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IGREJA E GLOBALIZAÇÃO: PERSPECTIVAS TEOLÓGICAS
PARA AÇÃO DA IGREJA NO MUNDO GLOBALIZADO1
Alexander De Bona Stahlhoefer2
RESUMO
O presente artigo discute os efeitos da globalização em perspectiva bíbli-ca e teológica. Sob o ponto de vista evangélico-luterano e com aberturaecumênica os efeitos negativos da globalização são analisados na buscapor impulsos para a construção de uma práxis eclesiástica mais próximaàs necessidades do planeta. A diaconia desponta como a chave para umagir em amor por parte da Igreja Cristã como corpo unido.
Palavras chave: globalização; economia; diaconia; dignidade humana; cri-ação.
INTRODUÇÃO
O que a teologia tem a ver com assuntos como economia, ecologia,
ou mesmo política? A teologia é um falar de Deus. Falamos de Deus por-
1 Este artigo é uma versão levemente modificada e ampliada do terceiro capítulo dodocumento KANG, T. H., STAHLHOEFER, A. B. Posicionamento da IECLB sobreglobalização e justiça econômica. (material não publicado).2 Bacharel em Teologia pela Faculdade Luterana de Teologia (FLT) e Missionário daMissão Evangélica União Cristã (MEUC), entidade missionária inserida eclesialmentena Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Reside em Timbó/SC. E-mail:[email protected]
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que cremos nele. E nossa fé é fruto da sua autorevelação em Jesus Cristo,
e não dos nossos esforços intelectuais. Por isto nós somos objetos da teo-
logia, pois primeiramente é Deus quem fala a nós e nos imputa a fé, a qual
respondemos em gratidão com nosso louvor e com frutos da graça. Esta
gratidão, louvor e frutos, em nós produzidos pelo agir de Deus, serão arti-
culados em nossa realidade eclesial e social, sem com isso estar
desconectada do corpo de Cristo que é universal, e justamente nisto reside
o caráter global da fé cristã. Somos uma só Igreja Cristã, temos uma só fé
em um só Cristo, fomos batizados num só Corpo, e um só Espírito de
Deus dirige a Igreja (Ef 4.4-6).
Por outro lado, a teologia precisa responder as questões colocadas pelo
contexto em que está localmente inserida, percebendo as dores dos mais fra-
cos de forma a conclamar o corpo para sofrer junto com aquele membro que
está sofrendo (1Co 12). Por isto, a globalização traz um desafio ecumênico
para a Igreja. Nossa proposta é refletir teologicamente, a partir da nossa reali-
dade eclesial e social brasileira, tendo em vista a realidade global e ecumênica,
a realidade da criação e a realidade do corpo universal de Cristo.
1 BREVE ANÁLISE DO PROCESSO GLOBALIZATÓRIO
O processo de globalização não é um fenômeno surgido há alguns
anos atrás como o senso comum imagina. Em tese globalização é “a
integração de economias nacionais à economia internacional através de
comércio, investimento direto externo (por corporações e multinacionais),
fluxos de capital de curto prazo, fluxos internacionais de trabalhadores e
pessoas em geral, e fluxos de tecnologia.”3 Globalização é um processo
que se desenvolveu, e continua se desenvolvendo, em ondas. Segundo
Lindert e Williamson em três ondas: 1870-1914, 1950-1970, 1980-20004.
A primeira onda (1870-1914) foi marcada pelo fluxo migratório da Euro-
pa para os continentes coloniais (prioritariamente América). Com isto os
Alexander De Bona Stahlhoefer
3Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
salários, a condição de vida e as desigualdades na Europa melhoraram,
porém pioraram nas colônias. No período de 1914 a 1950 o processo sofre
retração. Ocorrem as duas grandes guerras mundiais, há um forte blo-
queio para o fluxo entre as nações, além do protecionismo. De maneira
geral dentro dos países a desigualdade foi menor, embora tenha havido
exceções. A segunda onda (1950-1970) foi marcada por forte desenvolvi-
mento comercial e fluxo migratório. A Europa se reconstrói e o processo
de abertura das economias está iniciando. A desigualdade neste período
não está dentro dos países, mas entre os países. A terceira onda (1980-
2000) é mais conhecida como a da globalização neoliberal. A abertura
comercial foi conjugada à redução na cobertura social. Período marcado
por crises de petróleo, estagflação, problemas sociais, protestos de traba-
lhadores. A economia neoliberal gerou ganhadores e perdedores, um exem-
plo: os setores menos competitivos sofreram grandes perdas, enquanto os
setores exportadores ganharam. De maneira geral podemos perceber que
o processo globalizatório gerou diferentes resultados. Na Ásia a abertura
das economias propiciou a diminuição das desigualdades, enquanto que
na América Latina os governos totalitários não fizeram apropriada políti-
ca de distribuição de renda, de forma que, a população não foi diretamente
beneficiada pelo enriquecimento das nações.
Na análise de Jürgen Moltmann, a globalização é definida “através
da imagem da aldeia global, podemos ver que por causa dos modernos
meios de comunicação e transporte, todos somos vizinhos, como na al-
deia tradicional.”5 Moltmann analisa a globalização em três grande áreas:
política, econômica e religiosa. Na área política é destacada a forte centra-
lização em nações-estado no período da Guerra Fria, e que de certa forma
3 BHAGWATI, J. In: Defense of Globalization. Oxford: Oxford University Press, 2004.p. 3.4 LINDERT, P; WILLIAMSON, J. Does globalization make the world more unequal?”.In: WILLIAMSON, J; BORDO, M. (Ed.) Globalization in historical perspective.Cambridge, MA: NBER, p. 241-246.
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ainda permanece válida. Há quase 30 anos atrás já se vem falando da ne-
cessidade de uma mudança de paradigma na visão política, onde cada
nação deve subordinar os seus interesses particulares aos interesses da
humanidade, e onde os conflitos não podem colocar em risco a sobrevi-
vência da raça humana. Na visão de Moltmann, o próximo passo é a tran-
sição de uma política doméstica mundial para uma common earthpolicy6.
Este passo é necessário, pois desastres naturais não respeitam limites na-
cionais, entretanto as políticas para evitar desastres precisam ser construídas
de forma transnacional.
Na área econômica, Moltmann percebe a mudança de foco da últi-
ma onda globalizatória. De uma economia regulada, onde a balança co-
mercial era o termômetro da saúde econômica, para uma economia
neoliberal, sem marcos regulatórios e de livre concorrência. Com isto, as
instituições políticas saíram do compasso, não tendo mais poder sobre o
mercado não conseguem ir ao encontro das populações que sofrem as
consequências da desigualdade. Na economia também é necessária uma
mudança de paradigma, de uma economia linear, onde cresce o consumo,
cresce a economia; cresce o consumo, cresce a necessidade de recursos
naturais, devemos mudar para uma economia que respeita os ciclos da
vida no planeta. Uma economia que dá o tempo para que a própria terra se
regenere e produza o que é necessário para sustentar a vida.
