as cores de gÊnero: memÓrias sobre o trabalho...

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1 AS CORES DE GÊNERO: MEMÓRIAS SOBRE O TRABALHO DOMÉSTICO NO OESTE PAULISTA (SP) WILLIANS ALEXANDRE BUESSO DA SILVA 1 Introdução O estudo sobre mulheres na História de modo geral tem se intensificado, para isso, a disciplina vem passando regularmente por novas concepções que abarcam pontos de vista distintos do olhar apenas masculino sobre a realidade. Em “História das Mulheres” (1992), Joan Scott deixa claro quais impasses foram necessários para enfrentar tal empreitada. Para reconhecer e reescrever a História a partir de mulheres e incluindo-as sobre o passado, foi necessário rever conceitos que, muitas vezes estavam presos a visão unilateral das grandes narrativas. Em conjunto a essas mudanças, as pesquisas neste campo do conhecimento tem se intensificado, como mostra Joana Pedro e Rachel Soihet no artigo “A emergência da pesquisa de História das Mulheres e das Relações de Gênero” (2007), em que as autoras ressaltam não só a presença maior da mulher enquanto sujeito histórico, como uma maior abrangência para as fontes, tendo à partir da década de 1960 um aceite maior em tratar o cotidiano como matéria prima para interpretar o passado. Esta mudança de postura é significativa para compreender condições de mulheres estiveram à margem não só da História, como das fontes oficiais. Dados técnicos, como registros de cartório, processos judiciais e policiais, atestados e outros, serviram como fonte para resgatar este traço acobertado sobre a História dos excluídos das grandes batalhas na historiografia recente. Em “Mulheres sem História” (1983), Maria Odila Leite da Silva Dias retrata que mesmo sendo um marco o reconhecimento de outras fontes e a compreensão do cotidiano como pertencente ao bojo de informações sobre um período, os documentos e registros históricos são caracterizados pelos valores de sua época. Conseqüentemente, estereótipos e enquadramentos ideológicos a grupos politicamente minoritários passam despercebidos caso o 1 Mestrando em Ciências Sociais, pela Universidade Estadual Paulista, UNESP – Campus de Marília. Bolsista CAPES

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1

AS CORES DE GÊNERO: MEMÓRIAS SOBRE O TRABALHO DOMÉSTICO NO

OESTE PAULISTA (SP)

WILLIANS ALEXANDRE BUESSO DA SILVA1

Introdução

O estudo sobre mulheres na História de modo geral tem se intensificado, para isso, a

disciplina vem passando regularmente por novas concepções que abarcam pontos de vista

distintos do olhar apenas masculino sobre a realidade. Em “História das Mulheres” (1992),

Joan Scott deixa claro quais impasses foram necessários para enfrentar tal empreitada. Para

reconhecer e reescrever a História a partir de mulheres e incluindo-as sobre o passado, foi

necessário rever conceitos que, muitas vezes estavam presos a visão unilateral das grandes

narrativas.

Em conjunto a essas mudanças, as pesquisas neste campo do conhecimento tem se

intensificado, como mostra Joana Pedro e Rachel Soihet no artigo “A emergência da pesquisa

de História das Mulheres e das Relações de Gênero” (2007), em que as autoras ressaltam não

só a presença maior da mulher enquanto sujeito histórico, como uma maior abrangência para

as fontes, tendo à partir da década de 1960 um aceite maior em tratar o cotidiano como

matéria prima para interpretar o passado.

Esta mudança de postura é significativa para compreender condições de mulheres

estiveram à margem não só da História, como das fontes oficiais. Dados técnicos, como

registros de cartório, processos judiciais e policiais, atestados e outros, serviram como fonte

para resgatar este traço acobertado sobre a História dos excluídos das grandes batalhas na

historiografia recente.

