri, a peça El
Trovador, do dramaturgo espanhol Antonio García
Gutiérrez (1813-1884). O jovem escritor ganhava a vida
traduzindo as obras de Alexandre Dumas pai (1802-1870)
para o espanhol e passava por dificuldades financeiras
quando foi surpreendido pelo sucesso de sua peça.
Giuseppe Verdi também transformou em ópera a peça
Simon Boccanegra, de García Gutiérrez, em 1857.
1842 Após a morte dos filhos, seguida da morte da primeira
esposa, e do fracasso de público da ópera Un Giorno di
Regno, Verdi entra em reclusão e resolve abandonar a
carreira lírica. Com a insistência de Bartolomeo Merelli,
empresário do Teatro alla Scala e amigo do compositor,
ele decide voltar a escrever. Sua próxima ópera,
Nabucco, é um estrondoso sucesso. O coro Va, Pensiero,
cantado pelos escravos hebreus, se torna um símbolo
da ocupação austríaca da Itália, fazendo de Verdi um
símbolo do Risorgimento.
Giuseppe Verdi
e Il Trovatore
1847 Verdi começa um romance com Giuseppina Strepponi
(1815-1897), soprano que interpretou o papel de Abigail
na estreia de Nabucco, com quem viverá pelo resto
da vida. Giuseppina provavelmente traduziu a peça
El Trovador, de García Gutiérrez, para o italiano.
1849 Salvatore Cammarano e Verdi trabalham juntos em Luisa
Miller, ópera que estreia no Teatro San Carlo, em Nápoles.
1852 Falece Salvatore Cammarano, deixando o libreto de Il
Trovatore para ser terminado por Leone Emanuele Bardare
(1820-1874). Deixou também inacabado um projeto
de uma ópera baseada em Rei Lear, de Shakespeare.
1853 Em 19 de janeiro estreia no Teatro Apollo, em Roma,
a ópera Il Trovatore, com enorme sucesso.
1874 Pela sua dedicação à pátria, Verdi é nomeado senador
pelo rei Vittorio Emanuele.
1893 Estreia Falstaff, última ópera de Verdi.
1901 Morte de Giuseppe Verdi, no dia 27 de janeiro, em sua suíte
do Grand Hotel de Milão. Seu amigo, o regente Arturo
Toscanini, organiza um coro de mais de 800 pessoas que
entoa Va, Pensiero, em homenagem ao compositor.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 36
Gravações de Referência
Regente Zubin Mehta
Manrico Plácido Domingo
Azucena Fiorenza Cossotto
Leonora Leontyne Price
Conte di Luna Sherrill Milnes
Ferrando Bonaldo Giaiotti
New Philharmonia Orchestra
RCA Victor
CDs
Regente Richard Bonynge
Manrico Luciano Pavarotti
Azucena Marilyn Horne
Leonora Joan Sutherland
Conte di Luna Ingvar Wixell
Ferrando Nicolai Ghiaurovi
New Philharmonia Orchestra
RCA Victor
Regente Renato Cellini
Manrico Jussi Bjorling
Azucena Fedora Barbieri
Leonora Zinka Milanov
Conte di Luna Leonard Warren
Ferrando Nicola Moscona
RCA Victor Orchestra
Naxos
Regente Carlo Rizzi
Diretor Cênico Elijah Moshinsky
Manrico José Cura
Azucena Yvonne Naef
Leonora Verónica Villarroel
Conte di Luna Dmitri Hvorostovsky
Ferrando Tomas Tomasson
Royal Opera House Covent Garden
Opus Arte
Regente Marco Armiliatoi
Diretor Cênico David McVicar
Manrico Marcelo Álvarez
Azucena Dolora Zajick
Leonora Sondra Radvanovsky
Conte di Luna Dmitri Hvorostovsky
Ferrando Stefan Kocán
The Metropolitan Opera Orchestra
Deutsche Grammophon
DVDs
BLU-RAY
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 38
Croquis de Alessandro
Ciammarughi para os figurinos
da ópera Il Trovatore.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 40
[Atrio nel palazzo dell'Aliaferia.
Da un lato, porta che mette agli
appartamenti del Conte di Luna
Ferrando e molti Familiari del Conte
giacciono presso la porta; alcuni
Uomini d'arme passeggiano in fondo
[Ai Familiari vicini ad assopirsi]
All'erta, all'erta!
Il Conte n'è d'uopo
attender vigilando;
ed egli talor,
presso i veroni della sua cara,
intere passa le notti.
Gelosia le fiere serpi
gli avventa in petto!
Nel trovator, che dai giardini
move notturno il canto,
d'un rivale a dritto ei teme.
Dalle gravi palpebre
il sonno a discacciar,
la vera storia ci narra di Garzia,
germano al nostro Conte.
[Átrio no palácio de Aljafería.
De um lado, porta que leva aos
apartamentos do Conde de Luna.
Ferrando e muitos criados do Conde
situam-se próximos à porta; alguns
soldados passeiam ao fundo.]
[Aos criados quase pegando no sono]
Alerta! Alerta!
O Conde nos mandou
esperar vigiando
e ele, de vez em quando,
junto à varanda de sua querida,
passa noites inteiras.
As serpentes ferozes do ciúme
atacam seu peito!
O trovador, que nos jardins
passeia com noturno canto,
ele, com razão, teme como rival.
Para afastar o sono
das pesadas pálpebras,
conta-nos a verdadeira história de
Garzia, irmão de nosso Conde.
Ato I - O Duelo
Primeira Cena
Atto I - Il Duello
Scena Prima
Ferrando
Criados Familiari
Ferrando
Criados Familiari
LIBRETO Il Trovatore
A ação ocorre em Biscaia e em Zaragoza, Aragão [Espanha], no início do século XV.
Conde De Luna Nobre, apaixonado por Leonora Barítono
Manrico Militar, prometido de Leonora Tenor
Leonora Apaixonada por Manrico Soprano
Azucena Cigana, suposta mãe de Manrico Mezzo-Soprano
Ferrando Chefe da Guarda do Conde de Luna Baixo
Ruiz Lugar-tenente de Manrico Tenor
Ines Confidente de Leonora Soprano
La dirò: venite intorno a me.
[I Familiari eseguiscono]
Noi pure...
Udite, udite.
[Tutti accerchiano Ferrando]
Di due figli vivea padre beato
il buon Conte di Luna:
fida nutrice del secondo nato
dormia presso la cuna.
Sul romper dell'aurora
un bel mattino
ella dischiude i rai;
e chi trova d'accanto
a quel bambino?
Chi?... Favella... Chi mai?
Abbietta zingara, fosca vegliarda!
Cingeva i simboli
di una maliarda!
E sul fanciullo, con viso arcigno,
l'occhio affiggeva torvo, sanguigno!
D'orror compresa è la nutrice...
Acuto un grido all'aura scioglie;
ed ecco, in meno
che il labbro il dice,
i servi accorrono in quelle soglie;
e fra minacce,
urli e percosse
la rea discacciano ch'entrarvi osò.
Giusto quei petti
sdegno commosse;
l'insana vecchia lo provocò.
Asserì che tirar del fanciullino
l'oroscopo volea... Bugiarda!
Lenta febbre del meschino
Contarei: fiquem ao meu redor.
[Os criados obedecem]
Nós também…
Escutem, escutem.
[Todos se aproximam de Ferrando]
Pai feliz de dois filhos
era o bom Conde de Luna:
uma fiel ama do segundo filho
dormia junto ao seu berço.
Ao romper da aurora
de uma bela manhã,
ela abre os olhos
e quem encontra ao lado
daquele menino?
Quem? Conte-nos! Quem seria?
Abjeta cigana, obscura velha!
Carregava os símbolos
de uma feiticeira!
E sobre o menino, com a cara fechada,
fixava o olho turvo, sanguinário!
A ama é tomada pelo horror…
Lança um grito agudo pelo ar,
e antes que os lábios se fechem,
os servos correm até o local,
e entre ameaças,
gritos e empurrões,
expulsam a malvada
que ali ousou entrar.
Aqueles peitos sentiram
um justo desprezo
que a velha insana provocou.
Afirmou que queria fazer
o horóscopo do garoto... Mentirosa!
Uma lenta febre destruía
Ferrando
Soldados Armigeri
Criados Familiari
Ferrando
Coro
Ferrando
Coro
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 42
la salute struggea!
Coverto di pallor,
languido, affranto
ei tremava la sera.
Il dì traeva
in lamentevol pianto...
Ammaliato egli era!
[Il coro inorridisce]
La fattucchiera perseguitata
fu presa,
e al rogo fu condannata;
ma rimaneva la maledetta
figlia, ministra di ria
vendetta!
Compi quest'empia
nefando eccesso!...
Sparve il fanciullo
e si rinvenne
mal spenta brace nel
sito istesso
ov'arsa un giorno
la strega venne!
E d'un bambino... ahimè!
L'ossame bruciato a mezzo,
fumante ancor!
Ah scellerata!... oh donna infame!
Del par m'investe odio ed orror!
E il padre?
Brevi e tristi giorni visse:
pure ignoto del cor
presentimento
gli diceva che spento
non era il figlio;
ed, a morir vicino,
bramò che il signor nostro
a lui giurasse
a saúde do pobre menino!
Pálido,
lânguido, abatido,
ele tremia à noite.
E o dia atravessava
em lamentáveis prantos.
Estava enfeitiçado!
[O coro se horroriza]
A feiticeira perseguida
foi presa
e condenada à fogueira;
mas restava sua maldita
filha, planejadora de perversa
vingança.
Essa ímpia cumpriu
seu nefando intuito.
Desapareceu o menino
e encontraram-se
brasas mal apagadas no
mesmo lugar
onde um dia
foi queimada a bruxa!
E de um menino… ai...
uma ossada meio queimada,
ainda fumegante!
Oh, malvada! Oh, mulher infame!
Juntos me tomam o ódio e o horror!
E o pai?
Breves e tristes dias viveu:
contudo, um pressentimento
profundo
lhe dizia que morto
não estava seu filho,
e, próximo à morte,
desejou que o nosso senhor
lhe jurasse
Coro
Alguns Alcuni
Ferrando
Soldados Armigeri
Ferrando
Criados Familiari
Ferrando
Soldados Armigeri
Ferrando
Coro
Alguns Alcuni
Outros Altri
Ferrando
di non cessar le indagini...
Ah! Fur vane!...
E di colei non s'ebbe
contezza mai?
Nulla contezza...
Oh, dato mi fosse
rintracciarla un dì!...
Ma ravvisarla potresti?
Calcolando
gli anni trascorsi...
Lo potrei.
Sarebbe tempo presso la madre
all'inferno spedirla.
All'inferno?
È credenza che dimori
ancor nel mondo l'anima perduta
dell'empia strega,
e quando il cielo è nero
in varie forme altrui si mostri.
[Con terrore]
E vero!
Su l'orlo dei tetti
alcun l'ha veduta!
In upupa o strige
talora si muta!
In corvo tal'altra;
più spesso in civetta!
Sull'alba fuggente al par di saetta.
Morì di paura un servo del conte,
che avea della zingara
não cessar as buscas…
Ah! Foi em vão!…
E daquela não se teve
mais notícias?
Nunca mais…
Oh, quem me dera
um dia reencontrá-la!…
Mas conseguiria reconhecê-la?
Calculando
os anos passados…
Conseguiria.
Já era tempo de enviá-la
ao inferno, junto de sua mãe.
Ao inferno?
Há a crença que vaga
ainda pelo mundo a alma perdida
da ímpia bruxa,
e quando o céu está negro
ela se mostra de várias formas.
[Com terror]
É verdade!
Sobre os cumes dos telhados
alguns a viram!
Como poupa ou bruxa
às vezes aparece!
Como corvo outras vezes,
e mais ainda como coruja!
Ao amanhecer, foge como uma flecha.
Morreu de medo um servo do conde,
que com a cigana
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 44
percossa la fronte!
[Tutti si pingono di superstizioso
terrore]
Apparve a costui d'un gufo
in sembianza
Nell'alta quiete
di tacita stanza!...
Con l'occhio lucente
guardava il cielo
attristando d'un urlo feral!
Allor mezzanotte appunto
suonava...
[Una campana suona a distesa mezzanotte]
Ah! sia maledetta
la strega infernal!
[Con subito soprassalto, odonsi alcuni
tocchi di tamburo. Gli uomini d'arme
accorrono in fondo; i Familiari corrono
verso la porta]
[Giardini del palazzo. Sulla destra
marmorea scalinata che mette agli
appartamenti. La notte è inoltrata;
dense nubi coprono la luna.]
Che più t'arresti?...
L'ora è tarda: vieni.
Di te la regal donna chiese,
l'udisti.
Un'altra notte ancora
senza vederlo...
Perigliosa fiamma tu nutri!...
Oh come, dove la primiera favilla
in te s'apprese?
Ne' tornei. V'apparve
bruno le vesti ed il cimier,
deu de cara!
[Todos se enchem de supersticioso
terror]
Apareceu para ele parecido
com um mocho
na alta quietude
de um quarto silencioso!...
Com o olho luminoso
olhava, entristecendo
o céu com um grito funesto!
E então soava pontualmente
a meia-noite...
[Um sino soa, de repente, meia-noite]
Ah, maldita seja
a bruxa infernal!
[Com súbito sobressalto, ouvem-se
alguns toques de tambor. Os
homens de armas correm ao fundo
e os criados correm para a porta.]
[Jardins do palácio. À direita, uma
escadaria de mármore que conduz
aos apartamentos. É alta noite,
densas nuvens cobrem a lua.]
O que mais a detém?
Já está tarde, venha.
A rainha chamou por você,
você ouviu.
Mais uma noite
sem vê-lo…
Perigosa chama, a que você nutre…
Oh! Como e onde a primeira fagulha
em você acendeu?
Nos torneios. Ele apareceu
com roupas e elmo escuros,
Todos Tutti
Segunda Cena
Scena Seconda
Ines
Leonora
Ines
Leonora
lo scudo
bruno e di stemma ignudo,
sconosciuto guerrier,
che dell'agone gli onori ottenne...
Al vincitor sul crine
il serto io posi...
Civil guerra intanto arse...
Nol vidi più!
Come d'aurato sogno
fuggente imago!
Ed era volta lunga stagion...
Ma poi...
Che avvenne?
Ascolta.
Tacea la notte placida
e bella in ciel sereno
la luna il viso argenteo
mostrava lieto e pieno...
Quando suonar per l'aere,
infino allor sì muto,
dolci s'udiro e flebili
gli accordi d'un liuto,
e versi melanconici
un trovator cantò.
Versi di prece ed umile
qual d'uom che prega Iddio,
in quella ripeteasi
un nome... il nome mio!...
Corsi al veron sollecita...
Egli era! Egli era desso!...
Gioia provai che agli angeli
solo è provar concesso!...
Al core, al guardo estatico
la terra un ciel sembrò.
Quanto narrasti di turbamento
m'ha piena l'alma!...
Io temo...
o escudo
escuro e com o brasão desembainhado,
guerreiro desconhecido,
que obteve as honras dos combates...
Sobre os cabelos do vencedor
eu coloquei a coroa.
Enquanto isso ardia a guerra civil…
Não mais o vi!
Como um sonho dourado
foi a imagem fugitiva!
E então voltou a longa estação…
mas depois…
O que aconteceu?
Escuta.
Calava a noite plácida
e bela em um céu sereno;
a lua mostrava seu rosto prateado
alegre e cheio...
Quando soaram pelo ar,
até então tão silente,
ouviram-se doces e suaves
os acordes de um alaúde
e versos melancólicos
um trovador cantou..
Versos de prece e humildes
como de um homem que reza para Deus,
e nela se repetia
um nome... o meu!
Corri até a varanda atenciosa…
Era ele! Era ele mesmo!...
Provei um prazer que somente
aos anjos é permitido provar!…
Ao coração e ao olhar em êxtase
a terra virou um céu.
Pelo que você contou,
minha alma enche-se de perturbação.
Temo…
Ines
Leonora
Ines
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 46
Invano!
Dubbio, ma triste presentimento
in me risveglia quest'uomo
arcano!
Tenta obliarlo...
Che dici!... oh basti!...
Cedi al consiglio dell'amistà...
Cedi...
Obliarlo! Ah,
tu parlasti detto,
che intendere l'alma non sa.
Di tale amor che dirsi
mal può dalla parola,
d'amor che intendo io sola,
il cor s'inebriò!
Il mio destino compiersi
non può che a lui dappresso...
S'io non vivrò per esso,
per esso io morirò!
Non debba mai pentirsi
Chi tanto un giorno amò!
[Ascendono agli appartamenti. Il
conte di Luna entra nel giardino]
Tace la notte!
Immersa nel sonno, è certo,
la regal signora;
ma veglia la sua dama...
Oh! Leonora,
tu desta sei;
mel dice, da quel verone,
tremolante un raggio
della notturna lampa...
Ah! L’amorosa fiamma
m'arde ogni fibra!...
