iii workshop - desenvolvimento infantil – da concepção aos três anos

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1 DESENVOLVIMENTO INFANTIL DA CONCEPÇÃO AOS 3 ANOS DE IDADE CONTRIBUIÇÃO DO III WORKSHOP DA FMCSV ORGANIZADORES Saul Cypel - Coordenador do Programa de Desenvolvimento Infantil da FMCSV Inês Mindlin Lafer - Gerente de Programas da FMCSV Marcos Kisil - Diretor-superintendente da FMCSV

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III Workshop - Desenvolvimento Infantil – Da Concepção aos Três Anos

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1

DESENVOLVIMENTO INFANTILDA CONCEPÇÃO AOS 3 ANOS DE IDADE

CONTRIBUIÇÃO DO III WORKSHOP DA FMCSV

ORGANIZADORES

Saul Cypel - Coordenador do Programa de Desenvolvimento Infantil da FMCSV

Inês Mindlin Lafer - Gerente de Programas da FMCSV

Marcos Kisil - Diretor-superintendente da FMCSV

ÍNDICE

CAPÍTULO 3

MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

Assegurar que os bebês e as crianças sejam uma prioridade - PILAR FORT ................46 Sensibilização sobre o tema da infância: estratégias de comunicaçãodirigidas à comunidade em geral - VANINA TRIVERIO ................................................. 56

CAPÍTULO 4

DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA AS FAMÍLIAS POTENCIALIZAREM O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Promesa: uma proposta de desenvolvimento integral comunitário a partir da criação de ambientes saudáveis para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual das crianças - GLóRIA CARVALhO ..........................................70

A comunicação e a transformação social: a experiência do Centrode Criação de Imagem Popular (Cecip) - CLAUDIUS CECCON ...................................78

CAPÍTULO 5

CONCEITOS PARA UM PLANO DE COMUNICAÇÃODA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL

Implementação do plano de comunicaçãoda Fundação Maria Cecília Souto Vidigal - CARLOS PINTO .......................................86

CONSIDERAÇõES FINAISUnião de esforços ......................................................................................................94

MENSAGEM DA PRESIDENTE .................................................................. 4

A FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL ................................ 6

PREFáCIO ........................................................................................................ 8

APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 10

CAPÍTULO 1

A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

Como os meios de comunicação podem apoiar campanhas de mudança de comportamento - hIRAN CASTELLO BRANCO ......................................14

CAPÍTULO 2

DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS

Estratégias de comunicação com profissionais para disseminar conhecimentos e mudar práticas na atenção à infância - a experiência do Projeto Nossas Crianças: Janelas de Oportunidades - MARIA DE LA ó RAMALLO VERÍSSIMO E MARIA ÂNGELA MARICONDI ..........................22

Produção e divulgação de ferramentas de comunicação para públicosespecíficos na prática da Bernard van Leer - J. LEONARDO YÁNEZ ..............................34

4 5

Desde sua criação, em 1965, a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal sempre realizou um

trabalho referencial na área de saúde – especialmente em hematologia. No entanto, com o

falecimento do médico responsável, Michel Jamra, em 1999 e do fundador da entidade, Gastão

Vidigal, em 2001, a Fundação precisou repensar sua missão. Após cerca de quatro décadas de

atuação, percebemos que os propósitos da instituição estavam ultrapassados em relação às ne-

cessidades da sociedade. Ficou claro, naquele momento, que uma renovação se fazia necessária.

Foi quando, em 2003, impulsionada pela terceira geração – os netos, portanto, do fundador – a

família Souto Vidigal passou a se envolver diretamente com a Fundação. O primeiro contato

com a entidade, que até 2001 era conduzida por um único membro da família, foi de suma

importância. A família deveria se envolver com os temas ali trabalhados para efetivamente

“tomar posse” da instituição e potencializar sua atuação. Esse era o primeiro desafio que se

impunha, a partir daquele momento.

Foram três anos de capacitação que orientaram as mudanças na estrutura da Fundação.

Foi necessário rever todas as questões de governança, estatuto, objeto social, missão e visão,

além da própria estrutura básica, para que a instituição voltasse a representar os interesses

da família e da sociedade.

No meio desse processo, algumas dúvidas dissiparam-se ao mesmo tempo em que outras foram

surgindo. Nessa fase, a família escolheu trabalhar com gestão de conhecimento voltado para

o desenvolvimento integral de crianças na faixa de 0 a 3 anos e elegeu os principais temas do

novo objeto social da Fundação: saúde, meio ambiente e educação.

Em 2006, a instituição começou a funcionar no novo modelo, com uma estrutura renovada de

governança, baseada em um Conselho Curador e um Conselho Fiscal. O Conselho Curador

é composto por quatro membros da família e três membros externos, especialistas nos temas do

objeto social. Em 2009, no entanto, foi necessário reescrever a missão e a visão, bem como criar

a área de comunicação. hoje, a Fundação atua na gestão de conhecimento, na tecnologia de

informação e na comunicação – e o espectro da área programática foi ampliado para o desen-

volvimento infantil de forma geral, a partir das áreas da saúde, da educação e do meio ambiente.

Outra novidade foi a adoção de processos de avaliação para os projetos realizados pela Funda-

ção. É uma medida fundamental para manter o foco de atuação e garantir a melhora constan-

te dos processos, por meio da análise de resultados.

Todas essas mudanças foram bem-vindas e sinalizam a contínua evolução da Fundação.

As perspectivas apontam para um futuro também promissor. Temos na instituição um veículo

de educação e uma referência social para quem, hoje, nela trabalha e para aqueles que virão.

Estamos atentos para o engajamento das próximas gerações da família, pois queremos garantir

o futuro, queremos a perenidade da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.

Regina Vidigal Guarita

MENSAGEM DA PRESIDENTE DO CONSELHO DE CURADORES

6 7

A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) foi criada em 1965, pela família

Souto Vidigal, com o objetivo de colocar à disposição da sociedade um laboratório de

hematologia para pesquisa, diagnóstico e tratamento gratuito da leucemia, dada a falta

de conhecimentos sobre a doença naquela época no Brasil. A entidade atuou nessa

área, durante quase 40 anos, por meio de um laboratório de referência nacional que

atualmente está funcionando no hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo.

Recentemente, a FMCSV passou por um processo de redefinição de seu foco de atua-

ção, e agora se concentra na área de Desenvolvimento Infantil (DI), na faixa etária de

0 a 3 anos. A FMCSV tem especial interesse na disseminação de conhecimento, por

meio de parcerias em programas e projetos, para as famílias e principais cuidadores das

crianças dessa faixa. A FMCSV considera o investimento no desenvolvimento integral

da criança de até 3 anos crucial para a transformação social, pois é nesse período que

ela desenvolve seu potencial para se tornar um adulto saudável em seus aspectos físi-

cos, cognitivos e psicossociais.

Atualmente a FMCSV apoia a implementação de seis projetos-piloto nas cidades de

Botucatu, Itupeva, Penápolis, São Carlos, São José do Rio Pardo e Votuporanga, todas

no estado de São Paulo. Realizados em parceria com as prefeituras e uma organização

social local, consistem em promover a disseminação de conhecimento sobre DI para

as famílias e profissionais que lidem com crianças de até 3 anos, por meio de capaci-

tações, articulação social e gestão intersetorial.

VISÃO:

DESENVOLVER A CRIANÇA

PARA DESENVOLVER A SOCIEDADE.

MISSÃO:

GERAR E DISSEMINAR CONHECIMENTO PARAO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA.

A FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL

8 9

O sucesso da comunicação é crítico para a geração e a disseminação do conhecimento sobre

o Desenvolvimento Infantil (DI). No III Workshop Internacional, realizado em São Paulo nos

dias 26 e 27 de novembro de 2009, a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) reuniu

experiências nacionais e internacionais que ilustrassem como, na prática, a comunicação pode

e deve ser usada para que o conhecimento não só alcance as pessoas, mas também seja capaz

de ensejar mudanças de comportamento.

Com o intuito de conhecer e valorizar experiências de disseminação de conhecimento em DI,

o debate foi organizado em torno de três grandes temas: 1) comunicação, sensibilização e par-

ticipação da sociedade; 2) a comunicação para profissionais que atuam com famílias e crianças

de 0 a 3 anos; e 3) a comunicação para pais e famílias com crianças de 0 a 3 anos.

Para isso, foram convidados especialistas brasileiros e estrangeiros de ONGs, de univer-

sidades, dos seis projetos comunitários apoiados pela FMCSV e de fundações e institu-

tos empresariais para contarem a experiência das entidades que representam. Foi pos-

sível compreender, por exemplo, como a organização norte-americana Zero To Three

desenvolve seu trabalho de difusão de informação, capacitação e apoio a pais, profissionais

e responsáveis pela formulação de políticas públicas que influenciam a vida de bebês

e crianças. Igualmente foi possível conhecer a atuação da Fundação Centro Internacional de

Educação e Desenvolvimento humano (Cinde), da Colômbia, cuja missão é criar ambien-

tes adequados para um desenvolvimento físico e psicossocial saudável das crianças e jovens

que vivem em condições vulneráveis.

O evento mostrou que há muitos pontos de intersecção na diversidade. Apesar de realidades

distintas, os desafios a serem superados são semelhantes, o que torna o debate rico e nos

mostra que não estamos sozinhos. Ao contrário. A cada ano, a rede global de conhecimento

sobre DI fortalece-se e avançamos na formação de um sólido grupo de referência e na dis-

cussão sobre o tema.

O Workshop Internacional, promovido anualmente pela FMSCV desde 2007, começou a ser

pensado em 2006, quando a instituição identificou o DI como foco central de sua atuação.

Em sua primeira edição, a Fundação reuniu renomados profissionais da área de DI para dis-

cutir o tema, seus principais desafios e oportunidades de atuação. No segundo ano, o tema do

workshop foi a Avaliação de Programas e Projetos de DI, pois ela é essencial para a geração de

conhecimento sobre como intervir de forma a maximizar impacto e efetivamente transformar

a sociedade a partir da promoção do DI.

Nesta terceira edição do workshop, a FMCSV teve o intuito de estimular o intercâmbio de

experiências e gerar aprendizado coletivo sobre como utilizar a comunicação para promoção

do Desenvolvimento Infantil e de melhores práticas.

PREFáCIO

10 11APRESENTAÇÃO

O tema da comunicação sempre esteve presente nos projetos e discussões realizados

pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV). Com a definição, cada vez mais

clara, da missão da entidade de gerar e disseminar conhecimento para o desenvolvimen-

to integral da criança, a FMCSV busca estratégias eficazes para sensibilizar, informar e

orientar a sociedade, as famílias e os profissionais que lidam com crianças de 0 a 3 anos

sobre conceitos relacionados ao Desenvolvimento Infantil (DI).

Frequentemente, na busca pelo cumprimento de sua missão, a FMCSV depara-se com

os desafios da comunicação, por isso entende que tem um papel fundamental. Dentre

tais desafios, destaca-se o fato de que alguns conceitos de DI são discutidos há mais de

cinco décadas e, embora bastante divulgados, nem sempre o conhecimento é colocado

em prática. Existem certas barreiras que impedem que as pessoas se apropriem definiti-

vamente desses conceitos e os transformem em práticas.

Essa situação desdobra-se em uma série de indagações por parte das organizações volta-

das para esse tipo de trabalho, incluindo a FMCSV. Partindo do princípio de que a co-

municação ideal é aquela que promove a mudança de comportamento para o cuidado

adequado da criança, perguntamo-nos: como levar conceitos científicos sobre o desen-

volvimento integral da criança a diferentes públicos de forma clara, simples e eficiente?

Que organizações possuem experiências já sistematizadas com as quais a FMCSV pode

aprender e gerar sinergia? Que estratégias já foram utilizadas e quais foram os fatores

críticos para o sucesso da comunicação? Como, enfim, usar a difusão da informação

para promover mudanças comportamentais?

A FMCSV espera que esta publicação, elaborada a partir da construção coletiva de

conhecimento promovida em seu III Workshop, ajude a responder algumas dessas per-

guntas e contribua para a atuação de outras organizações e profissionais interessados no

tema de comunicação e disseminação de conhecimento em Desenvolvimento Infantil.

12

A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃOPARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

CAPÍTULO 1

14 15

COMO OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PODEM APOIARCAMPANHAS DE MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

hIRAN CASTELLO BRANCOESPM – ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

CAPÍTULO 1

Ao longo da minha carreira como publicitário, tive a

oportunidade de colaborar voluntariamente com o

Unicef e a Pastoral da Criança, o que foi extremamen-

te produtivo para meu aprendizado. Quando comecei

essa colaboração, em 1982, a ideia era fazer uma cam-

panha promovendo o aleitamento materno. Eu tinha

boa vontade, mas pouco conhecimento sobre o que

estava fazendo. No entanto, e apesar disso, nós tivemos

muito sucesso e nossos acertos foram em maior núme-

ro do que nossos erros. Mas só depois pude estudar um

pouco mais e, convivendo com as pessoas envolvidas

naquele projeto, pude compreender o porquê de ter

dado certo.

Quando começamos a fazer aquele trabalho, eu real-

mente tinha a impressão de que somente a divulgação

da informação era capaz de mudar comportamentos.

E, claro, aprendi que não é o suficiente. No terreno

da medicina preventiva, por exemplo, os profissionais

da área sabem que é mais fácil trabalhar mudança ou

adoção de comportamentos com as mulheres do que

com os homens, já que existe uma série de fatores cul-

turais. O homem, numa sociedade como a nossa, de

formação machista, acha-se um “herói”. Ele é “muito

forte pra adoecer”, isso não irá acontecer com ele.

Pelas mesmas razões, convencer um homem a fazer

um exame de próstata não é tão simples. Por mais que

ele saiba que é necessário fazê-lo pelo bem de sua saú-

de, há todo um desconforto de natureza psicológica

e bloqueios não confessáveis, que se expressam por

meio de anedotas. É importante, também, trabalhar

a motivação individual. Se estivéssemos assentando ti-

jolos, teríamos provavelmente um nível de motivação

pequeno. Se, por outro lado, enxergássemos naquela

ação a construção de uma catedral, o nível de motiva-

ção seria outro, sem dúvida.

Muitas vezes, quando fazemos um trabalho de transfor-

mação, de engajamento e de mobilização para a saúde

- ou para cuidados com a criança -, desconhecemos em

profundidade aspectos culturais que têm interferência

direta com esse processo. Esse é um ponto muito im-

portante, que nos remete ao tema do Workshop e que

pode até configurar uma contradição: por que usar a

comunicação de massa, se simplesmente informar não

é capaz de mudar comportamentos?

Recordo-me também de outra ocasião, quando traba-

lhávamos com um casal estrangeiro que veio ajudar o

Unicef no projeto do aleitamento materno. No início,

eles estavam muito resistentes à ideia de usar os meios

de comunicação de massa e de ter a colaboração de

uma agência de propaganda. Mas, durante a campa-

nha e com os primeiros resultados, o casal foi vencen-

do as resistências. Após o final do projeto, chegou até

a escrever uma tese sobre o assunto, recomendando a

adoção dos meios de comunicação de massa em pro-

gramas de saúde.

O que se pode esperar da comunicação de massa? Preci-

samos pensar a comunicação de massa de modo muito

mais amplo do que imaginar que estaremos na TV fa-

lando para todo Brasil. Atualmente, existe uma série de

meios digitais que atingem multidões. Um exemplo é

que, hoje em dia, o meio de comunicação de maior pe-

netração é o telefone celular. Praticamente todos os bra-

sileiros possuem um aparelho, e praticamente todos po-

dem ser alcançados por uma mensagem de texto (SMS).

Ao longo da minha carreira como publicitário, tive a oportunidade de colaborar voluntariamente

com o Unicef e a Pastoral da Criança, o que foi extremamente produtivo para meu aprendizado.

Quando comecei essa colaboração, em 1982, a ideia era fazer uma campanha promovendo o

aleitamento materno. Eu tinha boa vontade, mas pouco conhecimento sobre o que estava fazendo. No entanto, e apesar disso, nós tivemos muito sucesso e

nossos acertos foram em maior número do que nossos erros. Mas só depois pude estudar um pouco mais e, convivendo com as pessoas envolvidas naquele

projeto, pude compreender o porquê de ter dado certo.

16 17

CAPÍTULO 1A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

COMO OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PODEM APOIARCAMPANHAS DE MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

HIRAN CASTELLO BRANCO

O papel da comunicação de massa é a construção de

um cenário propício à mobilização: fazer que todos

nós tenhamos a percepção de que estamos construin-

do uma catedral. Quando agimos isoladamente, mas

sabemos que somos parte de uma grande rede, temos

mais motivação.

Eu me sinto parte dessa legião de transformadores mes-

mo sem conhecer quem está no outro lado. Basta que

eu entenda que não estou só. O que move aquela pes-

soa move a mim também e procuraremos caminhar na

mesma direção. Os que têm mais de 30 anos talvez se

lembrem de uma campanha com várias celebridades

globais - Lucélia Santos, Marília Gabriela, Sócrates e

Erasmo Carlos. Aquela campanha criava esse cenário

transformador. A peça fazia parte de um modelo mui-

to bem definido pelo educador colombiano Bernardo

Toro, que foi ministro na Colômbia, na área de educa-

ção, e fez várias consultorias para a Unicef.

Seu trabalho é centrado na necessidade de construir

um cenário mobilizante. Não se pode esperar que o

que está nos meios de comunicação de massa atinja as

pessoas e mude seu comportamento. Para se concreti-

zar, o processo de transformação prevê que as informa-

ções circulem entre os vários níveis de formadores de

opinião e de comportamento.

O cenário mobilizante nos faz sentir inseridos no pro-

cesso de construção da catedral, mas, ainda assim, é pre-

ciso capilaridade. No caso das campanhas do aleitamen-

to materno e do soro caseiro, um dos principais agentes

desse processo eram as líderes comunitárias da Pastoral

da Criança, comandada pela doutora Zilda Arns, que se

tornou uma figura de renome internacional.

Essas líderes, ao verem mensagens na televisão, sen-

tiam-se parte da construção daquela obra e ganhavam

confiança no que estavam fazendo. Evidentemente,

eram treinadas nas comunidades da Pastoral para

fazer esse trabalho, somando o esforço delas aos dos

profissionais de saúde. Elas iam de casa em casa, co-

munidade em comunidade, e conversavam com as

mães. E, aí sim, nas conversas que ocorriam na igreja,

ou em uma cidadezinha nos rincões do Brasil, sedi-

mentavam seu conhecimento e inseriam aquelas pes-

soas dentro do processo.

Bernardo Toro chama de reeditores as pessoas que se

engajam no processo. O reeditor existe em qualquer

processo de mobilização porque ele capta um con-

junto de informações, processa à sua maneira e mul-

tiplica o conhecimento.

Os reeditores não precisam ser necessariamente pro-

fissionais especializados. há um caso muito interes-

sante no Rio de Janeiro, onde prostitutas foram engaja-

das no trabalho de prevenção e combate à hanseníase.

A hanseníase pode ser identificada através de man-

chas no corpo e as prostitutas tinham oportunidade

de dizer para o cliente que ali tinha uma mancha

que não existia antes. Evidentemente, as prostitutas

sentiram-se valorizadas porque sua profissão as co-

loca, na visão de uma parte mais conservadora da

sociedade, como cidadãs de segunda classe. Como

as líderes da Pastoral da Criança, elas absorviam e

multiplicavam as informações.

O aleitamento materno

Neste tipo de trabalho, é também fundamental com-

preender profundamente a questão cultural. O Centro

Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que

colaborava com a campanha do aleitamento materno,

fez vários estudos identificando as barreiras.