Em “Mulheres sem História” (1983), Maria Odila Leite da Silva Dias retrata que

mesmo sendo um marco o reconhecimento de outras fontes e a compreensão do cotidiano

como pertencente ao bojo de informações sobre um período, os documentos e registros

históricos são caracterizados pelos valores de sua época. Conseqüentemente, estereótipos e

enquadramentos ideológicos a grupos politicamente minoritários passam despercebidos caso o

1 Mestrando em Ciências Sociais, pela Universidade Estadual Paulista, UNESP – Campus de Marília. Bolsista CAPES

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pesquisador não estiver atento para este detalhe (DIAS, 1983: 32). Entre os grupos

minoritários, encontra-se mulheres enquanto sujeitos de um passado implícito.

Este texto visa contribuir sobre o resgate desta memória emergente na História e nas

Ciências Sociais, tendo como ponto de encontro entre as duas áreas os estudos sobre as

relações raciais e de gênero, como construção histórica e fenômeno social no presente. Como

fonte, utilizamos uma entrevista cedida pela prefeitura de Marília, realizada com Ana Lopes,

condecorada como a pessoa de maior idade na região.

Natural de Itatinga, sem registro de nascimento em sua região, esta senhora que conta

hoje com aproximadamente 103 anos de idade se mudou muito cedo para Marília para

trabalhar em uma casa de família como empregada doméstica. Como metodologia de pesquisa

utilizamos a comparação entre perspectivas diferentes sobre a questão do Trabalho Doméstico

a partir de sujeitos históricos distintos, sendo a entrevista utilizada realizada em 2015 pelo

Comitê de Registro Históricos da Cidade de Marília. Os trechos da entrevista foram

transcritos e parcialmente apresentados aqui a fim de analisarmos o contexto de sua vida e de

seu trabalho como objeto de pesquisa.

Temos como hipótese a ideia de que além de permitir reconhecer o gênero como

determinante sobre a memória narrada, o lugar de mulheres em diferentes estratos aprofunda

esta identificação, a ponto de afirmarmos que a memória, além de gênero, ela possui cor.

Além da hipótese, a entrevistada enquanto sujeito histórico nos apresenta em sua fala traços

que são elementos da história da região e sobre o contexto nacional quanto aos

desdobramentos econômicos e sobre a função desempenhada por negros durante a expansão

do café na região do Oeste Paulista.

Em conjunto com a entrevista, utilizamos uma bibliografia voltada para a atuação de

mulheres relacionada ao Trabalho Doméstico remunerado e não-remunerado, comparando

momentos finais da escravidão, o contexto da República e a ascensão do café como ciclo

econômico responsável pela expansão populacional e urbana do interior paulista.

Em partes fomos motivados a escrever sobre este tema com relação à entrevista por já

trabalharmos há 4 anos com a temática do Trabalho Doméstico no Brasil, e perceber na fala

de Ana Lopes algo próximo do que a autora Marina Maluf retratou em sua obra “Ruídos da

Memória” (1995), em que ela reconhece a perspectiva de gênero em mulheres que, até

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décadas atrás não receberam visibilidade na História por ficarem na sombra de seus maridos

enquanto estes estavam por desbravar as chamadas “bocas do sertão”. Nosso objeto de

pesquisa se distingui da temporalidade das mulheres estudadas pela autora, mas a forma de se

expressarem enquanto mulher nos serve como base para tratar o caso de Ana Lopes como um

discurso situado historicamente enquanto gênero.

Mudanças econômicas e trajetórias familiares

Devido a falta de registros históricos formais sobre a narradora desta entrevista, em

contato pessoal com Ana Lopes, estimamos que ela tenha nascido aproximadamente na

década de 1910, no Município de Itatinga, região esta que se formou em 1896 em uma das

trilhas de expansão do café, próximo a Botucatu (SP). Seu trajeto em direção à Marília (SP)

marca o território do ciclo econômico relacionado à rubiácea assim como o período em que

transições estavam por acontecer no estado de São Paulo e no Brasil.

A segunda metade do século XIX foi marcada pela mudança de foco da economia

exportadora das regiões Nordeste e Centro-Oeste do país para localidades no Sudeste com

mais expressão em Rio de Janeiro e São Paulo. O período também era concomitante aos

desdobramentos do sistema escravista em decadência, tendo em vista a forte pressão

internacional inglesa sobre o fim do tráfico de escravos já na década de 1830, e seu

fortalecimento em 1850 (RODRIGUES, 2000).

