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II GUERRA MUNDIAL De homens anônimos a heróis anônimos: A Força Expedicionária Brasileira e a participação dos paranaenses no período do conflito Fonte: Acervo Museu do Expedicionário CADERNO TEMÁTICO LONDRINA – 2008

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II GUERRA MUNDIAL De homens anônimos a heróis anônimos: A Força Expedicionária Brasileira e a participação dos paranaenses no

período do conflito

Fonte: Acervo Museu do Expedicionário

CADERNO TEMÁTICO

LONDRINA – 2008

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Estrutura Organizacional

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE ESTADO DO PARANÁ

NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE IVAIPORÃ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

Autor ELIAQUIM SÉRGIO CHAVES DA CONCEIÇÃO

Área de Atuação História

Orientador Prof. Dr. JOSÉ MIGUEL ARIAS NETO

LONDRINA – 2008

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“ESTE É TEMPO DE DIVISAS, TEMPO DE GENTE CORTADA... É TEMPO DE MEIO SILÊNCIO, DE BOCA GELADA E MURMÚRIO, PALAVRA INDIRETA, AVISO NA ESQUINA.” CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

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Sumário.

Apresentação ....................................................................................................... 05 Texto 01 – Problematização ................................................................................06 Texto 02 – Memória e Identidade ......................................................................06 Texto 03 – Contextualizando o Brasil de 1940 ...................................................08 Texto 04 - O Brasil Entra na Guerra ..................................................................11 Texto 05 – A Constituição da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ............13 Texto 06 – A Desmobilização da FEB................................................................. 18 Texto 07 - A Experiência e expectativas de ex-combatentes na região

Do “Vale do Ivaí”...................................................................... 20

Referências Bibliográficas.....................................................................................23

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Apresentação.

Reconhecer um passado, transformando-o em uma memória viva e presente, é um dos trabalhos que a

sociedade brasileira está aprendendo a fazer e que muito ainda tem a contribuir para o desenvolvimento cultural do País.

Com o estímulo oferecido através desta iniciativa de retorno dos profissionais da Educação Pública aos

estudos acadêmicos, possibilitou retorno a experiências coletivas, entre teoria e prática, tanto com nossos pares, quanto

com a eficiente ação das Instituições de Ensino Superior.

Neste percurso, apresento como um dos trabalhos, este CADERNO TEMÁTICO, o qual tem a intenção de

contribuir sobre a historiografia da II Guerra Mundial, descobrir ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira, ou

mesmo familiares residentes no Paraná, e, em especial da região conhecida como “Vale do Ivaí”, e conhecendo a eles e

suas memórias, compreender a sua participação na guerra, bem como as implicâncias referentes ao seu retorno e sua

integração nas famílias e na sociedade paranaense. Pretende-se também, evitar o esquecimento progressivo dos

horrores da II GUERRA MUNDIAL, bem como o distanciamento e desconhecimento da maioria da população sobre as

ações da FEB do Paraná, além de oportunizar a inserção do tema nas ações pedagógicas das Escolas Públicas do

Estado do Paraná.

*Eliaquim Sérgio Chaves da Conceição.

* Professor de História do CEEBJA-Ivaiporã, pós-graduado em Educação de Jovens e Adultos-UFPr., experiência profissional como Inspetor Estadual de Educação, Secretário Municipal de Educação, Chefe de Núcleo de Ensino e Presidente de APAE.

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TEXTO 01 – PROBLEMATIZAÇÃO.

Você sabe de onde eu venho?

Venho do morro, do Engenho,

Das selvas, dos cafezais,

Da boa terra do coco,

Da choupana onde um é pouco,

Dois é bom, três e demais,

Venho das praias sedosas,

Das montanhas alterosas,

Dos pampas, do seringal,

Das margens crespas dos rios,

Dos verdes mares bravios

Da minha terra natal.

Guilherme de Almeida.

Pessoas simples, representadas por lavradores, trabalhadores de

vários ofícios, estudantes, moços de escritórios do Paraná,

juntamente com outros tantos jovens, gaúchos, mineiros,

cariocas, paulistas, nordestinos. Enfim, brasileiros do Norte e

do Sul, do Leste a Oeste se mobilizam para enfrentarem aquele

que seria o maior conflito do mundo do século XX.

Muitos sequer suspeitam, que seria aquela uma época de

precariedades e dificuldades, tanto para os que foram, quanto

aos que aqui ficaram. Muitos não voltariam ao convívio com os

seus. Outros, embora festejados e muitas vezes admirados,

teriam uma reintegração social e familiar de extremas

dificuldades.

Texto 02.

MEMÓRIA E IDENTIDADE.

Reintegrar o passado, perceber a identidade presente e projetar um passado mais justo e humano, constitui a dimensão política do trabalho do historiador. (ARIAS NETO, p 81).