Na área religiosa Moltmann destaca que muitas religiões surgiram
ligadas a estados em particular, como em Roma, na Pérsia, China e Japão,
onde havia um deus, um governante, um império. O Budismo é provavel-
mente a única religião não ligada diretamente a um estado, pois surgiu
como religião monástica. As religiões abraamicas tem uma matriz dife-
Alexander De Bona Stahlhoefer
5 MOLTMANN, J. A common earth religion: world religions from na ecologicalperspective. In: The ecumenical review 63.1. Genebra, WCC Publication, 2011.6 O termo é de difícil tradução, porém a ideia é a de haja um política onde o interesseda terra como um organismo vivo seja prioridade sobre os interesses individuais oumesmo nacionais.
5Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
rente. São baseadas no conceito da exclusividade do Deus de Israel. Cris-
tianismo e Islamismo são religiões da história, pois um evento histórico é
o evento salvífico e proclamado através de missão. Porém, até mesmo o
Cristianismo, até a 1ª Guerra Mundial, esteve ligado ao poder político.
Primeiro tornando-se religião oficial romana, e por último como religião
oficial de estados europeus. Com a globalização, as religiões são separa-
das do estado. Os estados modernos são estados laicos, apesar de ainda
haver estados religiões, especialmente no mundo árabe. Uma vez que a
religião não é mais assunto de bem-estar público, passa a ser assunto par-
ticular e pessoal. Todas as religiões passam a ser toleradas e a liberdade de
crença individual garantida. No mundo moderno, globalizado e multi-re-
ligioso missionários podem utilizar os meios de comunicação para anun-
ciar sua convicção religiosa em uma parte do mundo para outra. De forma
que no ocidente é possível haver budistas, e no oriente, pentecostais. As
religiões estão em livre concorrência no mercado global.
Diante das modificações que se processaram em todo o globo, as
necessidades impostas pela desigualdade e o consumo desenfreado dos re-
cursos naturais, bem como a constante ameaça à vida no planeta, uma ques-
tão precisa ser respondida pelas religiões mundiais, e isto inclui a Igreja
Cristã: Qual a nossa tarefa e nossa contribuição para a vida no planeta?
2 FÉ QUE CONDUZ À AÇÃO - IMPLICAÇÕES DA DOUTRI-
NA DA JUSTIFICAÇÃO PARA NOSSA AÇÃO SOCIAL
Carlos A. Sintado inicia seu artigo sobre Ecologia Social com uma
citação de QuintusSeptimiusFlorensTertullian “O que Atenas tem haver
com Jerusalém (...) o que a academia tem haver com a Igreja?”.7 Nosso
7 SINTADO, C. A. Social ecology: a hermeutical framework for reading biblical texts?A Latin American perspective. In the ecumenical review 63.1. Genebra, WCCPublication, 2011.
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artigo tem por objetivo buscar na Bíblia e na teologia evangélica impulsos
para uma prática eclesial e social que contribua para a manutenção da vida
no planeta com a dignidade e o respeito que lhe são devidos.
As duas grandes tentações para as Igrejas cristãs em assuntos como
política, economia e direito são o quietismo e o ativismo. O quietismo nega
que a pessoa cristã tenha alguma responsabilidade em se envolver no debate
que é chamado por alguns de “secular”. Esta tendência a separar a moral
religiosa da moral pública, como se uma não tivesse algo a contribuir para a
outra é uma herança do Iluminismo.8 Já o ativismo representa uma solução
de compromisso extremo que tem a tendência de equiparar as conquistas
sociais à salvação eterna. O quietismo percebe a fé como algo que só tem a
contribuir no âmbito da vida interna (espiritual). O ativismo percebe o com-
prometimento social como a razão última da sua fé.
Em Jesus Cristo, Deus nos justifica sem mérito ou obras nossas so-
mente pela sua graça mediante a fé. A pessoa, tendo sido resgatada da sua
justiça própria pela graça mediante a fé, é transportada para uma relação
completamente nova com Deus, consigo mesma, e com o seu próximo. Por
isto a justificação leva a pessoa cristã à obediência e, consequentemente à
ação concreta no mundo, pois a pessoa cristã não vive para mais si mesma
(2Co 5.17, cf. tb. Confissão de Augsburgo, art. 4).
A fé em Jesus Cristo se expressa como discipulado, o seguimento
ao Senhor que chama para um compromisso com seu amor. O discipulado
exige a fé e a obediência, ao mesmo tempo em que a fé e a obediência são
graça que levam ao discipulado.9
Nossas obras, como pessoas cristãs, não são tentativas de agradar a
Deus para que com isto Ele se agrade de nós e por consequência nos con-
ceda salvação (Confissão de Augsburgo, art. 6). Nossas obras são resulta-
do da nova vida concedida por Cristo a nós gratuitamente (Ef 2.10). Te-
Alexander De Bona Stahlhoefer
8 SCHNEEWIND, J. B. A invenção da autonomia. São Leopoldo, Unisinos, 2001.9 BONHOEFFER, D. Discipulado. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal, 1984.
7Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
mos plena liberdade para agir em favor do próximo, pois somos servos
obedientes e em tudo sujeitos a Cristo.10
Assim como a fé é despertada pela promissio do Evangelho, da
mesma forma a Igreja é criatura do evangelho.11 Fé em Cristo cria comu-
nidade, cria a comunhão daqueles que professam a fé no mesmo Deus
Triuno, pois a essência do Deus Trindade é a comunhão das três pessoas.
Na comunhão, o discipulado (seguimento) é alimentado, e evoca o teste-
munho concreto do amor ao próximo, não como lei (obrigação), mas como
nova obediência motivada somente por gratidão a Deus pela graça nos
concedida em Cristo (Confissão de Augsburgo, art. 5).
Um exemplo concreto encontra-se em Atos dos Apóstolos. A co-
munidade de Jerusalém reunia-se para celebrar sua fé em Cristo, para ali-
mentar os laços de irmandade, com o objetivo de ser uma comunhão que
vive na perspectiva da iminente volta de Cristo. Nesta esperança esta co-
munhão (comunidade) modifica as realidades onde se encontra e por este
motivo também acaba por contar com apoio popular (At 2). A comunhão
local em torno das dádivas de Deus (Pão e Vinho, Palavra, Oração) é fer-
mento para ação coletiva e individual, porém também é chamada a lem-
brar-se que é juntamente com outras comunhões locais ao redor do globo
o corpo universal de Cristo, e com isto chamada a um comprometimen-
to maior com uma causa que é global, pois Jesus Cristo é Senhor sobre
todo o cosmos. As Igrejas não devem estar sozinhas, mas lançar mão do
diálogo para buscar consensos éticos amparados nas Escrituras que moti-
vem a uma ação coletiva cristã no mundo.
Da mesma forma como a teologia latino-americana sempre buscou
o diálogo com as ciências sociais, neste artigo continuamos nesta tradição
dialogal, pois não há uma contradição inerente entre fé e a ciência. Lutero
10 LUTERO, M. Da liberdade cristã. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 1998.11 Cf. BAYER, O. A teologia de Martim Lutero. São Leopoldo: Sinodal, 2007. p. 31-32; 187.
