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viagen a áfrica

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  • o COLONIALISMO PORTUGUS -novos rumos da historiografia dos PALOP

    Coordenao: Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto e Instituto de Investigao Cientfica Tropical

    Direco grfica: Antnio Modesto Foto da capa: A passagem do Rio Coruba!. Guin. Documentrio fotogrfico

    da viagem Guin do Ministro das Colnias, 1941. nCT - lbum fotogrfico, CEHU, n.o 6, ft. 86.

    Edies Hmus, Lda., 2013 Apartado 7081 4764-908 Ribeiro - V.N. Famalico Telef. 252 301 382 Fax: 252 317 555 [email protected]

    Impresso: Papelmunde, SMG, Lda. - V. N. Famalico 1.' edio: Novembro de 2013 Depsito legal: 365812/13 ISBN 978-989-755-017-1

    A edio desta obra teve o apoio de:

    4 ........................ ;,.~ .............. _ ........ . FCT CENTRO DE ESTUDOI AFRICANOS UN I VOKS IDADR DO PORTO

    Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto e Instituto de Investigao Cientfica Tropical (Coordenao)

    o colonialismo portugus - novos rumos da historiografia dos PALOP

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  • ASPECTOS DA EXPOSIO NDICE

    7 Apresentao Figura 2

    PARTE I O COLONIALISMO NA FRICA PORTUGUESA -PRTICAS POLTICAS

    11 Um contributo esquecido e uma escala espacial adequada: o Judasmo na construo da Guin do Cabo Verde no contexto do Mundo Atlntico (sculo XVII) Jos da Silva Horta e Peter Mark

    Figura 4 29 O imposto campons e o financiamento do Estado colonial -Figura 3 exemplos das colnias portuguesas (1900-1939) Maciel Santos

    107 Fronteiras de Angola e Moambique: passado e presente na construo do futuro Paula Cristina Santos

    Figura 5 PARTE II ESCRAVATURA, ESCRAVIDO E TRABALHO FORADO

    119 A viagem improvvel. Tentativas de regresso ao continente africano de escravos das Dhas de So Tom e do Prncipe (Sculos XV-XVIII) Arlindo Manuel Caldeira

    135 Tr1bunal de mucanos: slavery and freedom in Angola (17-19tb centuries)

    Figura 6 Roquinaldo Ferreira

  • 155 Notas preliminares sobre punio de escravos em Luanda (sculo XIX) Vanessa S. Oliveira

    177 The "Mine of Wealth at the Doors of Loanda": agricultural production and gender in the Bengo Tracy Lopes

    207 Dangerous simpliftcations, suspicious elements and prolonged silence: canadian protestants and the pide on the Benguela plateau Frank Luce

    PARTEllI MEDICINA E CIRCULAO DE SABERES

    233 Reconsidering indigenous health, medical services and colonial rule in portuguese West Africa Philip J . Havik

    267 'Miscbief' and 'magic': midwives, curandeiras and tbe bealtb service of So Tom and Prncipe, 1850-1926 Rafaela Jobbitt

    281 Plantas medicinais e saberes tradicionais versus cincia em Cabo Verde e Moambique na viragem do sculo XIX Ana Cristina Roque e Maria Manuel Torro

    301 Os eixos ideolgicos do poder biomdico: o projecto de Manuel Ferreira Ribeiro Helena Sant'ana

    321 Das viagens cientftcas aos manuais de colonos: a Sociedade de Geografta e o conhecimento de frica Cristiana Bastos

    347 Viagens, misses e coleces entre agendas polticas e prticas cientficas Ana Cristina Martins

  • Das viagens cientficas aos manuais de colonos: a Sociedade de Geografia e o conhecimento de frica 1 CRISTIANA BASTOS'

    1. Pessimismo e optimismo na dcada de 1870: a viragem para frica

    Quem ha dez annos fallasse n'uma travessia realisada no sul d'Africa, feita por portuguezes, ainda mesmo nas condies em que querem a realizasse Serpa Pinto, e asseverasse que ella se efectuaria, ou no seria acreditado, ou por menos no seria attendido, to profundo era o indifferentismo do publico por esse transcedente problema africano, que a Portugal mais do que a ninguem toca resolver. As c%nias eram para o estado e para o publico um pezo insuportavel. Diz-

    -se at que houvera mais que um ministro que pensara em vendei-as todas ou algumas julgando-as como um fardo pezado que s servia para incommodar a metropole, vivendo como vivia, socegada e feliz n'essa lerda pachorra propria das sociedades decadentes e decrpitas ... (ln Actualidade 181, 1879)2

    Instituto de Cincias Sociais, Universidade de Lisboa [email protected]

    1 Este artigo resulta de investigao executada no mbito do projecto SOSCSI, "Sociedades Cientficas na Cincia Contempornea" (FCT/PTDC/CS-ECS/101592/2008), coordenado por Ana Delicado no Instituto de Cincias Sociais, no qual a autora estuda as sociedades cientficas histricas, contando com o apoio do bolseiro de investigao Patrick Figueiredo. Um agradecimento especial bibliotecria da Sociedade de Geografia de Lisboa, Helena Greco, pelo apoio bibliogrfico, e a Ana Delicado pela leitura crtica. 2 Este trecho faz parte de um exaustivo levantamente das notcias de imprensa e comen-trios crticos a respeito da viagem de Serpa Pinto organizado logo em 1879 por Manuel Ferreira Ribeiro (Ribeiro, 1879: 830-831)

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  • o COLONIALISMO PORTUGUS

    Se o pessimismo, niilismo sarcstico, autoflagelao e outras expresses do sentimento de decadncia marcaram a produo literria e intelectual da "gerao de setenta", de Antero, Ramalho, Ea, Oliveira Martins e muitos outros, algo de radicalmente diferente animava um grupo alargado de cidados que, tambm a partir de Lisboa, apostava na cincia e no colo-nialismo moderno como instrumentos transformadores do devir nacional. As suas expectativas eram optimistas e as suas iniciativas estendiam-se a diversas esferas, da mais alta poltica s mais cosmopolitas sociedades cientficas. Um dos rgos que deu corpo a esta corrente, mobilizando uma elite urbana crente nos valores do progresso e modernizao, foi a Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL), fundada em 1875 com o pro-psito explcito de promover o gosto e a prtica da geografia, ou seja, o conhecimento cientfico dos territrios.