Compreender a memória de um grupo social é de fundamental

importância para se compreender a sua identidade, seja ela

local, regional ou de uma nação. Ao compreender o valor da

memória, é possível perceber como ocorre o seu

relacionamento entre a identidade individual e coletiva e o

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correto entendimento desta relação nos dará suporte para

compreendermos o papel da memória na construção da

identidade cultural de grupos ou segmentos brasileiros, e,

principalmente, como esta construção lidou com o processo de

lembranças e esquecimento da memória da Força

Expedicionária Brasileira (doravante FEB).

(...) vale dizer que a memória e a identidade podem perfeitamente ser negociadas, e não são fenômenos que devem ser compreendidos como essências de uma pessoa ou de um grupo. (...) a memória e identidade são valores disputados em conflitos sociais e inter-grupais. (www.memóriaeeducacão.com.br. Acesso julho 2008).

Segundo Habermas, a identidade liga-se a memória porque o

que nos torna diferentes é a nossa própria história e o que nos

iguala é o nosso esquecimento, e como o aspecto fundamental

da memória reside no fato, de que sua construção ser

impossível sem o embate e a negociação com o outro, e ainda,

que tanto a memória, quanto a identidade ser objetos de disputa

entre os diferentes grupos sociais pelas predominâncias de seus

valores na sociedade. Analisar a expressão da FEB nas

memórias dos múltiplos grupos sociais brasileiros, leva-nos

obrigatoriamente, a pensar na realidade da educação oferecida

em nosso país, e especialmente na trajetória de ensino

vivenciada pela disciplina de história.

(...) A decadência do ensino e a dura realidade Social são argumentos bastantes convincentes para justificar a ignorância sobre a FEB, mas uma pesquisa feita por amostra entre alunos da USP em 1990 revelava que 70% dos estudantes da Universidade considerada como a melhor do país, desconheciam o significado da sigla FEB.(FERRAZ, F.C.A. Anais da ANPOC 2001).

São escassos os trabalhos sobre a FEB no Brasil, tanto no que

diz respeito à pesquisa universitária, quanto a difusão do

conhecimento existente em nível de ensino fundamental e

médio. Assim, o provável é que as memórias e autobiografias

sejam as fontes mais abundantes sobre o tema em questão.

A escola é um dos principais instrumentos de formação e de perpetuação de valores e convenções de uma sociedade. É nela que festejos, comemorações e aulas, organizados em torno de certas datas cívicas ou eventos, reforçam na memória dos alunos fatos e nomes que devem ser lembrados. (ROCHA, R . de Cássia. Temas e questões para o Ensino de História do Paraná. Eduel 2008).

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A realidade do Brasil em sua prática escolar é perceptível a

existência de um discurso histórico dominante, que serve de

embasamento para a formação da consciência e da memória

coletiva da sociedade, e que o mesmo pode ser exercido tanto

no sentido de manipular a memória individual e coletiva,

quanto para garantir que certos fatos não sejam (ou sejam)

esquecidos. “No caso da segunda Guerra Mundial, o peso da memória e seus silêncios, e o da historiografia, e de suas omissões, é muito intenso. Seria inteiramente fundamental que se recuperasse a memória e a história dos soldados da FEB, dos aviadores da FAB, brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial na Europa. É preciso falar desta experiência, da dor e do sofrimento dos mortos e dos sobreviventes. Esta postura nada tem de nacionalista. A memória dos pracinhas brasileiros, que deve ser preservada e contada, é parte da memória da população do país.(CYTRYNOWICZ, R. p 23)

O pensamento atual, e em consonância com as

Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, a

finalidade da história é desenvolver a consciência

histórica, neste sentido, pesquisar e referenciar a

memória é fundamental para desenvolver nas pessoas

um sentimento de pertencimento, como também conferir

ao indivíduo um ponto de referência, uma cultura

própria, que possa se contrapor ao discurso homogêneo

e globalizante atual, sendo extremamente necessário

para a compreensão da história e da memória local,

para o estabelecimento de relações entre a micro e a

macro História. (BOING, 2007).

TEXTO 03.

CONTEXTUALIZANDO O BRASIL DE 1940.

“la história nacional es el vínculo que nos une e todas lãs generaciones que nos procedieron em el mismo solar que nosotros habitamos. Este nexo afectivo, com nuestros antepasados hace que sus glórias, sean tambiém lãs nuestras, demuestra la unidad de destino de uma comunidad y despierta y fomenta, em definitiva, el sentimiento patriótico. (CERRI, Luiz Fernando (p 57).

Não se trata aqui de transformar a história nacional na

cristalização da compreensão linear do tempo e das

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coisas, e sim de situar o contexto onde se insere as

condições de vida da maioria da população.

O Brasil no início da década de 40 concentrava a

maioria de sua população em uma pequena faixa

estreita ao longo do litoral. Segundo dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o Brasil

com uma população de pouco mais de 40 milhões de

habitantes, e o Paraná com 1.236.276 pessoas e deste

total apenas 140.656 habitantes era a então população

de Curitiba, neste período apenas o Rio de Janeiro a

então capital do Distrito Federal e a cidade de São

Paulo apresentavam população superior a um milhão de

habitantes.

