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IDEIAS DE ADOLESCENTES SOBRE AS MUDANÇAS NO FUTEBOL (2013) PEDRO AURÉLIO DOS SANTOS LUIZ 1 A disciplina de História vem sendo bastante discutida no âmbito acadêmico. Busca-se uma renovação da concepção do ensino de História baseado no esquema funcionalista em que o professor universitário é o produtor do conhecimento, o professor das séries iniciais transmite esse conhecimento didaticamente aos jovens e esses são simples recipientes vazios a serem preenchidos com um conhecimento elaborado externamente a si mesmos. Com o tempo tais concepções vem sendo contestadas. Pesquisadores e professores do ensino básico constatam um modo particular de conhecimento construído na escola. Percebe-se uma forma de saber que se distingue daquela construida na academia, um saber produzido na vida diária e pelos próprios alunos no ambiente escolar. Criou-se o conceito de conhecimento histórico escolar. Nesta perspectiva, evidencia-se a importância desse saber no aprimoramento das noções críticas dos alunos, e este fundamento passa a ser considerado primordial no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes. No presente trabalho buscou-se esse conhecimento do aluno o seu conhecimento prévio para trabalhar com uma temática específica e incomum nas aulas de história do ensino fundamental: o futebol. Além do desenvolvimento das ideias dos alunos e da sua percepção da passagem do tempo através dos acontecimentos humanos, procurou-se contribuir nas discussões acerca da história do futebol relacionada com outras temáticas e pensar criticamente a identidade brasileira associada ao esporte, questões raciais presentes na sociedade brasileira, etc. E para isso, foi utilizado o trabalho do historiador Hilário Franco Jr. que conceitua o futebol como um fenômeno cultural total. Conceituação inédita neste contexto, e que tem como base a flexibilidade desta modalidade esportiva em se relacionar a diversos outros campos do saber. Como estratégia na aplicação do estudo utilizou-se de jornais de diferentes épocas, que demonstravam matérias futebolísticas nos periodos de 1940 e 1950 e de 2011, 1 Mestrando em História Social pela Universidade Estadual de Londrina

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IDEIAS DE ADOLESCENTES SOBRE AS MUDANÇAS NO FUTEBOL (2013)

PEDRO AURÉLIO DOS SANTOS LUIZ1

A disciplina de História vem sendo bastante discutida no âmbito acadêmico.

Busca-se uma renovação da concepção do ensino de História baseado no esquema

funcionalista em que o professor universitário é o produtor do conhecimento, o professor

das séries iniciais transmite esse conhecimento didaticamente aos jovens e esses são

simples recipientes vazios a serem preenchidos com um conhecimento elaborado

externamente a si mesmos.

Com o tempo tais concepções vem sendo contestadas. Pesquisadores e

professores do ensino básico constatam um modo particular de conhecimento construído

na escola. Percebe-se uma forma de saber que se distingue daquela construida na

academia, um saber produzido na vida diária e pelos próprios alunos no ambiente escolar.

Criou-se o conceito de conhecimento histórico escolar.

Nesta perspectiva, evidencia-se a importância desse saber no aprimoramento das

noções críticas dos alunos, e este fundamento passa a ser considerado primordial no

desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.

No presente trabalho buscou-se esse conhecimento do aluno – o seu

conhecimento prévio – para trabalhar com uma temática específica e incomum nas aulas

de história do ensino fundamental: o futebol. Além do desenvolvimento das ideias dos

alunos e da sua percepção da passagem do tempo através dos acontecimentos humanos,

procurou-se contribuir nas discussões acerca da história do futebol relacionada com

outras temáticas e pensar criticamente a identidade brasileira associada ao esporte,

questões raciais presentes na sociedade brasileira, etc. E para isso, foi utilizado o trabalho

do historiador Hilário Franco Jr. que conceitua o futebol como um fenômeno cultural

total. Conceituação inédita neste contexto, e que tem como base a flexibilidade desta

modalidade esportiva em se relacionar a diversos outros campos do saber.

Como estratégia na aplicação do estudo utilizou-se de jornais de diferentes

épocas, que demonstravam matérias futebolísticas nos periodos de 1940 e 1950 e de 2011,

1 Mestrando em História Social pela Universidade Estadual de Londrina

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2012 e 2013. Um roteiro de análise fora elaborado para o auxílio dos alunos e que guiou

as reflexões.

A utilização de jornais em sala de aula é algo já reconhecido e presente em

trabalhos como de Ferreira (2011), como uma eficaz estratégia na localização dos

estudantes no contexto histórico e um ótimo instrumento de análise crítica.