    No se tratava j de navegar os mares e desvendar novos continentes, temas usualmente invocados para pintar o passado em tons de glria, pio-neirismo e aventura. Tratava-se agora de conhecer com rigor os lugares da terra, cartografar rios e afluentes, arrolar as quedas de gua, as mon-tanhas, vales, plancies, desertos, povoaes e populaes, calcular as lati-tudes, longitudes, altitudes, descrever as paisagens, escrever os caminhos, inscrever-lhes a poltica. Os pontos a explorar tanto podiam situar-se nas montanhas do norte de Portugal, como veio a suceder com o Gers e Serra da Estrela,3 como no ainda relativamente misterioso continente africano, onde se concentraram, por razes que analisaremos, os maiores esforos da SGL.

    No por acaso, outros andavam ento envolvidos em travessias de frica. Outros que no s no eram portugueses mas, no palco da compe-tio internacional, trabalhavam para a "concorrncia". Trabalhavam por conta de imprios europeus j instalados, como o britnico, ou em vias de o fazer, como o de Leopoldo, rei dos belgas (Pakenham, 1991; Hochschild, 1999). Algo de novo se passava, urgia responder com actos e demonstra-es de conhecimento; tambm os portugueses tinham de se envolver nessa

    3 Alm das visitas ao Gers e estudo das suas guas minerais noticiados nos Boletins da Sociedade de Geografia, esta patrocinou em 1881 uma importante eXpedio cientfica Serra da Estrela (Calado, 1994; Cantinho Pereira, 2005).

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    DAS VIAOENS CIENTFICAS AOS MANUAIS DE COLONOS: A SocmnADE DE GEOGRAFIA E O CONHECIMENTO DE FRICA

    nova corrida, e tambm eles tinham de observar, percorrer, medir, calcular, registar, reportar (Guimares 1992).

    obviamente um etnocentrismo, ou eurocentrismo, referir que o inte-rior de frica estava por conhecer. Era conhecido dos africanos, alguns deles em conexo com europeus e rabes. Era conhecido dos mercadores e traficantes rabes. Era conhecido de toda uma panplia de europeus que se tinham entregue a frica: lanados, aviados, pombeiros e outros que, por sua conta e risco, ou por conta de outrem que no os estados nacionais da Europa, conheciam os recantos que lhes interessavam para o comrcio, para a caa, para o quotidiano. Mas os seus conhecimentos no eram instrumentalizados pela poltica, nem eram instrumentalizveis pelos estados europeus que ambicionavam controlar o continente - o qual vieram a repartir entre si mesa de Berlim, como se de um repasto se tra-tasse (Pakenham 1991).

    Na dcada de 1870, porm, j havia quem percorresse frica para produzir conhecimento de alcance mais amplo que o mero uso local. Chamavam-se, entre outros, Livingstone, Stanley, Cameron: at hoje so lembrados na memria popular, e ainda recentemente houve um pequeno surto de obras crticas reavaliando os seus percursos, ligaes polticas e papel na histria global dos imprios (Newman, 2004, 2010; Jeal, 2008, 2012; Dunn, 2003).

    Para a Sociedade de Geografia de Lisboa era urgente contrapor-lhes algum nacional. Havia que enviar exploradores portugueses, marcar posi-o, e de caminho, tambm, cartografar os vastos territrios entre a costa do Atlntico e a do ndico. Para a comisso cartogrfica do Ministrio essa era, tambm, misso prioritria (Mendes 1982). Convergiam assim os interesses do estado e da iniciativa privada: uma grande expedio portu-guesa ao chamado continente negro no poderia tardar muito.

    Tal expedio concretizou-se em 1877, liderada pelo oficial do exr-cito Alexandre Serpa Pinto e pelos oficiais da armada Hermenegildo Brito Capelo, regressado do mar da China, e Roberto Ivens, regressado de uma viagem aos Estados Unidos da Amrica. O seu equipamento fora crite-riosamente preparado, contando com um extensa parafernlia cientfica destinada a medir, calcular, reportar. Bssolas, sextantes, lentes, culos, hipsmetros, termmetros, agulhas, tbuas de logaritmos, que se acresciam

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  • o COLONIALISMO PORTUOUS

    dos mantimentos, roupas, armas, plvora, botica, ferramentas, caixas de msica e um largo nmero de fazendas, lenos coloridos e missangas. Para transportar tudo isso foram necessrios grandes contingentes de carrega-dores africanos, nem sempre fceis de contratar. Alguns dos que chegaram ao fim da expedio acompanharam os exploradores a Portugal - eram mais uma evidncia, um pedao de realidade a dar autenticidade narra-tiva que vieram a contar.

    Figura 1. Carregadores de Serpa Pinto (Ilustrao de Como Atravessei a frica, disponvel em www.gutenberg.orgfiles2078320783-himages)

    Alexandre Serpa Pinto, Hermenegildo de Brito Capelo e Roberto Ivens voltaram de frica e contaram-na ao pblico europeu em relatos falados e em livros impressos. Foram aplaudidos e aclamados, quais Livingstone e Stanley portugueses. Passaram ao panteo de heris do imaginrio nacio-nal, mesmo que nem todos os que hoje os reconhecem saibam o pormenor dos seus feitos, a letra dos seus textos e a lgica por trs das suas expedies africanas. Mas no nos interessa especular se o desejo de fama e imortali-dade estava entre as suas motivaes, lado a lado com a aura de abnegados mrtires da cincia que arriscavam a vida em prol de patritica misso; o

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    DAS VIAGENS CIENTFICAS AOS MANUAIS DE COLONOS: A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA E O CONHECIMENTO DE FRICA

    que nos interessa mostrar que estas expedies se tornaram o lado mais visvel da Sociedade de Geografia, uma eficiente montra para uma proposta poltica de colonizao de frica, mas coexistiam com outros modos de desenvolver o conhecimento operacionalizvel para esses fins.

