identidade social e identidade discursiva, o fundamento da competência comunicacional

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Patrick Charaudeau Livres, articles, publications http://www.patrickcharaudeau.com/Identidadesocial eidentidade.html Identidade social e identidade discursiva, o fundamento da competência comunicacional In : PIETROLUONGO, Márcia. (Org.) O trabalho da tradução. Rio de Janeiro : Contra Capa, 2009, p. 309326. Há pelo menos três razões que me levam a considerar o tema das identidades sociais e discursivas como particularmente importante. A primeira é que, no domínio das ciências humanas e sociais, e diante da expansão da sociologia, este tema justifica a existência de uma disciplina da linguagem em posição central, tecendo ligações entre elas : não há sociologia, nem psicologia social nem antropologia que não levem em conta os mecanismos linguageiros. A segunda diz respeito às ciências da linguagem propriamente ditas, pois o tema das identidades sociais mostra a necessidade de distinguir a língua do discurso, num sentido inverso ao de uma certa representação que pretende que o discurso seja secundário em relação à língua : na realidade, o discurso é que é fundador da língua. E se insistem em dizer que é através da língua que se dá o funcionamento do discurso, é necessário precisar que se trata da língua enquanto discurso, enquanto registro do discurso. Entretanto, esta posição não diz nada a respeito do sujeito que fala. E é este, com efeito, o terceiro aspecto posto em evidência pelo tema das identidades : o da existência de um sujeito, o qual se constrói através de sua identidade discursiva, que, no entanto, nada seria sem uma identidade social a partir da qual se definir. É este terceiro aspecto que me proponho a discutir aqui. 1. Da identidade em geral A filosofia contemporânea – principalmente a fenomenologia tem tratado esta questão como o fundamento do ser : a identidade é o que permite ao sujeito tomar consciência de sua existência, o que se dá através da tomada de consciência de seu corpo (um estaraí no espaço e no tempo), de seu saber (seus conhecimentos sobre o mundo), de seus julgamentos (suas crenças), de suas ações (seu poder fazer). A identidade implica, então, a tomada de consciência de si mesmo. Mas para que ocorra a tomada de consciência, é necessário que haja diferença, a diferença em relação a um outro. É somente ao perceber o outro como diferente, que pode nascer, no sujeito, sua consciência identitária. A percepção da diferença do outro constitui de início a prova de sua própria identidade, que passa então a “ser o que não é o outro”. A partir daí, a consciência de si mesmo existe na proporção da consciência que se tem da existência do outro. Quanto mais forte é a consciência do outro, mais fortemente se constrói a sua própria consciência identitária. É o que se chama de princípio de alteridade. Esta relação ao outro se institui através de trocas que fazem com que cada um dos parceiros se reconheça semelhante e diferente do outro. Semelhante : na medida em que, para que uma relação exista entre seres humanos, é necessário que estes compartilhem, ainda que parcialmente, as mesmas motivações, as mesmas finalidades, as mesmas intenções. Diferente : na medida em que cada um desempenha papéis que lhe são próprios e que, em sua singularidade, cada um tem finalidades e intenções que são distintas das do outro. Assim, segundo este principio, cada um dos parceiros da troca está engajado num processo recíproco (mas não simétrico) de reconhecimento do outro e de diferenciação para com o outro, cada um se legitimando e legitimando o outro através de uma espécie de “olhar avaliador” o que permite dizer que a identidade se constrói através de um cruzamento de olhares : “existe o outro e existo eu, e é do outro que recebo o eu”. Se tomarmos o ponto de vista da comunicação linguageira segundo E. Benveniste, não há eu sem tu, nem tu sem eu,o tu constitui o eu. Uma vez percebida a diferença, desencadeiase no sujeito um duplo processo de atração e de rejeição em relação ao outro. De atração, inicialmente, porque há um enigma a resolver, o enigma do Persa a que se referia Montesquieu, que equivale a perguntarse : “como é possível alguém ser diferente de mim ?” Descobrir que existe alguém diferente de si mesmo é descobrirse incompleto, imperfeito, inacabado. Daí a força subterrânea que nos move para a compreensão do outro ; não no sentido moral, da aceitação do outro, mas no sentido etimológico de tomada do outro, de domínio do outro, que pode ir até sua absorção, sua “predação” como dizem os etólogos. Não podemos escapar a esta fascinação do outro, ao desejo de um outro simesmo. Paralelamente ao processo de atração, o de rejeição se dá porque a diferença percebida, mesmo sendo necessária, não deixa de ser, para o sujeito, uma ameaça. A diferença que percebo tornaria o

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Um texto que discorre sobre as diferenças e ligações entre identidade social e identidade discursiva.

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    PatrickCharaudeauLivres,articles,publications

    http://www.patrickcharaudeau.com/Identidadesocialeidentidade.html

    Identidadesocialeidentidadediscursiva,ofundamentodacompetnciacomunicacionalIn:PIETROLUONGO,Mrcia.(Org.)Otrabalhodatraduo.RiodeJaneiro:ContraCapa,2009,p.309326.

    Hpelomenostrsrazesquemelevamaconsiderarotemadasidentidadessociaisediscursivascomoparticularmenteimportante.Aprimeiraque,nodomniodascinciashumanasesociais,ediantedaexpansodasociologia,estetemajustificaaexistnciadeumadisciplinadalinguagememposiocentral,tecendoligaesentreelas:nohsociologia,nempsicologiasocialnemantropologiaquenolevememcontaosmecanismoslinguageiros.Asegundadizrespeitoscinciasdalinguagempropriamenteditas,poisotemadasidentidadessociaismostraanecessidadededistinguiralnguadodiscurso,numsentidoinversoaodeumacertarepresentaoquepretendequeodiscursosejasecundrioemrelaolngua:narealidade,odiscursoquefundadordalngua.Eseinsistememdizerqueatravsdalnguaquesedofuncionamentododiscurso,necessrioprecisarquesetratadalnguaenquantodiscurso,enquantoregistrododiscurso.Entretanto,estaposionodiznadaarespeitodosujeitoquefala.Eeste,comefeito,oterceiroaspectopostoemevidnciapelotemadasidentidades:odaexistnciadeumsujeito,oqualseconstriatravsdesuaidentidadediscursiva,que,noentanto,nadaseriasemumaidentidadesocialapartirdaqualsedefinir.esteterceiroaspectoquemeproponhoadiscutiraqui.

