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Autorizo a publicação do meu texto completo no formato definido pela organização do congresso II CONGRESO DE ESTUDIOS POSCOLONIALES III JORNADAS DE FEMINISMO POSCOLONIAL “Genealogi ́ as crticas de la Colonialidad” MESA TEMÁTICA: 3. Dilogos Sur-sur: pedagogas descolonizadoras Experiência política-formativa na favela “Cerro Corá” no Rio de janeiro: discutindo educação popular na militância territorial Marina Ferreira Praça Mestranda do Programa de Pós de Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares da UFRRJ (PPGEduc/ UFRRJ) email: [email protected] Resumo: O que é ser educador popular? Como nos formamos para tal? Esse trabalho busca entender as respostas para essas questões a partir do que é mais valioso para os grandes pensadores do tema: a prática política. Por meio de um relato sobre a experiência vivida na favela Cerro Corá localizada na zona sul da cidade do Rio de Janeiro buscamos discutir o papel do educador popular, as bases da práxis educativa, a conjuntura política e o papel da militância territorial na conjunção de forças transformadoras no Brasil e na América Latina no século XXI. Utilizando-se de uma forma de escrita narrativa com base em experiências políticas em movimento e na definição de um processo de trabalho de base construído na favela serão descritos os princípios da educação popular identificados como fundamentais no processo formativo e organizativo de um grupo de jovens da favela, que se tornou o “Cerro corá: Moradores em Movimento”. Um processo construído pelo caminho militante, a utopia transformadora, a realidade social limítrofe e pela formação política formulada a partir de ações culturais e do fortalecimento da identidade de resistência histórica dos sujeitos das favelas. A partir de uma perspectiva da pedagogia freireana e do construir mudanças através da realidade em que se vive o trabalho em questão surge como uma possibilidade de falar sobre uma experiência que gera o empoderamento social e a reinvenção das práticas políticas latinoamericanas em diálogo com uma opção descolonial de educação que se dá em movimento, nas prática comunitárias/coletivas e no trabalho com a cultura enquanto ferramenta primordial de processos de conscientização.

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Autorizo a publicação do meu texto completo no formato definido pela organização do congresso

II CONGRESO DE ESTUDIOS POSCOLONIALES III JORNADAS DE FEMINISMO

POSCOLONIAL

“Genealogias criticas de la Colonialidad”

MESA TEMÁTICA: 3. Dialogos Sur-sur: pedagogias descolonizadoras

Experiência política-formativa na favela “Cerro Corá” no Rio de janeiro: discutindo

educação popular na militância territorial

Marina Ferreira Praça

Mestranda do Programa de Pós de Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares da UFRRJ

(PPGEduc/ UFRRJ) – email: [email protected]

Resumo:

O que é ser educador popular? Como nos formamos para tal? Esse trabalho busca entender as

respostas para essas questões a partir do que é mais valioso para os grandes pensadores do tema: a

prática política. Por meio de um relato sobre a experiência vivida na favela Cerro Corá localizada

na zona sul da cidade do Rio de Janeiro buscamos discutir o papel do educador popular, as bases da

práxis educativa, a conjuntura política e o papel da militância territorial na conjunção de forças

transformadoras no Brasil e na América Latina no século XXI. Utilizando-se de uma forma de

escrita narrativa com base em experiências políticas em movimento e na definição de um processo

de trabalho de base construído na favela serão descritos os princípios da educação popular

identificados como fundamentais no processo formativo e organizativo de um grupo de jovens da

favela, que se tornou o “Cerro corá: Moradores em Movimento”. Um processo construído pelo

caminho militante, a utopia transformadora, a realidade social limítrofe e pela formação política

formulada a partir de ações culturais e do fortalecimento da identidade de resistência histórica dos

sujeitos das favelas. A partir de uma perspectiva da pedagogia freireana e do construir mudanças

através da realidade em que se vive o trabalho em questão surge como uma possibilidade de falar

sobre uma experiência que gera o empoderamento social e a reinvenção das práticas políticas

latinoamericanas em diálogo com uma opção descolonial de educação que se dá em movimento, nas

prática comunitárias/coletivas e no trabalho com a cultura enquanto ferramenta primordial de

processos de conscientização.

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Experiência política-formativa na favela “Cerro Corá” no Rio de janeiro: discutindo

educação popular na militância territorial

“O que não é porém possível é sequer pensar transformar o mundo sem sonho, sem utopia ou sem projeto.”