Em vão!
Duvido, mas um triste pressentimento
este homem misterioso em mim
desperta!
Tente esquecê-lo…
O que está dizendo?... Oh, chega!
Ceda ao conselho da amizade…
Ceda…
Esquecê-lo! Ah,
você disse algo
que a alma não sabe entender.
De tal amor que não se pode
explicar com palavras,
do amor que só eu entendo,
o coração se enebriou.
O meu destino não se pode cumprir
a não ser ao seu lado…
Se eu não viver por ele,
por ele morrerei!
Que nunca tenha de se arrepender
quem um dia tanto amou!
[Sobem aos apartamentos. O
Conde de Luna entra no jardim]
Cala a noite.
Certamente imersa no sono
está real senhora;
mas sua dama vela…
Oh, Leonora,
acordada você está,
me diz, dessa varanda,
um trêmulo raio
da lâmpada noturna…
Ah! A amorosa chama
queima todas as minhas fibras!...
Leonora
Ines
Leonora
Ines
Leonora
Ines
Conde Conte
Ch'io ti vegga è d'uopo,
che tu m'intenda...
Vengo... A noi supremo
è tal momento...
[Cieco d'amore avviasi verso
la gradinata. Odonsi gli accordi
d'un liuto: egli s'arresta]
Il Trovator! Io fremo!
Deserto sulla terra,
col rio destino in guerra
e sola spese un cor
al trovator!
Ma s'ei quel cor possiede,
bello di casta fede,
e d'ogni re maggior
il trovator!
Oh detti! Oh gelosia!
Non m'inganno...
Ella scende!
[S'avvolge nel suo mantello]
[Correndo verso il Conte]
Anima mia!
[Fra sè]
Che far?
Più dell'usato
è tarda l'ora;
io ne contai gl'istanti
co' palpiti del core!
Alfin ti guida pietoso amor
tra queste braccia...
Infida!...
[La luna mostrasi dai nugoli, e lascia
scorgere una persona, di cui la
visiera nasconde il volto]
Que eu a veja e depois
que você me escute...
Estou indo… Para nós,
tal momento é supremo…
[Cego de amor, ele se dirige
à escadaria. Ouvem-se os acordes
de um alaúde: ele se detém]
O trovador!Tremo!
Deserto sobre a terra,
com o malvado destino em guerra,
só um coração é a esperança
do trovador!
Mas se ele esse coração possuir,
belo por sua casta fidelidade,
é maior que todos os reis
o trovador.
Oh, que palavras! Oh, ciúmes!
Não me engano…
Ela está descendo!
[Se envolve em sua capa]
[Correndo até o Conde]
Alma minha!
[Para si]
O que fazer?
Mais do que de costume
você demorou hoje,
contei os instantes
com as batidas do coração!...
Por fim o piedoso amor te guia
para estes braços…
Infiel!
[A lua se mostra entre as nuvens e
deixa entrever uma pessoa com o
rosto oculto pela aba do chapéu]
Voz de Manrico
La Voce di Manrico
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Manrico
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 48
Qual voce!...
Ah, dalle tenebre
tratta in errore io fui!
[Riconoscendo entrambi, e gettandosi
ai piedi di Manrico, agitatissima]
A te credei rivolgere
l'accento e non a lui...
A te, che l'alma mia
sol chiede, sol desia...
Io t'amo, il giuro, io t'amo
d'immenso, eterno amor!
Ed osi?
[Sollevando Leonora]
Ah, più non bramo!
Avvampo di furor!
Se un vil non sei discovriti.
Ohimè!
Palesa il nome...
Deh, per pietà!...
[Sollevando la visiera dell'elmo]
Ravvisami, Manrico io son.
Tu!... Come!
Insano temerario!
d'Urgel seguace,
a morte proscritto,
ardisci volgerti
a queste regie porte?
Che tardi?...
Or via, le guardie appella,
ed il rivale
al ferro del carnefice consegna.
Essa voz!...
Ah, pelas trevas
enganada eu fui!
[Reconhecendo ambos e jogando-se
aos pés de Manrico, agitadíssima]
A você acreditei me dirigir,
e não a ele...
A você, por quem minha alma
pede apenas, apenas deseja…
Amo você, eu juro, eu amo você
com imenso e eterno amor.
E como se atreve?
[Levantando Leonora]
Ah, mais não desejo!
Ardo em cólera.
Se não for vil, descubra-se!
Ai de mim!
Diga-me seu nome…
Ai, tenha piedade!
[Levantando a viseira do elmo]
Reconheça-me: sou Manrico.
Você? Como?
Insano temerário!
Seguidor de Urgel,
à morte proscrito,
atreve-se a voltar
até estas reais portas?
O que você espera?
Vá, chame a guarda,
e o seu rival à espada
do carrasco entregue.
Leonora
Conde Conte
Manrico
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Manrico
Conde Conte
Manrico
Il tuo fatale istante
assai più prossimo è,
dissennato! Vieni...
Conte!
Al mio sdegno vittima
è d'uopo ch'io ti sveni...
Oh ciel! t'arresta...
Seguimi...
Andiam...
Che mai farò?
Un sol mio grido perdere lo puote...
M'odi...
No!
Di geloso amor sprezzato
Arde in me tremendo il foco!
Il tuo sangue, o sciagurato,
Ad estinguerlo fia poco!
[A Leonora]
Dirgli, o folle, “Io t'amo”
ardisti!
Ei più vivere non può...
Un accento proferisti
che a morir lo condannò!
Un istante almen dia loco
il tuo sdegno alla ragione...
Io, sol io, di tanto foco
son, pur troppo, la cagione!
Piombi, ah! piombi il tuo furore
sulla rea che t'oltraggiò...
Vibra il ferro in questo core,
che te amar non vuol, né può.
O seu fatal instante
por demais próximo está,
insensato. Venha...
Conde!
De minha fúria vítima,
é preciso que eu sacrifique você...
Oh, céus, pare...
Siga-me…
Vamos...
O que farei?
Um só grito meu poderá perdê-lo...
Ouça-me…
Não!
De um amor ciumento e desprezado
arde em mim um terrível fogo.
O seu sangue, oh, desgraçado,
será pouco para extingui-lo.
[A Leonora]
Você se atreveu, oh, louca,
a lhe dizer “eu amo você”!...
Ele não pode mais viver…
Você proferiu palavras
que o condenaram à morte!
Que ao menos por um instante
ceda sua indignação à razão…
Eu só, de tanto fogo,
infelizmente, sou a causa!
Que caia, ah, que caia o seu furor
sobre a malvada que o ultrajou.
Crave a espada neste coração,
que não quer amar você, nem pode.
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Manrico
Leonora
Conde Conte
Leonora
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 50
Manrico
Ato II - A Cigana
Primeira Cena
Atto II - La Zingara
Scena Prima
Ciganos Zingari
Del superbo vana è l'ira!
Ei cadrà da me trafitto.
Il mortal che amor t'ispira,
dall'amor fu reso invitto.
[Al Conte]
La tua sorte è già compita...
L'ora ormai per te suonò!
Il suo core e la tua vita
il destino a me serbò!
[I due rivali si allontanano con le
spade sguainate; Leonora cade,
priva di sensi]
[Un diruto abituro sulle falde di un
monte della Biscaglia. Nel fondo,
quasi tutto aperto, arde un gran
fuoco. I primi albori. Azucena siede
presso il fuoco. Manrico le sta
disteso accanto sopra una coltrice
ed avviluppato nel suo mantello;
ha l'elmo ai piedi e fra le mani la
spada, su cui figge immobilmente
lo sguardo. Una banda di Zingari è
sparsa all'intorno]
Vedi!
Le fosche notturne spoglie
de' cieli sveste
l'immensa volta;
sembra una vedova
che alfin si toglie
i bruni panni
ond'era involta.
All'opra! all'opra!
Dagli, martella.
[Danno di piglio ai loro ferri del
mestiere; al misurato tempestare
dei martelli cadenti sulle incudini, or
uomini, or donne, e tutti in un tempo
Desse soberbo vã é a ira!
Ele cairá, por mim ferido.
O mortal, que em você amor inspira,
o amor tornou invencível.
[Ao Conde]
A sua sorte já foi decidida...
Agora chegou a sua hora!
O seu coração e a sua vida
o destino me reservou!
[Os dois rivais afastam-se com as
espadas desembainhadas; Leonora
cai, inconsciente]
[Um casebre destruído ao sopé
de um monte de Biscaia. Ao fundo,
quase toda aberta, arde uma grande
fogueira. Azucena senta-se próxima
ao fogo. Manrico está deitado
ao seu lado, sobre um colchão, e
envolvido em sua capa, com o elmo
aos pés e a espada entre as mãos,
sobre a qual fixa o olhar imóvel.
Um bando de ciganos está disperso
em volta]
Vejam!
As escuras vestes noturnas
desnudam a imensa abóbada
dos céus;
parece uma viúva
que por fim retira
os escuros panos
onde estava envolta.
Mãos à obra! Mãos à obra!
Vamos, martelem.
[Golpeiam com seus instrumentos
de profissão, os golpes sobre as
bigornas medidos, ora os homens,
ora as mulheres, e ao fim, todos
Homens Uomini
Todos Tutti
Azucena
infine intonano la cantilena seguente:]
Chi del gitano
i giorni abbella?
La zingarella!
[Alle donne]
Versami un tratto; lena
e coraggio
il corpo e l'anima traggon dal bere.
[Le donne mescono ad essi in coppe]
Oh guarda, guarda!
Del sole un raggio brilla più vivido
nel mio/tuo bicchiere!
All'opra, all'opra...
Dagli, martella...
Chi del gitano i giorni abbella?
La zingarella!
Stride la vampa!
La folla indomita corre a quel
fuoco lieta in sembianza;
urli di gioia intorno echeggiano:
Cinta di sgherri
donna s'avanza!
Sinistra splende
sui volti orribili
la tetra fiamma
che s'alza al ciel!
Stride la vampa!
Giunge la vittima
nero vestita,
discinta e scalza!
Grido feroce di morte levasi;
l'eco il ripete
di balza in balza!
Sinistra splende
sui volti orribili
la tetra fiamma
che s'alza al ciel!
juntos entoam a seguinte cantilena:]
Quem embeleza
os dias do cigano?
A ciganinha!
[Para as mulheres]
Escutem-me um pouco; vigor
e coragem
para o corpo e a alma vêm ao beber.
[As mulheres servem a eles em copos]
Oh, olha, olha!
Um raio de sol brilha mais vívido
no meu/seu copo!
Mãos à obra, mãos à obra…
Vamos, martelem…
Quem embeleza os dias do cigano?
A ciganinha!
Crepitam as chamas!
A multidão indômita corre até aquele
fogo com aparência feliz,
gritos de alegria ecoam em torno:
Rodeada por capangas
uma mulher avança!
Sinistra resplandece
sobre os rostos horríveis
a tétrica chama
que se alça ao céu!
Crepitam as chamas!
Chega a vítima
vestida de negro,
seminua e descalça!
Grito feroz de morte se eleva.
O eco o repete
de barranco em barranco.
Sinistra resplandece
sobre os rostos horríveis
a tétrica chama
que se alça ao céu!
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 52
Mesta è la tua canzon!
Del pari mesta che la storia funesta
da cui tragge argomento!
[Rivolge il capo dalla parte di Manrico
e mormora sommessamente:]
Mi vendica... Mi vendica!
[Fra sè]
L'arcana parola ognor!
Compagni, avanza il giorno
a procacciarci un pan, su, su!...
scendiamo per le propinque ville.
Andiamo.
[Ripongono sollecitamente nel
sacco i loro arnesi]
Andiamo.
[Tutti scendono alla rinfusa giù per
la china; tratto tratto e sempre a
distanza odesi il loro canto]
Chi del gitano
i giorni abbella?
La zingarella!
Soli or siamo; deh, narra
questa storia funesta.
E tu la ignori,
Tu pur!... Ma, giovinetto,
i passi tuoi
d'ambizion lo sprone lungi traea!...
Dell'ava il fine acerbo
e quest'istoria...
La incolpò superbo
conte di malefizio,
onde asseria colto un bambin
Triste é a sua canção!
Igualmente triste é a história funesta
de onde vem seu argumento!
[Vira a cabeça para Manrico e
murmura bem baixo:]
Vingue-me… Vingue-me!
[Para si]
A misteriosa palavra sempre!
Companheiros, avança o dia,
vamos ganhar nosso pão, vamos!...
Desçamos até as aldeias próximas.
Vamos.
[Colocam cuidadosamente no saco
as suas ferramentas]
Vamos.
[Todos descem desordenadamente
pela encosta e, de vez em quando,
sempre à distância, ouve-se seu canto]
Quem embeleza
os dias do cigano?
A ciganinha!
Agora estamos sós, conte
essa história funesta, por favor.
E você a ignora,
você também!… Mas, jovenzinho,
o estímulo ambicioso levava longe
os seus passos!…
O fim amargo de sua avó
é esta história…
Um soberbo Conde a acusou
de feitiçaria,
da qual teria padecido um menino,
Ciganos Zingaro
Azucena
Manrico
Velho Cigano
Vecchio Zingaro
Homens Uomini
Mulheres Donne
Ciganos Zingari
Manrico
Azucena
suo figlio...
Essa bruciata venne ov'arde
quel foco!
[Rifuggendo con raccapriccio
dalla fiamma]
Ahi! Sciagurata!
Condotta ell'era in ceppi al suo
destin tremendo!
Col figlio sulle braccia,
io la seguia piangendo.
Infino ad essa un varco tentai,
ma invano aprirmi...
Invan tentò la misera
fermarsi e benedirmi!
Ché, fra bestemmie oscene,
pungendola coi ferri,
al rogo la cacciavano
gli scellerati sgherri!
Allor, con tronco accento:
Mi vendica! esclamò.
Quel detto un'eco eterna
in questo cor lasciò.
La vendicasti?
Il figlio giunsi a rapir del Conte:
Lo trascinai qui meco...
Le fiamme ardean già pronte.
Le fiamme!... oh ciel!...
Tu forse?...
Ei distruggeasi in pianto...
Io mi sentiva il core dilaniato,
infranto!...
Quand'ecco agli egri spirti,
come in un sogno, apparve
la vision ferale
filho dele…
Ela foi queimada onde arde
aquele fogo!
[Afastando-se com um calafrio
das chamas]
Ah, desgraçada!
Ela foi conduzida amarrada
ao seu destino tremendo!
Com o filho nos braços,
eu a seguia chorando.
Até ela tentei abrir caminho,
mas tudo em vão…
E em vão tentou a mísera
parar e me benzer!
Pois, entre blasfêmias obscenas,
empurrando-a com as espadas,
para a fogueira a mandavam
os capangas desgraçados!
E então, com palavras truncadas:
Vingue-me! exclamou.
E essa frase deixou um eco eterno
neste coração.
Você a vingou?
Cheguei a raptar o filho do Conde:
trouxe-o aqui comigo…
As chamas ardiam, já prontas.
As chamas!... Oh, céus!...
Você, talvez?...
Ele se desmanchava em prantos…
Eu sentia meu coração despedaçado,
partido!…
Quando ao meu espírito doente,
como num sonho, apareceu
a visão funesta
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 54
di spaventose larve!
Gli sgherri ed il supplizio!...
La madre smorta in volto...
Scalza, discinta!... il grido,
il noto grido ascolto...
Mi vendica!...
La mano convulsa tendo... stringo
la vittima... nel foco la traggo,
la sospingo...
Cessa il fatal delirio...
L'orrida scena fugge...
La fiamma sol divampa,
e la sua preda strugge!
Pur volgo intorno il guardo
e innanzi a me vegg'io
dell'empio Conte il figlio...
Ah! come?
Il figlio mio,
Mio figlio avea bruciato!
Che dici! quale orror!
Sul capo mio le chiome
sento rizzarsi ancor!
[Azucena ricade, Manrico
ammutolisce colpito d'orrore
e di sorpresa.]
Non son tuo figlio?
E chi son io, chi dunque?
Tu sei mio figlio!
Eppur dicesti...
Ah!... Forse...
Che vuoi! Quando al pensier
s'affaccia il truce caso,
lo spirto intenebrato pone
de espectros espantosos!
Os capangas e o suplício!...
A mãe com morte no rosto…
Descalça, seminua!… o grito,
o conhecido grito escuto…
Vingue-me!
A mão trêmula estendo, seguro
a vítima… trago-a ao fogo,
empurro-a…
Cessa o delírio fatal…
A horrível cena desaparece...
Apenas as chamas queimam,
e sua presa destroem!
Então, giro meu olhar
e diante de mim vejo
o filho do ímpio Conde...
Ah! Como?
O meu filho,
meu filho eu havia queimado!
O que está dizendo? Que horror!
Sobre minha cabeça
sinto ainda os cabelos eriçarem!
[Azucena cai, Manrico emudece
tomado pelo horror e pela
surpresa.]
Eu não sou seu filho?
E quem sou eu, quem então?