Com raras exceções, tais como a região cafeeira

paulista, espaços de criadores de gado no Rio Grande

do Sul, mineração da região das Alterosas e o

extrativismo vegetal da borracha do interior da

Amazônia, as atividade que se destacam na economia

brasileira, é representada pelas atividades rurais como

a monocultura do café, algodão, cana de açúcar, cacau

e alguns produtos como os de origem animal, as quais

proporcionam ao interior uma baixa densidade

populacional.

Neste Estado de economia e com o declínio dos preços

dos produtos latifundiários agro-exportador, dos

engenhos de açúcar arruinados, das secas e da miséria

onde grande parte do Brasil colonial nasceu, grande

fluxo populacional migram para os grandes centros em

busca de fartura e riqueza, episódio este retratado por

Graciliano Ramos, em Vidas Secas, segundo o qual

nem o remodelamento de Recife, uma das principais

capitais do nordeste brasileiro resolveu o surgimento de

mais de 45 mil mocambos, com estimativas de 165 mil

pessoas vivendo sobre os mangues, em lama e miséria.

As condições de saúde da população bastante precárias

demonstravam o Brasil um país doente.

1937 – Apenas a peste bubônica decresceu este ano, depois das profilaxias empreendidas no nordeste, principal foco da moléstia. Já a Lepra e a Doença de Chagas continuam dizimando a população (só no Rio de Janeiro ocorreram mais de seiscentos casos este ano). Quanto a Tuberculose, mais de 10 mil pessoas em todo o país receberam doses de vacina

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BCG, número que se revelou insuficiente, pois se registraram meio milhão de casos de doença. Na área de distúrbios mentais, a situação não é diferente: em dezesseis Estados constatou-se um total de 13332 psicopatas internados. E como há poucos manicômios no país, a grande maioria dos alienados está recolhida nas prisões”.(p42. 100 Anos de República V. 5).

A Nação brasileira era altamente dependente de

investimentos externos. Não dispúnhamos de infra-

estrutura industrial e quase todo o setor é controlado por

capital estrangeiro.

A comunicação interna se dava através dos correios e

telégrafos, quando as linhas não estavam interrompidas,

já a comunicação internacional também de forma

precária era organizada por empresas não nacionais.

Os transportes de longa distância se dava por

embarcações fluviais do Rio São Francisco a Bacia do

Prata ou mesmo pelos coletivos então conhecidos por

“pau de arara”, (caminhões com carroceria e bancos de

madeira coberta por lona).

As rodovias não possibilitavam as interligações

estaduais, com raras exceções, tais como, trechos Rio -

São Paulo, e Curitiba-Paranaguá, enquanto no setor

ferrovias não havia padrão de bitolas e estavam

entregue a exploração de capital internacional.

A escolarização baixíssima com expressivos números de

analfabetos, alguns poucos privilegiados mantinham

algum nível de informação através de leituras de

periódicos e jornais. Embora o Brasil já tenha um

sincretismo religioso, para a grande maioria da

população as “verdades” vinham do poder da Igreja

Católica preconizadas pelo lema “Deus, pátria e família”.

No entanto, o Departamento de Imprensa e Propaganda

– DIP, criado pelo Estado Novo se constituía na grande

fonte de informação, onde, orientado pela censura e

propaganda política patrocinava a publicidade do regime

nos livros escolares, nas festas nacionais, nos

documentários antes de começar o filme principal, nos

rádios e até mesmo nas letras de musica e nos sambas

enredos dos carnavais.

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Texto 04.

O BRASIL ENTRA NA GUERRA

(...) o povo é sempre manipulado nas questões políticas (BORDIEU. O uso do Povo. Coisas Ditas 1990). Sob o pretexto da ameaça do plano Cohen, o governo Vargas reuniu o Congresso para a votação do “estado de guerra”, com a suspensão dos direitos constitucionais. (100 Anos de República. V. IV. P 44).

Em 1937, Getúlio Vargas apoiado pelo comando das

Forças Armadas, por grande parte dos governos

estaduais, ordenou que a polícia militar fechasse o

Congresso Nacional. Cancelou as eleições Presidenciais

e decretou o Estado Novo (1937-1945) e no mesmo dia

anuncia via rádio a nova constituição do Brasil, a qual foi

redigida pelo Jurista Francisco Campos e inspirada nas

leis do regime fascista polonês do Marechal Pilsudsk,

instalando no Brasil uma ditadura marcada por

manifestações de simpatia demonstradas pelos

movimentos totalitários de direita (Ação Integralista

Brasileira-AIB) e por astutos procedimentos forjados na

popularidade conquistada através de manipulação de

informações, censura aos meios de comunicações,

exacerbação da identidade nacional, e controle do

Estado através da estruturação e legitimação do poder

de ditador. “ nós edificaremos uma nova Alemanha no Brasil...nós temos direitos adquiridos sobre este continente...onde... pioneiros alemães possuíram terras e exerceram suas atividades” . Frase atribuída a Hitler em 1933, ano em que os nazistas subiram ao poder. (100 Anos de República. V. IV, p. 53).