Como meio de análise, foram aplicados questionários que procuraram analisar

os conhecimentos prévios dos alunos e um questionário aplicado posteriormente a

execução das aulas.

Desta forma, tomou-se a seguinte proposta um estudo que procurou evidenciar

o futebol como uma possível temática das aulas de história, sendo tais concepções

colhidas a partir das respostas dos estudantes e que favorece a sua percepção dos

acontecimentos no tempo.

METODOLOGIA

Já dizia Mario Filho “O futebol não seria paixão do povo se o povo não se

identificasse com um time, o seu time, com uma bandeira e uma camisa. Quem torce em

futebol está ligado, irremediavelmente, ao seu time, para o bem ou para o mal, para a

felicidade ou para a desgraça” (Nota à 2ª ed. de O Negro no Futebol Brasileiro).

E assim diferenciam-se os grandes times dos pequenos, os ricos times dos pobres

times, os honrosos dos fracassados clubes, as históricas agremiações das desastrosas

equipes.

Contudo, para identificarmos determinadas características de clubes em

determinados períodos históricos é necessário confrontar as diversas opiniões

contraditórias, pois sabemos que é impossível discutir futebol em minutos. “Quem é

melhor?” “Quem foi melhor?” “Meu time vai ganhar” “Quem tem mais títulos?” “Quem

teve melhores jogadores?” – essas são frases que estão presentes nas jocosidades

futebolísticas presentes por todo o Brasil, e são estas alguns dos motivos que fazem esse

esporte tão fascinante.

De modo geral, o futebol expressa diferentes relações socioculturais na história

do Brasil, essa modalidade esportiva constitui-se como espaço para a experiência e a

análise de conflituosas questões sociais do contexto brasileiro, como por exemplo, os

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conflitos raciais. O futebol, em seu percurso, passou de futebol da elite a prática popular,

e ainda, a símbolo de identidade nacional.

A questão que se faz nesse projeto é: Podemos estudar o futebol na escola e por

meio desse tema colaborar para o desenvolvimento dos alunos de noções históricas

importantes? Acreditando que sim, vamos à busca dessa possibilidade.

Tão atual quanto a aceitação do futebol é a percepção de que a produção de

conhecimento escolar é possível, como constatado nos estudos de Natalia Gejão (2010) e

Raquel França dos Santos Ferreira (2011).

Destacando questões relativas ao futebol esse projeto propõe-se a exploração de

dois documentos em sala de aula: jornais de dois períodos distintos e as ideias expressas

pelos alunos participantes por meio de questionários em vista de verificar a possibilidade

de se analisar a percepção dos adolescentes em torno das mudanças no esporte de meados

do século XX até 2013.

Análise de jornais

Para tanto, primeiramente foram analisados artigos de jornais como Paraná

Norte e O Município, da década de 1940 e 1950. Estas fontes propostas e as reportagens

selecionadas comentam diferentes aspectos sociais presentes no futebol, como por

exemplo, o papel social do jogador de futebol, este visto como celebridade, ou mesmo os

embates futebolísticos que ultrapassavam os campos de futebol, etc. Estes aspectos são

problematizados nos escritos de Hilário Franco Junior, que discute o “fenômeno cultural

total”, descrevendo o futebol como relacionado a dimensões distintas, desde política à

cultural.

Outro conjunto de documentos, sobre os anos de 2011 a 2013, será extraído de

jornais como a Gazeta do Povo e a Tribuna do Norte, nos quais os mesmos aspectos

analisados anteriormente serão observados nos dias presentes. Com isso, o estudo dos

alunos explorará os diferentes períodos, provavelmente provocará certo estranhamento

devido às mudanças ocorridas no tempo, logo, teremos o ambiente mais adequado para a

exposição do conteúdo sobre as transformações históricas e a nossa reflexão sobre a

formação da consciência histórica, que é a partir desta que, de acordo com Rüsen (2001)

(apud Gejão, 2010), “o homem entende melhor o mundo e a si mesmo, compreendendo

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sua existência por meio da historicidade a constituí-lo, assim como constitui o mundo”.

(GEJÃO, 2010: 25)

Como auxílio aos trabalhos com os jornais foi estudada a pesquisa de Raquel

Ferreira (2011), que procura aguçar em seus alunos o senso crítico. Como o próprio nome

do artigo “Ensino de História com o uso de jornais: construindo olhares investigativos”,

ela busca, com intermédio do estudo dos jornais, fazer com que os alunos pesquisem a

respeito das condições que envolvem a produção da matéria jornalística, analisando não

somente a reportagem, mas também seu autor, a credibilidade do veículo, as

intencionalidades que orientam as reportagens, entre outros aspectos. O estudo de Ferreira

colabora para a reflexão e a proposta de ação em sala de aula.