Você é meu filho!
Mas você disse…
Ah!... Talvez...
O que você quer? Quando penso
nesse horrível caso,
o espírito entrevado põe
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
stolte parole sul mio labbro...
Madre, tenera madre
non m'avesti ognora?
Potrei negarlo?
A me, se vivi ancora, nol dei?
Notturna,
nei pugnati campi di Velilla,
ove spento fama ti disse,
a darti sepoltura non mossi?
La fuggente aura vital
non iscovrì,
nel seno non t'arrestò
materno affetto?...
E quante cure non spesi
a risanar le tante ferite! ...
Che portai nel dì fatale...
Ma tutte qui, nel petto!...
Io sol, fra mille già sbandati,
al nemico volgendo
ancor la faccia!...
Il rio De Luna su me piombò
col suo drappello; io caddi,
però da forte io caddi!
Ecco mercede ai giorni,
che l'infame nel singolar certame
ebbe salvi da te!...
Qual t'acciecava
strana pietà per esso?
Oh madre!...
Non saprei dirlo a me stesso!
Mal reggendo all'aspro
assalto,
ei già tocco il suolo avea:
Balenava il colpo in alto
che trafiggerlo dovea...
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
palavras tolas em meus lábios…
Mãe, uma terna mãe,
não fui sempre para você?
Eu poderia negá-lo?
Você não deve a mim se ainda vive?
À noite,
até os campos de batalha de Velilla,
onde diziam que você estava morto,
não fui para sepultá-lo?
Não descobri que lhe escapava
a aura vital,
e não a deteve no seu seio
o meu materno afeto?
E quantos cuidados não empreguei
para sarar tantas feridas?
As que eu tinha do dia fatal…
Todas aqui, no peito!…
Eu só, entre milhares que fugiam,
ainda voltava o rosto
para o inimigo!…
O malvado Luna caiu sobre mim
com seu esquadrão, eu caí,
mas caí como um forte!
Isso foi graças aos dias
que o infame no singular duelo
teve salvos por você!...
Que estranha piedade por ele
o cegou?
Oh, mãe!…
Eu não saberia dizer a mim mesmo!
Dominando mal o meu áspero
assalto,
ele já tinha tocado o chão:
Brilhava no alto
o golpe que devia atravessá-lo…
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 56
Quando arresta un moto arcano,
nel discender, questa mano...
Le mie fibre acuto gelo
fa repente abbrividir!
Mentre un grido vien dal cielo,
che mi dice:
Non ferir!
Ma nell'alma dell'ingrato
non parlò del cielo un detto!
Oh! se ancor ti spinge il fato
a pugnar col maledetto,
compi, o figlio,
qual d'un Dio,
compi allora il cenno mio!
Sino all'elsa questa lama
vibra, immergi all'empio in cor.
Sì, lo giuro,
questa lama scenderà
dell'empio in cor.
[Odesi un prolungato suono
di corno]
L'usato messo Ruiz invia!
Forse...
Mi vendica!
[Resta concentrata]
[Al Messo]
Inoltra il piè.
Guerresco evento, dimmi, seguìa?
Risponda il foglio
che reco a te.
"In nostra possa è Castellor;
ne dei tu, per cenno del prence,
vigilar le difese.
Ove ti è dato,
Quando senti uma força estranha,
ao descer esta mão…
Um frio intenso fez, de repente,
estremecerem minhas fibras!
Enquanto um grito veio do céu,
que me disse:
Não o fira!
Mas na alma do ingrato
não houve uma palavra dos céus!
Oh, se ainda o destino o fizer
lutar com este maldito,
cumpra, oh, filho,
como se fosse de um Deus,
cumpra então a minha ordem!
Até o fim este punhal crave,
afunde no coração do ímpio.
Sim, eu lhe juro,
este punhal descerá
sobre o coração do ímpio.
[Ouve-se um longo som
de trompas]
Ruiz me envia o mensageiro!
Talvez…
Vingue-me!
[Fica concentrada]
[Ao mensageiro]
Aproxime-se.
Diga-me, seguiu-se ação guerreira?
Que responda a mensagem
que lhe entrego.
“Castellor está em nossas mãos,
você deve, por ordem do príncipe,
vigiar suas defesas.
E, o quanto puder,
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Mensageiro
Messo
Manrico
affrettati a venir...
Giunta la sera,
tratta in inganno
di tua morte al grido,
nel vicin Chiostro della croce
il velo cingerà Leonora".
[Con dolorosa esclamazione]
Oh giusto cielo!
[Fra sè]
Che fia!
[Al Messo]
Veloce scendi la balza,
e d'un cavallo a me provvedi...
Corro...
Manrico!
Il tempo incalza...
Vola, m'aspetta del colle a' piedi.
[Il Messo parte frettolosamente]
E speri, e vuoi?...
[Fra sè]
Perderla?... Oh ambascia!...
Perder quell'angelo?...
[Fra sè]
È fuor di sé!
[Postosi l'elmo ed il mantello]
Addio...
No... ferma... odi...
Mi lascia...
deve se apressar para vir…
Ao cair da noite,
levada ao engano
pela anúncio da sua morte,
no convento vizinho
o véu cobrirá Leonora.”
[Com dolorosa exclamação]
Oh, justo céu!
[Para si]
O que foi?
[Ao mensageiro]
Desça veloz pelos penhascos,
e para mim traga um cavalo…
Corro…
Manrico!
O tempo é curto…
Voe, espere-me ao pé do desfilareiro.
[O mensageiro parte depressa]
O que está esperando? O que quer?
[Para si]
Perdê-la?... Oh, angústia!...
Perder esse anjo?...
[Para si]
Está fora de si.
[Coloca o elmo e veste a capa]
Adeus…
Não... Pare... Ouça...
Deixe-me…
Azucena
Manrico
Mensageiro Messo
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 58
Ferma... Son io che parlo a te!
Perigliarti ancor languente
per cammin selvaggio ed ermo!
Le ferite vuoi, demente,
riaprir del petto infermo?
No, soffrirlo non poss'io...
Il tuo sangue è sangue mio!...
Ogni stilla che ne versi
tu la spremi dal mio cor!
Un momento può involarmi
il mio ben, la mia speranza!...
No, che basti ad arrestarmi
terra e ciel non han possanza...
Ah!... mi sgombra, o madre,
i passi...
Guai per te s'io qui restassi! ...
Tu vedresti ai piedi tuoi
spento il figlio dal dolor!
[S'allontana, indarno trattenuto da Azucena]
[Atrio interno di un luogo di ritiro in
vicinanza di Castellor. Alberi nel fondo.
È notte. Il Conte, Ferrando ed alcuni
Seguaci inoltrandosi cautamente
avviluppati nei loro mantelli]
Tutto è deserto,
né per l'aura ancora
suona l'usato carme...
In tempo io giungo!
Ardita opra, o Signore,
imprendi.
Ardita, e qual furente amore
ed irritato orgoglio chiesero a me.
Spento il rival, caduto
ogni ostacol sembrava
a' miei desiri;
Pare... Sou eu que falo com você.
Você vai se arriscar ainda doente
pelo caminho selvagem e ermo!
As feridas você quer, demente,
reabrir no peito enfermo?
Não, não posso consenti-lo…
O seu sangue é sangue meu!…
Cada lágrima que verter
é espremida do meu coração!
Um momento pode me furtar
o meu bem, a minha esperança!…
Não, poder o bastante para me deter
não existe no céu e na terra…
Ah!... libere, oh, mãe,
os meus passos…
Ai de você, se eu ficasse aqui!…
Você veria a seus pés
morto de dor o filho!
[Afasta-se, apesar dos esforços de Azucena]
[Átrio interno de um convento na
vizinhança de Castellor. Árvores ao fundo.
É noite. O Conde, Ferrando e alguns
homens avançam cautelosamente,
envolvidos em suas capas]
Tudo está deserto,
não soa ainda pelo ar
o cântico de costume…
Cheguei a tempo!
Audaz empresa, oh, senhor,
você empreende.
Audaz, como furioso amor
e irritado orgulho, a mim pediram.
Morto o rival, parecia derrubado
cada obstáculo existente
aos meus desejos,
Azucena
Manrico
Segunda Cena
Scena Seconda
Conde Conte
Ferrando
Conde Conte
novello e più possente
ella ne appresta...
L'altare!
Ah no, non fia d'altri Leonora!...
Leonora è mia!
Il balen del suo sorriso
d'una stella vince il raggio!
Il fulgor del suo bel viso
novo infonde in me coraggio!...
Ah! l'amor, l'amore ond'ardo
le favelli in mio favor!
Sperda il sole d'un suo sguardo
la tempesta del mio cor.
[Odesi il rintocco de' sacri bronzi]
Quel suono!... oh ciel...
La squilla
vicino il rito annunzia!
Ah! Pria che giunga
all'altar... si rapisca!...
Ah bada!
Taci!...
Non odo... andate...
di quei faggi
all'ombra Celatevi...
[Ferrando e seguaci si allontanano]
Ah! Fra poco mia diverrà...
Tutto m'investe un foco!
[Ansioso, guardingo osserva dalla
parte ove deve giungere Leonora,
mentre Ferrando e i Seguaci dicono
sottovoce:]
Ardire!... Andiam... celiamoci
fra l'ombre... nel mister!
Ardire!... Andiam!... silenzio!
Si compia il suo voler.
mas um novo e mais poderoso
ela apresenta...
O altar!
Ah, não, Leonora não será de outro!
Leonora é minha!
O brilho do seu sorriso
é maior do que o raio de uma estrela!
O fulgor de seu belo rosto
causa em mim uma coragem nova!…
Ah, o amor, o amor em que ardo
falará a meu favor!
Disperse o sol de um olhar seu
a tempestade do meu coração.
[Ouve-se o toque dos sinos sagrados]
Esse som!... Oh, céus!
A sineta anuncia
que o rito se aproxima!
Ah! Antes que ela chegue
ao altar… a raptarei!…
Ah, atenção!
Cale-se!…
Não ouço… Vão…
na sombra daquelas faias
escondam-se…
[Ferrando e os homens afastam-se]
Ah! Daqui a pouco será minha...
Um fogo me toma todo!
[Ansioso, com cuidado observa o
local de onde deve chegar Leonora,
enquanto Ferrando e os homens
dizem em voz baixa:]
Força!... Vamos... escondamo-nos
entre as sombras... no mistério!
Força!... Vamos... silêncio!
Que se cumpra a sua vontade.
Ferrando
Conde Conte
Ferrando
Conde Conte
Ferrando
Homens Seguaci
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 60
Per me, ora fatale,
i tuoi momenti affretta:
La gioia che m'aspetta
gioia mortal non è!...
Invano un Dio rivale
s'oppone all'amor mio:
Non può nemmeno un Dio,
donna, rapirti a me!
[S'allontana a poco a poco e si
nasconde col Coro fra gli alberi]
Ah!... se l'error t'ingombra,
o figlia d'Eva, i rai,
presso a morir, vedrai
che un'ombra, un sogno fu;
anzi del sogno un'ombra
la speme di quaggiù!
Vieni e t'asconda il velo
ad ogni sguardo umano!
Aura o pensier mondano
qui vivo più non è.
Al ciel ti volgi e il cielo
si schiuderà per te.
[Entra Leonora con Ines
e seguito muliebre]
Perchè piangete?
Ah!... Dunque tu per sempre
ne lasci!
O dolci amiche,
un riso, una speranza,
un fior la terra non ha per me!
Degg'io volgermi a Quei che
degli afflitti è solo
sostegno e dopo
i penitenti giorni
può fra gli eletti
Para mim, hora fatal,
apresse os seus momentos.
A alegria que me espera
não é uma alegria mortal!...
Em vão um Deus rival
se opõe ao meu amor:
Não pode nem mesmo um Deus,
mulher, tirar você de mim!
[Afasta-se aos poucos e esconde-se
com o Coro entre as árvores]
Ah!… se o erro obstruir seus olhos,
oh, filha de Eva,
prestes a morrer, você verá
que uma sombra, um sonho foi;
mais que sonho, uma sombra
é a esperança aqui embaixo!
Venha e que a esconda o véu
de todo olhar humano!
Aura ou pensamento mundano
aqui não pode viver.
Volte-se para o céu, e o céu
se abrirá para você.
[Entra Leonora com Ines,
seguidas por mulheres]
Por que está chorando?
Ah!… Porque você para sempre
nos deixará!
Oh, doces amigas,
um sorriso, uma esperança,
uma flor para mim a terra não tem!
Desejo voltar-me àquele que
é o único sustento
dos aflitos e depois
dos dias penitentes
poderei, entre os eleitos,
Conde Conte
Coro de Religiosas
Coro di Religiose
Leonora
Ines
Leonora
Conde Conte
Mulheres Donne
Leonora
Conde Conte
Mulheres Donne
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
com meu bem perdido
um dia me reunir!…
Sequem os olhos
e me guiem ao altar!
Não, jamais!
O Conde!
Justos céus!
Para você não há
outro altar que não o de Himeneu.
Quanta audácia!…
Insano!… E veio até aqui?
Para fazê-la minha.
[E, assim dizendo, dirige-se a
Leonora para dela se apoderar, mas
entre ele e a presa aparece, tal qual
um fantasma de sob a terra, Manrico.
Irrompe um grito geral]
É ele... Posso acreditar?
Vejo você ao meu lado!
Isto é um sonho, um êxtase,
um encanto sobre-humano!
Não resiste a tão repentino
júbilo o coração suspenso!
É você que desce do céu,
ou estou no céu com você?
Então os mortos deixam
o reino eterno da morte,
para meu prejuízo o inferno
renuncia suas presas!
Mas se nunca romperam
al mio perduto bene
ricongiungermi un dì!...
Tergete i rai
e guidatemi all'ara!:
No, giammai!...
Il Conte!
Giusto ciel!
Per te non avvi
che l'ara d'imeneo.
Cotanto ardia!...
Insano!... E qui venisti?...
A farti mia.
[E sì dicendo scagliasi verso Leonora,
onde impadronirsi di lei, ma fra esso
e la preda trovasi, qual fantasma
sorto di sotterra, Manrico. Un grido
universale irrompe]
E deggio... e posso crederlo?
Ti veggo a me d'accanto!
È questo un sogno, un'estasi,
un sovrumano incanto!
Non regge a tanto giubilo
rapito, il cor sospeso!
Sei tu dal ciel disceso,
o in ciel son io cor te?
Dunque gli estinti lasciano
di morte il regno eterno;
a danno mio rinunzia
le prede sue l'inferno!
Ma se non mai si fransero
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 62
Manrico
Mulheres Donne
Ferrando
Homens Seguaci
Ruiz
Manrico
Ruiz
Manrico
Conde Conte
Leonora
Manrico
de' giorni tuoi gli stami,
se vivi e viver brami,
fuggi da lei, da me.
Né m'ebbe il ciel,
né l'orrido
varco infernal sentiero...
Infami sgherri vibrano
mortali colpi, è vero!
Potenza irresistibile
hanno de' fiumi l'onde!
Ma gli empi un Dio confonde!
Quel Dio soccorse a me.
[A Leonora]
Il cielo in cui fidasti
pietade avea di te.
[Al Conte]
Tu col destin contrasti:
Suo difensore egli è.
[Ruiz seguito da una lunga tratta
di Armati, e detti]
Urgel viva!
Miei prodi guerrieri!
Vieni...
[A Leonora]
Donna, mi segui.
E tu speri?
Ah!
[Al Conte]
T'arresta...
os fios dos seus dias,
se você vive e deseja viver,
fuja dela, de mim.
Não me recebeu o céu,
nem o horrível
caminho da passagem infernal…
Capangas infames desferem
golpes mortais, é verdade!
Mas um poder irresistível
têm as ondas dos rios…
E os ímpios um Deus confunde!
Esse Deus me socorreu.
[Para Leonora]
O céu em que confiou
teve piedade de você.
[Para o Conde]
Você enfrenta o destino:
ele é seu defensor.
[Ruiz seguido de um grande
número de homens armados]
Viva Urgel!
Meus bravos guerreiros!
Venham...
[Para Leonora]
Mulher, me siga!
Você acredita mesmo?
Ah!
[Para o Conde]
Pare...
[Sguainando la spada]
Involarmi costei! No!
[Accerchiando il Conte]
Vaneggi!
Che tenti, Signor?
[Il Conte è disarmato da quei
di Ruiz]
Di ragione ogni lume perdei!
[Fra sè]
M'atterrisce...
Ho le furie nel cor!
[A Manrico]
Vien:
la sorte sorride per te.
[Al Conte]
Cedi;
or ceder viltade non è.
[Manrico tragge seco Leonora,
il Conte è respinto; le donne
rifuggono al cenobio]
[Accampamento. A destra il
padiglione del Conte di Luna, su
cui sventola la bandiera in segno di
supremo comando; da lungi torreggia
Castellor. Scolte di uomini d'arme
dappertutto; alcuni giuocano, altri
puliscono le armi, altri passeggiano,
poi Ferrando dal padiglione del Conte]
Or co' dadi,
ma fra poco
giuocherem ben altro gioco.