Paulo Freire(2000b:53)

“Dos medos nascem as coragens; e das dúvidas, as certezas.

Os sonhos anunciam outra realidade possível, e os delírios, outra razão.

Somos, enfim, o que fazemos para transformar o que somos.

A identidade não é uma peça de museu, quietinha na vitrine,

mas a sempre assombrosa síntese das contradições nossas de cada dia.”

Eduardo Galeano – Celebração das Contradições/ 2 (2005, p.123)

Sair da sala de aula, das universidades, do pré-vestibular comunitário, dos espaços de

Educação de Jovens e Adultos (EJA), isto é, de espaços formais e informais de fazer educação, e

continuar sendo um(a) educador(a). É sobre isso que este texto tratará, através dos sonhos, utopias e

projetos que Freire nos fala imersos na contradições de Galeano, ancorado em nossas coragens,

dúvidas e certezas. Buscará pensar em nossa capacidade de estarmos sempre em movimento, sendo

educador e educando, constantemente.

A questão chave é: estamos falando de uma mesma educação e de um mesmo ato de educar

quando nos reconhecemos como educadores fora de qualquer espaço dito educativo e estamos

pensando em uma educação como um projeto político por detrás?

A educação popular na perspectiva de sua práxis política1 pode e deve ir muito além dos

espaços determinados pelas instituições e por nós, educadores, que temos dificuldades de aceitar a

educação como atos de fazer e ser política sem o aval das instituições de ensino e da academia.

Seguindo esta linha de pensamento, o ato de educar constitui-se de um fazer coletivo,

significante, um estar com o mundo atento à realidade e as relações que o compõe buscando

transformá-lo em direção a uma sociedade justa e igualitária. “Aprende-se à todo momento, mas o

que se aprende depende de onde e de como se faz esse aprendizado. Gárcía Márquez diz que aos

sete anos teve que parar sua educação para ir à escola.” (MÉZAROS, 2008, p.16) Afinal, que

educação é essa, que nos coloca fora de nossas vidas?

Esse texto tem por objetivo refletir sobre essas questões, a partir do papel da educação

popular nas práticas educativas não formais e do relato de uma experiência viva e vivida de

1 A conscientização não pode existir fora da práxis , ou melhor, sem o ato ação-reflexão. (FREIRE, P. 1980)

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educação popular em uma favela do Rio de Janeiro. A partir da perspectiva de quem se vê e se

reinventa como educadora popular a cada prática em movimento.

Para tanto, partimos e retomamos durante todo o texto, a questão base de nosso fazer

reflexivo – Que práticas, por seus princípios, são educativas e populares? Quem é o sujeito

educador? “Trata-se de um trabalho com as classes populares, através da educação, com um

projeto de ressignificação política, social e pedagógica da própria educação.” (BRANDÃO, 1985

in CARVALHO, ACIOLI e STOTZ: 112) Mas será que é isso? Ou, será apenas isso?

A prática, o fazer, a ação política sempre foram as melhores formas de entender se a

educação popular está ou não sendo feita. No processo, em movimento...

A partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de estar nela,

pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo. Vai dominando a

realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela algo que ele mesmo é o fazedor. Vai

temporalizando os espaços geográficos. Faz cultura. E é ainda o jogo destas relações do

homem com o mundo e do homem com os homens, desafiado e respondendo ao desafio,

alterando, criando, que não permite a imobilidade, a não ser em termos de relativa

preponderância, nem das sociedades em das culturas. E, na medida em que cria, recria e

decide, vão se conformando as épocas históricas. E também criando, recriando e decidindo

que o homem deve participar destas épocas. (FREIRE, 2000a: 51)

1. A Experiência como feito/1

Em 2010, enquanto militante da luta pela reforma agrária e educadora popular (por auto-

definição), contribuí com um processo político-formativo no Morro dos Prazeres, na região central

da cidade do Rio de Janeiro, sobre a temática da resistência às remoções forçadas e a luta por

direitos humanos básicos. Estávamos dialogando de uma parcela historicamente excluída da

sociedade, moradores das favelas, que vivem as margens da cidade e dos direitos à moradia, saúde,

lazer, etc.