Para o governo de Getúlio Vargas, a guerra européia

criou diversos problemas. As estreitas relações

comerciais com a Alemanha, aliadas às simpatias de

governo e fora dele pelo regime fascista e a presença

de grande número de habitantes principalmente no Sul

do Brasil de origem alemã, levam o governo de Vargas

a decisão de abster-se de qualquer ato que, direta ou

indiretamente, facilite, auxilie ou hostilize as ações

beligerantes, inclusive impedindo o povo brasileiro ou

mesmo estrangeiros residentes no Brasil a praticarem

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atos que possam ser considerados incompatíveis com

os deveres de neutralidade do Brasil.

Porém, o Brasil não podia mais girar apenas em torno

da agroexportação. Era preciso industrializar. E não

havia no país uma Indústria de Base, também

chamadas de bens de capital ou de produção. Vargas

com habilidade política fez jogo duplo com os Estados

Unidos e com a Alemanha e acabou conquistando

financiamento americano para a construção da

Companhia Siderúgica Nacional em Volta Redonda.

Assim o governo brasileiro, oscilava entre o Fascismo

de Mussolini, parceiro de Hitler ideologicamente

presente no governo com General Dutra e Góes

Monteiro de sua equipe os quais defendiam a Alemanha

Nazista, e a América Democrática onde laços

econômicos prendem o Brasil ao circulo de parceiros

americanos interessados na hegemonia econômica,

política e militar sobre a América.

Com bombardeio pelo Japão da base americana de

Pearl Harbor no Hawai em 1941, a América sentindo-se

ameaçada, faz realizar no Rio de Janeiro a Terceira

Reunião de Consulta dos Ministros das relações

Exteriores, A Conferência dos Chanceleres, onde o

governo brasileiro anuncia o rompimento das relações

diplomáticas com as potências do eixo.

Logo após o rompimento das relações diplomáticas

brasileira, o navio mercante Cabedelo, navegando em

águas do Atlântico foi torpedeado por submarinos

alemães. E, a partir de março de 1941, o Brasil já teria

sofrido com torpedeamento em mais cinco Navios de

sua frota, oportunizando Vargas a tomar as primeiras

medidas contra as potências do eixo, tais como a de

restringir as atividades das pessoas de nacionalidade

das potências do eixo e de responsabilizá-los pelas

indenizações de guerra

“...considerando que...unidades desarmadas da Marinha mercante brasileira, viajando com fins de comércio pacífico, foram atacadas e afundadas... considerando que tais atos constituem uma agressão não provocada... os bens e direitos dos súditos alemães, japoneses e italianos, pessoas físicas ou jurídicas... respondem pelo prejuízo...” (100 Anos de Republica, v. V, p.10).

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O torpedeamento e o afundamento dos navios brasileiros

levam milhares de pessoas para as ruas do centro do Rio

de Janeiro, onde, com o grito de GUERRA como palavra

de ordem, levam o Brasil á declaração de Guerra aos

países do eixo, em agosto de 1942.

TEXTO 05.

A CONSTITUIÇÃO DA FORÇA

EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA (FEB).

O Governo do Presidente Vargas, estabelecendo uma

visível contradição no interior da vida política nacional

alia-se aos EUA e em agosto de 1942 declara guerra

contra o nazi-fascismo. Soldados de todos os Estados

brasileiros foram enviados para a Itália para lutar contra

a opressão e a ditadura que avançava pela Europa e

pelo mundo, o paradoxo é que dentro de nossas

próprias fronteiras vivia-se uma situação muito

semelhante, com prisões, torturas, deportações,

censuras à imprensa, partidos políticos, daí, resultando,

uma relação conflituosa entre o poder político e as

entidades na preservação da memória da FEB.

“...Não o pintam como um belo herói, um formoso guerreiro da neve. Não é super-homem. É exatamente um sujeito não muito forte, não muito alto, não muito branco. Um desses sujeitos, como há aí em qualquer trem de subúrbio, em qualquer sítio do interior. Este tipo de brasileiro comum, mas feio que bonito, mais desajeitado do que elegante..” (BRAGA, Rubem, p. 136).

Solidificado a participação do Brasil na guerra junto ás

forças aliadas, o General Dultra, Ministro da Guerra

obtém do Presidente da República autorização para

formar a FEB, inicia-se a divulgação da Campanha de

Alistamento voluntário para a guerra. A propaganda foi

veiculada através dos programas de rádio, cartazes e

cinemas e jornais, a favor da mobilização da nação pela

luta da democracia, no sacrifício da população e na

missão do brasileiro de defender a pátria contra o nazi-

fascismo.

