IDENTIFICAÇÃO DAS UNIDADES PAISAGÍSTICAS DO MUNICÍPIO DE CAÇAPAVA DO SUL – RS: ENSAIO PRELIMINAR NAS

GUARITAS DO CAMAQUÃ.

MÁRLON MADEIRA¹

JOSÉ MANUEL MATEO RODRIGUEZ²

____________________________________

1. Acadêmico do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail de contato: marlonmadeira@hotmail.com

2. Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail de contato: mateopaisajescuba@gmail.com

RESUMO

O município de Caçapava do Sul (RS) alvo da presente pesquisa, possui aproximadamente 3.047Km² e

está distante cerca de 260 km de Porto Alegre (capital do Estado). O município recebeu em 2015 o título oficial

de “Capital Gaúcha da Geodiversidade” (BORBA, 2017). O trabalho teve como objetivo definir os limites da

unidade de paisagem Guaritas do Camaquã. A região se situa entre os municípios de Caçapava do Sul e Santana

da Boa Vista. Por fazer parte da Bacia Sedimentar do Camaquã compreende um grande conjunto de formas representativas sob os aspectos geológico-geomorfológicos de feições sedimentares resultando em um relevo

ruiniforme com uma ocorrência espacial bem definida, tornando essa região importante, seja pelos aspectos dos

processos naturais, ou pela singular paisagem existente no local (PAIM et al., 2010). Vale ressaltar quea região

foi considerada uma das sete maravilhas do Estado do Rio Grande do Sul, e atualmente está com sua

conservação ameaçada perante o projeto de mineração que fará a retomada da extração mineral próximo ao

povoado das Minas do Camaquã (3º distrito de Caçapava do Sul) (VON AHN, 2018), este projeto mostra o

quanto estão suscetíveis os processos naturais à ação antrópica. A análise geográfica, dentre suas diferentes

concepções, procura estabelecer as relações espaço-temporais entre sociedade e natureza. De acordo com

Estêvez et al. (2011), a paisagem se materializa como resultado das interações entre a sociedade e os elementos

da natureza tornando-se um conceito integrador nos estudos geográficos. França (2010) destaca que a análise dos

processos naturais e antrópicos não pode ocorrer de forma isolada. Nesse sentido, o modelo teórico de estudo da

paisagem, o geossistema, considera a presença de três subsistemas: abiótico, biótico e antrópico (FIGUEIRÓ, 2010). Estas variáveis podem ser sintetizadas através da taxonomia das unidades de paisagem (BERTTRAND,

1972) e, adaptada por Degrandi (2011). Por possuir um espectro taxonômico variado, as unidades de paisagem

apresentam delimitações mais complexas(MONTEIRO, 2000). A delimitação da unidade de paisagem ocorreu

de acordo com os seguintes procedimentos metodológicos: 1)Organização da Base Cartográfica: dados vetoriais

do Estado do Rio Grande do Sul, em escala 1:50.000 (HASENACK; WEBER, 2010); 2) Os limites da Unidade

de Paisagem Guaritas do Camaquã foram redefinidos com base nos dados litológicos da CPRM (2006), na

proposta da Área de proteção do Geossítio Guaritas do Camaquã (PAIM et al., 2010) e adaptada por Santos

(2016); A análise dos resultados corresponde à etapa de reconhecimento dos três subsistemas de análise da

paisagem a partir da nova delimitação pautada nas adaptações feitas por Santos (2016).Por estar inserida na

transição entre a região da Campanha Gaúcha e as Serras de Sudeste (SANTOS, 2016) a área apresenta uma

associação particular dos subsistemas, na qual as atividades humanas, como por exemplo, a pecuária, compromete de forma significativa a integridade dos elementos abióticos e bióticos. A delimitação desta unidade

de paisagem possibilitou compreender o arranjo espacial dos elementos que compõe a paisagem da

região,contribuindo para a discussão de uma futura unidade de conservação municipal a ser implementada no

município de Caçapava do Sul.