Nessa época, fazia parte de um grupo, Núcleo de Apoio a Reforma Agrária (NEARA-RJ), e

nos propusemos a contribuir com a associação de moradores da favela no processo de

conscientização dos moradores e no apoio político e jurídico na defesa de seus direitos

relacionados, principalmente, à moradia. A demanda deste apoio surgiu após uma forte chuva que

deixou dezenas de moradores desabrigados e outros tantos em áreas de risco. Esse fator climático

levou à acentuação da política de remoções na região, ação que vem ocorrendo em todo Rio de

Janeiro desde essa época, como método de afastamento das classes populares das áreas centrais e

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elitizadas da cidade com o olhar direcionado paro os megaeventos que viriam acontecer (Rio+20,

Copa do Mundo, Olimpíadas)2.

Nosso grupo, na época, era composto por pessoas com formações diversas (advogadas,

servidoras sociais, biólogas, geógrafas), mas todas com a proposta de contribuir o máximo possível

com a construção de um processo de aprendizagem e fortalecimento político da favela. Para tanto,

fazíamos diversas reuniões e formações para pensar como faríamos aquela ação, de que forma

dialogaríamos com indivíduos que vinham de outras experiências enquanto sujeitos sociais. Pois

todo nosso grupo era formado por jovens, mulheres, classe média e universitárias. Nossas práticas

eram antecedidas por muita formação, reflexão e pelo “não querer errar”.

Após quase um ano de trabalho no Morro dos Prazeres possuíamos poucos avanços e muito

cansaço. Na perspectiva territorial não tínhamos construído uma identidade com algum grupo, não

havíamos fortalecido coletiva e organizacionalmente os moradores, e nas políticas habitacionais

poucos avanços haviam sido conquistados. Não nos faltou vontade política, comprometimento e

organização, mas faltaram outros elementos para se fazer um significativo trabalho de base e de

educação popular.

Passados mais de três anos de toda essa experiência acredito que o maior aprendizado dessa

história, parte da trajetória politica e educativa de quem a escreve, foram justamente os erros e a

capacidade de olhá-los tempos depois, e de reinventar para seguir nas práticas políticas pedagógicas

populares.

Neste movimento entendi o limite das reflexões quando não estão relacionadas com uma

ação real. Entendi o quanto todos os princípios da educação popular precisam estar sendo

vivenciados concomitantemente para que possamos atingir a conscientização. Ou seja, é necessária

a prática coletiva, emancipadora, iniciada a partir de uma realidade concreta, com um fator cultural

gerador, fortalecendo uma identidade coletiva, visando à igualdade, à justiça e ao processo de

autonomia dos sujeitos por meio da transição de uma consciência ingênua para uma consciência

crítica. E os processos de reflexão, teorização, serão trazidos pela realidade em movimento.

Na experiência vivenciada na Favela do Morro dos Prazeres pecamos em algumas partes

desse todo complexo e unitário. Valorizamos muito as reflexões de um grupo “de fora” (que vinha

para ajudar na mediação de um processo político-pedagógico) e deixamos de pisar no chão da

realidade que discutíamos. Esquecemos de ver quem estava ao nosso lado, qual o fator cultura que

estava ali presente, não pensamos o que a nossa presença significava naquele espaço e de que

sujeito estávamos realmente nos aproximando, que autonomia e identidade poderíamos estar

contribuindo com nossa prática ali. E, sobretudo, deixamos de pensar nisso junto a uma ação...

2 Matéria publicada no site “Favela em Foco” que explicita a problemática vivida na época -

http://favelaemfoco.wordpress.com/2010/04/26/moradores-de-favelas-se-reunem-no-morro-dos-prazeres-e-falam-sobre-

remocoes/

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2. A experiência como feito/ 2

Nos anos de 2011 e 2012 em uma experiência viajante por sete países da América Latina, na

qual estive buscando e vivenciando organizações e movimentos sociais, pude perceber o quanto a

educação popular vem sendo reinventada pelo continente latino-americano ao me deparar com

experiências políticas-educativas populares muito interessantes. Evidenciou-se o quão importante é

o olhar atento ao outro com a perspectiva de construir as buscas e os movimentos transformadores

na terra que piso.

Um amigo, em Buenos Aires, nos contava (minha viajem foi com uma amiga) que faziam

uma trabalho político em uma villa (favelas argentinas) através do “futebol popular”. Toda semana

ele e mais alguns militantes estavam no local organizando o futebol e através dele discutindo regras

(como valores sociais), forma de jogar (como organização e método) e o estar junto, divertindo-se

(como fortalecimento da coletividade e da identidade do local).