    O nosso argumento simples: se as grande expedi e e travessias de frica ganharam um lugar de honra na memria colectiva, no esgo-tavam as propostas e atitudes da SGL sobre frica, nem necessariamente geravam consenso. Pelo contrrio, outras tendncias coexistiram na SGL a respeito do que deveriam ser a cincia e a poltica colonial. Os scios envolveram-se em polmicas e debates; diferentes propostas coexistiram e mobilizaram apoios polticos e redes de cientistas de diferente alcance.

    Na presente anlise daremos realce a duas linhas que de modos quase opostos articularam conhecimento e poder, ou cincia e poltica, tendo frica como objecto e objectivo: de um lado, os exploradores que prati-caram as travessias do continente africano munidos de instrumentos cien-tficos para medir, calcular, avaliar, e relatar; de outro lado, os tericos e autores de prescries para uma colonizao cientfica, em que sobressaa o conjunto de recomendaes para a boa aclimatao dos colonos e as escolhas agrcolas a ter em considerao.

    Entre os primeiros, destacam-se os j referidos Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, protagonistas e autores dos apai-xonantes relatos de viagem "Como eu atravessei a frica" (Serpa Pinto, 1881), "De Benguela s Terras de Iacca" (Capelo & Ivens, 1881)e, mais tarde, "De Angola Contracosta" (Capelo & Ivens, 1886).

    No outro lado est o mdico e militar Manuel Ferreira Ribeiro, entu-siasta de primeira hora da colonizao de frica e autor de inmeras obras as sobre aclimatao e manuais de higiene colonial, como o "Regras e Preceitos de Hygiene Colonial, ou conselhos prticos aos colonos e emi-grantes que se destinam s nossas colnias do ultramar" (Ribeiro, 1890b). Manuel Ferreira Ribeiro ficaria de certo modo na penumbra da histria. Os seus esforos de uma pedagogia para a boa colonizao e as suas teo-rias de aclimao foram-se dissolvendo em preceitos que ora se tornaram obsoletos, ora se tornaram o cnone do bom senso para quem se deslocava para os trpicos. Embora tenha feito diversas misses no terreno e ocasio-nalmente assegurado a sobrevivncia e sade dos corpos expedicionrios,

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  • li

    o COLONIALISMO PORTUOutS

    nada do que fez, apresentou ou escreveu se prestou a espectculo de mas-sas, como as conferncias e obras dos exploradores j referidos. O seu era um lugar mais discreto, sem reconhecimento em vida ou sequer depois da morte (Rita-Martins, 1954; Pina 1959; Cantinho 2008; Bastos 2011).

    2. Exploraes e travessias: Serpa Pinto, Brito Capelo e Roberto Ivens

    Duas atitudes confluam nessa dcada de 1870 em Portugal: para alguns o declnio era uma inevitabilidade, e a um pas velho, que tinha j vivido as pujanas da juventude e algumas glrias da maturidade, restava apenas olhar para o passado e aguentar a decrepitude do presente; para outros, havia esperana - e esta estava em frica, onde os portugueses do pas-sado tinham aportado, traficado, constitudo pequenas colnias litorais, enviando aventureiros para o interior, mas do qual pouco ou nada sabiam. Se frica tinha sido para os europeus um misto de lugar temido, de febres e guerras, e um repositrio quase infinito de mo de obra escravizada para as plantaes nas Amricas, estava agora a transformar-se em novo eldo-rado de possibilidades e riquezas, de recursos a descobrir, terras a ocupar, comrcio a implementar, fortunas a amontoar (Alexandre e Dias, 1998; Alexandre, 2000).

    assim que, enquanto uns teorizavam a decadncia, outros funda-vam a Sociedade de Geografia de Lisboa e apostavam na colonizao e no desenvolvimento. Tinha chegado o tempo de estabelecer bases cientficas para um futuro controle poltico de Portugal sobre frica e subsequente aproveitamento econmico. Impunha-se contrariar o desinteresse nacional e combater a concorrncia internacional no controle de territrios e identifi-cao de recursos - e ainda contrariar as acusaes da persistncia do trfico escravo s mos dos portugueses. As actas e boletins da SGL mostram a constante preocupao com as acusaes da persistncia do trfico escravo, com a tenso pelo controle dos espaos africanos por parte de outras naes europeias, com a competio de demonstraes de conhecimento territorial. Serpa Pinto responde directamente s acusaes, notando que os trafican-tes que usavam nomes portugueses nada tinham de portugus - ou porque tinham deixado de o ser, ou porque nunca sequer o tinham sido, como o famoso Jos Alves encontrado por Cameron (Serpa Pinto 1891, II).

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    DAS VIAGENS CIENTFICAS AOS MANUAIS DE COLONOS: A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA E o CONHECIMENTO DE FRICA

    De interesses convergentes, o governo e a SGL combinaram-se no apoio s expedies africanas de Serpa Pinto, Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo. Enquanto exploradores estrangeiros investigavam as nasc~ntes do Nilo, os lagos, os rios, as cataratas, e tambm os relevos e camI~hos, .e porventura mais ainda as jazidas e outras riquezas, os portugueses InVestI-gariam as nascentes do Cubango e do Zambeze, o que houvesse de outros rios, lagos, montanhas, possibilidades de caminho, povoaes, enfim, luga-res, rotas e promessas de riqueza. No por acaso, a Associao Comercial de Lisboa seguia de perto as expedies; e a Sociedade de Geografia do Porto contou desde a primeira hora com o envolvimento de associaes de comerciantes. O conhecimento era passvel de instrumentalizao ime-diata para melhorar o comrcio e as possibilidades de desenvolvimento de uma economia colonial.