Uma delas é a questão estética. Outra era o medo de

não conseguir, a mulher achar que não teria leite. Um

terceiro fator que representava um obstáculo era a ig-

norância sobre os benefícios do aleitamento. Também

foi identificada a interferência desfavorável do pai.

Para contornar essas barreiras, celebridades da época

gravaram depoimentos em que procuravam derrubar

esses mitos. No momento em que uma atriz como a

Lucélia Santos amamenta seu filho, a mensagem vai

muito além do que ela fala. Ela amamentava em pú-

blico e falava da importância deste ato. E se uma artis-

ta global que quer estar sempre bonita amamenta, ela

tem toda a autoridade para dizer que a preocupação

estética não tem fundamento.

A questão do machismo também era abordada. Tínha-

mos o depoimento do Erasmo Carlos, símbolo maior

do “machão” na época. Ele aparecia com os filhos

dizendo que a sua então esposa, Narinha, amamen-

tou os dois. E quando ele dizia, ele se dirigia aos pais

pedindo que colaborassem com as esposas, falava da

importância do aleitamento para o desenvolvimento

emocional e de saúde de uma criança. Cada uma das

barreiras culturais foi tratada no ambiente midiático

e trabalhada nos pequenos grupos pelos reeditores. A

confluência dessas estratégias levou ao êxito do projeto.

Existia à época o Instituto Nacional de Alimentação e

Nutrição (Inan), órgão do governo federal, criado para

apoiar e elaborar políticas de alimentação e nutrição,

que também se envolvia com esta questão. Por conta

da campanha, o Brasil saiu de uma situação de baixa

aderência ao aleitamento materno para a amamenta-

ção exclusiva durante três meses.

A meta era seis meses. Falava-se sempre, como um

mote: “Seis meses que valem uma vida”. Os profissio-

nais e especialistas chegaram a cogitar um ano, mas os

resultados das pesquisas mostraram que impor a meta

de um ano poderia resultar em frustração, porque pou-

ca gente conseguiria ou desanimaria antes de tentar.

Slogans são importantes na questão da comunicação.

Funcionam como um comando, uma frase mobili-

zante e transformadora. Do mesmo jeito que Moisés

conduziu seu povo dizendo: “Vamos para uma terra

de onde emana leite e mel e podemos atravessar o

deserto para lá chegar”; e Juscelino Kubitschek dizia:

“Vamos construir 50 anos em cinco”; o mote da cam-

panha do aleitamento materno era “Seis meses que

valem uma vida”.

Isso se encaixa perfeitamente no modelo do Bernar-

do Toro, intitulado “Modelo Macrointencional de

Comunicação”. Esse modelo descreve exatamente

aquilo que foi feito e explica, em grande parte, o

êxito da campanha.

18 19

Soro caseiro

Outra experiência rica foi o caso do soro caseiro. Nesse

caso, foi feita rigorosamente a mesma coisa. Até hoje,

se entrarmos no site do Instituto Brasileiro de Geogra-

fia e Estatística (IBGE), está dito que a divulgação do

soro caseiro contribuiu para a redução significativa da

mortalidade infantil.

havia um clima propício criado pelo ator Lima Du-

arte e líderes comunitárias falando na televisão. havia

também o aval da Sociedade Brasileira de Pediatria de

que aquela era uma receita caseira, mas que tinha valor

médico. Isso me levou a Daca, capital de Bangladesh.

Lá, o problema da cólera é muito intenso. As pessoas

moram em palafitas, o esgoto é despejado onde elas

vivem e, quando ocorrem enchentes, a contaminação

é inevitável.

No hospital de Daca é possível ver famílias tratando de

seus entes queridos com cólera por meio da utilização

de soro caseiro. A pessoa vai se desidratando e um fa-

miliar fica por perto, administrando uma dose de soro

caseiro via oral – muitos hospitais não possuem recur-

sos para fazer a administração de soro pela veia. Muitos

adultos salvaram-se por conta desse procedimento.

Fomos até lá falar sobre esse tema, já que eles nunca

tinham feito uma campanha massiva que divulgasse

o soro caseiro. Esse procedimento era feito no hospi-

tal de Daca, mas não era usado pelas famílias de uma

maneira mais ampla. A intenção deles era conhecer

a experiência brasileira. O processo adotado em Ban-

gladesh foi exatamente o mesmo: a mobilização nos

meios de comunicação de massa e o uso de líderes tra-

balhando dentro das comunidades. Aproveitou-se in-

clusive a ideia do mote da campanha do aleitamento

materno para dizer que a receita valia uma vida.

As pesquisas que nós fizemos a respeito da campanha

aqui no Brasil apresentaram bons resultados. Naque-

la época, praticamente todos os brasileiros tomaram

conhecimento da receita. Nas comunidades onde a

Pastoral tinha boa inserção, a adesão foi muito maior.

Ficou comprovado que só informação não basta. As

pessoas sabiam da existência do soro e até descreviam a

receita, mas não usavam ou usavam pouco. Entretanto,

quando seu uso foi reforçado na escola, nas igrejas, nas

cidades onde a Pastoral atuava fortemente, o índice de

utilização foi muito mais expressivo.

Meios digitais

A possibilidade de todos nós sermos produtores de con-

teúdo e emissores de mensagens dadas pelos meios di-

gitais é altamente favorável para processos de dissemi-

nação de informação. No caso do aleitamento materno,

na década de 1980, havia uma comunicação de massa

em que um emissor centralizado disseminava a mensa-

gem que os outros recebiam. O feedback desse tipo de

campanha só era possível por meio de pesquisas.

hoje, existem as redes sociais na internet e todos pos-

suem um celular no bolso. Se o objetivo, portanto, é

manter a motivação de um grupo de pessoas, é possível

mandar um SMS por dia. Assim, aquele grupo sente-se

permanentemente parte de uma legião de transformadores. A troca de e-mails significa

compartilhamento constante de informações. Esse processo é imensamente facilitado pe-

las mensagens eletrônicas e pelos blogs. hoje, uma líder da Pastoral pode ter um blog e

comunicar-se com muita gente ao mesmo tempo.

No Brasil, já existe um contingente enorme de brasileiros com acesso à Internet. É pos-

sível, portanto, utilizar essas ferramentas e todos se transformam, assim, em emissores de

conteúdo e em reeditores com muito mais facilidade.

Conclusão

Espero que, por meio da mistura de exemplos práticos com a construção teórica de Berna-

do Toro, eu tenha contribuído de alguma forma para as reflexões neste Workshop. Apesar

deste modelo já ser bastante conhecido, é importante e útil porque dá segurança, para

os envolvidos neste tipo de projeto, de que essas ações combinadas realmente produzem

resultado para a mudança de comportamentos.

HIRAN CASTELLO BRANCOAdministrador de empresas pela Fundação Getúlio Vargas e pós-graduado em Comuni-

cação Pública pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Foi premiado

com o “Top de Marketing” pela coordenação da Campanha do Soro Caseiro para o Uni-

cef e o Conselho Nacional de Propaganda. Em 2006, recebeu a medalha cinquentenária

das Forças de Paz da ONU, por trabalhos realizados em prol da cultura de paz por meio

das campanhas de utilidade pública que coordenou. Atualmente, é presidente do Con-

selho Nacional de Propaganda (CNP) e também conselheiro da Associação Comercial

de São Paulo, da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), da

ESPM e do Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP).

CAPÍTULO 1A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

COMO OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PODEM APOIARCAMPANHAS DE MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

HIRAN CASTELLO BRANCO

20

DISSEMINANDO INFORMAÇõES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRáTICAS

CAPÍTULO 2

22 23

ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO COM PROFISSIONAIS PARA DISSEMINAR CONHECIMENTOS E MUDAR PRáTICAS NA ATENÇÃO à INFÂNCIA -

A ExPERIêNCIA DO PROjETO NOSSAS CRIANÇAS: jANELAS DE OPORTUNIDADESMARIA DE LA Ó RAMALLO VERÍSSIMO E MARIA ÂNGELA MARICONDI

ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

CAPÍTULO 2

Agradecemos a oportunidade de compartilhar o relato deste trabalho, que vem sendo de-

senvolvido desde 2002 por um grupo de pessoas comprometidas com a melhoria das con-

dições de saúde e do desenvolvimento infantil.

O objetivo deste artigo é apresentar as estratégias de disseminação de conceitos e práticas

de desenvolvimento infantil (DI) utilizadas pelo grupo técnico do Projeto Janelas para

formar profissionais de serviços de saúde que lidam com famílias de crianças de 0 a 6 anos

e gestantes.

O artigo está dividido em três partes. A primeira, que trata da disseminação de conheci-

mentos e práticas, aborda os conhecimentos específicos trabalhados no projeto, o grupo-

alvo e as estratégias de disseminação desses conhecimentos e práticas. A segunda parte

analisa a implantação do projeto e inclui as atividades de formação dos profissionais de

saúde e o acompanhamento da sua continuidade nas unidades participantes. A terceira

parte relata a pesquisa de avaliação do projeto.

Nosso ponto de partida foi a necessidade de construção de novas tecnologias para apoiar

as ações das equipes de saúde da família, no início da implementação do Programa Saúde

da Família (PSF) no município de São Paulo. Queríamos contemplar ações de promoção

da saúde infantil, no âmbito da atuação com as famílias, particularmente as socialmente

mais vulneráveis.

Pensando na promoção da saúde como um processo de capacitação da comunidade para

atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, o que inclui sua maior participação

no controle desse processo, é preciso entender que a nova tecnologia tem o objetivo de

apoiar a reorganização do trabalho em saúde, de maneira a possibilitar que as ações profis-

sionais se constituam em uma resposta organizada às necessidades de saúde da população.

Nesse sentido, a nova tecnologia deveria contemplar conhecimentos e práticas dos pro-

fissionais, das famílias e das comunidades voltadas à promoção do DI de crianças de 0 a

6 anos, mediante o fortalecimento dos cuidados familiares e comunitários à gestante e à

criança pequena.

Agradecemos a oportunidade de compartilhar o relato deste trabalho, que vem sendo

desenvolvido desde 2002 por um grupo de pessoas comprometidas com a melhoria das condições

de saúde e do desenvolvimento infantil. O objetivo deste artigo é apresentar as estratégias

de disseminação de conceitos e práticas de desenvolvimento infantil (DI) utilizadas pelo grupo técnico do Projeto Janelas para formar

profissionais de serviços de saúde que lidam com famílias de crianças de 0 a 6 anos e gestantes.

24 25

Estratégia escolhida - Construção coletiva do trabalho

Considerando a necessidade de construção de novas tecnologias para as equipes de saúde

da família, o grupo de coordenação de implantação do PSF no município de São Paulo

desenhou uma pré-proposta de trabalho que foi apresentada e aprovada para receber apoio

do Unicef. Esse grupo de coordenação compôs, então, um grupo técnico convidando

profissionais de variadas formações e experiências em projetos de saúde e comunitários:

• Da Secretaria Municipal de Saúde, profissionais de atenção básica e área da saúde da

criança e da pessoa com deficiência da Coordenadoria de Desenvolvimento da Gestão

Descentralizada (Cogest);

• Da Associação Comunitária Monte Azul, entidade com experiência na promoção de de-

senvolvimento comunitário, que também fez a gestão financeira dos recursos do Unicef;

• Do próprio Unicef, que acompanhou todas as etapas do projeto;

• Da Pastoral da Criança;

• Do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren) da Universidade Federal

de São Paulo (Unifesp);

• Do Núcleo de Apoio às Atividades de Cultura e Extensão – assistência de enfermagem

em saúde coletiva, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP),

pelo qual participamos.

Desde o início, tendo como eixo condutor a proposição da construção participativa, o gru-

po técnico assumiu a coordenação conjunta do trabalho, consciente da proposta de trazer

as equipes de saúde e os parceiros para construir a tecnologia conjuntamente. O grupo

técnico iniciou seu trabalho elaborando os conceitos principais a serem propostos como

orientadores da tecnologia. Destacam-se dentre esses conceitos os seguintes:

• COMPETÊNCIAS FAMILIARES: conhecimentos, saberes e habilidades que, somados

à amorosidade de atitudes e práticas das famílias, facilitam e promovem a sobrevivência,

o desenvolvimento, a proteção e a participação das crianças. O conceito de competên-

cias familiares foi introduzido pelo Unicef e trabalhado no grupo associado ao de patri-

mônio, para evitar a qualificação das famílias em competentes e incompetentes.

• PATRIMÔNIO: conjunto de recursos dos quais as pessoas dispõem para garanti-

rem, a si mesmas e a seus familiares, maior segurança e melhor padrão de vida.

Constituem o patrimônio da pessoa/família: trabalho, saúde, educação, moradia,

habilidades pessoais e relacionamentos (familiares, de vizinhança, de amizade, co-

munitários e institucionais).

• CUIDADO: o foco no cuidado tem como premissa que ele não é natural, mas cons-

truído socialmente e influenciado por questões históricas, políticas, econômicas, den-

tre outras. Assim, esse conceito foi trabalhado associado ao de necessidades essenciais

da infância, ou as necessidades que fornecem os fundamentos para que a criança al-

cance seu potencial intelectual, social, emocional e físico. As necessidades essenciais

estão associadas à sobrevivência e ao desenvolvimento integral da pessoa, portanto,

relacionam-se a todas as crianças, de qualquer origem étnica, classe social, condição

física e mental. Assim, ainda que priorizando as intervenções com as famílias com

maiores dificuldades, todo o material apoia o trabalho com quaisquer crianças e fa-

mílias. A promoção de cuidados diários que favorecem o crescimento e o desenvolvi-

mento integral foi então o eixo condutor da proposta. Isso porque cuidar de crianças é

uma tarefa para a qual as pessoas precisam ser preparadas, mediante o conhecimento

e a compreensão sobre o processo de desenvolvimento infantil e as necessidades es-

senciais decorrentes deste processo. Cabe dizer que os conceitos de desenvolvimento

infantil e de criança foram também trabalhados, não de maneira independente, mas

como referência para o cuidado e as necessidades essenciais.

CAPÍTULO 2DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS

ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO COM PROFISSIONAIS PARA DISSEMINAR CONHECIMENTOS E MUDAR PRáTICAS NA ATENÇÃO à INFÂNCIA - A ExPERIêNCIA DO PROjETO NOSSAS CRIANÇAS: jANELAS DE OPORTUNIDADES

MARIA DE LA Ó RAMALLO VERÍSSIMO E MARIA ÂNGELA MARICONDI

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• RESILIÊNCIA: a resiliência foi também um conceito-chave no trabalho, dada sua

importância como uma força para o desenvolvimento da pessoa. Este conceito expli-

ca que crianças que têm interações contínuas com pessoas que cuidam bem delas

tornam-se melhor preparadas, biológica e emocionalmente, para aprenderem e traba-

lharem estresses e desapontamentos do dia a dia de suas vidas

• FAMÍLIA: o conceito de família foi também um dos conhecimentos colocados para

o debate e, dentre outros aspectos relativos a esse conceito, destaca-se a reflexão sobre

o concreto versus o idealizado, isto é, a importância de compreender e trabalhar com

a diversidade presente no mundo real nas formas de ser família, em vez de comparar

este real a um modelo idealizado, classificando-o então como inadequado.

• PESSOA/FAMÍLIA EM CONDIÇÕES ADVERSAS: entender a condição pessoa/

família em condições adversas passa por compreender que, em função da situação

de privação excessiva, a pessoa/família fica sem uma perspectiva de vida futura. Essa

situação pode desencadear a privação da liberdade, ou reduzir a capacidade humana

de decidir, fazendo que a pessoa/família se mostre, inclusive, desinteressada pela vida

e sem energia para enfrentar seu cotidiano.

• REDE SOCIAL DA FAMÍLIA: um conjunto de relações interpessoais a partir do qual

a pessoa e/ou a família mantêm sua identidade social. Essa identidade compreende

hábitos, costumes, crenças e valores característicos de uma determinada rede. A rede

social fornece à pessoa e/ou família sustento emocional, ajuda material, serviços e

informações, tornando possível o desenvolvimento de relações sociais. A rede social é,

portanto, um recurso das famílias, mas também da equipe de saúde. Ao mesmo tempo

em que faz parte da rede e apoia diretamente as famílias, a equipe de saúde encontra

nos outros membros da rede apoio e complementaridade para seu trabalho.

Tendo em vista as práticas tradicionais realizadas segundo o modelo assistencial predo-

minante no nosso sistema de saúde – o biomédico –, o Projeto Janelas propôs uma nova

perspectiva: a elaboração de instrumentos, conhecimentos e práticas que se constituem

numa nova tecnologia de abordagem ao DI, conforme sintetizado no quadro a seguir.

PRÁTICAS TRADICIONAIS PROJETO JANELAS

Profissionais especialistas em saúde da criança Profissionais generalistas

Ausência do Agente Comunitário da Saúde (ACS) Presença do Agente Comunitário da Saúde (ACS)

Finalidade diagnóstica Finalidade de promoção da saúde

Variáveis da criança Variáveis do contexto

Abordagem da criança Abordagem da família

Consultas ambulatoriais Contato no ambiente de vida

Testes e medidas Observação e descrição

Análise técnica - devolutiva Construção de saberes compartilhados

Destaque do saber profissional Fortalecimento das competências das famílias

Encaminhamento Acolhimento

Família receptora de orientações Família agente de cuidados

Serviço de assistência Organização da comunidade

Objetivo: tratamento Objetivo: inclusão

Ação pontual Processo contínuo

As equipes de saúde da família são consi-

deradas pelo Projeto sujeitos diretamente

responsáveis pelo trabalho com as famílias,

assim como os gestores e parceiros do PSF.

Médicos, enfermeiros, auxiliares de enfer-

magem, ACS, dentistas, outros profissionais

de saúde da unidade, gerentes das Unidades

Básicas de Saúde (UBS), supervisores de

saúde e coordenadores da Saúde da Família.

O mapa ao lado ilustra as regiões em que foi

realizado o projeto-piloto de implantação

do Janelas. Foram selecionados os distritos

do município de São Paulo que apresenta-

vam os piores indicadores de saúde infantil

e também contavam com parceiros com

histórico de atuação na promoção do DI.

Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo

Distritos de Saúde envolvidosnesta fase do projeto:

01. Cidade Tiradentes02. Itaquera03. São Miguel04. Brasilândia05. Sé06. Vila Mariana07. Cidade Ademar08. Jardim São Luiz09. Jardim Ângela10. Parelheiros11. Grajaú

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CAPÍTULO 2DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS

ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO COM PROFISSIONAIS PARA DISSEMINAR CONHECIMENTOS E MUDAR PRáTICAS NA ATENÇÃO à INFÂNCIA - A ExPERIêNCIA DO PROjETO NOSSAS CRIANÇAS: jANELAS DE OPORTUNIDADES

MARIA DE LA Ó RAMALLO VERÍSSIMO E MARIA ÂNGELA MARICONDI

28 29

O conteúdo conceitual foi organizado em um caderno,

juntamente com a proposta geral do Projeto. Todo o

material foi então submetido às equipes, gestores e par-

ceiros do PSF, numa oficina de trabalho, em abril de

2002. Como parte da estratégia de construção coletiva

do trabalho, o grupo técnico apresentou os conceitos

para que fossem analisados pelos profissionais da Estra-

tégia de Saúde da Família (ESF) e parceiros, à luz de

suas práticas. Os participantes debateram em subgru-

pos os seguintes pontos:

• Caracterização da situação da infância na sua região

de atuação;

• Reflexão sobre as práticas desenvolvidas pelas equi-

pes na região e os conteúdos apresentados para

orientar o Projeto;

• Propostas de fortalecimento do DI, levando em con-

ta as potencialidades do cuidado na família e nas

redes sociais.