O futebol se desdobrou em outras atividades organizativas na comunidade. Começaram a

fazer uma revista com recursos da auto-organização e doações de pessoas próximas. Pequenas

reflexões que vinham daquele futebol passaram a confeccionar sonhos e melhorias reais para aquele

território periférico de Buenos Aires.

Quando ouvi aquela história, percebi alguns erros e a vontade de continuar nessa caminhada.

3. A experiência como uma retomada histórica

Retorno de viagem com a vontade e a intenção de fazer o que chamamos comumente na

militância de esquerda de trabalho de base. Uma expressão que surge com as práticas progressistas

da igreja católica organizada nas comunidades eclesiais de base3 em territórios pobres excluídos,

em muitos casos distantes dos centros urbanos, com o intuito da emancipação e autonomia política

dos sujeitos desses locais. Esta metodologia foi sendo apropriada e modificada pelos movimentos

sociais, partidos políticos de esquerda e organizações na perspectiva de empoderamento das classes

populares na luta por seus direitos à participação social e à cidadania. “O trabalho de base é a ação

política transformadora, realizada por militantes de uma organização popular, que mete o corpo

em uma realidade concreta, para despertar, organizar o povo na solução de problemas do

cotidiano e ligar essa luta à luta geral contra a opressão”. (PELOSO, 2012:10)

3 Segundo Frei Betto (1985:1): “Comunidade eclesial de base é um desafio lançado à Igreja pela esperança de

libertação dos povos latinoamericanos. Através de suas comunidades de base, de seus agentes pastorais, descobrir a

maneira mais evangélica de tornar essa esperança uma prática eficaz de transformação da história e busca do de justiça

e amor.”

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Pensando no trabalho de base e nas ações da igreja católica progressista na constituição das

lutas populares no Brasil e em toda América Latina vou unindo minhas angústias e vontades

militantes de estar em movimento constante e transformador, dando um passo depois do outro.

Sabendo que os processos de câmbios de consciência se dão paulatinamente e sem tempos exatos.

O que faltava era um espaço para colocar minha ação politica educacional em prática,

construir minha militância em um território especifico que alimentasse a utopia da construção de

uma outra sociedade, justa e igualitária, e que poderia demorar o tempo que fosse.

4. As reflexões para seguir o caminho

Durante a experiência viajante pela América Latina muitas reflexões compunham o

caminhar. Uma delas, escrita na época:

Conversas sobre rodas: o Socialismo

Em alguma das milhares de horas na estrada, em uma das conversas sobre rodas, após um

pouco de Garcia Marques em “Viagem pelos países socialistas”, começamos a pensar o que é esse

socialismo? O que acreditamos e queremos construir? Chegamos a conclusão que não queríamos

comparar os processos e enquadrá-los dentro de uma visão já muito carregada de sentidos. Então

percebemos que, independente do nome, o que importava era a possibilidade da construção de uma

sociedade baseada em outros valores e ações. Onde a grande maioria da população possa ser

protagonista da história e a riqueza se traduza em vida e felicidade para todos.

5. A experiência como feito (em andamento)/ 3

Tudo o descrito anteriormente foi para chegar aonde estou agora. E que acredito que seja o

um trabalho político-social muito importante, que se constitui como fruto de todos os processos

descritos anteriormente e muitos outros.

Desde abril de 2013, aproximadamente um ano e meio atrás, venho realizando trabalho de

base em uma favela do Rio de Janeiro e me sentindo o mais educadora popular que já pude me

sentir. Apesar de não estrar em uma sala de aula, de não dar aula, e achar que não “ensino” nada.

O Cerro Corá Moradores em Movimento

Conheci alguns jovens moradores da favela Cerro-corá localizada no bairro do Cosme

Velho na cidade do Rio de Janeiro fazendo campanha politico eleitoral para o atual deputado

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estadual Marcelo Freixo na disputa ao cargo de prefeito da cidade no ano de 2012. Ele estava

concorrendo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e eu, mesmo sem fazer parte do partido,

acreditava em seu programa de governo e sua forma pedagógica de ver e fazer política e me

dediquei a sua campanha. Organizamos um comitê territorial que abrangia alguns bairros do

entorno de minha casa e fazíamos reuniões para discutir o programa e colocarmos a campanha na

rua.

Em uma de nossas ações cotidianas de panfletagem e discussão pela região chegamos ao

Cerro-Corá. Lá conheci jovens que já estavam fazendo a campanha do Freixo e acreditavam em

suas práticas, apesar de não estarem organizados em nenhum partido ou agrupação.