    1.Daidentidadeemgeral

    Afilosofiacontemporneaprincipalmenteafenomenologiatemtratadoestaquestocomoofundamentodoser:aidentidadeoquepermiteaosujeitotomarconscinciadesuaexistncia,oquesedatravsdatomadadeconscinciadeseucorpo(umestaranoespaoenotempo),deseusaber(seusconhecimentossobreomundo),deseusjulgamentos(suascrenas),desuasaes(seupoderfazer).Aidentidadeimplica,ento,atomadadeconscinciadesimesmo.

    Masparaqueocorraatomadadeconscincia,necessrioquehajadiferena,adiferenaemrelaoaumoutro.somenteaoperceberooutrocomodiferente,quepodenascer,nosujeito,suaconscinciaidentitria.Apercepodadiferenadooutroconstituideincioaprovadesuaprpriaidentidade,quepassaentoaseroquenoooutro.Apartirda,aconscinciadesimesmoexistenaproporodaconscinciaquesetemdaexistnciadooutro.Quantomaisforteaconscinciadooutro,maisfortementeseconstriasuaprpriaconscinciaidentitria.oquesechamadeprincpiodealteridade.Estarelaoaooutroseinstituiatravsdetrocasquefazemcomquecadaumdosparceirossereconheasemelhanteediferentedooutro.Semelhante:namedidaemque,paraqueumarelaoexistaentresereshumanos,necessrioqueestescompartilhem,aindaqueparcialmente,asmesmasmotivaes,asmesmasfinalidades,asmesmasintenes.Diferente:namedidaemquecadaumdesempenhapapisquelhesoprprioseque,emsuasingularidade,cadaumtemfinalidadeseintenesquesodistintasdasdooutro.Assim,segundoesteprincipio,cadaumdosparceirosdatrocaestengajadonumprocessorecproco(masnosimtrico)dereconhecimentodooutroedediferenciaoparacomooutro,cadaumselegitimandoelegitimandoooutroatravsdeumaespciedeolharavaliadoroquepermitedizerqueaidentidadeseconstriatravsdeumcruzamentodeolhares:existeooutroeexistoeu,edooutroquerecebooeu.SetomarmosopontodevistadacomunicaolinguageirasegundoE.Benveniste,noheusemtu,nemtusemeu,otuconstituioeu.

    Umavezpercebidaadiferena,desencadeiasenosujeitoumduploprocessodeatraoederejeioemrelaoaooutro.Deatrao,inicialmente,porquehumenigmaaresolver,oenigmadoPersaaquesereferiaMontesquieu,queequivaleaperguntarse:comopossvelalgumserdiferentedemim?Descobrirqueexistealgumdiferentedesimesmodescobrirseincompleto,imperfeito,inacabado.Daaforasubterrneaquenosmoveparaacompreensodooutrononosentidomoral,daaceitaodooutro,masnosentidoetimolgicodetomadadooutro,dedomniodooutro,quepodeiratsuaabsoro,suapredaocomodizemosetlogos.Nopodemosescaparaestafascinaodooutro,aodesejodeumoutrosimesmo.

    Paralelamenteaoprocessodeatrao,oderejeiosedporqueadiferenapercebida,mesmosendonecessria,nodeixadeser,paraosujeito,umaameaa.Adiferenaquepercebotornariao

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    outrosuperioramim?Seriaelemaisperfeito?Teriamaisrazodeserdoqueeu?Eisporqueapercepodadiferenavemacompanhadadeumjulgamentonegativo.Eimplicaaprpriasobrevivnciadosujeito:comosefosseinsuportvelaceitarqueoutrosvalores,outrasnormas,outroshbitosdiferentesdosmeussejammelhores,ou,simplesmente,existam.Quandoestejulgamentoendureceesegeneraliza,transformasenumesteretipo,numclich,numpreconceito.Oesteretipotemprincipalmenteumafunodeproteo,constituindoumaarmadedefesacontraaameaaqueooutro,pelasuadiferena,representaparaoeu.

    Vseentooparadoxonoqualseconstriaidentidade.Cadaumprecisadooutroemsuadiferenaparatomarconscinciadesuaexistncia,masaomesmotempodesconfiadesteoutroesentenecessidadeouderejeitlo,oudetornlosemelhanteparaeliminaradiferena.Oriscoestnofatodeque,aorejeitarooutro,oeunodisponhamaisdadiferenaapartirdaqualsedefinirou,aotornlosemelhante,percaumpoucodesuaconscinciaidentitria,vistoqueestasseconcebenadiferenciao.Daojogosutilderegulaoqueseinstauraemtodasasnossassociedades(mesmonasmaisprimitivas)entreaceitaoerejeiodooutro,valorizaooudesvalorizaodooutro,reivindicaodesuaprpriaidentidadecontraadooutro.Assim,nosimplessereumesmo,poissereumesmopassapelaexistnciaepelaconquistadooutro.EuumoutrodisseRimbaud.Completamos:Euumoutroeumesmosemelhanteediferente.

    2Oscomponentesdaidentidade

    Considerandosequeaidentidaderesultadeummecanismocomplexoqueconsistenaconstruo,nodeidentidadesglobais,masdetraosdeidentidades,cabeindagarqualanaturezadestestraos.Paratanto,partodealgunsexemplos.

    1exemplo

    Umpaidefamliachegaemcasa,eaoverqueseufilhoestfazendopilhascomospratosdeporcelanadeLimogesherdadosdesuaav,dizcalmamente:U!?eunosabiaqueospratosdavoverambrinquedo!Eomeninorecolocaospratosnoarmrio.

