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REVOLU. ÃO CLIMÁTICA NO MUNDO DO VINHO EM 2020
Seria fantástico poder
programar a vindima a meio ano de distância, usufruindo de previsões meteorológicas bastante rigorosas com cinco ou seis meses de antecedênci a
Ou tomar a decisão de
plantar certas castas nu determinado local em
do que será o clima de.
zona passados 20 ou ano Desejos irrealizáveis? Mera ficção científica? Futurologia sem sentido? Não, de modo algum. Em finais de 2020,' setor do vinho já irá usufruir dos resultados práticos de um projeto inédito da Uniã Europeia para pesquisa' inovação em climatol' • ue visa, precisamente,
o planeamento d
agrícola.
texto Luís Costa •
ANTONIO GRACA, DIRETOR I&D SOGRAP INHOS
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REVOLUÇÃO CLIMÁTICA NO
MUNDO DO VINHO EM 2020
As alterações climatéricas e a enorme
imprevisibilidade meteorológica que
lhe está associada é um dos problemas
centrais da atividade vitícola e um desafio
premente para o negócio do vinho. Por isso,
mais do que saber se vai chover ou fazer sol
os próximos cinco dias - o máximo a que
pode almejar-se com alguma fiabilidade
nos tempos que correm -, seria impor-
tante poder saber-se o que vai acontecer
daqui a seis meses numa área restrita e
concreta de um determinado município. Ou
mesmo antever-se, com base em intricados
modelos matemáticos e medições rigo-
rosas, o que será uma região vitícola daqui
a 20 ou 30 anos em termos climatéricos.
Sabemos que a decisão de vindimar num
determinado dia ou no dia seguinte pode
ser fundamental para o sucesso de uma
colheita. Basta uma chuva imprevisível ou
uma queda de granizo para deitar tudo a
perder. E imaginamos como seria fantás-
tico poder programar a vindima, com algum
rigor e precisão semanal, a meio ano de
distância, com cinco ou seis meses de ante-
cedência. Ou, indo mais longe ainda, poder
tomar a decisão de plantar certas castas
num determinado local em função do que
será o clima da zona passadas algumas
décadas.
Desejos irrealizáveis? Mera ficção cien-
tífica? Futurologia sem sentido? Não, de
modo algum. Podemos dizer, inclusive, que
esse futuro é já hoje. Ou, pelo menos, daqui
a dois ou três anos. Como efeito, esse é o
prazo definido - finais de 2020, previsivel-
mente - para que o setor do vinho possa
começar a usufruir dos resultados práticos
do MED-GOLD, um projeto inédito da União
Europeia para pesquisa e inovação em
climatologia que visa a melhoria de prog-
nósticos e de planeamento da gestão agrí-
cola. Com o MED-GOLD pretende conse-
guir-se ainda economia de recursos em
combustíveis ou água - bem como redução
do uso de pesticidas - o que contribuirá
para a adaptação do setor agroalimentar,
que não apenas o vinho, às alterações
climáticas e aos objetivos do desenvolvi-
mento sustentável.
Este projeto europeu de pesquisa e
inovação climática que proporcionará ferra-
mentas de previsão do clima específicas
para o apoio à gestão agrícola da vinha,
do olival e do trigo - as principais culturas
do Mediterrâneo - envolve a portuguesa
Sogrape como representante do setor viti-
vinícola. Por isso fomos conversar com
António Graça, responsável pelo departa-
mento de Investigação e Desenvolvimento
da empresa, para compreendermos melhor
o projeto que junta climatologistas, progra-
madores, consultores e empresas (neste
caso de vinho, azeite e massas de trigo)
na recolha, avaliação e caracterização de
séries históricas sobre observações do
clima e do cultivo que depois vão propor-
cionar modelos matemáticos essenciais às
já referidas previsões.
O projeto liderado pela Agência Nacional
Italiana para as Novas Tecnologias, Energia
e Desenvolvimento Económico Sustentável
(ENEA) deverá ter os primeiros resultados
no final de 2020 e envolve 16 parceiros,
entre empresas e centros de investigação
europeus - para além de uma universidade
sul-americana. O contexto que explica o
envolvimento da Sogrape no MED-GOLD
decorre do facto, como explica António
Graça, de as alterações climáticas estarem
identificadas como "uma das principais
ameaças para o negócio [do vinhol a médio
e a longo prazo, no sentido em que regiões
tradicionalmente vocacionadas para a
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REVOLUÇÃO CLIMÁTICA NO MUNDO DO VINHO EM 2020
MED-GOLD é projeto inédi União Europeia para pesquisa e inovação em climatologia que visa a melhoria* de prognósticos e • de planeamento da gestão agrícola.
produção de qualidade podem, no futuro,
ver-se impossibilitadas de manter esse
perfil qualitativo, com uma região típica de
vinhos tranquilos, por exemplo, obrigada
a transformar-se numa região típica de
vinhos licorosos".
Projeto pode alargar-se à cultura
do café
Aliás, já há alguns anos que a Sogrape
identificou esta temática como uma área
crítica do negócio, o que abriu caminho, de
algum modo, ao envolvimento no projeto
MED-GOLD. Com efeito, foi em 2009 que
a Sogrape estabeleceu uma rede de esta-
ções meteorológicas automáticas em todas
as vinhas - a que costumam chamar inter-
namente serviço de "vitimeteorologia" - o
que veio permitir a caracterização climática
de cada colheita em cada quinta. Só para
se ter uma ideia, até então era a estação
meteorológica de Bragança do IPMA que
servia a monitorização da Quinta da Leda
em termos meteorológicos, cujo clima (e
também distância geográfica) está mais
próximo de Almendra ou de Figueira de
Castelo Rodrigo. É fácil de perceber por
este exemplo como seria irrelevante, e
muitas vezes contraproducente, dispor
de uma ferramenta meteorológica tão
desajustada.