As avaliações dessa I Oficina destacaram a rele-

vância do Projeto, tendo em vista os seguintes as-

pectos principais:

• Apoio às ESF na abordagem do DI - O primeiro

aspecto referiu-se às próprias demandas de com-

petências das equipes na abordagem do DI, tais

como promoção de condições favoráveis ao DI e

estimulação adequada da criança, fortalecimento

das competências familiares, estabelecimento de

vínculos afetivos, potencialização das janelas de

oportunidades e acompanhamento e identifica-

ção precoce de riscos ou danos ao DI;

• Valorização das experiências e conhecimentos das

entidades parceiras do PSF no que diz respeito a

ações de promoção do DI;

• Ampliação da atenção ao DI, contemplando o am-

biente, as oportunidades e as relações - Foi consi-

derado relevante pela proposta de ampliação da

atenção para além do crescimento e da verificação

pontual de marcos ou habilidades. É uma aborda-

gem de desenvolvimento que contempla o ambien-

te, as oportunidades e as relações;

• O suporte às famílias - Finalmente, a questão do

suporte às famílias foi considerada como um im-

portante instrumento para a abordagem da proble-

mática da violência doméstica contra a criança e

sua possível repercussão na transformação da vio-

lência social.

Com tal avaliação, os participantes afirmaram seu in-

teresse em atuar como atores do projeto para:

• Rever a postura de atendimento com maior su-

porte e interesse pelas famílias;

• Sensibilizar os membros das equipes

para o Projeto;

• Criar uma cultura de cuidados afetivos nos grupos

educativos, nas creches e escolas;

• Criar e ampliar espaços de brinquedotecas;

• Envolver as comunidades;

• Montar videotecas e bibliotecas.

Ficou determinado que a continuidade da oficina seria

a elaboração de uma proposta de material para as famí-

lias e um material de apoio para as equipes trabalharem

com as famílias.

O grupo técnico investiu então na construção de duas

propostas de material educativo, que foram apresen-

tados na II Oficina, em agosto de 2002: a primeira

versão da cartilha da família e da ficha de acompanha-

mento dos cuidados. Como principal questionamento

à cartilha, foi destacada a ausência de personagens de

etnias diversas nas ilustrações, importante aspecto que

não tinha sido percebido pelo grupo técnico. Como

principal questionamento à ficha, foi apontado o gran-

de volume de informações, uma dificuldade em po-

tencial para sua aplicação, uma vez que incluía dois

grandes grupos de conteúdos: um relativo aos marcos

do DI (conquistas) e outro, aos cuidados voltados à

promoção do DI (oportunidades).

Apresentação dos materiais educativos: Celebrando o trabalho realizado

III Oficina: maio/2003

Lançamento dos produtos do Projeto:

• Cartilha e manual de apoio Toda hora

é hora de cuidar.

• Ficha de acompanhamento dos cuidados

para a promoção da saúde da criança.

Tendo em vista o foco nos cuidados familiares, a carti-

lha, assim como o manual de apoio receberam o nome

Toda hora é hora de cuidar. Ambos são ilustrados e

contêm textos relativos a aspectos de saúde, alimenta-

ção, prevenção de acidentes, brincadeira, amor, direi-

tos e participação infantil.

A ficha é um instrumento de apoio, um roteiro, para

ser utilizado nos atendimentos de saúde da criança.

O material elenca cuidados essenciais nas mesmas áre-

as de conteúdo da cartilha, com o objetivo de orientar

os profissionais na conversa com as famílias sobre os

cuidados que promovem o DI.

No que diz respeito às estratégias e recursos de divul-

gação, os produtos de comunicação do projeto foram:

• Folder, logomarca e cartaz para divulgação

do Projeto nas unidades;

• O próprio material educativo: aspecto e conteúdos.

CAPÍTULO 2DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS

ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO COM PROFISSIONAIS PARA DISSEMINAR CONHECIMENTOS E MUDAR PRáTICAS NA ATENÇÃO à INFÂNCIA - A ExPERIêNCIA DO PROjETO NOSSAS CRIANÇAS: jANELAS DE OPORTUNIDADES

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O tema Janelas de Oportunidades foi uma contribui-

ção do Unicef, e relaciona-se aos períodos críticos do

DI, durante os quais há maior possibilidade da aquisi-

ção de determinadas competências de desenvolvimen-

to. Cabe destacar que está claro para o grupo que isso

não restringe a noção de DI, uma vez que também se

considera outros aspectos do desenvolvimento, como a

plasticidade do organismo. Mas este é um foco impor-

tante a ser considerado nas ações de promoção, já que

a gestação e os primeiros anos podem ser considerados

os alicerces do DI.

O folder de divulgação do Projeto, cuja logomarca é

uma janela, inclui pequenos textos de sensibilização

para aspectos-chave do DI: numa das folhas da vene-

ziana, uma poesia da Iracema Benevides, médica e

componente do grupo; na outra veneziana, a apresen-

tação geral da proposta.

O verso do folder contém as assinaturas dos parceiros.

Como citado, o manual para as equipes de saúde e a

cartilha da família foram intitulados Toda hora é hora

de cuidar. O processo de escolha do nome, bem como

a formatação do material teve a participação do grupo

técnico com apoio de uma empresa especializada. O

material mantém o logo do Janelas e incorpora a pre-

sença de uma personagem, a agente comunitária de

saúde, como referência ao serviço de saúde.

Algumas características do material educativo foram

também importantes para a disseminação dos conhe-

cimentos. O conteúdo e o formato da cartilha e do ma-

nual foram elaborados para serem atrativos, estimulan-

tes e de fácil compreensão, ainda que fundamentados

técnica e cientificamente.

Os temas são apresentados aos profissionais como sub-

sídios para a conversa com as famílias e, assim também

são sugeridas estratégias e pontos-chave a serem traba-

lhados nos contatos com as famílias. há certa flexibi-

lidade na organização das atividades, para possibilitar

que os profissionais usem sua criatividade.

Dentre os conteúdos, a história do nó do afeto, uma con-

tribuição da Ute Kramer (Monte Azul), sensibiliza as

pessoas para a importância de concretizar ações de cui-

dado com qualidade, mais do que quantidade. Trata-se

de um relato de um fato real sobre um pai que, em uma

reunião escolar em que a diretora falava sobre a necessi-

dade de os pais garantirem tempo de contato diário com

seus filhos, conta que habitualmente, em função de seu

horário de trabalho, não conseguia ver o filho acordado.

Costumava dar-lhe um beijo e fazer um nó na ponta do

lençol, para que a criança soubesse que o pai estivera ali.

A diretora surpreendeu-se ao verificar que aquela crian-

ça era um dos melhores alunos da escola.

Outro componente que sensibilizou os profissionais e

as famílias foi o espaço da Janela da Família, um mo-

mento rico de trocas entre os membros.

Parte II. Implantação do projeto: as oficinas de formação

Para planejar e realizar o trabalho de formação das

equipes de saúde, o grupo técnico contou com apoio

de especialistas em educação e projetos participativos.

A formação das equipes foi realizada em oficinas peda-

gógicas, com as seguintes características:

• 4 oficinas, cada uma com 5 encontros semanais de 8 horas (concentração e dispersão),

sendo duas para a região Sul, uma para a região Leste e uma para a Centro-Norte;

• Metodologia participativa e problematizadora, com equilíbrio entre atividades relacio-

nadas ao pensar, sentir e agir;

• Ambiente acolhedor, com exercício do cuidado, acolhimento e estímulo à participação

e construção compartilhada do conhecimento;

• Estímulo à experimentação das novas práticas nos momentos de dispersão.

Inicialmente, foram formados 114 multiplicadores de 68 unidades de saúde da família.

Destes, 98 realizaram novas oficinas para 304 equipes e 1.525 agentes comunitários em 57

unidades de saúde da família. Em novembro de 2004, havia 231 equipes e 1.115 agentes

utilizando o material com as famílias.

Foram produzidos e distribuídos 45 mil cartilhas da família, 3,5 mil exemplares do manual

de apoio da equipe e 60 mil fichas de acompanhamento dos cuidados.

Para o acompanhamento das ações locais, estimulou-se a formação das redes regionais

de multiplicadores (Sul I e II, Norte, Leste e Centro-Oeste), com o objetivo de garantir

a sustentação dos vínculos formados durante as oficinas de formação e a contínua troca

de experiências entre os profissionais multiplicadores – dificuldades, avanços, conquistas.

Parte III. Avaliação dos produtos e processos

• Objetivo: avaliar a eficácia e a efetividade das estratégias escolhidas para disseminar

conhecimentos e mudar práticas de cuidados dos públicos de interesse (profissionais

de saúde e famílias);

• Método: investigação com metodologias qualitativas e quantitativas.

CAPÍTULO 2DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS

ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO COM PROFISSIONAIS PARA DISSEMINAR CONHECIMENTOS E MUDAR PRáTICAS NA ATENÇÃO à INFÂNCIA - A ExPERIêNCIA DO PROjETO NOSSAS CRIANÇAS: jANELAS DE OPORTUNIDADES

MARIA DE LA Ó RAMALLO VERÍSSIMO E MARIA ÂNGELA MARICONDI

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A pesquisa de avaliação teve como objeto as experiências e seus sentidos ou significados

e foi desenvolvida em vários subprojetos que analisaram a metodologia e os conteúdos da

capacitação de multiplicadores, a aceitação e a compreensão dos conteúdos pelas famílias

e pelos profissionais de saúde.

A coordenação da pesquisa foi realizada por docentes da Escola de Enfermagem da USP,

com participação de uma pesquisadora da Unifesp, com apoio do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq). Os principais resultados encontra-

dos nas investigações foram:

»O Projeto estimulou e apoiou o protagonismo dos profissionais de saúde no diálogo com

as famílias acerca do cuidado efetivo para a promoção do desenvolvimento da criança;

»Cartilha e ficha foram avaliadas como instrumentos de promoção da saúde da criança,

pois favorecem uma aproximação efetiva com as famílias;

»As estratégias de formação participativa e emancipatória também sustentaram a constru-

ção coletiva e criativa dos planos locais de implementação do Projeto, potencializando

sua capacidade de gerar mudanças e aumentando a satisfação dos profissionais no exer-

cício dessas práticas;

»A cartilha foi muito bem aceita pelas famílias e trabalhadores e não foram indicadas

modificações significativas para nenhum dos aspectos estudados (conteúdos, ilustrações,

tamanho e tipo de letra e quantidade de páginas);

»Não foi possível avaliar o impacto das ações educativas no comportamento das famílias.

Foi realizada pesquisa de linha de base das competências familiares em 2004 com me-

todologia quantitativa do Unicef, mas não replicada posteriormente.

Sobre as estratégias de disseminação, ainda que não tenha sido realizada avaliação com

objetivo de analisar todas as estratégias de disseminação, ressalta-se que muitos participan-

tes do processo ainda hoje se referem à importância dos conhecimentos e práticas aborda-

dos no Projeto. Os próprios materiais educativos são considerados atraentes e significativos

e foram adotados por profissionais atentos às necessidades integrais das crianças e famílias.

MARIA DE LA Ó RAMALLO VERÍSSIMO

Enfermeira pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Enfermagem Pediátrica

e doutora em Enfermagem. Professora e coordenadora do bacharelado em Enferma-

gem da Escola de Enfermagem da USP. Desenvolve estudos e trabalhos de extensão

universitária na área de promoção da saúde da criança e atenção integrada às doenças

prevalentes da infância.

CAPÍTULO 2DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS

ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO COM PROFISSIONAIS PARA DISSEMINAR CONHECIMENTOS E MUDAR PRáTICAS NA ATENÇÃO à INFÂNCIA - A ExPERIêNCIA DO PROjETO NOSSAS CRIANÇAS: jANELAS DE OPORTUNIDADES

MARIA DE LA Ó RAMALLO VERÍSSIMO E MARIA ÂNGELA MARICONDI

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PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO DE FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO PARA PúBLICOS ESPECÍFICOS NA PRáTICA DA BERNARD VAN LEER

j. LEONARDO YáNEZFUNDAÇÃO BERNARD VAN LEER, hOLANDA

CAPÍTULO 2

Em 11 de novembro de 2009, a Fundação Bernard van Leer, com sede em haia, na ho-

landa, completou 60 anos. Sua missão consiste em melhorar as oportunidades das crianças

menores de oito anos que crescem em condições de vulnerabilidade social e econômica.

A Fundação faz isso de duas formas: financiando e apoiando projetos de desenvolvimento

da primeira infância em diferentes partes do mundo e compartilhando conhecimento

com a finalidade de informar e influenciar na prática e na política.

Esse compromisso materializou-se por meio de duas linhas estratégicas. Por um lado, fo-

ram desenvolvidas metodologias inovadoras que pudessem ser reproduzidas para melhorar

a qualidade dos serviços de cuidado e educação infantil; e, por outro lado, esse conheci-

mento foi disseminado entre aqueles que têm o poder e a capacidade para aplicar e propa-

gar a aprendizagem obtida.

É, nesse sentido, importante atender às necessidades emocionais e psicológicas na saúde

e na educação. Trabalhar junto às famílias e comunidades, respeitando a cultura e promo-

vendo a autonomia, é essencial para criar um entorno seguro e protegido. A intervenção

direta em populações específicas é realizada por meio de parcerias e associações com

organizações locais nos espaços geográficos selecionados para estes fins. No seu início, a

Fundação chegou a operar em mais de 70 países nos quais funcionavam as empresas de

embalagens Van Leer1. Esse número decresceu à medida que buscamos causar maior

impacto com nosso trabalho.

A partir de 2010, em parte como resposta ao efeito negativo que a crise financeira teve so-

bre os recursos da instituição, e em parte com o objetivo de reforçar ainda mais o impacto

de suas ações, as contribuições econômicas da Fundação serão direcionadas a um menor

número de países.

Optamos por selecionar nove países distribuídos em diversas regiões do planeta nos quais

as necessidades da infância e o potencial para fazer algo para atendê-las de maneira sus-

tentável fossem relativamente altos. Também selecionamos países onde a aprendizagem

relativa à ação tivesse chance de ser disseminada para além de suas fronteiras. O Brasil foi

um dos países selecionados.

Trabalhamos apoiando projetos tanto de organizações públicas, quanto privadas ou co-

munitárias. A estratégia de se trabalhar em vários contextos nos permite desenvolver capa-

cidades locais, promover inovação e flexibilidade, bem como garantir que o trabalho de

desenvolvimento respeite a cultura e as condições do contexto local.

Em 11 de novembro de 2009, a Fundação Bernard van Leer, com sede em Haia, na Holanda, completou

60 anos. Sua missão consiste em melhorar as oportunidades das crianças menores de oito anos

que crescem em condições de vulnerabilidade social e econômica. A Fundação faz isso de duas formas:

financiando e apoiando projetos de desenvolvimento da primeira infância em diferentes partes do mundo

e compartilhando conhecimento com a finalidade de informar e influenciar na prática e na política.

36 37

Atualmente, apoiamos 140 projetos e concentramos nossa política de concessão de sub-

venções em 21 países onde, ao longo dos anos, construímos nossa experiência. Trabalha-

mos em países em desenvolvimento e desenvolvidos, com uma representação geográfica

que abrange África, Ásia, Europa e Américas.

Com o programa “Diversidade” promovemos a igualdade nas oportunidades, ou seja,

contribuímos para que as crianças vivam em ambientes sociais diferentes. Garantimos

a igualdade de direitos e de acesso às crianças em situação de desvantagem, bem como

ajudamos as crianças a desenvolver atitudes, destrezas e hábitos que as ajudarão a crescer

em sociedades com grandes diversidades, marcadas por conflitos.

Nossas áreas temáticasNosso trabalho concentra-se em três áreas temáticas:

1) Fortalecimento do meio em que vivem as crianças.

Por meio do programa “Cuidado”, buscamos desenvolver nos pais, famílias e comuni-

dades vulneráveis suas habilidades para cuidado adequado de suas crianças. Entre outros

aspectos, o programa tem projetos relacionados ao hIV, à formação dos pais, à gravidez na

adolescência, às crianças vulneráveis e às crianças afetadas pela migração.

2) Transições bem-sucedidas: da casa para a escola.

O programa “Transições” pretende ajudar as crianças no processo de transição da vida

em casa para a entrada na creche, pré-escola e escola. Ele trata do processo de transição,

vivido pelas crianças nas suas primeiras experiências de vida, em especial no ingresso ao

ambiente escolar. Nossas intervenções buscam promover a preparação das crianças para

estas novas experiências, assim como apoiar os professores e os agentes sociais para que

essas etapas sejam superadas de maneira exitosa.

3)Inclusão social e respeito à diversidade

Por meio do programa “Diversidade”, promovemos a igualdade de oportunidades con-

tribuindo para que as crianças vivam em ambientes sociais diferentes. A primeira in-

clusão social garante a igualdade de direitos e de acesso às crianças em situação de

desvantagem. A segunda, busca ajudar as crianças a desenvolver atitudes, destrezas e

hábitos que as ajudará a crescer em sociedades com grande diversidade, marcadas por

conflitos, e se possivel, melhorá-las.

Sistematização das experiênciasOutro aspecto do nosso trabalho é o esforço contínuo de documentar e analisar os

projetos que apoiamos, com o objetivo de aprender com as experiências passadas e

gerar conhecimento que possamos compartilhar. Por meio de ações de impacto com-

provado e de nossas publicações, queremos informar e influenciar a política e a prá-

tica, tanto nos países onde trabalhamos como naqueles onde pretendemos ter uma

presença programática.

Queremos divulgar o conhecimento por meio da análise dos avanços globais. Os maiores

avanços na infância foram em relação à educação e à saúde, aspectos que absorveram a

maior parte dos recursos financeiros dos países. Queremos também identificar oportuni-

dades nas economias emergentes.

O desejo da Fundação Bernard van Leer é um mundo que respeite os direitos, a dignidade

e a igualdade das crianças, suas famílias e comunidades. Acreditamos que intervenções

adequadas nos primeiros anos de vida, adaptadas aos contextos locais, podem ser particu-

larmente efetivas, ajudando as crianças a desenvolver seu potencial e contribuindo para a

geração de benefícios duradouros para a sociedade.

Nossa estratégia de disseminar conhecimento tem sido realizada por meio de uma

série consolidada de publicações, cuja circulação é promovida pela própria Funda-

ção. Publicações de parceiros e sócios também têm sido incentivadas e financiadas.

A partir de 2010, faremos uso das redes globais e das estratégias de “advocacy” para

disseminar conhecimento.

“Advocacy” e comunicação para a mobilização de recursos como estratégia no desen-

volvimento de programas regionais

Em 2009, foi aprovada uma estratégia para o desenvolvimento de um programa no

Peru (2009-2013) cujo eixo central é a alavancagem do conhecimento gerado por

projetos de pesquisa e experiências de campo, que tenham impacto no investimento

1Na década de 1990, as empresas foram vendidas, e os lucros foram investidos na bolsa de valores.CAPÍTULO 2DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS

PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO DE FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO PARA PúBLICOS ESPECÍFICOS NA PRáTICA DA BERNARD VAN LEER

j. LEONARDO YáNEZ

38 39

público e privado, em problemas concretos da infância. O objetivo final é garantir um

ensino de qualidade durante os primeiros anos, assim como reduzir os obstáculos que

impedem o acesso de meninos e meninas em situação de desvantagem econômica e

social, em relação à educação.

“Advocacy”, comunicação e mobilização de recursos

O Peru é uma das economias de crescimento mais veloz na América Latina. No entanto,

a pobreza e a desigualdade são um dos maiores desafios ao desenvolvimento. A falta de

políticas e mecanismos para uma distribuição equitativa da riqueza implica em um cresci-

mento econômico que deixou de lado grandes segmentos da população, particularmente

povos indígenas e aqueles que moram nas áreas urbanas periféricas, a serra rural e a selva.