As fontes históricas, de modo geral, representam o único artifício do historiador

de poder investigar o passado, desta forma, a História que vemos descritas nos livros são

interpretações baseadas em vestígios de determinada época. De modo geral, vemos a

História como algo realizado a partir de documentos, denominadas fontes históricas, e as

versões históricas são as interpretações destas que são base para o entendimento dos atos

e pensamentos de personagens de outro período histórico. Somente a partir destas fontes

que podemos conhecer aspectos que nos permite interpretar a realidade.

Com o tempo o conceito de documento foi se alterando. A partir de 1929, com

Lucien Febvre e Marc Bloch passou de apenas documentos oficiais a qualquer tipo de

vestígio histórico, como documentos escritos, peças arqueológicas, filmes, etc.

Atualmente, a noção de “documento” se tornou bastante ampla, fator que favorece aos

pesquisadores que possuem maior amplitude de materiais a serem investigados, e também

aos professores que passaram a ter diversos meios de se trabalhar a investigação histórica

com seus alunos. Contudo, é necessário que o profissional da área esteja apto a trabalhar

com os diferentes tipos de fontes, sendo capaz de analisar tanto as características gerais

da sociedade da época, a própria época do documento, etc. (GORETE, 2004)

A partir das investigações acerca das fontes históricas é que selecionamos jornais

para trabalhar com os alunos do 9º ano do ensino fundamental, buscando analisar as

transformações ocorridas no futebol durante pouco mais de meio século.

O desenvolvimento do trabalho foi organizado em dois momentos de execução:

1) de estudo do tema e análise das fontes pelo autor;

2) e de atividades didáticas com alunos do 9º ano e sua análise.

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Nos dois momentos, utilizamos fontes históricas de períodos diferentes,

discriminando-as em fontes recentes, datadas do período de 2011, 2012 e 2013, e fontes

antigas, datadas dos anos de 1937 a 1950. Trata-se de jornais do acervo do Museu

Histórico de Londrina e do acervo da biblioteca da instituição da Casa do Bom Menino

de Arapongas, que é a escola em que foram desenvolvidos os estudos.

Também discriminaremos como fontes os questionários aplicados previamente

e posteriormente a execução das aulas. Estes são fruto das respostas dos alunos, recolhidas

dentro da sala de aula no ano letivo de 2013.

Como embasamento teórico acerca da utilização de jornais em sala de aula,

utilizamos os estudos de Ferreira (2011), que pesquisou a relação Ensino de História e o

uso de jornais em sala de aula, propondo uma análise crítica dos alunos em torno das

matérias jornalísticas. No estudo, Ferreira relata sua experiência, desde a escolha da

instituição, da turma, das reportagens, etc. até o ‘retorno’, onde analisa juntamente com

os alunos suas repostas em forma de debate, apresentando um ‘feedback’ e identificando

características ou argumentos que devem ser mantidos e/ou trabalhados e também

possíveis erros.

Conhecimentos dos alunos

Anteriormente à realização das aulas foi elaborado um questionário para recolha

de informações e posterior análise do conhecimento precedente dos alunos, pois este se

mostra muito importante devido à influência que produzem na aprendizagem da nova

informação (ser ensinada e que os participantes depois poderão transformar em

conhecimento). Baseando-se na Teoria da Aprendizagem Significativa elaborada por

Ausubel e seus colaboradores e aplicada nos trabalhos de Alegro (2008) e Gejão (2010),

percebe-se que as informações recebidas pelos alunos interagem com os conhecimentos

prévios que compõem sua estrutura cognitiva. Logo, são de grande importância no

processo de produção do conhecimento, em outras palavras, o conhecimento prévio, de

certa forma, ancora novas aprendizagens.

Para Ausubel (apud Alegro 2008), o conhecimento prévio que os alunos

apresentam em situações de aprendizagens é caracterizado como declarativo,

ou seja, exposto através de atividades orientadas, de respostas a questionários

ou, através do diálogo entre aluno e o professor. Porém, remete também ao

conjunto de conhecimentos sobre procedimentos (como saber), além dos

conhecimentos afetivos e contextuais, os quais também configuram a estrutura

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cognitiva prévia do aluno, mas não são facilmente declarados. (GEJÃO, 2010,

p. 31)

Com essa perspectiva evidencia-se o papel fundamental da análise dos

conhecimentos prévios dos alunos porque o aluno modifica sua estrutura cognitiva para

‘adequar’ uma nova informação recebida ao antigo conhecimento já formado, tornando-

o um novo conhecimento. (GEJÃO, 2008)

Posteriormente à análise dos dados recolhidos – e com base neles – foi elaborado

plano de aula no qual utilizaremos jornais como documento básico para a reflexão a ser

realizada pelos alunos acerca das transformações ocorridas no futebol de meados do

século XX até 2013.