Com o fim do tráfico e os antigos pólos de produção exportadora, como a cana de

açúcar e mineração em outra dinâmica, a economia brasileira sentiu o peso da dependência

com relação a mão de obra escrava acirrar-se com o aumento do preço dos escravos e cada

vez mais difíceis transações clandestinas sobre o tráfico ilegal. O momento também foi

marcado pela migração interna da população escrava e liberta para o Sudeste (MOTTA, 2009)

onde o café começaria a prosperar de maneira incipiente, pois sua consolidação enquanto

novo ciclo econômico se daria em fins do século XIX, quando novas técnicas de cultivo,

beneficiamento do grão e regime assalariado iria desempenhar melhor proveito para a

exportação.

Nesta mudança de eixo, a interiorização do estado de São Paulo em comparação com o

Vale Fluminense se tornava mais efetiva, sendo os caminhos utilizados para a expansão

cafeeira as antigas rotas utilizadas por comerciantes até se chegar nas “bocas do sertão”. A

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chamada “onda verde”, assim intitulado a expansão do café no interior paulista em obra

homônima de Monteiro Lobato (1967), tomava conta da região e chamava a atenção de

migrantes. Como mostra um mapa da época no artigo de Robert Slenes “Senhores e

subalternos no Oeste paulista”, a região era identificada pela presença de “índios ferozes”

(1997: 235).

Apesar de aparecer na historiografia brasileira enquanto símbolo de resistência, a

família escrava (PAIVA, 1995: 135) passou a ficar marginalizada quando o sistema de

colonato passou a empregar famílias em empreitadas de serviço nas plantações de café. Aqui

marginalizada não significa extinta, mas em desprivilegio, pois as novas frentes de café não

estiveram sempre sob única e exclusiva presença de mão de obra estrangeira, complementava

esta situação o trabalhador livre assim como forros e descendentes de forros. (MESSIAS,

2003: 85)

A situação porém foi marcada pelas políticas raciais vigentes no Brasil no início do

século XX, que procuravam de forma excludente definir espaços e lugares para a população

recém-liberta. Segundo Florestan Fernandes (1955), em seu artigo presente no conjunto de

textos “Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo” financiado pela UNESCO

(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) sobre a chamada

‘democracia racial’ no século XX, o “Serviço Doméstico” era uma das profissões que mais

absorveu a população negra na região (FERNANDES, 1955: 44). Entretanto, mesmo com a

imigração em aumento gradativo na região Sudeste, Carlos Hasenbalg (1979), cita que o

processo de ‘embranquecimento’ da população foi tão forte que áreas de atuação expressiva

de negros foram disputadas com imigrantes (HASENBALG, 1979: 159)

É neste ponto de ambições a terras prósperas que alguns casos de famílias que vem à

tona, como o de Floriza, fixada próximo à região de Pederneiras (SP) e Brazilia, na região de

Jaú (SP) (MALUF, 1995). Posterior a este período, temos o caso de Ana Lopes, que serviu a

uma família de italianos, possivelmente uma geração posterior da frente pioneira das fazendas

de café. Nos dois extremos, o nosso objeto de pesquisa em questão - o Trabalho Doméstico -

aparece de maneiras distintas, de acordo com o olhar e lugar do discurso de estratos distintos.

Ao longo do subitem seguinte tratamos sobre a historicidade do Trabalho Doméstico

enquanto função exercida na casa de terceiros, e posteriormente tratamos sobre as famílias em

debate.

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Trabalho Feminino, Trabalho Doméstico

A voz do uso e do costume de forma recorrente associa o Trabalho Doméstico a

funções exercidas no período escravista, seja enquanto crítica, ou de forma discriminatória.

Porém, o fato é que o Trabalho Doméstico possui sua historicidade. O exemplo é dado a partir

de obras que retratam a profissão na virada do século XIX para o XX, como em “Proteção e

Obediência: Criadas e seus Patrões no Rio de Janeiro 1860 – 1910” de Sandra Graham (1992)

sobre o Rio de Janeiro, “Quotidiano e Poder em São Paulo no século XIX” de Maria Odila

Dias (1984) sobre São Paulo, e mais recente, “Libertas entre Sobrados: mulheres negras e

trabalho doméstico em São Paulo (1880-1920)” de Lorena Telles (2014).