[Desembainhando a espada]
Quer de mim roubá-la! Não!
[Cercando o Conde]
Está delirando!
O que está tentando, Senhor?
[O Conde é desarmado pelos
homens de Ruiz]
Perdi toda a luz da razão!
[Para si]
Que terror…
Meu coração está tomado de fúria!
[Para Manrico]
Venha:
a sorte sorri para você.
[Para o Conde]
Renda-se,
render-se agora não é covardia.
[Manrico leva consigo Leonora:
o Conde é rechaçado; as mulheres
se refugiam no convento]
[Acampamento. À direita, a tenda do
Conde de Luna, sobre a qual tremula
a bandeira em sinal de supremo
comando; ao longe eleva-se Castellor.
Escoltas de homens armados por toda
parte; alguns jogam, outros pulem
suas armas, outros passeiam, então
surge Ferrando da tenda do Conde]
Agora com os dados,
mas daqui a pouco
jogaremos outro jogo.
Conde Conte
Ruiz
Soldados Armati
Ferrando
Homens Seguaci
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Ruiz
Soldados Armati
Ferrando
Homens Seguaci
Ato III - O Filho da Cigana
Primeira Cena
Atto III - Il Figlio Della Zingara
Scena Prima
Soldados Armati
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 64
Outros Altri
Alguns Alcuni
Outros Altri
Todos Tutti
Ferrando
Todos Tutti
Conde Conte
Quest'acciar, dal sangue or terso,
Fia di sangue in breve asperso!
[Odonsi strumenti guerrieri]
Il soccorso dimandato!
Han l'aspetto del valor!
[Un grosso drappello di balestieri,
in completa armatura, travesa
il campo]
Più l'assalto ritardato
or non fia di Castellor.
Sì, prodi amici;
al dì novello è mente
del capitan la rocca
investir d'ogni parte.
Colà pingue bottino
certezza è rinvenir
più che speranza.
Si vinca; è nostro.
Tu c'inviti a danza!
Squilli, echeggi
la tromba guerriera,
chiami all'armi,
alla pugna,
all'assalto;
fia domani la nostra bandiera
di quei merli piantata sull'alto.
No, giammai non sorrise vittoria
di più liete speranze finor!...
Ivi l'util ci aspetta e la gloria,
ivi opimi la preda e l'onor.
[Il conte uscito dalla tenda volge uno
sguardo bieco a Castellor]
In braccio al mio rival!
Questo pensiero
Este aço, de sangue agora limpo,
ficará de sangue em breve coberto.
[Ouvem-se instrumentos militares]
O socorro pedido!
Têm o aspecto do valor!
[Um grande pelotão de soldados,
completamente armados, atravessa
o campo]
Que não mais se atrase
agora o assalto a Castellor.
Sim, bravos amigos;
no novo dia pensa
o capitão em atacar
a torre por toda parte.
Por lá, gordo butim
certamente encontraremos,
mais do que esperança.
Venceremos, é nosso.
Você nos convida para a dança!
Soe, ecoe
a trombeta guerreira,
chame as armas,
para a luta,
para o assalto,
esteja amanhã a nossa bandeira
plantada no alto daqueles muros.
Não, jamais nos sorriu a vitória com
esperanças mais alegres que agora!...
Ali nos esperam o lucro e a glória,
ali são grandes o espólio e a honra.
[O conde sai da tenda e lança um
olhar ameaçador a Castellor]
Nos braços do meu rival!
Este pensamento,
come persecutor
demone ovunque m'insegue!...
In braccio al mio rival!...
Ma corro,
surta appena l'aurora,
io corro e separarvi... Oh
Leonora!
[Odesi tumulto]
Che fu?
Dappresso il campo
s'aggirava una zingara:
sorpresa da' nostri esploratori,
si volse in fuga; essi,
a ragion temendo.
Una spia nella trista,
l'inseguir...
Fu raggiunta?
È presa.
Vista l'hai tu?
No; della scorta
il condottier m'apprese l'evento.
Eccola.
[Tumulto più vicino. Detti, Azucena,
con le mani avvinte, trascinata
dagli esploratori, un codazzo d'altri
soldati]
Innanzi, o strega, innanzi...
Aita!... Mi lasciate... O furibondi
Che mal fec'io?
S'appressi.
como perseguidor
demônio, me segue aonde eu for!...
Nos braços do meu rival!…
Mas corro,
assim que surge a aurora,
corro para separá-los… Oh,
Leonora!
[Ouve-se tumulto]
O que foi?
Perto do acampamento
vagava uma cigana:
surpreendida por nossos
exploradores,
pôs-se em fuga; temendo-os
com razão.
Para espiar a infeliz,
seguiram-na…
Foi capturada?
Foi presa.
Você a viu?
Não; o condutor da escolta
me relatou o evento.
Eis que chega.
[O tumulto está mais próximo. Eles,
Azucena com as mãos atadas é
levada pelos exploradores, uma
comitiva de outros soldados]
Adiante, oh, bruxa, adiante...
Socorro! Soltem-me... Oh, furibundos!
Que mal eu fiz?
Que se aproxime.
Ferrando
Conde Conte
Ferrando
Conde Conte
Ferrando
Conde Conte
Exploradores Esploratori
Azucena
Conde Conte
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 66
[Azucena è tratta innanzi al Conte]
A me rispondi
e trema dal mentir!
Chiedi!
Ove vai?
Nol so.
Che?
D'una zingara è costume
muover senza disegno
il passo vagabondo,
ed è suo tetto il ciel,
sua patria il mondo.
E vieni?
Da Biscaglia, ove finora
le sterili montagne
ebbi a ricetto!
Da Biscaglia!
[Fra sè]
Che intesi!... O qual sospetto!
Giorni poveri vivea,
pur contenta del mio stato;
sola speme un figlio avea...
Mi lasciò!...
m'oblia, l'ingrato!
Io deserta, vado errando
di quel figlio ricercando,
di quel figlio che al mio core
pene orribili costò!...
Qual per esso provo amore
madre in terra non provò!
[Azucena é levada perante o Conde]
Responda-me
e trema se mentir!
Pergunte!
Aonde vai?
Não sei.
O quê?
É costume de uma cigana
mover sem planos
seu passo vagabundo,
e o seu teto é o céu,
sua pátria é o mundo.
E de onde você vem?
De Biscaia, onde até agora
as estéreis montanhas
tive como refúgio.
De Biscaia!
[Para si]
O que ouvi?... Oh, que suspeito!
Vivia dias pobres,
mas contente com meu estado,
como única esperança um filho tinha…
Ele me deixou!…
Me esqueceu, o ingrato.
Eu, abandonada, sigo errando,
por esse filho buscando,
por esse filho que ao meu coração
penas horríveis custou!…
E pelo qual sinto um amor
que nenhuma mãe na terra sentiu!
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Ferrando
Azucena
Ferrando
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Ferrando
Conde Conte
Azucena
Ferrando
Azucena
Ferrando
Conde Conte
[Fra sè]
Il Suo volto!
Di', traesti lunga etade
tra quei monti?
Lunga, sì.
Rammenteresti un fanciul,
prole di conti,
involato al suo castello,
son tre lustri,
e tratto quivi?
E tu, parla... sei?...
Fratello del rapito.
Ah!
[Notando il mal nascosto terrore
di Azucena]
Sì!
Ne udivi mai novella?
Io?... No... Concedi
Che del figlio
l'orme io scopra.
Resta, iniqua...
Ohimè!...
[Ai conde]
Tu vedi chi l'infame,
orribil opra commettea...
Finisci.
[Para si]
O seu rosto!
Diga, você passou muito tempo
entre aqueles montes?
Muito, sim.
Se lembraria de um menino,
filho de um conde,
roubado do seu castelo,
há três lustros,
e levado de lá?
E você, me diga… quem é?…
Irmão do raptado.
Ah!
[Notando o terror indisfarçado
de Azucena]
Sim!
Alguma vez ouviu dele falar?
Eu?… Não… Permita
que de meu filho
as pegadas eu descubra.
Quieta, iníqua…
Ai de mim!…
[Ao conde]
Você vê quem é a infame,
que a horrível obra cometeu...
Termine.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 68
È dessa.
Taci
È dessa che il bambino Arse!
Ah! perfida!
Ella stessa!
Ei mentisce...
Al tuo destino or non fuggi.
Deh!...
Quei nodi più stringete.
[I soldati eseguiscono]
Oh! Dio!... Oh Dio!...
Urla pure.
E tu non m'odi,
o Manrico, o figlio mio?...
Non soccorri all'infelice madre tua?
Sarebbe ver?
Di Manrico genitrice?
Trema!...
Oh sorte!...
In mio poter!
Deh, rallentate, o barbari,
le acerbe mie ritorte...
Questo crudel supplizio
è prolungata morte...
D'iniquo genitore
É ela.
Cale-se.
É ela que o menino queimou!
Ah, pérfida!
Ela mesma!
Ele mente…
Do seu destino agora não fugirá.
Ai!…
Esses nós, apertem mais.
[Os soldados obedecem]
Oh, Deus!... Oh, Deus!
Pode gritar.
E você não me ouve,
oh, Manrico, oh, filho meu?
Não socorre a sua mãe infeliz?
Seria verdade?
A genitora de Manrico?
Pois trema!…
Oh, sorte!…
Em meu poder!
Ai, moderem, oh, bárbaros,
minhas duras torturas...
Este cruel suplício
é prolongada morte...
De iníquo genitor
Ferrando
Azucena
Ferrando
Conde Conte
Coro
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Coro
Azucena
Conde Conte
Ferrando
Conde Conte
Azucena
empio figliuol peggiore, trema...
V'è Dio pei miseri,
e Dio ti punirà!
Tua prole, o turpe zingara,
colui, quel traditore?...
Potrò col tuo supplizio
ferirlo in mezzo al core!
Gioia m'inonda il petto,
cui non esprime il detto!...
Meco il fraterno cenere
piena vendetta avrà!
Infame pira sorgere,
ah, sì, vedrai tra poco...
Né solo tuo supplizio
sarà terreno foco!...
Le vampe dell'inferno
a te fina rogo eterno;
ivi penare ed ardere
l'anima tua dovrà!
[Al cenno del Conte i soldati traggon
seco Azucena. Egli entra nella sua
tenda, seguito da Ferrando]
[Sala adiacente alla Cappella in
Castellor, con il verone nel fondo]
Quale d'armi fragor
poc'anzi intesi?
Alto è il periglio!
Vano dissimularlo fora!
Alla novella aurora
assaliti saremo!...
Ahimè!... che dici!...
Ma de' nostri nemici
avrem vittoria...
Pari abbiam al loro ardir,
ímpio e pior filho você é, trema!
Há um Deus para os míseros,
e esse Deus o punirá!
É sua prole, oh, torpe cigana,
ele, aquele traidor?…
Poderei com o seu suplício
feri-lo no meio do coração!
Tal alegria me inunda o peito,
e palavras não a podem expressar!
Comigo as cinzas fraternas
plena vingança terão!
Infame pira você verá,
ah, sim, surgir dentro em pouco...
E não somente o fogo terreno
será o seu suplício!…
As chamas do inferno
serão para você fogo eterno;
lá, penar e arder
a sua alma deverá!
[Ao sinal do conde, os soldados
levam Azucena. O conde entra em
sua tenda, seguido por Ferrando]
[Sala adjacente à capela de Castellor,
com varanda no fundo]
O que foi o fragor de armas
ouvido há pouco?
Alto é o perigo!
Em vão seria dissimulá-lo!
Ao romper da nova aurora
atacados seremos...
Ai de mim!... O que está dizendo?
Mas sobre nossos inimigos
obteremos a vitória…
Iguais a eles somos em audácia,
Conde Conte
Ferrando
Coro
Segunda Cena
Scena Seconda
Ferrando
Manrico
Leonora
Manrico
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 70
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
brando e coraggio!...
[A Ruiz]
Tu va'; le belliche opre,
nell'assenza mia breve,
a te commetto.
Che nulla manchi!...
[Ruiz parte]
Di qual tetra luce
il nostro imen risplende!
Il presagio funesto,
deh, sperdi, o cara!...
E il posso?
Amor... sublime amore,
in tale istante
ti favelli al core.
Ah! sì, ben mio, coll'essere
io tuo, tu mia consorte,
avrò più l'alma intrepida,
il braccio avrò più forte;
ma pur se nella pagina
de' miei destini è scritto
ch'io resti fra le vittime
dal ferro ostil trafitto,
fra quegli estremi aneliti
a te il pensier verrà
e solo in ciel precederti
la morte a me parrà!
[Odesi il suono dell'organo
della vicina cappella]
L'onda de' suoni mistici
pura discende al cor!
Vieni; ci schiude il tempio
gioie di casto amor.
[Ruiz sopraggiunge frettoloso]
espada e coragem!
[Para Ruiz]
Vá, as obras bélicas,
em minha breve ausência,
a você designo.
Que nada falte!…
[Ruiz parte]
Com que tétrica luz
resplandece nosso casamento!
O funesto presságio,
ai, deixa passar, oh, querida!…
E consigo?
Amor... sublime amor,
nesse instante
falará ao seu coração.
Ah, sim, meu bem, sendo
eu seu, e você minha consorte,
terei a alma mais intrépida,
o braço terei mais forte;
porém, se na página
do meu destino estiver escrito
que eu fique entre as vítimas,
pela espada hostil trespassado,
entre aqueles últimos suspiros
até você irá meu pensamento
e para mim a morte parecerá
que apenas a precedi no céu!
[Ouve-se o som do órgão da
capela vizinha]
A onda dos sons místicos
pura desce até o coração!
Venha, para nós o templo abre
as alegrias de um casto amor.
[Ruiz aparece apressado]
Ruiz
Manrico
Ruiz
Manrico
Ruiz
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Manrico?
O quê?
A cigana,
venha, olha por entre os cepos.
Oh, Deus!
Pelas mãos dos bárbaros
acesa já está a pira...
[Aproximando-se da varanda]
Oh, céus! Minhas pernas cambaleam...
Nuvens me cobrem os olhos!
Você está tremendo!
E deveria!... Você sabe. Eu sou…
Quem?
Seu filho!
Ah! Covardes!... O terrível espetáculo
quase me rouba o ar…
Reúna os nossos, depressa…
Ruiz... vá...
volte… voe…
[Ruiz sai]
Daquela pira o horrendo fogo
todas as minhas fibras queima...
Ímpios, apaguem-na, ou eu,
dentro em pouco
com seu sangue a apagarei...
Já era filho antes de amar você,
não pode me conter o seu martírio.
Mãe infeliz, corro para salvá-la,
ou ao menos corro para morrer
com você.
Manrico?
Che?
La zingara,
vieni, tra ceppi mira...
Oh Dio!
Per man de' barbari
accesa è già la pira...
[Accostandosi al verone]
Oh ciel! mie membra oscillano...
Nube mi copre il ciglio!
Tu fremi!
E il deggio!... Sappilo. Io son...
Chi mai?
Suo figlio!...
Ah! vili!... Il rio spettacolo
Quasi il respir m'invola...
Raduna i nostri, affrettati...
Ruiz... va...
torna... vola...
[Ruiz parte]
Di quella pira l'orrendo foco
tutte le fibre m'arse. avvampò!...
Empi, spegnetela, o ch'io
fra poco
col sangue vostro la spegnerò...
Era già figlio prima d'amarti,
non può frenarmi il tuo martir.
Madre infelice, corro a salvarti,
o teco almeno corro
a morir!
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 72
Leonora
Ruiz
Soldados
Armati
Ato IV – O Suplício
Primeira Cena
Atto IV – Il Supplizio
Scena Prima
Ruiz
Leonora
Non reggo a colpi tanto funesti...
Oh, quanto meglio saria morir!
[Ruiz torna con Armati]
All'armi, all'armi!
Eccone presti a pugnar teco,
teco a morir.
[Manrico parte frettoloso seguito da
Ruiz e dagli Armati]
[Un'ala del palazzo dell'Aliaferia.
All'angolo una torre con finestre
assicurate da spranghe di ferro.
Notte oscurissima. Si avanzano
due persone ammantellate:
sono Ruiz e Leonora]
Siam giunti;
ecco la torre,
ove di Stato gemono i
prigionieri...
ah, l'infelice ivi fu tratto!
Vanne, lasciami,
né timor di me ti prenda...
Salvarlo io potrò forse.
[Ruiz si allontana]
Timor di me?... sicura,
presta è la mia difesa.
[I suoi occhi figgonsi ad una gemma
che le fregia la mano destra.]
In quest'oscura notte ravvolta,
presso a te son io,
e tu nol sai...
Gemente aura che intorno spiri,
deh, pietosa gli arreca
i miei sospiri...
D'amor sull'ali rosee
vanne, sospir dolente:
Del prigioniero misero
Não resisto a golpes tão funestos...
Oh, muito melhor seria morrer!