Apesar de o país ser conhecido por sua história de inovação na política de proteção da

infância, ele carece de um desenvolvimento sustentado e sistemático voltado para o bem-

estar dos jovens. Os problemas devem-se não apenas ao baixo investimento, mas também

à falta de um sistema efetivo de redistribuição da riqueza. Nesse caso, falta ao país, um

sentido de urgência. O setor privado por sua vez, precisa de dados convincentes sobre

formas de investir nos jovens.

Recentemente os meios de comunicação do Peru focaram sua atenção no sistema de

educação promovido pelo Estado, desencadeando um vigoroso e crítico debate público.

Por muito tempo, a baixa qualidade da educação foi um reflexo das desigualdades sis-

têmicas existentes. Até que se possa garantir o acesso e a qualidade da educação aos

cidadãos mais vulneráveis e às crianças pequenas, o rendimento educacional continuará

sendo insatisfatório. É necessário garantir, desde muito cedo, as pré-condições básicas

para a aprendizagem (incluindo nutrição adequada, boa saúde e segurança física).

Algumas pessoas sustentam que a equidade social em curto prazo tem um custo muito

alto. No entanto, em longo prazo, a falta de equidade social pode custar muito mais, já

que debilita a estrutura social e econômica do país em sua totalidade, levando a formas de

polarização social como as vividas dramaticamente durante a insurgência interna no Peru.

Por conseguinte, o objetivo da estratégia peruana é aumentar as possibilidades de acesso

a uma educação e a um cuidado de qualidade na infância. O programa de comunicação

para o Peru procura: a) aumentar a consciência sobre a importância da educação precoce

para a erradicação da pobreza e para o desenvolvimento econômico sustentável do país

entre aqueles que tomam as decisões, comunidades e indivíduos influentes e b) coletar o

conhecimento adquirido na prática para melhorar a qualidade da educação de meninos e

meninas que crescem em situação de desvantagem social e econômica.

Além da implementação de experiências práticas que sirvam de exemplo, o pro-

grama requer:

1) Uma estratégia de comunicação dirigida ao fomento do investimento nos primeiros

anos da infância para a redução da pobreza, à melhoria da equidade social e ao fortaleci-

mento do sistema educacional;

2) Uma comunidade de aprendizes que compartilhem e disseminem conhecimentos e

boas práticas entre os diferentes atores que se preocupam com a primeira infância.

A estratégia de comunicação mostra como investir nos primeiros anos para reduzir a po-

breza, promover a igualdade social e melhorar a qualidade da educação. Explica também

aos diversos setores sociais, tanto públicos quanto privados, como o investimento é eficaz

na infância, documentando modelos, princípios e outras formas possíveis de promover

uma maior inclusão de meninos e meninas. Ao mesmo tempo, membros da comunidade

são capacitados para coletar suas próprias histórias de sucesso e, por meio dos meios de

comunicação de massa ou alternativos, influir no melhor uso dos orçamentos públicos.

Atualmente está sendo construído um movimento nacional para a infância integrado por

pessoas-chave dos diferentes setores sociais (www.inversionenlainfancia.net). Foi consoli-

dada uma comunidade de aprendizagem que dissemina horizontalmente conhecimentos

sobre boas práticas, ao mesmo tempo em que leva a aprendizagem a audiências mais am-

plas por meio de uma unidade de conhecimento liderada por um centro de pesquisa sobre

a infância em uma prestigiosa universidade de Lima. Essa unidade encarrega-se de estudar

e avaliar as práticas assim como de sistematizar o conhecimento para deixá-lo pronto para

o consumo das comunidades, instituições operacionais e comunicadores estratégicos.

CAPÍTULO 2DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS

PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO DE FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO PARA PúBLICOS ESPECÍFICOS NA PRáTICA DA BERNARD VAN LEER

j. LEONARDO YáNEZ

40 41

Nossos parceiros neste programa são:

1. Salgalu - uma empresa peruana de consultoria, que desenvolve o movimento pela

infância e a mobilização de recursos. Em um ano de cooperação, conseguiu mobili-

zar diferentes setores da sociedade peruana, incluindo empresários, prefeitos gover-

nadores, ministros, artistas, acadêmicos e esportistas reconhecidos por seu interesse

na infância.

2. Universidade Antonio Ruiz Montoya (UARM) - Por meio de sua unidade de pesquisa

sobre a infância, desenvolve instrumentos e metodologias de acompanhamento e ava-

liação de programas e publica atualizações periódicas de seus resultados e análises.

3. Comunidade Peruana de Aprendizagem de Cuidado e Desenvolvimento Infantil (Co-

pera) - uma instituição de aprendizagem integrada por organizações implementadoras

de programas de intervenção focadas em problemas específicos de inclusão social de

meninos e meninas em situação de vulnerabilidade.

Publicações da Bernard van Leer Foundation

As publicações da Fundação são direcionadas às pessoas que atuam no campo, formula-

dores de política, acadêmicos e interessados na problemática da infância. Entre as publi-

cações que levam o logo institucional não estão incluídas aquelas produzidas por sócios e

parceiros com fundos outorgados pela instituição.

O acesso a essas publicações é gratuito. Podem ser baixadas em formato PDF. Exemplares

impressos podem ser enviados a quem os solicitar, de acordo com a disponibilidade. A infor-

mação para essas solicitações está disponível em http://es.bernardvanleer.org/publicaciones

Espaço para a infânciaPublicada pelo menos uma vez ao ano, a Espaço para a Infância e sua homóloga em inglês,

Early Childhood Matters é uma revista sobre o desenvolvimento da primeira infância que

trata de assuntos específicos relacionados ao desenvolvimento das crianças pequenas, a

partir de uma perspectiva psicossocial. Combina a teoria da atualidade com experiências

práticas de trabalho. Também são apresentadas as experiências realizadas por projetos

apoiados pela Fundação.

Cadernos sobre o Desenvolvimento na Primeira InfânciaEstes Cadernos são documentos extraídos das experiências de campo que apresentam re-

sultados notáveis, e reflexões sobre o “trabalho em andamento”. Mesmo que a maioria

tenha sido publicada em inglês, alguns podem ser acessados em espanhol. Até 1995, essa

série chamava-se Studies and Evaluation Papers.

Práticas e ReflexõesA série Práticas e Reflexões trata de assuntos relevantes para profissionais, gestores de polí-

tica e acadêmicos interessados em resolver as demandas educacionais de desenvolvimento

das crianças que vivem em situações de desvantagem. É publicada principalmente em

inglês, mas também em espanhol. Até 1995, essa série chamava-se Occasional Papers.

Livros e publicações corporativasCircunstancialmente, a Fundação publica livros e artigos não incluídos nas séries ha-

bituais, além de uma pequena quantidade de vídeos. Também podem ser baixadas ou

solicitadas publicações corporativas, como, por exemplo, o relatório anual (em inglês) ou

folhetos de informações gerais.

Website (www.bernardvanleer.org)A página institucional na web, além de informações relativas à instituição e às suas publi-

cações, provê material sobre parceiros e, em alguns casos, acesso direto às suas publicações.

Publicações previstasPor que os países da América Latina investem tão pouco nas crianças?

Esperada para 2010, esta publicação analisa de maneira jornalística a situação da edu-

cação nos primeiros anos na região e sua relação com a pobreza, com a exclusão social

e com a desigualdade de oportunidades desde a infância. Para analisar a situação e as

tendências em comparação com outras regiões, examina o caso do Peru e o notado fra-

CAPÍTULO 2DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS

PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO DE FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO PARA PúBLICOS ESPECÍFICOS NA PRáTICA DA BERNARD VAN LEER

j. LEONARDO YáNEZ

42 43

casso na educação, e questiona: O que estamos fazendo? O que deve ser feito? Quem

deve se envolver e como?

Diversos caminhos através da infância e a escola Esperada desde a pesquisa Young Lives em 2009, ela poderá influenciar uma série de

publicações de apoio, ao oferecer uma percepção das diferentes manifestações da transi-

ção da casa para a escola entre crianças que crescem em contextos diversos e periféricos

(bairros urbanos, serras rurais e selva).

Manuais Têm a finalidade de apoiar projetos que envolvem a comunidade, a família e a participa-

ção das crianças no planejamento, monitoramento e avaliação de projetos. Além disso,

produzimos manuais para advogados e manuais da estratégia Supply Chain Risk Manage-

ment (SCRM) no Peru.

Investindo nas fundações/ base da sociedadePlanejada para 2013, esta publicação tem o objetivo de divulgar informações sobre a mo-

bilização do ativismo social e dos recursos para os jovens cidadãos. Sua proposta é ajudar

outras organizações a aprender com a estratégia de comunicação do programa.

j. LEONARDO YáNEZJ. Leonardo Yánez é psicólogo, com pós-graduação em desenvolvimento infantil na Uni-

versidade de Victoria, Canadá. Foi professor em diferentes áreas de ensino e planejou,

executou e avaliou programas de cuidado e desenvolvimento infantil. Participou e dirigiu

pesquisas qualitativas e interculturais sobre o desenvolvimento da criança e programas

de cuidado e desenvolvimento infantil. Também participou da disseminação do curricu-

lum Pré-escolar (1986-87) e na avaliação e desenho curricular das cadeiras de Educação

Integral e Pré-escolar da Universidade Católica Andrés Bello. Diretor Nacional de Edu-

cação Inicial (Ministério de Educação, 1994-1999); diretor-geral setorial para a Coordena-

ção dos Programas para o Desenvolvimento Social, na Venezuela (Ministério da Família

e Desenvolvimento Social, 1993-1994); chefe do Departamento de Educação Integral e

Pré-escolar na Universidade Católica Andrés Bello de Caracas, Venezuela. Atualmente,

atua como especialista para os programas da América Latina na Fundação Bernard van

Leer, com sede nos Países Baixos (holanda).

LinksWebsite do programa

www.inversionenlainfancia.net/inversion-en-la-infancia-peru.html

Website dos parceiros

www.kusiwarma.org.pe/es/

www.ceindes.org.pe

www.uarm.edu.pe

www.mimdes.gob.pe/

www.codinfa.org.pe/

www.accionporlosninos.org.pe/

www.pys.com.pe/ENGindex.htm

www.globalifexperience.com/web/uk/oportunidades/warmayllu.htm

CAPÍTULO 2DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS

PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO DE FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO PARA PúBLICOS ESPECÍFICOS NA PRáTICA DA BERNARD VAN LEER

j. LEONARDO YáNEZ

44 45

MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

CAPÍTULO 3

46 47

ASSEGURAR QUE OS BEBêS E AS CRIANÇAS SEjAM UMA PRIORIDADEPILAR FORT

ZERO TO ThREE, EUA

CAPÍTULO 3

Introdução

hoje em dia, existem profissionais de diferentes áreas dispostos a compartilhar a experi-

ência de seu trabalho para fazer que os bebês sejam reconhecidos e respeitados na sua

individualidade. Trabalho na organização Zero to Three (zero a três anos, “ZTT” na sigla

em inglês), nos Estados Unidos, que abraçou essa meta há mais de 30 anos.

há cerca de dez anos, nos EUA, houve uma série de acontecimentos que facilitou o

caminho para aqueles que tentavam atrair a atenção dos legisladores, responsáveis pe-

las políticas públicas, e o público em geral, para a importância dos primeiros anos de

vida das crianças.

Esses eventos giraram em torno de temas como o desenvolvimento da educação e do

cuidado infantil. Na época, foram publicados, em grandes veículos de comunicação, (re-

vistas como Time, Newsweek, US News e World Report) artigos sobre o desenvolvimento

cerebral. Além disso, foram realizadas duas conferências, na Casa Branca, com estudiosos

da primeira infância. Em seguida, deu-se início à campanha de comunicação “Yo soy tu

Niño/a” (Eu sou teu/tua filho(a)).

Nesse momento, a ZTT colocou em prática uma iniciativa para informar os pais sobre a

importância de seu papel como primeiros mestres e advogados dos direitos de seus filhos

e filhas, destacando a relevância dos três primeiros anos de vida. O público reagiu muito

bem. O discurso sobre os primeiros anos estava sendo divulgado e, com ele, a informação

a respeito do desenvolvimento do cérebro e a importância de prover um ambiente adequa-

do que facilite o desenvolvimento e a educação dos pequenos.

O que se viu naqueles anos foi que o Congresso americano se tornou mais aberto para

conhecer e apoiar iniciativas nacionais sobre o desenvolvimento do cérebro na primeira

infância e alocar recursos para essa etapa da vida da criança.

Fundação da ZTT

Em 1977, um grupo de clínicos, entre eles Reginald Lourie, Serena Wieder e Stanley

Greenspan – tendo conselheiros como T. Berry Brazelton, Selma Fraiberg e Sally Pro-

vence – criaram o Clinical Infant Development Program (Programa Clínico para o De-

Hoje em dia, existem profissionais de diferentes áreas dispostos a compartilhar a experiência de seu

trabalho para fazer que os bebês sejam reconhecidos e respeitados na sua individualidade. Trabalho na organização Zero To Three (zero a três anos,

“ZTT” na sigla em inglês), nos Estados Unidos, que abraçou essa meta há mais de 30 anos.

Há cerca de dez anos, nos EUA, houve uma série de acontecimentos que facilitou o caminho para aqueles que tentavam atrair a atenção dos

legisladores, responsáveis pelas políticas públicas, e o público em geral, para a importância dos

primeiros anos de vida das crianças.

48 49

senvolvimento Infantil, CIDP na sigla em inglês), cujo objetivo era atender problemas

de avaliação e desenvolvimento emocional.

No mesmo ano, o CIDP criou a Zero to Three: National Center for Infants, Toddlers and

Families (Centro Nacional para Bebês, Crianças e suas Famílias). Uma das metas do gru-

po fundador da Zero to Three era a de capacitar profissionais interessados em saúde mental

de bebês. Anos mais tarde, a Zero to Three continua tendo essa como uma de suas missões,

mas diversificou sua atuação por meio de programas de capacitação que são parte da rede

harris Professional Development, Early head Start National Resource Center, iniciativa

de liderança e capacitação para a classificação de diagnósticos, e do National Training

Institute (Instituto Nacional de Treinamento, NTI em inglês), programa de consulta em

práticas reflexivas e outras iniciativas sobre cuidado infantil.i

Zero to Three é uma organização sem fins lucrativos, multidisciplinar, com mais de 30 anos de existência, cujo objetivo é difundir informação, capacitar e apoiar profissionais e responsáveis pela formulação de políticas públicas e pais de família que influenciam a vida de bebês e crianças. A missão da ZTT é promover o bem-estar e o desenvolvimento saudável de bebês, crianças e suas famílias.

A ZTT adota um enfoque multidisciplinar, reunindo perspectivas de muitas áreas e especialidades, baseando-se em estudos que mostram que todos os aspectos do desenvolvimento – social, emocional, intelectual, linguístico e físico – são interdependentes e trabalham juntos para promover a saúde da criança como um todo e o bem-estar em seu contexto familiar e cultural.

Traduzido de ZTT “Early Years Matter”

Por que a Zero to Three foca os primeiros anos?

Intervenções e práticas de qualidade têm contribuído para o bem-estar das crianças e da

sociedade. Fundamentaram essas práticas as pesquisas de Selma Fraiberg sobre as per-

cepções que os responsáveis têm sobre as crianças; o trabalho de Slaly Provence sobre o

apoio às famílias e o desenvolvimento social; a pesquisa de Murphy, Escalona e Brazelton

sobre diferenças individuais; o projeto de Carolina Abecedarian; o programa de pesquisa

da Universidade de Siracusa de Lally, Mangione, honig e Wittmer em 1988; o projeto

da Perry Preschool de Schweinhart, Barnes e Weikart, de 1993; e o projeto Pré-Natal de

Elmira sobre primeira infância, por Olds e outros em 1997ii.

Como a ciência mudou a forma de ver o cuidado infantil?

Os três primeiros anos de vida são de grande dinamismo, período no qual a criança capta

as primeiras “lições” de como se organiza o mundo adulto. Pesquisas neurológicas reve-

laram que as crianças, nessa fase, edificam os primeiros alicerces do complexo sistema do

aprendizado: pensar, falar e raciocinar iii.

Em setembro de 1980, foi lançada a revista Zero to Three: Boletim do Centro Nacional

para Programas Clínicos de Bebês. A ideia era atingir pesquisadores e profissionais de

diversas disciplinas, que trabalhassem com crianças e suas famílias. O objetivo era fazer

que cada criança alcançasse seu potencial máximo de crescimento e desenvolvimentoiv.

Irving harris, prestigiado filantropo, visionário e defensor da causa infantil, batizou a re-

vista com o nome Zero to Three muito antes de a organização chegar a esse nome. Os

objetivos eram compartilhar novas e boas ideias com um grupo multidisciplinar de auto-

res e leitores interessados em crianças; incrementar a qualidade dos serviços aos bebês e

crianças; e contribuir para a base de conhecimento com uma linguagem livre de jargões

e de fácil compreensão por todos.

Alguns princípios guiam essas publicaçõesv:

1. As edições devem ser temáticas. Assim, as diversas disciplinas são representadas, o que

permite uma comunicação e compreensão interdisciplinar;

2. Os leitores podem expor suas ideias e conhecimentos;

3. Os artigos devem ser curtos, acessíveis, atrativos e práticos;

4. O conteúdo dos artigos não é revisado por colegas especialistas. A ideia é estimular o

compartilhamento de pontos de vista entre pesquisadores;

CAPÍTULO 3MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

ASSEGURAR QUE OS BEBêS E AS CRIANÇAS SEjAM UMA PRIORIDADEPILAR FORT

50 51

5. Os leitores necessitam de um fórum com diferen-

tes perspectivas para expor suas observações, gerar

hipóteses e encontrar respostas para suas questões;

6. O conteúdo deve ser de alta qualidade, mas de fácil

leitura. As propostas devem poder ser aplicadas

facilmente na prática.

Os fundadores da Zero to Three contam-nos que “antes

da ZTT, a fase de ‘0 a 3 anos’ não existia (Brazelton,

Lally, Levy, Shahmoon-Shanok, Sparrow, Szanton,

2003)”. Em parte, foi por causa das publicações de vá-

rios relatórios e estudos nessa revista que o campo da

primeira infância começou a ser reconhecido. Muitas

pessoas, incluindo pais, público em geral e responsá-

veis por políticas públicas, não haviam tomado cons-

ciência da importância desta faixa etária e sua relação

com a criação de alicerces para o desenvolvimento fu-

turovi. Profissionais, responsáveis pelas crianças e suas

famílias deram-se conta de que eram parte de algo

maiorvii. Em poucos anos, a Zero to Three transformou-

se em uma revista com credibilidade e reconhecida

por divulgar os avanços no campo do conhecimento

da etapa 0 a 3 anos.

Nos anos 90, Irving harris teve a brilhante ideia de

que tinha de chamar a atenção dos meios de comu-

nicação, de celebridades e responsáveis por políticas

públicas. harris sugeriu, em 1994, que a revista Zero

to Three (Zero to Three Journal) incorporasse em um

de seus artigos o relatório Starting Points, da Carne-

gie Corporation, que incluía os mais recentes estudos

sobre o cérebro, com o intuito de captar a atenção de

formadores de opinião.

Construindo o conhecimento

Uma das perguntas que eu me faria antes de come-

çar o trabalho nessa área é o que pensamos a respeito

dos complicados problemas sociais. O que se sabe a

respeito da situação atual da primeira infância? Quais

referências as pessoas possuem? Você acredita que

exista um consenso na definição do que é primeira

infância? Qual a relação entre os bebês, a ciência, o

desenvolvimento cerebral, as estratégias de comuni-

cação e este artigo? O que as pessoas pensam a res-

peito da criação de crianças e como você classifica o

modo como foi criado? Essas perguntas são de gran-

de valor e devem ser respondidas internamente muito

antes de se difundir a informação de que os primeiros

anos são essenciais.

