id: 64045902 17-04-2016 corte: 1 de 2 bguc é um espaço

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Tiragem: 8585 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Regional Pág: 4 Cores: Cor Área: 16,45 x 30,07 cm² Corte: 1 de 2 ID: 64045902 17-04-2016 BGUC é um espaço “pródigo em surpresas e novas descobertas” Na Biblioteca Geral da Univer- sidade de Coimbra (BGUC) é possível encontrar uma bíblia da Idade Média, a primeira edi- ção d' Os Lusíadas ou as dife- rentes versões de Frei Luís de Sousa e de Garrett, num es- paço pródigo em surpresas e novas descobertas. Nos quase dois milhões de monografias que a UC tem, há muitos livros de que a institui- ção se orgulha. Na biblioteca universitária mais bem provida do mundo lusófono, é possível encontrar pedaços de história, livros curiosos e marcos da li- teratura portuguesa. O director da BGUC, José Augusto Bernardes, poderia passar certamente um dia in- teiro a falar dos tesouros que aquele espaço guarda. São muitos e variados. «O livro foi este ano esco- lhido como tema da Semana Cultural da UC, instituição onde este objecto foi sempre elemento central, e cuja deci- são de o destacar é de grande coragem, num momento em que há quem pense que o tempo dos livros passou», afir- mou o director da biblioteca. O primeiro livro que José Augusto Bernardes destaca é a bíblia «gigante, atlântica», «do tempo de D. Afonso Henri- ques», do século XII. Na Sala de São Pedro, a bíblia surge ao lado de um “e-reader” de 2016, com «800 anos de li- vros» a separar os dois, dife- rentes no suporte e tamanho, mas que têm igual espaço numa biblioteca com 500 anos de funcionamento contínuo, onde é possível encontrar li- vros da Idade Média até obras «que chegaram ontem». Outra menina dos olhos de Augusto Bernardes é a pri- meira edição de Os Lusíadas, a que se junta uma edição au- tográfica da obra de Camões, em que várias personalidades portuguesas do século XIX, como Eça de Queirós ou o rei D. Carlos I, assinam uma das 1.102 estâncias da epopeia por- tuguesa. «É um livro enorme, muito parecido em termos de enver- gadura com a bíblia atlântica», e que une «monárquicos e re- publicanos», numa conjugação de esforços «de que só Camões é capaz», carregando também o simbolismo de «emprestar» ao poeta «a caligrafia que não nos legou», realça. Obras a despertar paixões e curiosidade Há outros livros que se des- tacam, não tanto pela «precio- sidade e valor» que ostentam, «mas pela curiosidade». São «livros que estão à es- pera que os interroguem e que os expliquem», diz José Au- gusto Bernardes, apontando para o Livro de Lembranças dos Planetas, escrito por um monge no Convento dos Ere- mitas da Serra de Ossa, no Alentejo, no século XVI. O director-adjunto da biblio- teca, Maia Amaral, sublinha que é um livro que tem susci- tado paixões. Rico em cor e interativo (com componentes que se po- dem mover), o livro fala de as- tronomia e astrologia, mas também de «coisas várias cu- riosas», como a indicação da hora do dia mais adequada para certos tratamentos ou um truque, com as mãos, para descobrir as datas de festas móveis. Outro livro que desperta o interesse do bibliotecário, que trabalha na BGUC desde 1986, é uma obra a que chama de «verdadeiro falso». O livro é datado do século XVIII e era usado para difundir várias mentiras sobre a Companhia de Jesus. A obra tem uma encaderna- ção de cinto, que os eclesiásti- cos usavam, e sofreu um pro- cesso de envelhecimento para fazer crer que tinha sido usado pelos jesuítas. Mas para Maia Amaral, o mais fascinante da BGUC «são as descobertas que se podem fazer com os espólios». Ao todo são 47. O mais co- nhecido é o de Almeida Garrett, e neles é possível encontrar «a vida de trabalho, mas também as contas por pagar, as listas da roupa para a lavadeira, in- teresses e contas por fazer», num «olhar quase voyeurista das pessoas». «É quase um mundo que se vai desdo- brando», observa. O mais difícil é «escolher os tesouros», numa biblioteca tão cheia deles, alguns ainda por descobrir. Augusto Ber- nardes corrobora: «esta casa é pródiga» em dar surpresas. Alguns dos “tesouros” da Bi- blioteca estão em exposição até ao próximo dia 29. | Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra guarda verdadeiros tesouros Livros Milhões de histórias para descobrir na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Algumas estão em exposição até dia 29 LUSA Livro foi tema desta edição da Semana Cutural da UC. Um acto de coragem, sublinha o director da BGUC, José Augusto Bernardes

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Page 1: ID: 64045902 17-04-2016 Corte: 1 de 2 BGUC é um espaço

Tiragem: 8585

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Regional

Pág: 4

Cores: Cor

Área: 16,45 x 30,07 cm²

Corte: 1 de 2ID: 64045902 17-04-2016

BGUC é um espaço“pródigo em surpresase novas descobertas”

Na Biblioteca Geral da Univer-sidade de Coimbra (BGUC) épossível encontrar uma bíbliada Idade Média, a primeira edi-ção d' Os Lusíadas ou as dife-rentes versões de Frei Luís deSousa e de Garrett, num es-paço pródigo em surpresas enovas descobertas.

