i seneab - desenvolvimento e empreendedorismo afro-brasileiro

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Os rumos do empreendedorismo afro-brasileiro. Empreendedorismo como estratégia de inclusão social. O I SENEAB concentrou os debates em torno dos desafios e das políticas para o desenvolvimento do empreendedorismo afro-brasileiro, das potencialidades da economia criativa e do cooperativismo, das emergências das inovações tecnológicas para a sustentabilidade, das políticas de crédito e assistência técnica e das novas oportunidades de negócios.

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O I Seminário Desenvolvimento e Empreende-dorismo Afro-Brasileiro (I SENEAB), realiza-do em Brasília, no dia 20 de dezembro, de

certa forma representou o encerramento de um ci-clo e o começo de outro. O seminário foi promovido pelo Coletivo de Empresários e Empreendedores Afro-brasileiros de São Paulo (CEABRA/SP), com patrocínio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). O ciclo que se en-cerrou foi o de mobilização inicial de empreendedo-res e empreendedoras afro-brasileiros para debater alternativas de construção de políticas públicas para a estruturação e multiplicação desses empre-endimentos. A série de encontros preparatórios realizados ao longo de 2012 culminou com o I SE-NEAB e a consolidação das diversas contribuições levantadas durante as reuniões locais e debatidas pelo público presente. Estiveram presentes lideran-ças empresariais afro-brasileiras, representantes do Governo Federal, entre os quais Fundação Cultural Palmares, ministérios da Cultura, da Ciência e Tec-nologia, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, parlamentares, entre outros participantes.

O ciclo que se abre é o da construção efetivas das políticas públicas para os afroempreendedores, a partir das conclusões debatidas no I SENEAB. Instru-mento fundamental para tanto será a implementação do Projeto Brasil Afroempreendedor, iniciativa nacio-nal do CEABRA/SP e do IAB com patrocínio do SE-

Os rumos do empreendedorismo afro-brasileiro

BRAE. O Projeto Brasil Afroempreendedor terá dura-ção de 24 meses, e será desenvolvido em 12 estados da Federação. O objetivo do projeto é impulsionar a construção de políticas públicas para o desenvolvi-mento dos micro, pequenos e microempreendedores individuais afro-brasileiros. Para isso, pretende atingir mais de 1200 afroempreendedores, buscando con-solidar no mínimo 500 micro e pequenas empresas e empreendedores individuais, a serem acompanha-das e monitoradas, visando à formulação de uma po-lítica pública de fortalecimento do afroempreendedo-rismo. O projeto soma-se aos Objetivos do Milênio da ONU, às políticas do Governo Federal de combate à fome e à miséria, às políticas de promoção da igual-dade racial e à missão e aos objetivos estratégicos do SEBRAE Nacional, que tem papel decisivo pela via da ampliação do número de empreendedores e das micro e das pequenas empresas do País.

O Brasil vive um tempo em que as políticas de inclusão fornecem um contraponto decisivo à desigualdade, que ainda persiste. O campo do empreendedorismo, neste aspecto, tem uma con-tribuição fundamental a dar. As principais conclu-sões do I SENEAB, entrevistas com participantes e uma pequena mostra do que é o Projeto Brasil Afroempreendedor são apresentados ao longo desta publicação.

Boa leitura

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ExpedienteA revista Desenvolvimento e Empreendedorismo Afro-Brasileiro é resultado da cobertura do I SENEAB, realizado em Brasília, em 20 de dezembro de 2012 pelo CEABRA/SP, com patrocínio do SEBRAE Nacional e do IAB/PR.

João Carlos MartinsPresidente CEABRA/SP (Coletivo de Empresários e Empreendedores Afro-Brasileiros de São Paulo)

João Bosco BorbaPresidente Anceabra (Associação Nacional dos Coletivos de Empresários e Empreendedores Afro-Brasileiros)

João Carlos NogueiraCoordenador Geral do I SENEAB

Amilcar OliveiraConsultor e Jornalista Responsável (SC-00462/JP)

Laércio CastroArte e Diagramação (GO-0014/IL)

Tiragem: 5.000 exemplares

Gráfica: Gráfica Alternativa (Rua Nossa Senhora do Rosário, 402 - CEP: 88.110-642 - São José - SC)

Realização

Patrocínio

SENEAB

SÃO PAULO

desenvolvimentoeempreendedorismoafro-brasileiro

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Nominata dos participantes do I SENEABParticipante Empresa LocalJoão Carlos Martins CEABRA/SP São Paulo – SPMaria Angela Machado SEBRAE Nacional Brasília – DFAlzinete Silva Câmara dos Deputados Brasília – DFEdison Luiz CEABRA/SP São Paulo – SPEliane Maria Pereira Unegro Brasília – DFTelci Silva Afro N´Zinga Brasília – DFMaria das Graças Santos Afro N´zinga Brasília – DFWeber Rocha MINC Brasília – DFJairo Oliveira Laranjeira Profissional de Dança Brasília – DFMaria Lúcia Ribeiro - Brasília – DFRaimunda Montelo Gomes SUPIR/SEMIRA/GO Goiânia – GODomingos Olímpio da Silva Adm. Regional Paranoá RA VII Brasília – DFDouglas dos Santos Rodrigues - -Vera Lúcia Gomes Fundação Palmares Brasília – DFMarcos Antônio Cardoso CONEN Belo Horizonte – MGRodrigo Nascimento FCP/RJ Rio de Janeiro – RJJosé Antonio Ventura - Brasília – DFMaria Odília R. Silva Casa do Biscoito Dindinho Goiânia – GOJosé Neto Estrella Neto MCTI-SECIS Brasília – DFRaquel Moraes dos Santos - -Fernanda de Jesus Vieira CEABRA-GO Goiânia – GODeo Costa Ramos Ministério da Saúde Brasília – DFMaria Helena Azumezohero Conami - Brasil Cuiabá – MTLuana Rafael Ferreira - Brasília – DFPriscila Matheus - Brasília – DFGlaucia Zoldan SEBRAE Brasília – DFJeferson Barreto SIBRACON Brasília – DFReinaldo Ferraz MCTI Brasília – DFGenisete de Lucena Sarmento FCP RR-AL Maceió – ALAna Amélia Campos Mafra FCP Regional MA São Luís – MAMaria do Carmo Valério Muene Cosméticos São Paulo – SPMarcelo Malê IP Investimentos São Paulo – SPConceição Selvino Faria Adm. Regional Paranoá RA VII Brasília – DFMaria das Graças Sardinha Moda Afro Brasília – DFAna Lúcia de Lima Akini Salão Afro Brasília – DFMargareth Rose S. Alves Afro-Nizga Brasília – DFPedro Rogério Filho Câmara dos Deputados Brasília – DFRodrigo Mendez de Lima Câmara dos Deputados Brasília – DFJuarez da Silva Guimarães Federação Desportiva Capoeira Goiás Goiânia – GOLuiz Carlos Ribeiro da Costa Prefeitura de Goiânia Goiânia – GOAnita Ferreira Federação Desportiva Capoeira Goiás Goiânia – GOAurélia Camargo Federação Desportiva Capoeira Goiás Goiânia – GOJosé Eduardo Silva CEABRA - GO Goiânia – GOIaracéia Leal de Souza Empório das Artes Goiânia – GOBruno Quick SEBRAE Nacional Brasília – DFMonique Gomes MCTI Brasília – DFRose Sugiyama MRE Brasília – DFSuelen Sabóia Cardoso Instituto Mãe África Brasília – DFRenata Parreira Agadá Preta Bonita Brasília – DFAna Carolina Castro FCP Brasília – DFIvo Fonseca CCM -Juliana de M. Gomes MRE Brasília – DFRaimundo Gonçalves dos Santos Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI) Salvador – BAAlacília Gomes Prime School Goiânia – GOPaulo Victor F. de Assis Asppir/UBC Goiânia – GOJorge Mario Campagnolo SETEC/MCTI Brasília – DFCarlos Trindade Ipogetec Brasília – DFAdelina B. Alves Santiago Artesã Brasília – DFRosângela de Almeida Morais Amway Brasília – DFAna Maria Carvalho Santos DG Eventos Brasília – DF

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I SENEAB

Empreendedorismo como estratégia de inclusão social

Na última década, entre os anos de 2003 e 2013, houve uma mudança visível no tratamento das relações raciais por parte da sociedade e do Estado brasileiros

João Carlos NogueiraCoordenador do I SENEAB

A partir do reconhecimento da importância do tema, buscou-se construir uma agenda positiva para promover políticas públicas de

igualdade racial. Esta é sem dúvida uma importan-te conquista do movimento negro contemporâneo que, no século XX, pautou a sociedade e o Estado sobre as desigualdades sociais e econômicas que atingiam majoritariamente a população negra bra-

sileira.Ao longo da década, iniciativas importantes fo-

ram anunciadas, como a criação da Secretaria de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (SE-PPIR/PR), em 2003; a Lei 10.639/03, que instituiu na educação as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Afri-cana; a Política Nacional Quilombola, para atender às milhares de Comunidades Remanescentes de Quilombos; as Políticas de Ações Afirmativas, com

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destaque para as políticas de cotas nas universida-des públicas e privadas, via Prouni, e a aprovação definitiva do Estatuto da Igualdade Racial, que con-solidou como matéria jurídica vários direitos cons-titucionais nas áreas do trabalho, saúde, educação, cultura e inovou em temas cruciais para debelar o racismo institucional enraizado nas estruturas de Estado, nas empresas públicas e privadas e, eviden-temente, nas mentalidades de parte da sociedade.