De um modo geral, os textos mencionados abordam a condição feminina dentro do

período recortado entre os séculos XIX e XX. Esta condição é evidenciada pelas relações de

trabalho, relações familiares e quanto ao vínculo entre senhores e escravos, o qual foi

responsável por longo período na História do Brasil quanto as relações entre negros e brancos.

O título da obra de Sandra Graham (1992), proteção e obediência, expressão esta

situação ao propor que as ‘criadas’ de servir estavam sob a tutela de seus senhores. Apesar de

circularem por diferentes espaços públicos do perímetro urbano, pertencer a uma casa

significava ter garantia de sobrevivência e proteção, em troca, a ‘obediência’ e o atendimento

aos requisitos da casa eram cobrados como tarefa fundamental para os criados. A situação

também era reforçada pela intimidade estabelecida nesta relação de subordinação. O

reconhecimento e privilégios para os servis poderia acontecer de acordo com o atendimento a

ordem (GRAHAM, 1992: 20)

Já tratando-se de relações de gênero e sobre as diferentes ocupações de mulheres no

final do século XIX em São Paulo, Maria Odila Leite Dias (1984), fez em sua pesquisa o

esforço de desvendar a atuação e trabalho de mulheres no período que até então estavam

implícitos. Entre as atuações, é interessante ressaltar o reconhecimento de famílias chefiadas

por mulheres, as várias funções de mulheres no espaço urbano, seja como escravas de ganho,

quituteiras, escravas domésticas (DIAS, 1984: 115-116) e mulheres que eram responsáveis

por escravos, mas que mesmo assim possuíam responsabilidades domésticas.

O trabalho mais próximo do período que abordamos aqui é o de Lorena Telles (2014),

por tratar estritamente sobre a história do Trabalho Doméstico em São Paulo. A fonte de

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pesquisa da historiadora são os contratos de trabalho e registros policiais sobre mulheres que

atuavam na área. Em conjunto a autora trabalhou com relatos de imigrantes que vieram ao

Brasil contratados para educar os filhos da classe dominante, como é o caso de Ina Von

Binzer (1994), que tem seu relato clássico sobre a experiência de educadora no Brasil.

O dado mais expressivo e interessante desta pesquisa para nós é o relato de que os

contratos trabalhistas das décadas de 1910/20 serviram mais como um instrumento de

controle sobre as trabalhadoras doméstica do que um ímpeto para profissionalizar a categoria

(TELLES, 2014: 37). A situação também retrata o grau de informalidade e desavenças que

ocorriam sobre este trabalho a partir de registros policiais.

As instalações das casas nas regiões apresentadas pelos textos mencionados

aumentavam a dificuldade dos afazeres domésticos. Não ter água encanada e saneamento

básico era um dos fatores que determinava a necessidade justificada por patrões em ter

escravos domésticos, assim como a serviços triviais para a própria manutenção da vida

humana, como o trabalho das cozinheiras, lavadeiras, passadeiras, amas de leite, que, com o

cuidado possível, acabavam como responsáveis dos filhos das grandes famílias que possuíam

empregados.

A mudança do perímetro urbano para o perímetro rural também tem suas

peculiaridades quanto ao contexto de trabalho de mulheres com relação a casa. Marina Maluf

em “Ruídos da Memória” (1995) fez em sua obra o trabalho de reconhecer a presença de

mulheres na expansão e consolidação cafeeira no interior paulista. Para isso a autora utilizou o

registro pessoal deixado em diários de duas mulheres de classe dominante no período, Floriza,

e Brazilia. Ambas as mulheres se deslocaram com seus maridos na segunda metade do século

XIX em direção às fronteiras de povoamento para ocupar as terras e exercer a agricultura do

produto emergente na economia brasileira.