    Comeara a corrida a frica, antecipando a partilha que se formali-zou na conferncia de Berlim em 1884-5. E se a maioria dos portugueses pouco interesse tinha no assunto, mantendo pelo continente o temor ~ue a fama insalubre gerava e a repulsa que a condio de destino de conVICtos e bandidos sustentava, outros havia, mais modernos, que ali viam uma promessa de riqueza e um futuro de prosperidade. Tal futuro era para eles uma justa decorrncia de um passado pioneiro, em que as explor~es martimas teriam estabelecido em frica as marcas, presenas, feI-torias entrepostos portugueses - muito embora tais marcas e presenas se limitassem s zonas costeiras, seguissem em larga medida as linhas do trfico escravo se configurassem como postos militares rodeados de zonas

    , .

    no controladas de comrcio e mestiagem, e, sabemo-lo hoje com maIS clareza, estivessem frequentemente subordinados a interesses locais que pouco tinham em considerao o querer ou haver de Portugal. Dos. portu-gueses que se aventuravam pelo interior, poucos ou nenhuns o fazIam em representao do estado. De forma descontnua e certamente no espec-tacularizada, vrios tinham vindo a percorrer frica; na enumerao de Manuel Ferreira Ribeiro, os antecessores de Serpa Pinto incluam nomes como os de Lacerda, Gamito, Monteiro, Silva Porto, Graa, Magyar, Brochado, etc. (Ribeiro, 1879: 809). Tambm existia um conhecimento distncia das coisas africanas corporificado nas coleces da Academia das Cincias e do Museu de Histria Natural. Estes rgos tinham alis

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  • o COLONIALISMO PORTUGU8

    promovido os levantamentos e remessas de espcies para a metrpole, por vezes incluindo artefactos e costumes indgenas.4

    Das exploraes de Serpa Pinto, Brito Capelo e Roberto Ivens conhe-cemos a histria, sobretudo a que nos narraram e que a imprensa ecoou em larga escala. Sabemos que partiram de Luanda; que se cruzaram com Stanley, encontro imortalizado em imagem e poca.

    Fig 2. Stanley e Serpa Pinto em Africa. Fotografia de poca, 1877, coleco Everett, dispon-vel em poster comercial e amplamente divulgado na internet

    4 Estas iniciativas no eram sistemticas e tinham escasso apoio do estado, que aparecia quando precisava de compilar dados para exibir em exposies internacionais (Roque, 2001; Bastos, 2004, 2007). O Museu de Histria Natural, em 1848, emite uma circular para os governadores das provncias ultramarinas a pedir peas e promove a expedio de Welwitsch (Almaa, 1989); em 1862 o director da seco de zoologia, Barbosa du Bocage, escreve "instrues prticas sobre o modo de coligir, preparar e remeter produtos zoolgicos para o museu de Lisboa" , dirigida a residentes na metrpole, governadores ultramarinos, cirurgies da armada, mdicos e farmacuticos nas colnias e colonos em geral (Delicado 2009: 110--111)

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    DAS VIAGENS CIENTFICAS AOS MANUAIS DE COLONOS: A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA E O CONHECIMENTO DE FRICA

    Sabemo tambm que recon ideraram o local da partida e a reiniciaram em Benguela, mais adequada ao prop ito de encontrar a bacia hidro-grfica em causa. A expedio manteve- e at ao Bi, separruldo- e tem-porariamente erpa Pinto em demanda de carregadores. Em Belmonte, Bi, reencontraram-se e receberam a ho pitalidade do ertanejo Silva Porto, h muito acomodado terra do interior africano assimilado ao continente, conhecedor de largos espaos e precioso informador d erpa Pinto. Silva Porto era um sillguLar aventmeiro e tabelecido no interior de Angola com notvel influncia regional. O eu apoio foi fundamental para o explora-dore , que reconhecem mltipLa veze. Serpa Pinto nota que Silva Porto uma excepo ao o tume dos sertanejo em frica, que habitualmente deixavam de er portugue es (Serpa Pinto 1881, TI:57-8) . Mai tarde, quando a foras inglesa ameaam ocupar os territrios que Portugal pre-tendia controlar, a SGL lamentava o risco que corre "o quilombo do nos O patriota Silva PortO" (SGL, 22/9/1890 - ublinhado no o).

    A partir do Bi eguiriam rota diferentes: Capelo e lvens mantiveram-- e fiei ao plano de levantamento hidrogrfico, o que implicava avano e retornos que no o aproximariam da co ta oriental de frica. De facto retornariam co ta ocidentaL, encerrando, tambm com uces o, a expedi-o de levantamento hidrogrfico. Ma erpa Pinto estava aparentemente mais interessado em chegar outra co ta .

    Especulou-se obre a separao dos expedicionrio, falou-se d de en-tendimento mas tudo vir a er minimizado no relatos posteriore do viajante. erpa Pimo nega r p tidamente que tenham exi tid divergn-ia de fundo. No e zangaram mai que quai quer outrO homens sujeito

    s privaes, mo quitos p, febres e outras dificuJdade de uma traves ia como aquela. Identicamente, Capelo e Iveo negam que tenham exi tid conflitos' ele cingiram- e ao plan inicialmente traado: "no se imagine que n' tnhamos o direito de divagar nos sertes, por onde qui emos, dirigindo o nosso itinerrio para le te ou norte", afirmrun na introduo ao livro De Ben.guela s Terras de lacca (Capelo e {vens, 1881: XXV).