Por fim, após a aplicação de questionário de conhecimento prévio e a elaboração

e aplicação dos planos de aula mencionados, novamente coletaremos respostas dos

estudantes para um questionário e então serão verificadas as suas manifestações perante

as mudanças constatadas nas transformações no futebol verificadas nas atividades

realizadas nos textos jornalísticos estudados. As questões presentes no questionário

posterior são idênticas ao questionário prévio com exclusão de algumas perguntas (como

as que dizem respeito sobre a leitura de jornal e quais os jornais lidos, pois o objetivo

desta já havia sido atingido), porém, a partir do confronto das respostas e o uso do roteiro

dos exercícios com jornais analisaremos: O que dizem os alunos? O que dizem os jornais

de diferentes épocas? Se comparadas as notícias de meados do século XX com aquelas

dos dias atuais, os alunos poderão observar que o futebol sofre mudanças? Poderão inferir

que a sociedade em geral muda no tempo?

Toma-se como compromisso para este trabalho o proposto por Ferreira:

Sabendo que a atuação de todo professor move-se de acordo com determinados

propósitos sociais – condizentes seja com a política do sistema de ensino, da

gestão, e/ou da comunidade escolar –, abraçou-se a tarefa de formar alunos

aptos a serem cidadãos atentos aos artifícios daqueles que, estando investidos

do poder de manipular as informações, conseguem montar discursos a favor de

interesses não condizentes com os princípios de uma sociedade transformada

positivamente.

Partindo do pressuposto acima, focalizaram-se as metas e abordagens que

facilitassem ao aluno identificar-se como sujeito participante dos processos

históricos da sociedade em que vive. Toma-se, portanto, como questão de

estudo, a ideia de que problematizar a naturalização das versões em periódicos

é crucial num mundo onde a informação flui em alta velocidade, potencializada

pela rapidez dos meios de comunicação em obter e difundir dados em tempo

real. (FERREIRA, 2011, p. 531)

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Esses pressupostos aqui descritos permitirão considerar a possibilidade da

construção de aprendizagem significativa em sala de aula e a compreensão do processo

de formação da consciência histórica.

Questionários

No presente trabalho, os questionários aplicados em sala de aula servirão como

fontes documentais para análise posterior. Estes relatos indicarão quais são as noções dos

alunos em torno das mudanças ocorridas no futebol, o que eles pensam sobre a prática do

esporte no Brasil e no mundo e até que ponto este influencia em suas vivências, levando

sempre em consideração a percepção do esporte como um fenômeno cultural total.

Podemos tomar os questionários como fontes históricas, pois os mesmos

apresentam indícios do que alunos de 9º ano do ensino fundamental compreendem sobre

fenômenos socioculturais da contemporaneidade e sobre esta mesma prática num outro

período, desta forma, podemos perceber nos adolescentes esta ‘consciência histórica’?

Este é um fator que podemos verificar quando analisados os documentos.

Serão estudados pelo proponente desse projeto os questionários prévios que

foram aplicados alguns meses antes dos exercícios em sala de aula, entretanto. E os

questionários posteriores. Resumidamente, foram aplicados dois questionários com

aproximadamente as mesmas questões, um antes dos estudos e exercícios dentro de sala

e outro após as aulas.

No segundo questionário aplicado as respostas dos estudantes também partem

de análises prévias de fontes. Eles trabalharam com documentos históricos do tipo jornal,

com reportagens selecionadas (aquelas descritas anteriormente) e participaram de debates

mediados pelo professor em sala de aula, logo, os questionários posteriores são

decorrentes deste trabalho aplicado.

Pretendeu-se, com a aplicação dos questionários verificar a noção de

adolescentes de 9º ano do ensino fundamental acerca das transformações ocorridas

durante um determinado período. Com isso analisaremos posteriormente se estes

estudantes são aptos a relacionar historicamente respectiva prática sociocultural com

variadas temáticas.

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Segundo Barton (2003), “fornecer aos estudantes a prática de construir as suas

próprias ideias é uma das razões mais nobres para os imergir no estudo da

História e uma das melhores formas da História poder contribuir para a

cidadania democrática”.