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Em Urupês (1918), Monteiro Lobato criou afigura do Jeca Tatu, o clichê do caipira ignorante, que não tinha ânimo para trabalhar, que preferia ficar parado, fumando o cigarrinho de palha em pensar em nada, incapaz de se incorporar ao progresso e a modernidade. Durante muitos anos o país guardou a imagem estereotipada do caipira, bobo e preguiçoso, a metáfora do povo brasileiro, cronicamente incapaz de se civilizar. Ou seja, éramos atrasados por conta do próprio povo. O próprio Monteiro Lobato refez suas idéias e escreveu: “Eu ignorava que eras assim, meu caro Jeca, por motivos de doenças tremendas. Está provado que tens no sangue e nas tripas todo um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga e inerte. (SCHMIDT, Mario Furley. P.555).

Apesar de certas reservas por parte do Alto Comando

dos Estados Unidos, o Brasil planejava enviar para a

frente de batalha cinco divisões, num total de 100 mil

homens, ficando porém decidido a incorporação de 60

mil brasileiros. Após dois anos de intensiva divulgação

de campanha de alistamento, a FEB teve um número

ínfimo de alistados aceitos em suas fileiras.

Os esforços para fugir do recrutamento, através do

apadrinhamento político, tornaram-se um grave

problema. Francisco Ferraz (A Guerra que não

acabou...p 73), afirma que o “jeitinho” para não ir a

guerra incluía até mesmo os militares da ativa. A

conseqüência destas atitudes refletem, diretamente no

moral do expedicionário e foi fato marcante no processo

de reintegração dos ex-combatentes no pós-guerra .

O processo de mobilização militar para formar os

quadros da FEB se deu em todo o território nacional,

teoricamente para reforçar a imagem do esforço da

nação como um todo, está ação trouxe como

conseqüência uma grande diversidade de convocados,

formando os mesmos uma massa diversificada em

quanto estado de origem, grau de instrução, crenças

políticas e religiosas.

Não havia grandes normas para a convocação e

seleção, as idades variavam entre 20 e trinta anos e até

mais. Não se levou em consideração o estado civil ou

mesmo grau de instrução. Em sua profissão os

combatentes convocados, na maioria eram lavradores,

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pequenos sitiantes, agricultores modestos, operários

urbanos e empregados do comércio.

As questões instrucionais, dificultam a seleção de

soldados que pudesse manejar com eficiência as

funções mais técnicas, como mecânicos, motoristas ou

operadores de rádio.

No aspecto saúde, os resultados da seleção inicial

mostram que muitos foram reprovados por insuficiência

física, doenças crônicas ou analfabetismo. Por essa

razão a FEB acabou incorporando praças e oficiais de

todos os Estados da Federação, independente de

serem recrutas convocados, voluntários ou militares

regulares. Foi preciso rebaixar o nível de exigências dos

exames, para incluir na FEB os classificados como

“normais”, e também rever os resultados como os

“incapacitados”. (FERRAZ, F.C.A. p 81-90).

Os expedicionários ganharam um termo para designa-los, o “pracinha”. Suas origens são obscuras. O Capitão da Reserva Amador Cysneiros, que na FEB serviu na 2ª auditoria da Justiça Militar, sugere que o termo tenha nascido a bordo do navio de transporte “General Mann”,

numa enquête realizada pelo jornal de campanha “E a Cobra fumou...” sobre o qual deveria ser o nome genérico do soldado brasileiro na Itália. Vários nomes teriam sido aventados como: “guerreiros”, “Tupi” e “Cobra” sem sucesso. Mas alguns já chamavam-nos de “pracinha” e assim ficou popularizado. Para a imprensa, tratava-se de uma forma carinhosa de chamar os soldados brasileiros. Nem todos os expedicionários concordam, porém, com esta expressão. Para estes, o termo é “um diminutivo infame”, sugerindo que os expedicionários, e depois da guerra veteranos, fossem “uns coitadinhos”, estabelecendo “uma situação de dependência e de inferioridade do designado”. ( FERRAZ, F.C.A. p. 99).

A intenção era selecionar uma elite de soldados

brasileiros, que pudessem fazer frente ao propalado

gigantismo e superioridade do homem alemão, mas as

dificuldades institucionais, aliadas ao despreparo e a

falta de material de guerra moderno, criou um

sentimento generalizado de despreparo, onde para a

grande maioria era totalmente inviável o grupo embarcar

e lutar na guerra.

A seleção das tropas para compor a FEB foi executada

em todas as Regiões Militares do Brasil, a grande

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maioria dos selecionados, vieram do Distrito Federal, da

2ª RM de São Paulo, da 4ª RM de Minas Gerais e da 9ª

RM de Mato Grosso. A 5ª Região Militar foi composta

pelos Estados do Paraná e de Santa Catarina. Os

expedicionários paranaenses eram integrantes de três

regimentos de infantaria, 9º Batalhão de Engenharia e

Corpo de Voluntários de Enfermaria, além de outras

unidades que compuseram o 1º DIE.