[Ruiz volta com soldados]
Às armas! Às armas!
Cá estamos prestes a lutar com você,
a morrer com você!
[Manrico sai apressado seguido de
Ruiz e dos soldados]
Uma ala do palácio da Aljafería.
No canto, uma torre com janelas
protegidas com barras de ferro.
Noite escuríssima. Avançam
duas pessoas sob mantos:
são Ruiz e Leonora]
Chegamos,
eis a torre,
onde gemem os prisioneiros do
Estado...
ah, o infeliz aqui foi trazido.
Vá, deixe-me,
não tenha temor por mim...
Talvez eu possa salvá-lo.
[Ruiz afasta-se]
Temor por mim?… segura
e rápida é a minha defesa.
[Seus olhos fixam-se em uma gema
que adorna sua mão direita]
Nesta escura noite envolvida
próxima de você estou,
e você não sabe…
Gemente ar que em volta sopra,
ai, tenha piedade e leva-lhe
os meus suspiros…
Sobre as asas rosas do amor
vá, suspiro dolente:
Do mísero prisioneiro
Vozes Internas
Voci Interne
Leonora
Manrico
Leonora
Vozes Internas
Voci Interne
Leonora
conforta a enferma mente…
Como uma aura de esperança
paira sobre aquela cela:
Desperte em suas memórias
os sonhos do amor!
Mas, ai, não lhe diga, sem querer,
as penas do meu coração!
[Soa o sino dos mortos]
Misericórdia de uma alma já próxima
à partida de que não há retorno.
Misericórdia dela, bondade divina,
para que não seja presa
da infernal morada!
Esse som,
essas preces solenes,
funestas, encheram este ar
de lúgubre terror!…
Contenho a angústia,
que toda me toma,
do lábio a respiração,
do coração as palpitações!
[Da torre]
Ah, que a morte sempre
tarda a vir...
para quem deseja morrer!…
Adeus, Leonora!
Oh, céus!... faltam-me forças!
Misericórdia de uma alma já próxima
à partida de que não há retorno.
Misericórdia dela, bondade divina,
para que não seja presa
da infernal morada!
Sobre a horrível torre, ah!
Parece que a morte com asas
conforta l'egra mente...
Com'aura di speranza
aleggia in quella stanza:
Lo desta alle memorie,
ai sogni dell'amor!
Ma deh! non dirgli, improvvido,
le pene del mio cor!
[Suona la campana dei morti]
Miserere d'un'alma già vicina
alla partenza che non ha ritorno!
Miserere di lei, bontà divina,
preda non sia
dell'infernal soggiorno!
Quel suon,
quelle preci solenni,
funeste, empiron quest'aere
di cupo terror!...
Contende l'ambascia,
che tutta m'investe,
al labbro il respiro,
i palpiti al cor!
[Dalla torre]
Ah, che la morte ognora
è tarda nel venir
a chi desia morir!...
Addio, Leonora!
Oh ciel!... sento mancarmi!
Miserere d'un'alma già vicina
alla partenza che non ha ritorno!
Miserere di lei, bontà divina
preda non sia
dell'infernal soggiorno!
Sull'orrida torre, ah!
Par che la morte con ali di
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 74
tenebre
librando si va!
Ahi! forse dischiuse gli fian queste
porte sol quando cadaver
già freddo sarà!
[Dalla torre]
Sconto col sangue mio
l'amor che posi in te!...
Non ti scordar di me!
Leonora, addio!
Di te, di te scordarmi!!...
Tu vedrai che amore in terra
mai del mio non fu più forte;
vinse il fato in aspra guerra,
vincerà la stessa morte.
O col prezzo di mia vita
la tua vita io salverò,
o con te per sempre unita
nella tomba io scenderò.
[S'apre una porta; n'escono il
Conte ed alcuni Seguaci. Leonora
è disparte]
Udite? Come albeggi,
la scure al figlio
ed alla madre il rogo.
[I Seguaci entrano nella torre]
Abuso io forse del poter che pieno
In me trasmise il prence!
A tal mi traggi,
Donna per me funesta!...
Ov'ella è mai?
Ripreso Castellor,
di lei contezza
non ebbi, e furo indarne
tante ricerche e tante!
Ah! dove sei, crudele?
tenebrosas
pairando vai!
Ai! Talvez abertas lhe sejam estas
portas somente quando cadáver
já frio for!
[Da torre]
Pago com meu sangue
o amor que senti por você!...
Não se esqueça de mim!
Leonora, adeus!
De você, de você me esquecer!!…
Verá que amor algum na terra
jamais foi mais forte do que o meu;
venceu o destino em áspera guerra,
vencerá a própria morte.
Ou com o preço da minha vida
a sua vida salvarei,
ou com você para sempre unida
à tumba descerei.
[Abre-se uma porta; saem o
conde e alguns homens. Leonora
fica à parte]
Estão ouvindo? Ao alvorecer,
o machado ao filho
e a fogueira à mãe.
[Os homens entram na torre]
Abuso talvez do pleno poder
a mim transmitido pelo príncipe!
A isso você me trouxe,
mulher para mim funesta!…
Onde ela estará agora?
Retomada Castellor,
dela notícias
não tive, e foram em vão
tantas buscas, tantas!
Ah! Onde você está, cruel?
Manrico
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
[Avançando]
Diante de você.
Que voz!... Como?... Você, Leonora?
Está vendo.
Para que veio?
Ele está próximo de sua hora extrema,
e você ainda pergunta?
Você ousaria?…
Ah, sim, por ele piedade peço…
O quê? Está delirando!
Eu, pelo rival sentir piedade?
Que o clemente Deus a você inspire...
É só vingança o meu Deus... Vá!
[Joga-se a seus pés]
Veja, de amargas lágrimas
espalho aos seus pés um rio:
Não basta o pranto? Mate-me,
beba o meu sangue…
Pise sobre meu cadáver,
mas salve o Trovador!
Ah! Para o indigno queria
causar sorte ainda pior:
entre mil atrozes espasmos
centuplicar sua morte;
Quanto mais você o ama, mais terrível
arde o meu furor!
[Quer partir, Leonora agarra-se
a ele]
[Avanzandosi]
A te dinante.
Qual voce!... come!... tu, donna?
Il vedi.
A che venisti?
Egli è già presso all'ora estrema;
e tu lo chiedi?
Osar potresti?...
Ah sì, per esso pietà domando...
Che! tu deliri!
Io del rival sentir pietà?
Clemente Nume a te l'ispiri...
È sol vendetta mio Nume... Va.
[Si getta a' suoi piedi]
Mira, di acerbe lagrime
spargo al tuo piede un rio:
Non basta il pianto? svenami,
ti bevi il sangue mio...
Calpesta io mio cadavere,
ma salva il Trovator!
Ah! dell'indegno rendere
vorrei peggior la sorte:
fra mille atroci spasimi
centuplicar sua morte;
più l'ami, e più terribile
divampa il mio furor!
[Vuol partire, Leonora si avviticchia
ad esso]
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 76
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conte...
Né cessi?
Grazia!...
Prezzo non avvi alcuno
ad ottenerla... scostati...
Uno ve n'ha... sol uno!...
Ed io te l'offro.
Spiegati, Qual prezzo, di'.
Me stessa!
Ciel!... tu dicesti?...
E compiere saprò la mia promessa.
È sogno il mio?
Dischiudimi la via fra quelle
mura...
Ch'ei m'oda... Che la vittima
fugga, e son tua.
Lo giura.
Lo giuro a Dio che l'anima
tutta mi vede!
Olà!
[Si presenta un custode; mentre il
Conte gli parla all'orecchio, Leonora
sugge il veleno chiuso nell'anello]
M'avrai,
ma fredda esanime spoglia
Conde…
Não chega?
Graça!…
Valor você não tem
para obtê-la... Afaste-se…
Há um... somente um...
e eu o ofereço a você.
Explique-se: qual é o preço? Diga!
Eu mesma!
Céus!... o que está dizendo?...
E saberei cumprir minha promessa.
Isto é um sonho meu?
Abra-me um caminho entre essas
muralhas...
Que ele me ouça… Que a vítima
fuja, e sou sua.
Jure.
Juro por Deus, que toda
minha alma vê!
Ei, vocês!
[Surge um carcereiro; enquanto o
Conde fala-lhe ao ouvido, Leonora
suga o veneno que está em seu anel]
Você me terá,
mas fria, exânime despojo
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Segunda Cena
Scena Seconda
Manrico
Azucena
[Para Leonora]
Ele viverá.
Viverá!... Retira o júbilo
de mim as palavras, Senhor...
Mas com batidas frequentes
graças lhe rende o coração!
Agora o meu fim, impávida,
cheia de alegria espero…
Poderei lhe dizer morrendo:
Salvo você foi por mim!
O que fala consigo mesma?…
Dirija a mim,
dirija a mim a palavra de novo,
ou me parecerá delírio
o que escutei até agora…
Você, minha!...
Você, minha!... repita.
O coração desconfiado serena…
Ah!… que só acredito nisso
ouvindo de você!
Vamos...
Você jurou... pense bem!
E sagrado é meu juramento!
[Entram na torre]
[Cárcere obscuro. De um lado
há uma janela com grades. Porta
ao fundo. Um pálido lampião
dependurado no teto. Azucena está
deitada sobre uma espécie de colcha
rústica, Manrico senta-se ao seu lado]
Mãe... não está dormindo?
Chamei-o várias vezes,
[A Leonora]
Colui vivrà.
Vivrà!... Contende il giubilo
i detti a me, Signore...
Ma coi frequenti palpiti
merce' ti rende il core!
Ora il mio fine impavida,
piena di gioia attendo...
Potrò dirgli morendo:
Salvo tu sei per me!
Fra te che parli?... Volgimi,
volgimi il detto ancora,
o mi parrà delirio
quanto ascoltai finora...
Tu mia!...
Tu mia!... ripetilo.
Il dubbio cor serena...
Ah!... ch'io lo credo appena
udendolo da te!
Andiam...
Giurasti... pensaci!
È sacra la mia fe'!
[Entrano nella torre]
[Orrido carcere. In un canto
finestra con inferriata. Porta nel
fondo. Smorto fanale pendente
dalla volta. Azucena giacente sopra
una specie di rozza coltre, Manrico
seduto a lei dappresso]
Madre... non dormi?
L'invocai più volte,
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 78
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
ma fugge il sonno a queste luci...
Prego...
L'aura fredda è molesta
alle tue membra forse?
No; da questa tomba di vivi
sol fuggir vorrei,
perché sento il respiro soffocarmi!
Fuggir!
Non attristarti: Far di me strazio
non potranno i crudi!
Ah! come?
Vedi?... Le sue fosche impronte
m'ha già stampato in fronte
il dito della morte!
Ahi!
Troveranno un cadavere
muto, gelido!... anzi uno scheletro!
Cessa!
Non odi?... Gente appressa...
I carnefici son...
Vogliono al rogo trarmi!...
Difendi la tua madre!
Alcuno, ti rassicura,
qui non volge...
Il rogo!
Parola orrenda!
mas o sono foge destes olhos…
Rezo.
O ar frio é incômodo
ao seu corpo, talvez?
Não; desta tumba de vivos
somente fugir quisera,
porque sinto a respiração me sufocar!
Fugir!
Não se entristeça: massacrar-me
os cruéis não conseguirão.
Ah! Como assim?
Está vendo? Suas escuras digitais
já estamparam na minha testa
o dedo da morte!
Ai!
Encontrarão um cadáver
mudo, gélido... mais um esqueleto!
Chega!
Não está ouvindo?... Gente se
aproximando...
São os carrascos...
querem até a fogueira me levar...
Defenda sua mãe!
Seja quem for, fique tranquila,
aqui não vem…
A fogueira!
Palavra horrenda!
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Oh madre!... Oh madre!
Un giorno, turba feroce
l'ava tua condusse al rogo...
Mira la terribil vampa!
Ella n'è tocca già!
Già l'arso crine al ciel
manda faville!...
Osserva le pupille
fuor dell'orbita lor!...
ahi... chi mi toglie
a spettacol sì atroce?
[Cadendo le braccia di Manrico]
Se m'ami ancor,
se voce di figlio ha possa
d'una madre in seno,
ai terrori dell'alma
oblio cerca nel sonno,
e posa e calma.
Sì, la stanchezza m'opprime,
o figlio...
Alla quiete io chindo il ciglio
ma se dal rogo arder si veda
l’orrida fiamma, destami allor.
Riposa, o madre: Iddio conceda
men tristi immagini
al tuo sopor.
[Tra il sonno e la veglia]
Ai nostri monti... ritorneremo...
L'antica pace... ivi godremo...
Tu canterai... sul tuo liuto...
In sonno placido... io dormirò!
Riposa, o madre:
io prono e muto
la mente al cielo rivolgerò.
Oh, mãe!... Oh, mãe!
Um dia, uma turba feroz
levou sua avó para a fogueira...
Veja as terríveis chamas!
Elas já a tocam!
O cabelo já em chamas aos céus
manda faíscas!...
Observa as pupilas
já fora de suas órbitas!...
ai… quem me poupa
de um espetáculo tão atroz?
[Caindo nos braços de Manrico]
Se ainda me ama,
se a voz de um filho tem poder
sobre o seio de uma mãe,
os terrores da alma
tenta esquecer no sono,
no repouso e na calma.
Sim, o cansaço me oprime,
oh, filho...
Para me aquietar fecho os olhos
mas se da fogueira arder você vir
a horrível chama, desperte-me.
Repousa, oh, mãe. Deus conceda
imagens menos tristes
ao seu sono.
[Entre dormindo e acordada]
Aos nossos montes... voltaremos...
A antiga paz... lá gozaremos...
Você cantará... com o seu alaúde.
Um sono plácido... eu dormirei.
Repousa, oh, mãe;
eu, devoto e mudo,
a mente aos céus dirigirei.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 80
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
[Si apre la porta, entra Leonora:
gli anzidetti, il Conte con
Armati]
Ciel!..
Non m'inganna quel fioco lume?...
Son io, Manrico...
Oh, mia Leonora!
Ah, mi concedi, pietoso Nume,
gioia sì grande, anzi ch'io mora?
Tu non morrai. Vengo a salvarti...
Come!... a salvarmi?,
fia vero!
Addio...
Tronca ogni indugio...
t'affretta...parti...
[Accennandogli la porta]
E tu non vieni?
Restar degg'io!...
Restar!...
Deh! fuggi!...
No.
Guai se tardi!
No...
La tua vita!...
[Abre-se a porta, entra Leonora: os
acima mencionados, o Conde com
soldados]
Céus!…
Não me engana essa pouca luz?…
Sou eu, Manrico.
Oh, minha Leonora!
Ah, me concede, Deus piedoso,
alegria assim grande, antes que
eu morra?
Você não morrerá. Venho salvá-lo...
Como? Salvar-me?,
diga a verdade!
Adeus...
Deixa de demora…
apresse-se... parta...
[Mostrando-lhe a porta]
E você não vem?
Devo ficar!…
Ficar!…
Ai! Fuja…
Não.
Ai de você, se demorar!
Não!
A sua vida!…
Manrico
Leonora
Azucena
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Eu a desprezo…
Apenas olhe, oh, mulher,
nos meus olhos!…
De quem a obteve?
E a que preço?
Não quer falar?
Instante tremendo!
Do meu rival!
Entendo… entendo!…
A esse infame vendeu seu amor…
Vendeu um coração jurado a mim!
Oh, como a ira te cega!
Oh, quão injusto
e cruel você é comigo!
Ceda… fuja, ou está perdido!
Nem mesmo o céu pode te salvar!
[Dormindo]
Aos nossos montes... voltaremos...
A antiga paz... lá gozaremos...
Você cantará... com o seu alaúde.
Um sono plácido... eu dormirei.
Afaste-se…
Não me rechace...
Está vendo?... Doente, oprimida,
faltam-me forças…
Vá… eu a abomino...
Maldita seja!
Ah, pare!
Não é de amaldiçoar esta hora, mas
sim de pedir por mim numa prece
a Deus.
Um breve arrepio
no meu peito!
Io la disprezzo...
Pur figgi, o donna,
in me gli sguardi!...
Da chi l'avesti?...
Ed a qual prezzo?...
Parlar non vuoi?...
Balen tremendo!...
Dal mio rivale!...
Intendo... intendo!...
Ha quest'infame l'amor venduto...
Venduto un core che mi giurò!
Oh, come l'ira ti rende cieco!
Oh, quanto ingiusto,
crudel sei meco!
T'arrendi... fuggi, o sei perduto!
Nemmeno il cielo salvar ti può!
[Dormendo]
Ai nostri monti... ritorneremo...
L'antica pace... ivi godremo...
Tu canterai... sul tuo liuto...
In sonno placido... io dormirò...
Ti scosta...
Non respingermi...
Vedi?... Languente, oppressa,
lo manco...
Va'... ti abbomino...
Ti maledico...
Ah, cessa!