Ao instituir o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR), em seu Título III, o Estatuto buscou, como objetivo principal, promo-ver a igualdade racial e combater as desigualdades sociais resultantes do racismo. No Capítulo V, a lei orienta o financiamento das políticas de promoção da igualdade racial, destacando, no inciso IV, uma questão econômica fundamental, o “incentivo à criação e à manutenção de microempresas admi-nistradas por pessoas autodeclaradas negras”. Na prática, isso significa desenvolver estratégias que ampliem a existência das microempresas e micro-empreendimentos individuais afro-brasileiros, a partir de novos conhecimentos e ferramentas dis-ponibilizadas pelos órgãos de governos, SEBRAE, universidades e entidades da sociedade civil.

Essas foram questões centrais discutidas no I Seminário Nacional Desenvolvimento e Empreen-dedorismo Afro-brasileiro (I SENEAB), realizado no dia 20 de dezembro de 2012, em Brasília/DF. O I SENEAB faz parte da estratégia em curso que será materializado no Projeto Brasil Afroempreendedor.

“O I SENEAB concentrou os debates em torno dos desafios e das políticas para o desenvolvimento do

empreendedorismo afro-brasileiro, das potencialidades da economia criativa e do cooperativismo, das emergências das inovações tecnológicas para a sustentabilidade, das

políticas de crédito e assistência técnica e das novas oportunidades de negócios.”

Esta é uma proposta que combina várias iniciativas da sociedade civil com o SEBRAE, que se desenvolve desde 2005, com a realização de uma grande feira de negócios em Goiânia. Neste mesmo ano, foi realizado no auditório da Presidência da República, por inter-médio da SEPPIR/PR, o Seminário Desenvolvimento com Inclusão Social e Econômica da População Ne-gra. Vários ministérios participaram do evento, que contou com a parceria da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Todas essas iniciativas fortaleceram a retomada da agenda com o SEBRAE Nacional, em 2011, em uma conjuntura ainda mais favorável, considerando a emergência de uma maior participação dos traba-

João Carlos Nogueira: “incentivo à criação e à manutenção de microempresas administradas por pessoas autodeclaradas negras”

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lhadores e microempreendedores no desenvolvi-mento nacional. Outro fator relevante é o referente ao perfil das classes sociais que resultam dos no-vos investimentos nas políticas de transferência de renda e de acesso aos bens de consumo, onde a população negra, a mais pobre historicamente, pas-sa a ser beneficiada.

A construção da agenda do SEBRAE Nacional junto aos empreendedores afro-brasileiros foi ini-ciada com a realização da Oficina Técnica Nacional, em Brasília (DF), cujo objetivo principal foi construir as grandes metas nacionais para a elaboração do Projeto Brasil Afroempreendedor. Posteriormente, foram realizadas 12 Oficinas Técnicas Estaduais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Bahia, Pernambuco, Maranhão, Paraíba, Goiás e Amapá. Participaram em torno de 400 empreendedores (microempresários e microempreendedores indivi-duais) e convidados, representando os mais diver-sos setores das atividades produtivas, formando assim os núcleos de redes que, articulados, susten-tam inicialmente o projeto.

A partir de março de 2013, o projeto coloca em prática suas metas e ações junto aos empreende-dores afro-brasileiros (vide projeto, na página 31). O objetivo é mobilizar 1.200 empreendedores naque-

les 12 estados da Federação para fortalecer suas iniciativas empreendedoras a partir das suas de-mandas práticas, como a necessidade de inovação tecnológica, política de crédito, assistência técnica, etc. Por essas razões, o I Seminário Nacional con-centrou os debates em torno dos desafios e das políticas para o desenvolvimento do empreendedo-rismo afro-brasileiro, das potencialidades da econo-mia criativa e do cooperativismo, das emergências das inovações tecnológicas para a sustentabilida-de, das políticas de crédito e assistência técnica e das novas oportunidades de negócios.

Como indicou a mesa de abertura, o projeto Brasil Afroempreendedor pode ser o impulso indis-pensável para milhares de empreendedores e em-preendedoras afro-brasileiros(as) assegurarem sua autonomia e emancipação econômica e social.

“Como consequência do I SENEAB, o projeto

Brasil Afroempreendedor pode ser o impulso

indispensável para milhares de empreendedores e empreendedoras afro-

brasileiros(as) assegurarem sua autonomia e

emancipação econômica e social. ”

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O presidente da Associação Nacional dos Coletivos de Empresários e Empreendedores Afro-Brasileiros (AN-CEABRA), João Bosco de Borba, acredita que os em-

preendedores afro-brasileiros precisam desenvolver a cultura empreendedora. Para Bosco, este quadro tende a mudar com o avanço da classe média, com inclusão de negros e negras intensificada a partir das políticas sociais dos governos Lula e Dilma. O avanço econômico da classe média, associado às políticas de exportação do Brasil, são os pilares de susten-tação da economia brasileira, afirma. Em suas viagens pelo exterior, principalmente aos Estados Unidos e aos países da África, Bosco tem visto várias iniciativas que serviram ou que poderão servir como referência para as ações empreende-doras no Brasil. Ele cita como uma das mais importantes o Programa para o Desenvolvimento das Infraestruturas em África, criado pela União Africana. “É o PAC da África”, compa-ra. Nesta entrevista, Bosco rechaça os preconceitos com relação à formação de um empre-sariado afro-brasileiro forte no Brasil – nos Estados Unidos, com pouco mais de 13% da população, negros e negras respondem por mais de 800 bilhões de dólares do PIB, hoje, o equivalente 5%. Para o empresário, é pre-ciso apostar na formação de redes e parcerias para o desenvolvimento das iniciativas empreende-doras no País.

ENTREVISTA / JOÃO BOSCO DE BORBA, PRESIDENTE DA ANCEABRA

Liderança do movimento vê momento favorável para o crescimento do empresariado negro brasileiro

A caminhada começou

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A caminhada começouO senhor percorre o mundo em busca de infor-

mações sobre o empreendedorismo para a inclusão de populações afrodescendentes. Que experiências externas podem ser relatadas como exemplo de me-didas que possam vir a ser adotadas no Brasil?

Saliento duas experiências que tiveram a participa-ção do Estado como elemento principal. Uma, nos Es-tados Unidos, onde os afro-americanos, que são 13,1% da população, atingiram um Produto Interno Bruto (PIB) de 845 bilhões de dólares, e a outra, na África do Sul, nos programas de empoderamento dos negros, após o regime do apartheid. A ascensão dos afro-americanos começou com a Guerra da Secessão, em que o Norte livre lutou contra o Sul escravocrata (capi-talistas contra escravocratas). Após, veio o movimento dos direitos civis dos negros americanos nos Estados Unidos, com a campanha de igualdade e a luta por direito civis para os afro-americanos. No decorrer de suas conquistas, eles atribuíram ao fator econômi-co a mesma importância do fator político e criaram uma rede de benefícios para as populações negras, como participação de empresários e empreendedo-res afro-americanos em licitações públicas, linhas de crédito específicas, criação de mercados específicos e a formação cultural empreendedora. Como exemplo de projeto, posso salientar a formação empresarial

conjuntamente com a universitária, quando o aluno já sai direcionado para o campo empresarial, com plano de negócio e financiamento. O estilo de projeto que mencionei se encaixa nos programas do PROUNI e das universidades federais e estaduais que têm po-líticas de cotas e estão formando 40 mil alunos por ano. Na África do Sul, foi criado um programa chama-do Black Economic Empowerment, que consiste na estratégia de emancipação econômica da população negra, onde o governo sul-africano monta ou financia os possíveis negócios, de pequenos empreendimen-tos a grandes negócios (portos, aeroportos, negócios na área energética, ferrovias e outros).

Qual é a principal agenda do Brasil, na relação

com outros países, principalmente os africanos, quando o assunto é o empreendedorismo? Ou seja, o que podemos aprender e o que podemos ensinar nas trocas de ideias com essas nações so-bre iniciativas empreendedoras?

A União Africana criou o Programa para o De-senvolvimento das Infraestruturas em África. É um projeto estratégico que teve início em 2009 e irá até 2040. A partir desse programa, o continente africano desenvolverá as seguintes áreas: setor energético, transporte, águas transfronteiriças e tec-

“A nossa maior limitação é a pouca educação

empreendedora. Temos uma história de não

ser dono de negócios. Temos, sim, a cultura

empreendedora, mas falta o conhecimento de como administrar um negócio.”

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nologia da informação. É sem dúvida o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) africano. A África será pela primeira vez construída de fato e aí surge a oportunidade para os empreendedores, principal-mente na área de prestação de serviços nos países africanos de língua portuguesa.

Quais são as principais limitações dos empreen-dedores afro-brasileiros no tocante à manutenção ou implementação de iniciativas empreendedoras?

A nossa maior limitação é a pouca educação

empreendedora. Temos uma história de não ser dono de negócios. Temos, sim, a cultura empreen-dedora, mas falta o conhecimento de como admi-nistrar um negócio.

Formula-se políticas de inclusão na área social, mas ainda são poucas as iniciativas na área dos empreendimentos, dos negócios. É possível adotar

para os empreendedores afrodescendentes brasi-leiros políticas de inclusão com perfil semelhante ao das políticas formuladas para a educação, tra-balho ou saúde?