A FEB segundo Francisco Ferraz (P.13) foi uma divisão

de exército, de estrutura ternária composta de unidades

variadas. As unidades mais citadas é o regime de

Infantaria, que é composto de três: o 1º RI do Rio de

Janeiro, o 6º RI de Caçapava (SP) e o 11º RI de São

João Del Rei. Os três regimentos que compuseram a

FEB formaram a Infantaria de sua divisão. Embora em

cada regimento abrigassem soldados de todos os

Estados, havia, em cada um, concentração maior de

pessoas de seu Estado de origem.

Eles lutam. Não são muitos, mas lutam, e

lutam honradamente, lutam direito, lutam

dia e noite, ao frio e a chuva, uma luta

penosa. Não precisam que ninguém, aqui

ou aí, exagerem o que fazem, em trololós

patrioteiros. Eles não são monstros, são

lavradores, trabalhadores de vários ofícios,

estudantes, moços de escritório, simples

filhos de famílias, são rapazes brasileiros,

que foram mandados para aqui. E eles dão

conta do recado. ( BRAGA, Rubem. P.110-

111).

Em julho de 1944, sob o comando do General Euclides

Zenóbio da Costa, os primeiros combatentes brasileiros,

a bordo do navio norte americano General W. A Mann,

atravessam o Atlântico e desembarcam em Nápoles.

Do ponto de vista estratégico, a campanha na Itália foi

muito difícil e de lenta progressão. As forças germânicas

souberam aproveitar do terreno montanhoso do centro e

norte italiano, resistido à desocupação e tornando difícil

a tarefa dos aliados em derrotar e levar à rendição ás

tropas inimigas. Nos sete meses e dezenove dias de

combate realizados pela FEB, os expedicionários lutam

consecutivamente junto ao Rio Serchio e ao Rio Reno

nos trechos mais acidentados dos montes apeninos, e

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em dois meses enfrentam o mais rigoroso inverno

europeu com temperaturas baixíssimas e constante

fogo dos alemães. O batismo de fogo dos expedicionários brasileiros na Itália ocorreu no dia 16 de setembro. O 1º e o 2º Batalhões do 6º Regimento de Infantaria tomaram Massaroca. (100 Anos de República, V. V, p,22)

Não foi fácil para a força expedicionária enfrentar a

frente de batalha, transpor o rio Serchio, tomar o Monte

Prano e marchar em direção a Castelnuovo que se

encontrava em poder do inimigo, uma vez que além do

fogo dos alemães, ainda precisavam enfrentar a

escadaria íngreme batizada de “ponte do diabo”, único

caminho que dava passagem para levar as suas

pesadas peças de artilharia.

Apesar do intenso frio, e das condições extremas nos

campos de luta a FEB conquista o Monte Castelo em

janeiro de 1945, logo depois, março, tomam

Castelnuovo, última posição elevada da região e iniciam

a arrancada final na Itália. Objetivando a linha Gêngis

Khan, no vale do Pó e Passos de Brenner e Sillano,

onde em abril de 1945 enfrentam seu mais duro

combate e resultou na conquista de Monteses e regiões

vizinhas, Zocca, planície do Pó, ocupando Marano e

Vignola. Em final de abril, conseguem a rendição

incondicional da148ª Divisão de Infantaria Alemã, onde

em Fornovo di Faro, entregam-se 2 generais Alemães,

14.779 homens, oitenta canhões, 1,5 mil viaturas, 4 mil

cavalos e grande quantidade de armas e munições.

Depois ocupam a Alexandria e a própria Turim. Em 2 de

maio de 1945, o comando do V Exército deu por

encerrada a campanha.(100 anos de República.p.23-24-

25.)

No Brasil, às 13 horas do dia 08 de maio de 1945, as

sessões cinematográficas se interrompem, o povo canta

o Hino Nacional e os rádios transmitem o comunicado

pronunciado por Winstson Churchil, primeiro ministro da

Inglaterra anunciando a capitulação alemã. A Guerra

acaba e deixa um triste rastro de escombros e de

aproximadamente 40 milhões de mortos, entre campos

de batalha e campos de concentração e extermínio.

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TEXTO 06.

A DESMOBILIZAÇÃO DA FEB.

Em fim os soldados brasileiros retornariam do front e a

vida continuaria, após 290 dias de efetiva participação da

Força Expedicionária Brasileira no Front Italiano, a

guerra acabou. Os jornais estampam em suas

manchetes o fim da guerra, cronistas escrevem e

convocam a todos os patriotas brasileiros para celebrar o

grande acontecimento, e ao mesmo tempo já informam

os festejos, estimulando o ardor cívico da população.