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  • o COLONIALISMO PORTUOutS

    Fig 3. Exploradores com Silva Porto em Belmonte, Bi

    inegvel que a tendncia apressada de Serpa Pinto se opunha ao compromisso de levantamento sistemtico que a misso tinha por incum-bncia. Ele mesmo se apresenta como tendo tido um papel menos "cient-fico" na primeira parte da expedio, em que os levantamentos estavam a cargo de Brito Capelo. Ele, Serpa Pinto, tinha a cargo a superviso dos car-regadores: "chefe dos pretos", nas suas palavras. Quando se separaram, Capelo reclamou o abbas e alguns outros instrumentos que no tinham par. Serpa Pinto ficou com alguns sextantes, e com equipamento suficiente para cartografar, medir, registar. Mas tinha a urgncia de chegar ao outro lado do continente; e nisso no estava propriamente em ruptura com o

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    DAS VIAGENS CIENTFICAS AOS MANUAIS DE COLONOS: A SOClEDADE DE GEOGRAFIA E o CONHECIMENTo DE FRICA

    esprito da misso, que tinha o seu qu de pesquisa-espectculo e de exibi-o perante a concorrncia. Nessa medida, podemos dizer que Serpa Pinto cumpriu uma variante possvel da misso - chegar ao outro lado, voltar para contar, fazer o priplo das sociedades europeias -- e Capelo e Ivens cumpriram uma outra variante, a do levantamento da bacia hidrogrfi-cas. Analisando as tenses internas da Com is o de Cartogralla que opu-nham Jos Julio Rodrigues e Luciano ordeiro, H. abriel Mende ugere que estavam em jogo duas misses diferentes - Capelo e Ivens teriam cum-prido a que era apoiada por Jos Jlio Rodrigues, tal como constava das Instrues, e Serpa Pinto deu corpo expedio idealizada por Luciano Cordeiro (Mendes, 1982:25).

    Fig 4. Serpa Pinto e os carregadores no final da viagem (Ilustrao de Como Atravessei a Africa, disponvel em

    www.gutenberg.orgfiles2078320783-himages)

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  • o COLONIALISMO PORTUGuiS

    De passo acelerado, usando informaes de Silva Porto, de caadores, de indgenas africanos, apoiado num conjunto de carregadores que lhe eram j ntimos - alguns deles contracenariam no palco da Trindade onde apresentou os resultados ao pblico lisboeta - o major Serpa Pinto conse-gue chegar a Pretoria em Maro de 1879. De l envia um telegrama SGL que enche de regozijo os seus scios.

    o sr. presidente leu o telegrama que ao governo enviara o explorador e con-scio sr. major Serpa Pinto, quando chegara a Pretoria. Discursou larga-mente sobre a travessia de Africa que o ousado explorador acabava de fazer, congratulando-se por termos chegado a um tempo em que podamos ter noti-cias de um facto to importante, quarenta e oito horas depois dele! Disse que a sociedade devia felicitar-se pelo sr. Serpa Pinto ter conseguido vencer as enormssimas dificuldades que oferecem as viagens cientficas do interior de Africa, e por os trabalhos do audacioso explorador terem levado o nome de Serpa Pinto admirao dos sculos, ao lado de nomes ilustres dos moder-nos lutadores africanos, como Livingstone, Cameron, Stanley e outros. Que o cometimento do nosso intrpido e corajoso conscio havia dado histria do nosso pas mais uma pgina brilhante e honrosa, como aquelas que descre-viam as descobertas martimas dos nossos maiores. Acrescentou que julgava interpretar por estas palavras os sentimentos da sociedade, dando um testemu-nho de considerao pelo explorador e de satisfao pelo feliz resultado de to notvel empreendimento (SGL, 17/3/1879)

    A viagem fora atribulada, como conta com esprito nos dois volumes de Como eu atravessei a Africa. As febres impedem-no de seguir o curso do Zambeze e inflecte para Sul. assim que, em vez de desembocar em Moambique, chega a territrios de domnio ingls. De Pretoria segue para Durban, e de l para Lisboa pelo ndico, Egipto e Mediterrneo. Estava cumprida a sua misso - no chegara a terras pretensamente portuguesas da costa oriental, mas de certa maneira atravessara o continente. aguar-dado em Lisboa com fervor. H jbilo na sesso de 6 de Junho da SGL; querem esper-lo triunfalmente, seja em escaleres no Tejo, seja na gare dos comboios, antecipando todas as modalidades de chegada a Lisboa (SGL, 6/6/1879).

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    -

    DAS VIAGENS CIENTFICAS AOS MANUAIS DE COLONOS: A SOCIEDADE DE GEOORAJ'IA E o CONHECIMENTO DE FRICA

    Serpa Pinto chega a 9 de junho, saudado e aclamado. Mal tem tempo de se refazer: febril ainda, debilitado da viagem e das inevitveis febres contradas no terreno, apresenta o seu relato da viagem numa sesso extraordinria promovida conjuntamente pela comisso permanente de geografia, rgo governamental, e pela sociedade de geografia de Lisboa.

    . A sesso tem lugar no salo da Trindade, a 16 de Junho de 1879, e conta com a presena da famlia real, do corpo diplomtico, dos membros do governo, acadmicos, cientistas, letrados, jornalistas, enfim, toda a elite informada. Com Serpa Pinto estavam tambm os testemunhos humanos da viagem; conforme consta nas actas,

    logo que Suas Majestades tomaram os seus lugares, foram -lhes apresentados os pretos que restavam da expedio: Verssimo, Camutombo, Catraio, Moero, Pepeca e Marianna, os quais, depois de beijar as mos de E/-Rei o senhor D. Luiz e El-Rei o senhor D. Fernando, foram sentar-se adiante do estrado des-tinado ao explorador. Estavam vestidos segundo o costume africano. Faltava apenas o preto Augusto, que tendo chegado doente havia sido recolhido e ainda se achava no hospital da marinha. (SGL 16/6/1879)

    Serpa Pinto aplaudido apoteoticamente e fala durante duas horas e meia; oferece Sociedade de Geografia a bandeira que o acompanhara na viagem; condecorado pelo Rei; disponibiliza-se para responder a ques-tes, expe os instrumentos que o acompanharam na viagem, os dirios, desenhos, cartas.