Non d'imprecar, di volgere per me
la prece a Dio è questa l'ora!
Un brivido corse
nel petto mio!
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 82
[Cade bocconi]
Manrico!
Donna, svelami... Narra.
Ho la morte in seno...
La morte!...
Ah, fu più rapida
la forza del veleno
ch'io non pensava!...
Oh fulmine!
Senti! la mano è gelo...
[Toccandosi ilpetto]
Ma qui...
Qui foco orribile arde...
Che festi!... o cielo!
Prima che d'altri vivere...
Io volli tua morir!...
Insano!... ed io quest'angelo
osava maledir!
Più non resisto!
Ahi misera!...
[Entra il Conte, arrestandosi sulla
soglia]
Ecco l'istante... Io moro...
Or la tua grazia...
Padre del cielo... imploro...
Insano! ... ed io quest'angelo
[Cai de bruços]
Manrico!
Leonora, conte-me… Fale!
Tenho a morte no seio…
A morte!…
Ah, foi mais rápida
a força do veneno
do que eu pensava!…
Oh, céus!
Sinta! Minha mão está gelada…
[Toca-se no peito]
Mas aqui...
aqui um fogo horrível arde...
O que você fez?... oh, céus!
Mais que viver sendo de outro...
eu quis morrer sua!…
Insano!… e eu ousei
maldizer este anjo!
Não mais resisto!
Ai, mísera…
[Entra o Conde, detendo-se na
soleira]
Chegou o instante… vou morrer…
Agora a sua graça...
Pai do céu... imploro...
Insano!… e eu ousei
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Manrico
Leonora
Conde Conte
Manrico
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
FIM FINE
maldizer este anjo!
Mais que viver sendo de outro...
eu quis morrer sua!…
[Expira]
Ah! Você quis me enganar,
e por ele morrer!
[Apontando Manrico aos soldados]
Que seja levado ao patíbulo!
[Partindo entre os soldados]
Mãe... oh, mãe, adeus!
[Despertando]
Manrico!... Onde está meu filho?
Corre para a morte!…
Ah, pare!... Ouça-me!
[Arrastando Azucena até a janela]
Está vendo?…
Céus!
Já morreu!
Ele era seu irmão!
Ele! Que horror!
Você está vingada, oh, mãe.
[Horrorizado]
E eu ainda vivo!
osava maledir!
Prima... che... d'altri vivere...
Io volli... tua morir!
[Spira]
Ah! Volle me deludere,
e per costui morir!
[Additando agli armati Manrico]
Sia tratto al ceppo!
[Partendo tra gli armati]
Madre... oh madre, addio!
[Destandosi]
Manrico!... Ov'è mio figlio?
A morte corre!...
Ah ferma!... M'odi...
[Trascinando Azucena verso la finestra]
Vedi?...
Cielo!
È spento!
Egli era tuo fratello!
Ei! Quale orror!
Sei vendicata, o madre!
[Inorridito]
E vivo ancor!
JohnNeschling
SergioTramonti
Enrico Giuseppe Iori
AndreaDe Rosa
Bruno GrecoFacio
Ana LuciaBenedetti
MarianneCornetti
AlessandroCiammarughi
PasqualeMari
Hui He
AlbertoGazale
FelipeBou
Denisede Freitas
SusannaBranchini
Stuart Neill
Sergio Escobar
EduardoTrindade
RodolfoGiugliani
Gabriel Rhein-Schirato
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 86
A formação da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
remonta a 1921, dez anos após a inauguração do Theatro Mu-
nicipal, por meio da Sociedade de Concertos Sinfônicos de
São Paulo. Em mais de 90 anos de história, a Orquestra to-
cou sob a regência de maestros como Mstislav Rostropovich,
Ernest Bour, Maurice Leroux, Dietfried Bernett, Kurt Masur,
além de Camargo Guarnieri, Armando Belardi, Edoardo de
Guarnieri, Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky, Sergio
Magnani, além de vários compositores regendo suas obras,
como Villa-Lobos, Francisco Mignone e Penderecki. Solis-
tas de renome se apresentaram com o grupo, como Magda
Tagliaferro, Guiomar Novaes, Yara Bernette, Salvatore Ac-
cardo, Rugiero Ricci, dentre muitos outros. Desde o início
de 2013 a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo tem
como diretor artístico o maestro John Neschling.
O Coro Lírico foi criado em 1939 por iniciativa do prefeito
Prestes Maia, sob a coordenação do Maestro Armando Be-
lardi, então diretor artístico do Theatro Municipal.
As 16 óperas que marcaram sua temporada de estreia
foram preparadas pelo maestro Fidélio Finzi. Em 1947, Sisto
Mechetti assume a função de maestro titular.
Em 1947, Sisto Mechetti assumiu o posto de maestro titu-
lar e, a partir da oficialização do grupo, em 1951, esteve sob a
regência dos maestros Tullio Serafin, Olivero De Fabritis, Ele-
azar de Carvalho, Armando Belardi, Francisco Mignone, Hei-
tor Villa-Lobos, Roberto Schnorremberg, Marcello Mechetti e
Fábio Mechetti.
Entre 1994 e 2013, o Coro Lírico esteve sob o comando
de Mário Zaccaro, período no qual recebeu os prêmios de
Melhor Conjunto Coral, pela APCA, em 1996, e o prêmio Car-
los Gomes, na categoria ópera, em 1997.
Desde dezembro de 2013 está sob a direção de Bruno
Greco Facio.
Orquestra
Sinfônica
Municipal
de São Paulo
Coro Lírico
Municipal
de São Paulo
Diretor Artístico do Theatro Municipal de São Paulo, John
Neschling voltou ao Brasil após alguns anos em que se de-
dicou à carreira na Europa, e depois de ter durante 12 anos
reestruturado a Osesp, transformando-a num ícone da mú-
sica sinfônica na América Latina.
Durante a longa carreira de regente lírico, Neschling
dirigiu musical e artisticamente os Teatros de São Carlos
(Lisboa), St. Gallen (Suíça), Bordeaux (França), Massimo de
Palermo (Itália), foi residente da Ópera de Viena (Áustria) e
se apresentou em muitas das maiores casas de ópera da Eu-
ropa e dos EUA, em mais de 70 produções diferentes. Diri-
giu ainda, nos anos de 1990, os teatros municipais do Rio de
Janeiro e de São Paulo.
Como regente sinfônico, tem uma longa experiência
frente a grandes orquestras dos continentes americano, eu-
ropeu e asiático. Suas gravações têm sido frequentemente
premiadas e o registro de Neschling para a Sinfonia N.1 de
Beethoven foi escolhido pela revista inglesa Gramophone
como um dos melhores da história. No momento, se pre-
para para gravar o terceiro volume das obras de Respi-
ghi pela gravadora sueca BIS, frente à Filarmônica Real de
Liege (Bélgica).
Neschling nasceu no Rio de Janeiro em 1947 e sua for-
mação foi brasileira e europeia. Seus principais mestres foram
Heitor Alimonda, Esther Scliar e Georg Wassermann no Bra-
sil, Hans Swarowsky em Viena e Leonard Bernstein nos EUA.
É membro da Academia Brasileira de Música.
Maestro assistente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais
desde 2011, Gabriel Rhein-Schirato fez seu bacharelado
no Departamento de Música da Escola de Comunicações
e Artes da Universidade de São Paulo sob orientação de
Gilberto Tinetti, Aylton Escobar e Marco Antônio da Silva
Ramos. Prosseguiu por quatro anos os estudos de especia-
John Neschling
Regente
Gabriel Rhein-Schirato
Regente
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 88
Andrea De Rosa
Diretor Cênico
lização e pós-graduação nas cidades de Stuttgart e Bremen
(Alemanha), sob orientação de Patrick o’Byrne. Em dezem-
bro de 2007 foi aceito na Accademia Superiore Città della
Musica e del Teatro (Pescara, Itália) para o Corso di Alto Per-
fezionamento Musicale. Estudou técnica e repertório vocal
com Benito e Isabel Maresca.
À frente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, tem
apresentado diversas obras do repertório sinfônico, ope-
rístico e, eventualmente, popular. Em 2012 e 2013 regeu a
ópera Madama Butterfly no Jardim Japonês de Belo Hori-
zonte. Em novembro de 2013 regeu Un Ballo in Maschera no
Grande Teatro do Palácio das Artes. Tem realizado também
a preparação da OSMG para outros regentes em importan-
tes obras, além de concertos didáticos.
De 2009 a 2011 foi maestro-preparador no Coral do
Amazonas, no Festival Amazonas de Ópera. Regeu a Orques-
tra Sinfônica Municipal de São Paulo em uma das récitas co-
memorativas dos 45 anos de fundação do Balé da Cidade
em setembro de 2013 no Theatro Municipal de São Paulo.
Formado em filosofia, Andrea De Rosa começou a trabalhar
como diretor de curta-metragens, incluindo Notes for a Phe-
nomenology of the Vision, que estreou no Festival Interna-
cional de Cinema Jovem de Turim. Em 2004, atuou como
diretor cênico pela primeira vez, em Idomeneo, e desde en-
tão divide suas atividades entre teatro e ópera.
Na área lírica trabalhou com diversos títulos do século
XX, como Curlew River de Benjamin Britten, e Satyricon de
Bruno Maderna; para o Teatro São Carlos em Lisboa, De
Rosa dirigiu um tríptico composto pelas obras Sancta Su-
sanna, de Paul Hindemith, Erwartung, de Arnold Schönberg
e Il Dissoluto Assolto (O Dissoluto Absolvido), baseada no
livro de José Saramago.
Em dezembro de 2006, dirigiu Don Pasquale, condu-
zida por Riccardo Muti, com quem trabalhou novamente em
2008 na ópera Il Matrimonio Inaspettato, de Giovanni Pai-
siello, para o Festival Whitsun em Salzburgo.
De 2008 a 2011 Andrea De Rosa foi diretor do Teatro
Stabile de Nápoles, onde encenou A Tempestade e uma
peça sobre o filósofo Martin Heidegger.
Em junho de 2011 dirigu Manfred de Schumann, base-
ado no poema de Lord Byron, para o Teatro de Repertório
e o Teatro Regio de Turim, sob a regência de Gianandrea
Noseda. Para o Teatro Stabile de Turim encenou a peça
Macbeth, de Shakespeare, reapresentada nos anos seguin-
tes nos maiores teatros italianos.
Pintor, cenógrafo e figurinista, Sergio Tramonti nasceu em
Piangipane (Ravena, Itália). Em 1968 estreou como ator em
Woyzeck de Büchner, para o qual também assinou a ceno-
grafia, figurinos e máscaras.
Sua primeira experiência com um espetáculo lírico foi
em 1977, com Joana d’Arc, de Honegger e Claudel, com re-
gência de Franco Enriquez e direção de Vladimir Delman.
Trabalhou com Calo Cecchi em diversos espetáculos, entre
eles La Traviata (Verdi) no Teatro Comunale de Treviso, com
direção de Tiziano Severini (1983).
Em 1999 começa sua importante associação artística
com Mario Martone. Juntos, realizam Così fan Tutte, Don Gio-
vanni e As Bodas de Fígaro de Mozart no Teatro San Carlo de
Palermo (2006); Un Ballo in Maschera de Verdi no Covent
Garden de Londres (2005); Falstaff de Verdi no Théâtre des
Champs-Élysées de Paris (2008 e 2010) e o díptico Cavalle-
ria Rusticana / Pagliacci (2011) no Teatro alla Scala.
Com Andrea De Rosa, trabalhou na produção de Maria
Stuarda de Donizetti (2010, Palermo) e Manfred de Schum-
man (2010, Turim).
Sergio Tramonti
Cenografia
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 90
Nascido em Roma, estudou figurinos para óperas, peças e
cinema, especializando-se com Pierluigi Samaritani. Estreou
muito jovem no Festival Dei Due Mondi em Spoleto (Itália),
sob o comando de Giancarlo Menotti. Colaborou com diver-
sos cenógrafos, figurinistas e com diretores como Monicelli,
Ronconi, Cobelli, Fassini, nos teatros mais importantes da Itá-
lia e do mundo, como alla Scala, San Carlo em Nápoles, La
Fenice, Deutsche Oper em Berlim, Novo Teatro Nacional em
Tóquio, Teatro Colón, Teatro de la Maestranza em Sevilha e a
Opéra Royal de Wallonie em Liège.
Trabalhou com produções de dança clássica, como Ro-
meu e Julieta, Eugenio Onegin, Bajadere e a contempo-
rânea Montanha Encantada, com coreografia de Massimo
Moricone, no teatro Maggio Musicale Fiorentino. Trabalhou
por muitos anos com o diretor Stefano Vizioli, com destaque
para as produções de Tancredi, Trittico, Un Balo in Maschera,
Rigoletto e Il Trovatore. Em 2003 iniciou sua colaboração
com Andrea De Rosa, para teatro e ópera; juntos eles cria-
ram O Dissoluto Absolvido (ópera baseada no texto de José
Saramago) e Sancta Susanna para o teatro São Carlos de
Lisboa; L’Elisir d’Amore, para a Den Jyske Opera; Macbeth
no teatro Ponchielli; A Tempestade para o Teatro San Ferdi-
nando de Nápoles e Norma para a ópera de Roma.
Designer de luz e diretor de fotografia, pesquisou e traba-
lhou por mais de trinta anos com cinema e teatro.
Junto com Mario Martone assinou o desenho de luz da
trilogia Mozart-Da Ponte, apresentada ao longo do ano de
2006 no teatro San Carlo de Nápoles. Para Così fan Tutte, em
especial, cuidou da fotografia na versão televisiva de 2000
produzida pela RAI, com direção musical de Claudio Abbado.
Em 2011 estreou no alla Scala de Milão com o díptico Ca-
valleria Rusticana/I Pagliacci, sob a batuta de Daniel Harding;
seguido de Luisa Miller (2012) com Andrea Noseda.
Alessandro Ciammarughi
Figurinos
Pasquale Mari
Desenho de Luz
Trabalha com Andrea De Rosa desde a estreia deste
como diretor em Idomeneo (Trento, 2004), passando por
Don Pasquale, com regência de Riccardo Muti (Piacenza e
Ravena, 2006); Manfred, de Schumman, conduzida por An-
drea Noseda (2010, Turim); e Maria Stuarda (Donizetti) no te-
atro San Carlo de Nápoles.
Foi o responsável pela fotografia do filme Il Regista di
Martimoni (Cannes, 2006), de Marco Bellochio, pelo qual
venceu o Globo de Ouro de melhor fotografia na Itália.
Paulistano, graduado em composição e regência pelas
Faculdades de Artes Alcântara Machado, estudou sob a
orientação dos mestres Abel Rocha, Isabel Maresca e Na-
omi Munakata. No ano de 2011 assumiu a regência do Col-
legium Musicum de São Paulo, tradicional coro da capital,
dando continuidade ao trabalho musical do maestro Abel
Rocha.
Por 11 anos dirigiu o Madrigal Souza Lima, trabalho res-
ponsável pela formação musical de jovens cantores e regen-
tes. Durante 2010 foi preparador do coro da Cia. Brasileira
de Ópera, projeto pioneiro do maestro John Neschling que
percorreu mais de 20 cidades brasileiras com a ópera O Bar-
beiro de Sevilha, de Gioachino Rossini.
A convite do maestro Neschling, tornou-se regente titu-
lar do Coral Paulistano em fevereiro de 2013; em dezembro
do mesmo ano assumiu a direção do Coro Lírico do Theatro
Municipal de São Paulo.
Um dos maiores artistas de sua geração, o barítono Alberto
Gazale interpretou mais de setenta papéis principais nos te-
atros mais prestigiosos do mundo. Seu vasto repertório va-
ria de Monteverdi até Dalla Piccola, com atenção particular
para os títulos do final do século XIX.
Bruno Greco Facio
Regente do Coro
Alberto Gazale
Barítono
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 92
Formado no Conservatório de Verona, especializou-se
no repertório verdiano com o professor Carlo Bergonzi. Sua
estreia lírica aconteceu em 1998, com Un Ballo in Maschera
na Arena de Verona.
Desde então, sua carreira o tem levado a teatros como
o alla Scala, onde apresentou Macbeth, Rigoletto, Il Trova-
tore, Madama Butterfly e Otello; o Staatsoper de Viena, onde
apresentou-se em Nabucco, La Traviata e Tosca; além de te-
atros como o Carnegie Hall de Nova York, o Teatro Real em
Madrid, o Teatro Regio de Parma e a Arena de Verona.
Trabalhou com os regentes Riccardo Chailly, James Con-
lon, Zubin Mehta, Riccardo Muti, Daniel Oren e Carlo Rizzi.
Entre seus papéis recentes destacam-se Iago (Otello),
apresentado em Milão, Como e Cremona; e Conde de Luna
apresentado em Estocolmo em 2013.