É possível aprender a pensar, as competências cognitivas treinam-se

mobilizando experiências em ordem a uma conceptualização cada vez mais

elaborada, na aula de História. Isto passa, necessariamente, pelo trabalho com

fontes diversificadas, o que permitirá ao aluno construir o seu próprio

conhecimento, desenvolvendo a competência de interpretação, raciocínio e

reflexão em torno das fontes históricas. Interessa, pois que os alunos sejam

capazes de dar sentido às fontes que lhe são propostas, construindo as suas

próprias narrativas históricas. (MOREIRA, 2004, p. 50)

Outro fator a ser esclarecido, e que também é exposto no trabalho de Ferreira

(2011) é a escolha/descrição da escola e a identificação do público ao qual serão

apresentados os conteúdos aqui propostos. A instituição escolhida é a Casa do Bom

Menino de Arapongas, que é uma instituição filantrópica associada ao Rotary Club de

Arapongas, que atende contra turnos escolares. As aulas ofertadas fazem parte dos

Projetos Crescer I e II. A sala selecionada faz parte do Projeto Crescer I que é localizado

na própria instituição da Casa do Bom Menino, o Projeto Crescer II é associado à

Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR) e fica localizado na mesma. Os alunos são

selecionados a partir de alguns critérios socioeconômicos. Os conteúdos serão aplicados

nas aulas de Cidadania disponibilizada em uma hora aula por semana, entretanto, para a

execução do trabalho a coordenação destinou três aulas seguidas de 50 minutos em um

único dia, mostrando-se tempo necessário para a aplicação e adequando a intervenção à

grade curricular da instituição.

Optou-se pela escolha desta instituição, pois o proponente do trabalho exerceu

as funções de professor de Cidadania no local durante um semestre e diante da aceitação

e frequente incentivo da equipe pedagógica e as condições envolvidas no processo de

cadastro e inclusão dos estudantes no projeto, que necessitam estarem matriculados na

rede de ensino público do município, a renda familiar não pode ultrapassar três salários

mínimos, etc. Percebemos assim, que as aulas ofertadas na escola seriam de pertinente

aceitação dos alunos e da coordenação.

SOBRE O FUTEBOL: FENÔMENO CULTURAL TOTAL

O futebol, durante toda sua trajetória no Brasil e no mundo, serviu como

mecanismo de manipulação, democratização, identificação, estratificação, politização,

etc. Com isso, analisaremos neste momento o futebol na perspectiva de Hilário Franco

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Jr., como algo correlacionado a diversos campos do saber, analisaremos o futebol como

um ‘fenômeno cultural total’.

Hilário Franco Junior é professor de História Social da Universidade de São

Paulo e, embora seja especializado em história medieval, obtendo o título de pós-doutor

na École des Hautes Études en Sciences Sociales, ele ministra desde 2003 um curso sobre

futebol para alunos de pós-graduação do Departamento de História da USP. A partir de

tais aulas, produziu o livro intitulado “A dança dos deuses” (2007). Para a elaboração

deste livro ele contou com o apoio do também professor do departamento de História da

USP Flávio Campos, que o ajudou no oferecimento de citada disciplina.

Partindo do pressuposto de que “o futebol é bastante jogado e insuficientemente

pensado”, Franco Jr. decidiu realizar um estudo que não apenas discorresse em torno da

história do futebol, desde seu surgimento na Europa e a chegada ao Brasil, mas, pensá-lo

como uma prática esportiva associada à história geral das civilizações, e para esta reflexão

ele dedica toda a primeira parte do livro, intitulado “Futebol, micro-história do mundo

contemporâneo”. (FRANCO JR., 2007)

Na segunda etapa, ele procura fugir um pouco da análise histórica, partindo para

outras reflexões, mais abrangentes, interdisciplinares, em que descreve o futebol como

uma “metáfora do mundo contemporâneo”. Desta forma, o autor entende que “o futebol

é metáfora de cada um dos planos essenciais do viver humano nas condições históricas e

existenciais das últimas décadas”. Logo, ele examina o esporte como metáfora

sociológica, antropológica, religiosa, psicológica e linguística. (FRANCO JR, 2007)

Então, com tamanha dinâmica de visões, Franco Jr. percebe o futebol como

correlacionado a diversas temáticas. Uma prática cultural diretamente relacionada com a

história geral das civilizações e com os diferentes aspectos que a circulam. Um fenômeno

cultural total.

Com isso, nesta etapa do trabalho procuraremos analisar o futebol integrado a

vários aspectos culturais brasileiros, procurando fundamentar os estudos de Hilário

Franco Jr. e a escolha nossa pela conceituação deste esporte como algo correlacionado a

outras áreas de estudo, todas estas integradas, e que futuramente também sejam

verificadas pelos alunos do ensino fundamental, no caso, o objetivo do trabalho, o futebol

relacionado ao Ensino de História, servindo de suporte ao professor para trabalhar com

temáticas culturais. E perceber as ideias dos adolescentes sobre as transformações em

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torno de fenômenos socioculturais. Dessa forma poderemos ver se há barreiras que

consolidam o enraizamento de determinados saberes na visão dos alunos ou se eles

reconhecem possíveis transformações que alteram a visão social perante tais fenômenos.