A eleição ocorreu, perdemos nas urnas, mas ganhamos com o processo. Originaram-se

organizações territoriais, reflexões coletivas e sentia-se o impacto social da disputa de projetos de

sociedade geradas pelo debate entre os candidatos.

Seguimos em contato com alguns jovens da Favela Cerro-Corá, sem saber ao certo como

seguir essa relação numa perspectiva politica. Um dia, em uma conversa com um dos meninos mais

ativos e revoltados com a sociedade que vivemos, propus fazemos uma atividade lá de discussão

sobre o Projeto de Cidade4 que vem sendo instaurado no Rio de Janeiro através de documentários

curtos, imagens e conversas. Ele topou. Eu iria conversar com outras pessoas para realizarmos

juntas essa atividade e ele iria juntar os jovens dispostos a pensar a comunidade e a cidade.

O encontro foi de troca de experiências. Haviam uns 6 jovens da favela e nós éramos quatro

militantes (organizadas em mais de uma agrupação) com o interesse de contribuir no processo de

organização e formação política deles. Foi o pontapé para construir o grupo de jovens da

comunidade e pensar o que eles queriam discutir sobre o seu território, excluído historicamente dos

direitos e serviços da cidade.

Uma semana depois desse primeiro encontro a favela foi ocupada numa operação da Polícia

Militar do Estado para dar início à instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na

região. A 33ª UPP da cidade. As UPP’s são programas de segurança pública instaurados nas favelas

do Rio de Janeiro desde 2008 com objetivo de acabar com o tráfico de drogas e com o controle de

grupos armados nesses territórios. A partir dessas ações de ocupação, muito dos territórios, que são

em sua grande maioria favelas nas zonas mais ricas da cidade e que estão inseridas no eixo do

4 Quando falamos de Projeto de Cidade estamos relacionando com a reestruturação urbana que vem ocorrendo na

cidade para realização e instalação Megaeventos e Megaempreendimentos (Rio+20/ 2012, Encontro Mundial da

Juventude Católica/2013, Copa do Mundo/2014, Jogos Olímpicos/ 2016; construção do maior complexo petroquímico

da América Latina – Comperj, Complexo Siderúrgico- TKCSA, dentre outros empreendimentos). Processo em que já

foram provadas diversas violações aos Direitos Humanos e inconstitucionalidades. Para saber mais, pode-se consultar:

http://www.pacs.org.br/2012/11/06/mega-eventos-e-mega-empreendimentos-no-rio-de-janeiro/ e

http://www.apublica.org/wp-content/uploads/2012/09/dossic3aa-megaeventos-e-violac3a7c3b5es-dos-direitos-

humanos-no-rio-de-janeiro.pdf

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turismo e dos megaeventos, foram de um controle armado para outro, agora dos policiais. As

ocupações são marcadas pela truculência policial e pelo controle através da coerção e do poder

armado, não vem acompanhado de políticas sociais, de ações para fortalecer a cidadania e para o

estabelecimento dos direitos a tantos anos exigidos.

A operação ocorrida mostrava a atualidade da discussão que havíamos feito uma semana

antes. As UPP’s, são elementos chave do Projeto de Cidade, essas ocupações tem transcorrido em

paralelo com o encarecimento do custo de vida nessas áreas centrais da cidade, com os processos de

remoções arbitrárias e com o que chamamos de “higienização social”, que impossibilita às

populações mais pobres de viver nas áreas centrais, onde há mais possibilidades de trabalho e

serviços de qualidade.

Nesse contexto, entramos de vez na favela do Cerro Corá. A partir da discussão sobre o que

significava essa ocupação em seu território e sobre as formas de agir da policia. Iniciamos nosso

trabalho com os jovens que estavam conosco desde o primeiro encontro e com uma ação em toda a

comunidade distribuindo e conversando sobre a abordagem policial através da “Cartilha Popular do

Santa Marta: Abordagem Policial”5.

Nosso segundo e mais intenso foco de trabalho no morro surgiu de um processo que existia

muito antes de subirmos a favela e que era uma demanda dos próprios jovens, mas que carecia de

um apoio organizativo. Eles queriam construir um Museu da Comunidade, resgatar a memória da

favela, trazer os mais velhos para lhes contar as histórias da favela. Reconstruir a história pensando

em reinventá-la, trazendo os jovens para serem os seus novos escritores. Essa vontade vinha

primeiramente de um dos integrantes, o “estudado” do grupo e da favela. Formado em Museologia,

ele fez seu trabalho de conclusão de curso sobre a história da comunidade e propunha com resgate

da história a construção de um museu. Mas que eles não conseguiam que saísse do papel. Até

aquele momento.