ABSTRACT

The municipality of Caçapava do Sul (RS) is target of research, it has about 3,047Km² and it is 206km away from Porto Alegre (The capital of the State). The city received in 2015 the title of “The Capital of Geodiversity”. (BORBA, 2017). The purpose of the task was to define the landscape of Guaritas do

Camaquã limits. The zone is located between the city of Caçapava do Sul and Santana da Boa Vista. For being part of the Sedimentary Basin of Camaquã, it embraces a huge number of representative forms of the geological-geomorphological aspects resulting in reuniform reliefs with a spatial occurrence well defined, turning it into a very important region, not only for the natural process but also the local singular natural landscape existent. (PAIM et AL., 2010). It is importantly to point out that the region was considered one of the Seven Beauties of the Estate of Rio Grande do Sul, and it is currently under threat because of the mining Project that will bring back the mineral extraction activity nearby the village of Minas do Camaquã. (3º district of Caçapava do Sul) (VON AHN, 2018), the present Project shows how much susceptible the natural processes are under the human action. The geographical analysis, among all of its different conceptions, seeks to establish the spatial-temporal relation between nature and society. According to Estêvez et al. (2011), the landscape comes as a result from the interaction within society and the nature elements, becoming an integrator-concept on the geographical studies. França (2010) high lights that the analysis of the natural process has to be coupled with the human action, it cannot be separated. Therefore, the theoretical model of the landscape studies, the geosystem, considers the presence of three different subsystems: abiotic, biotic and anthropic (FIGUEIRÓ, 2010). Those variables can be synthesized through the taxonomy of the landscape unit (BERTTRAND, 1992), and adapted by Degrandi (2011). Because it has a varied taxonomic spectrum, the unit of the landscapes will show a more complex delimitation. (MONTEIRO, 2000). The delimitation of the landscape unit occurred according to the following methodological procedures: 1) Organization of the Cartographic Base: Vector database of the Estate of Rio Grande do Sul, in a scale of 1:50.000 (HASENACK; WEBER, 2010); 2) The limits of the Guaritas do Camaquã Unit were redefined based on the lithological data of the CPRM (2006) in the proposal of the Guaritas do Camaquã Geosite Protection Area (PAIM et al., 2010) adapted by Santos (2016); Theresult analysis corresponds to the stage of recognition of the three subsystems of landscape analysis, based on the new delimitation based on the adaptations made by Santos (2016).As part of the transition between the region Campanha Gaúcha and Serras de Sudeste (SANTOS, 2016) the area presents a particular association of subsystems in which human activities, such as livestock farming, significantly compromise the integrity of the abiotic and biotic elements. The delimitation of this landscape unit made it possible to understand the spatial arrangement of the elements that make up the landscape of the region, contributing to the discussion of a potential municipal conservation unit to be implemented in the municipality of Caçapava do Sul.

Introdução

A análise geográfica, dentre suas diferentes concepções, procura estabelecer

as relações espaço-temporais entre sociedade e natureza. Para compreender a

dinâmica espacial e suas interações, a ciência geográfica se preocupa em

identificar, caracterizar e analisar os fenômenos naturais. De acordo com Estêvez et

al. (2011), a paisagem se materializa como o resultado das interações entre a

sociedade e os elementos da natureza. Por esse motivo a paisagem se configura

como um conceito integrador nos estudos geográficos, em que resulta em uma

unidade dinâmica e suas inter-relações dos elementos físico, biológico e antrópico,

possibilitando realizar uma análise das variáveis naturais e antrópicas.

A paisagem possui caráter interdisciplinar, uma vez que consiste na obtenção

de um conhecimento sobre o meio natural e sua interação com as diferentes esferas

das atividades humanas, e assim permite incorporar uma visão holística, dialética e

sistêmica (RODRÍGUEZ, 2011). Na busca de definir seu campo de estudo nos

aspectos e fenômenos que concorrem para modelar, organizar e modificar o espaço

geográfico, a geografia dispõe da paisagem como expressão e forma desse espaço

(CAVALCANTI, 1998; p.96-97).