Sim, é possível darmos um salto de qualidade na área empreendedora, com o apoio do poder público, criando incentivos específicos e áreas estratégicas como construção civil, serviços, tecnologia da informa-ção, inovação tecnológica, turismo, cultura e outras.

As distinções entre as várias regiões do Brasil, no tocante à infraestrutura, carga de impostos, etc., são um entrave a mais a ser superado para a adoção de políticas afirmativas no campo do em-preendedorismo. Como superá-las?

Esse é um problema do Brasil, onde os estados ricos não abrem mão de seus benefícios, em de-trimento dos outros estados. Precisamos criar um

“Acredito que o avanço econômico das famílias afro-brasileiras hoje é fundamental para a estabilidade

econômica brasileira. O problema do Brasil não é herança escrava e sim uma elite histórica que sempre pensou o

Brasil para eles e não para os brasileiros.”

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“Somos a nova classe média. Mais de três

milhões de universitários e um crescente na área empresarial e

empreendedora. Temos que intensificar nosso acesso à educação e

aumentar a nossa renda.”

pacto federativo onde o interesse maior deve ser o Brasil. A ANCEABRA deve se unir a outras associa-ções de classe na campanha pelo imposto único.

Como avançar com relação aos preconceitos históricos segundo os quais uma nação com pre-dominância de negros como o Brasil teria enormes dificuldades para se desenvolver?

Acredito que temos muito a caminhar, mas a cami-nhada já começou. Hoje, segundo a Fundação Getúlio Vargas, a quantidade de afrodescendentes na classe média aumentou de 39,24%, em 2002, para os atuais 50,87%, um avanço de 11 pontos percentuais. No mes-mo período, a quantidade de brasileiros na classe mé-dia saltou de 43,64% para 51,57%, ou seja, um avanço mais tímido, de aproximadamente oito pontos percen-tuais. Sendo hoje o mercado interno, juntamente com a exportação, os pilares para a nossa estabilidade eco-nômica. Acredito que o avanço econômico das famí-lias afro-brasileiras hoje é fundamental para a estabili-dade econômica brasileira. O problema do Brasil não é herança escrava e sim uma elite histórica que sempre pensou o Brasil para eles e não para os brasileiros.

Há outro preconceito, mas este com relação à in-clusão através da construção de um empresariado negro representativo na economia brasileira, outra barreira importante a ser superada. Como fazê-lo?

Em todos os setores da sociedade os negros têm barreiras e não seria diferente na economia, principalmente na economia. Hoje temos uma mas-sa crítica em desenvolvimento. Somos a nova clas-se média. Mais de três milhões de universitários e um crescente na área empresarial e empreendedo-ra. Temos que intensificar nosso acesso à educação e aumentar a nossa renda.

Como fazer de entidades empresariais como o SEBRAE parceiros importantes para a inclusão de afroempreendedores?

O SEBRAE tem uma história de sucesso na área

empreendedora. Uma parceria com os empreende-dores afro-brasileiros dará um avanço na qualidade e na quantidade desses novos empreendedores.

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O Brasil tem conseguido fazer frente às dificulda-des econômicas que imobilizam algumas das principais nações do planeta. Grande parte dos

méritos do País pode ser creditado sem pestanejar à atuação das micro e pequenas empresas conjugada com as políticas de distribuição de renda e as políti-cas compensatórias de inclusão. O aumento da renda e a entrada de milhões de pessoas no mercado de trabalho garantiu à economia nacional o dinamismo necessário para enfrentar a crise mundial. “De janeiro a novembro de 2012, as empresas com até 99 fun-cionários criaram mais de 1,13 milhão de empregos”, atesta Bruno Quick, gerente da Unidade de Políticas

Públicas do SEBRAE Nacional. Durante a palestra fei-ta na abertura do I SENEAB, Bruno Quick enfatizou também a necessidade de preparar a população ne-gra para o empreendedorismo, “dando igualdade de acesso às capacitações”. “O conhecimento é essencial para que as micro e pequenas empresas se desenvol-vam e continuem no mercado”, defende. Além disso, a ampla diversidade cultural e étnica do Brasil é uma vantagem a ser explorada. “Com a melhoria da eco-nomia e com as políticas de acesso, a renda e o poder de compra entre negros e pardos cresceu. Isso amplia o mercado afrodescendente e gera novos negócios voltados para essa parcela da população”, analisa.

ENTREVISTA / BRUNO QUICK, GERENTE DE POLÍTICAS PÚBLICAS DO SEBRAE

Investimento no setor é trunfo para Brasil enfrentar dificuldades que travam algumas das principais economias do planeta

Público afro-brasileiro é grande nicho para pequenos negócios

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Em um momento em que a economia do País consegue índices considerados satisfatórios, mes-mo com uma crise assolando boa parte das eco-nomias desenvolvidas no mundo, qual deve ser o papel de pequenos e micro empreendimentos?

Esse setor tem sido determinante para o cresci-mento da economia no país. Nenhum setor da econo-mia cria tantos empregos e oportunidades quanto as micro e pequenas empresas. De janeiro a novembro de 2012, as empresas com até 99 funcionários cria-ram mais de 1,13 milhão de empregos, enquanto que as médias e grandes empresas foram responsáveis pela geração de pouco mais de 286 mil postos de trabalho. Outro ponto importante é o crescimento da classe média brasileira. Quase 40 milhões de pesso-as saíram das classes E e D nos últimos anos. Isso aumentou o poder de consumo da população e os pequenos negócios são alguns dos responsáveis por atender boa parte dessa demanda.

Pela primeira vez na história do País, negros e pardos são maioria na população brasileira. Mas essas populações ainda são as detentoras dos pio-res índices de acesso à educação, trabalho e saúde no Brasil. De que maneira essa realidade impacta o empreendedorismo e as possibilidades que se abrem para vastas camadas da população brasileira?

As micro e pequenas empresas são janelas de oportunidades para o mercado de trabalho. A maio-ria das médias e grandes empresas exige experiência prévia dos funcionários que irão contratar, já os pro-prietários dos pequenos negócios não. Essa é uma ótima porta de entrada para os jovens que estão co-meçando a construir uma carreira. Eles conseguem entrar no mercado de trabalho e se capacitar. Outro ponto interessante foi a criação da figura jurídica do Microempreendedor Individual (MEI), em 2009. Até o final do ano passado, mais de 2,6 milhões de bra-sileiros já tinham se formalizado. O MEI tem direito a CNPJ. Isso permite que ele emita nota fiscal. Ele deixa a informalidade e se torna empresário. Com um CNPJ, ele pode participar de licitações públicas, tem acesso mais fácil a empréstimos, pode fazer vendas por meio de máquinas de cartão de crédito, entre outros benefí-cios. Ele também se torna um segurado da Previdência

Social e tem direito a aposentadoria, auxílio-doença e salário-maternidade. Tudo isso com uma contribuição que equivale a 5% do salário mínimo e mais R$ 5 de ISS e R$ 1 de ICMS, dependendo da atividade desen-

“As políticas públicas compensatórias, que vêm sendo adotadas,

estão provando que isso (a desigualdade) pode mudar. Os filhos estão

tendo mais oportunidades e mais chances que

os pais. Isso amplia o leque de oportunidades e as possibilidades de

ascensão social.”

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“Com a melhoria da economia e com as políticas de acesso, a renda e o poder de compra entre negros e pardos

cresceu. Isso amplia o mercado afrodescendente e gera novos negócios voltados para essa parcela da população.”

volvida, num único boleto.Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE

de 2010, na categoria dos empregadores, 6,1% são brancos, enquanto os pretos somam 1,7% e os par-dos, 2,8%. Como superar essa assimetria, de forma a garantir maior inclusão e distribuição de renda?

A educação é o melhor caminho para superar as diferenças. As políticas públicas compensatórias, que vêm sendo adotadas, estão provando que isso pode mudar. Os filhos estão tendo mais oportunidades e mais chances que os pais. Isso amplia o leque de opor-tunidades e as possibilidades de ascensão social.

Em que medida o SEBRAE pode contribuir para a elaboração de políticas de inclusão da população negra brasileira de forma a superar os índices ne-gativos que afetam esse setor?

Preparando os empreendedores, dando igual-dade de acesso às capacitações. O conhecimento é essencial para que as micro e pequenas empresas se desenvolvam e continuem no mercado. Muitos desses conhecimentos são oferecidos pelo SE-BRAE sem custo nenhum. Temos um número enor-me de cursos, sejam eles presenciais ou não.

Quais os principais desafios para a alavanca-gem ou o fortalecimento de micro e pequenos em-preendimentos, levando em conta especificidades étnico-culturais nos processos produtivos?

Somos um país com ampla diversidade étnica e cultural. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD), quase metade da população brasileira é parda ou negra. Com a melhoria da economia e com as políticas de acesso,

a renda e o poder de compra entre negros e pardos cresceu. Isso amplia o mercado afrodescendente e gera novos negócios voltados para essa parcela da população. Há uma segmentação maior do mer-cado e os pequenos negócios têm nesse público um grande nicho para atuar. Quando um determi-nado estrato da população tem seu patamar de renda aumentado, isso automaticamente gera uma maior capacidade de consumo e um novo mercado potencial a ser explorado. Por aspectos culturais e étnicos, os afrodescendentes possuem algumas peculiaridades e demandas próprias de consumo. Se eles passam a ter mais acesso ao consumo, isso implica em novas oportunidades de negócios.