Nossa luta, assim, se estabelecia basicamente por dois focos: primeiro na luta por direito à

memória e da história.

Um refúgio?

Uma barriga?

Um abrigo onde se esconder quando estiver se afogando na chuva, ou sendo quebrado

pelo frio, ou sendo revirado pelo vento?

Temos um esplêndido passado pela frente?

Para os navegantes com desejo de vento, a memória é um ponto de partida.

(Janela sobre a Memória (II) – GALEANO, 1994, p.96)

5 Uma cartilha construída coletivamente e por meio de metodologias participativas por moradores da Favela Santa

Marta em Botafogo no Rio de Janeiro, que foi a primeira favela a ser implantada uma Unidade de Policia Pacificadora.

http://global.org.br/wp-content/uploads/2010/03/cartilha-santa-marta.pdf

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E segundo na luta por um dos direitos humanos fundamentais: o direito à cidade. Uma das

lutas principais dos movimentos sociais urbanos do Rio de Janeiro nas ultimas décadas,

principalmente das favelas e bairros periféricos imersos em processos historicamente excludentes.

A utopia do direito à cidade, no caso específico do Rio de Janeiro, significa, para nós,

necessariamente, a superação da dicotomia favela-cidade! Para isso, é preciso que os

moradores da favela possam sentir-se tão cidadãos, e como parte da cidade, quanto os que

têm moradias fora das favelas.(...) Ter direito à cidade significa, portanto, a reivindicação

do “direito” ao direito, o acesso e a participação a uma sociedade contratual e a tudo que

ela possa possibilitar na vida urbana. O direito à cidade aparece aqui como condição para

a realização dos demais direitos. (De Oliveira, 2007, s/p)

Ter direito à cidade, em suma, significa ter direito a participar da cidade e usufruir do que

ela tem a oferecer. Serviços, espaços e sua história. Democratizar os direitos e os valores, sejam

eles materiais ou simbólicos. Todos precisam ter direito a produzir e acessar cultura, arte, além de,

saúde, educação. A cidade precisa ser vista como um bem coletivo, em sua constituição assim como

em sua possibilidade de criação e reconstrução do que é. Harvey(2013:28) diz que o direito à cidade

é o direito a liberdade de poder transformá-la, assim como, afirma que a cidade é um campo de

expressão das diferenças, dos encontros, interações criativas e dos conflitos. E que temos a

necessidade de formá-la de acordo com nossas necessidades coletivas a partir de um movimento

político que pense e (re)faça a cidade.

Assim, nos tornávamos a organização territorial do morro do Cerro-corá denominada: Cerro

Corá Moradores em Movimento

Que ao longo de 2013/14 movimentou a favela como não se via desde final da década de 80

e inicio de 90, quando a associação de moradores funcionava, verdadeiramente, como um coletivo

dos moradores. Ao todo somos 10 jovens ativos nas ações do grupo, 8 homes e 2 mulheres, e mais

nós, 3 jovens classe média formadas na universidade e militantes próximas aos movimentos sociais.

Fizemos entrevistas com moradores antigos contando a história da comunidade, coletamos

fotos e objetos, fizemos oficina de fotografia para buscar entender o atual olhar dos moradores

sobre si mesmos e o local que vivem, ocupamos a sede da associação de moradores que a anos

estava abandonada, reformamos-a através de mutirões, fizemos rifas pra juntar dinheiro, I Amostra

do Museu da Comunidade com atividades artísticas dos próprios moradores, Cine-Debate sobre a

relação das remoções arbitrárias na África do Sul e do Rio de Janeiro e recebemos um grupo de sul-

africanos parte de um movimento de resistência de lá, organizamos reuniões e atos com os demais

moradores para discutir a questão da falta de água regular na comunidade, dentre outras coisas.

Além de participarmos das atividades políticas em outras favelas, visitas a Museus comunitários e

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participação ativa nas manifestações que ocorreram desde junho de 2013 na cidade do Rio de

Janeiro.

Atualmente, estamos organizando uma biblioteca comunitária com livros que recebemos de

doações e pensando nas possibilidades formativas desse espaço. Seguimos na luta por água, energia

elétrica em tempo integral e para ocuparmos o morro cultural e socialmente. Pensamos também em

atos na rua que possam denunciar a violência física e moral que os pobres, negros em sua maioria,

seguem sofrendo na cidade e a intensificação da repressão, controle e exclusão neste ano de Copa

do Mundo.