8 Alexander De Bona Stahlhoefer
compreendia a razão como tendo “algo de divino em si”. É uma capacida-
de para gerenciar conhecimento humano. A razão produz ciência, e isto é
fruto da graça criadora de Deus, que fez também a razão como imagem e
semelhança do Criador.12 Desta forma, o diálogo com as ciências sociais,
em especial com a economia, poderá trazer bons frutos para nossa refle-
xão como Igreja. Não cabe a teologia se colocar arrogantemente acima
das ciências como a verdade última. Nossa teologia quer em humildade,
conhecendo suas limitações impostas pela razão, dialogar criticamente
com as ciências, questionando seus compromissos com a vida e com o
direito. Por sua vez as ciências nos questionarão até que ponto nosso com-
promisso com o discipulado de Cristo está sendo levado a sério na práti-
ca.13 Nenhum saber, nem mesmo o teológico, poderá arrogantemente co-
locar-se como juíza absoluta de normas e valores, uma vez que sistemas
políticos e econômicos são frutos de uma construção social permeada pelo
pecado, ainda que na tentativa de sermos justos com todas as pessoas.
2.1 A Igreja e sua relação com a política e a economia
Infelizmente não é possível afirmar que há consenso sobre os temas da
política e da economia dentro da Igreja de Jesus Cristo, são antes questões de
disputas internas. Sejam disputas motivadas por convicções político-partidá-
rias de grupos cristãos, sejam motivadas por convicções teológicas.14
Entretanto a confissão de que Jesus Cristo é Senhor soberano so-
bre toda a criação, como fez a Igreja Confessante durante a Segunda Guer-
ra, é completamente suficiente para manter a unidade da Igreja na sua
12 LUTERO. In: BAYER, 2007. p. 115.13 WESTPHAL, E. R. Teologia como fé inteligente: aspectos teológico-filosóficos. In:Vox Scripturae 18:1. São Bento do Sul: FLT, 2010. p. 101-108; cf. tambémTÖDT, H. E.Versuch einer‚ theorie der urteilsfindung. In: _____. PerspektiventheologischerEthik. München, Chr. Kaiser, 1988. p. 21-48.14 Ver seção posterior sobre as visões de justiça distributiva existentes dentro do Cristianismo.
9Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
diversidade de pensamentos.15 Portanto, nesta seção queremos apresentar
alguns tópicos para auxiliar a reflexão teológica de um ponto de vista
luterano e latino-americano que nos abra para o diálogo acerca das políti-
cas sociais e econômicas.
a) A Igreja e a(s) Política(s)16
Deus age no mundo para a salvação eterna e para a manu-tenção da paz. O Evangelho, através do Espírito Santo, en-sina cada pessoa cristã a não fazer o mal e a sofrer a injus-tiça quando causada pelo testemunho da verdade. O Reinode Deus é governado pelo Evangelho de Jesus Cristo e épor meio dele que Deus concede salvação. O Evangelhonão é uma nova lei através da qual Deus quer que o mundoseja governado. Diante de uma realidade democrática, adistinção precisa sublinhar a ação da pessoa cristã na buscapor justiça e no fazer o bem ao próximo. A palavra de Luteroincentivando as pessoas cristãs a assumirem funções nosgovernos pode ser aqui sublinhada.17
Como nenhum ser humano é justo por natureza, Deus instituiu a
Lei para que a maldade não seja praticada conforme a natureza pecamino-
sa do ser humano. A autoridade civil, com a força da lei, foi constituída
por Deus para coibir o mal, a injustiça e manter a paz externa. Sendo a
autoridade civil constituída por causa dos desejos maus e a inclinação a
devorar uns aos outros, as pessoas cristãs estão submissas à autoridade
civil por amor ao próximo, pois desta forma ele fará o que é bom e pro-
veitoso para o próximo. Como a autoridade é criação de Deus (Rm 12.1,4),
a pessoa cristã pode fazer uso dela (1Tm 4.4) e, como serviço especial a
Deus, ela deve também ocupar a função de autoridade, mas nunca para
15 A DECLARAÇÃO TEOLÓGICA DE BARMEN. IN: Estudos teológicos. São Leopoldo: Facul-dade de Teologia da IECLB, 1984. n. 2, ano 24. p. 95-97.16 Esta seção é um resumo de STAHLHOEFER, A. B. A distinção dos dois regimentos emLutero: recepção na teologia luterana e implicações para a etica política. In: VoxScripturae 17:1. São Bento do Sul: FLT, p. 93-131. O último parágrafo sobre a recep-ção do tema nos documentos emitidos pela Presidência da IECLB não consta no artigoacima referido.17 LUTERO, M. Da autoridade secular: até que ponto se lhe deve obediência. In: OSel 6,1996. p. 90-96.
10 Alexander De Bona Stahlhoefer
benefício próprio. O limite da autoridade civil é nas questões civis: ela
pode cobrar impostos, estabelecer leis e julgar infratores, porém não pode
exigir fé em algo ou estabelecer leis sobre assuntos de fé pessoal (At 5.29).
Os dois regimentos devem, neste mundo, permanecer um ao lado
do outro, pois o regimento do Evangelho cria pessoas cristãs, enquanto
que o regimento da lei, por meio da autoridade civil, coíbe o mal e man-
tém a paz, criando cidadãos e cidadãs. O desejo de Deus é tanto a salvação
em Cristo quanto a paz, e por isto é necessário que tanto um quanto outro
regimento permaneçam. Os dois regimentos não são duas esferas inde-
pendentes, mas são duas formas do mesmo Deus e Senhor governar este
mesmo mundo, onde pessoas justas e injustas convivem lado a lado.