No Brasil, ainda é muito forte a existência do empreendedorismo por necessidade, em contra-posição ao empreendedorismo por oportunidade. Isso porque o empreendedorismo é muitas vezes associado à necessidade de sobrevivência, não ao aproveitamento de oportunidades. Por outro lado, a população negra é a mais atingida pelo desem-prego no País, e muitas vezes seus integrantes se dedicam a pequenos empreendimentos, aumen-tando aquele índice de empreendedorismo por ne-cessidade. Como transformar essa realidade?

Essa realidade já está mudando. De acordo com dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que mede o nível de empreendedorismo em 54 países há mais de uma década, desde 2003 a maioria das pessoas que empreendem no Brasil é por oportu-nidade. A cada pessoa que empreende, 1,24 faz isso por acreditar no negócio. Hoje, de cada três negócios abertos, dois são por oportunidade. Isso se deu basica-mente pela melhora da conjuntura econômica brasilei-ra e do ambiente legal para os pequenos negócios.

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O seminário foi realizado no dia 20 de dezembro de 2012, no auditório da Fundação Cultural Palmares, em Brasília (DF), com a participação de mais de 100 pessoas provenientes de Mato Grosso, Distrito Fede-ral, Pernambuco, Paraíba, Goiás, São Paulo, Minas Ge-

O I Seminário Desenvolvimento e Empreendedo-rismo Afro-brasileiro (I SENEAB) foi uma gran-de oportunidade de encontro de interesses

complementares: pequenos e microempresários, enti-dades empresariais, representadas pelo Sistema Bra-sileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SE-BRAE), especialistas em inovação e desenvolvimento tecnológico e sustentável do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), especialistas do Minis-tério da Cultura (MINC) de um segmento da economia que ganha cada vez mais importância, a chamada eco-nomia criativa. Representantes técnicos da Casa Civil e do Ministério das Relações Exteriores (MRE) também acompanharam o evento – a Secretaria de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR/PR) jus-tificou sua ausência - além do presidente da Funda-ção Cultural Palmares (FCP), Eloi Ferreira de Araújo, e o deputado federal Vicente Cândido (PT/SP). A iniciativa do I SENEAB foi do Coletivo de Empresários e Empre-endedores Negros de São Paulo (CEABRA/SP), com patrocínio do SEBRAE Nacional.

A grande hora do empreendedorismo afro-brasileiroAcesso a inovação e conhecimento tecnológico, linhas de crédito e desenvolvimento de processos produtivos na linha da economia criativa são algumas das principais resoluções do I SENEAB, realizado no dia 20 de dezembro, em Brasília (DF)

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rais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Maranhão, Santa Catarina, Bahia e Paraná. A unir todos esses interesses, a necessidade de implementação de políticas públicas para fortalecer o desenvolvimento de empreendimen-tos afro-brasileiros.

O I SENEAB foi principalmente um primeiro mo-mento de aproximação dos vários interesses ligados ao empreendedorismo afro-brasileiro, neste momento em que se multiplicam as iniciativas de inclusão com recorte racial em vários setores da vida nacional: edu-cação, saúde, mundo do trabalho, relações internacio-nais e cultura. O objetivo do seminário foi incluir nessas discussões este elemento com enorme potencial de participação efetiva no desenvolvimento da economia

brasileira. Para isso, era necessário reunir os empresá-rios e suas entidades associativas, os órgãos públicos que estabelecem as políticas de pesquisa, inovação tecnológica e desenvolvimento com perfil de inclusão em seus vários aspectos (em particular, o aspecto da economia criativa, uma marca dos empreendimentos afro-brasileiros), e os representantes do poder público que submeterão as medidas discutidas nesse tipo de fórum à apreciação legislativa para transformá-las em instrumentos legais, ou políticas públicas.

O segundo momento será a assinatura do convê-nio que dará a largada para um dos mais ambiciosos programas de inclusão a partir do afroempreendedo-rismo já lançados no Brasil, o projeto Brasil Afroem-

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preendedor, iniciativa de abrangência nacional que pretende levar aos vários segmentos do empreen-dedorismo afro-brasileiro as principais inovações nas áreas de gestão, política de crédito, inovação tecno-lógica e sustentabilidade. A apresentação do projeto ocorreu na mesa-síntese do encontro. O lançamento do projeto Brasil Afroempreendedor está previsto para o primeiro semestre de 2013.

Na mesa de abertura do encontro, várias inter-venções referiram a necessidade de combater o ra-cismo através do aprofundamento das medidas de inclusão no Brasil, país com mais de 50% de popu-lação negra e com altos índices de exclusão nesse segmento. Na primeira intervenção, o presidente do Coletivo de Empresários e Empreendedores Afro-brasileiros de São Paulo (CEABRA/SP), João Carlos Martins, foi enfático: “Não queremos apenas cesta básica, queremos ser protagonistas do crescimento brasileiro. Para isso, precisamos nos unir para dispu-tar o poder. São 268 deputados empresários e ne-nhum negro. Precisamos mudar isso para mudar a cara do Brasil”. Já o gerente da Unidade de Políticas

Públicas do SEBRAE Nacional, Bruno Quick, desta-cou a importância do momento: “Hoje é a primeira ação de um programa arrojado que alia o empreen-dedorismo ao combate ao racismo”. Segundo ele, mais de 80% do público do SEBRAE é constituído por afrodescendentes. “Esse é um traço forte do pequeno negócio, uma cultura da oportunidade”. É justamente este caráter da oportunidade, ligado ao desenvolvimento dos negócios com informação e conhecimento, que fazem com que o gerente do SE-BRAE aposte no desenvolvimento de iniciativas cada vez mais disseminadas de inclusão da população negra a partir do empreendedorismo. Ao final, Quick defendeu a importância da assinatura do convênio do projeto Brasil Afroempreendedor como forma de política pública importante para o Brasil.

“Não queremos apenas cesta básica, queremos ser protagonistas do crescimento brasileiro. Para isso precisamos nos unir para disputar o poder. São 268 deputados empresários e nenhum negro. Precisamos mudar isso para mudar a cara do Brasil.”João Carlos Martins, presidente do CEABRA/SP

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I SENEAB

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Alguns dos principais debates do I SENEAB gira-ram em torno da necessidade de capacitação e aces-so à inovação tecnológica, aos processos de produção e às várias possibilidades que se abrem aos empreen-dedores negros a partir da vertente da economia cria-tiva. É sabido que as micro e pequenas empresas têm elevada taxa de mortalidade – 56% fecham as portas até o terceiro ano de vida. O fato foi destacado pelo Coordenador Geral de Serviços Tecnológicos do MCTI, Jorge Mario Campagnolo. Ele citou o estudo Global Entrepreneurship Monitor, publicado pelo jornal US To-day, segundo o qual Brasil é um dos países mais em-preendedores do mundo, sendo o brasileiro um em-preendedor nato. E defendeu o investimento maciço em inovação pelas micro e pequenas empresas como catalisador do desenvolvimento do Brasil: “A partir das crises econômicas dos anos 1980, o empreendedoris-mo com uso intensivo da ciência e tecnologia passou a ser o impulsor do desenvolvimento das nações”. Se-gundo Campagnolo, a maioria dos empreendimentos que obtém êxito é constituída de negócios baseados em tecnologia com uso intensivo de conhecimento.

Conhecimento, aliás, é palavra-chave que os afro-empreendedores não podem ignorar. É preciso agre-

Inovação e conhecimento

Jorge Mario Campagnolo, Coordenador Geral de Serviços Tecnológicos do MCTI

“Ciência, tecnologia e inovação são os principais eixos para o desenvolvimento com superação da pobreza e das desigualdades sociais.”

gar conhecimento aos processos de produção, para gerar produtos inovadores. Para isso, os empreende-dores devem buscar as informações estratégias para os seus negócios onde elas são produzidas. O MCTI possui uma ampla rede de extensão, programas, servi-ços, centros de inovação, incubadoras e empresas que se colocam à disposição para a formação de parcerias com a finalidade de disseminar os conhecimentos so-bre as possibilidades de agregação de valor aos negó-cios pela via do acesso às práticas inovadoras. Através do Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos (PNI), o ministério investe no fomento à “consolidação e ao surgimento de parques tecnológicos e incubadoras de empresas que contribuam para estimular e acelerar o processo de criação de micro e pequenas empresas, caracte-rizadas pelo elevado conteúdo tecnológico de seus produtos, processos e serviços, bem como por intensa atividade de inovação tecnológica e pela utilização de

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modernos métodos de gestão”. Há uma série de inicia-tivas de criação de parques tecnológicos no Brasil, que geram empregos, receita e impostos. Mas há também iniciativas que visam a aproximar a comunidade cientí-fica e tecnológica das empresas.

A ideia de trocas de informação e conhecimen-to entre vários atores dos processos de produção é uma característica comum entre as iniciativas do MCTI e as várias entidades associativas de empre-endedores negros e negras. E também a compre-ensão de que apenas com conhecimento pode-se superar as desigualdades. “Ciência, tecnologia e inovação são os principais eixos para o desenvolvi-mento com superação da pobreza e das desigual-dades sociais”, afirmou Campagnolo.

Dando continuidade ao debate, a Gerente de Ino-vação e Tecnologia do SEBRAE Nacional, Glaucia Zol-dan, chamou a atenção para os grandes desafios que os empreendedores e empreendedoras têm para tra-balhar com a inovação numa perspectiva sustentável. Segundo ela, no início de um empreendimento a to-mada de decisões sobre os caminhos a seguir podem prejudicar a compreensão sobre a estratégia para um novo negócio. “Por isso, é importante buscar a ajuda de um profissional e reunir as ferramentas necessá-rias para tomar a melhor decisão”. Empreendedores e empreendedoras afro-brasileiros devem ficar atentos a essas recomendações, uma vez que este é um mo-mento em que as discussões sobre alavancagem de negócios ganham cada vez mais força.