6. O olhar para as experiências como feito/1

... a militância territorial e a opção descolonial como estratégias pedagógicas...

Na perspectiva de quem está vivenciando o processo de luta e de formação percebo o Cerro

Corá como um espaço de militância territorial, apesar dessa forma de ação política não ser

discutida de forma tão usual pelos grupos sociais e pela universidade no Brasil. Pois, a entendo

como uma “reinvenção” do trabalho de base enquanto um processo de conscientização das classes

populares que ocorre junto à uma ação política emergencial imposta pela realidade marginal

limítrofe.

Na atualidade, me parece mais contundente olhar para tal prática assim, usufruindo das

experiências latino-americanas que vivenciei e da literatura, principalmente argentinas, que discute

essa categoria a partir das vivências de luta e agrupações barriais surgidas com o avanço neoliberal

nos anos 90 e potencializadas na crise de 2001, como diria, Vila (2012, p.2):

(…) en paralelo a esas tendencias de sobrevaloración saber técnico-económico y del

debilitamiento de la política sindical se generaron nuevos formatos de protesta

(como es el caso del corte de ruta) y nuevos espacios de socialización política

marcados por un anclaje local: el barrio. Básicamente, durante el tránsito de los años

noventa, fueron ganando impulso las redes territoriales de supervivencia,

convirtiendo al barrio en un espacio privilegiado para la construcción identitaria y

política de las clases populares (Merklen, 2005; Svampa, 2005). La potenciación de

“redes informales barriales” (Frederic, 2004) se instituyeron en locus político no

sólo de las prácticas militantes sino, también, de las políticas de focalización del

nuevo modelo de dominación neoliberal (Svampa, 2005)

Nos bairros, nas favelas, como no Cerro, se vê de forma clara as consequências do

enfraquecimento do estado e de seus potenciais de resolução das problemáticas sociais, havendo

uma necessária reconfiguração dos agrupamentos políticos e suas formas de interações sociais

enquanto formas para sobrevivência e obtenção de direitos básicos. Num processo de

“territorialização da política” (Vommaro y Vázquez, 2011) materializados em espaços

descentralizados e autônomos vemos se configurar como uma nova rede de organizações,

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caracterizadas pelo potencial político comunitário e pela protagonismo das gerações nascidas nessa

nova configuração política. Como afirmam Vommaro y Vázquez (2011, p.142):

En este proceso de territorialización y politización de los lazos sociales locales y

cotidianos, fueron múltiples los colectivos donde los y las jóvenes fueron

protagonistas. Entre éstos, cabe mencionar especialmente los grupos de

alfabetización, los bachilleratos populares, las murgas, los movimientos de

desocupados, grupos de arte popular y callejero, medios de comunicación

alternativos, entre otros. Las especificidades y aspectos comunes entre las diferentes

experiencias tienen que ver con el tipo de definiciones políticas que fueron gestando.

Enfim, diálogo com essa discussão porque acredito que a experiência aqui relatada se cria

dentro de um processo semelhante, mas ainda necessita estabelecer maiores identificações enquanto

movimento latino-americano de luta, pensando-se como um instrumento que evidencia a relação

intrínseca entre os processos de organização e luta à uma perspectiva formativa/educacional.

Buscando aproximar as experiências oriundas das nossas terras, surgidas, desenvolvidas,

criadas e recriadas aqui, das discussões epistemológicas latino-americanas e de uma opção

descolonizadora do saber. Pois, por mais que não queria definir minhas caminhadas como aderente

restritamente a uma “opção descolonial” (Mignolo,2012), acho válido apresentá-la, dialogar com

ela e afirmá-la como fundamental ao momento político que vivemos.

Uma opção que tem como pontos chaves: o questionamento ao capitalismo e os custos

humanos desse sistema, a crítica a herança ocidental que nos persegue e a possibilidade de

legitimação de novos discursos não pode estar dissociada das experiências oriundas das favelas,

barrios, vilas e assentamentos. Pois, se proposta é que a opção descolonial seja uma nova forma de

pensar e estar no mundo e não somente uma nova categoria científica precisamos pensá-la

dialogando com as práticas de resistências, de um povo que vive as novas formas de saber.