Já é sabido que em nosso país o futebol está presente nos mais variados lugares,

a mídia dedica grande espaço aos embates futebolísticos e aos personagens envolvidos,

como já visto nos tópicos anteriores.

Desta forma, é possível ver o futebol atender a questões amplas, como por

exemplo, a questão de gênero. A princípio considerado um esporte efetivamente

masculino, o futebol ganhou novas faces desde as grandes guerras, quando os homens

foram recrutados para compor os exércitos defasados pelas baixas. Franco Jr. resume bem

estas características quando diz:

[...] apesar de algumas experiências em fins do século XIX, até 1914 o futebol

tinha sido exclusividade masculina. Com a guerra, moças de famílias operárias

foram trabalhar nas fábricas de munição e, no bojo do processo geral de

emancipação das mulheres, apropriaram-se também do futebol. (FRANCO

JR., 2007, p. 45)

Fábio Franzini (2005) possui um trabalho que descreve muito bem a trajetória

das mulheres no futebol no Brasil. Este trabalho, intitulado ‘Futebol é “coisa pra

macho”?’, Franzini analisa a ascensão da figura feminina no cenário nacional,

abrangendo tanto o papel delas dentro e fora do campo.

Porém, o autor ressalta que mesmo em determinado período em que as mulheres

ganharam atenção e espaço dentro das quatro linhas, elas sofreram e ainda sofrem

perseguição nesta prática, a valorização que se dá ao esporte feminino não chega nem

próximo ao dado ao masculino, isso faz com que muitas mulheres ainda nem se

reconheçam dentro do campo, o que torna o país do futebol, dos homens. (FRANZINI,

2005)

Outros aspectos também podem ser trabalhados a partir da perspectiva

futebolística, como no caso da violência, que é discutida no livro de Franco Jr. (2007),

onde o mesmo comenta sobre a Violência Social e a Violência Futebolística, fato que

também é trabalhado no filme Green Street Hooligans (2005) dirigido por Lexi

Alexander, que representa cinematograficamente os grupos radicais que causavam

conflitos apoiados em premissas futebolísticas no Reino Unido.

O tema, no Brasil, também é bastante discutido, tanto em estudos acadêmicos

como o livro de Maurício Murad “Para entender: A violência no Futebol” (2012), quanto

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pela mídia. Casos de violência nos estádios ou por motivos clubísticos atraem certa

atenção policial e faz com que as autoridades busquem alternativas para não ‘manchar’ o

esporte. Um exemplo é a criação do Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei nº 10.671 de 15

de maio de 2003), que busca regulamentar a situação das pessoas envolvidas nos eventos

esportivos e que pune atos de violência e outros.

Em contraste a violência, há aspectos jocosos a serem trabalhados no futebol.

Além de ser uma atividade física, o futebol é um espaço de convívio, que pula os

alambrados dos estádios. As relações jocosas futebolísticas foram trabalhadas pelo

professor Édison Gastaldo (2010), que realizou pesquisa de campo em bares da cidade do

Rio de Janeiro onde são transmitidas partidas de futebol pela televisão. O pesquisador

observou as diferentes características presentes nas relações dos torcedores de múltiplos

clubes em um mesmo ambiente de socialização. Assim, o autor chegou à conclusão que

há várias questões em jogo nos embates extracampo. Honorabilidade, respeito e

tolerância são algumas dessas. (GASTALDO, 2010)

Na dimensão sociológica, vários autores relacionam o futebol às questões raciais

no Brasil, o próprio nome do livro de Mário Filho indica isso ‘O Negro no Futebol

Brasileiro’.

Especulações indicam até que no início, em meio ao futebol amador, de várzea,

havia uma curiosa regra que excluía faltas em jogadores negros, induzindo a violência do

branco. Esta teoria, intitulada ‘O Drible’, é exposta no programa ‘Assunto’ (2011), que é

formulada pelo cineasta Victor Lopes, onde o mediador do programa é o jornalista Pedro

Bial.

Já vimos que o percurso para a popularização do futebol foi bem árduo e

complexo, muitos jogadores já foram responsabilizados por derrotas pelo simples motivo

de serem negros, como é o caso do goleiro Barbosa, que mesmo sendo considerado o

melhor goleiro da Copa de 50, sofreu o gol de Gigghia na final e foi alvo de muitas

críticas, professando a célebre frase: “No Brasil, a pena maior por um crime é de 30 anos.