A Igreja deve ser crítica em relação aos governos e políticas que não
promovem a justiça e os direitos humanos, deve defender a causa das pessoas
pobres e marginalizadas e com isto demonstrar que ama e que busca justiça
em favor da outra pessoa. Na compreensão do uso civil ou político da Lei,
fundamentamos que a pessoa cristã deve se envolver nas causas sociais e
políticas através de movimentos da sociedade civil organizada que buscam
justiça. A pessoa cristã também deve se candidatar a cargos públicos para que
possa servir a Deus através da sua função, desempenhando-a com abnegação
e amor. Também deve viver responsavelmente diante da sociedade cumprin-
do as leis estabelecidas, exercendo seu direito ao voto e expressando suas
convicções moldadas pela fé em Cristo. A Igreja prega a respeito das Escritu-
ras e da vontade de Deus e cada pessoa cristã deve discernir quais projetos são
coerentes com a justiça e o bem. Neste sentido, a fé cristã é crítica com as
ideologias e deve cuidar para não abraçar acriticamente ideologias como se
fossem cristãs. A diaconia é o meio pelo qual a Igreja age responsavelmente
diante da sociedade, envolvendo-se nas áreas da educação, saúde, cidadania,
segurança, ecologia e meio ambiente, cultura e esporte.18
18 O tema da Diaconia será tratado adiante no artigo.
11Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
Como exemplo, tomo a Igreja Evangélica de Confissão Luterana
no Brasil que já em 1970, durante o regime militar no Brasil, expressou
com clareza seu chamado a ser crítica ao governo (Manifesto de
Curitiba).19 Apresentou seu questionamento sobre a prática de violações
aos direitos humanos e suas dúvidas quanto à substituição do ensino
cristão pela educação moral e cívica nas escolas. No Natal de 1978, a
IECLB se colocou ao lado das pessoas que sofreram violência sob as
leis de exceção. Em 1988, o então P. Presidente Brakemeier escreveu
sobre a relação Estado e Igreja, conclamando as comunidades a serem
críticas diante das propostas dos candidatos/as a vereador/as e prefeito/
a. Recentemente o P. Presidente Walter Altmann exortou a que cada um
vote de acordo com sua consciência, não se deixando levar pelas mani-
pulações de cunho religioso veiculadas na Internet. Todos estes
posicionamentos tiveram como base teológica a distinção dos dois Re-
gimentos e são exemplos práticos de como a Igreja deve continuar sen-
do crítica, isto é, dialogando a partir da sua ética com as propostas e
ideologias políticas. Cada pessoa cristã deverá exercitar seu arbítrio po-
lítico, mantendo firme sua ética cristã e optando pelas propostas políti-
cas que julgar adequadas. Não cabe a Igreja, nem na sua acepção comu-
nitária, muito menos como corpo nacional ou comunhão global, abraçar
ideologias, partidos ou sistemas como se fosse seu próprio modelo de
atuação política. Mas no seu papel crítico-profético deve promover a
discussão pública e comunitária das ideologias políticas, sociais e eco-
nômicas de forma que facilite o conhecimento, o debate e a criação de
um senso crítico no seio da comunidade cristã.20
19 http://www.luteranos.com.br/articles/8191/1/Manifesto-de-Curitiba—1970/1.html.20 A respeito da história do surgimento da consciência sócio-política na IECLB vejaSCHÜNEMANN, R. Do gueto à participação. São Leopoldo: Sinodal, EST/IEPG, 1992. Arespeito do uso do conceito de “dois reinos” ou “regimentos” na história da Igreja Luteranaveja DUCHROW, U. Zwei reiche und regimente. Ideologie ou evangelische orientierung?Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus, 1997.
12
b) Justiça, misericórdia e fidelidade.A profecia no Antigo Testamento era caracterizada em pri-meiro lugar por uma firme consciência do profeta comopessoa chamada por Deus para uma tarefa específica. Oprofeta e a profetiza tinha consciência do seu dever diantede Deus. Muitas vezes, o profeta e a profetiza deixava suasgarantias sociais para viver na dependência de Deus no afãde cumprir a missão a que lhe fora conferida. O foco da men-sagem profética não estava no chamado a uma piedade ensi-mesmada, bem pelo contrário, profetas e profetizas tinhamliberdade de criticar a crença nacional que afirmava estaremautomaticamente sob a bênção de Deus todas aquelas pesso-as que fossem descendentes de Abraão. A profecia ressaltaque Deus deseja justiça, misericórdia e fidelidade (Os 6.6,Mq 6.8). O apostolo Paulo compreende o espírito da profe-cia quando afirma que o culto que Deus deseja é aquele noqual oferecemos nossa vida toda, sem ressalvas para a obraque Deus quer fazer neste mundo (Rm 12.1). Também comnossas ações em favor das pessoas necessitadas e excluídascultuamos a Deus (Cl 3.17, 23).21
No pensamento ocidental, consideramos que uma pessoa justa é
aquela que age de acordo com os princípios da legalidade e da justiça, ou
seja, se alguém cumpre as normas determinadas pela sociedade, ela é jus-
ta. O pensamento hebraico ressalta a relacionalidade de Deus e do ser
humano. Justiça não é definida em termos de conceitos puros, como um
critério de imparcialidade medido por uma norma moral absoluta, mas em
termos de fidelidade a uma pessoa. Deus é justo, pois se mantém fiel ao
seu povo, com quem celebrou uma aliança. Uma pessoa é justa na medida
em que se mantém fiel ao seu semelhante. É uma justiça salvífica, que se
importa antes com a pessoa. Justiça é salvação, por isto Deus imputou
justiça a Abraão (Gn 15.6) e imputa justiça a qualquer pessoa através da fé
em Jesus Cristo (Rm 1.16-17). A justiça concedida por Deus a nós é o que
nos mantém numa relação de fidelidade com Deus. Tal justiça nos leva a
enxergar na pessoa desamparada alguém amada de Deus, alguém que tam-
21 VON RAD, G. Teologia do Antigo Testamento. 2. ed. São Paulo: ASTE, Targumim,2006. p. 489ss.
Alexander De Bona Stahlhoefer
13Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
bém é imagem e semelhança do criador. A justiça de Deus também quer
alcançar a pessoa desamparada nas suas necessidades básicas uma vez
que Deus é fiel a sua comunidade.22
A fidelidade se mostra no conceito de solidariedade. Este concei-
to tem seu lugar vivencial na família, onde cada um é visto como irmão e
irmã e onde, por exemplo, a cobrança de juros é proibida (Ex 22.25). Não
se pode querer tirar lucro do seu irmão ou da sua irmã, pois as pessoas da
família querem ajudar umas às outras sem receber algo em troca, por sim-
ples amor, por solidariedade. No nível estatal, o reino de Israel é reino de
“irmãos e irmãs”, neste o rei é chamado a agir com imparcialidade. Este é
o mesmo argumento de Lutero em seus escritos a respeito da economia. O
Reformador utiliza o argumento filosófico da equidade.23 Entre dois ex-
tremos, deve-se escolher o mediano. Em assuntos econômicos, o rei de
Israel deveria garantir a cada pessoa o que é justo, o que lhe cabe por
direito por direito. Porém o rei deveria se colocar ao lado das pessoas
pobres, das crianças órfãs e da viúva não por causa da solidariedade, mas
por direito e justiça. É dever do rei dar a estas pessoas o que lhes cabe. O
Rei deveria ser fiel às pessoas excluídas, pois são seus “irmãos e irmãs”
na comunidade israelita.24
A justificação, portanto, nos compromete com o próximo. Como
uma família, nos comprometemos com a solidariedade, com a ação de
amor em favor da pessoa necessitada, da pobre, da excluída e da que está
sem condições para ter vida digna numa sociedade que objetiva a
competitividade, o desempenho e o lucro. Diante de governos e autorida-
des, devemos clamar por equidade, direito e justiça, dando a cada pessoa
o que é devido para que tenha acesso e possibilidade de uma vida digna.
22 VON RAD, 2006. p. 359-372.23 RIETH, R. Economia: introdução ao assunto. In: OSel 5, 1995. p. 367-373.24 Cf. KLEINE, M. Solidariedade no Antigo Testamento. Três modelos e sua relevânciapara a ética cristã. In: Vox Scripturae 17:1. São Bento do Sul: FLT, 2009. p. 27-40.
14
Compreendemos que ser justo é ser fiel a Deus e à nossa comuni-
dade em amor ao próximo, entendida não só num sentido de grupo eclesi-
ástico, mas num sentido amplo, que engloba toda a pessoa humana, sem
quaisquer distinções.
c) Graça, amor e economia
O que tem graça e amor em comum com a economia? Eco-
nomia tem sua raiz no grego oikos, a casa, mesma raiz das palavras
ecumenismo e ecologia. Ambas as palavras tem o seu foco na relação
existente dentro da casa, o habitar juntos. Habitamos este planeta cha-
mado Terra e cremos que ele é boa criação de Deus (assim como todo
o cosmos). A criação não é fruto da nossa capacidade inventiva e
transformadora, é dádiva de Deus, especificamente da graça de Deus.