Apesar de se encontrarem ainda no período escravista, as duas mulheres possuíam

uma rotina extensa de tarefas domésticas que iam desde cuidar das hortas, os contratempos da

saúde dos escravos e organizar a alimentação da mão de obra na fazenda2. O que a autora

demonstra é que os afazeres domésticos enquanto atividade dividida por sexo nunca eximiu

totalmente mulheres de diferentes classes de sua responsabilidade, o que nos permite inferior

2 Sobre a diferença entre a ‘ociosidade’ da mulher abastada no espaço urbano e no espaço rural, ver Mesgravis (1987)

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que suas determinações e questionamentos necessariamente estão vinculados a questão de

gênero, trabalho este que a autora faz ao perceber o que há de peculiar no relato de mulheres –

e não apenas de homens – sobre o passado.

Mais do que retratar uma época a partir de relatos pessoais de mulheres, a autora busca

compreender o exercício de se entender como a memória funciona enquanto fonte de

informação para o conhecimento histórico. O recorte que suas interlocutoras fazem estão

relacionados temporalmente sobre suas vivências, ao mesmo tempo, determinações culturais e

de estratificação situam o lugar do discurso dessas mulheres:

“A categorização dos gêneros deve ser reconhecida como uma construção social

que, ao classificar os indivíduos em homens e mulheres e elaborar as versões

masculino e feminino, destina a eles um lugar na sociedade, procurando aprisioná-

los a um modo próprio de ser, de pensar e de agir. “Tornar-se um gênero”, assinalou

Judith Butler, “é um processo impulsivo e mesmo assim cônscio de interpretar uma

realidade cultural carregada de sanções, tabus e prescrições.” Na medida em que

homens e mulheres social e culturalmente estratificados (principalmente por classe,

gênero, raça) estão incumbidos de atividades diferenciadas, vivem existências cujos

contornos e padrões são bastante diferentes. O que os indivíduos podem ver do

mundo que os rodeia não depende apenas do que ali existe de fato, aliado às

sensibilidades e capacidades pessoais de apreensão. A realidade não se apresenta a

não ser através dos filtros culturais que a própria sociedade elabora. E é através deles

que os universos interior e exterior são observados e podem ser

compreendidos.”(MALUF, 1995, p.84)

Conforme apresenta sobre a questão da memória, a autora também usa como exemplo

de suas fontes a condição feminina, não só no período recortado, mas sobre sua construção

social e histórica sobre papéis de gênero. O vinculo cultural associado entre mulher e

família/procriação é colocado em análise e revela como entender papéis considerados como

‘predestinados’ socialmente dificulta perceber o que de fato são características de homens e

mulheres.

O trato com o trabalho exercido por mulheres dentro da identificação cultural com o

contexto doméstico sustenta o não reconhecimento da atividade enquanto esforço para a

manutenção humana (MALUF, 1995: 208), e quanto mais ele é exercido de maneira eficaz,

mais tende a ocupar um lugar invisível dentro da casa, sendo assim, visto dentro da

organização cultural e social enquanto ordem inferior (ORTNER, 1979: 108).

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Se o problema já se manifestava como uma constante entre mulheres da classe

dominante para a época (MALUF, 1995: 86) a delegação3 do Trabalho Doméstico a terceiros

– em sua maioria a mulheres – era muito menos considerado. Exemplo do fato é quando

Maluf cita a existência no diário de Floriza um capítulo exclusivo destinado não só aos

‘camaradas’, ‘amigos’, e ‘colonos da fazenda’,como para sua estimada empregada doméstica

Gertrudes de Souza, apelidada carinhosamente como Nhá Tuda, a qual trabalhou para a

família durante 29 anos (MALUF, 1995: 56-57).

A empregada aparece como um membro da família, sua atenção especial aos entes

familiares e simpatia no trabalho fez ter o reconhecimento da casa. Como retribuição, seus

senhores/patrões lhes auxiliaram nos afazeres diários melhorando as condições de trabalho

dentro da casa com novas instalações, como: “um amplo e confortável tanque com água

encanada”, “um fogão formidável onde não deixava faltar boa lenha”, e “uma pia grande com

fartura d’água quente e fria”. (MALUF, 1995: 56)

Apesar do carinho com a empregada, sua existência some no fim do diário, e o

problema cultural do vínculo ao contexto doméstico fica visível quando se percebe que as

melhorias domésticas para a empregada nada mais são do que concretizações do lugar

destinado a aquela mulher dentro da casa.