    Umpaitemumaidentidadesocialtantoporfiliaobiolgica(genitordeumacriana)quantopeloquealeidetermina(detmdireitosedevesubmeterseadeveresespecificadosnalei).esteconjuntoquelheconfereumaautoridadeparental,nombitodoquechamaremosdeidentidadesocial.Mascadapaiconstri,almdisso,porseuscomportamentoseseusatosdelinguagem,diferentesidentidadesdepai:autoritrio,protetor,compreensivo,castrador,indiferente,etc.Estasidentidadessoconstrudasatravsdeatosdediscurso.Emseuconjunto,suaidentidadedeserresultardacombinaodeatributosdesuaidentidadesocialcomtalouqualtraoconstrudosporseusatosdelinguagem.Noexemploacima,opaiconstriparasiumaidentidadedepainoautoritrio,irnico,eaoqueparece,dealgumqueestseposicionandoquantoaoqueaquelespratosrepresentam.Masalmdisso,fazcomqueseufilhorecoloquenolugaroobjetodesuatransgresso.

    2exemplo:[Reuniodetrabalhodeumgrupodepesquisa:depoisdeelaborarumprojetoquedevesersubmetidoavaliaodeumacomisso,umdosmembrosdogruposugerequeseriaoportunosaberquemfazpartedetalcomisso.]Segueseoseguintedilogo:

    ANessacomissoeuconheoJF.BBem,eutambmconheo,masteaconselhoanoirfalarcomele,porqueumapessoargidaedetestaserpressionado.AMaseunodissequeiafalarcomele,eusdissequeeuconheooJF.BBom,euseiquevocnodissequeiafalarcomele,masoqueeudisse,simplesmente,queprecisoagircomprudncia.

    Nestecaso,tratavase,paraB,demostrarqueela(B.umamulher)conheciaJFmelhordoqueA,mostrarqueeramaisprudenteoumaislcidaqueA,assumindoumaposiodeconselheira,colocandoseacimadeA.Sabendose,almdisso,queBasuperiorhierrquicadeA,compreendesequesuametatenhasidoreafirmaroseustatustantoparaAquantoparaogrupo.Aidentidadeconstrudapelosatosdelinguagemserve,aqui,parareativaraidentidadesocial.

    3exemplo:[Em1988,porocasiodacampanhaeleitoralpresidnciadaRepblica,F.MitterandeJ.Chiraccompareceramaumdebatetelevisivo.Duranteodebate,F.MitteranddirigiaseaseuadversriochamandoofreqentementedeSenhorPrimeiroMinistro,cargoqueesteefetivamenteocupava.]

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    J.Chirac(umtantoaborrecido):SenhorMitterand,nomechamedePrimeiroMinistro.Aqui,eunosouoseuPrimeiroMinistro,eosenhornooPresidentedaRepblica.Somosapenasdoiscandidatosqueseapresentamaoseleitores.F.Mitterrand(comumligeirosorrisonoslbios):Estcerto,osenhortemrazo,senhorPrimeiroMinistro.

    Esteumcasoemqueopoltico,comsuarplica,constriparasiaimagemdeumapessoaaomesmotempodominadora,seguradesi,mastambmdistanteedesenvolta,permitindosebrincarcomseuadversrio,atraindoacumplicidadedopblicoaofazerironiaalmdisso,assumeumaimagempaternalista(ora,ora,issoaquinopassadeumjogo)bemaogostodosfranceses.Nesteexemplo,aestratgiadediscursoqueconstridiversasmscarasdeidentidadepsicolgica.

    4exemplo:Porfim,osloganpublicitriodobancoBNPnaFrana:

    Oseudinheiromeinteressa.Estesloganaparecianumoutdoor,aoladodafotodeumhomemquerepresentavaumexecutivo(usandoternoegravataeoscabelospenteadosparatrs)emposiofrontal,numaespciedeclaroescuroaustero,olhandootranseuntebemnosolhos.

    Oobjetivo,napoca,eraconstruirumacertaimagemdebanqueirocorrespondentequecirculanasrepresentaessociais(equeteveorespaldodeumapesquisaprvia),masquegeralmentenodeclarada:obanqueironoumaltrusta,elelucracomnossodinheiro.

    Aidentidadeconstrudapelosloganvisava,aoqueparece,aproduzirumefeitodesinceridade,anomascararumacertaidentidadesocialdobanqueiro(aquecirculanasrepresentaes).Odiscursoimplcitoseriamaisoumenoseste:eu,pelomenos,estoudizendoaverdade.Logo,vocpodeconfiaremmim.

    Vsenestesexemplosqueaidentidadedosujeitocomunicantecompsita.Elaincluidadosbiolgicos(somosoquenossocorpo),dadospsicossociaisatribudosaosujeito(somosoquedizemquesomos),dadosconstrudospornossoprpriocomportamento(somosoquepretendemosser).Entretanto,como,dopontodevistadasignificao,osdadosbiolgicosadquiremassignificaesqueosgrupossociaislhesatribuem,podesereduzirestescomponentesadois:oquechamaremos,porcomodidade,deidentidadesocialeoquechamaremosdeidentidadediscursiva.

    Osexemplosacimanosmostram,porumlado,queaidentidadesocialnoexplicaatotalidadedasignificaododiscurso,poisseupossvelefeitodeinfluncianoestinteiramentedadoporantecipaoporoutrolado,certoqueodiscursonoapenaslinguagem,suasignificaodependetambmdaidentidadesocialdequemfala.Aidentidadesocialnecessitaserreiterada,reforada,recriada,ou,aocontrrio,ocultadapelocomportamentolinguageirodosujeitofalante,eaidentidadediscursiva,paraseconstruir,necessitadeumabasedeidentidadesocial.Postulamos,pois,queexisteumadiferenaentreestesdoistiposdeidentidade,equepelasuacombinaoqueseconstriopoderdeinflunciadosujeitofalante.