A história da criação nos ensina que nossa tarefa neste mundo é culti-
var e cuidar. Somos responsáveis conjuntamente pela administração
desta casa chamada Terra.
Por um lado, o testemunho bíblico compreende este mundo
como criação de Deus e, portanto, as terras como um bem universal. Por
outro lado, o povo de Israel recebeu ordem de repartir a terra prometida e
conquistada entre as tribos (Nm 34.18). Cria-se assim um sistema onde há
propriedade privada, porém num molde coletivo: a cada 50 anos as terras
vendidas deveriam voltar ao proprietário original (Lv 25.10). A terra tam-
bém não pode ser explorada como uma escrava, ela merece descanso a
cada sete anos (Lv 25.4). Este descanso propicia a terra o tempo necessá-
rio para se regenerar e assim ter a força necessária para continuar a produ-
zir o alimento necessário. Este ciclo natural de trabalho e descanso fora
previsto no Decálogo mosaico (Êx 20) e aqui se aplica também a terra. A
agricultura, pecuária, silvicultura, pesca, e o extrativismo mineral moder-
nos não somente desrespeitam a Escritura, mas também afrontam o ciclo
natural da vida, e por isto exaurem as forças da terra não sendo capazes de
Alexander De Bona Stahlhoefer
15Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
fornecer energia de fontes realmente renováveis e ecologicamente
corretas.A terra não fora dada para benefício individual, mas para toda
pessoa humana, pois tanto estrangeiros quanto pessoas empobrecidas ti-
nham o direito de buscar o seu alimento a partir do excedente de produção
(Lv 19.10, 23.22). Até mesmo os animas tinham o direto de se alimenta-
rem da plantação em que estavam trabalhando, não deviam ser amordaça-
dos durante o trabalho (Dt 25.4). A terra de Canaã é teologicamente para
Israel uma dádiva imerecida, pois sua conquista é fruto da mão do Senhor.
Por vezes em Israel esta compreensão da terra como dádiva não foi
levada a sério. Na época do reino dividido, os profetas e as profetizas
foram por Deus chamadas a levantaram a voz contra a injustiça social.
Miquéias acusa os latifundiários que roubam as propriedades do povo
pobre. Como consequência, o profeta afirma que tais pessoas não partici-
parão da promessa graciosa de uma futura divisão de terras promovida por
Deus (Mq 2.1-5). Isaías igualmente proclama juízo de Deus contra os lati-
fundiários que tomam as terras das pessoas pobres (Is 5.8s). A acusação
não é contra a quantidade de terras, mas pelo meio fraudulento e injusto
através da qual elas foram obtidas. A falta de amor e da compreensão de
que a terra é dádiva da graça de Deus fazem com que o ser humano se
entregue à ganância, e por fim à injustiça.
Lutero compreendia que a ganância, a injustiça e o desamor como
frutos da radicalidade do pecado humano. Sua relação de inimizade e afas-
tamento de Deus confluem em ações de injustiça ou na passividade que
não produz mudanças reais.25 Somente pela fé na graça oferecida a nós
por causa da obra de Cristo na cruz é que a humanidade encontra possibi-
lidade para perceber este mundo sob a perspectiva do amor. Quando Deus
nos torna justos diante dele, por intermédio da fé somente, somos reconci-
25 LUTERO, M. Da vontade cativa. In: OSel 4, 1993. p. 11-216. Cf. também SKINNER, Q.The foundations of modern political thought. v. 2. Cambridge: Cambridge UniversityPress, 1978. p. 4-6.
16
26 Cf. Confissão de Augsburgo, art.4 (Da Justificação); cf. também WESTPHAL, E. R. Osignificado da fórmula “por causa de Cristo“. In: Estudos teológicos, 2003. 43:1.
liados com Deus, com nosso próximo e conosco mesmos. E pela obra
reconciliadora de Cristo, no poder do Espírito Santo, podemos agir em
conformidade com o amor de Deus.26
Por isto Paulo pode afirmar que a fé atua no amor (Gl 5.6). O amor
de Deus é este, que seu Filho Jesus veio ao mundo para dar a sua vida em
resgate de muitas pessoas, e agora nós somos chamados/as a dar a nossa
vida pelo próximo (1Jo 3.16). O princípio do Evangelho é o amor de Deus.
A graça é a manifestação concreta do amor, pois dá sem esperar algo em
troca. A graça é incompreensível para a mentalidade do mercado. Por isto
Lutero chama de comércio maravilhoso onde Jesus “comprou” nosso pe-
cado ao preço da sua própria vida e nos presenteou com reconciliação. Se
já recebemos tudo de graça, porque não repartirmos tudo por graça? Não
se trata aqui de uma obra meritória, pois não há nada que façamos que
possa pagar de volta aquilo que Deus fez por nós em Cristo. Nossa respos-
ta é apenas gratidão!
Por um lado precisamos encontrar iniciativas dentro de nossas co-
munidades para que pratiquem o amor ao próximo, gratidão, partilha e
auxílio mútuo. A comunidade cristã pode fazer diferença na comunidade
civil ao seu redor. Isto é diaconia, é serviço em amor ao próximo.
Por outro lado, o mundo na sua lógica antidivina não pode compre-
ender a graça e o amor de Deus. O Evangelho não é plano de política
econômica que deva ser imposto à sociedade. Entretanto as pessoas cris-
tãs devem levantar dentro da sociedade o questionamento sobre as estru-
turas econômicas que não estejam favorecendo o amor ao próximo. Na
Bíblia encontramos diversas denúncias a sistemas econômicos corruptos.
Em Apocalipse 6.5-6, o cavalo negro é a fome, que traz consigo a inflação
que consome o valor do dinheiro da pessoa pobre, que precisa comer sem-
pre algo mais barato. O mesmo sistema econômico, por outro lado, conti-
Alexander De Bona Stahlhoefer
17Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
nua fartando a mesa das pessoas ricas com o melhor dos frutos da terra.
Lutero conclamou pregadores e pastores para que alertassem as pessoas
cristãs a respeito das estruturas econômicas injustas de sua época. Para o
Reformador, há urgência escatológica em denunciar a injustiça: “Nós pre-
gadores temos que pregar para que estejamos desculpados em seu dia der-
radeiro”.27 Porém não podemos ficar num denuncismo inerte, temos o di-
reito de exigir que todas as pessoas tenham acesso igual à alimentação,
habitação, saúde, educação, cultura, esporte, e com qualidade, porém de-
vemos nos empenhar para concretizar projetos que efetivamente colabo-
rem na mudança do cenário social.
d) “Cuidar e guardar” – o imperativo ecológico
No primeiro relato da criação conforme o livro de Gênesis
(Gn 1.1-2.4a) lemos no v.28 a seguinte ordem de Deus: “Sede fecundos,
multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre (...)”. Este
versículo favoreceu a interpretação de que a terra era objeto de domínio
do ser humano, e que este teria o direito divino de explorá-la em busca,
não só do próprio sustento, mas em busca de autorrealização econômica.