No final de abril de 1945, as ações no processo de

desmobilização da FEB serão efetivadas por intermédio

do Estado Maior da FEB no Interior – EM-

FEB|INTERIOR, sob o comando do General Anor

Teixeira dos Santos. Para tal projeto, entre maio e junho

de 1945 de comum acordo entre autoridades brasileiras

e norte-americanas, foram apresentadas propostas de

instruções sobre os procedimentos de viagem, recepção,

aquartelamento das tropas, licenciamento dos febianos,

destino das bagagens e do material bélico capturados

em território de guerra italiano, devolução do fardamento

e dos equipamentos de uso pessoal utilizados na

campanha, concessão de medalhas e menções honrosas, organização das festividades para acolher os

ex-combatentes. (FERRAZ, F.C.A. A Guerra que não

acabou. P 115-117).

(...) todo militar que for evacuado da Força Expedicionária Brasileira, será recebido pelo Estado Maior da FEB, no interior e encaminhado ao primeiro destino... declaram que os uniformes usados pelos praças do Exercito na Itália, deverão ser restituídos urgentemente...só retornaram ao teatro de operações os que forem solicitados pelo Comandante do DIE, ou receberem ordem especial do Ministro de Guerra.....Os oficiais da reserva e os praças, ambos aptos serão licenciados desde que não tenham sua permanência asseguradas por lei. (Portaria 8.250. BRASIL. Ministério de Guerra).

O processo de desmobilização não ocorreu conforme as

propostas e instruções sugeridas. A Portaria 8.250,

dissolve a Força Expedicionária Brasileira ainda em

território Italiano, onde os ex-combatentes recebem os

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seus certificados provisórios de reservistas impressos em

uma tipografia de Milão. A dissolução da FEB da

maneira que foi feita, confirmava a prevenção do Exército

e do Governo Vargas (ditatorial) de evitar uma rebelião

contra a ordem constituída. A idéia governamental era de

que os expedicionários combatentes defenderiam a

democracia tanto na Europa quanto no Brasil. Pela

portaria 8.250 os soldados que haviam deixados seus

lares, foram sumariamente devolvidos as suas cidades

de origem, os quais deveriam retornar as atividades

desenvolvidas antes de serem convocados. Para muitos

ex-combatentes tais atividades agora não existiam mais.

Centenas deles não encontraram os empregos que

tinham ao serem convocados e muitos outros voltaram

doentes ou mutilados não tinham mais condições físicas

para qualquer atividade que lhes garantisse o sustento,

assim a Portaria não só provocou um sentimento de

ressentimento, como destruiu os símbolos relacionados a

existência da FEB, ao extinguir uniformes e retirar seus

dísticos .

Este processo de desmobilização gerou uma crítica

depreciativa pelo grupo de expedicionários e pelo grupo

de historiadores da FEB pela forma apressada como foi

elevado os atos e tramites antes mesmo de seu retorno

ao Brasil. Evidentemente, a desmobilização sucederia na

perspectiva militar, posto que a participação na guerra já

estava encerrada. O procedimento levou a equiparação

jurídica e política das Unidades de Divisão de Infantaria

às demais unidades de recrutados do exército em

território brasileiro. Sendo assim, as tropas

expedicionárias que chegavam do teatro das operações

na Europa, ficam subordinadas à autoridade do Ministro

Eurico Dutra e não mais ao Comandante Geral da FEB

Mascarenhas de Morais, destituído de sua autoridade

sobre as tropas desde julho de 1945 e afastado entre

julho e novembro em viagens protocolares ao exterior.

(FERRAZ, F.C.A. A Guerra que não acabou, p 142-145).

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TEXTO 07.

A EXPERIÊNCIA E EXPECTATIVAS DE EX-COMBATENTES NA REGIÃO DO VALE DO

IVAI.

E vão andando, espiam as vitrinas, mas

não podem entrar nos bares que estão

cheios de avisos: OUT OF BOUNDS TO

ALL RANKS. Sim, a cidade em grande

parte é off limits. Nós os homens fardados

de várias raças e países, estamos

separados na vida social da população civil

por inúmeros cartazes que o comando

militar mandou pregar para preservar para

florentinos seus pontos de reunião, suas

comidas, suas bebidas. Nossas liras de

ocupação não podem comprar a entrada

desses pequenos reinos civis, La dentro,

os homens e mulheres, estão protegidos

da invasão de nossas botas, de nossas

línguas estranhas, de nossos olhares...

(BRAGA, Rubem. P 101-10).

Decorridos o arrebatamento das festas e

comemorações pela volta do expedicionário, veio à tona

a dura realidade que iria enfrentar o ex-combatente, o

desamparo por parte das instituições governamentais e

a falta e reconhecimento político e social. Os

compromissos assumidos pelo governo no embarque

para a guerra e o descumprimento no regresso foram

causas de indignação que se mantém no grupo até os

nossos dias.