Não faltam elogios ao sólido trabalho do barítono Rodolfo
Giugliani. Pela atuação em La Traviata (Verdi), Rodolfo rece-
beu excelente crítica da revista Ópera Internacional de Paris e,
desde então, destacou-se nos principais teatros do Brasil e do
exterior, nos papéis de Scarpia (Tosca), Tonio (I Pagliacci), Alfio
(Cavalleria Rusticana), Sharpless (Madama Butterfly), Gianni
Schicchi (Gianni Schicchi), Gérard (Andrea Chénier), Rigoletto
(Rigoletto), Cristovão Colombo (Oratório Colombo), Enrico
(Lucia di Lammermoor) e Nabuccodonosor (Nabucco). Parti-
cipou do centenário do Theatro Municipal de São Paulo como
Rigoletto (Verdi), e encenou La Traviata (Verdi) com direção
de Daniele Abbado. Apresentou-se no Palau de La Musica Ca-
talana (Espanha) e no Teatro Municipal de Santiago do Chile
(Attila). Ganhador do 1º lugar nos concursos de Canto Aldo
Baldin, Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão, Con-
curso Internacional de Canto Maria Callas e o Concurso Inter-
nacional de Canto Jaume Aragall, na Espanha.
Rodolfo Giugliani
Barítono
Susanna Branchini, nascida em Roma de um pai italiano e
uma mãe caribenha, formou-se pelo Conservatório Musical
F. Morlacchi em Perúgia, tendo participado de diversas com-
petições internacionais: foi finalista na competição de Tou-
louse e na As.Li.Co., e vencedora da Mattia Battistini.
Sua estreia lírica foi no papel de Micaela (Carmen) em
Roma (2002), seguida de Liù (Turandot) e Mimì (La Bohème).
Sua rápida evolução vocal permitiu que Susanna se
aproximasse de um repertório mais incisivo, de Aida, Il Tro-
vatore e Don Carlo até os papéis de soprano drammatico
d’agilità, como Odabella (Atilla) e Lady Macbeth, com o qual
abriu a temporada 2012/13 do Teatro Filarmônico de Verona.
Confortável tanto na profundidade psicológica do li-
rismo de Puccini (de Tosca, Madama Butterfly e Tabarro),
quanto no repertório do verismo (Pagliacci e Cavalleria Rus-
ticana), Susanna Branchini apresentou-se em numerosos te-
atros de prestígio, incluindo o Teatro dell’Opera em Roma,
a Arena de Verona, Teatro San Carlo em Nápoles e o Teatro
Regio em Parma. Trabalhou com os regentes Riccardo Muti
e Daniel Oren; e com os diretores Pier Francesco Maestrini,
Ivan Stefanutti e Franco Zeffirelli.
Em 2003 a soprano chinesa Hui He explodiu na cena musical
internacional com sua performance do papel título de Ma-
dama Butterfly, de Puccini, na ópera de Bordeaux. Tornou-
-se uma das mais aclamadas intérpretes dos papéis título
de Aida e Tosca. Seu vasto repertório inclui Amelia (Un Ballo
in Maschera), Lenora (Il Trovatore), Manon (Manon Lescaut),
Liu (Turandot), entre outros papéis. Cantou nos principais te-
atros do mundo, como o Metropolitan Opera, o Staatsoper
de Viena, Teatro alla Scala, Deutsche Oper de Berlim, o Staat-
soper da Bavária e o Gran Teatre del Liceu, tornando-se uma
favorita da Arena de Verona.
Em suas apresentações recentes, estreou no papel de
Susanna Branchini
Soprano
Hui He
Soprano
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 94
La Gioconda em Salerno, sob direção de Daniel Oren, e foi
Aida em Beijing. Interpretou Madama Butterfly em Copenha-
gen, Barcelona e Munique. Em 2014 repetiu seu papel de
Madama Butterfly para a Metropolitan Opera de Nova York.
Marianne Cornetti é internacionalmente reconhecida como
uma das principais mezzo-sopranos verdianas.
Atuou nos papéis de Amneris (Aida), Azucena (Il Trova-
tore) e Eboli (Don Carlos) em teatros como o alla Scala, Royal
Opera Covent Garden, Metropolitan Opera, Staatsoper de
Viena, Bayerische Staatsoper, Teatro dell’Opera de Roma,
Deutsche Oper de Berlim, Theatro Royal de la Monnaie em
Bruxelas, Teatro Comunale em Florença, a Arena de Verona,
Gran Teatro del Liceo em Barcelona, Teatro San Carlo em Ná-
poles e muitos outros.
Na temporada de 2012/2013 Marianne Cornetti atuou
como Preziosilla, em La Forza del Destino, no Gran Teatro
del Liceu, em Barcelona. Na Ópera de Roma estreou como
La Gioconda, papel que repetiu para a Deutsche Oper de
Berlim. Cornetti também interpretou Amneris e Abigaille
(Nabucco) em Tóquio e Azucena para o Teatro Nacional da
China, em Beijing.
Em 2013, brilhou como Azucena (Il Trovatore) no Festival do
Teatro da Paz, e como Fricka em Die Walküre, no Theatro Mu-
nicipal do Rio de Janeiro. Em 2012 cantou Waltraute em O
Crepúsculo dos Deuses, no Theatro Municipal de São Paulo.
Recebeu o Prêmio Carlos Gomes de melhor cantora em
2004, 2009 e 2012. Apresentou-se na ópera Yerma em Ber-
lim, Paris e Lisboa. Seu repertório inclui Dalila, Compositor
(Ariadne), Mère Marie (Diálogo das Carmelitas), Cherubino,
Nicklausse (Les Contes d'Hoffmann), Siebel (Fausto), O Ra-
poso (Raposinha Esperta), além de Suzuki, Laura, Adalgisa,
Marianne Cornetti
Mezzo-Soprano
Denise de Freitas
Mezzo-Soprano
Charlotte. Apresentou-se sob a regência dos maestros Isaac
Karabtchevsky, Luiz Fernando Malheiro, John Neschling, Silvio
Viegas, Fabio Mechetti, Jamil Maluf, Marcelo de Jesus, Rafael
Frühbeck de Burgos, J. Pons, K. Martin, C. Villaret e R. Arms-
trong. E atuou sob a direção de Jorge Takla, Aidan Lang, Carla
Camurati, Lívia Sabag e André Heller. Estudou com L. Prioli e
se aperfeiçoou com C. Green, P. McCaffrey e com S. Sass.
Nascido e formado na América, Stuart Neill é hoje um dos
tenores líricos mais apreciados de sua geração.
Começou sua carreira no repertório belcantista apresen-
tando-se nos principais teatros do mundo, entre os quais o
Metropolitan de Nova York e o Staatsoper de Viena, onde in-
terpretou Arturo (I Puritani). No Teatro alla Scala apresentou-
-se como Edgardo (Lucia de Lammermoor); na Opera de Paris
e no Festival de Salzburgo como Der Sänger (Der Rosenkava-
lier). A partir daí, seu estilo vocal desenvolveu-se na direção de
um repertório plenamente lírico: foi Manrico no Teatro La Fe-
nice de Veneza, na Deutsche Oper de Berlim e na Royal Opera
de Estocolmo; Radamés (Aida) no alla Scala, na Ópera de Tel
Aviv, na Arena de Verona e no Theatro Municipal de São Paulo;
e Canio (I Pagliacci) no Festival de Atenas e na Ópera de Roma.
Uma de suas principais interpretações é o Réquiem de
Verdi, que já cantou mais de duzentas vezes, incluindo três
gravações em disco, a última das quais com a London Sym-
phony Orchestra, sob a regência de Sir Colin Davis.
Trabalhou com os maestros James Levine, John Nes-
chling, Zubin Mehta, Carlo Maria Giulini e Gustavo Dudamel.
Sergio Escobar estudou canto no Conservatório Arturo So-
ria e na Escuela Superior de Canto em Madri. Participou de
master classes com Viorica Cortez, Jaime Aragall, Francisco
Ortiz, Noelia Buñuel, Montserrat Caballé e Teresa Berganza.
Stuart Neill
Tenor
Sergio Escobar
Tenor
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 96
Em 2012, venceu três concursos internacionais: ganhou
o primeiro prêmio na Competição Internacional de Canto
Ciudad de Logroño, o segundo lugar na Competição Mon-
serrat Caballé e o segundo lugar na Competição Internacio-
nal em Bilbao.
Em outubro de 2013 interpretou Corrado, em Il Cor-
saro, sob regência do maestro Gianluigi Gelmetti, no Teatro
Verdi de Trieste; Ismaele, em Nabucco, no Teatro Regio de
Parma, conduzido pelo maestro Renato Palumbo; Pollione
(Norma) e Nabucco no Teatro Comunale de Bolonha, com
o maestro Michele Mariotti. Destacou-se ainda pela atua-
ção no papel-título de Don Carlo, no Teatro Luciano Pava-
rotti em Módena.
Enrico Giuseppe Iori estudou no Conservatório de Parma, onde
teve aulas com Lucetta Bizzi, Carlo Bergonzi e Calro Meliciani.
Renomado baixo verdiano, teve sua estreia em 1996.
Desde então apresentou-se em importantes teatros e casas
de concerto, como o alla Scala, Teatro La Fenice em Veneza,
a Arena de Verona, o Teatro Regio de Parma, o Teatro Regio
de Turim, o Festival de ópera de Macerata, o Teatro São Car-
los em Lisboa e o Teatro Bolshoj em Moscou.
Enrico Giuseppe Iori trabalhou com maestros importan-
tes como Bruno Bartoletti, Bruno Campanella, Lorin Maazel,
Zubin Mehta, Riccardo Muti, Daniel Oren, Georges Prêtre, Re-
nato Palumbo, Heffrey Tate e diretores como Daniele Abbado,
Liliana Cavani, Denis Krief, Pamberto Puggelli, Emilio Sagi e
Franco Zeffirelli.
Em seu repertório estão os papéis de Raimondo (Lucia
de Lammermoor), Colline (La Bohème), Walter (Luisa Miller),
Don Basílio (O Barbeiro de Sevilha), Faraó (Aida), Sparafu-
cile (Rigoletto), Fiesco (Simon Boccanegra), Zaccaria (Nab-
buco) e Attila (Attila).
Participou da gravação de Aida, por Zeffirelli, em Busseto,
Enrico Giuseppe Iori
Baixo
cidade natal de Verdi; e da produção do dvd de Macbeth no
Teatro Regio de Parma.
Formado em Direito em 1990, o baixo hispano-brasileiro Fe-
lipe Bou estreou na Espanha com a ópera Marina, em Bilbao
(1994), e internacionalmente com Les Pêcheurs de Perles em
Toulouse (1998). Em 2000 atuou na produção comemora-
tiva do centenário de Tosca em Roma, com Pavarotti, Do-
mingo e Zeffirelli.
Desde então vem cantando papéis como Raimondo (Lu-
cia de Lammermoor) e Ramfis (Aida), em Düsseldorf; Frère
Laurent (Roméo et Juliette), em Tóquio; Rodolfo (La Sonnam-
bula), em Leipzig; Don Pasquale em Madri; Sparafucile (Ri-
goletto) em Parma e turnê ao México, Pequim e Mascate;
Ferrando no Festival Verdi de Parma; Colline (La Bohème)
em Florença e São Paulo; Creonte (Medea) em Palermo; Ba-
silio (Il Barbiere di Siviglia) para a Staatsoper de Viena; Bal-
dassare (La Favorite) em Santiago; Marke (Tristan und Isolde),
Fasolt (O Ouro do Reno) e Filippo II (Don Carlo) em Oviedo.
Sua discografia inclui Turandot e Gianni Schicchi (Na-
xos), Merlin (Decca) e em DVD D.Q. e Don Giovanni (Liceu
de Barcelona), La Bohème (Teatro Real de Madrí), La Vida
Breve (Palau de les Arts de Valência) e Rigoletto (ABAO).
Vencedora do 1º lugar no 9º Concurso de Canto Maria Callas
(2009), do prêmio Melhor Voz Feminina no IV Concurso Es-
tímulo para Cantores Líricos Carlos Gomes (2011), do 3º lu-
gar no Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão em
2011 e finalista do VI Concurso de Interpretação da Canção
de Câmara Brasileira (2004), Ana Lucia Benedetti estreou
como Ulrica em Un Ballo in Maschera no Palácio das Artes
de Belo Horizonte (2013) e como Lola em Cavalleria Rusti-
cana no Theatro São Pedro (2009). Atuou no grupo Ópera
Felipe Bou
Baixo
Ana Lucia Benedetti
Mezzo-Soprano
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 98
Estúdio da EMESP e nas produções do Núcleo Universitário
de Ópera da UNESP. Cantou na Série TUCCA de Concertos –
Sinfonia n.9 de Beethoven (Sala São Paulo), na Homenagem
a Maria Callas (Theatro São Pedro), Oratório de Natal de Ca-
mille Saint-Säens (Sala São Paulo), entre outros eventos. Estu-
dou piano no Conservatório Ars et Scientia e é bacharel em
Canto pela Faculdade Mozarteum, na classe de F. de Cam-
pos Neto. Estudou também com H. Gaidzakian, Marcos Tha-
deu e Regina Elena Mesquita. Atualmente é orientada por
Isabel Maresca.
O tenor Eduardo Trindade é Bacharel em Canto pela Univer-
sidade Estadual Paulista (UNESP), sob orientação de Martha
Herr. Cursou a Escola Municipal de Música de São Paulo, com
a professora Dra. Elenís Guimarães: Estudou também com
o renomado tenor Benito Maresca, com Ricardo Ballestero,
na Universidade São Paulo (USP), e com Juvenal de Moura.
Participou das montagens de La Traviata (2012) e Rigo-
letto (2011) de Giuseppe Verdi no Theatro Municipal de São
Paulo, sob a regência do maestro Abel Rocha. Atuou em O
Feiticeiro, de Gilbert & Sullivan, e El Hijo Fingido de Joaquim
Rodrigo, no Theatro São Pedro, ambos com o Núcleo Univer-
sitário de Ópera.
Atuou como solista do Coro de Câmara da Unesp no
oratório Lobgesang Op. 52 de Félix Mendelssohn e no Ora-
tório de Natal de Camille Saint-Saëns, regência dos maestros
Lutero Rodrigues e Fábio Miguel, respectivamente.
Atualmente integra o Coro Lírico do Theatro Municipal
de São Paulo.