Segundo Eugen Drewermann este seria o versículo bíblico que foi segui-
do mais ao pé da letra nos últimos tempos.28 E de fato, ao olharmos para a
degradação do meio ambiente, para o buraco na camada de ozônio, para o
aquecimento global e para as catástrofes naturais ocorridas no Brasil nos
últimos dois anos (sequencias de enchentes, secas, desbarrancamentos,
ciclones e vendavais, até pequenos tremores de terra), fica a pergunta:
qual é a responsabilidade do ser humano diante de tudo isto? Como pesso-
as cristãs, ao lermos o versículo citado, acabamos legitimando a destrui-
ção da natureza como se ela fosse simplesmente nossa serva.
27 LUTERO, M. Aos pastores para que preguem contra a usura. In: O Sel 5, 1993. p. 491.28 DREWERMANN, E. Religião pra quê? Buscando sentido numa época de ganância esede de poder. São Leopoldo: Sinodal, 2004. p. 07.
18
Entretanto, no segundo relato da criação (Gn 2.4b-25) no versículo
15, lemos: “Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jar-
dim do Éden para o cultivar e o guardar.” Cultivar e guardar, numa primei-
ra leitura, estão em flagrante oposição a sujeitar e dominar. O cultivo é a
atividade preponderante do agricultor e da agricultora, daquela pessoa que
prepara a terra. O jardim foi dado ao primeiro casal não como posse, mas
como dádiva que exigia trabalho e cuidado. A tarefa do casal era cultivar e
tomar conta da terra. É dada uma responsabilidade conjuntamente com a
dádiva. Na narrativa javista de Gn 2 os animais são chamados à presença do
homem que lhes dá nomes, e assim participa no processo criacional. Os
animais serão parceiros da humanidade na tarefa agrícola e de proteção da
terra, ao servirem o homem e a mulher com seu trabalho.29
Por sua vez, o verbo sujeitar em hebraico tem a conotação de redu-
zir a escravidão, pisotear, amassar. Quem sofre a sujeição é a terra. Já o
verbo dominar também pode ser traduzido por governar, exercer poder
sobre. Quem sofre a ação são os animais.30
A leitura separada dos textos e individualizada, sem dúvida nos le-
vará a uma interpretação errônea de que o governo que Deus concede a
humanidade sobre a terra é arbitrário e coercitivo somente. Ao colocarmos
as duas narrativas lado-a-lado queremos demonstrar que, se por um lado o
meio ambiente é o local de domínio da raça humana, por outro ângulo ele
também é, ao mesmo tempo, parceiro do ser humano, criatura de Deus,
objeto da nossa responsabilidade. Ou seja, governar a terra (Gn 1.26) é uma
tarefa que exige força, mas igualmente sabedoria, responsabilidade, e so-
bretudo, amor cristão.31 A criação aguarda a revelação dos filhos e das filhas
de Deus (Rm 8.22-23) e, por enquanto, suporta angústias e geme de dores
29 SCHMIDT, W. H. A Fé do Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 2004. p. 258,263.30 Cf. DREWERMAN, 2004, p. 7ss.31 SILVA, M. Fé cristã e meio ambiente. In: CBE. Missão Integral. Viçosa: Ultimato;Belo Horizonte: Visão Mundial, 2004. p. 91-100.
Alexander De Bona Stahlhoefer
19Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
por tudo que é feito contra ela. A expectativa da nova criação é grande (Is
11.6, 65.25; Ap 21.5) porém ainda não vivemos na nova criação, por outro
lado já agora experimentamos a graça de Deus. Não faremos deste mundo a
nova criação, mas não podemos cruzar nossos braços e apaticamente aguar-
dar o irromper escatológico de Deus. A esperança escatológica quer nos
fazer agir já agora, pois temos no dia de hoje uma tarefa de cuidar, zelar e a
amar o que Deus criou. Para Lutero, Deus na criação instituiu o estamento
da casa “oikos” como espaço de vivência e obtenção do pão diário. A vivência
humana exige responsabilidade, pois está diretamente ligada ao estamento
“espiritual”, a relação com Deus, o criador. A partir da relação entre palavra
e fé, vivemos nossa relação “ser humano um com o outro” e “ser humano
com a criação”. A palavra que nos convida à fé é a mesma palavra que nos
responsabiliza um com o outro e com a criação em amor.32
Por causa do amor não consideraremos a criação como uma coisa
que está aí para ser consumida e degradada conforme as necessidades hu-
manas. Uma leitura rasa dos textos bíblicos pode conduzir a uma
legitimação dos processos de degradação do meio ambiente. Entretanto,
sublinhamos aqui o recente chamado de teólogos como Jürgen Moltmann
e Carlos A. Sintado para uma hermenêutica que considere a terra como
um bem comum de todos. Que coloquemos a criação como um todo aci-
ma de nós mesmos, ainda que o Salmo 8 nos indique que a pessoa humana
seja a coroação da criação, está coroa não poderia ser lida como um
legitimação de um poder dominador, antes como responsabilidade para
proteger. Moltmann propõe uma inversão no esquema Deus-homem-ter-
ra, para um novo paradigma Deus-terra-homem. No velho paradigma o
ser humano estava abaixo de Deus e acima da criação, porém esta hierar-
quia de valor favoreceu a um domínio irresponsável da terra. Mesmo o
antigo Israel com toda a legislação que previa descanso para a terra, per-
32 Cf. BAYER, O. 2007, p. 87ss.
20
dão das dívidas, alimento para o pobre, dignidade até mesmo para o ani-
mal nos campos, experimentou desigualdade e injustiça social. O novo
paradigma propõe inverter os valores, onde o bem comum da terra é colo-
cado acima dos desejos do ser humano. Onde a interdependência está aci-
ma da individualidade. De forma que Deus permaneça sendo confessado
como o Senhor do cosmos, mas onde o ser humano, em amor busca pri-
meiro o interesse da criação, e não o seu próprio.
e) “A imagem de Deus os criou” – o valor da pessoa humana
Vida na perspectiva biológica é simplesmente uma função bi-
oquímica. Ao cessarem as funções bioquímicas do cérebro, o indivíduo
entra em morte cerebral (ainda que as células do corpo ainda estejam vi-
vas – o que possibilita um transplante, por exemplo). O ser humano en-
quanto usina bioquímica não é diferente do animal, o que o diferencia é
sua consciência. Neste sentido, a partir do racionalismo o ser humano é
definido enquanto ser que pensa [res cogitans] e ser material (corpo) [res
extensa], levando assim à máxima de Descartes “cogito ergo sum” [pen-
so, logo sou]. O ser humano na filosofia racionalista-cartesiana é definido
pela capacidade de consciência. Teologicamente consideramos vida uma
dádiva de Deus. O corpo humano é também uma usina bioquímica. Ainda
que a concepção oriental (hebraica) seja pré-científica ao compreender o
ser humano como moldado do barro, o compreende como feito da mesma
matéria que a natureza criada. O ser humano também é transitório e
“bioquímico”. O ser humano não é algo mágico. Nisto a teologia hebraico-
cristã é bem realista. Porém, vida é dádiva, pois o ser humano moldado do
barro, ainda sem vida, recebe-a de fora como sopro que Deus insufla nas
narinas do ser humano. Este sopro de Deus promove vida no ser humano.