    A 25 do mesmo ms a apresentao prolongada na Sociedade de Geografia. A discute com mais pormenor os seus achados relativos hidrografia e orografia entre o Quillengue e o Zambeze; conseguira reco-nhecer que o rio Cubango desagua no Ngami, e que este lado tem uma ligao com o Macaricari. Sobrevivera, medira, observara, mapeara, estava ali para contar a histria, contava-a, passava conhecimento, instru-mentos, livros de registo, desenhos, anotaes, mapas, mesmo que ainda em esboo, disponibilizava-os para correces e melhoria.

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  • o COLONIALISMO PORTUGUS

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  • o COLONIALISMO PORTUGuS

    Antonio Ferreira Marques, o Tenente Serafim, o farmacutico Monteiro, Vieira da Silva, Santos Reis, o Tenente Rosa de Quilengues, o dr Bradshaw, a familia Coillard, o rei Shoshong Kama e Mme. Taylor. Agradece a Toms Ribeiro ter enviado reforos de resgate de Moambique para o interior. A um ror de nomes agradece o apoio em Pretoria -- "primeira terra do mundo civilisado que encontro depois de Benguella" - e nos restantes tre-chos do caminho de regresso, que incluiu Durban, Loureno Marques, Zanzibar, Cairo, Alexandria. Em Lisboa agradece ao governo e Sociedade de Geografia, que "tudo por mim fez", e ainda Associao Comercial de Lisboa e do Porto, s Associaes Portuguesas no Brasil, aos Soberanos estrangeiros (a Dom Luiz j dedicara o livro); ao monarca belga reserva palavras especiais de apreo: "Illustrado e sabio Rei Leopoldo ( ... ) grande impulsor do movimento geogrphico Africano moderno". Finalmente agradece aos muitos que animavam as Sociedades de Geografia de Frana, da Blgica e de Inglaterra. Os agradecimentos datam de Dezembro de 1880, em Londres, e o livro vem a pblico em 1881. apresentado pelo prprio na Sociedade de Geografia, e o primeiro exemplar sado da grfica oferecido SGL (SGL, 9/5/1881).5

    Enquanto o livro sai e no sai, vrias so as vozes que acolhem, aplau-dem ou criticam Serpa Pinto. A que nos parece mais curiosa e digna de assinalar para os propsitos desta anlise a crtica de Manuel Ferreira Ribeiro, scio da SGL. Ferreira Ribeiro d-se ao trabalho de compilar, num volume de cerca de 900 pginas que faz sair em edio de autor, todas as smulas, transcries estenogrficas, notcias de jornal e comentrios s conferncias de Serpa Pinto (Ribeiro 1879). Trs nomes se destacam em anlises crticas: o prprio Ferreira Ribeiro, que se distancia do estilo de travessias espectaculares como forma de desenvolver o conhecimento cien-tfico necessrio ao projecto colonial e, como veremos, prope o desen-volvimento de estudos cientficos de aclimao; Carlos Mello, um outro scio da SGL; e Jorge Mendona, desde a primeira hora visto como um pseudnimo.6

    5 Curiosamente, o exemplar actualmente existente na biblioteca da SGL foi adquirido num leilo, donde se deduz que a cpia oferecida por Serpa Pinto tomou um outro caminho que o das estantes da biblioteca e teve de ser substituda. 6 Procurando na sociedade de geografia encontrmos apenas um Jorge Mendona autor da verso portuguesa do livro de Stanley "Em terras de escravido".

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    DAS VIAGENS CIENTFICAS AOS MANUAIS DE COLONOS: A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA E O CONHECIMENTO DE FRICA

    Nem todos se deslumbravam com a aura de heri de Serpa Pinto; nem todos se vergavam perante os seus feitos; nem todos comungavam da exci-tao geral que atingia alguns crculos intelectuais e arrastava o poder poltico para uma aposta em frica como modo de revitalizar o devir de uma nao que todos reconheciam j ter sido grandiosa e viver agora os dias da decadncia. De onde vinham as crticas? Em alguns casos, do sim-ples conservadorismo e desinteresse por frica. Mas para outros, como era o caso de Ferreira Ribeiro, o problema era de incorrecta calibragem de informao e conhecimento. As notas de viagem, os mapas, as palestras e os livros de Serpa Pinto eram, para Ribeiro, insuficientes, errados ou inadequados. Urgia promover um conhecimento rigoroso, capaz de dar os elementos necessrios para a colonizao apropriada do continente afri-cano por europeus.

    Como se calcula, a relativa relutncia de Ferreira Ribeiro pelo estilo de conhecimento-espectculo de Serpa Pinto tinha como contrapartida a sua maior apreciaes por Capelo e Ivens. Estes no tinham trocado o objec-tivo cientfico da misso por uma mostra espectacular de atravessamen-tos continentais. Como j citmos, estavam comprometidos a conhecer as bacias hidrogrficas. Curiosamente, na segunda misso, em que tinham por objectivo cartografar Angola, vm precisamente a fazer uma viagem espectculo - De Angola Contracosta.

    3. Manuel Ferreira Ribeiro, crtico e terico da aclimao e colonizao

    Manuel Ferreira Ribeiro estava convicto de que o futuro de Portugal pas-sava pela colonizao de frica. A sua liderana no jornal As colnias portuguesas prova as suas convices. As suas intervenes nas reuni-es da Sociedade de Geografia, os seus escritos e anlises, igualmente o provam. Sabia que os direitos simblicos de Portugal sobre frica eram frgeis perante a concorrncia europeia. Havia que mobilizar as prticas cientficas - e para ele, essa no eram apenas a promoo de expedies aos lugares, mas tambm a promoo do conhecimento rigoroso sobre quem deveria ser envolvido na colonizao. Era imperativo conhecer bem os recursos e caractersticas do territrio, clima, orografia, geologia, vege-tao, fauna, grupos tnicos, como mandavam os princpios da geografia;

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  • o COLONIALISMO PORTUOUS

    mas era igualmente imperioso promover o conhecimento sobre as adapta-es a fazer pelos implicados na colonizao: os colonos.