Os procedimentos de desmobilização se revestiram de

caráter de renúncia ao direito de continuar fazendo

parte das Forças Armadas e ao reconhecimento e a

assistência do Estado Brasileiro, gerando para uma

grande parte de ex-combatente uma vida de miséria,

vício e invalidez.

A debilidade institucional brasileira na reintegração de

ex-combatentes foi oculta pelos festejos e

comemorações, que com o passar do tempo foram

percebendo que a luta pelo seu sacrifício de sangue

seria tão ou mais difícil do que o próprio front de luta.

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Algum tempo pós guerra, algumas leis e benefícios

foram criados em favor dos ex-combatentes. No início

favorecia exclusivamente a folha de serviço em

combate, e logo foi estendida a todos militares e civis

envolvidos na guerra, estando em combate ou não,

contribuindo e abrindo precedente para a

desvalorização da experiência febiana junto a

sociedade civil brasileira. A depreciação fica evidente na

concessão de vantagens por méritos de guerra a grupos

de não combatentes, ou seja, a ampliação dos

benefícios pecuniários e políticos àqueles que não

participaram diretamente das operações de guerra, pois

com o passar do tempo, o número de não combatente

beneficiados supera o número dos efetivos que

estiveram em combate no continente europeu, criando

um estigma para os expedicionários como uma classe

privilegiada e não merecedora dos benefícios por

serviços prestados ao país.

A reintegração profissional foi tão difícil quanto a

reinserção social. As promessas de emprego, proferidas

no auge das festas de retorno foram esquecidas. Até

mesmo os empregos de antes de partirem para a

guerra, agora eram ocupados por outras pessoas,

mesmo com as garantias da legislação quando da

convocação dos expedicionários.

Além dos vários entraves burocráticos, o grande e

talvez um dos maiores problemas é o desconhecimento

por parte dos ex-combatentes desses direitos e

benefícios, fossem eles moradores das zonas rurais ou

dos centros urbanos. Fora das associações poucos

tinham conhecimento das garantias asseguradas pela

legislação, pois as repartições públicas e burocráticas

sempre impunham alguns obstáculos.

A sucessão dos anos tornou perceptível a lacuna entre

o que a lei garantia e o que era realizado.

Quando vim para cá meus amigos do norte diziam que eu iria passar fome e eu disse a eles que no Brasil ninguém passa fome e as terras que eu havia comprado tinham palmito e coqueiros e eu iria levar sal, qualquer coisa nós faríamos uma sopa. (Durvalino Francisco Felizaro, ex-combatente, Jornal Paraná Centro, Edição 414, p 16)

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Com as dificuldades impostas, muitos ex-combatentes

atraídos pela propaganda do “ouro verde” acabaram

chegando às terras do “vale do Ivaí”, as quais segundo

Boing, eram terras do imóvel Ubá, situadas entre os rios

Ivaí e Corumbataí e que embora não se possa

considerar a região como uma monocultura cafeeira,

houve atrativo e concentração em torno deste produto, e

segundo Cancian (p 33), o Paraná procurava atrair o

café, porque apesar das dificuldades conjunturais, era o

produto que mais representava em divisas para o Brasil.

Além disso, a ausência de lucros existia para os

grandes proprietários, em terras cansadas e de

cafeeiros velhos. Nessa conjuntura, os cafeeiros

plantados no Paraná fugiram da condição de

monocultura das grandes propriedades. Ao contrário,

desenvolveram-se em pequenas e médias

propriedades, onde, por não haver imigração

subvencionada pelo Estado, o lavrador e seus familiares

eram parte da mão de obra da lavoura, diminuindo o

custo da produção e deixando uma margem satisfatória

de lucro, lembrando ainda que o café por não ser

produto exclusivo, as pastagem e as lavouras de

subsistência compunham um quadro diversificado,

oportunizando melhores condições de vida para as

famílias.

A partir de 1955 a 1960, A Sociedade Territorial Ubá,

responsável pela colonização da Região, promoveu

intensa propaganda incentivando a vinda de imigrantes,

onde atraídos pelas pequenas propriedades , preços

convidativos e prazos longos, aqui aportaram paulistas,

mineiros e nordestinos em geral que vieram para cultivar

café em suas próprias terras, e dentre eles vários

combatentes da II Guerra Mundial, que junto com seus

familiares, moravam no próprio imóvel, promovendo a

derrubada da mata e ainda vendendo a madeira,

alimentavam-se com produtos de seu próprio esforço,

vivendo em casas que eram verdadeiras choupanas ,

recoberta com folhas de palmito ou de palmeira. No

entanto, em sua pequena propriedade continha um

pouco de tudo, e os cafeeiros eram plantados em lugares

mais altos, ficando assim menos sujeitos às geadas.

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E assim, enquanto aguardavam a resolução de seus

direitos previdenciários muitos ex-combatentes do “vale

do Ivaí” através do “ouro verde” garantirão a criação de

seus filhos e o sustento de suas famílias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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