E este passa a ser definido como “alma vivente” [ser com vida].
O relato de Genesis 1, por sua vez, atesta que o ser humano foi cria-
do a imagem e semelhança do criador. Estes termos cognatos designam a
intenção do criador em que sua criatura fosse seu representante fiel na Terra,
Alexander De Bona Stahlhoefer
21Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
responsável pela administração do maravilhoso empreendimento de Deus.
Enquanto o pensamento racionalista considera o ser humano um ser enquanto
pensa, e de acordo com o pensamento pós-moderno, enquanto é útil, a partir
dos dois relatos da criação percebe-se que o ser humano é definido enquanto
ser na relação com seu criador (imagem e semelhança do criador; e ser que
recebe vida a partir de fora). A dignidade do ser humano não se encontra no
que faz, ou no que é em si mesmo, mas no fato de ser criado por Deus. Por isto
a vida humana é algo sagrado e todo ser humano é digno por ter sido criado
por Deus, e igualmente por ter sido amado por Deus, em Cristo Jesus.
A vida humana não está à disposição do mercado ou do governo. Não
se pode dispor da vida humana para fins de pesquisas sem um consentimento
realmente livre e esclarecido.33 Igualmente a força de trabalho não está à dis-
posição do mercado sem justa recompensa. Condena-se assim toda forma de
escravagismo, inclusive aquela que é velada através do pagamento de somas
irrisórias e completamente injustas, beneficiando grandes empresas em detri-
mento da saúde e da dignidade de vida das populações empobrecidas. Cabe
aos governos, e na omissão deles ao terceiro setor, a defesa da vida humana,
da sua dignidade, do direito ao trabalho com justa remuneração, da educação
de qualidade, do acesso à saúde, esporte, lazer e cultura, da garantia das liber-
dades individuais e do respeito às suas crenças e valores individuais.
Importante observar que o primeiro relato atesta que o ser humano foi
criado “homem e mulher” (literalmente “macho” e “fêmea”), não diferenci-
ando os dois gêneros como sendo um mais importante que o outro diante de
Deus. O relato, pelo contrário, atesta a igualdade de ambos diante do criador.
Já o segundo relato, mais polêmico, afirma que a mulher foi criada da “coste-
33 Há relatos de que populações em países pobres são submetidas a experimentos cien-tíficos sem um consentimento livre, pois foram induzidos por motivos econômicos epolíticos, ou mesmo coagidos a participarem das pesquisas. Nestes casos o consenti-mento também não é esclarecido, pois os objetivos das pesquisas não são deixadosclaros para quem dela participa, e não é oferecido suporte médico e justa compensaçãopela participação. Cf. WESTPHAL, E. R. Oitavo dia: na era da seleção artificial. SãoBento do Sul: União Cristã, 2004. p. 39-66.
22
la”, mais precisamente “do lado”. O vocábulo hebraico utilizado significa
também coluna, viga de sustentação, o que pode indicar uma relação estru-
tural entre homem e mulher. Em Genesis 2.23, o homem exclama que a
mulher foi feita ossos dos seus ossos e carne da sua carne. Há uma identifi-
cação profunda, relacional, e intensa entre homem e mulher. O texto não
pode ser usado no sentido de menosprezar o papel da mulher, mas para
demonstrar a mutualidade que pode existir entre homens e mulheres, desfa-
zendo assim uma tradição que colocou a mulher numa posição de completa
submissão à vontade masculina. Não é possível concordar com posições
que inferiorizam a mulher no mercado de trabalho, no acesso à educação, à
saúde, muito menos legitimar qualquer forma de violência física ou verbal.
A igualdade de homem e mulher está dada na criação e igualmente em Cris-
to (Gl 3.28), e por isto precisamos defender o direito da mulher.
A imagem de Deus não se refere somente às pessoas adultas. Já menci-
onamos que o paradigma racionalista considerava o ser humano apenas quanto
à sua racionalidade. Esta lógica é quebrada ao considerarmos o ser humano
enquanto criado à imagem e semelhança de Deus. Igualmente são imagem e
semelhança de Deus crianças, idosos, povos indígenas, populações marginali-
zadas, encarcerados, moradores de rua, entre outros contingentes populacionais
em situação de risco social, exclusão, pobreza e marginalização. Jesus Cristo
disse: “deixai vir a mim as criancinhas, não as impeçam, pois delas é o Reino
dos céus” (Mc 10.14). O profeta Zacarías anuncia tempos em que novamente
idosos e idosas estarão nas praças. Toda a pessoa humana é amada por Deus e,
portanto, precisa ter seu direito assegurando, priorizando-se aquelas que têm
sofrido injustiça, pobreza, a falta de oportunidades, a exclusão.
Uma leitura bíblica que não leve em conta as desigualdades de
gênero, raça, idade, condição social vão perpetuar as violências sociais já
em curso e permitir que os processos globalizatórios continuem a provo-
car mais vítimas. Carlos Sintado apontou para a necessidade de uma
hermenêutica bíblica que dê prioridade para o marginalizado, o empobre-
Alexander De Bona Stahlhoefer
23Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
cido, que ressalte a interdependência entre as pessoas humanas e o todo da
criação, e que priorize a unidade na e da diversidade. Em Cristo somos
um, e isto deve significar algo concreto na vida de cada pessoa, não ape-
nas um axioma teológico sem aplicação prática.
f) O papel da diaconia na mudança do cenário social e
economico
Segundo Kjell Nordstokke “a diaconia é a ação, a partir da
identidade cristã, num contexto de sofrimento e injustiça, com a finalida-
de de transformar”.34 Ela não é o fruto de uma reflexão ética, mas fruto do
agir gracioso de Deus em Cristo que “veio para servir” (Mc 10.45) e nos
chama para o serviço (Mc 10.44). Na justificação a pesoa cristã é feita
nova criatura e chamada a viver em novidade de vida. Não é a nova ética
que promoverá a diaconia, mas o estar em Cristo, expresso no discipulado
que inclui o serviço (diaconia). Serviço que surge como gratidão, pois
Deus em Cristo demonstra sua graça transformadora.
A justificação insere a pessoa cristã na comunhão do corpo de Cris-
to. Através da vívida figura do corpo, apresentada pelo Apóstolo Paulo, é
demonstrado que quando um membro sofre, todo o corpo sofre. Há
mutualidade na comunhão. A comunhão do corpo de Cristo possibilita rom-
permos as barreiras do individualismo, pois em Cristo estamos unidos àquela
pessoa que sofre. Se como pessoas cristãs, pertencemos a um só corpo, e em
Cristo está dada nossa comunhão, igualmente como pessoas criadas à ima-
gem e semelhança de Deus pertencemos ao gênero humano, e no ato graci-
oso e de amor da criação está dada nossa comunhão com toda pessoa
humana. A diaconia expressa o amor da comunidade cristã em favor de
toda a comunidade humana. Porque cremos no agir transformador de Cristo
34 NORDSTOKKE, K. Diaconia. In: SCHNEIDER-HARPPRECHT, C. (Org.) Teologia práticano contexto da América Latina. São Leopoldo: Sinodal, ASTE, 1998. p. 268-290. Cf.também as propostas em Diaconia do plano de ação missionária da IECLB: PINTO, H.(Org.). Missão de Deus: nossa paixão. São Leopoldo: Sinodal, 2008. p. 46-50.