    Aidentidadesocial

    Aidentidadesocialtemcomoparticularidadeanecessidadedeserreconhecidapelosoutros.Elaoqueconfereaosujeitoseudireitopalavra,oquefundasualegitimidade.necessrio,ento,verificaremqueconsisteestalegitimidade.

    Anoodelegitimidadenoexclusivadodomniopoltico.Demodogeral,designaoestadoouaqualidadedequemautorizadoaagirdamaneirapelaqualage.Podesetersidolegitimadoounoatomarapalavranumaassembliaounumareunio,aestabelecerumaleiouumaregra,aaplicarumasanoouadarumagratificao.Oprocessopeloqualalgumlegitimadoodereconhecimentodeumsujeitoporoutrossujeitos,emnomedeumvaloraceitoportodos,talcomofoiconstatadonosexemplosqueexaminamos.Assimsendo,alegitimidadedependedenormasinstitucionais,queregemcadadomniodaprticasocialequeatribuemfunes,lugaresepapisaosquesoinvestidosatravsdetaisnormas.

    Porexemplo,nodomniojurdico,queregidoporumalgicadaleiedasano,osatoressolegitimadospelaobtenodeumdiplomaeostatusinstitucionaladquiridoatravsdeumsistemadeingressoporconcurso,aliadoaumsistemadenomeaopelosparesoupelossuperioreshierrquicos.

    Dessemodo,aprofissoestprotegidapelasregrasdainstituio.Masnocasodehaveruma

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    desobedinciaaumadestasregras(osegredoprofissional,porexemplo)ouumcomportamentoqueestejaemdivergnciacomrelaoaumanormaesperada(comoaperseguiojudiciriaajornalistasquedenunciamirregularidades),imediatamentesepeemquestoalegitimidadedaaodosjuzes.Omesmoocorrenodomniodecertasprofissesliberais.Nocasodamedicina,porserregidapelalgicadaexpertiseeterporfinalidadelutarcontraosofrimentoeamorte,alegitimidadedealgunsdeseusatoresseriaquestionadaseestesviessemacometererrosmdicosouapriorizarseusinteressesfinanceirosemdetrimentodesuaatuaocomomdicos.

    Nodomnioeconmico,queregidopelalgicadolucro,osatorestmporobrigaorespeitarasregrasdeconcorrncia,enodomnioempresarialquelheadjacente,asleisdotrabalho.Emnomedestalgica,noilegtimodespedirempregados,procurartomaramaiorfatiadeummercado,oumesmofazerumaculturaextensiva.Masquandoumaempresautilizacrianas,exploraseupessoal,dispensasemcritrio,exerceummonopliodemercado,ouentoquandosedescobremosefeitosnefastosdeumapolticaeconmica(culturaextensiva),podeseataclaemsualegitimidade(pornoterodireitodeagirdessaforma).Entretanto,tratasedeumailegitimidadequantomoral,enoquantoaolucro.

    Nodomniomiditico,queregidoporumalgicaaomesmotempodeinformaocidadedeconcorrnciacomercial,[1]maisdifcilpremquestoalegitimidadedeseusatores,umavezqueamquinamiditicatemopodernotvelderecuperarsedeseusprpriosdesvios.[2]Masacorridadesenfreadaparaobteredifundirumfuro(asndromepaparazzi),adifusodeinformaesfalsasenoconfirmadas(asndromedeTimisoara[3]),aenormeespetacularizaonamiseenscenedainformao,podempremquestoosacrossantodeverdeinformar.

    Existe,entretanto,umaoutralegitimidade,aquelaqueatribudadefato,pelaforadoreconhecimento,porpartedosintegrantesdeumacomunidade,dovalordeumdeseusmembros.alegitimidadeconferidapelaatribuiodeumprmio(comonosfestivais)oudeumttulohonorfico,ouaentronizaonumasociedadecultural(aAcademia),ou,numoutrotipodeatividade,aperformanceouavitrianacompetioesportiva.Podeacontecerumcuriosodeslocamentoentreestalegitimidade,atribudaemnomedeumcertosaberfazer,eumalegitimidadedapalavra:adosantigosdesportistasquesetornamjornalistasoudosdiretoresdecinemaquepassamaexerceracrticacinematogrfica,etc.adoengajamentopessoalquepermitefalaremnomedesuaprtica(eupertenoaopartidocomunista,euseidoqueestoufalando)adotestemunhoquepermitefalaremnomedeumaexperinciavivida(aconteceucomigooueuestaval,possotestemunhar).Issoporqueopremiado,omedalhista,ohomenageado,oengajadoeatestemunhaestocomonumpedestal,nelesqueumacomunidadepodeolharseereconhecerse.Estalegitimidadedapalavraprovmdeumsaberfazer.

    Aidentidadesocial(arigor,psicossocial,poisestimpregnadadetraospsicolgicos),pois,algoatribudoreconhecido,umprconstrudo:emnomedeumsaberreconhecidoinstitucionalmente,deumsaberfazerreconhecidopelaperformancedoindivduo(experto),deumaposiodepoderreconhecidaporfiliao(serbemnascido)ouporatribuio(sereleito/sercondecorado),deumaposiodetestemunhaportervividooacontecimentoouterseengajado(omilitante/ocombatente).Aidentidadesocialempartedeterminadapelasituaodecomunicao:eladeveresponderquestoqueosujeitofalantetememmentequandotomaapalavra:Estouaquiparadizeroqu,considerandoostatuseopapelquemeconferidoporestasituao?Entretanto,comoveremos,estaidentidadesocialpodeserreconstruda,mascaradaoudeslocada.

    Aidentidadediscursiva

    Aidentidadediscursivatemaparticularidadedeserconstrudapelosujeitofalantepararesponderquesto:Estouaquiparafalarcomo?Assimsendo,dependedeumduploespaodeestratgias:decredibilidadeedecaptao.