Há 43 pago por um crime que não cometi”. (UNZELTE, 2002)

A partir da segunda metade do século XX a dinâmica social mudou de foco.

Buscava-se algo para identificar o brasileiro, alguma coisa para representar o povo, para

uni-lo; procurava-se definir a Identidade Nacional brasileira. E o futebol não poderia estar

fora desta perspectiva.

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Entretanto, estamos diante de um conceito complexo de ser trabalhado. Michel

Debrun (1990) expõe uma reflexão importante acerca desse aspecto. Percebe-se que

problematizar a identidade nacional induz a algumas análises, como por exemplo, sua

inexistência, o confronto popular-nacional (o popular é nacional? O nacional é popular?),

desencadeando, a partir de tais reflexões, seguintes indagações: a afirmação de caracteres

identitários não exclui a luta de classes? Como podemos definir aspectos relativos a toda

uma Nação sendo esta extremamente desigual social/economicamente? Mas, também é

necessário analisar os discursos. Como podemos afirmar a inexistência deste conceito se

está tão presente nos recursos midiáticos e de imprensa? (DEBRUN, 1990)

Renato Ortiz (apud Andrade) verifica tais divergências da seguinte forma:

[...] a procura de uma “identidade brasileira” ou de uma “memória” brasileira

que seja sua essência verdadeira é um falso problema. [...] a pergunta

fundamental seria: quem é o artífice desta identidade e desta memória que se

querem nacionais? A que grupos sociais ela se vinculam e a que interesses elas

servem? (ORTIZ apud ANDRADE, 2010, p. 4)

Partindo desse pressuposto, o futebol, segundo Hilário Franco Jr., tomou-se

como símbolo de identidade brasileira como um artifício de mobilização popular a partir

da primeira metade da década de 1930.

[...] o futebol era reconhecido pelos novos governantes como eficiente meio de

mobilização das massas, e a seleção como ingrediente fundamental da

representação da nacionalidade. (FRANCO JR., 2007, p. 78)

E podemos considerar que o futebol ainda é uma forma de mobilização das

massas, de expressão de nacionalismos. Franco Jr. diz:

[...] Ao longo de um ano comum poucas vezes se vê a bandeira ou se ouve o

hino nacional. Em ano de Copa do Mundo, bandeiras são numerosas tanto em

edifícios e casas luxuosas quanto em construções humildes e barracos de

favelas. O símbolo nacional aparece na fachada não apenas de descontraídos

bares e restaurantes, como também de austeros escritórios e consultórios.

Automóveis de último tipo e as carroças de catadores de papel ostentam

orgulhosamente “o lindo pendão da esperança. (FRANCO JR., 2007, p. 175)

Já os alunos, a princípio, percebem o prazer em se praticar o esporte e a história

repleta de títulos como os principais fatores para o futebol se tornar símbolo de identidade

nacional. Dentre os quatorze questionários prévios, doze citaram o prazer e a diversão (no

caso, a imensa aceitação da população ao esporte) ou a história, onde o Brasil conquistou

cinco Copas do Mundo e exportou/formou grandes ícones do esporte.

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Finalizo a análise citando o prefácio à 4ª edição do livro de Mário Filho, O Negro

no Futebol Brasileiro, escrito por Luis Fernandes (2003), em relação ao uso do artifício

‘futebol’ como símbolo de identidade nacional:

Para além das paixões clubísticas, a democratização da prática do futebol,

materializada na ascensão de jogadores negros e mestiços, permitiu que esse

esporte viesse a ocupar posição central na construção da identidade nacional.

Na ausência de um maior envolvimento brasileiro em guerras – matéria-prima

para a construção de fronteiras de identidade na formação dos estados

nacionais unificados na Europa – o futebol forneceu um simulacro de conflito

bélico para o qual era possível canalizar emoções e construir sentidos de

pertencimento nacional. [...] todos os regimes que governaram o Brasil durante

o ciclo nacional-desenvolvimentista exploraram a chave do futebol para ajudar

a construir e consolidar a nossa identidade nacional. Em oposição ao racismo

aberto das velhas oligarquias, o novo discurso oficial passou a valorizar a

mestiçagem, associando-a aos sucessos de uma ‘escola brasileira’ de futebol

que expressaria a nossa singular maneira de ser no mundo (marcada pela

criatividade, flexibilidade, informalidade e sensibilidade plástica). (FILHO,

2010, p. 13)

Propõe-se então, a partir da mediação de determinadas informações, que os

alunos do ensino fundamental realizem a reflexão em torno dos caracteres relacionados

ao futebol, apoiando-se também nas fontes documentais, no caso, os jornais. Assim,

teremos embasamento para estudar tanto a relação Futebol-Sociedade, quanto a relação

Futebol-Ensino de História. Os questionários respondidos pelos alunos fornecerão dados

para que possamos perceber se os adolescentes conseguem ver os fenômenos culturais

como dinâmicos, passíveis de mudanças que estão diretamente relacionadas ao contexto

histórico do período. Ou, ao contrário, se determinados saberes estão extremamente

consolidados que impossibilitam o reconhecimento da dinamicidade dos fenômenos

culturais.