A gerente do SEBRAE destacou alguns elementos que se impõem nos cenários futuros para o mundo do empreendedorismo no Brasil. Entre eles, o enve-lhecimento e crescimento da população, o que gera

oportunidades para a juventude; mulheres à frente dos negócios, com mais poder de decisão, os impac-tos da globalização nas nações e a necessidade cada vez maior do associativismo. Glaucia destacou o cres-cimento das classes C, D e E como “novidade” para o desenvolvimento do empreendedorismo. Ela concor-da com a afirmação de que o brasileiro é empreende-dor e argumenta que, se a população negra representa a maioria (51,06%) dos habitantes do País, carrega na sua história os desafios da sobrevivência, dadas as cir-cunstâncias na formação econômica do Brasil, basea-da, nos primeiros 400 anos, na mão de obra escrava, e, ao longo do século XX, com uma brutal concentração de renda, tendo como consequência um País abso-lutamente desigual socialmente e economicamente. Superar essa desigualdade é o principal desafio para o século XXI. Neste caso, o fortalecimento do empreen-dedorismo sustentável é uma enorme porta de saída para a igualdade de oportunidades.

Glaucia Zoldan, Gerente da Unidade de Inovação e Tecnologia do SEBRAE Nacional

“Superar as desigualdades é o principal desafio para o século XXI. Neste caso, o fortalecimento do empreendedorismo sustentável é uma enorme porta de saída para a igualdade de oportunidades.”

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I SENEAB

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Micros e pequenos empresários também são grandes empregadores e geradores de renda. Ga-rantir a formalidade dos negócios pela sustentação econômica dos empreendimentos é um desafio que ainda está longe de ser superado. Os obstáculos a serem superados vão desde a falta de conhecimen-to sobre o mundo dos negócios e das tecnologias de gestão e inovação, até a falta de acesso a crédi-to. Mas esses elementos não existem isoladamente, nem surgem por obra do acaso. A questão do racis-mo que leva à exclusão foi considerada em vários momentos durante o seminário, como fizeram o presidente do CEABRA/SP, João Carlos Martins, e o gerente da UPP do Sebrae Nacional, Bruno Quick. O coordenador de Inovação e Tecnologia do MCTI, Rei-naldo Ferraz, declarou: “Só o conhecimento liberta e só a transformação de informação em conhecimento e conhecimento em saber faz avançar. A cooperação é inimiga mortal do racismo e o pior que pode acon-tecer para a distribuição dos saberes e seus frutos é a segregação”. Foi a tônica das intervenções durante o seminário, com o reconhecimento do acerto das políticas públicas compensatórias adotadas pelo go-verno e a importância de novas medidas.

O deputado federal Vicente Cândido (PT/SP) foi ainda mais enfático. Segundo ele, é necessário colocar “mais tinta negra na elite política brasileira e para isso é preciso mais que cotas”. O deputado afirmou que é preciso “ter criatividade para avançar no modelo de geração de renda e qualificar a as-censão social do povo brasileiro e projetos como este vem a calhar para isso. Precisamos fortalecer a agenda nacional de inclusão social para dar o salto de qualidade na progressão social”. E se o combate ao racismo e as políticas de inclusão fornecem bons motes para eventos como o I SENEAB e o projeto Brasil Afroempreendedor, o presidente da Funda-ção Cultural Palmares (FCP), Eloi Ferreira de Araújo, lembra outra motivação para o incremento das po-líticas com esse perfil: a década afrodescendente, que está apenas começando. “Esta é uma grande oportunidade de consolidar ações para oferecer um novo país às novas gerações. Um país mais fraterno e igual. A inclusão de todos os segmentos da bra-silidade é condição fundamental para a construção de um país mais justo. A Fundação Cultural Palma-res reafirma seu compromisso junto com o SEBRAE com este projeto”, discorreu.

Vicente Cândido, Deputado Federal (PT/SP)

“Precisamos fortalecer a agenda nacional de inclusão social para dar o salto de qualidade na progressão social. Precisamos de mais tinta negra na elite política brasileira e para isso é preciso mais que cotas.”

Distribuição de renda

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A criatividade e a diversidade cultural brasileiras são insumos fundamentais para a ampliação das oportuni-dades para os afroempreendedores brasileiros. Neste sentido, a economia criativa ganhou destaque duran-te o I SENEAB. A secretária de Economia Criativa do Ministério da Cultura, Cláudia Leitão, defende a criati-vidade como recurso para o desenvolvimento. Neste sentido, o Brasil é um país privilegiado, com enorme potencial no mundo das economias criativas. Mas este potencial não encontra guarida nas práticas cotidianas no País de produção e exportação de bens e serviços criativos. Uma das principais razões, segundo a secre-tária, é que, uma vez que o potencial criativo da cultura tem relação direta com os produtores culturais negros, e que esses produtores estão excluídos dos proces-sos produtivos, é natural que a conjugação dos dois fatores seja determinante do baixa concretização das atividades produtivas com este perfil.

A secretária foi enfática em afirmar que o empre-endedorismo afro-brasileiro é um dos campos de ação concretos da economia criativa. Neste sentido, o projeto Brasil Afroempreendedor será um gran-de campo para a prática dos princípios da economia criativa. “Mais do que aliados, seremos executores em potencial dessa iniciativa”, afirmou. Na mesma mesa da secretária do MINC, o diretor do Departamento de

O Brasil criativo

Cláudia Leitão, secretária de Economia Criativa do MINC

Fomento e Promoção da Cultura Afro-Brasileira da FCP, Martvs das Chagas, concordou com a secretá-ria Cláudia Leitão. Para Martvs, o empreendedorismo afro-brasileiro pretende construir um novo paradigma de desenvolvimento no Brasil, ao fortalecer o conceito de economia criativa.

“Mais do que aliados, seremos executores em potencial do projeto Brasil Afroempreendedor.”

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I SENEAB

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Principais resoluções do I SENEAB

n Assinatura do convênio para a execução do projeto Brasil Afroempreendedor entre SEBRAE e parceiros

n Implementação de políticas públicas para o setor, tendo como eixo a inclusão de empreendedores afro-brasileiros (fortalecer o diálogo com os poderes Executivo e Legislativo e com as entidades de classe)

n Reunião no primeiro trimestre de 2013 com a Secretaria Operativa (Governo e Sociedade Civil), para construir projetos e agendas conjuntas para 2013 e 2014.

n Participação das SECs na organização das Feiras de Empreendedorismo Afro-brasileiro (RJ, MA, RS, SC), previstas para 2013

n Assinatura do Termo de Cooperação Técnica entre Sebrae e FCP, previsto para o primeiro semestre de 2013

n Reunião com secretarias e áreas que tratam da inclusão e desenvolvimento tecnológico no MCTI para apresentar o Projeto Brasil Afroempreendedor e suas demandas

n Articular o Projeto Brasil Afroempreendedor com as Redes Estaduais de Extensão Tecnológica, para participarem dos seminários estaduais do projeto e apresentarem propostas concretas para o fortalecimento dos micro e pequenos empreendedores afro-brasileiros

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ENTREVISTA / VICENTE CÂNDIDO, DEPUTADO FEDERAL (PT/SP)

Empreendedorismo é caminho para desenvolvimento com inclusão

A mobilização e a organização popular continuam a ser instrumentos imprescindíveis para garantir o desenvolvimento do País com inclusão

Para o deputado federal Vicente Cândido (PT/SP), a construção de redes e de fóruns de entidades de afroempreendedores deve

estar associada à formação e capacitação desses empreendedores. Ele defende o ponto de vista segundo o qual já existe expertise acumulada no mercado e casos de sucesso de empreendedores afrodescendentes no Brasil para que essas inicia-tivas se viabilizem de forma permanente. Como garantia para que isso aconteça, o parlamentar paulista cita os acertos na política econômica dos dois mandatos do presidente Lula e do mandato da presidenta Dilma. O deputado, cujo gabinete foi um dos patrocinadores do I SENEAB , afirma que esses acertos permitem aos empreendedores uma articulação que, ao mesmo tempo em que estrutu-ra e desenvolve os empreendimentos já constituí-dos, permite que se multipliquem outras iniciativas com esse perfil no Brasil. Leia a entrevista.

“A mobilização e a organização

popular sempre foi e será o caminho

que temos para as mudanças sociais e econômicas de que o nosso país tanto

precisa.”

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“Já existe no mercado expertise acumulada e casos de sucesso de empreendedores

afrodescendentes no Brasil e as instituições de fomento e apoio ao empreendedorismo estão cada vez mais abertas à inovação e à diversidade, que são marcas dos negócios

de afrodescendentes.”

Como deve ocorrer a articulação entre os proces-sos produtivos e os processos políticos, de modo que a inclusão com recorte racial torne-se cada vez mais uma realidade em um país com tantos contrastes de distribuição de renda como o Brasil?

A mobilização e a organização popular sempre foi e será o caminho que temos para as mudanças sociais e econômicas de que o nosso país tanto precisa. Formar e capacitar empreendedores afro-descendentes deve estar associado à organização de entidades onde elas não existirem; à formação de redes e de fóruns que abriguem as diversidades locais do empreendedorismo afro-brasileiro.