    Acredibilidadeestligadanecessidade,paraosujeitofalante,dequeseacreditenele,tantonovalordeverdadedesuasasseres,quantonoqueelepensarealmente,ouseja,emsuasinceridade.Osujeitofalantedevepoisdefenderumaimagemdesimesmo(umethos)quelhepermita,estrategicamente,responderquesto:comofazerparaserlevadoasrio?Nessesentido,podeadotardiferentesatitudesdiscursivas,asaber:

    deneutralidade,atitudequelevaosujeitoaapagar,emseudiscurso,qualquervestgiodejulgamentoouavaliaopessoal.aatitudedatestemunhaquefalaparaconstatar,pararelataroqueviu,ouviu,experimentou.Naturalmente,estanopodedespertaramnimasuspeitasobreosmotivosqueateriamlevadoafalar,eacimadetudo,darmargemaquesepensequefoisubornadaporalgumparadefendersuacausa.Descartandoestescasos,o

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    discursotestemunhalumdiscursodaverdadeemestadobrutoquenopode,pordefinio,serquestionada.Nacomunicaomiditica,acondiodecredibilidadesetraduzporumdiscursodeautenticaodosfatos,comoreforodosdepoimentosdastestemunhas[4].dedistanciamento,quelevaosujeitoaadotaraatitudefriaecontroladadoespecialistaqueraciocinaeanalisasempaixo,talcomoumexperto,tantoparaexplicarascausasdeumfato,comentarosresultadosdeumestudo,quantoparademonstrarumatese.deengajamento,quelevaosujeito,contrariamenteaocasodaneutralidade,aoptar(demaneiramaisoumenosconsciente)porumatomadadeposionaescolhadeargumentosoudepalavras[5],ouporumamodalizaoavaliativatrazidaaseudiscurso.Estaatitudedestinaseaconstruiraimagemdeumsujeitofalantecomoserdeconvico.Averdade,aqui,confundesecomaforadeconvicodaquelequefala,eesperasequeestainfluencieointerlocutor.

    Taisatitudesdiscursivasestoaserviodeumaatitudedemonstrativa,aqualimpeargumentoseumcertomododeraciocnioqueooutrodeveriaaceitarsemdiscusso,poisaverdadeapresentadacomoincontornvel,independentedossujeitosqueadefendem,qualcadaumdevesubmeterse.Persuadirooutroequivale,nestecaso,acoloclonumuniversodeevidnciasqueexcluiapossibilidadedediscusso.

    AsestratgiasdecaptaosurgemquandooEufalantenoest,paracomseuinterlocutor,numarelaodeautoridade.Seestivesse,seriasuficientedarumaordemparaqueooutroacumprisse.Acaptaovemdanecessidade,paraosujeito,deassegurarsedequeseuparceironatrocacomunicativapercebeseuprojetodeintencionalidade,isto,compartilhadesuasidias,suasopiniese/ouestimpressionado(tocadoemsuaafetividade[6]).Deveentoresponderquesto:comofazerparaqueooutropossasertomadopeloquedigo.Nestecaso,oobjetivodosujeitofalantepassaaserodefazercrer,paraqueointerlocutorsecoloquenumaposiodedevercrer.

    Sernecessriotentarpersuadir(fazerpensarrecorrendorazo)ouseduzir(fazersentirrecorrendoemoo)ooutroque,ento,deverpensarousentiroquefoisignificado.Assimsendo,osujeitopodeescolherentrediferentesatitudesdiscursivas,dentreasquaisdestacamse:

    umaatitudepolmica,tentandoantecipar,paraeliminlas,aspossveisobjeesqueoutro(s)poderia(m)apresentar,oquelevarosujeitofalanteaquestionarcertosvaloresdefendidospelointerlocutorouporumterceiro.Tratasededestruirumadversrioquestionandosuasidias,e,atmesmo,suapessoa.umaatitudedeseduo,propondoaointerlocutorumimaginrionoqualdesempenhariaopapeldeheribeneficirio.Estaatitudemanifestasequasesempreatravsdeumrelatonoqualaspersonagenspodemfuncionarcomosuportedeidentificaoouderejeioparaointerlocutor.umaatitudededramatizao,quelevaosujeitoadescreverfatosqueconcernemosdramasdavida,emrelatoscheiosdeanalogias,comparaes,metforas,etc.Amaneiradecontarapiaselargamenteemvaloresafetivossocialmentecompartilhadospoistratasedefazersentircertasemoes.

    Assim,aidentidadediscursivaseconstricombasenosmodosdetomadadapalavra,naorganizaoenunciativadodiscursoenamanipulaodosimaginriossociodiscursivos.Aocontrriodaidentidadesocial,aidentidadediscursivasemprealgoaconstruiremconstruo.Resultadeescolhasdosujeito,maslevaemconta,evidentemente,osfatoresconstituintesdaidentidadesocial.Examinandoseosexemplosiniciais,constatasequeoraaidentidadediscursivareativaaidentidadesocial(ex.2),oraamascara(ex.1),oraadesloca(ex.3e5).

    nestejogodevaivementreidentidadesocialeidentidadediscursivaqueserealizaainflunciadiscursiva.Segundoasintenesdosujeitocomunicanteoudosujeitointerpretante,aidentidadediscursivaadereidentidadesocialformandoumaidentidadenicaessencializada(eusouoqueeudigo/eleoqueelediz),ousediferenciaformandoumaidentidadedupladeserededizer(eunosouoqueeudigo/elenooqueelediz).Noltimocaso,ousepensaqueodizerquemascaraoser(mentira,ironia,provocao),ousepensaqueodizerrevelaumserqueignoraasimesmo(denegao,revelaoinvoluntria:suavozotraiu).

    3.Asidentidadesemsituaodecomunicao

    Ojogoentreidentidadesocialeidentidadediscursiva,eainflunciadaresultante,nopodemserconsideradosforadeumasituaodecomunicao.asituaodecomunicao,emseudispositivo,quedeterminaantecipadamente(graasaocontrato[7]queadefine)aidentidadesocial

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    dosparceirosdoatodetrocaverbal.Almdisso,estalhesforneceinstruesquantomaneiradecomportarsediscursivamente,isto,definecertostraosdaidentidadediscursiva.Aosujeitofalanterestarapossibilidadedeescolherentremostrarseconformeasinstrues,respeitandoas,oudecidirmascarlas,subvertlasoutransgredilas.