Nos quase dois milhões demonografias que a UC tem, hámuitos livros de que a institui-ção se orgulha. Na bibliotecauniversitária mais bem providado mundo lusófono, é possívelencontrar pedaços de história,livros curiosos e marcos da li-teratura portuguesa.

O director da BGUC, JoséAugusto Bernardes, poderiapassar certamente um dia in-teiro a falar dos tesouros queaquele espaço guarda. Sãomuitos e variados.

«O livro foi este ano esco-lhido como tema da SemanaCultural da UC, instituiçãoonde este objecto foi sempreelemento central, e cuja deci-são de o destacar é de grandecoragem, num momento emque há quem pense que otempo dos livros passou», afir-mou o director da biblioteca.

O primeiro livro que JoséAugusto Bernardes destaca éa bíblia «gigante, atlântica», «dotempo de D. Afonso Henri-ques», do século XII.

Na Sala de São Pedro, a bíbliasurge ao lado de um “e-reader”de 2016, com «800 anos de li-vros» a separar os dois, dife-rentes no suporte e tamanho,mas que têm igual espaçonuma biblioteca com 500 anosde funcionamento contínuo,onde é possível encontrar li-vros da Idade Média até obras«que chegaram ontem».

Outra menina dos olhos de

Augusto Bernardes é a pri-meira edição de Os Lusíadas,a que se junta uma edição au-tográfica da obra de Camões,em que várias personalidadesportuguesas do século XIX,como Eça de Queirós ou o reiD. Carlos I, assinam uma das1.102 estâncias da epopeia por-tuguesa.

«É um livro enorme, muitoparecido em termos de enver-gadura com a bíblia atlântica»,e que une «monárquicos e re-publicanos», numa conjugaçãode esforços «de que só Camõesé capaz», carregando tambémo simbolismo de «emprestar»ao poeta «a caligrafia que nãonos legou», realça.

Obras a despertarpaixões e curiosidade

Há outros livros que se des-tacam, não tanto pela «precio-sidade e valor» que ostentam,«mas pela curiosidade».

São «livros que estão à es-pera que os interroguem e queos expliquem», diz José Au-

gusto Bernardes, apontandopara o Livro de Lembrançasdos Planetas, escrito por ummonge no Convento dos Ere-mitas da Serra de Ossa, noAlentejo, no século XVI.

O director-adjunto da biblio-teca, Maia Amaral, sublinhaque é um livro que tem susci-tado paixões.

Rico em cor e interativo(com componentes que se po-dem mover), o livro fala de as-tronomia e astrologia, mastambém de «coisas várias cu-riosas», como a indicação dahora do dia mais adequadapara certos tratamentos ouum truque, com as mãos, paradescobrir as datas de festasmóveis.

Outro livro que desperta ointeresse do bibliotecário, quetrabalha na BGUC desde 1986,é uma obra a que chama de«verdadeiro falso». O livro édatado do século XVIII e erausado para difundir váriasmentiras sobre a Companhiade Jesus.

A obra tem uma encaderna-ção de cinto, que os eclesiásti-cos usavam, e sofreu um pro-cesso de envelhecimento parafazer crer que tinha sido usadopelos jesuítas.

Mas para Maia Amaral, omais fascinante da BGUC «sãoas descobertas que se podemfazer com os espólios».

Ao todo são 47. O mais co-nhecido é o de Almeida Garrett,e neles é possível encontrar «avida de trabalho, mas tambémas contas por pagar, as listasda roupa para a lavadeira, in-teresses e contas por fazer»,num «olhar quase voyeuristadas pessoas». «É quase ummundo que se vai desdo-brando», observa.

O mais difícil é «escolher ostesouros», numa bibliotecatão cheia deles, alguns aindapor descobrir. Augusto Ber-nardes corrobora: «esta casaé pródiga» em dar surpresas.Alguns dos “tesouros” da Bi-blioteca estão em exposiçãoaté ao próximo dia 29.|

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra guarda verdadeiros tesouros

Livros Milhões de histórias para descobrir na Biblioteca Geralda Universidade de Coimbra. Algumas estão em exposição até dia 29

LUSA

Livro foi tema destaedição da SemanaCutural da UC. Um acto de coragem,sublinha o directorda BGUC, JoséAugusto Bernardes

Page 2: ID: 64045902 17-04-2016 Corte: 1 de 2 BGUC é um espaço

Tiragem: 8585

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Regional

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 4,47 x 2,40 cm²

Corte: 2 de 2ID: 64045902 17-04-2016

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