Na atualidade, uma série de políticas estão sendo

adotadas no âmbito dos governos e das instituições públicas para garantir o acesso das populações afro-descendentes à educação, trabalho, saúde. É possível favorecer o aumento do número de empreendedores com políticas de inclusão com recorte racial? Como isso pode ser feito?

Acredito que o acesso das populações afro-descendentes ao empreendedorismo continuará a ocorrer sem que necessariamente haja a criação de políticas de inclusão. Isto porque já existe no mercado expertise acumulada e casos de suces-so de empreendedores afrodescendentes no Bra-sil e também porque as instituições de fomento e apoio ao empreendedorismo estão cada vez mais abertas à inovação e à diversidade, que são mar-

cas dos negócios de afrodescendentes. O senhor tem um histórico de lutas contra o racis-

mo e a desigualdade. Neste momento, em que a eco-nomia do País consegue superar as dificuldades que afligem várias nações, principalmente Estados Uni-dos e países europeus, persistem no País as dificulda-des de inclusão para as populações afrodescenden-tes. O empreendedorismo pode ser uma saída para a superação desse impasse? Em que medida?

As mudanças que vêm ocorrendo na economia brasileira a partir dos governos do presidente Lula e continuadas pela presidenta Dilma já são exem-plos de superação da crise econômica que assola alguns países do Ocidente. São milhões de brasi-leiros e brasileiras que foram absorvidos pelo mer-cado de trabalho e pelo mercado de consumo; são leis que garantem aos empreendedores individuais os direitos dos demais empreendedores e que ser-vem de exemplos para outras nações.

Como o Estado ou as instituições públicas podem

se articular com entidades privadas para garantir a elaboração de políticas de inclusão com recorte racial no campo do empreendedorismo?

Vamos nos articular, sim, para que os recursos do pré-sal sejam destinados à educação, à ciência e à tecnologia e que sejam distribuídos de forma mais equitativa com relação às populações tradicional-mente excluídas do desenvolvimento econômico.

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ENTREVISTA / ELOI FERREIRA DE ARAÚJO, PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES

Brasil qualificará 100 mil jovens negros e negras no ambiente da cultura entre 2012 e 2022, Década dos Povos Afrodescendentes

O presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, assumiu a entidade em um momento em que as po-líticas de inclusão recebem incentivos cada vez mais signifi-

cativos na área da cultura. As mais recentes iniciativas contemplam a qualificação de jovens empreendedores negros e negras para o desenvolvimento de aptidões que garantam a perpetuação dos seus empreendimentos. A preocupação é fazer com que esses em-preendimentos que já existem, e os que venham a existir, tenham suporte para que não terminarem nos primeiros anos. Com essa intenção, o governo federal selecionou 10 Núcleos de Formação de Agentes Culturais Negros em todo o Brasil. “Nesse primeiro ano, formaremos dois mil jovens, mas sonhamos, ao longo da Década dos Povos Afrodescendentes, até o ano de 2022, termos formado 100 mil jovens com a qualificação no ambiente da cultura”, afirma Eloi. A natureza criativa dos empreendimentos de afro-brasileiros é outra referência que será cada vez mais incentivada pelo Minis-tério da Cultura, que tem uma secretaria especialmente destinada a acompanhar os diversos empreendimentos de afrodescendentes no País. “De fato, num primeiro olhar, percebe-se que a cultura negra tem um potencial de cultura econômica extraordinário”, enfatiza. Na entrevista a seguir, o presidente da Fundação destaca a caracte-rística dos empreendimentos de negros e negras, marcadamente não-predatórios, outra preocupação desses tempos em que o de-senvolvimento sustentável é uma busca constante.

Cultura negra tem potencial econômico

extraordinário

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Muito se tem falado em economia criativa como um símbolo de desenvolvimento criativo a partir de modelos de negócios, sistemas educacionais e principalmente exploração de inovação e ideias criativas. A criatividade é uma característica das populações afrodescendentes no Brasil em vários âmbitos. Como agregar valor às manifestações provenientes da cultura e da cidadania transfor-mando-as em fatores de inclusão econômica para as populações afro-brasileiras?

A criatividade de fato é uma tônica em todos os campos da cultura afro-brasileira. O Carnaval move toda uma cadeia econômica extraordiná-ria de artesãos, de músicos, de instrumentistas, de carnavalescos, figurinistas, etc. É uma cadeia imensa, sem considerar o trabalho indireto de economistas, contadores e aquela raia periférica que agrega vendedores, ambulantes... O Carna-

val movimenta inúmeras atividades de trabalho, através da economia criativa, que se manifesta e constrói todo um ambiente de inclusão e apropria-ção econômica. É bem verdade que a população negra ainda fica na base dessa cadeia produtiva. Talvez por menor qualificação, porque as escolas de preparação dessa mão de obra acabam sen-do franqueadas à comunidade negra ou a ela dão pouco acesso. Mas, também temos as comunida-des quilombolas, com toda a sua riqueza cultural, a produção de artesanatos belíssimos e uma culi-nária vasta que já começa a receber o Selo Qui-lombola. Além disso, basta ver os terreiros, com aquelas roupas belíssimas, as baianas, com o acarajé, a capoeira, enfim, há um tanto de possi-bilidades para a inclusão cultural e econômica do negro. Outros exemplos são a Feira Preta, as As-sociações de Empreendedores Afro-brasileiros. De fato, num primeiro olhar, percebe-se que a cul-

“A criatividade de fato é uma tônica em todos os campos da cultura

afro-brasileira.”

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tura negra tem um potencial de cultura econômica extraordinário.

O modelo de economia vigente na atualidade transformou o pleno emprego em uma quimera. Ini-ciativas individuais ou associativas no plano da cul-tura podem ser alternativas de desenvolvimento para os afrodescendentes?

A verdade é que era uma quimera o pleno em-prego. Hoje é uma realidade. Nós temos, desde o governo do presidente Lula, uma base econômica que tem construído um ambiente favorável e com isso alcançamos o pleno emprego. Agora, nós es-tamos avançando para a qualificação em todas as áreas da atividade econômica e humana, para que acelere o desenvolvimento do nosso país com co-nhecimento e, ao mesmo tempo, crie ambientação para que a população menos contemplada, mino-ria de direito ao longo da história, possa acessar os bens econômicos e culturais. É preciso que se observe que as iniciativas individuais e associativas podem produzir muitos resultados. As associações quilombolas são exemplo de que é possível, através das associações da sociedade civil, criar ambienta-ção de apropriação coletiva e individual também, porque a produção e o talento individuais, nas di-versas áreas, devem ser prestigiados e valorizados.

Qual deve ser o papel da Fundação Cultural Pal-mares e do Ministério da Cultura no desenvolvimento de uma cultura empreendedora entre as populações afrodescendentes brasileiras?

A Fundação Cultural Palmares tem como missão

institucional, na forma da Lei nº 7.668, de 22 de agos-to de 1988, uma ação muito clara de trabalhar a cultura negra brasileira nos mais diversos aspectos, na sua promoção, difusão e produção. A cultura, na nossa perspectiva, tem que ir além do entretenimento, tem que ser um elemento de inclusão, um veículo para a superação das graves desigualdades que o país ex-perimenta. Essas graves desigualdades oferecem à população negra a base da pirâmide social. Então, nós acreditamos que a Fundação Cultural Palmares possa estar presente como estimuladora, como qualificado-ra de mão de obra na área da cultura.

“Estamos avançando para a qualificação em todas

as áreas da atividade econômica e humana,

para que acelere o desenvolvimento do nosso

país com conhecimento e, ao mesmo tempo,

crie ambientação para que a população menos contemplada, minoria de

direito ao longo da história, possa acessar os bens

econômicos e culturais.”

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A questão do desenvolvimento sustentável e da inovação produtiva pode ser associada de que maneira à dinâmica cultural para garantir a inclu-são das populações afrodescendentes no país?

Esse é um tema interessantíssimo. Não existe re-lação das comunidades quilombolas, de terreiros, de capoeira, com uma produção que seja predatória dos bens econômicos e dos bens naturais. Porque o valor da preservação da natureza é absolutamente presente no sentimento das comunidades dos remanescentes de quilombos, e em toda base econômica da cultura negra e afro-brasileira. Nesse aspecto, observa-se que nas comunidades quilombolas, por exemplo, quando realizam uma cozinha comunitária, quando fazem um passeio cultural, o turismo histórico e de memória, são aspectos interessantíssimos que têm relação, sobre-tudo, com a sustentabilidade de práticas produtivas e culturais, que vão ao encontro da preservação dos bens naturais, tendo em vista que todos e todas se apropriem dos bens econômicos e sejam mais exito-sos nessa empreitada.

Como fazer com que o apoio a iniciativas culturais afro-brasileiras não se restrinja a questões pontuais, como organizações de feiras e eventos, perpetuando-se de modo a garantir a permanência dessas iniciati-vas e a autonomia de seus criadores?

Com a qualificação. A qualificação é a chave para a inclusão dos empreendedores afro-brasileiros. A Fun-dação Cultural Palmares desenvolveu um edital para a formação de jovens negros e negras. Foram selecio-nados 10 Núcleos de Formação de Agentes Culturais Negros, em todo o Brasil. Nesse primeiro ano, forma-remos dois mil jovens, mas sonhamos, ao longo da Década dos Povos Afrodescendentes, até o ano de 2022, termos formado 100 mil jovens com a qualifica-ção no ambiente da cultura. Cenógrafos, operadores de câmera, web designers, artesãos de biojóias, entre outras áreas. E desta forma, com a qualificação, nós estaremos indo além da organização de eventos e do entretenimento, mas formando base estrutural para a inclusão da juventude negra, bases estruturantes na nossa sociedade que vão incluir de forma sustentável e democrática, na cadeia produtiva, os jovens empre-endedores negros e negras.