Ao definir a paisagem como um conjunto inter-relacionado de formações

naturais e antroponaturais, Rodríguez (2011) considera a paisagem como um

sistema complexo, caracterizado pela heterogeneidade dos seus componentes. Em

relação aos aspectos referentes à morfologia da paisagem, cabe salientar que as

marcas traduzem diferentes temporalidades, não somente o tempo da história

humana, mas também, o tempo da natureza. A paisagem é sempre uma herança, de

um lado de processos naturais e, de outro, herança do trabalho humano que

produziu diferentes formas de apropriação social da natureza (AB’SÁBER, 2003).

Em 1993, durante a Conferência de Malvern sobre a Conservação Geológica

e Paisagística, realizada no Reino Unido, foram definidos os conjuntos de recursos

geológico-geomorfológicos que constituem o ambiente físico, incluindo seus

fenômenos e processos, suas relações, propriedades e sistemas que originam as

paisagens. Observando a importância desses elementos, Gray (2005) refere-se à

geodiversidade como à variedade de ambientes geológicos e geomorfológicos,

compostos por rochas, minerais, fósseis, formas do relevo e processos físicos,

capazes de modelar o relevo, servindo como base para a vida na Terra (GRAY,

2004; BRILHA, 2005).

A fragilidade dos sistemas naturais e a degradação dos elementos da

geodiversidade foram fatores que potencializaram a importância da conservação da

natureza abiótica e o desenvolvimento de estudos teóricos e práticos que vem se

desenvolvendo desde então (BRILHA, 2005). Os estudos da geodiversidade dão

subsídios às atividades de geoconservação, ou seja, estabelecem formas de

proteção, com base na necessidade de uma determinada área (PEREIRA, 2010).

A partir da preocupação de pesquisadores em valorizar e preservar a

natureza abiótica surge o geoturismo (AZEVEDO, 2007). O geoturismo apresenta

grande importância na implementação prática da geoconservação por meio da

interpretação, divulgação e compreensão da importância dos elementos abióticos

que englobam a geodiversidade.

Sobre os estudos das unidades de paisagem, Rodríguez et. al (2013)

destacam que cada nível taxonômico é representado pela homogeneidade das

condições naturais, onde cada uma das unidades de paisagem caracteriza-se por

uma determinada interação entre os componentes naturais.

O presente trabalho – como forma de assegurar uma maior homogeneidade

na delimitação das unidades de paisagem – teve como objetivo iniciar as discussões

sobre a definição das unidades de paisagem no município de Caçapava do Sul,

tendo como proposta preliminar os limites da Unidade de Paisagem Guaritas do

Camaquã com base nos dados geológicos. A definição destas unidades

paisagísticas irá auxiliar na elaboração de um de roteiro geoturístico no município.

Vale destacar que mesmo Rodríguez et. al (2013) considerando a paisagem

como um fenômeno integrado, não podendo entendê-la nem tratá-la de forma

fragmentada, optou-se por iniciar a identificação das unidades paisagísticas no

município de Caçapava do Sul com base na litologia, visto que as diferenças

litológicas condicionam à formação dos relevos, dos solos variados, que por

consequência gera diferentes tipos de vegetação, aumentando a diversidade

biológica da área e sinalizando para as inter-relações entre os aspectos bióticos e

abióticos da natureza, assim como aqueles relacionados com a ação antrópica

(BENTO; RODRIGUES, 2013).