    Assim,antesdeprocederanlisedasestratgiasconcernentesidentidadediscursiva,necessrioconsiderarquaissoascaractersticasdaidentidadesocialdecadasituao,bemcomoasinstruesquesodadasidentidadediscursiva.

    Paraexemplificaraseqnciadestesprocedimentos,comparamosabaixoassituaesdecomunicaopolticaeasdecomunicaopublicitria.

    Asituaopoltica

    Noqueconcerneaosujeitopoltico,aquestoseria:Estouaquiparadefenderquaisidias?ecomofazeraderiraestasidias?Comefeito,osujeitopolticoseencontranumaduplaposio:seroportadoreogarantidordevaloresfundadoresdeumacertaidealidadesocial,e,aomesmotempo,promoveraadesodomaiornmerodecidadosaestesvalores.Ohomempolticoestcolocado,pois,entreopoltico,sededeumpensamentoarespeitodecomoviveremsociedade,eapoltica,queconcernegestodopoder.

    CompreendeseentocomooresultadodestacombinaoproduzumEuns,umaidentidadedosingularcoletivo.Ohomempoltico,emsuasingularidade,falaportodos:enquantoportadordevalorestranscendentes,suavozavozdetodos(Juntosconstruiremosumasociedademelhor).Mas,aomesmotempo,dirigeseaestestodoscomosefosseapenasoportavozdeumterceiro,oenunciadordeumaidealidadesocial.Apartirdeento,estabeleceumpactodealianaentreestestrstiposdevozes(avozdoTerceiro,avozdoEU,avozdoTUtodos)queacabamporfundirsenumcorposocialabstrato,muitasvezesexpressoporumaconstruoindefinida(Nosepodeaceitarqueosdireitoslegtimosdoindivduosejamvilipendiados)ouporumns(Sequeremosdefendernossosinteresseseguardarnossaindependncia).

    Aidentidadesocialdainstnciapolticasedefineatravsdeumprincpiodelegitimidade,oqualsefundamentaemsoberania.Apesardisso,alegitimidadeatravsdasoberaniainstitucionalnouna:variaemfunodaposioedospapisqueosatoressolevadosaassumirnassituaesdetrocasocialnasquaisestoengajados,oquefazcomquevariemosdiscursosqueproferem.

    Podeseconsiderarqueexistemduassituaesbemdistintas:adecandidaturaaosufrgiodoseleitoreseadegoverno.Aprimeiracolocaosujeitopolticonaposioemquedevedefenderepromoverumprojetodesociedadeidealinscritanumsistemadevalores,proporumprogramaderealizaodoprojeto,eengajarsesemhesitaoparaqueestesecumpra.Asegundacolocaosujeitopolticonumaposioemquedevedecidir(tomarmedidasconcretas,assinardecretos,fazercumprirasleis,promoveraesdedefesa,dehostilidade,derepresso)eemquedevejustificarasrazesdestasdecises.Oquefazcomqueostiposdediscursoqueemanamdetalposiosejam,emparte,performativos,pois,nestecaso,dizerfazereemparte,sejamjustificativas,poisnecessriofornecerexplicaes,tantoantecipadas(preverobjees)quantoaposteriori(responderacrticaseareaesdeprotesto).

    Essaidentidadesocialdesempenhaumduplopapel:porumlado,forneceinstruesaosujeitoobrigandooaconstruir,atravsdeseudiscurso,umnsenunciadorquereneoEuinstnciapoltica,oTuinstnciacidadeumElevozdeumTerceiroderefernciaquefundamentaosvaloressobreosquaisseapiaporoutrolado,aidentidadesocialconstituiabasesobreaqualosujeitopolticopodertentarconstruirumacredibilidade,sejarejeitandoosvaloresaosquaisseope,sejareforandoosvaloresquedefende,sejaaindajustificandoosvaloreseaesquecumpriuequesoquestionados.

    Asituaopublicitria

    Aidentidadesocialdainstnciapublicitriacontrariamenteaoquesepossapensarbemdiferentedaquecaracterizaainstnciapoltica.Ainstnciapublicitriapropeumsonho(p.ex.permanecerjovem),massemantmexterioraodestinatrio,cujavozavozdodesejoqueconstriosonho.Noh,a,pactodealiana,poisapublicidadesedirigeaoindivduo(Asuabelezafazdiferena),nohidealidadesocial,apenasasingularidadedodesejo(Gillette,umacarciadeamor).[8]Trsgrandesdiferenasaparecementreodiscursopolticoeodiscursopublicitrio.

    Aprimeiraqueaspropriedadesdiscursivasdepersuasoedeseduosoinversamenteproporcionaisnestesdoistiposdesituaodecomunicao.Nodiscursopublicitrio,dominaa

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    atividadedeseduo,nodiscursopolticoaatividadedepersuaso,oquefcildecompreender:odiscursopublicitriotentatocaroquehdesingularnoindivduo,dirigindoseaodesejoodiscursopolticotrataoindivduocomosujeitocoletivo,dirigindoserazo.Trataseento,paraosujeitopoltico,dedestacaraseriedadedaatividadepersuasivaoque,alis,explicaoporqu,quandohexageronocomportamentosedutordospolticos,sefaamtantoscomentriosirnicos,caricaturas,zombarias,suscetveisdedesacreditarquemagedestaforma.[9]Oquenoocorrecomosujeitopublicitrio,quenuncaacusadodeexcessonatentativadeseduo.

    Asegundadiferenaresidenofatodeque,nodiscursopublicitrio,oanunciantenoseconfundecomoproduto,aopassoqueopoltico,aomesmotempo,oauxiliardaidealidadesocial(eleestaserviodestaidealidade)eaquelequepropeoprojetopoltico.Votaremtalpoltico,,aomesmotempo,votarneleeemseuprograma.Comprarumdeterminadoprodutopelamarca,compraroprodutoenoamarca.Issoexplicaporqueosujeitopolticodevademonstrarconvico,aderindoaseuprprioprojeto,engajandosenapropostaqueapresentaaoscidados,aocontrriodainstnciapublicitria,quedevemostrarsefrvola,comofontegeradoradeprazer.