    Ferreira Ribeiro era to apaixonadamente colonialista e africanista e to convicto do que deveria ser feito para uma boa colonizao que no se satisfazia com o conhecimento produzido por Serpa Pinto. Para o cri-ticar foi ao mais nfimo detalhe das evidncias. Mostrou que alguns rios no eram exactamente como Serpa Pinto os indicava; que tinham outro nome; que j eram conhecidos previamente. Comparou mapas, relatos, reconstituies. Para ele, os conhecimentos que Serpa Pinto pusera a cir-cular estavam muito longe de colmatar as lacunas e de servir de ba'se ao que acreditava ser necessrio, que era uma colonizao cientfica, orde-nada, orquestrada. Ferreira Ribeiro envolve-se ainda em polmicas sobre o estabelecimento de uma companhia agrcola e comercial na provncia de Angola, notando que tal proposta visava fazendas agrcolas, no pro-priamente colnias agrcolas, e elabora longamente sobre o que devem ser colnias em frica, fazendo por escrito uma proposta que assina e deixa em acta:

    A companhia de explorao agrcola e comercial em Angola prope-se antes fundar e administrar fazendas agrcolas, para as quais contrata trabalhado-res, do que organizar e fundar colnias agrcolas, povoando-as de colonos levados de Portugal ou de qualquer outro pas; e a sociedade de geografia de Lisboa, no intuito de concorrer para que as nossas terras de Africa percam a fama de insalubridade que to fatal lhes est sendo, chama a ateno do autor do projecto para a imperiosa necessidade de s.e procurar por todos os meios possveis a conservao da vida dos trabalhadores, regulando as horas de tra-balho segundo as localidades forem ou no palustres, providenciando para que no faltem alimentos aos invlidos, protegendo aqueles que precisarem de se retirar para o seu pas natal, e no pennitindo em caso nenhum que os doentes sejam tratados por curandeiros, enfermeiros sem pratica, ou qualquer empregado s ordens da companhia e promover colnias. Assinado, Manuel Ferreira Ribeiro (SGL 17/3/1879)

    Manuel Ferreira Ribeiro no era propriamente um terico de gabinete nem apenas um temperamento difcil com o gosto de contrariar consensos.

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    DAS VIAOENS CIENTiFICAS AOS MANUAIS DE COLONOS, A 8OCIl!DADE DE OEOORAFIA E o CONBECIMEN'l'O DE FRICA

    Tinha conhecimento empmco de frica e muita experincia no campo especfico da sobrevivncia dos europeus em climas africanos. Fora chefe dos servios de sade de So Tom entre 1871 e 1877. Conhecia tambm Angola em profundidade, tendo integrado em 1877 a misso de estudos para o caminho-de-ferro em Ambaca; a sua meta - cumprida - tinha sido evitar que qualquer um dos seus colegas sucumbisse s febres palustres (Pina, 1959:13; Cantinho, 2008; Bastos, 2011).

    Tinha, portanto, um saber de experincias africanas feito - e a assen-tava a sua autoridade para formular, criticar e recomendar. A sua atitude, porm, no era muito cordial: ao questionar Serpa Pinto num tempo em que este era aclamado, Ferreira Ribeiro, mesmo apoiado em factos, surge como um contra-heri a quem a histria no vai dar lugar de grande des-taque (Bastos, 2011).

    Olhemos com mais pormenor para o seu pensamento, que tem como nexo central o problema da aclimatao - que prefere designar por acli-mao. Em Junho de 1887 tenta influenciar a Sociedade de Geografia a promover estudos de aclimao. Apresenta-se como "chefe da seco de aclimao, material e estatstica medica" do Ministrio da Marinha e Ultramar; assim diz no frontispcio do seu livro "Regras e Preceitos de Higiene Colonial, ou conselhos prticos aos colonos e emigrantes que se destinam s nossas colnias do ultramar" (Ribeiro 1890b). pela aclima-o que tudo passa: s se pode dominar o continente africano se se con-ceber um modo cientfico de l instalar os colonos europeus; para o fazer h que saber tudo sobre o clima e demais elementos geogrficos, mas h que saber tambm tudo sobre o corpo humano, suas funes e elementos, sua flexibilidade e capacidade de se ajustar a climas diferentes. Mais ainda, h que desenvolver todo um conjunto de recomendaes especficas que incluem os preceitos e normas relativos ao vesturio, alimentao, aos horrios de trabalho, habitao, limpeza e higiene da casa e do corpo.

    Era nessa frente que, para Manuel Ferreira Ribeiro, se jogava a bata-lha de frica, isto , a afirmao de Portugal perante os seus concorren-tes europeus no domnio do continente. Havia que educar e sensibilizar os colonos para que, simplesmente, no sucumbissem s dificuldades de frica. Havia que ensin-los sobre as regras da higiene colonial; e para o fazer, havia que desenvolver esse conhecimento em termos cientficos.

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  • o COLONIALISMO PORTUGUB

    Este ponto merece realce: para Manuel Ferreira Ribeiro, a colonizao no um projecto abstracto de dominao poltica, ou um acto militar de conquista, ou mesmo um acto geogrfico de reconhecimento. um acto amplo de deslocamento de populao, enviar contingentes de migrantes _ colonos - para lugares distantes, ocup-los, cultiv-los, habit-los. Essa a colonizao de Ferreira Ribeiro. No incompatvel com as bravatas dos exploradores, muito pelo contrrio, precisa delas, mas precisa de um tipo de exploraes que tenham como objectivo o levantamento preciso do terreno, a construo de conhecimento instrumental para a formao de colnias, e no as habituais demonstraes de bravura.

    Colnias: para Ferreira Ribeiro, bem como para os seus contempor-neos e discpulos, colnia no equivalia - como mais tarde - a territrios subjugados pelo poder colonial, mas a grupos de migrantes deslocados. Assim se referia a SGL "colnia portuguesa no Hawaii"7, lugar que nunca foi politicamente dominado ou sequer influenciado por Portugal, mas para onde foram, em contratos de trabalho vinculado, vrios milhares de ilhus portugueses na segunda metade do sculo XIX. Do mesmo modo se falava na "colnia portuguesa de Paris".