A região foi considerada uma das sete maravilhas do Estado do Rio Grande

do Sul pela SETUR (Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul), e é reconhecida

pela comunidade acadêmica por apresentar valor científico, pedagógico e

socioeconômico. Atualmente está com sua conservação ameaçada perante o projeto

de mineração que fará a retomada da extração mineral próximo ao povoado das

Minas do Camaquã (3º distrito de Caçapava do Sul) (VON AHN, 2018), este artigo

mostra o quanto estão suscetíveis os processos naturais à ação antrópica, e a

importância dos estudos da paisagem na região.

Caracterização da Área

O município de Caçapava do Sul (RS) alvo da presente pesquisa, possui

aproximadamente 3.047Km² e está distante cerca de 260 km de Porto Alegre

(capital do Estado) (Figura 01). O município recebeu em 2015 o título oficial de

“Capital Gaúcha da Geodiversidade” atribuído pela Lei Ordinária Estadual 14.708, de

15 de julho de 2015, após iniciativa de profissionais ligados às geociências e

articulação política com a Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul

(BORBA, 2017).

Figura 01 – Mapa de localização do município de Caçapava do sul – RS / Informação hipsométrica

associada à proposta preliminar da Unidade de Paisagem Guaritas do Camaquã

A região das Guaritas do Camaquã se situa entre os municípios de Caçapava

do Sul e Santana da Boa Vista. Segundo Paim et al. (2010) a área em questão

apresenta um cenário paisagístico repleto de recursos naturais, em termos

geológicos e geomorfológicos do estado. Por fazer parte da Bacia Sedimentar do

Camaquã compreende um grande conjunto de formas representativas sob os

aspectos geológico-geomorfológicos de feições sedimentares resultando em um

relevo ruiniforme com uma ocorrência espacial bem definida, o que o torna um dos

lugares mais significantes e representativos, seja pelos aspectos dos processos

naturais, ou pela singular paisagem existente no local (PAIM et al., 2010).

Paim et al. (2000) estabelece que a evolução geológica da Bacia Sedimentar

do Camaquã está caracterizada por uma alternância de eventos predominantemente

deposicionais, caracterizados pelo acúmulo de espessos pacotes sedimentares e

vulcano-sedimentares e intervalos onde ocorreu a predominância de processos

erosivos. Para identificar e compreender o contexto geológico-estrutural da área

serão caracterizadas, da base para o topo, as unidades aloestratigráficas

depositadas na Bacia Sedimentar do Camaquã.

A Bacia Sedimentar do Camaquã está vinculada a diferentes ambientes

tectônicos com distintas assinaturas vulcânicas, limitados por alogrupos

(discordâncias angulares): Alogrupo Maricá, Alogrupo Bom Jardim, Alogrupo Cerro

do Bugio, Alogrupo Santa Bárbara e o Alogrupo Guaritas (este último em exposição

na área) (PAIM et al., 2000; 2010; CHEMALE, 2000). O Alogrupo Guaritas é o

último seguimento da bacia sedimentar do Camaquã. Gerado entre 470 e 19 Ma,

corresponde à unidade geológica com maior predominância na região das Guaritas

do Camaquã. Esse seguimento compreende as aloformações Pedra Pintada e

Varzinha, as quais possuem espessuras aproximadas de 400 metros cada.

Figura 02 – Características de afloramentos

rochosos e dos estratos eólicos bem definidos

em área de abrangência da aloformação

Pedra Pintada.

Figura 03 – Características das formações

rochosas sob abrangência da aloformação

Varzinha.

O Rio Grande do Sul possui dois grandes biomas: a Mata Atlântica e o

Pampa. A região das Guaritas do Camaquã está localizada na metade sul do estado

do RS, onde ocorre a predominância do Bioma Pampa (IBGE, 2004). Nesse sentido

a região apresenta uma vegetação campestre, típica do bioma Pampa, que está

associada ao uso da terra através da pecuária extensiva (PEIXOTO, 2017). Desde a

colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos do Bioma Pampa

tem sido a principal atividade econômica da região.