24
através da graça de Deus, cremos que a diaconia é a expressão em ação da
graça que transforma o mundo através de pessoas e igrejas cristãs.
Desde a década de 1960, o conceito de diaconia passa por uma mu-
dança. A nova consciência política desde 1970 aponta para o desenvolvimen-
to e mudança social. A diaconia como uma assistência das Igrejas em favor
dos necessitados tornou-se um conceito antiquado, assevera Nordstokke. Em
1986, o CMI organizou uma Consulta sobre Diaconia no Chipre que definiu
diaconia como “expressão viva de testemunho cristão em resposta às necessi-
dades e desafios da comunidade em que cristãos e as igrejas vivem”.35 Segun-
do esta Consulta, a diaconia deve responder aos dilemas da globalização atra-
vés de uma “globalização de baixo”. Isto significa empoderar pessoas para
responderem em ações de paz e amor, como sujeitos do desenvolvimento
social, tendo uma teologia que proclame a importância e o valor da vida hu-
mana. Para o empoderamento e a transformação, a diaconia reconhece o po-
der dos pobres e excluídos. Poder este que é dado pelo próprio Cristo, que
confere autoridades às pessoas discípulas para que possam agir em seu nome.
Em 2001, a Federeção Luterana Mundial organizou a Consulta so-
bre Diaconia Profética em Johannesburgo. Por profética a diaconia enten-
de a luta dos profetas do Antigo Testamento pela justiça social. Enquanto
ação a diaconia comunica a mensagem de que novos tempos virão e de-
fende a justiça, desmascarando injustos e firmando um compromisso em
favor do direito dos excluídos.36
Portanto, a diaconia não é como uma poderosa ação social das igre-
jas, mas como um empoderamento do Espírito de Deus. Reconhecemos que
não somos por si mesmos os sujeitos da tranformação social, mas cremos
que Deus empodera a sua Igreja, o Corpo Universal, para a transformação.
35 KLAUS, P. (Ed.) Called to be neighbours: diaconia 2000. Official Report WCC WorldConsultation, Inter-church Aid, Refugee and World Service Lanarca 1986.Genebra: WCC,1987.36 Cf. NORDSTOKKE, K. Diaconia: uma perspectiva ecumênica e global. In: Estudosteológicos, v. 45, n.1. São Lepoldo: EST, 2005. p. 13-16.
Alexander De Bona Stahlhoefer
25Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
Uma das possíveis maneiras de as Igrejas promoverem concreta-
mente o empoderamento para a transformação é através da criação de en-
tidades do Terceiro Setor. Estas entidades terão a possibilidade de criar
espaços de comunhão entre pessoas cristãs, e de outras religiões e credos,
que tenham o mesmo objetivo de transformação no cenário sócio-
economico. As entidades do Terceiro Setor podem manter ligação com a
Igreja, e ao mesmo tempo cooperar com o poder público, empresas priva-
das e com a sociedade civil para a promoção das suas finalidades sociais.
A partir das demandas sociais encontradas no trabalho numa entidade do
Terceiro Setor, surgirão temáticas que deverão ser debatidas com a comu-
nidade civil. A diaconia não é ação política, porém, promoverá tal debate
político e a colaboração social para a construção de políticas públicas jus-
tas e que promovam a tranformação. Desta forma a diaconia pode colabo-
rar na transformação do cenário político.
Como exemplos de ações diaconais que visam à transformação,
podemos citar as seguintes demandas sociais: promoção da agricultura
sustentável e orgânica, de melhores condições e acesso à habitação, aces-
so à saúde e assistência social, defesa dos direitos humanos, direitos das
mulheres, crianças e idosos, superação da violência, das desigualdades
econômicas e sociais, dos preconceitos, na geração de emprego e renda,
na promoção de práticas comerciais justas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo globalizatório, em suas diferentes ondas, trouxe tanto
benefícios quanto problemas, hora para uns, hora para outros. Entretanto
a onda neoliberal, principalmente nos momentos de crises econômicas
mostra sua pior faceta favorecendo o empobrecimento, demonstrando di-
ficuldade em dar respostas rápidas à população, porém fazendo grandes
esforços para salvar-se a si mesma, enquanto mercado global. É inevitável
26
que vivamos numa “vila global”, entretanto podemos buscar meios de
maximizar benefícios e minimizar problemas.
Como Corpo de Cristo, a Igreja pode maximizar benefícios ao com-
preender-se a si própria como missionada para a salvação integral de toda
pessoa humana. Isto significa que a Igreja tem tanto a tarefa de anunciar a
salvação eterna por meio do Evangelho, quanto proclamar que Deus concede
vida em abundância. Se o desejo de Deus é vida em abundância, e se o desejo
de Deus é amor, então toda e qualquer pessoa é alvo do amor de Deus que
deseja resgatar vidas e conceder condições mínimas para uma vida com dig-
nidade. Por isto a Igreja deve unir-se a pesar das diversidade, deve compreen-
der-se como uma unidade na e da diversidade. Não advogamos um sistema
eclesiástico único, muito menos uma única maneira de expressar a fé cristã.
Antes, apenas um consenso mínimos a respeito daquilo que efetivamente po-
demos fazer juntos, tarefa que Deus deu na criação ao primeiro casal e que
portanto, serviria para qualquer ser humano indistintamente: sermos bons
cuidadores da nossa casa (oikos). Não temos desculpas enquanto Igreja co-
nhecedora das Escrituras! Precisamos nos despir dos nossos preconceitos te-
ológicos, das nossas diferenças denominacionais e projetos individuais. Não
haverá futuro para nós se hoje não nos lançarmos em um projeto de cuidado
com o todo da criação. Estamos todos na mesma casa e se efetivamente con-
fessamos a mesma fé no Deus Triúno é urgente unirmos na diaconia, no servi-
ço ao próximo! Isto não quer dizer que devamos abandonar a pregação, a
evangelização, isto permanece tarefa de cada cristão, de cada igreja local. Mas
como Igreja global precisamos fazer algo em conjunto pela terra, em amor!
Urge proclamar a toda a Igreja: os projetos denominacionais de-
vem ser subordinados às necessidades do nosso planeta! Não haverá quem
nos ouço se não fizermos diferença em nosso planeta hoje. Nossa prega-
ção não fará sentido a menos que nossas atitudes demonstrem o verdadei-
ro amor de Cristo. Se nossa missão não for integral, podemos falar muito
às “almas”, mas não faremos diferenças para as vidas das pessoas.
Alexander De Bona Stahlhoefer
27Azusa – Revista de Estudos Pentecostais
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