    Numa obra de 1912 intitulada "Cincia da Colonizao", o professor Loureno Cayolla, da Escola Colonial, define "colnias" como "novas sociedades que caminham para um estado perfeito de civilizao, fundadas por uma nao dominadora e submetidas por ela a um regmen particular, sob a sua administrao" (Cayolla, 1912). Com o sculo XX, a nfase nas sociedades coloniais vai dando lugar ao nfase poltico e territorial. No manual de Higiene Tropical publicado em 1929 por Rita-Martins, tam-bm professor da Escola Colonial e da Faculdade de Medicina, as col-nias so enumeradas uma a uma com referncia geogrfica (Moambique, Angola, etc.), sendo que os visados pelos preceitos do manual continuam a ser os colonos portugueses (Roita-Martins, 1929).

    O cerne desta "cincia colonial" portanto o sucesso da aventura de deslocamento, do replantar de corpos, da sua sobrevivncia e sucesso

    7 Em 1889 os sacias da SGL mostravam-se preocupados com a situao da colnia por-tuguesa nas ilhas hawaiianas, onde havia mais de 13 mil portgueses e apenas um consul de segunda classe; prope-se que o consulado seja elevado a primeira classe (SGL, 7/3/1889); a acta da reunio de 3 de Junho desse mesmo ano trascreve uma carta do scio A. Marques a propsito dessa importante colnia (SGL 3/6/1889).

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    DAS VIAGENS CIENTFICAS AOS MANUAI8 DE COLONOS: A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA E O CONHECIMENTO DE FRICA

    enquanto europeus em frica - como os enclaves brancos anglfonos no Qunia e Rodsia (Kennedy, 1987), como os espaos de aclimatao cria-dos pelos colonos franceses a que no faltava a reinveno do termalismo (Jennings, 2006), como as mais limitadas experincias portuguesas no planalto sul angolano da Hula/Momedes (Bastos, 2008, 2009). A acli-matao tinha antecedentes no estudo da adaptao de espcies vegetais e animais transplantados entre lugares diferentes; assim o mostravam os jardins botnicos e zoolgicos das cidades europeias, com espcies aclima-tadas vindas de lugares e climas exticos (Osborne, 1994).

    No faltaram, nos sculos XIX e XX, os "zoos humanos", feiras de variedades de tipos fsicos e costumes, trazendo Europa as variedades humanas que lhe eram exticas (Bancel, 2004). Nem sempre a aclimatao destes resultava: mesmo no sculo XX, a exibio de aldeias africanas em Portugal no mbito das exposies coloniais teve resultados desastrosos para a sade desses africanos, muitos deles sucumbindo.

    No outro lado da equao estava a adaptao dos europeus a outros climas e lugares. Como no sucumbir, degenerar, corromper-se? Mark Harrison analisa os contornos da questo nos termos do imprio britnico na sia (Harrison, 1999). Manuel Ferreira Ribeiro quem se lhe dedica em Portugal (Ribeiro, 1877, 1889, 1890b, 1890c, 1892, 1905), vendo-a como equivalente assimilao cultural e explorando, como consequncia para si lgica dos estudos de acUma o tambm O campo da antropometria e da antropologia fsica (Ribeiro, 1890a). Teria alguns sucessores, entre os quais Germano Co.rreia (Bastos 2003) mas no fez e cola terica propria-mente dita em torno das qu tes de aclimao. Promoveu um aber pr-tico, fez manuai e guias para colono, futuros colonos e administradores coloniais (Pina 1959). Tentou influenciar a poltica, mas teve resultados limitados no curto alcance - embora no longo prazo tenha sido o percur-sor do ensino colonial (Rita Martins, 1954; Pina, 1959; Cantinho, 2008; Abrantes, 2012). Os seus manuais fizeram divulgar o seu saber e tero sido usados nas frentes de administrao - mas como manifestos de intenes a realizar em condies ideais que raramente ocorriam num dia a dia de improvisos e dificuldades. Em 1892 faz publicar uma compilao das suas obras: Diferentes publicaes sobre aclimao, higiene colonial, medicina preventiva e outros trabalhos medico-coloniais (Ribeiro, 1892), um autn-

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  • o COLONIALISMO PORTUGuJ!iS

    tico guia bibliogrfico sobre si mesmo e o seu impacto, permitindo saber quais das suas publicaes eram distribudas aos mdicos dos servios de sade coloniais, quais se destinavam a pblicos internacionais.

    4. Em concluso: do conhecimento espectculo literatura cinzenta

    Nem s de viagens espectaculares se fazia o conhecimento geogrfico, e mesmo as viagens espectaculares estavam sujeitas a presses e estilos pro-gramticos distintos, entre fazer levantamentos exaustivos, como Capelo e Ivens, ou mostrar presena, como Serpa Pinto e tambm, mais tarde, os prprios Capelo e Ivens. Num outro plano, sem espectculo, com perseve-rana, infinito detalhe, obsessiva sistematizao, temos as recomendaes de Manuel Ferreira Ribeiro, para quem o que mais interessava era promo-ver colnias vivas, aldeias, cidades, fazendas de europeus que habitassem os lugares de frica. Sem espectculo para ningum, sem charme e sem seduo, Ferreira Ribeiro foi promovendo a difuso desse conhecimento - ou da pauta necessria para o atingir - fazendo recurso de todos os meios que podia, incluindo mandando imprimir os folhetos, manuais e guias a que alongadamente se dedicava, enquanto membro da Sociedade de Geografia, mdico, militar e funcionrio do governo. Teorizou a acli-mao, mas poucos, ou nenhuns, o seguiram no acto de teorizar; mui-tos, porm, tero lido, ou ouvido, e certamente incorporado, as inmeras rubricas dos seus manuais de bons preceitos para a sade dos colonos - manuais difundidos nos cursos de administrao e distribuidos pelos postos em cujas prateleiras se amontoava a literatura cinzenta de uma colonizao idealizada.

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