    Aterceiradiferenaestnofatodequeainstnciapublicitrianoprecisa,apriori,delegitimidade.Oqueatornalegtima,justamente,serbemsucedidaenquantoatodeseduopersuaso(eporissoelatambmdispensaacredibilidade).Jainstnciapolticapressupeumaposiodelegitimidadequeprecisaserconstantementereiterada,e,almdisso,gozardecredibilidade.

    4.Identidadesemodelodeanlise

    Estareflexosobreadiferenaentreosdoistiposdeidentidadeservedebaseaomodelocomunicacionaldeanlisedodiscursoquevenhopropondo,definidoemtornodetrstiposdecompetnciaedetrstiposdeestratgias,osquaisretomoemseguida.

    Umacompetnciacomunicacional(ousituacional)quecorresponde,nosujeito,suaaptidoemreconheceraestruturaoeasrestriesdasituaodecomunicao,naqualsodeterminadas,entreoutras,ascaractersticasdaidentidadesocialdosparceirosdatrocalinguageira,enaqualseorganizam,numdispositivo,asrelaesqueseinstauramentreestesparceiros:seustatus,seupapelsocialeolugarqueocupamnarelaocomunicacional.apartirdesteconjuntodetraosconstituintesdaidentidadecomunicacionaldossujeitosquealegitimidadeisto,aquiloquejustificaseudireitopalavraearelaodeforaqueseinstauraentreelessodeterminadas.Estaidentidadesocial(atribudaporestatuto)masincluiigualmenteasinstruesquepresidemconstruodaidentidadediscursiva.Umacompetnciasemnticaquecorresponde,paraosujeito,suaaptidoemorganizarseusdiferentestiposdesaberes(osquaisconstituemsuasreferncias)eemtematizlos.[10]Umacompetnciadiscursivaquecorrespondespossibilidadesdeorganizaoenunciativa,narrativaeargumentativadodiscurso,emfunodasrestriesdoquadrocomunicacional,organizaograasqualseconstri,entreoutrascoisas,aidentidadediscursivadosujeito.Masnecessrioigualmentequeosujeitotenhaumacompetnciasemiolinguistica,aquallhepermitecombinarformas(escolhadasformasemrelaocomosentidoeasregrasdecombinao),emfunodasrestriesdalngua,eemrelaocomasrestriesdoquadrosituacionaleosdadosdaorganizaodiscursiva.Aidentidadediscursivaencontraaquisuacorporificao.

    Asestratgiasdiscursivas,porsuavez,sedefinememrelaoaocontratodecomunicao.Paraosujeito,trataseinicialmentedeavaliaramargemdemanobradequedispenointeriordocontrato,parajogarentre,ecom,asrestriessituacionaiseasinstruesdeorganizaodiscursivaeformal.Emseguida,escolher,entreosmodosdeorganizaododiscursoeosmodosdeconstruotextual,emrelaocomosdiferentesconhecimentosecrenasdequedispe,osprocedimentosquemelhorcorrespondamaseuprprioprojetodefala,smetasdainflunciaquepretendeexercersobreointerlocutor,escondiesqueeleseimpe.Estasestratgiassomltiplas,maspodemseragrupadasemtrsespaos,cadaumcorrespondendoaumtipodecondioparaamiseenscenediscursiva.Soasestratgiasdelegitimao,decredibilidadeedecaptao,quenoseexcluemumassoutras,masquesedistinguemporsuafinalidade.Asestratgiasdelegitimaoadvmdanecessidadedecriaroudereforaraposiodelegitimidadedosujeitofalantequandoestetemdvidasquantomaneirapelaqualooutropercebeseudireitopalavra.Precisaentopersuadirseuinterlocutordequesuafalaesuamaneiradefalarcorrespondemposiodeautoridadequeseustatuslheconfere.Asestratgiasdecredibilidadelevamosujeitofalantenomaisaassegurarsualegitimidade,(emboramuitasvezesestejamligadas),masafazercreraointerlocutorqueoqueeledizdignodef.Asestratgiasdecaptaolevamosujeitofalanteafazercomqueointerlocutordsuaadesoabsoluta(noracional)aoqueelediz,e,almdisso,suaprpriapessoa.

    Estestrstiposdeestratgiasconstroemumaidentidadediscursivaprpriaaosujeito,aopassoqueocontratodecomunicaoconstri,porsuasinstrues,umaidentidadediscursivaconvencional,a

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    quesecolocaemconformidadecomocontrato.Assim,nonveldasestratgias,osujeitocomunicantepodeescolherfalaremconformidadeounocomasinstruesdadaspelasrestriesdocontratodecomunicao,efazervalersuaespecificidadeidentitria.

    Terminareipropondoumnovoesquemaqueretomaaidiadeumarepresentaopiramidaldofuncionamentodacomunicaolinguageira:

    Comentrios

    (1)Abasedosimaginriossociodiscursivosolugardeestruturaodasdiversasrepresentaessociais.Estassosociodiscursivasporquesorepresentaesconstrudaspelodizer,sendopoisperceptveiseidentificveisnosepelosdiscursosquecirculamnosgrupossociais.Resultamdediferentestiposdesaberes,quemuitasvezesencontramsemisturados:saberesdecrena,deexperinciaedeerudio.[11]Dentreessasrepresentaes,esemquesepossadistinguircomclarezasuasdiferentesdimenses,algumassodeordemcultural,outrasdeordemsocietal,outrasaindadeordemcomunitriaeoutrasdeordemgrupal.[12]Estesimaginriossociodiscursivosexigemdosujeitoumacompetnciasemntica.