Na maioria das vezes, as pessoas informam-se pela

mídia: jornais, televisão e rádio. Os meios de comu-

nicação captam a atenção dos ouvintes e leitores

com mensagens pouco elaboradas e simplistas as

quais as pessoas se apegam sem se dar conta. E como

isso acontece?

Pensemos, sobretudo, nos recursos humanos que te-

mos e no contexto que vamos atuar:

1. Fator humano:

Acredita-se que as melhores pessoas para comunicar

as necessidades de bebês, crianças e suas famílias

são os profissionais que trabalham em contato com

esse público.

1.a. Os bebês como comunicadores

Todos nós somos produto de nossas primeiras experi-

ências. O ambiente e o contato com adultos moldam

nossa forma de pensar, ser, atuar, sentir e perceber va-

lores, princípios e crenças.

Os melhores comunicadores que existem são os bebês.

Eles, de alguma maneira, comunicam suas necessida-

des, seus desejos, seus interesses e seus sentimentos.

Em alguns momentos, fazem-no por meio do choro,

de sons, de expressões faciais, de gestos, de movimen-

tos corporais, como sacudir de braços e pernas em si-

nal de alegria ou ansiedade. Em outros, simplesmente

ficam quietos olhando fixamente. A comunicação fica

mais sofisticada à medida que vão crescendo, e os adul-

tos que estão por perto respondem a seus pedidos e

leem nessas expressões o que eles desejam comunicar.

1.b. Os adultos como comunicadores

Da mesma maneira, os adultos buscam expor seus in-

teresses, sentimentos, desejos e objetivos aos outros. A

princípio não sabem o que e como comunicar. Sim-

plesmente utilizam meios menos sofisticados, mas que

cumprem o objetivo de chamar atenção de um grupo

pequeno. A ideia, nesse caso, é praticar como comu-

nicar e formar “aliados”. À medida que passa o tempo,

conhecemos melhor nossas técnicas básicas de comu-

nicação. Paralelamente, ampliamos nosso círculo e

notamos que existem outras maneiras de comunicar

que funcionam melhor ou pior dependendo do con-

texto. Como no caso dos bebês, nossa comunicação

torna-se mais complexa quando existe o desejo de ex-

pandir nossos limites.

2. Contexto:

Deve-se explorar o contexto local e aprender quais

serão os melhores procedimentos que devem ser se-

guidos para poder comunicar a importância dos pri-

meiros anos. Dessa maneira, os resultados serão mais

ajustados à realidade e permitirão que autoridades,

profissionais de diversas áreas e o público em geral

colaborem com mais facilidade para melhorar as con-

dições da infância.

É necessário um plano concreto para saber qual deve

ser o passo seguinte. Primeiramente, é preciso saber o

motivo pelo qual se pretende trabalhar com o tema da

primeira infância. Por que se deseja chamar a atenção

de legisladores, profissionais, famílias e público em ge-

ral a respeito do tema?

Talvez tenhamos de começar com uma pergunta:

o que queremos que os legisladores, profissionais

e público em geral façam para promover o cres-

cimento e desenvolvimento saudável das crianças?

Precisamos mapear os possíveis obstáculos que va-

mos enfrentar à medida que caminhamos no senti-

do de colocar esse tema na agenda de diversas ins-

tituições e personagens.

Outra demanda é escolher pontos críticos que ajudem

a comunicar nossas estratégias e mensagens. A ZTT,

por exemplo, escolheu trabalhar três aspectos funda-

mentais: boa saúde, famílias fortes e experiências po-

sitivas de aprendizagem inicial. O passo seguinte foi

focar as políticas públicas. A ZTT escolheu esse en-

foque por avaliar que, se não forem produzidas mu-

danças num universo macro, todo esforço que se faz

em outro nível não vai produzir o resultado esperado.

CAPÍTULO 3MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

ASSEGURAR QUE OS BEBêS E AS CRIANÇAS SEjAM UMA PRIORIDADEPILAR FORT

52 53

Dada essa perspectiva, observou-se que eram necessá-

rias políticas públicas que promovessem a saúde, in-

cluindo a saúde física, intelectual, social, emocional e

o desenvolvimento da criança. Essas políticas públicas

deveriam apoiar as famílias em suas necessidades

básicas, como moradia, saúde, qualidade da educa-

ção e qualidade nos serviços.

Uma maneira de fazer que a sociedade melhore

as condições de vida das suas crianças é entender

como as famílias são atendidas pelas políticas públi-

cas. Se os pais têm acesso a políticas que os ajudam

a satisfazer suas necessidades básicas, haverá um im-

pacto positivo no fortalecimento de toda a família,

na saúde das crianças e na sua possibilidade de ter

um ambiente melhor para a aprendizagem e o de-

senvolvimento.

A chave para um bom desenvolvimento e cresci-

mento dos bebês está em criar sistemas cujas políti-

cas reflitam apoio às famílias, serviços e programas

de qualidade e profissionais preparados. O Progra-

ma de Cuidado de Bebês e Crianças (PITC) – cuja

missão é assegurar que os bebês sejam saudáveis,

emocionalmente seguros e intelectualmente desen-

volvidos desde o começo de sua vida – recomenda

que, se quisermos dar a atenção apropriada às crian-

ças menores de 3 anos, devemos ter pessoal capaci-

tado para atender à população infantil, com práticas

adequadas que proporcionem um ambiente positivo

de aprendizagem e desenvolvimento. Somente des-

sa maneira os bebês e crianças alcançarão as metas

que suas famílias desejam e traçam para eles. Que

mensagens, portanto, podemos transmitir para que o

ambiente onde nossas crianças vivem seja adequado

para que cresçam saudáveis e felizes?

Recomendações para estratégias efetivasde comunicação

Como vimos anteriormente, uma das missões abra-

çadas pela ZTT foi a de comunicar efetivamente as

práticas baseadas em suas pesquisas de campo. Essa é

uma arte que requer trabalho árduo de reflexão sobre

o que comunicamos e como as pessoas interpretam o

que queremos comunicar.

A seguir, algumas dessas estratégias, com base no que

a Zero to Three e outras agências têm usado, e algumas

recomendações da FrameWorksviii:

1. A construção de relações – O que tem a ver a constru-

ção de relações com comunicação? Quando focamos

nosso trabalho na ideia principal de comunicar a impor-

tância dos três primeiros anos de vida de uma criança,

quase sempre a “construção das relações” passa desa-

percebida. Entretanto, construir relações e estabelecer

as primeiras experiências é um exercício fundamental

para o desenvolvimento futuro de uma pessoa. Os be-

bês e as crianças pequenas expressam suas necessidades

por meio de gestos, sons, choro e movimentos corporais.

Para isso, precisam se sentir confortáveis com o ambien-

te em que vivem e ter construído laços afetivos para po-

der, de fato, comunicar o que desejam.

Da mesma maneira, todas as pessoas que desejam

comunicar em nome dos bebês e crianças pequenas,

precisam construir esses laços sociais e afetivos. É pos-

sível que haja uma diferença quando realizamos uma

comunicação dentro de um ambiente de cordialidade

e se conhece as pessoas e o entorno. É possível que

para construir essas relações tenhamos de mudar nos-

sas estratégias de comunicação, especialmente se esta-

mos trabalhando com crianças e suas famílias por um

longo tempo. O tipo de comunicação que fazemos in-

fluencia mudanças nas políticas públicas.

2. Marco de referência e comunicação – Como disse

Rappaport, “não podemos ser especialistas em tudo,

mas os marcos de referência nos permitem compre-

ender a informação que estamos recebendo de tal ma-

neira que possamos estar prontos para processar uma

nova informação”ix.

Para criarmos marcos de referência que permitam

uma comunicação efetiva, necessitamos refletir sobre

o propósito das ações a serem tomadas e é necessário

fazer as seguintes perguntas:

• O que se deseja comunicar?

• Qual é o público?

• Como as pessoas vão receber essa mensagem?

• Que metas queremos atingir?

• Para que queremos construir conhecimento?

• Como fazer uma reflexão profunda de comunica-

ção especifica para a primeira infância?

• Que estratégias permitem às pessoas que se envol-

vem com esta causa pensar sobre o impacto de suas

decisões na vida das crianças e suas famílias?

3. Usar a comunicação como catalisadora para a mudança

• Como utilizar as estratégias de comunicação para

fomentar mudanças para que o público valorize as

crianças pequenas e suas famílias?

• Que estratégias podem produzir mudanças?

• O que funciona em algumas comunidades e o que

não funciona?

4. Conscientizar para o problema

• Qual é a visão da comunidade?

5. Priorizar tempo e recursos para atividades que pro-

duzam mudanças

• Criar um balanço de atividades sustentáveis;

• Usar o mercado social: criar consciência, conduta

individual;

• Política: campanhas eleitorais, buscar apoio;

• Comercial: mercado, publicidade, relações públicas;

• Desejo do público: lobby público, mudanças de

políticas.

6. Advocacia social ou lobby – é um dos pontos princi-

pais da atuação da ZTT. O trabalho é feito por meio da

participação em fóruns nos quais são discutidas estra-

tégias para melhorar as condições de vida das crianças

ou das suas famílias, como, por exemplo, a qualidade

CAPÍTULO 3MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

ASSEGURAR QUE OS BEBêS E AS CRIANÇAS SEjAM UMA PRIORIDADEPILAR FORT

54 55

dos programas que servem às crianças menores de três

anos, políticas de apoio especial às famílias em crise, e

leis de proteção à criança.

Para isso, é preciso:

a) Compartilhar a visão e missão da ZTT;

b) Focar nas metas da organização: “qual é a visão

da comunidade?’;

c) Focar nos princípios.

7. Criar um espaço virtual de comunicação do qual

o profissional possa se tornar membro para comparti-

lhar seus êxitos e desafios. Uma espécie de Facebook,

Orkut ou Twitter.

8. Unir forças – reunir entidades, indivíduos, universi-

dades e outras instituições interessados neste tema para

pensarmos como poderíamos unir forças e apresentar

uma só agenda para que a sociedade tome consciência

da importância dos três primeiros anos de vida.

Parece que o caminho a ser percorrido quando se trata

de conscientizar a sociedade é extenso, mas, para pais

de família, responsáveis, educadores ou pesquisadores,

a mensagem é a mesma: os bebês necessitam de trata-

mento especial.

Convide indivíduos da sua comunidade para um di-

álogo e, juntos, listem as prioridades dos bebês, das

crianças e das famílias da região. Delimite os proble-

mas mais importantes, quais serviços podem ser ofe-

recidos, quais especialistas são mais atualizados, quais

êxitos podem ser compartilhados, quais lições foram

aprendidas, quais desafios foram vencidos, quais polí-

ticas públicas estão funcionando a favor dos bebês e

quais políticas públicas são necessárias para melhorar

a situação das crianças e suas famílias.

Apesar de ter mencionado que os bebês são vulneráveis,

lembremos também que são seres únicos e os maiores

interessados em conhecer o que acontece ao seu redor.

Suas necessidades são múltiplas e complexas, mas po-

demos encontrar muitas soluções, se tivermos sensibi-

lidade e consciência. Saiba qual é o público para quem

você vai expor o tema da primeira infância. Lembre-se

que muitos investidores e legisladores não têm muito

tempo para ler ou escutar a mensagem. Os bebês e

crianças tampouco têm muito tempo, eles crescem e

se desenvolvem com um dinamismo extraordinário.

Além disso, é fundamental que cada um de nós seja

“fã das crianças”, pois a paixão pelo trabalho converte-

rá corações e fará que as políticas públicas reflitam o

bem-estar da infância em nosso país.

Nota: Este artigo foi elaborado com base em docu-

mentos que a Zero to Three publicou em sua página

na Internet, na revista Zero to Three e diálogos com a

equipe da instituição.

Citações

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Mental Health, DC: Zero to Three, 24, 1.ii. GREENSPAN, Stanley & SERENA, Wieder .

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Zero to Three, 30, 2, 2009. vii BRAZELTON et al . Once Upon a Time, When the

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CAPÍTULO 3MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

ASSEGURAR QUE OS BEBêS E AS CRIANÇAS SEjAM UMA PRIORIDADEPILAR FORT

56 57

SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS à COMUNIDADE EM GERAL

VANINA TRIVERIOFUNDAÇÃO ARCOR, ARGENTINA

CAPÍTULO 3

Como podemos sensibilizar a sociedade sobre a infância, os direitos infantis, as situa-

ções de vulnerabilidade pelas quais passam os meninos e as meninas de diversos países?

Como podemos mobilizar grupos de pessoas com conhecimentos diferenciados, valores,

preconceitos e ideais sobre situações muitas vezes invisíveis porque seus principais prota-

gonistas – as crianças – não têm a possibilidade de se fazerem ouvir? Questionarmo-nos

mostra o caminho que devemos seguir.

É por isso que é de extrema importância a iniciativa da Fundação Maria Cecília Souto

Vidigal de organizar e promover um workshop, já que é um espaço para colocar esses

temas em discussão.

Antes de começar a explicar as estratégias de trabalho da Fundação Arcor, gostaria de

fazer um breve histórico. A Fundação Arcor é uma entidade sem fins lucrativos. Foi

criada em dezembro de 1991 pelo Grupo Arcor como expressão do compromisso e da

responsabilidade social herdada dos fundadores da empresa, visando contribuir de ma-

neira orgânica e corporativa para o tratamento e a solução das necessidades dos setores

mais vulneráveis da população.

É uma entidade privada de origem empresarial (já que foi criado pelo Grupo Arcor), pro-

fissional (sua ação é organizada em torno de programas, e iniciativas e suas estratégias,

planejadas a partir de objetivos), pró-ativa e não operacional (adianta-se às demandas da

comunidade e suas iniciativas são executadas por meio de projetos desenvolvidos por or-

ganizações da sociedade civil), doadora e cooperadora (financia projetos somando fundos

aos já arrecadados pelos participantes, procurando promover a sustentabilidade das inicia-

tivas que apoia técnica e financeiramente).

Por isso, desde que foi criada, em 1991, a Fundação assumiu o desafio de colocar a infân-

cia como foco central de seu programa, cujo objetivo é fortalecer a liderança, a autonomia,

a capacidade associativa e a responsabilidade nas comunidades. Os parâmetros do traba-

lho estão dentro da Política de Investimento Social do Grupo Arcor, que procura melhorar

as condições de vida da sociedade, especialmente daqueles setores que têm seus direitos

violados. Nosso trabalho é regido pela missão: “Contribuir para que a educação seja uma

ferramenta de igualdade e oportunidades para a infância”.

A Fundação Arcor contribui, portanto, para mudar a situação da infância, de maneira a

fortalecer as organizações comunitárias que trabalham com o desenvolvimento integral

Como podemos sensibilizar a sociedade sobre a infância, os direitos infantis, as situações de

vulnerabilidade pelas quais passam os meninos e as meninas de diversos países? Como podemos mobilizar grupos de pessoas com conhecimentos

diferenciados, valores, preconceitos e ideais sobre situações muitas vezes invisíveis porque seus

principais protagonistas – as crianças – não têm a possibilidade de se fazerem ouvir? Questionarmo-

nos mostra o caminho que devemos seguir.

58 59

da criança, a partir de uma perspectiva educativa. Para isso, as ações da Fundação são

pautadas por duas estratégias institucionais:

a. Gestão de conhecimento:

Produzir e compartilhar conhecimentos teóricos e metodológicos que contribuam para

a igualdade de oportunidades educativas.

b. Mobilização e incidência:

Contribuir para colocar na agenda pública o trabalho em prol da igualdade de oportu-

nidades educativas para a criança.

Com critérios profissionais e visão de longo prazo, a Fundação Arcor trabalha por

meio de quatro linhas de ação: Iniciativas territoriais, Estudos e investigação, Capa-

citação e formação e Mobilização pública e social.

As linhas de trabalho são norteadas por uma estratégia comum que promove a difusão de

suas atividades e a publicação de suas experiências e aprendizados, a fim de sensibilizar a

sociedade e influenciar as práticas e políticas a favor da infância.

Linhas de ação

1. Iniciativas territoriais: Apoio e promoção de projetos educativos executados por organi-

zações articuladas em comunidades de todo o país, contribuindo para a efetivação do

direito à educação de suas crianças;

2. Estudos e pesquisas: Desenvolvimento pela Fundação Arcor ou em parceria com

centros de estudos e unidades acadêmicas de pesquisas vinculadas ao tema da crian-

ça e que gerem conhecimentos relevantes;

3. Capacitação e formação: Execução e apoio a propostas de formação e capacitação que

tenham o objetivo de fortalecer as pessoas e organizações que atuam na área da infância;

4. Mobilização social e pública: por meio de estudos, seminários, conferências e convênios

com empresas e municípios, promover a mobilização de outros atores do setor público

e privado para que entendam a criança como responsabilidade de todos.

O planejamento das diferentes estratégias transversais de comunicação e das linhas

de ação está direcionado à sensibilização dos seguintes grupos de audiências (públi-

cos organizacionais):

1. Comunidades

2. Grupo Arcor

3. Setor privado (empresas e organizações pares)

4. Entidades acadêmicas

5. Organizações internacionais

6. Membros do governo

7. Meios de comunicação

8. Sociedade em geral

Considerando as características distintas desses grupos, as estratégias de comunicação e

divulgação são definidas de acordo com os públicos, conforme o maior ou menor grau de

sensibilização que eles possuem.

Estratégias adotadas pela Fundação Arcor

Para a Fundação, a comunicação serve para mobilizar e promover a sensibilização

dos públicos mencionados por meio das seguintes ferramentas:

A. Produção e divulgação de publicações;

B. Desenvolvimento de produtos de comunicação externa: website, newsletters,

vídeos, revistas;

C. Campanhas de comunicação interna;

D. Sinergia com estratégias de comunicação externa;

CAPÍTULO 3MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS à COMUNIDADE EM GERAL

VANINA TRIVERIO

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E. Assessoria de imprensa na temática da infância;

F. Sensibilização dos jornalistas e formadores de opinião;

G. Sensibilização do setor privado;

h. Desenvolvimento de portal especializado;

I. Alianças com meios de comunicação;

J. Desenvolvimento de eventos públicos.

A. Produção e divulgação de publicações

A Fundação Arcor produz e apoia a produção de publicações sobre a temática da in-

fância e da educação com o objetivo de compartilhar conhecimentos e aprendizados.

Sua estratégia editorial está estruturada na produção de: estudos, sistematizações, ferramen-

tas, revistas temáticas e publicações institucionais.

Desde sua fundação, editou, promoveu e apoiou mais de 130 publicações disponíveis gra-

tuitamente. Essas publicações são também muito importantes para o desenvolvimento de

ciclos de capacitação e funcionam ainda como fomentadoras de ações de mobilização.

Para fazer o download das publicações, basta acessar nosso site: www.fundacionarcor.org.

B. Desenvolvimento de produtos de comunicação externa

Com o objetivo de informar a sociedade sobre seu trabalho, a Fundação Arcor produz

uma revista institucional, publicada a cada quatro meses. São revistas informativas com

um eixo temático transversal a cada número. Além disso, fazem parte da comunicação

externa da Fundação as seguintes ferramentas:

• Newsletter infOEC: newsletter bimestral que divulga informação, experiências de

projetos, entrevistas, agenda e publicações recomendadas. O informativo gira em tor-

no da iniciativa Oportunidades Educativas Comunitárias (OEC). São 1.500 assinan-

tes – em sua maioria, docentes, trabalhadores sociais e ONGs.