Graças a esse investimento na década
passada - que praticamente duplicou a
capacidade de previsão meteorológica do próprio país - a Sogrape tem hoje índices
muito rigorosos que permitem, nomea-
damente, identificar o número de horas
com temperaturas superiores a 35 graus,
"o que é absolutamente essencial" para a
viticultura, como explica António Graça: "É
que a partir dos 35°C de temperatura, a
videira deixa de fazer a fotossíntese e pura
e simplesmente para. Fecha os sistemas
para não transpirar e guarda a pouca água
que tem. E como não está a produzir açúcar
para os bagos, a maturação também para.
Ao mesmo tempo, a planta necessita de
energia para os seus processos. Ora, não
tendo açúcar para essa energia vai buscá-la
aos ácidos, o que faz diminuir a acidez dos
bagos. E assim temos uma uva desequili-
brada. Contudo, graças à "vitimeterologia"
adquirimos uma capacidade de intervenção
na vinha de que antes não dispúnhamos".
Dentro das alterações climáticas, "a
região do Mediterrâneo tem caracterís-
ticas específicas dada a sua localização
numa zona temperada - a migrar para
subtropical - e a proximidade a uma região
desértica que é o Norte de África", como
sublinha o responsável de Investigação e
Desenvolvimento da Sogrape. E isto afeta
o setor vitivinícola, que tem o Mediterrâneo
como seu coração histórico. Mas não só.
Como é evidente, afeta também outros
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setores agroalimentares que se desen-
volvem nesta área, com destaque para a
olivicultura e a produção de azeite. Assim
como os cereais, de que o trigo é um caso
emblemático. "Por isso, este projeto visa
juntar as competências que têm vindo a
ser desenvolvidas na União Europeia, do
ponto de vista científico, para enfrentar os
desafios comuns das alterações climáticas
na bacia do Mediterrâneo que se colocam
a estes três setores - vinho, azeite e massas
de trigo".
E o projeto pode ir ainda mais longe,
mesmo em termos de abrangência geográ-
fica, como observa António Graça: "Aquilo
que for desenvolvido para esta região tem
depois externalidades que podem ser
aplicadas em qualquer parte do mundo.
Aliás, o projeto tem uma componente que
visa aplicar o valor acrescentado que for
desenvolvido para os três setores agroali-
mentares do MED-GOLD noutras áreas de
atividade económica, na medida em que
integra um parceiro da Colômbia envolvido
na cultura do café em zona tropical".
"Mais eficiência na cultura da vinha e
na produção do vinho"
"Importa também dizer - como sublinha
António Graça - que apesar de haver uma
perspetiva negativa sempre que se fala
de alterações climáticas, este projeto cria
oportunidades para desenvolver novos
tipos de vinhos, para obter mais qualidade
nos vinhos, mas, sobretudo, para alcançar
mais eficiência na cultura da vinha e na
produção do vinho".
E como se consegue tal desiderato?
António Graça responde: "Através da capa-
cidade de prever com maior antecipação
a evolução do tempo e do clima, o que
nos permite agir preventivamente e estar
preparados para fazer face a situações que
atualmente só sabemos que vão ocorrer
cinco dias antes. Aquilo que esperamos
obter como grande resultado da nossa
participação neste projeto europeu - útil
para a Sogrape mas, através de nós, para
todo o setor vitivinícola - é uma maior resi-
liência do nosso negócio".
Ao longo dos próximos quatro anos
do MED-GOLD (projeto de investigação
e inovação financiado pelo programa
Horizonte 2020, o Programa-Quadro
da União Europeia para a Investigação e
Inovação), a Sogrape Vinhos contribuirá
para orientar o conhecimento dos parceiros
científicos da área da climatologia para a
criação de serviços climáticos, permitindo
o acesso dos mesmos a dados históricos,
não só climáticos (recolhidos peta sua
rede de estações meteorológicas), mas
também de cultura (registos de datas de
vindima, estados fenológicos e de pressão
de doenças da videira). Além disso, fará
uma avaliação com os utilizadores finais
(técnicos de viticultura e enologia), dos
serviços criados para determinar o valor
que acrescentam quando comparados à
situação atual.
Em jeito de conclusão, e como António
Graça gosta de dizer, "o que se fazia tradi-
cionalmente hoje já não é válido, e por isso
temos de criar novo conhecimento. Não
podemos continuar a fazer como os nossos
avós faziam, porque o futuro que aí vem é
totalmente diferente do nosso passado".
Além do mais, "uma agricultura climatica-
mente inteligente contribuirá para reduzir
e, mesmo regredir, o aquecimento global".
O que não é coisa pouca.
O envolvimento da Sogrape no MED-GOLD decorre do facto, como explica António Graça, de as alterações climáticas estarem identificadas como "uma das principais ameaças para o negócio [do vinho] a médio e a longo prazo".
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MED-GOLD
A investigação em torno
das alterações climá-
ticas conhece um novo
capitulo com o projeto
MED-GOLD. António
Graça, responsável de
I&D da Sogrape, explica
o que é e quais os seus
objetivos.