CONCLUSÃO

Conclui-se com o presente trabalho que os adolescentes, integrantes da turma B

do 9º ano da instituição da Casa do Bom Menino de Arapongas, anteriormente a aplicação

do estudo já possuíam um amplo conhecimento em torno da prática sociocultural

estudada. Basicamente suas percepções sobre o esporte pouco se alteraram. Eles têm

concebido que a modalidade tinha, em seus primórdios, a característica de um esporte

praticado devido a sua aceitação, a diversão e o prazer como fatores primordiais e por

isso ascendeu a prática nacional, sendo até mesmo considerada identidade nacional. Este

é o fator que proporcionou tamanha popularidade no país.

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Entretanto, atualmente o panorama se transformou, as motivações se alteraram,

passando da simples diversão a algo extremamente mercadológico e midiático. O negócio

“Futebol” cresceu muito e fez com que a prática se tornasse algo profissional. Os jovens

procuram se tornar jogadores de futebol, os praticantes querem crescer profissionalmente

devido aos interesses financeiros. As pessoas envolvidas, as entidades envolvidas, lucram

muito com o esporte. E todas essas características são percebidas pelos alunos. Mas, vê-

se também que o esporte continua popular, o amadorismo ainda é forte no país, mesmo

estando inserido no mercado futebolístico, como público alvo.

Os alunos puderam compreender, a partir da execução das aulas, que não só o

futebol, mas todas as práticas socioculturais se transformam no decorrer do tempo, pois

o contexto muda, a sociedade se transforma, as intencionalidades são outras e a partir

dessas perspectivas é que os fenômenos são regidos por outros meios.

Os adolescentes conseguem perceber que uma temática que aparentemente

parecia simples, cotidiana, é capaz de envolver questões complexas, como questões

sociais, raciais, de gênero, etc. Isto talvez, devido ao seu contexto, pois todos os alunos

participantes se enquadram num estrato socioeconômico de nível baixo, e diante da

explanação acerca dos ambientes sociais envolvidos no futebol fica visível como a

situação se alterou. Para ficar mais claro, um esporte tipicamente bretão, de elite,

praticado por filhos de pessoas influentes dos centros urbanos da época, hoje a situação é

outra. O futebol é visto como um possível ‘transformador do futuro’. É a chance de jovens

pobres de crescer financeiramente porque na sua visão é uma profissão extremamente

rentável que necessita de quase nenhum investimento. E isso é retratado nas respostas dos

alunos. Eles percebem que as intencionalidades são outras, porque o contexto é outro.

Tais saberes foram elaborados com o auxílio das estratégias do estudo aqui

propostas. O jornal foi capaz, junto ao roteiro de análise elaborado, de instigar a reflexão

em sala de aula. A exposição das respostas dos conhecimentos prévios evidenciou o que

pensam os alunos e a valorização das suas ideias na sala de aula. Suas ideias foram tema

de aula e a partir da sua análise foi possível constatar e introduzir novos elementos à

reflexão dos alunos. Além disso, os estudantes perceberam que suas ideias foram

colocadas, de fato, no centro das aulas.

Vê-se, com isso, que as contribuições do estudo foram válidas.

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O futebol se mostrou, de acordo com o estudo aplicado, que pode ser utilizado

como tema que favorece a reflexão nas aulas de história e cidadania, devido a sua

popularidade e as temáticas relacionadas, como vimos nos estudos de Hilário Franco Jr.

(2005).

A utilização de jornais em sala de aula é algo que pode-se considerar

extremamente eficaz. Sua importância na periodização, na localização dos adolescentes

no espaço/tempo e também como documento que permite aos jovens uma análise crítica

do discurso é um fator que faz com que tais fontes contribuam para a aprendizagem de

história. No presente estudo os alunos compreenderam as formas de análise de

documentos históricos, no caso o jornal, e puderam exercitar a reflexão perante jornais

que estavam distantes de seus atuais contextos.

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Gazeta do Povo de 29 de agosto de 2011.

Gazeta do Povo de 5 de março de 2012.

Gazeta do Povo de 08 de maio de 2012.

Tribuna do Norte de 28 e 29 de abril de 2013.

Tribuna do Norte de 28 de maio de 2013.

Tribuna do Norte de 29 de maio de 2013.