“Não existe relação das comunidades quilombolas,

de terreiros, de capoeira, com uma produção que seja predatória dos bens econômicos e dos bens

naturais. Porque o valor da preservação da natureza é absolutamente presente (...) em toda base econômica da cultura negra e afro-

brasileira.”

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POLÍTICA PÚBLICA

Projeto Brasil Afroempreendedor é apresentado durante I SENEAB

Iniciativa do CEABRA e IAB terá patrocínio do SEBRAE, durará dois anos, com abrangência nacional, e pretende impulsionar a construção de políticas públicas para o desenvolvimento dos micro, pequenos e microempreendedores individuais afro-brasileiros

afroempreendedorDesenvolvimento e Fortalecimento do

Empreendedorismo Afrobrasileiro

Durante o I Seminário Nacional Desenvolvi-mento e Empreendedorismo Afro-brasileiro, os participantes tiveram a oportunidade de

conhecer o projeto Brasil Afroempreendedor, De-senvolvimento e Fortalecimento do Empreendedo-rismo Afro-brasileiro, uma iniciativa do Coletivo de Empresários e Empreendedores Afro-brasileiros de São Paulo (CEABRA/SP), do Instituto Adolpho Bauer (IAB), de Curitiba (PR), com patrocínio do Ser-viço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em-presas (SEBRAE). O projeto visa ao fortalecimento do afroempreendedorismo brasileiro, a partir da construção de um amplo leque de parcerias que

possam impulsionar a construção de uma política pública de desenvolvimento socioeconômico dos micro, pequenos empreendedores e dos microem-preendedores individuais afro-brasileiros.

A iniciativa teve várias motivações e foi favo-recida pela situação atual do País que, nas últimas duas décadas, foi alvo de mudanças profundas em sua estrutura socioeconômica. Os primeiros dados revelados pelo Censo do IBGE, realizado nesta pri-meira década do século XXI (2000-2010), confir-mam alterações perceptíveis nos 5.565 municípios brasileiros, onde residem os 190.755.799 habitantes. As mudanças nos estratos sociais, principalmente

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nas classes C e D, revelam o impacto positivo do desenvolvimento econômico e social e a melhor distribuição da renda.

Ainda assim, permanecem índices negativos que formam o retrato das desigualdades que per-sistem em nosso meio. Com vistas à superação dessas desigualdades e ao alargamento das opor-tunidades, o estímulo ao empreendedorismo pas-sa a ser ferramenta fundamental para assegurar a “inclusão produtiva” dos mais de 32 milhões que ainda se encontram na chamada linha da pobreza. É neste contexto que se enquadra o projeto.

Com a participação efetiva dos órgãos públicos federais, como a Secretaria de Políticas de Promo-ção da Igualdade Racial, da Presidência da Repú-blica (SEPPIR/PR), da Fundação Cultural Palmares, órgão vinculado ao Ministério da Cultura, dos minis-térios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér-

“O projeto soma-se aos Objetivos do Milênio da ONU, às políticas

do Governo Federal de combate à fome e à

miséria, às políticas de promoção da igualdade racial e à missão e aos

objetivos estratégicos do SEBRAE Nacional.”

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cio (MDIC) e da Associação Nacional dos Empreen-dedores Afro-brasileiros (ANCEABRA), o SEBRAE, em conformidade com o Estatuto da Igualdade Racial, junto com seus parceiros, contribuirá para apresentar e desenvolver ferramentas e soluções de negócios que venham a contribuir para o efetivo fortalecimento deste importante segmento da eco-nomia e da sociedade brasileiras.

Com base nos objetivos do projeto, serão apro-fundados os conhecimentos das realidades deste segmento, construindo aproximações e parcerias que possam resultar na oferta dos instrumentos e serviços já existentes e na formatação de novos ser-viços, produtos e processos que favoreçam o fortale-cimento e o crescimento do afroempreendedorismo em nível nacional. Além disso, este projeto soma-se

aos Objetivos do Milênio da ONU, às políticas do Go-verno Federal de combate à fome e à miséria, às po-líticas de promoção da igualdade racial e à missão e aos objetivos estratégicos do SEBRAE Nacional.

Este é um projeto-piloto, estruturado em três etapas e cinco ações articuladas entre si, que cons-tituem a estratégia do projeto. Nos 12 primeiros meses ocorrerá a organização das informações, estabelecendo o perfil dos afroempreendedores, a organização e criação do banco de dados, a cria-ção dos instrumentos para coleta de informações nos estados, a produção de textos/livros e, princi-palmente, a organização dos parceiros nos estados (reuniões, etc.), como forma de envolvê-los e dar or-ganicidade ao projeto, construir o processo de sele-ção de consultores nos estados e realizar a oficina

“O projeto vai atingir mais de 1200 afroempreendedores, buscando consolidar no mínimo 500 micro e pequenas

empresas e empreendedores individuais, a serem acompanhadas, visando à formulação de uma política pública de fortalecimento do afroempreendedorismo.”

O projeto tem duração prevista de 24 meses, com desenvolvimento em 12 Estados da Federação que seguiram os critérios de organização dos(as) empreendedores(as) afro-brasileiros(as), seja por intermédio das organizações específicas no tema, como os Coletivos de Empresários e Empreendedores Afro-brasileiros – CEABRAs, a Incubadora Afro-brasileira ou entidades locais voltadas diretamente ao atendimento a este segmento. Do mesmo modo, considera-se as iniciativas do poder público a partir das políticas de promoção da igualdade racial.

Amapá

MaranhãoParaíba

Pernambuco

Bahia

Goiás

Os 12 estados escolhidos

São Paulo

Paraná

Santa Catarina

Rio de Janeiro

Rio Grande do Sul

Minas Gerais

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O projeto vai atingir mais de 1200 afroempreen-dedores, buscando consolidar no mínimo 500 micro e pequenas empresas e empreendedores individuais, a serem registradas, se for o caso, acompanhadas e monitoradas pelos técnicos, visando à formulação de uma política pública de fortalecimento do afroempre-endedorismo. O projeto será coordenado por um Co-mitê Gestor, composto por organizações da sociedade civil e órgãos governamentais. No processo, será cria-da e implantada junto ao projeto uma Rede Nacional de Afroempreendedores, que funcionará como um espaço permanente de socialização, intercâmbio (for-mativo e informativo), qualificação empreendedora e de desenvolvimento de oportunidades de negócios.

para o nivelamento da equipe. Junto a essas inicia-tivas, várias outras estarão em curso, principalmente ações práticas locais junto aos poderes públicos esta-duais e municipais, articulados com os SEBRAEs es-taduais, para fortalecer e criar novas possibilidades junto aos empreendedores localizados nas áreas urbanas e rurais. Estas, com prioridade, junto às co-munidades quilombolas.

No final deste primeiro ano, os núcleos/coletivos de empreendedores(as) já estarão formados por ati-vidade produtiva, como forma de melhor orientar as MPEs no processo de qualificação e formação na fase seguinte (segundo ano), com a realização dos seminá-rios estaduais, o acompanhamento e monitoramento.

O SEBRAE tem papel estratégico para a im-plementação deste projeto, pela via da ampliação do número de empreendedores e das micro e das pequenas empresas do País. Para tanto, e para os fins desse projeto, precisa desenvolver programas de forma a favorecer o aumento do número de em-preendedores afro-brasileiros, estimulando tanto o surgimento de novos empreendimentos quanto a manutenção dos atuais, além de auxiliar iniciativas associativistas entre esses empresários. Quatro áreas chaves previstas pelo SEBRAE são cruciais para o investimento no crescimento dos micro e pequenos empreendimentos, articulando-se com os objetivos desse projeto: a implementação de po-líticas públicas que permitam um ambiente institu-cional mais favorável à criação de novos empreen-dimentos afro-brasileiros e à manutenção dos que

já existem; o acesso a novos mercados; o acesso à tecnologia e à qualificação e inovação.

Assim, soma-se à necessidade de inclusão de milhares de afro-brasileiros no sistema produtivo nacional, como fundamento para a superação de nossas desigualdades seculares, uma conjuntura nacional de investimento em processos de inclusão como jamais houve na história do País e uma opor-tunidade única de acrescer à missão do SEBRAE a tarefa de inclusão, de desenvolvimento, de acesso a mercados, mas, acima de tudo, de reconhecimento da necessidade de entender o Brasil como País das diferenças, não das desigualdades.

De certa forma, o projeto está em andamento. Des-de 2011, por iniciativa do SEBRAE, foram realizados momentos de diálogos para apresentação da ideia aos potenciais participantes. Uma Oficina Nacional

A importância estratégica do SEBRAE

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Organização e publicação de dados, seleção e capacitação de equipe do projeto

ETAPA

1AÇÃO 1 - Criar e atualizar banco de dados digital

Criação de banco de dados virtual com as características (tamanho, faturamento, ramo de atividade, etc.) dos empreendimentos afro-brasileiros. Esse banco de dados será disponibilizado na web, nos sites do CEABRA, IAB e SEBRAE. O banco de dados será atualizado permanentemente pelos consultores do projeto, conforme o andamento dos encontros estaduais, das parcerias que venham a ser constituídas e de novos dados que venham a ser agregados.