É possível inferir, portanto, que observando a relação partindo da condição de Floriza

para a sua empregada, o ocultamento do valor de quem serve está intrinsecamente relacionado

com a condição feminina: antes sentido pela mulher, esposa, dona de casa, e transferida a sua

empregada.

Suely Kofes (2001) reconheceu no Trabalho Doméstico contemporâneo a importância

do vínculo de gênero que há entre mulheres patroas e mulheres empregadas. Neste contato, a

identidade feminina é construída dentro das diferenças e desigualdades entre as duas partes.

Em sua obra “Mulher, mulheres: a relação entre patroas e empregadas domésticas. A

identidade na armadilha da diferença e da desigualdade.” (2001) a autora faz análise sobre

estas disparidades dentro do Trabalho Doméstico, e cita também o problema da escravidão

como um assunto pertinente ao tema.

3 O termo delegação tem sido utilizado para designar o ato de famílias que se encontram entre a vida familiar e profissional e optam por contratar uma empregada doméstica para os afazeres da casa sem entrar em discussão sobre a divisão do trabalho doméstico (HIRATA e KERGOAT, 2007)

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Apesar de reconhecer a escravidão como um tempo historicamente superado, a

questão da centralidade da empregada doméstica na organização da casa reforça valores sobre

esta discussão. Apesar de tratar sobre períodos distintos quanto a narrativa apresentada por

Marina Maluf, e a entrevista com Ana Lopes a seguir, a situação parece ser imprescindível

para compreender tanto passado quanto presente.

Aqui, a história nos serve menos como uma ferramenta para reiterar o presente, e sim,

como campo do conhecimento que expande a compreensão sobre a realidade. A seguir iremos

colocar um trecho4 significativo da entrevista concedida por Ana Lopes a fim de identificar

algumas questões que apareceram ao longo do texto, de maneira informal, por via das

experiências vividas pela narradora.

Entrevista

- Dona Ana, a senhora nasceu onde? Em que cidade a senhora nasceu?

- Itatinga.

- Uma cidade do eixo daqui até São Paulo, não é?

- É, entre Avaré e Botucatu.

- A senhora se lembra da data?

- Não lembro, porque a minha patroa, a mãe do Beto e do Marco [...], não achou a data

minha lá em Itatinga.

- O seu registro?

- É, o registro não tinha não.

- Então, a senhora tem hoje 101 anos, mais ou menos?

- É. [...]

- Seus pais...

- Meus pais não tem também. Meu pai faleceu eu lembro mal e má dele. Agora da

minha mãe eu lembro dela, coitada. Ela trabalhou muito na casa dessa família da mãe da mãe

do Beto.

- E a senhora foi criada pela sua mãe, ou uma família que a criou?

Quando eu era pequena, né, eu fui criada, depois minha mãe, coitada, me deu para

uma família que era tio do seu João, do avô do Beto. Então, eu era judiada na casa dessa

4 A Entrevista completa possui 30m25s, sendo a primeira parte de perguntas relacionadas a questões básicas da vida de Ana Lopes, e a segunda por conta de gostos pessoais, mais próximas do presente.

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família. E ele era médico, né! Então eu fui criada por essa família. Aminha mãe, coitada,

trabalhava sozinha, na roça... Então, eu tinha um irmão e uma irmã...

- São vivos ainda, ou não?

- Não, já faleceu, tem só eu de resto! [risos]

- Agora é o seguinte, a senhora chegou a pegar algum, assim, período da escravatura? Por que

com 101 anos, a senhora chegou a pegar alguns anos de liberdade dos escravos. A senhora

tem alguma lembrança de algumas pessoas que viveram na época no regime escravo?