Atualmente a região do pampa está sofrendo ameaças que estão

relacionadas ao desenvolvimento de atividades econômicas que ocasionam

problemas ao meio ambiente, tais como: diminuição da biodiversidade, destruição

das matas ciliares, poluição e erosão dos solos, contaminação das águas e a

destruição dos recursos naturais não renováveis (AZEVEDO; FIALHO, 2016;

SOUZA, 2018).

Metodologia

De acordo com França et. al (2010) o estudo dos processos naturais e

antrópicos não podem ocorrer de forma isolada, e a paisagem sendo uma categoria

de análise geográfica, deve ser abordada a partir da integração indissociável dos

seus componentes.. Nesse sentido, o modelo teórico de estudo da paisagem, o

geossistema, considera a presença de três subsistemas: abiótico, biótico e antrópico

(FIGUEIRÓ, 2010). Estas variáveis podem ser sintetizadas através da taxonomia

das unidades de paisagem (BERTRAND, 1972) e, adaptada por Degrandi (2011).

Por possuir um espectro taxonômico variado, as unidades de paisagem apresentam

delimitações mais complexas (MONTEIRO, 2000).

O geossistema é uma categoria espacial, de componentes relativamente

homogêneos, cuja estrutura e dinâmica resultam da interação entre os aspectos

abióticos (processos geológicos, climatológicos, geomorfológicos e pedológicos), os

aspectos bióticos (flora e fauna) e a ação antrópica (BERTRAND, 1972). Monteiro

(apud Figueiró, 2010) considera ainda que o geossistema constitui um “sistema

singular, complexo, onde interagem os elementos humanos, físicos, químicos e

biológicos, e onde os elementos socioeconômicos não constituem um sistema

antagônico e oponente, mas sim estão incluídos no funcionamento do sistema”.

Sendo assim, para definir de forma preliminar os limites da unidade de

paisagem Guaritas do Camaquã foram utilizadas as informações geológicas da

bacia sedimentar do Camaquã. A delimitação da unidade de paisagem ocorreu de

acordo com os seguintes procedimentos metodológicos:

1) Organização da Base Cartográfica: dados vetoriais do Estado do Rio

Grande do Sul, em escala 1:50.000 (HASENACK; WEBER, 2010);

2) Os dados litológicos da CPRM (2006) foram utilizados como base para

definir de forma preliminar a Unidade de Paisagem Guaritas do Camaquã.

3) Os limites da Unidade de Paisagem Guaritas do Camaquã foram definidos

com base na proposta da Área de proteção do Geossítio Guaritas do Camaquã

(PAIM et al., 2010), adaptada por Santos (2016);

Análise dos Resultados

A primeira parte da análise dos resultados corresponde à identificação

preliminar da Unidade de Paisagem Guaritas do Camaquã que, a partir de trabalhos

pioneiros na região (BRILHA, 2005) (PAIM et al.,2000; 2010) que apresentam as

características ímpares da área e possibilitam compreender sua evolução referente

aos processos geológicos que reúnem características de expressiva beleza cênica,

importância cultural pedagógica e científica, além do potencial socioeconômico,

foram estabelecidos os limites desta unidade de paisagem (Figura 04).

Para definir os limites desta unidade foram utilizadas também informações do

mapa hipsométrico (Figura 01). Tais informações expressam de forma bem

acentuada as feições ruiniformes mais vigorosas e marcantes da área, do ponto de

vista paisagístico, onde Souza (2018) salienta que estas feições encontram-se

geralmente com pouca ou nenhuma cobertura de solos, e as rochas expostas

formam áreas escarpadas com vertentes de acentuada inclinação.

Figura 04 – Limite preliminar da Unidade de Paisagem Guaritas do Camaquã

A partir da definição de Paim et al., (2010) a região das Guaritas do Camaquã

se encontra próximo ao Rio Camaquã (Figura 04). O limite oeste da unidade de

paisagem foi estabelecido a partir da adaptação realizada neste artigo com base n

as características sinuosas do Rio Camaquã.