AÇÃO 2 - Publicar o livro Desenvolvimento e Afroempreendedorismo no Brasil

Esta ação dará suporte a todo o projeto, alimentando a rede de parceiros, possibilitando a formulação de propostas de políticas públicas de apoio e fortalecimento do empreendedorismo afro-brasileiro e iniciativas como feiras de pequenos e microempreendedores, ajudando na formalização de empreendimentos, na medida que haverá informações sobre este público nos mercados e redes de negócios, atualmente inexistente.

AÇÃO 3 - Seleção e capacitação de equipe para implantação da rede de afroempreendedores

Para conferir maior organicidade e criar mecanismos que potencializem os resultados de redes estaduais de apoio aos empreendimentos afro-brasileiros, serão selecionados e capacitados 12 consultores estaduais, cujo objetivo é fortalecer a articulação entre os empreendedores afro-brasileiros e os setores públicos e privados, relativamente aos aspectos gerenciais, creditícios, mercadológicos, entre outros. Os 12 consultores estaduais serão reunidos em uma oficina nacional, onde participarão de atividades formativas para atuar como mobilizadores e articuladores no processo de formação das redes. Esses articuladores acompanharão a evolução dos empreendimentos afro-brasileiros selecionados ao longo do projeto, de maneira presencial, desenvolvendo planos de negócio e prestando atendimento aos empreendedores, coletiva e individualmente.

foi realizada em Brasília, no dia 17 de outubro de 2011, com a participação de 14 convidados dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco, Paraná e Brasília. Posteriormente, criou-se um mecanismo de consulta em onze estados (São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Pernambuco, Minas Ge-rais, Maranhão, Paraíba, Goiás, Bahia, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro), com o objetivo de ampliar a partici-pação dos atores envolvidos e, com isso, consolidar o projeto. Com as informações coletadas, o projeto pas-sou a ser aperfeiçoado no SEBRAE, com ajustes que incorporam as observações realizadas em todos esses momentos. Atualmente, o projeto Brasil Afroempreen-dedor está em fase final de ajustes. A previsão é que seja implementado no primeiro semestre de 2013.

“O SEBRAE tem papel estratégico para a

implementação deste projeto, pela via da ampliação do

número de empreendedores e das micro e das pequenas

empresas do País.”

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Formação de Redes de Apoio, Realização de Seminários, Monitoramento e Disseminação do Programa

ETAPA

2

AÇÃO 1 - Realizar seminários para alinhar propostas de parcerias e políticas públicas

Com a definição da metodologia para formação de redes, e com a realização da capacitação dos consultores que atuarão como articuladores, serão realizados seminários em seis (6) estados (PR, SC, RS, SP, RJ, MG), visando reunir empreendedores afro-brasileiros e instituições públicas e privadas. Nos seminários, serão apresentadas as informações sistematizadas na Etapa 1, será realizado levantamento de demandas e necessidades dos empreendedores afro-brasileiros presentes, apresentadas propostas de políticas públicas para o atendimento dessas demandas, bem como, serão apresentados programas, produtos e serviços dos parceiros a serem integrados ao projeto, como SEBRAEs, instituições de crédito, apoio e fomento, secretarias de estado e outras entidades, na busca de apoio para realização de treinamentos, capacitações, palestras, orientações para acesso ao crédito, apoio à formalização dos negócios, entre outros.Esta ação visa a assessorar o desenvolvimento de 500 empreendimentos nos estados em que serão realizados os seminários, com o entendimento e compreensão das necessidades e demandas dos empreendedores afro-brasileiros e com a participação de potenciais parceiros que apresentaram programas, produtos e serviços que podem beneficiar o público-alvo desse projeto.Nesta ação, será trabalhada a organização dos empreendedores afro-brasileiros em cada estado, a partir da lógica de grupo, bem como o começo da elaboração de 500 planos de negócios envolvendo mercado, processos produtivos, finanças, atendimento, que servirão como base para acompanhamento

e desenvolvimento desses negócios. Assim, do total de 1.200 empreendedores atingidos, pelo menos 500 terão acompanhamento mais efetivo.Com isso, visando dar sequência à execução do plano de negócios, os consultores estaduais, com o apoio do CEABRA e do IAB, irão promover articulações e estreitar as relações com os parceiros que participaram dos seminários e outros que poderão colaborar para o sucesso desses empreendimentos. Assim, serão formadas agendas de treinamentos, palestras, capacitações, orientações para acesso ao crédito, orientações para formalização, eventos de promoção de negócios, entre outros.Entende-se que, com a realização desta ação, será consolidada uma rede articulada de parceiros sensibilizada para a promoção do desenvolvimento dos negócios afro-brasileiros de maneira sustentável.

AÇÃO 2 - Construir instrumentos para aferição dos resultados

Esta ação, que se estenderá pelas últimas duas etapas, será dedicada ao acompanhamento e ao monitoramento dos resultados do projeto, bem como, à elaboração de relatórios de divulgação. Em um primeiro momento, serão elaborados instrumentos para a aferição de resultados: Indicadores de Processo, Indicadores de Resultados e Indicadores de Impacto, com o objetivo de controlar as variáveis do projeto (objetivos e metas). O objetivo fundamental desta Etapa 2 e da Etapa 3 é a continuidade do processo de desenvolvimento e fortalecimento dos micro e pequenos empreendedores afro-brasileiros, com a realização dos seminários e das ações de monitoramento.

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Formação de Redes de Apoio, Realização de Seminários, Monitoramento e Disseminação do Programa

ETAPA

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AÇÃO 1 - Realizar seminários para alinhar propostas de parcerias e políticas públicas

Nesta etapa, serão realizados seminários nos últimos seis (6) estados definidos no projeto (PE, PB, MA, GO, AP, BA), dando continuidade à apresentação das informações sistematizadas na Etapa 1 e ao levantamento de demandas e necessidades dos empreendedores afrobrasileiros. Será dada continuidade também à elaboração dos planos de negócios dos empreendimentos nos estados em que serão realizados os seminários. Os consultores estaduais, com o apoio do CEABRA e do IAB, continuarão a promover articulações e a estreitar as relações com os parceiros que participaram dos seminários e outros que poderão colaborar

para o sucesso desses empreendimentos. Continuarão a ser formadas agendas de treinamentos, palestras, capacitações, orientações para acesso ao crédito, orientações para formalização, eventos de promoção de negócios, entre outros.

AÇÃO 2 - Aferição dos resultados e elaboração dos relatórios para divulgação

Neste momento, passa-se à aferição de resultados a partir dos instrumentos criados na ação anterior da etapa. Os resultados serão consolidados em relatórios apresentados conforme periodicidade definida no plano de trabalho. O objetivo fundamental desta ação é o efetivo monitoramento dos objetivos e metas e a elaboração e divulgação dos relatórios.

Estratégia de Implementação

Estruturação de informações e metodologia

Identificação de demandas e envolvimento de parceiros

Organização, articulação de parceiros e formação de agendas

Sustentabilidade da rede de apoio aos empreendedores afro-brasileiros

Estruturar informações

sobre o empreendedorismo

afro-brasileiro

Estruturar rede de consultores para

implementação do projeto

Promover eventos para discutir propostas de

políticas públicas, identificação

de demandas e aproximação com

parceiros públicos e privados

Dar organicidade aos empreendedores afro-brasileiros e articular parcerias

locais para treinamentos e capacitações

Consolidar rede de apoio aos

empreendimentos afro-brasileiros

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Além de servir como oportunidade para tro-ca de informações valiosas sobre criação e manutenção de negócios, o I Seminário

Desenvolvimento e Empreendedorismo Afro-bra-sileiro (I SENEAB) foi também uma ocasião para conhecer um pouco o perfil dos empreendedores e das empreendedoras que participaram do even-to. Foram mais de 100 participantes na abertura do evento. Profissionais da área da saúde, da educa-ção, do esporte, do artesanato, do campo artístico e de eventos, além dos convidados dos órgãos governamentais.

O microcosmo dos participantes do I SENEAB de certa forma representa o universo mais amplo da nova classe média que se forma no Brasil, a partir da implementação maciça de políticas de in-clusão pelos governos das várias esferas da admi-nistração, com reflexos no setor privado. Um dos principais é a queda nos índices de desigualdade no País. O ramo do empreendedorismo tem papel decisivo nesse sentido. Neste momento, há uma mudança no perfil da população brasileira a partir da distribuição de renda. Basicamente situada nas classes C e D, essa população apresenta crescen-te aumento do nível educacional e vem mudando seus hábitos de consumo, principalmente nas regi-ões Norte e Nordeste. A desigualdade cai porque a renda aumenta, principalmente entre analfabetos, negros, moradores de favelas, campesinos e tra-balhadores da construção.

I SENEAB

Público variadoNo evento, mulheres negras foram ampla maioria, com nível educacional elevado

Perfil do participante Conforme os dados tabulados pela organização do I SENEAB

Por sexo

Cor/raça entre as mulheres Cor/raça entre os homens

Escolaridade entre as mulheres Escolaridade entre os homens

Mulher

69,5%Homem

30,5%

Negra/Parda

92%

Branca

4% Branco

9,1%Indígena

4%

Negro/Pardo

90,9%

Superior

92% Médio

4%Médio

9,1%

Fundamental

4%Fundamental

9,1%

Superior81,8%

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