• Website (www.fundacionarcor.org): o site da Fundação tem cerca de 120 mil visitas

mensais. Oferece informação sobre as atividades institucionais e tem uma biblioteca

virtual on-line em três línguas (português, espanhol e inglês) com o resumo de mais de

130 publicações editadas e apoiadas pela Fundação Arcor, que podem ser baixadas da

internet gratuitamente. O site oferece também uma videoteca, uma seção de novida-

des e links para iniciativas e outros sites de interesse. há também uma seção, chamada

“Diálogos com...”, em que são publicadas, periodicamente, entrevistas em profundida-

de com especialistas em infância, educação e direitos. Em breve, o site contará ainda

com um portal de e-learning. Proporcionar interatividade com os usuários por meio de

blogs e do uso das redes sociais ainda é um desafio.

• Vídeos: documentários que sistematizam as experiências desenvolvidas em diferentes

partes do país, evidenciando as particularidades regionais e geográficas das crianças e

organizações. Esse material é utilizado em intercâmbios e capacitações e possibilita a

disseminação de metodologias de trabalho

C. Campanhas de comunicação interna

A produção de ferramentas específicas de comunicação interna direcionadas aos

funcionários do Grupo Arcor tem por objetivo divulgar a temática da infância e da

educação para gerar, em seu público interno, conhecimento e identificação com o

foco da Fundação. Para a execução desta estratégia de comunicação são utilizados os

seguintes canais:

• Revista Tempo de Fundar: revista interna produzida em três versões (relacionadas às

três zonas geográficas: NOA – Nordeste; NEA – Noroeste, e região do Cuyo Sul, onde

se localizam as plantas industriais da empresa). Tem o objetivo de se aproximar dos

funcionários da Arcor. Dentre outros temas, essa publicação divulga material sobre o

trabalho da Fundação, sobre seus projetos assim como informação de interesse para

toda a família sobre infância, educação e direitos da criança.

CAPÍTULO 3MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS à COMUNIDADE EM GERAL

VANINA TRIVERIO

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• Intranet: nesse canal são publicadas, semanalmente, notícias sobre a empresa, com

novidades sobre os projetos e ações executados, bem como notícias sobre temas de

interesse para os colaboradores.

• Campanhas internas: em parceria com o Grupo Arcor, são criadas campanhas de

sensibilização e informação sobre os direitos das crianças dirigidas ao público interno

e seus familiares. Em 2009, em razão do 20º Aniversário da Convenção dos Direitos

da Criança, foi feito o concurso interno “Desenhando nossos direitos”. O Grupo Arcor

e a Fundação Arcor organizaram um concurso de desenhos para os filhos e filhas dos

colaboradores da empresa na Argentina. No total, participaram 766 meninos e me-

ninas de todo o país. O concurso fez parte de uma campanha de promoção e difusão

dos direitos das crianças, direcionada aos colaboradores do Grupo e suas famílias. A

atividade ofereceu informação sobre quais são esses direitos, o que significam e a im-

portância de serem efetivados.

D. Sinergia com estratégias de comunicação externa

Procuramos sinergias e objetivos comuns da Fundação com o Grupo Arcor no que diz

respeito às ações de investimento social na infância. Nesse contexto, são publicadas notas

de interesse sobre esse tema no site do Grupo Arcor e são realizadas consultorias para o

desenvolvimento de produtos com causa social.

E. Assessoria de imprensa sobre a temática da infância

Como parte da estratégia de relação com os meios de comunicação, e com objetivo de

incluir a infância na agenda pública, a Fundação Arcor trabalha com a assessoria de im-

prensa divulgando informações sobre temas centrais relacionados à infância. É assim que

temos conseguido a publicação de uma média de três notícias diárias nos principais meios

de comunicação de todo o país.

F. Sensibilização de jornalistas e formadores de opinião

Mantemos, desde 2003, uma parceria estratégica com a Seção do Jornalismo Social da

Infância, da rede ANDI (Agência de Notícias pelos Direitos da Infância). Essa inicia-

tiva promove a cultura de defesa e proteção dos direitos da criança e do adolescente, a

partir de trabalhos sistemáticos de observação, investigação e capacitação dos meios de

comunicação, realizados em conjunto com especialistas e organizações sociais. Dentre

as ações executadas estão o monitoramento e clipping de notícias, por meio da produção

de agenda de atividades, de relatórios especiais, de bancos de fontes e da elaboração de

pautas para jornalistas.

Foram elaborados cinco relatórios de monitoramento da atuação da imprensa argentina

na cobertura da infância e a adolescência. Em 2009, foi apresentado o primeiro relatório

temático do projeto: O Confinamento Mídiatico – o trabalho faz parte da série “Criança

e adolescência na imprensa argentina”. Editado anualmente desde 2005, é uma análise

detalhada sobre o que os 22 diários de todo o país publicaram no ano anterior em relação

a crianças em conflito com a lei. Nesse contexto, foi entregue também o prêmio Jornalista

Amigo da Criança, que já conta com 58 jornalistas comprometidos com a temática.

São desenvolvidas também:

• “Dicas” ou pautas específicas: pautas elaboradas a partir de acontecimentos pontuais

pensadas para estimular a inclusão na mídia de temas que, por uma ou outra razão, não

são cobertos pela mídia.

• Clipping diário: seleção e resumo das principais notícias do dia sobre temas da infância

e adolescência publicadas pelos canais de mídia monitorados. Tem por objetivo des-

pertar o interesse na divulgação do tema pelos jornalistas que ainda não o fazem ou o

fazem ocasionalmente.

• Agendas semanais: cronograma semanal de atividades e eventos sobre infância e ado-

lescência. A agenda é transformada em pauta e enviada para a mídia que pode cobrir

CAPÍTULO 3MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS à COMUNIDADE EM GERAL

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os eventos. Essas agendas ampliam a visibilidade do tema na mídia e as atividades de

ONGs relacionadas à infância e à adolescência e permitem o estreitamento das relações.

• Trabalho com editores: esta estratégia foi escolhida porque o trabalho com os editores

e chefes de redação traz resultados efetivos em curto prazo, resultando na publicação

imediata de alguns temas estratégicos e na cobertura do tema.

• Apresentações e inclusão dos temas da área da infância em jornadas, debates, confe-

rências e exposições públicas voltadas para editores e chefes de redação em universi-

dades, sindicatos de imprensa, institutos educativos e outras organizações relaciona-

das ao trabalho jornalístico.

G. Sensibilização do setor privado

Procuramos mobilizar e somar o esforço do setor empresarial no sentido de promover

o investimento social em temas da infância com o objetivo de contribuir e melhorar as

oportunidades educacionais para as crianças. Entendemos a infância como um lugar de

encontro dos diferentes atores sociais. Nesse sentido, vale destacar:

• Espaço Empresas pela Infância: promovido pela Fundação Arcor em parceria com Uni-

cef e Save the Children. Com essa iniciativa, procuramos engajar um rol ativo e efetivo

de empresas e fundações empresariais em programas de investimento social dirigidos

à infância e à adolescência, com foco na garantia dos seus direitos. Nesse sentido, são

realizadas as seguintes ações:

• Desenvolvimento e lançamento do portal Empresas por la Infancia (www.empre-

sasxlainfancia.org): contém dados úteis, informação sobre a situação da infância

na Argentina, pesquisas, publicações, práticas empresariais de referência e depoi-

mentos. Mensalmente é publicada uma newsletter sobre a iniciativa que tem como

objetivo sensibilizar, motivar, informar e convidar os usuários a utilizar os recursos

e informações disponíveis no site.

* Guias de autoavaliação voltados para grandes, pequenas e médias empresas disponíveis

no site: http://www.empresasxlainfancia.org/. Sua construção foi realizada a partir do

manual de ação empresarial O que as empresas podem fazer pelas crianças?. O questio-

nário on-line permite efetuar uma autoavaliação sobre os compromissos assumidos e as

ações que as empresas estão realizando em matéria de proteção e promoção dos direitos

da infância. Constitui, além disso, um bom ponto de partida para identificar aspectos

não considerados por cada companhia, resultando na identificação de oportunidades a

serem trabalhadas nos próximos planejamentos.

• Formação de formadores: por meio de parcerias com organizações de Responsabilidade

Social Empresarial (RSE) locais, procuramos multiplicar as atividades de capacitação

e disseminação de práticas exemplares. Para isso, foram realizados seminários de For-

mação de Formadores em algumas cidades argentinas como Jujuy, Tucuman, Rosário,

Reconquista, San Lorenzo, Entre Rios, Córdoba, Mendonça e San Martin dos Andes.

• Banco de práticas exemplares: está dividido em grandes, pequenas e médias empresas.

Possui uma ferramenta de busca por dimensões da RSE e pelos pilares dos direitos da

criança. É um espaço de consulta criado para atender à necessidade de informação do

setor empresarial e dos públicos interessados em conhecer casos concretos e reais de

investimento social empresarial em infância e adolescência.

H. Desenvolvimento do portal especializado

Desenvolvemos o portal regional “Justiça para a infância – Seção Latino americana”

(www.equidadparalainfancia.org). Procura ser um espaço que reúne experiências e co-

nhecimentos das diversas organizações que trabalham pelo bem-estar e pelos direitos da

infância na América Latina. É uma iniciativa do programa de graduação em Relações

Internacionais (GPI) da Universidade norte-americana The New School, desenvolvido

em conjunto com a Fundação Arcor e com o Instituto Arcor Brasil.

CAPÍTULO 3MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS à COMUNIDADE EM GERAL

VANINA TRIVERIO

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I. Alianças com meios de comunicação

Com o objetivo de inserir a temática da infância na

agenda pública por meio da mídia, a Fundação Arcor

estabelece parcerias com os principais jornais do país,

visando produzir cadernos especiais sobre os temas

ligados à infância. Tais cadernos são publicados em

importantes canais de comunicação como, por exem-

plo, o jornal La Voz del Interior (Córdoba), que tem

tiragem diária de 48 mil unidades; o jornal La Capital

(Rosário – Santa Fé), com uma tiragem de 33 mil uni-

dades; o jornal Los Andes (Mendoza) com tiragem de

23 mil unidades; e um dos principais jornais do país, o

jornal Clarín, com uma tiragem de 327 mil unidades.

São realizados também os spots para televisão “Vozes”,

em parceria com o canal Encontro e as Fundações

Avina e Wachay. São veiculados pelo Canal Encontro

spots de dois minutos de duração, chamados “Vozes,

os pequenos querem falar com os grandes”. Meninos

e meninas de diferentes pontos do país explicam o que

entendem por seus direitos. Ao todo foram produzidos

20 spots, que vão ao ar em diversos horários da progra-

mação do canal. Para sua produção foram feitos semi-

nários de discussão com as crianças e adolescentes de

Buenos Aires, Misiones, Rio Negro, Córdoba e Jujuy.

Neles, seus protagonistas analisaram e expressaram

como interpretam e como se sentem em relação ao

reconhecimento dos seus direitos. O objetivo desse

projeto é ser um canal de informação, disseminação

e reflexão sobre os direitos da infância e incorporar as

crianças como sujeitos ativos na comunicação.

j. Desenvolvimento de eventos públicos

Com o propósito de sensibilizar e informar a socieda-

de sobre temas vinculados à infância, à educação e à

violação de direitos, são realizados diferentes eventos e

ações públicas. Merecem destaque duas ações desen-

volvidas no contexto do 20º Aniversário da Convenção

dos Direitos da Criança. São elas:

• Mostra fotográfica Infância: vários mundos, reali-

zada em parceria com a Fundação Walter Ben-

jamin. A mostra expôs um conjunto de 30 foto-

grafias integrantes do concurso fotográfico de

mesmo nome, organizado pela Fundação Walter

Benjamin e pela Fundação Arcor, entre os anos

2005 e 2009. Teve como objetivo apresentar uma

visão clara da situação da infância na Argentina

e divulgar o tema a partir do material fotográfi-

co que registra diferentes situações do dia a dia,

ligadas aos primeiros anos de vida, à diversidade

cultural, às expressões artísticas e culturais e aos

espaços onde vive e convive a infância.

• Vídeos Sabia que...: a Fundação Arcor, em conjunto

com o Grupo Via, apresentou aos usuários do metrô

de Buenos Aires, uma série de cinco vídeos deno-

minados Sabia que.... A cada duas horas mais de 1,5

milhão de pessoas assistiram aos filmes sobre a situa-

ção da infância nas grandes cidades da Argentina no

circuito fechado da TV do metrô.

Conclusão

Trabalhar para gerar melhores oportunidades educacionais para a infância requer a união

de esforços e vontades. Na Fundação Arcor, vemos na infância uma potencialidade inte-

gradora. Ela é concebida como um espaço de encontro entre diversos atores que podem

somar contribuições e gerar ações de longo prazo que garantam os direitos de meninos e

meninas, a partir de uma perspectiva educativa.

Dessa forma, procuramos recriar a infância como “um novo espaço público” com a parti-

cipação e a responsabilidade de todos. Para isso, promovemos um trabalho articulado, mo-

bilizando outros atores públicos e privados por meio de estudos, seminários e convênios

com empresas, municípios e instituições acadêmicas, de forma a inserir o tema na agenda

pública e social.

VANINA TRIVERIO Formada em Relações Públicas e Institucionais pela Universidade Empresarial Siglo 21.

Pós-graduada em Gestão de Comunicação Organizacional pela Universidade de Belgrano.

Professora e palestrante em seminários e congressos sobre comunicação de entidades filan-

trópicas. Desde 2004, é Coordenadora da Área de Comunicação e Difusão da Fundación

Arcor. Anteriormente, trabalhou como consultora nas áreas de comunicação, imprensa,

relações públicas e de protocolo do governo da província de Córdoba, na Argentina.

CAPÍTULO 3MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATéGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS à COMUNIDADE EM GERAL

VANINA TRIVERIO

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DISSEMINANDO INFORMAÇõES PARA AS FAMÍLIAS POTENCIALIZAREM O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

CAPÍTULO 4

70 71

PROMESA: UMA PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRAL COMUNITáRIO A PARTIR DA CRIAÇÃO DE AMBIENTES SAUDáVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO

FÍSICO, EMOCIONAL E INTELECTUAL DAS CRIANÇAS

GLÓRIA CARVALHOFUNDAÇÃO CENTRO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO hUMANO (CINDE) , COLÔMBIA

CAPÍTULO 4

I. Cinde, Colômbia: missão e campos

A Fundação Centro Internacional de Educação e Desenvolvimento humano (Cinde) é

um centro de investigação e desenvolvimento, fundado em 1977 por Glen Nimnicht e

Marta Arango, com sede na Colômbia e nos Estados Unidos. O eixo central da nossa atu-

ação é a criação de ambientes adequados para um desenvolvimento físico e psicossocial

saudável das crianças e jovens que vivem em condições vulneráveis, por meio do trabalho

com a família, a comunidade e as instituições educativas.

Nossa missão é promover o desenvolvimento humano integral dos meninos, meninas e jo-

vens da Colômbia e de outros países por meio do desenvolvimento de soluções alternativas

inovadoras, de acordo com o contexto social, a formação de talento humano, a dissemina-

ção de experiências, a participação em redes e o impacto em políticas.

Para isso, fazemos uso de três estratégias: 1) desenvolver a habilidade da família, da escola

e da comunidade para atender as crianças, 2) formar profissionais com capacidade inova-

dora para enfrentar os problemas da infância e 3) divulgar experiências significativas de

atendimento à infância. Os campos de ação da Cinde dividem-se em: 1) desenvolvimento

de inovações de atendimento à infância e à juventude, 2) formação avançada e 3) divul-

gação e impacto.

II. Apresentação geral do programa Promesa (Programa para o aperfeiçoamento da Educação, da Saúde e do Meio Ambiente)

O programa é um projeto de desenvolvimento social integrado, que inclui educação, nu-

trição, saúde e saneamento, e concentra-se na criação de ambientes adequados para um

desenvolvimento saudável das crianças (desde seu nascimento até os seis anos de idade).

A metodologia foi baseada no máximo aproveitamento dos recursos locais, humanos e

materiais, na cultura e na experiência das pessoas da localidade.

Começou em quatro comunidades rurais da costa pacífica de Choco, Colômbia, e logo se

estendeu a outras 30 comunidades da mesma região. No princípio, o projeto foi coordena-

do pelas Irmãs Teresitas Missionárias Católicas em conjunto com a direção do Laboratório

A Fundação Centro Internacional de Educação e Desenvolvimento Humano (Cinde) é um centro de investigação e desenvolvimento, fundado em 1977 por Glen Nimnicht e Marta Arango, com sede na

Colômbia e nos Estados Unidos. O eixo central da nossa atuação é a criação de ambientes adequados

para um desenvolvimento físico e psicossocial saudável das crianças e jovens que vivem em

condições vulneráveis, por meio do trabalho com a família, a comunidade e as instituições educativas.

72 73

Internacional de Educação (LIDE), cujo nome foi trocado posteriormente para Cinde.

O programa inicialmente se concentrou no componente psicossocial das crianças entre

3 e 6 anos de idade e nos processos educacionais para a formação de líderes comunitários,

especialmente mulheres (Arango & Nimnicht, 2005).

Promesa: Programa para o aperfeiçoamentoda educação, da saúde e do meio ambiente

Objetivo principal e enfoque Princípios praticados Processos e estratégias

Desenvolver um ambiente apropriado para o desenvolvimento saudável das crianças

Abertura e flexibilidade

Participação

Organização

Integração

Relevância cultural

Diversificação

Conhecimento

Autoexpressão

Expressão cultural

Autocorreção

Reflexão coletiva

Autodireção

01. A família como integrador central

02. Agentes educativos da comunidade

03. Agentes externos como facilitadores e catalisadores

04. Trabalho prioritariamente com recursos locais: humanos, materiais e institucionais

05. Sistema flexível de aprendizado com ênfase em autoaprendizado e estratégias de aprendizado mútuo

06. Recuperação e uso de processos de aprendizado e práticas culturais típicas

07. Democratização e socialização do conhecimento científico

08. Problemas e prioridades identificados pela comunidade

09. Planejamento, prática e avaliação participativa contínua

10. Organização comunitária e participação

11. Investigação e avaliação contínua

12. Uso de tecnologias simples para solucionar problemas comunitários: radiotelefone e microscópio

13. Desenvolvimento integral comunitário: saúde, educação, produção e cultura

14. Complementos interinstitucionais

15. Efeitos cumulativos e massa crítica

A. Estratégias de comunicação e formação As estratégias são as seguintes: o desenvolvimento de

diferentes tipos de programas e projetos, a utilização

de um sistema de formação em cascata que chega às

bases, o emprego de um sistema flexível de aprendiza-

do para o desenvolvimento das competências respecti-

vas e o uso do jogo como estratégia.

Os diferentes tipos de programas e projetos incluem

os de caráter permanente, direcionados à família, cujo

objetivo é melhorar os ambientes para um desenvolvi-

mento saudável e integral das crianças; e os de caráter

especifico, direcionados à solução de problemas detec-

tados pela comunidade.

O sistema de formação em cascata funciona em dife-

rentes níveis: desde a formação de famílias, em grupos

de 25 a 35 participantes, até a formação de promotores

ou líderes e de multiplicadores e de assessores.

III. Processo para a implementação das estratégias

A. Equipe envolvidaNo processo estavam incluídos: os promotores, que

eram selecionados pela comunidade, de acordo com

critérios definidos pela Cinde e pela própria comuni-

dade; os multiplicadores, selecionados no processo de

formação de promotores, e os assessores, que eram pro-

fissionais selecionados pela Cinde.

B. Tipos de programasO Promesa realizava três tipos de programas: aque-

les orientados a fortalecer a habilidade da família

para atender as necessidades de seus filhos da pers-

pectiva de seu desenvolvimento integral; os direcio-

nados ao fortalecimento das habilidades dos pais

para satisfação de suas próprias necessidades e seu

desenvolvimento pessoal; e os direcionados à melho-

ria do ambiente físico.