A segunda parte da análise dos resultados corresponde à etapa de

reconhecimento da Unidade de Paisagem Guaritas do Camaquã, onde foi delimitada

uma unidade homogênea relacionada à aloformação Varzinha, levando em

consideração as características mais peculiares da área. (Figura 05).

Vale destacar, segundo Santos (2016) que:

“Em função dos dados litológicos terem sido obtidos em escala de

1:750.000, faz-se necessário compreender que, de forma geral, as

aloformações, quando observadas em escala de maior detalhe,

ocorrem com maior heterogeneidade espacial, sendo que é comum a

ocorrência de afloramentos da aloformação Varzinha em área de

predomínio da aloformação Pedra Pintada pelo fato desta última estar

em processo de exumação”.

A aloformação Serra dos Lanceiros (Alogrupo Santa Bárbara) encontra-se

limitada na base e no topo por discordâncias angulares com os Alogrupos Cerro do

Bugio (base) e Guaritas (topo) (PAIM et al., 2000) e encontra-se bem representada

na porção sul da Unidade de Paisagem Guaritas do Camaquã (Figura 05).

Figura 05 – Dados geológicos do município de Caçapava do Sul – RS

Após realizar a identificação preliminar da primeira Unidade Paisagística do

município de Caçapava do Sul – Unidade Guaritas do Camaquã – tendo como base

a geologia local, destaca-se a Pedra das Guaritas (Figura 06). A Pedra das Guaritas

é uma das feições mais conhecidas da região, sendo utilizada para práticas de

campo e estudos de caráter científico em função da sua importância enquanto

afloramento que evidencia aspectos dos conglomerados da aloformação Varzinha e

o isolamento de feições residuais provocados pela ação de paleoclimas e das

condições morfoclimáticas atuais. Nesta área situa-se a Sede da Associação dos

Moradores das Guaritas do Camaquã, e por apresentar uma paisagem excepcional

já serviu de cenário para filmagens diferentes de séries e filmes.

Figura 06 – Pedra das Guaritas

Considerações Finais

A delimitação preliminar desta unidade de paisagem possibilita compreender

a complexidade desses sistemas naturais complexos (as paisagens), e como este

estudo poderá contribuir para a discussão e elaboração de uma futura proposta de

roteiro geoturístico no município de Caçapava do Sul.

Por fim, se conclui que o mapa das unidades paisagísticas se destaca como

importante instrumento de identificação e análise voltado para a seleção das áreas

de maior representatividade dos aspectos abióticos, ações de geoconservação e

para o planejamento de práticas de geoturismo.

Referências

AB’SÁBER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 159p. [Coletânea de artigos já publicados e inéditos]

AZEVEDO, U. R. Patrimônio Geológico e geoconservação no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais: potencial para a criação de um geoparque da Unesco. 2007. 211f. Tese (Doutorado) - Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.

BENTO, L. C. M; RODRIGUES, S. C. Aspectos geológico-geomorfológicos do parque estadual do ibitipoca/ mg: base para o entendimento do seu geopatrimônio. Soc. & Nat., Uberlândia, 25 (2): 379-394, mai/ago/2013

BERTRAND, G. Paisagem e geografia global: esboço metodológico. São Paulo, Caderno de Ciências da Terra.Revista do DG-FFLCH/USP, n.13, p.1-27, 1972.

BORBA, A. W. Um Geopark na região de Caçapava do Sul (RS, Brasil): uma discussão sobre viabilidade e abrangência territorial. Geographia Meridionalis, v.3, n.1, p.104-133, 5 jul. 2017. http://dx.doi.org/10.15210/gm.v3i1.10302.

BRILHA, J. Patrimônio Geológico e Geoconservação: a conservação da natureza em sua vertente Geológica. Viseu/Portugal: PalimageEditora, p 190, 2005.

CPRM – COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS. Mapa Geológico do Rio Grande do Sul. Escala 1: 750.000. Legenda expandida. CPRM/SGB. Porto Alegre, 2006.