    (2)Oquadrosociocomunicacionalolugaremqueseestabilizamastrocassociaisconstituindodispositivosdetrocaquefuncionamcomocontratosdecomunicaoequeforneceminstruessobreasmaneirasdesecomportaratravsdalinguagem.Podeseigualmentedizerqueolugardaconstituiodosgneros,masqueserochamadosdegnerossituacionaissignificandoqueumlugardeinstruodocomodizer.Exigeumacompetnciacomunicacional(ousituacional).

    (3)Onveldamiseenscenediscursivaolugaremqueosujeito,tendomergulhadonosimaginriossociodiscursivos,elevandoemcontaasrestriesdoquadrosituacionaledesuasinstrues,procedeorganizaodeseudiscurso,eportanto,constriparasiumaidentidademaisoumenosindividuada.Nestenveldevemseracionadasascompetnciasdiscursivaesemiolingstica.[13]

    Podeseconcluir,numprimeiromomento,queadistinoentreidentidadesocialeidentidadediscursivarevelaseoperatria:semidentidadesocialnohpercepopossveldosentidoedopoderdaidentidadediscursivasemidentidadediscursivadiferentedaidentidadesocialereveladoradoposicionamentodosujeito,nohpossibilidadedeestratgiasdiscursivas,esemestratgiasdiscursivas,nohpossibilidadeparaosujeitodeseindividuar,oquecorresponderiaaumsujeitosemdesejo.

    Numsegundomomento,podeseconcluirquenuncasepodeasseguraracaptaototaldeumaidentidade,equeaprudnciaaconselhariaaquesefaledetraosidentitrios,sendounspsicossociais,outrosdiscursivos,paraevitarcairnaarmadilhadaessencializao.

    Entretanto,aquestoidentitriaumaquestocomplexa.Porumlado,porqueresultadeumentrecruzamentodeolhares:odosujeitocomunicantequeprocuraconstrulaeimplaaseuparceiro,osujeitointerpretanteestenopodeevitar,aseuturno,deatribuirumaidentidadequeleemfunodeseusprpriosapriori.Poroutroladopelofatodeque,pormaisquequeiraevitaraarmadilhadaessencializao,todosujeitotemodesejodesever(oudeverooutro)constitudocomoumaidentidadenica,odesejodesesaberseralgumacoisa,isto,umaessncia.estemovimentodeessencializaoconstitutivodoprocessoidentitrioqueleva

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    afirmaodequeaidentidadenopassadeumailuso[14].Comoumamscaraqueseriamostradaaooutro(easimesmo),masumamscaraque,sefortirada,deixaverumaoutramscara,depoisoutra,eoutraaindaTalveznosejamosnadamaisdoqueumasucessodemscaras.Masnaimpossibilidadedeseresolveresteenigma,manteremosadistinoentreidentidadepsicossocialeidentidadediscursiva,porpermitircompreendercomoseprocessaestejogosocialdesubstituiodemscaras.

    Traduoefetuadaapartirdooriginalemfrancspor:AngelaMariadaSilvaCorra

    [1]Ver,denossaautoria,Lediscoursdinformationmdiatique.Laconstructiondumiroirsocial,Paris,NathanINA,1997,cap.4.

    [2]Ibidem,cap.13e14.

    [3]N.T.:TimisoaraumacidadedaRomniaqueficouconhecidacomoumlugarondehouveummassacreemdezembrode1989.Onmerodepessoasmortasqueaimprensadifundiu,naverdadeeraumaestimativafantasiosa,cemvezessuperioraoquerealmenteocorrera,caracterizandoseassimafalsidadedasnotciasligadasaoepisdio.Aessepropsito,podeseconsultar:http://www.acrimed.org/article1.html

    [4]Ibidem,cap.11.

    [5]Exemplo:opolticodaextremadireitafrancesa,J.M.LePen,aoatacarseusadversrios,prefereotermotablissement[estabelecimento]emvezdestablishment.

    [6]VernossoUneproblmatiquediscursivedelmotion.Aproposdeseffetsdepathmisationlatlvision.In:Lesmotionsdanslesinteractions.Lyon,PressesuniversitairesdeLyon,2000.

    [7]Arespeitodestanoo,vernossoartigoLedialoguedansunmodledediscours,Cahiersdelinguistiquefranaise,17,Genve,UniversitdeGenve,1995,p.141178.

    [8]Referimonosaquiscaractersticasgeraisdocontratopublicitrio,oquenoexcluiapossibilidadedeseutilizarumaestratgiaquejoguecomostermosdocontrato,oumesmoqueostransgrida,comofoiocasodeBenettonemsuascampanhasdepromoo.Vernossoartigo:Lediscourspublicitaire,genrediscursif,Mscope,8,Versailles,CRDP,1994,p.3444.

    [9]Issocomeou,naFrana,em1959,comaprimeiracampanhatelevisionadaparaaeleioemsufrgiouniversaldoPresidentedaRepblica.JeanLecanuet,queapareciapelaprimeiravezaostelespectadores,haviatomadoaulasdeposturaededico.Oshumoristas,caricaturistaseoutroscomentaristasatacaramsemperdoocomportamentoartificialdopoltico,oqueacabouporserlhedesfavorvel,aocontrriodoquepretendia.

    [10]Sobreaquestodaorganizaodossaberes,vernossoartigoTiers,oestu?Aproposdutiersdudiscours,inLesnonditsdudiscours.LavoixcacheduTiers.LHarmattan,Paris,2004.

    [11]Cf.nossoartigoTiersoestu?,op.cit.

    [12]Evidentemente,nemsemprefcilfazerarepartioentreessasquatroordens.

    [13]Paraestesdiferentestiposdecompetncia,vernossoartigo:CHARAUDEAU,P.Dacompetnciasocialdecomunicaoscompetnciasdediscurso.In:COLLESL.etalii(ds),Didactiquedeslanguesromanes.Ledveloppementdecomptenceschezlapprenant,LouvainlaNeuve,DeBoeckDuculot,2001,3443

    [14]Cf.BayartJ.F.Lillusionidentitaire,Paris,Fayard,1996.