- Não.. Porque a Angelina [avó de Beto e Marco] [...] tinha esse negócio de chave de

conduta para viajar, eu tinha, depois quem registrou eu foi a filha dela que mora em São

Paulo, ela que registrou eu. Porque eu não tenho registro de bebê, assim de nascimento, né!

- Como a senhora chegou em Marília? Como a senhora chegou até essa família?

- Ah, não! É que eu era desde pequena daquela casa [dos avós de Beto e Marco]

- Agora, a senhora veio pra cá moçinha, né?

- Ah, sim! A avó deles, dona Fujiquinha dava de mamar, e minha mãe depois foi

cozinheira, lá em Itatinga,era uma fazenda, né! Minha mãe trabalhou muito nessa família, eles

eram italianos, né!

- A senhora falava que foi um pouco maltratada lá no meio, né?

- Fui!

- Quem que fez isso com a senhora, alembra ou não?

- O tio de seu João, ele era médico. Morava em Itatinga né, esse que era muito ruim

pra mim.

- Chegou a apanhar?

- Ah! Qualquer coisa já tavam batendo em mim, não deixava fazer nada, né. Fazia de

tudo, lavava as coisas, arrumava a casa, e tudo quando era muito menininha.

- E a senhora nunca se casou então?

- Não! Graças a Deus, Não! [risos]

- Por que? O casamento é ruim, é? Por isso que a senhora não se casou? [risos]

- Sabe por que que eu não quis se casa? Porque se casa e deixa filho, tudo pros outros,

é a coisa mais triste do mundo. É judiado. Não é todos que tem amor no filho dos outros, eu

falo lá em casa.

- Ai então, você não quis se casar para não ter filho para os outros não ficar cuidando, né?

- Não, não, eu falei, só quero que Deus me crie e mais ninguém, por que é muito triste,

eu contei porque eu sofri na mão dos outros.

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- Até hoje o filho dos outros sofrem na mão dos outros, não é?

- Eu tenho dó de ver essas mães que larga o filho em qualquer lugar, na casa de outro,

tenho dó!

- Agora estudar, a senhora disse que nunca estudou?

- Não, nunca puseram! Foi tudo o que sabe é apontamento, foi serviço aqui, pontapé

dali. Esse tio do seu João é que os filho dele era tudo ruim, tudo mulecão, qualquer coisinha

tava me dando pontapé na gente, né!

- Agora, as patroas tratavam a senhora bem, né?

- Ah, tratava! A mãe do Beto, do Marco, tratava muito bem, e eu tomei conta de tudo

deles, dos netos, dos bisnetos.

- E hoje, como a senhora está na casa que a senhora vive?

- Agora ta bem. Agora ta tudo bem pra mim. O Marco, o Carlinho, fizeram um bem

pra mim.

- A senhora é a avozinha deles? [risos]

- É, eu sou a avozinha deles![risos] Tanto que eu carreguei tudo os netos da dona

Angelina.

[...]

[fim do recorte]

Posterior a esta entrevista, em Maio de 2016 tivemos o prazer de visitar Ana Lopes na

residência onde trabalhou desde as décadas de 1930/40 e hoje mora aos cuidados de uma

cuidadora. As lembranças da família para quem Ana trabalhou estão visíveis nos retratos de

parede que decoram a casa.

Duas gerações diferentes de filhos da família de Angelina passaram pelos cuidados de

Ana Lopes. Como a narradora nos contou, essa foi uma história que começou antes mesmo

dela nascer. Sua família já trabalhava na fazenda dos pais de Angelina. Como sua mãe não

tinha condições de criar mais um filho, a sua guarda foi destinada primeiro ao irmão do pai de

Angelina, o qual a narradora relata os maus-tratos durante a entrevista, e depois, como um

reconhecimento enquanto pessoa, Ana foi criada por Angelina e seus pais.