Os programas para fortalecimento da habilidade da

família incluem reuniões semanais de duas horas

para mães, assim como o uso de brinquedos e jogos

educativos em casa, e seminários, grupos de estudo

e atividades de acompanhamento para promotores.

Os programas para fortalecimento das habilidades

dos pais são direcionados a: a) apoiar o melhor uso

dos recursos do contexto social para fortalecer a li-

derança, a solução de problemas e a organização co-

munitária; b) desenvolver ou melhorar as destrezas

vocacionais individuais; e c) fortalecer a identidade

cultural a partir de atividades artísticas, de jogos e da

medicina tradicional.

Já os programas para a melhoria do ambiente físico

respondem às necessidades identificadas pela pró-

pria comunidade a partir de diagnósticos participa-

tivos, cujo centro da atuação era as crianças. Tais

programas incluíram cuidados básicos de saúde,

controle da malária, nutrição, tecnologia apropriada

e saneamento ambiental.

CAPÍTULO 4MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

PROMESA: UMA PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRAL COMUNITáRIO A PARTIR DA CRIAÇÃODE AMBIENTES SAUDáVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO FÍSICO, EMOCIONAL E INTELECTUAL DAS CRIANÇAS

GLÓRIA CARVALHO

74 75

C. Etapas, dificuldades, soluçõesOlhando o processo de vinte anos do Promesa, podemos estabelecer quatro etapas com

características diferentes de desenvolvimento. A primeira, de motivação da comunidade e

de início de atividades do projeto; a segunda, de formação da estrutura básica para a orga-

nização comunitária e sua participação; a terceira, da transferência de responsabilidades ad-

ministrativas à comunidade; e a quarta, de autodireção do projeto por parte da comunidade.

No processo de implementação de todas essas etapas, diversos desafios apresentaram-se

e, como resposta, diferentes soluções foram dadas. Alguns deles estão detalhados no

quadro seguinte:

Dificuldades Soluções

Visão de curto prazo dos financiadores(espera de resultados no curto prazo)

Busca de outros financiadores

Conceito dos financiadores de fases e disseminação somente ao final

Diferentes estratégias e argumentos

Insuficiência de fundos para desenvolver o programa integralmente

Busca de financiamento por módulos

Encontrar assessores que tivessem um olhar integral Formá-los

Encontrar assessores com maturidade para deixar que as comunidades tomem suas próprias decisões

Formar gente da própria comunidade que tenha vivido a experiência

Visão paternalista dos participantes e organizações que ocasionou paradas intermitentes nos trabalhos

O mesmo processo de formação

Dificuldade de articulação interinstitucional em função de disputas de poder

Evidência dos resultados obtidos com trabalho sistemático

Analfabetismo das mães participantes Programa de alfabetização

Ritmo de desenvolvimento das atividades apresentadas Programa de alfabetização

O machismo das famílias que obstruiu o início das atividades e a participação dos homens em programas de habilidades das famílias

Fazer os homens participarem dos projetos vocacionais

Não ter pessoas que cuidem das crianças para dar assistência às mães participantes do programa

Sessões simultâneas lúdico- educativas com crianças e com adultos ou crianças mais velhas, como facilitadores

Doenças tropicais permanentes dos participantes Programas de controle da malária

IV. Avaliação

Um aspecto fundamental do programa Promesa foi sua avaliação, realizada como um

processo longitudinal a seu desenvolvimento e dentro de um conceito de participação

comunitária para fortalecer a qualidade em termos de eficiência, efetividade e cobertura.

Dois tipos de avaliação foram realizados. O primeiro fez parte do ciclo operacional de

planejamento-execução-avaliação, que foi executado em três níveis: com a comunidade,

com as instituições e com a Cinde. O segundo tipo de avaliação fazia parte da atividade

de pesquisa para medir os resultados.

A avaliação no nível das instituições foi realizada durante reuniões interinstitucionais e

seminários com a participação da comunidade. Já a avaliação com a Cinde teve seu foco,

por um lado, nos aspectos operacionais integrais e, por outro, nos programas e elementos

específicos, e aconteceu durante reuniões periódicas da equipe, assessores, multiplicado-

res e o diretor de programa.

O segundo tipo de avaliação, ligada à pesquisa avaliativa dos efeitos e do impacto do pro-

grama, foi realizado a partir das lembranças de seminários e atas de reuniões, assim como

de fichas das famílias e de instrumentos de avaliação.

A. ResultadosAbaixo, seguem alguns dos resultados do programa Promesa:

Impactos nas crianças:

• Aumento do tempo de permanência das crianças na escola.

• Aumento da aprendizagem das crianças na escola.

• Diminuição da taxa de mortalidade infantil nos primeiros 5 anos de vida.

• Aumento do número de filhos de mães do Promesa que terminaram o Ensino Médio

e ingressaram na universidade.

• Incremento do percentual de nascidos vivos.

• Aumento do peso e altura das crianças.

CAPÍTULO 4MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

PROMESA: UMA PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRAL COMUNITáRIO A PARTIR DA CRIAÇÃODE AMBIENTES SAUDáVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO FÍSICO, EMOCIONAL E INTELECTUAL DAS CRIANÇAS

GLÓRIA CARVALHO

76 77

Os principais resultados obtidos ficam evidentes por

meio dos seguintes dados:

01. O percentual de nascidos vivos aumentou de

84,7%, em 1980, para 87,9%, em 1989;

02. O nível de mortalidade nos primeiros 5 anos

de vida caiu de 11,7%, em 1980, para 7,6%,

em 1989;

03. O percentual de crianças com uma ou mais

vacinas aumentou de 46%, em 1980, para 95%,

em 1989;

04. Redução de mais de 50% na incidência de malária;

05. Diminuição significativa do percentual de desnu-

trição aguda e crônica de crianças entre 3 e 6 anos;

06. Aumento do percentual de crianças de 12 anos

que chegaram ao 1º ano do Ensino Fundamental

II (12%, em 1980, contra 36%, em 1989);

07. Melhora contínua e significativa do rendi-

mento escolar;

08. Aumento do tempo de permanência na escola;

09. Aumento da média do nível de escolaridade alcan-

çado por crianças de 12 anos;

Como impacto nas famílias, promotores e líderes do

programa destacam a melhora na educação das mães,

na habilidade dos pais de satisfazer as necessidades fí-

sicas de seus filhos, na autoestima das mães e na edu-

cação dos filhos das promotoras.

B. AprendizadosA experiência com o Programa Promesa trouxe diver-

sos aprendizados, entre eles:

• Com a capacitação e o acompanhamento apropria-

dos, os pais com baixos níveis educacionais podem

ser excelentes agentes educativos de programas in-

tegrados e participativos para a infância precoce;

• Os centros familiares e comunitários que promo-

vem interações intergeracionais focadas no de-

senvolvimento saudável da primeira infância são

ferramentas poderosas para a implementação de

programas integrados de desenvolvimento e cuida-

do infantil precoce;

• Um projeto de desenvolvimento social que res-

ponda aos participantes não pode ser linear;

• Para que um projeto seja efetivo, é essencial desen-

volver credibilidade mútua entre os membros da

comunidade e as pessoas que desejam atuar como

agentes externos;

• É fundamental ter uma base comunitária, quan-

do se implementa um programa que tem como

objetivo o desenvolvimento e a mudança social

e humana;

• Um enfoque lúdico contribui para a efetividade do

projeto e fortalece a identidade cultural e as habili-

dades cognitivas;

• Respeito ao ritmo das comunidades;

• Para mudar um ambiente educativo não saudável

para as mulheres e as meninas, é necessário fazer

que as pessoas de todos os setores da comunidade

participem de um processo educativo que fortaleça

a autoestima e mude as atitudes em relação à edu-

cação e ao gênero;

• Nenhuma ação educativa sozinha, dirigida somen-

te a um pequeno grupo de mulheres, pode mudar

um ambiente educativo. Deve haver um leque

variado de ações, que inclua diferentes pessoas da

comunidade para que o programa tenha um efeito

cumulativo positivo.

Referências

ARANGO, M.; NIMNIChT, G.; PEÑARANDA, F. &

ACOTA, A. Vinte anos de experiência. Um informe so-

bre o programa Promesa na Colômbia (Desenvolvimen-

to infantil precoce: práticas e reflexões. Seguindo ras-

tros, 22s). Fundação Bernard Van Leer: La haya, 2005.

NIMNIChT, G & ARANGO, M . Promesa. A pro-

gram for the healthy physical, emotional and intelectu-

al development of young children (Prepared as a con-

tribution to effectiveness initiative of the Bernard van

Leer Foundation) Inovações Cinde: Medelim, 2001.

ARANGO, M & NIMNIChT, G . Um modelo de ava-

liação ao serviço de todos os atores. O caso do programa

Promesa no Chocó, sf.

www.cinde.org.co

www.redprimerainfancia.org

GLÓRIA CARVALHO VILEZDiretora Regional da Fundação Centro Internacional

de Educação e Desenvolvimento humano (Cinde)

Medelín, onde atua desde 1992. Graduada em psico-

logia com pós-graduação em metodologia de pesqui-

sa e ensino universitário e doutorado em educação

e desenvolvimento humano e social. Especialista na

primeira infância com experiência na assessoria e for-

mação de pessoal para trabalhos com família e comu-

nidade com ênfase no desenvolvimento integral da

infância, bem como na elaboração de materiais para o

trabalho comunitário.

CAPÍTULO 4MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

PROMESA: UMA PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRAL COMUNITáRIO A PARTIR DA CRIAÇÃODE AMBIENTES SAUDáVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO FÍSICO, EMOCIONAL E INTELECTUAL DAS CRIANÇAS

GLÓRIA CARVALHO

78 79

A COMUNICAÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL: A ExPERIêNCIA DO CENTRO DE CRIAÇÃO DE IMAGEM POPULAR (CECIP)

CLAUDIUS CECCON

CENTRO DE CRIAÇÃO DE IMAGEM POPULAR (CECIP)

CAPÍTULO 4

O Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) é uma organização não governamental

(ONG), criada em 1986. É uma entidade sem fins lucrativos, classificada como de utili-

dade pública federal e municipal. O Cecip atua na construção de uma sociedade demo-

crática, por meio da produção de materiais audiovisuais e impressos, e na promoção da

capacitação de agentes sociais para a transformação social, no que diz respeito à cidadania

e direitos à saúde e educação.

A ONG atua em diversas frentes e com vários públicos, mas, desde a produção do conjun-

to de materiais A Creche Saudável (1996), com manual, cartazes e vídeos, também se vol-

tou para a formação de pessoal e a melhoria do atendimento nas instituições para crianças

de 0 a 6 anos. Realizado com o apoio da Fundação Kellogg, esse material educativo foi

adotado pelo Unicef, que solicitou, para garantir o bom uso dos materiais e a efetiva ado-

ção de mudanças positivas nas creches, a organização de capacitações de educadores em

estados das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. O projeto incluiu um acompanhamento

e uma avaliação de resultados em creches monitoradas, nas cidades de Salvador e Rio de

Janeiro. A avaliação atestou a eficácia da metodologia (1997/1998).

O material tornou-se acessível para o uso em creches de todo o Brasil após sua publicação

pela Editora Artmed. Sua utilização continuada e as demandas identificadas na avaliação

levaram o Cecip a produzir, em 2002, um novo kit, chamado “Trocando em Miúdos as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil”. Esse conjunto de materiais

representa um aprofundamento pedagógico e responde a uma premente necessidade das

creches em todo o País por orientação em relação às novas Diretrizes Curriculares Nacio-

nais para Educação Infantil.

As Diretrizes traçam um amplo panorama sobre a importância da educação infantil. Mas,

como implementá-las no dia a dia dos Centros de Educação Infantil? A metodologia de

elaboração de materiais proposta pelo Cecip foi posta em ação. Foram convocados es-

pecialistas, pesquisadores e também educadores que enfrentam essas questões cotidiana-

mente. O trabalho em equipe estabeleceu as linhas mestras do material que responde a

questões concretas e, ao mesmo tempo, fornece subsídios teóricos que complementam a

formação de educadores. Completando o processo, à produção do material seguiram-se

as capacitações de educadores para utilizá-lo da melhor maneira possível, de forma a pro-

mover melhorias em seu trabalho e em suas instituições.

O Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) é uma organização não governamental (ONG),

criada em 1986. É uma entidade sem fins lucrativos, classificada como de utilidade pública federal e municipal. O Cecip atua na construção

de uma sociedade democrática, por meio da produção de materiais audiovisuais e impressos,

e na promoção da capacitação de agentes sociais para a transformação social, no que diz respeito à

cidadania e direitos à saúde e educação.

80 81

O Cecip decidiu tomar a iniciativa de testar o “Trocan-

do em Miúdos”, produzido pela própria instituição.

Um projeto, apoiado pela Fundação Bernard van Leer,

foi responsável pela formação de educadores em três

distintas instituições de educação infantil na cidade do

Rio de Janeiro: na zona rural, Zona Oeste, um Centro

de Educação Infantil que faz parte do sistema público

de ensino da Secretaria Municipal de Educação; na fa-

vela Santa Marta, em Botafogo, Zona Sul, uma creche

filantrópica, mantida por pais de alunos do Colégio

Santo Inácio, vizinho da favela; e, na favela Morro dos

Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte, uma creche co-

munitária. A experiência realizada ao longo de um ano

comprovou a eficácia dos materiais e da metodologia

de formação desenvolvida pelo Cecip.

Durante os meses em que atuamos no Morro dos Ma-

cacos, ouvimos várias demandas da população local,

entre elas, sua preocupação com as crianças que dei-

xavam a creche e passavam para o sistema público de

ensino. Aos 4 anos, as crianças transitam de um regi-

me de atendimento integral para outro, parcial, que

as deixa sem atendimento durante a maior parte do

tempo, sujeitas a riscos e violências frequentes. Da pre-

ocupação do Cecip em encontrar uma solução, surgiu

a ideia de criar um espaço protegido, onde as crianças

pudessem ficar em segurança até que seus pais e mães

regressassem do trabalho.

Em dezembro de 2006, foi inaugurado o Centro Cul-

tural da Criança (CCCria) no Morro dos Macacos.

No horário do contraturno escolar, o CCCria atende

a cerca de 200 crianças da comunidade, para as quais

oferece biblioteca, brinquedoteca, videoteca e espa-

ços de informática, artes, música e expressão corpo-

ral. Recentemente, atendendo a pedidos, proporciona

também cursos de culinária e de inglês, com uma

metodologia baseada em jogos e música. As crianças

sentem-se orgulhosas por já “falarem” inglês: skate, we-

ekend, hamburger, cheeseburger, mouse, site, afinal, já

não faziam parte de seu vocabulário?

O Cecip participou de toda a concepção do CCCria

(inclusive de seu espaço físico, um “castelo” construí-

do para esse fim), e elaborou o projeto que possibilitou

sua realização. O Cecip tem contribuído com a gestão

pedagógica e a formação dos educadores. Atualmente,

está produzindo uma publicação na qual são avaliados

os resultados e é feita uma reflexão dos três primei-

ros anos da experiência, que pode se transformar em

política pública nas áreas metropolitanas das grandes

cidades que vivem situação semelhante.

Outras duas parcerias acontecem no projeto “Transfor-

mando Ações: uma proposta pedagógica para a Educa-

ção Infantil”, iniciado em 2008. Conveniadas à rede

municipal, a creche Florescer (Rio Comprido) e o

Instituto Central do Povo (Gamboa) utilizam os mate-

riais e contam com a consultoria pedagógica do Cecip.

Um diagnóstico participativo levantou as demandas de

cada instituição, orientando a formação dos profissio-

nais e a implementação de mudanças. O projeto está

sendo avaliado para que os resultados possam ser divul-

gados junto aos gestores de outras creches conveniadas

do Município do Rio de Janeiro.

A articulação com políticas públicas é uma preocupação

constante do Cecip para disseminar os bons resultados

de seus projetos e colaborar com transformações estru-

turais na sociedade. Desde 2007, o Centro colabora com

a Prefeitura na implementação de um trabalho interse-

torial do Programa Saúde na Escola e na Creche (PSE),

que envolve profissionais das secretarias de Saúde, Edu-

cação e Assistência Social. Organizados em dez Núcleos

Regionais de atuação (NSECs), esses gestores e técnicos

planejam e executam ações conjuntas para aumentar a

eficácia de suas políticas. O Cecip é mediador constante

desse processo, além de promover seminários munici-

pais e criar materiais de divulgação do PSE do Rio.

Métodos de trabalho do Cecip e públicos atendidos

A produção de materiais do Cecip adota, geralmen-

te, o mesmo sistema: método participativo de levan-

tamento de conteúdos, diagnóstico socioeconômi-

co (e/ou ambiental), participação de especialistas

e de futuros usuários, materiais complementares

em linguagens diferentes (impressos, vídeo, ilus-

trações, cartazes, campanhas, sites), teste junto ao

público-alvo e adaptações de acordo com sua ava-

liação, capacitação dos profissionais que irão utilizá-

los, formação de multiplicadores nas comunidades e

avaliação dos resultados.

A produção de materiais e a capacitação levam em

conta as demandas de cada grupo e um diagnóstico

de sua realidade, realizado pelos próprios interessados.

A linguagem deve se aproximar ao máximo daquela

utilizada e compreendida pelos envolvidos, mas isso

não significa outra coisa a não ser um esforço de ser

clara e acessível. Na maioria dos projetos, o Cecip es-

timula o público-alvo a se apossar das ferramentas de

comunicação e tecnologia para expressar de que ma-

neira lidar com determinada questão. O público-alvo

torna-se multiplicador das mensagens que considera

mais relevantes, e faz isso com suas próprias estratégias,

recursos, palavras e imagens.

Acreditamos em uma metodologia participativa, in-

clusive para a produção de materiais: demandas são

levantadas junto ao público-alvo, especialistas partici-

pam da elaboração do conteúdo e, prontos a primeira

versão, os vídeos e publicações passam pelo crivo de

quem vai utilizá-los – críticas, sugestões, correções e

complementos são incorporados à versão final.

A metodologia participativa estende-se ao dia a dia das

instituições com as quais o Cecip tem parceria, em

especial na gestão do CCCria. As crianças podem es-

colher livremente em quais atividades desejam estar

envolvidas e em quais espaços querem ficar, organizan-

do-se para que as regras que elas mesmas elaboraram

sejam cumpridas. Dos 4 aos 10 anos, todos têm direito

a voz e a voto na decisão sobre as regras de convivên-

cia e funcionamento do Centro Cultural. Essa lógica

reforça a autoestima e a autonomia de cada criança ao

lidar com as situações mais diversas, em relação a seus

colegas e aos adultos.

O Cecip comunica-se com os mais variados públicos:

crianças, jovens, professores, profissionais de áreas di-

versas (saúde, educação, meio ambiente, assistência

social, ONGs, segurança pública, justiça, entre outros)

e grupos específicos como afro-descendentes, mulhe-

res ou moradores de determinadas comunidades.

CAPÍTULO 4MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

A COMUNICAÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL: A ExPERIêNCIA DO CENTRO DE CRIAÇÃO DE IMAGEM POPULAR (CECIP)

CLAUDIUS CECCON

82 83

O humor e a disseminação da mensagem

O humor estabelece uma relação receptiva no pro-

cesso de comunicação. Para que haja comunicação,

deve haver troca de saberes, e o humor faz que ele-

mentos originalmente isolados, camuflados, diver-

sos, contrastantes, sejam apresentados de uma forma

nova, inesperada, original, surpreendente. Quando

essa apresentação se faz visualmente, essa reorgani-

zação de elementos familiares ao receptor obriga-

o a fazer um esforço de decodificação. O emissor

da mensagem organiza, ou reorganiza, uma infor-

mação que existia em estado bruto e foi recolhida,

reelaborada e desenvolvida. O receptor não recebe

passivamente essa informação: ele a confronta com

suas próprias ideias, com seu conhecimento e repro-

cessa-a, reeditando essa informação e transforman-

do-se, dessa maneira, em coautor.