Eduardo Trindade
Tenor
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 100
Abril
Falstaff Giuseppe Verdi
ter (15 / 22), qui (17 / 24) e sáb (12 / 19) às 20h
dom (13 / 20) às 18h
Theatro Municipal de São Paulo
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Coro Lírico Municipal de São Paulo
Regência John Neschling
Direção Cênica e Cenografia Davide Livermore
Falstaff Ambrogio Maestri / Nelson Martinez
Ford Simone Piazzola / Rodrigo Esteves
Alice Ford Virginia Tola / Adriane Queiroz
Nannetta Rosana Lamosa / Lina Mendes
Fenton Marco Frusoni
Maio e Junho
Carmen Georges Bizet
Mai qui (29) às 20h, sáb (31) às 20h
Jun ter (03 / 10), qua (11) qui (05 / 11) e
sáb (07) às 20h, dom (01 / 08) às 18h
Theatro Municipal de São Paulo
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Coro Lírico Municipal de São Paulo
Regência Ramón Tebar
Direção Cênica Filippo Tonon
Cenografia Juan Guillermo Nova
Carmen Rinat Shaham / Luisa Francesconi
Don José Thiago Arancam / Fernando Portari
Escamillo Rodrigo Esteves / David Marcondes
Micaela Lana Kos / Andrea Aguilar
Frasquita Marta Torbidoni
Mercedes Malena Dayen
Dancairo Francis Dudziak
Remendado Rodolphe Briand
Morales Norbert Steidl / Vinícius Atique
Zuñiga Massimiliano Catellani
Theatro Municipal de São Paulo
Temporada Lírica 2014
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Setembro
Salomé Richard Strauss
ter (09 / 16), qui (11 / 18) e sáb (06 / 20) às 20h
dom (14) às 18h
Theatro Municipal de São Paulo
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Regência John Neschling
Direção Cênica Livia Sabag
Cenografia Nicolás Boni
Figurinos Veridiana Piovezan
Desenho de Luz Wagner Pinto
Coreografia Ana Paula Mastrodi
Salomé Nadja Michael / Alexandrina Pendatchanska
Herodes Peter Bronder / Jürgen Sacher
Herodias Iris Vermillion / Alejandra Malvino
Jochanaan Steven Mark Doss / Michael Kupfer
Narraboth Stanislas De Barbeyrac / István Horváth
1º Judeu Paulo Chamié–Queiroz
2º Judeu Miguel Geraldi
3º Judeu Eduardo Trindade
4º Judeu Rubens Medina
5º Judeu Sérgio Righini
1º Nazareno Carlos Eduardo Marcos
2º Nazareno Sérgio Weintraub
1º Soldado Marcos Carvalho
2º Soldado Paulo Menegon
Capadócio Jonas Mendes
Pajem de Herodias Elaine Martorano
Escravo Elisabeth Ratzersdorf
Outubro
Cavalleria Rusticana / I Pagliacci
Pietro Mascagni / Ruggero Leoncavallo
ter (21 / 28), qua (29), qui (23) e sáb (18 / 25) às 20h
dom (19 / 26) às 18h
Theatro Municipal de São Paulo
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Coro Lírico Municipal de São Paulo
Regência Ira Levin
Direção Cênica (Cavalleria Rusticana) Pier
Francesco Maestrini
Direção Cênica (I Pagliacci) Francesco Micheli
Cenografia Juan Guillermo Nova
Santuzza Tuija Knihtlä / Elena Lo Forte
Turiddu Fernando Portari / Marcello Vannucci
Alfio Angelo Veccia / Francesco Landolfi
Lola Luciana Bueno
Mamma Lucia Lídia Schäffer
Canio Walter Fraccaro / Richard Bauer
Nedda Inva Mula / Marina Considera
Tonio Angelo Veccia / Francesco Landolfi
Beppe Daniele Zanfardino / Saverio Fiore
Silvio Davide Luciano / Norbert Steidl
Novembro / Dezembro
Tosca Giacomo Puccini
Nov sáb (29) às 20h | dom (30) às 18h
Dez ter (02 / 09), qui (04 / 11) e sáb (06 / 13) às 20h
dom (07 ) às 18h
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Coro Lírico Municipal de São Paulo
Regência Oleg Caetani
Direção Cênica Marco Gandini
Floria Tosca Amanda Echalaz / Ausrine Stundyte
Mario Cavaradossi / Marcelo Alvarez / Stuart Neill
Scarpia Roberto Frontali / Nelson Martinez
Cesare Angelotti Massimiliano Catellani
Sacristão Saulo Javan
Spoletta Luca Casalin
Programa sujeito a alterações.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 102
IL TROVATORE
Assistente de
Direção Musical
Gabriel Rhein-Schirato
Pianistas Correpetidores
Anderson Brenner
Paulo Almeida
Rafael Andrade
Atores
Alexandra Ucanda
Alle Paixão
Arlette Ferreira
Catharina Guedes
Claudia Macksoud
Diego Bargas
Edison Vigil
Felipe Barros
Gabriel Castillo
Giballin Gilberto
João Delle Piagge
Leonardo Negretti
Nanny Gonçalves
Renato Caetano
Tatiana Godoi
Victor Gomes
Vivian Barabani
Wanderley Salgado
Washington Lins
Produção de Cenografia
Jorge e Denis Produções
Cenográficas
Coordenação de
Execução Cenográfica
Jorge Ferreira Silva
Denis Nascimento
Assistentes de Execução
Cenográfica e Produção
Visagista
Simone Batata
Assistente de Visagismo
Tiça Camargo
Maquiadores
Alina Peixoto
Bia Bombom
Bruno Cezar
Caroline Gonzaga
Diogo Souza
Elisani Souza
Giulia Piantino
Gleice Diana
Inais Tereza
Isabel Vieira
Kika Queiroz
Lua Gimenez
Mara Feres
Marcela Costa
Marina Peev
Samara Cardoso
Sheila Campos
Tamyris Alves
Modelistas
Nilda Dantas
Judite de Lima
Leci de Andrade
Tandara Hoffman
Alfaiates
Domingos de Lello
Miguel Arrua
Costureiras
Fátima Coutinho
Cristina França
Claudinea Cavalcante Lima
Lucia Medeiros
Ivete Dias
Laurita Machado
Julia de Francesco
Julia Saragoza
Coordenação de Pintura
de Arte e Esculturas
Karen Luizi
Rubia de Campos
Assistentes
Julia Lopes
Michael Almeida
Agda Camila
Alicio Silva
Jacqueline Nascimento
Marcelo Thomé
Aílton Santos
Coordenação de
Cenotécnica
Jonas Soares
Cenotécnicos
Beto Gomes
Pedro Lino
João Pereira
Gilberto Ferreira
Guilherme Nascimento
Marcio Feitosa
Marcelo Feitosa
Erlany Pereira dos Santos
Coordenação de
Serralheria
Amadeu Fernandes
Genilson de Alencar
Serralheiros
Marcelo de Carvalho
Givaldo Gomes
Reginaldo Nascimento
Francisco Alves
Aílton Barreto
Evanildo Ferreira
Fernando da Silva
Secretaria Administrativa
Isabela Nascimento
Helena Oliveira
Antonio Fernandes
Edméia Evaristo
Josefa Gomes
Eunice Moreira
Dirlene Emilio
Silvia de Castro
Dilma Tiburiça
Armamentos
Boca de Cena
Adereços
Edu Paiva
Bordado
Gilberto Marques
dos Santos
Serigrafia
Danilo Pera Pereira
Sinopse e gravações
de referência
Irineu Franco Perpetuo
Tradução do Libreto
e Legendas
Hugo Casarini
Gerente da Orquestra
Paschoal Roma
Assistente
Yara de Melo
Inspetor
Carlos Nunes
Montadores
Alexandre Greganyck
Paulo Broda
* Chefe de naipe
** Músico convidado
Clarinetes
Otinilo Pacheco*
Luís Afonso Montanha*
Diogo Maia Santos
Domingos Elias
Marta Vidigal
Fagotes
Fábio Cury*
Marcelo Toni
Marcos Fokin
Osvanilson Castro
Trompas
André Ficarelli*
Luiz Garcia*
Rogério Martinez
Vagner Rebouças
Douglas Costa**
Flavio Vilela Faria**
Trompetes
Fernando Guimarães*
Marcos Motta*
Breno Fleury
Eduardo Madeira
Trombones
Roney Stella*
Emerson Teixeira**
Hugo Ksenhuk
Luiz Cruz
Marim Meira
Tuba
Gian Marco de Aquino*
Harpa
Angélica Vianna*
Piano
Cecília Moita*
Percussão
Marcelo Camargo*
Magno Bissoli
Reinaldo Calegari
Sérgio Coutinho
Violas
Alexandre De León*
Silvio Catto*
Abrahão Saraiva
Tânia de Araújo Campos
Adriana Schincariol
Eduardo Cordeiro
Eric Schafer Licciardi
Roberta Marcinkowski
Tiago Vieira**
Pedro Visockas**
Everton de Souza**
Violoncelos
Mauro Brucoli*
Raïff Dantas Barreto*
Cristina Manescu
Joel de Souza
Maria Eduarda
Canabarro
Sandro Francischetti
Teresa Catto
Alberto Kanji**
Ana Chamorro**
Contrabaixos
Rubens De Donno*
Sérgio de Oliveira*
Miguel Dombrowski
Ricardo Busatto
Sanderson Cortez Paz
Walter Müller
André Teruo**
Flautas
Cássia Carrascoza*
Marcelo Barboza*
Cristina Poles
Oboés
Alexandre Ficarelli*
Rodrigo Nagamori*
Javier Balbinder
Marcos Mincov
Orquestra Sinfônica
Municipal de São Paulo
Diretor Artístico
John Neschling
Primeiros-violinos
Pablo De León (spalla)
Martin Tuksa (spalla)
Maria Fernanda Krug
Fabian Figueiredo
Adriano Mello
Fábio Brucoli
Fábio Chamma
Fernando Travassos
Francisco Ayres Krug
Liliana Chiriac
Heitor Fujinami
John Spindler
José Fernandes Neto
Mizael da Silva Júnior
Paulo Calligopoulos
Rafael Bion Loro
Sílvio Balaz
Segundos-violinos
Andréa Campos*
Laércio Diniz*
Nadilson Gama
Otávio Nicolai
Alex Ximenes
André Luccas
Angelo Monte
Edgar Montes Leite
Evelyn Carmo
Oxana Dragos
Ricardo Bem-Haja
Sara Szilagyi
Ugo Kageyama
Kleberson Buso**
Juan Rossi**
Karen Crippa**
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 104
Prefeitura do Município
de São Paulo
Prefeito
Fernando Haddad
Secretário Municipal
de Cultura
Juca Ferreira
Fundação Theatro
Municipal de São Paulo
Direção Geral
José Luiz Herencia
Diretora de Gestão
Ana Flávia C. Souza Leite
Instituto Brasileiro
de Gestão Cultural
Presidente do Conselho
Cláudio Jorge Willer
Diretor Executivo
William Nacked
Diretora Técnica
Isabela Galvez
Diretor Financeiro
Neil Amereno
Diretor Artístico
John Neschling
Diretora de Produção
Cristiane Santos
Direitos Autorais
Olivieri Advogados
Associados
Diretoria Geral
Assessora
Maria Carolina G. de Freitas
Secretárias
Ana Paula Sgobi Monteiro
Marcia de Medeiros Silva
Monica Propato
Davi Marcondes
Diógenes Gomes
Eduardo Paniza
Jang Ho Joo
Luis Orefice
Marcio Martins
Miguel Csuzlinovics
Roberto Fabel
Sandro Bodilon
Baixos
Claudio Guimarães
Fernando Gazoni
Jessé Vieira
José Nissan
Josué Silva
Leonardo Amadeo Pace
Marcos Carvalho
Orlando Marcos
Rafael Thomas
Sérgio Righini
Assistente
Cristina Cavalcante
Inspetora
Eugenia Sansone
Montador
Alfredo Barreto de Souza
Coro Lírico do
Theatro Municipal
Regente Titular
Bruno Greco Facio
Regente Assistente
Sérgio Wernec
Pianistas
Marcos Aragoni
Marizilda Hein Ribeiro
Sopranos
Adriana Magalhães
Berenice Barreira
Claudia Neves
Elaine Moraes
Elayne Caser
Elisabeth Ratzersdorf
Graziela Sanchez
Huang Shu Chen
Ivete Montoro
Jacy Guarany
Juliana Starling
Marcia Costa
Angélica Feital
Maria Antonieta Soares
Milena Tarasiuk
Monique Corado
Marivone Pereira Caetano
Marta Mauler
Nadja Sousa
Rita de Cassia Polistchuk
Rosana Barakat
Sandra Félix
Mezzo-Sopranos
Elisa Nemeth
Eloísa Baldin Petriaggi
Erika Mendes Belmonte
Heloísa Junqueira
Keila de Moraes
Juliana Valadares
Maria Luisa Figueiredo
Mônica Martins
Contraltos
Celeste do Carmo
Claudia Arcos
Clarice Rodrigues
Elaine Martorano
Lidia Schäffer
Magda Painno
Mara Dalva de Alvarenga
Margarete Loureiro
Maria José da Silveira
Vera Ritter
Tenores
Alex Flores de Souza
Antonio Carlos Britto
Dimas do Carmo
Eduardo Pinho
Eduardo de Góes
Eduardo Trindade
Fernando de Castro
Gilmar Ayres
Joaquim Rollemberg
José Silveira
Luciano Goés
Luiz Antonio Doné
Marcello Vannucci
Márcio Lucas Valle
Miguel Geraldi
Paulo Chamié Queiroz
Renato Tenreiro
Rúben de Oliveira
Rubens Medina
Sérgio Sagica
Valter Felipe
Valter Estefano Mesquita
Barítonos
Alessandro Gismano
Ary Lima Jr.
Daniel Lee
Luciano Paes
Fernando Azambuja
Ubiratan Nunes
Camareiras
Alzira Campiolo
Lindinalva M. Celestino
Maria Auxiliadora
Maria Gabriel Martins
Marlene Collé
Nina de Mello
Regiane Bierrenbach
Tonia Grecco
Central de Produção
"Chico Giacchieri"
Coordenação de Costura
Emília Reily
Acervo de Figurinos
Marcela de Lucca M.
Dutra
Assistente
Ivani Rodrigues Umberto
Acervo de Cenário
e Aderecista
Aloísio Sales
Expediente
José Carlos Souza
José Lourenço
Paulo Henrique Souza
Diretoria de Gestão
Diretora de Formação
Lais Gabriele Weber
Assessora
Juliana do Amaral Torres
Secretária
Oziene Osano dos Santos
Núcleo Jurídico
Assessora
Carolina Paes Simão
Antonio Carlos da Silva
Antonio Oliveira Almeida
Alexandre Nunes Pinheiro
Aristide da Costa Neto
Cláudio Nunes Pinheiro
Cristiano Teixeira dos
Santos
Edival Dias
Ermelindo Terribele
Sobrinho
Julio de Oliveira
Lourival Fonseca
Conceição
Marcelo Luiz Frosino
Paulo Miguel Filho
Rodrigo Nascimento
Thiago Panfieti
Assistentes
Elisabeth de Pieri
Ivone Ducci
Contrarregras
Alessander de Oliveira
Rodrigues
Bruno Farias
Carlos Bessa
Eneas Leite
Marcelo Luiz Frosino
Piter Silva
Sandra Satomi Yamamoto
Chefe de Som
Sérgio Luis Ferreira
Operadores de Som
Guilherme Ramos
Daniel Botelho
Kelly Cristina da Silva
Chefe de Iluminação
Valéria Lovato
Iluminadores
Alexandre de Souza
Igor Augusto F. de Oliveira
Fernanda Câmara
Arquivo Artístico
Coordenadora
Maria Elisa Peretti
Pasqualini
Assistente
Ana Raquel Alonso
Arquivistas
Ariel Oliveira
Guilherme Prioli
Karen Feldman
Leandro José Silva
Leandro Ligocki
Copista
Ana Cláudia Oliveira
Ação Educativa
Aureli Alves de Alcântara
Cristina Gonçalves Nunes
Centro de Documentação
Chefe de seção
Mauricio Stocco
Equipe
Lumena A. de Macedo Day
Diretoria de Produção
Produtoras Executivas
Anna Patrícia Araújo
Rosa Casalli
Produtores
Aelson Lima
Pedro Guida
Assistente de Produção
Arthur Costa
Palco
Chefe da Cenotécnica
Aníbal Marques (Pelé)
Técnicos de Palco
Cerimonial
Egberto Cunha
Sofia Amaral Ramos
Maria Rosa T. Sabatelli
Bilheteria
Nelson Franco de Oliveira
Diretoria Artística
Assessoria de
Direção Artística
Stefania Gamba
Luís Gustavo Petri
Clarisse De Conti
Secretária
Eni Tenório dos Santos
Coordenação de
Programação Artística
João Malatian
Diretor Técnico
Juan Guillermo Nova
Assistente de
Direção Técnica
Giuseppe Cangemi
Diretor de Palco Cênico
Ronaldo Zero
Assistente de Direção
de Palco Cênico
Sabrina Mirabelli
Assistente de Direção
Cênica Residente
Julianna Santos
Segunda Assistente
de Direção Cênica
Ana Vanessa
Assistente de Direção
Cênica e Casting
Sérgio Spina
Figurinista Residente
Veridiana Piovezan
Produção de Figurinos
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 106
Assistente Jurídico
João Paulo Alves Souza
Assistência Administrativa
Alexandro Robson
Bertoncini
Seção de Pessoal
Cleide Chapadense da Mota
José Luiz P. Nocito
Solange F. França Reis
Tarcísio Bueno Costa
Parcerias
Suzel Maria P. Godinho
Contabilidade
Alberto Carmona
Cristiane Maria Silva
Diego Silva
Luciana Cadastra
Marcio Aurélio Oliveira
Cameirão
Meire Lauri
Compras e Contratos
George Augusto Rodrigues
Jessica Elias Secco
Marina Aparecida Augusto
Corpos Estáveis
Paula Melissa Nhan
Juçara A. de Oliveira
Vera Lucia Manso
Infraestrutura
Marly da Silva dos Santos
Antonio Teixera Lima
Cleide da Silva
Eva Ribeiro
Israel Pereira de Sá
Luiz Antonio de Mattos
Maria Apª da Conceição Lima
Pedro Bento Nascimento
Therezinha Pereira da Silva
Almoxarifado
Nelsa Alves Feitosa da Silva
Bens Patrimoniais
José Pires Vargas
Informática
Ricardo Martins da Silva
Renato Duarte
Estagiários
Victor Hugo A. Lemos
Yudji A. Otta
Arquitetura
Lilian Jaha
Estagiários
Marina Castilho
Vitória R. R. Dos Santos
Seção Técnica
de Manutenção
Edisangelo Rodrigues
da Rocha
Eli de Oliveira
Narciso Martins Leme
Estagiário
Vinícius Leal
Comunicação
Editor e Coordenador
de Comunicação
Marcos Fecchio
Assistente de
Mídias Eletrônicas
Desirée Furoni
Assessora de Imprensa
Amanda Sena
Design Gráfico
Kiko Farkas/ Máquina
Estúdio
Designer Assistente
Ana Lobo
André Kavakama
Atendimento
Michele Alves
Impressão
Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo
co-realização
apoio cultural
Organização Social de Cultura do Município de São Paulo
IL TRO
VATO
RE G
IUSEPPE VERD
I TH
EATRO M
UN
ICIPA
L DE SÃ
O PA
ULO
TEMPO
RA
DA
20
14
MUNICIPAL. O PALCO DE SÃO PAULO