CHEMALE Jr. F. Evolução Geológica do Escudo Sul-riograndense. In: HOLZ, M.; DE ROS, L. F. (Eds) Geologia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, CIGO. UFRGS, p. 13-52, 2000.

DEGRANDI, S. M. Ecoturismo e Interpretação da Paisagem no Alto do Camaquã/RS: uma alternativa para o (des) envolvimento local? 2011. 197f. Dissertação (Mestrado em Geografia e Geociências) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2011.

ESTÊVEZ, Laura Freite et al. Análise da Paisagem da Bacia Hidrográfica do Rio Marumbi, Morretes – PR: Unidades de Paisagem, Fragilidade Potencial e Hemerobia. RA’EGA, Curitiba, v. 23, n. 23, p. 428-447, 2011.

FRANÇA, C. F.; PIMENTEL, M. A. S.; PROST, M. T. Geomorfologia e paisagem: contribuições à classificação de unidades de paisagem da região oriental da ilha de Marajó, norte do Brasil. In: VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física, 2010, Coimbra. Sustentabilidade da Gaia: ambiente, ordenamento e desenvolvimento. Coimbra, 2010.

FIGUEIRÓ, A. S. A paisagem como ferramenta de análise geográfica. 2010.

GRAY, M. Geodiversity: Valuing and Conserving Abiotic Nature. Wiley, Chichester, 2004.

GRAY, M. Geodiversity & Geoconservation, Geodiversity and Geoconservation: What, Why, and How? London, v. 3, n. 3, p. 4-12, 2005.

HASENACK, H.; WEBER, E. (orgs.). Base Cartográfica Vetorial Contínua do Rio Grande do Sul - Escala 1:50.000. Porto Alegre: UFRGS-IB-Centro de Ecologia. 2010.1 DVD-ROM (Série Geoprocessamento, 3).

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍRTICA (IBGE). Mapa da Vegetação do Brasil e Mapa de Biomas do Brasil. 2004.

MONTEIRO, C. A. F. Geossistemas: a história deuma procura. São Paulo: Contexto, 2000.

PAIM, P. S. G.; LOPES, R. C. Geologia da Região das Minas do Camaquã. In: RONCHI, L. H.; LOBATO, A. O. C. (Org.) Minas do Camaquã, um Estudo Multidisciplinar. São Leopoldo: UNISSINOS, (p. 111-132), 2000.

PAIM, P. S. G.; FALLGATTER, C.; SILVEIRA, A. S. Guaritas do Camaquã, RS - Exuberante Cenário com Formações Geológicas de Grande Interesse Didático e Turístico. In: Winge, M.; Schobbenhaus, C.; Souza. C.R.G.; Fernandes, A.C.S.; Berbert-Born, M.; Sallunu Filho, W.; Queiroz, E.T.. (Org.). Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil.1ed. Brasília: Departamento nacional de Produção Mineral,2010, v. III, p. 1-13.

PEIXOTO, C. A. B. Guaritas - Minas do Camaquã - proposta, Carlos Augusto Brasil Peixoto. Porto Alegre: CPRM Serviço Geológico do Brasil, 2017.

PEREIRA, R. G. F. A. Geoconservação e Desenvolvimento Sustentável na Chapada Diamantina (Bahia – Brasil). 2010. 225f. Tese (doutorado) – Escola de Ciências, Universidade do Minho, Braga, Portugal, 2010.

Rodríguez, J. M. M. Geoecologia das Paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. 4ªed. Fortaleza: Edições UFC, 2013

SANTOS, F. C. A. Mapeamento Geomorfológico do Geossítio das Guaritas do Camaquã/RS: Subsídios à Geoconservação. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2016.

VON AHN, M. M. Análise Antropogeomorfológica em Geossítio da história da mineração: estudo nas Minas do Camaquã - RS. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2018.