Estabelece-se uma identidade, uma parceria, uma ver-

dadeira cumplicidade entre ambas as partes. O humor

ajuda esse processo de apreensão da mensagem. Pelo

fato de não ser “sério”, ele facilita todo o processo, pois

as pessoas estão mais receptivas, mais abertas, sem os

temores e as defesas que se erguem diante de algo her-

mético, de difícil compreensão. O humor transforma a

informação em um jogo prazeroso. O inesperado, pela

junção de elementos díspares, surpreende e resulta no

riso, que é a manifestação mais espontânea de que a

mensagem “passou”.

A experiência com o Estatuto da Criançae do Adolescente (ECA)

O projeto “Estatuto do Futuro” iniciou-se em 1997,

com a realização de um Seminário do qual participa-

ram cerca de 40 instituições ligadas à infância e ado-

lescência, entre órgãos públicos, ONGs, institutos de

pesquisa, Conselhos Tutelares e Conselhos dos Direi-

tos de Crianças e Adolescentes, universidades e esco-

las. Do seminário resultaram propostas de conteúdo

e abordagem para os temas que o projeto pretendia

discutir e divulgar.

A partir das recomendações do Seminário, foram

elaborados os materiais que compõem o kit: quatro

vídeos (para público geral, técnicos, jovens e crian-

ças), três publicações e cartazes (para técnicos, jo-

vens e crianças).

Em 1998 o Cecip deu início à distribuição estratégica

dos materiais, acompanhando e assessorando o traba-

lho de parceiros das mais variadas áreas. Foram distri-

buídos 1,2 mil kits para cerca de 500 instituições de

diversas áreas (sendo 230 escolas) no estado do Rio de

Janeiro e mais de 100 entidades em todos os demais

estados brasileiros. A contrapartida dos parceiros, que

recebiam gratuitamente os materiais, era preencher

uma ficha com informações sobre o público atingido

por suas atividades e a recepção dos materiais no que

dizia respeito ao conteúdo e à linguagem utilizada.

A TV Maxambomba, projeto de vídeo popular do

Cecip, passou a atender demandas comunitárias e

negociar parcerias para a realização de eventos em

praças públicas, escolas e instituições, divulgando e

debatendo os vídeos com grandes públicos. A equi-

pe do projeto compareceu a palestras, debates e

cursos, estimulando e enriquecendo o trabalho dos

parceiros com os materiais.

Spots para TV e rádio sobre a importância de conhecer

e cumprir o ECA foram divulgados em veículos locais

e nacionais. O vídeo “Se liga no Estatuto” conquistou

a Medalha de Prata na Categoria “Video Communi-

cation” do 22° Tokyo Video Festival, no Japão, concor-

rendo com centenas de produções de todo o mundo.

E o Prêmio Itaú-Unicef, recebido em novembro de

1999, foi o mais importante reconhecimento público

da importância do projeto “Estatuto do Futuro” para o

fortalecimento da cidadania no Brasil. Os recursos do

prêmio propiciaram novas ações:

• Realização do Seminário “10 Anos de ECA – Con-

quistas e Desafios”;

• Reprodução e distribuição de mais 300 kits “Estatu-

to do Futuro”;

• Participação em eventos, assessoria aos atuais par-

ceiros e construção de novas alianças e parcerias;

• Capacitação direta de educadores de 200 escolas

públicas do Rio de Janeiro.

Até o ano 2000, quando foi feito o último relatório ava-

liativo, o projeto atingiu diretamente e por meio da

ação de seus parceiros – cerca de 52 mil pessoas. De

lá para cá, os materiais continuam sendo utilizados na

defesa e aplicação do Estatuto.

A publicação do Estatuto resume de certo modo o

trabalho do Cecip: a produção de conteúdos de fá-

cil compreensão – adaptado a públicos diversos – e a

atuação multimídia. O Cecip pretende seguir traba-

lhando nessa direção, buscando a formação pessoal

do indivíduo como forma de promover a cidadania e

fortalecer a democracia.

CLAUDIUS CECCONDiretor executivo do Centro de Criação e Imagem Po-

pular (Cecip). Arquiteto, designer gráfico, desenhista

de humor, chargista político, autor e ilustrador de li-

vros infantis (coleção Mico Maneco, com Ana Maria

Machado). Atualmente, atua como colaborador regu-

lar da revista Caros Amigos e do Le Monde Diplomati-

que Brasil e de um blog em um site de notícias SRZD.

CAPÍTULO 4MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

A COMUNICAÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL: A ExPERIêNCIA DO CENTRO DE CRIAÇÃO DE IMAGEM POPULAR (CECIP)

CLAUDIUS CECCON

CONCEITOS PARA UM PLANO DE COMUNICAÇÃODA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL

CAPÍTULO 5

86 87

IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE COMUNICAÇÃO DA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL

CARLOS PINTOFUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL

CAPÍTULO 5

A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) traçou três objetivos de comunicação

para seu Programa de Desenvolvimento Infantil (DI):

• divulgar o conhecimento existente e as boas práticas sobre o assunto;

• educar os públicos-alvo sobre o DI;

• estimular mudanças na cultura da sociedade.

A espinha dorsal da missão da Fundação é a disseminação de conhecimentos. Esse é o

norte de nosso trabalho. É olhar para o Brasil e para o mundo, descobrir onde há conhe-

cimento precioso que, nas mãos certas, poderá ajudar a transformar a sociedade. Identifi-

cando essas fontes de conhecimento, nossa tarefa é garantir que esse material chegue de

forma adequada às pessoas que possam replicá-lo, pois só assim haverá motivação para que

esse público abrace a causa.

O alvo central de nossa comunicação são os pais e as mães das crianças e, para chegar a

eles, oferecemos capacitação para quatro grupos-chave, além de buscarmos parcerias:

1. Públicos da Fundação: visitantes do site, especialistas e autores que escrevem sobre

desenvolvimento infantil para a FMSCV; a família Souto Vidigal; os parceiros institu-

cionais e nosso Conselho de Curadores;

2. Formadores de opinião: os meios de comunicação em geral; os sites dedicados à família,

educação e saúde; os diferentes grupos de apoio que trabalham nessas áreas; a classe

acadêmica como um todo; os conselhos setoriais (saúde, educação, criança e adoles-

cente, etc.) e as organizações religiosas;

3. Cuidadores profissionais: pessoas das áreas da saúde, assistência social e educação; hospi-

tais; maternidades; clínicas de vacinação; escolas e entidades de treinamento e formação;

4. O terceiro setor como um todo.

Nossa estratégia prevê um relacionamento estreito com os diversos canais de comunicação.

A plataforma digital jogará um papel-chave na construção de relacionamento e dissemi-

nação de conhecimento, pois a internet é um veículo que atinge todos os nossos públicos-

alvo. Na mídia impressa, a assessoria de imprensa e diferentes publicações, incluindo

newsletters, livros, fascículos e relatórios de atividades, financeiros e de tendências. Outra

forma de divulgação, que já vimos utilizando há alguns anos, é a produção de workshops e

A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) traçou três objetivos de comunicação para

seu Programa de Desenvolvimento Infantil (DI):• divulgar o conhecimento existente

e as boas práticas sobre o assunto;• educar os públicos-alvo sobre o DI;

• estimular mudanças na cultura da sociedade.

88 89

a participação em eventos de terceiros. Acreditamos que assim promovemos a integração

da Fundação às redes sociais.

Existe ainda uma possibilidade muito interessante, no que diz respeito à estratégia de dis-

seminação, que é a criação de um curso de especialização em DI: em parceria com uma

universidade, desenhar cursos que ofereçam formação a profissionais que atuarão com

famílias e crianças de 0 a 3 anos.

Push and Pull

No desenvolvimento de nossa estratégia de comunicação, criamos nosso próprio conceito

de “Push and Pull”.

O que chamamos de “Push” são as iniciativas de comunicação que capacitam os “cuida-

dores profissionais” – das áreas de saúde, educação, assistência social, etc. –, buscando

melhorar a qualidade do cuidado dispensado às famílias e às crianças. O “Push” dá as

ferramentas para semear o DI, ensinando a fazer, ensinando a ensinar, multiplicando a

informação e gerando melhores práticas.

Por outro lado, o que chamamos de “Pull” busca cultivar o desejo pelo DI na sociedade

em geral. Serão esforços de comunicação dirigidos principalmente aos pais, informando

e criando consciência sobre a importância dos primeiros anos de vida para a formação da

“arquitetura emocional” do futuro adulto.

Assim, o “Pull” reforça a consciência sobre a relevância do DI, enquanto o “Push” propor-

ciona melhores condições de fazer as práticas chegarem ao público final.

A estratégia de “Push and Pull” pode ser usada tanto na comunicação de massa quanto na

comunicação de um para um (chamada one by one). Nos esforços “Pull”, por exemplo,

a comunicação pode se dar por meio físico (impressos, de um modo geral) ou virtual,

por meio das redes sociais, newsletters e e-mail marketing. No vetor “Push”, workshops e

cursos são excelentes canais de comunicação para formar capacitadores e engajar nosso

público-alvo, os multiplicadores da nossa mensagem.

Acreditamos que unindo as iniciativas do tipo “Push” com as ações “Pull”, geraremos me-

lhores condições para que o público venha a se engajar no tema mais do que ser apenas

um receptor das mensagens.

Delimitando o público

O que nós buscamos, em última instância, é disseminar o conhecimento sobre o desenvol-

vimento infantil. É para isso que o Programa de DI da Fundação nasceu e trabalha: para

fomentar, da melhor maneira possível, o cuidado adequado para garantir o bom desenvol-

vimento da criança. Nosso público-alvo final são as mães e os pais. Em seguida, a família

mais próxima, os cuidadores e aqueles que querem vir a ser pais. Esses, muitas vezes, são

tão importantes quanto a família grávida ou a família com filhos, pois já estão imersos no

universo infantil.

CAPÍTULO 5CONCEITOS PARA UM PLANO DE COMUNICAÇÃO DA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL

IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE COMUNICAÇÃO DA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL

CARLOS PINTO

90 91

Em seguida, temos o segundo círculo, que é a família

ampliada: tios, tias, padrinhos e avós. São os núcleos fa-

miliares imediatamente periféricos, que estão emocio-

nalmente envolvidos com a criança. Aí estão também

os amigos, a pré-escola, a creche e as assistentes que

ajudam os pais a cuidarem da criança. E, finalmente,

temos os hospitais, médicos, postos de saúde, planos

de saúde, governos, operadores de justiça. Nessa lista,

entram ainda os formadores de opinião, o terceiro se-

tor e as entidades religiosas. Esse círculo periférico é o

principal alvo das ações que chamamos de “Push”, de

disseminação, multiplicação e prática.

No Brasil, existem aproximadamente 13 milhões de

crianças de 0 a 3 anos. É um público muito grande. A

beleza desse esforço é o equilíbrio entre o “Push” e o

“Pull”. É criar o desejo e gerar ferramentas que respon-

dam àquele desejo. Tudo em prol do desenvolvimento

infantil, de melhores condições para desenvolver o ple-

no potencial da criança.

Colocando em prática

Atualmente, fazemos parcerias com o primeiro e o

terceiro setor por meio dos projetos comunitários com

prefeituras de seis cidades do interior do estado de São

Paulo. Outros projetos podem ser realizados com as

várias esferas de governo, bem como com a iniciativa

privada e mesmo com outras Fundações.

Nesse sentido, duas possibilidades interessantes nos

ocorreram. A primeira é o merchandising. Poderíamos

tentar inserir dentro de uma novela o tema do desen-

volvimento infantil, por meio do que é chamado mer-

chandising social. Uma iniciativa como essa pode ter

um papel único na tarefa de sensibilizar as mães para

o tema do DI.

A outra possibilidade é o porta a porta. A maior rede de

vendas de produtos cosméticos porta a porta do Brasil

tem cerca de 1,2 milhão de representantes que visitam

de 40 a 50 milhões de lares, a cada dois meses. A re-

presentante fica de 5 a 15 minutos conversando com

as mulheres e sabe quais delas têm uma criança de

0 a 3 anos, ou que estão pensando em ficar grávidas.

Essa representante pode tirar de sua sacola um folheto,

um DVD e, em 30 segundos, replicar o conhecimento

sobre DI em 40 milhões de lares. Uma parceria dessa,

para nós, seria extremamente valiosa.

Com isso, novamente, poderemos criar um equilíbrio

entre o “Push” e o “Pull”: entre levar as ferramentas

e o treinamento racional e prático, ao mesmo tempo

em que tocamos corações e envolvemos as pessoas

nessa causa.

O primeiro passo é estabelecer o marco zero, antes de

começar a trabalhar, para, depois do plano implemen-

tado, medir os resultados. Existe, no primeiro momen-

to, certa inação, período em que as pessoas, para as

quais queremos falar, ainda não têm a atenção voltada

para o desenvolvimento infantil.

Em um segundo momento, essas pessoas já estarão

familiarizadas com o tema. É uma etapa em que

elas acham o assunto relevante e interessante. Com

isso, vão buscar informações que levem à ação. A

etapa final é a da consolidação, tanto dos conheci-

mentos quanto dos comportamentos.

A medição dessas ações, idealmente, deve ser feita

antes, durante e depois do trabalho, qualitativa e

quantitativamente.

Resumo do Plano

O que apresentamos aqui é a plataforma do plano de

comunicação sobre o qual vimos trabalhando e que

queríamos compartilhar com vocês. Este Workshop foi

estruturado para gerar contribuições que serão incor-

poradas ao Plano. A seguir está um resumo das quatro

áreas-chave do plano para sua avaliação e comentários:

• Público-alvo: mães e pais, cuidadores profissionais,

formadores de opinião, terceiro setor e governo.

Não podemos falar da mesma maneira com todos

eles. Devemos priorizar uns para uma tarefa e ou-

tros para outras;

• A estratégia do “Push and Pull”: qual o melhor

equilíbrio entre quanto vamos criar de desejo e

motivação, envolvendo emocionalmente os pais,

e quanto vamos capacitar e dar ferramentas aos

profissionais que têm influência sobre os pais? Em

outras palavras, qual será o equilíbrio entre criar

o desejo e capacitar para tarefas, entre o apelo

emocional e o instrumental?

• Canais de comunicação: qual o melhor equilí-

brio entre os canais virtuais de comunicação,

com todas as possibilidades do uso da internet,

e os meios “físicos” (revistas, fascículos, folhetos,

publicações e impressos)?

• Novos caminhos: um exemplo é a possibilidade

que mencionamos de merchandising em TV, que

também pode ser chamado de Entertainment

Education (Educação de Entretenimento), um

tema já muito abordado pelo terceiro setor. É uma

forma de dar às pessoas acesso à educação com o

apoio do entretenimento – aspecto que as ajuda a

se envolver emocionalmente, como no caso da no-

vela, citado anteriormente.

CARLOS EDUARDO CORRêA PINTOEstudou Propaganda no Instituto Superior de Comu-

nicação Publicitária Anhembi-Morumbi. Iniciou em

agências de propaganda nas áreas de fotografia e cria-

ção. Trabalhou por mais de 20 anos no atendimento e

planejamento estratégico da JWT - J. Walter Thomp-

son no Brasil, EUA e México, além de dirigir a opera-

ção da conta Ford Motor Company para a região da

América Latina e participar de inúmeros projetos nos

EUA, Europa e Ásia. Mais recentemente se associou

à MCR Records, produtora de música para propagan-

da e foi Diretor de Planejamento na NBS Comuni-

cação, tanto no escritório do Rio de Janeiro quanto

no de São Paulo. Desde julho de 2009 faz parte da

equipe da FMCSV.

CAPÍTULO 5CONCEITOS PARA UM PLANO DE COMUNICAÇÃO DA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL

IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE COMUNICAÇÃO DA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL

CARLOS PINTO

CONSIDERAÇõES FINAIS

94 95UNIÃO DE ESFORÇOS

No III Workshop Internacional, a disseminação do

conhecimento sobre Desenvolvimento Infantil (DI)

como ferramenta de mudança de comportamento foi o

tema principal do debate. O evento proporcionou um

rico e esclarecedor intercâmbio de informações sobre

vários projetos. A troca de experiências revelou que os

obstáculos para se realizar um projeto são semelhantes,

tanto nos países em desenvolvimento quanto nos países

desenvolvidos, e que criatividade é fundamental para

superar as adversidades. O evento permitiu ainda apro-

fundar e conhecer a opinião de outros profissionais,

assim como as diversas estratégias para superar dificul-

dades comuns como a falta de recursos, seja do ponto

de vista financeiro, seja de material para divulgação.

O Workshop possibilitou compreender como funciona

a comunicação institucional de fundações e institutos

empresariais. Estavam presentes também representan-

tes dos seis projetos comunitários que a FMCSV apoia

no interior do estado de São Paulo, bem como especia-

listas brasileiros e estrangeiros, que, em seu conjunto,

formam uma comunidade internacional de referência

na área de DI.

No decorrer do Workshop, algumas conclusões torna-

ram-se evidentes:

• O papel dos agentes de saúde é fundamental para

a disseminação da informação de como cuidar das

crianças de 0 a 3 anos. Por isso, é preciso que esses

profissionais recebam treinamento adequado e se-

jam frequentemente atualizados.

• Outra necessidade é descobrir uma nova linguagem

para falar mais diretamente com pais e cuidadores,

tratando-os como protagonistas, em vez de concen-

trar a atenção exclusivamente nos médicos, enfer-

meiros e professores.

• Na visão do público participante do III Workshop,

a mídia divulga poucas notícias sobre crianças, e

quando o faz, muitas vezes, a matéria está vincula-

da a algo negativo. Em outras ocasiões, especialistas

não são procurados para comentar o assunto.

• Uma das soluções propostas para a abordagem do

DI na mídia televisiva é o uso do humor e a adapta-

ção da exibição dos programas a horários compatí-

veis com a disponibilidade dos pais.

• O Brasil tem cerca de 13 milhões de crianças entre

0 e 3 anos. É preciso fazer o acompanhamento do

projeto de forma integral e promover a interação da

criança com seus pais, em especial com a mãe.

• A comunidade desempenha uma função crucial

para a disseminação de conhecimento, por isso, é

importante garantir que ela absorva esse conheci-

mento de maneira correta.

Com base nessas considerações e em sua própria expe-

riência, a FMCSV considera que a criação de um pla-

no de disseminação de conhecimento sobre DI deva

atender aos seguintes requisitos:

1. Identificação e aquisição de conhecimento. Existe

muito conhecimento já desenvolvido por meio de

pesquisas, estudos e reflexões. Pode-se buscar esse

conteúdo na literatura acadêmica e em redes de tro-

ca de informações sobre DI.

2. Aplicação e geração de conhecimento. Apoio a

pesquisas que tenham como objeto a faixa etária

com a qual a Fundação atua e que estejam de

acordo com sua missão e visão. A geração de co-

nhecimento também pode ser realizada por meio

de projetos comunitários.

3. Finalmente, a sistematização e a disseminação do

conhecimento. Essas informações podem ser di-

vulgadas por meio de eventos, publicações e sites,

entre outros.

A FMCSV apoia a realização de projetos importantes,

reflete, dialoga, avalia e busca seu próprio crescimen-

to, sempre contando com a união de esforços. A Fun-

dação pretende continuar caminhando nessa direção

para cumprir sua missão: desenvolver a criança para

desenvolver a sociedade. Acreditamos que quanto mais

a FMCSV for capaz de articular o conhecimento,

maior será o potencial de seu trabalho e o benefício

para as crianças e para a sociedade.

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