Os trechos da entrevista aparecem com interrupções e meandros. Procuramos deixar as

falas desta maneira, pois durante o contato pessoal com a entrevistada percebemos alguns

aspectos sobre sua fala. Em primeiro lugar é evidente sua idade, há uma dificuldade na

pronuncia das palavras, o que, entretanto não compromete sua lucidez. Em segundo, sua vida

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parece ter sido toda vivida em função de seu trabalho, sua memória é uma descrição do

Trabalho Doméstico de sua época, portanto, não conseguimos entender sua trajetória com

perguntas prontas, apenas depois, conhecendo partes de sua história de vida é que fomos

estabelecendo vínculos com aspectos que nos chamou a atenção em sua trajetória.

O vínculo de Ana com a família para quem trabalhou é forte até os dias de hoje. Como

cita, a sua mudança para um asilo em Araraquara (SP) não foi permitida por todos irmãos da

família. Foi reconhecido o direito de morar na casa onde trabalhou na cidade de Marília (SP).

Apesar da dificuldade de ligarmos informações aos trechos de sua fala, foi perceptível

como a história de Ana Lopes correu em conjunto aos acontecimentos expostos no início

deste texto sobre a expansão cafeeira. A família para quem trabalhava possuía terras na

incipiente região de Marília (SP), antes, chegaram a morar em cidade próxima, Cafelândia

(SP), também devido ao plantio da terra.

As mudanças da família foram acompanhadas por sua empregada. Em alguns

momentos, este vínculo forte entre trabalho e companhia parece confundir quem é da família

e quem está como empregado. Se antes, Ana Lopes havia passado pelos abusos de autoridade

de seus antigos patrões, a relação com a família de Angelina, seu marido e filhos parecem

encobrir este momento de sua trajetória.

Todos esses detalhes merecem tempo para nos debruçarmos mais sobre a trajetória

desta senhora que viveu em momentos de transição sobre o trabalho, a cidade e o campo, a

economia e as relações sociais. Não consta em sua fala sobre a escravidão, mas pelas datas

expostas, presume-se que a família de Ana Lopes tenha vivido os momentos derradeiros da

escravidão, não necessariamente enquanto cativos, mas contemporâneos ao regime de

trabalho forçado.

Considerações Finais

Não pretendemos situar o caso de Ana Lopes apenas dentro da crítica social quanto à

condição feminina. Como cita Jurema Brites em “Afeto, desigualdade e rebeldia: bastidores

do emprego doméstico.” (2000), há dentro do campo acadêmico um enquadramento de

trabalhos – aqui em especial o Trabalho Doméstico – em um “atavismo cultural” (2000: 18),

em que a cultura de dominação entre dominantes e oprimidos encara os mais vulneráveis

nesta relação como passivos, nulos, caudatários.

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O que nos parece como interessante neste levantamento de caso são os traços culturais

apresentados por Ana Lopes, e acima de tudo, a sua vivência enquanto mulher, negra,

acolhida por outra família sob a condição próxima à de “criada”, como percebemos na

bibliografia sobre o Trabalho Doméstico durante o final do século XIX (TELLES, 2011;

GRAHAM, 1992; BAKOS, 1984).

Com todo o esforço reconhecido pela família que a criou, não deixamos de perceber

que sua relação – apesar de íntima – esteve pautada sobre o trabalho. Quando apresentamos o

texto de Marina Maluf (1995) percebemos o quanto a memória pode estar sujeita às

percepções de gênero, à condição de papéis femininos e masculinos assumidos socialmente e

que são decorrentes das experiências vividas, dos trabalhos assumidos, das relações

familiares, e quanto às estratificações sociais. Levando em consideração gênero e história,

podemos observar que a condição feminina entre mulheres negras e brancas em nossa

sociedade multi-racial tem reflexos diferentes quanto à narrativa da memória.

Com este intuito, gostaríamos aqui de contribuir para a percepção de que a emergência

da “História das Mulheres” tem sido acompanhada pelo reconhecimento de aspectos próximos

a questão de gênero, como classe e raça, os quais tendem a incluir grupos politicamente

minoritários como sujeitos históricos também.

Diante de anos de trabalho, a história de uma família pôde ser contada por uma

empregada doméstica, Ana Lopes, a qual no auge de seus mais de 100 anos pode ser

reconhecida como um sujeito histórico, marcado pela cor de seu gênero.

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