Encaro as lutas locais, autônomas, processuais como novas formas de estar de corpo

presente na construção de saberes, pois quando vinculadas as demandas reais/vivas torna-se

descolonizadora de corpos e mentes.

7. O olhar para as experiências como feito/2

...As reflexões de uma educadora popular a partir da prática política nos solos de sua

cidade.

Muitas coisas são necessárias para mudar o mundo:

Raiva e tenacidade. Ciência e indignação.

A iniciativa rápida, a reflexão longa.

a paciência fria e a infinita perseverança.

A compreensão do caso particular e compreensão do conjunto.

Apenas as lições da realidade podem nos ensinar como transformar a realidade.

[ Bertolt Brecht - "Erkentniss" ]

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Quase um ano de trabalho de base na favela me fizeram aprender e entender o que é o ato

de educar na perspectiva da emancipação. Como Paulo Freire (1996) no diz o ato de ensinar se

traduz na capacidade de criar possibilidades para produção ou construção do conhecimento e não

em sua transferência; na consciência de que somos seres inacabados; se traduz no respeito à

autonomia do educando e sua capacidade criativa; no aprendizado mútuo por meio das trajetórias

em transformação e, também, num pensar oriundo da realidade local, de sua cultura e suas formas

de relacionar com o mundo e entre si.

Vi como a nossa maturidade militante traduzida em calma, atenção e presença foi

fundamental para o andamento das atividades. Sabermos que os tempos são outros, que as ideias

são milhares e que as práticas são locais, com impactos locais. Mas que a ação local levou esses

jovens a sentirem-se parte de lutas muito mais amplas em menos de um ano de trabalho.

Perceberem que a mesma opressão que sofrem eles, está presente na favela vizinha, nas ruas da

cidade, nas favelas da África do sul, etc. Os muros da comunidade gritam nossas reivindicações e

todos sabem que estamos atentos a cada possibilidade de violação de direitos humanos na região.

O museu, a cultura local, foram os pontos de partida. O que nos colocou em movimento, nos

fez sair, agir, ser reconhecidos pela comunidade e poder constituir nossa identidade. Pontos

fundamentais para constituição de sujeitos e movimentos políticos: ação, reconhecimento e

constituição de uma identidade coletiva. Sabendo para quem, como e porque nos movimentamos.

Nos faltou formação política nesse ínicio, leituras, entender a constituição da sociedade, as

formas de sociedades existentes e nos vermos dentro disso. Mas creio, que nesse primeiro momento

a leveza e o pensar agindo foram fundamentais para seguirmos juntos, nos fortalecermos e também

para outros jovens se aproximarem. Refletimos e pensamos em cada uma de nossas ações. Não

tínhamos livros e cartilhas de como fazer em nossas mãos.

Foi um espaço de exercício da utopia a partir do trabalho. Utopia alimentada a cada dia pela

crença no ser humano e em sua capacidade de reinventar a história pulando a saltos largos o dito

comum e natural.

Duas falas de um dos meninos do Cerro me fez ter certeza disso:

- Esse ano foi o mais importante da minha vida. O que senti que fazia algo que valia a

pena. Que ano! (conversando no final de 2013 sobre como o ano em que o Cerro Corá Moradores

em Movimento foi criado, numa conversa fora de reuniões).

E a outra que escutei na nossa primeira reunião de 2014. Levei um companheiro argentino

que conheci em Córdoba fazendo uma vivencia campesina para conhecer a nossa experiência e pedi

para um deles explicar como foi o processo e quem somos. Ele disse:

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- Somos um movimento de cultura e política da favela. Um levante popular para dentro

favela, para organizar a favela. Criamos o Cerro Corá Moradores em Movimento ano passado e

fomos construindo essas ideias... (Reunião do Grupo - 04/02/2014)

Enfim, pensando nas questões levantadas no inicio deste texto, sinto que esse processo com

muitos passos ainda a ser dado, é um ato de educar. Educar na realidade gerando diferentes estágios

de conscientização, mas com um viés formativo por detrás de cada ação. Não substitui as salas de

aula, a formação escolar, mas não pode ser negada e considerada menos legitima. Não é a mesma

educação a que está nos espaços tradicionais de ensino e a que está nas ruas, na construção de lutas.

São educações distintas, com objetivos e resultados diferentes. A popular, acredito que é a segunda.

Uso essa história para refletir sobre isso, mas há muitas outras a serem utilizadas como exemplo e

tantas outras a serem construídas.

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