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3.1 E 3.2 PRODUTOS Insumos para Ações Estratégicas Orientadas ao Fortalecimento da Competitividade Industrial do Brasil

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ARESUMO EXECUTIVO

3.1 E 3.2

PRODUTOS

Insumos para Ações Estratégicas Orientadas

ao Fortalecimento da Competitividade Industrial do Brasil

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Insumos para Ações Estratégicas Orientadas

ao Fortalecimento da Competitividade Industrial do Brasil

3.1 E 3.2

PRODUTOS

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REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Presidente

Michel Temer

MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS

Ministro

Marcos Jorge de Lima

AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL – ABDI

Presidente

Luiz Augusto de Souza Ferreira

Diretor de Desenvolvimento Produtivo e Tecnológico

Miguel Antônio Cedraz Nery

Diretor de Planejamento

Walterson da Costa Ibituruna

Gerente de Desenvolvimento Produtivo e Tecnológico

Cynthia Araújo Nascimento Mattos

Gerente de Planejamento e Inteligência

Jackson de Toni

Coordenador de Planejamento e Inteligência

Rogério Dias de Araújo

Equipe Técnica

Carlos Henrique de Mello Silva (Responsável)

Raphael Lennie Fernandes Ribeiro

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

Presidente

Carlos Ivan Simonsen Leal

Diretoria FGV Projetos

Cesar Cunha Campos

Ricardo Simonsen

Coordenação de Projeto

Luiz Gustavo Medeiros Barbosa

Marcel Levi

Especialista

Paulo Negreiros de Figueiredo

Equipe Econômica e Estatística

Ique Guimarães

Everson Machado

Equipe Técnica

André Meyer Coelho

Erick Lacerda

Fabíola Barros

Luciana Vianna

Saulo Rocha / Pesquisador Convidado

Thays Venturim

Projeto Gráfico

Café.art.br

Ficha Técnica

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Resumo Executivo ............................................................................................... 06

01 Introdução ........................................................................................................ 10 02 Base Analítica do Estudo ............................................................................. 16 03 Imperativo do Fortalecimento da Competividade Industrial no Brasil ........................................................................................................................... 22 3.1 Aprisionamento na Armadilha da Renda Média .................................................... 24

3.2 Evolução da Produtividade do Trabalho no Brasil .............................................. 27

3.3 Engajamento do Brasil no Mercado Internacional ............................................... 34

04 Importante Papel da Indústria no Crescimento Econômico ............... 46 4.1 Participação da Indústria no PIB Brasileiro ..........................................................48

4.2 Tipos de Indústria e sua Importância Relativa na Economia ..............................58

4.3 Importância da Inovação Industrial para o Crescimento Econômico ..................62 05 Por Dentro da Inovação: Uma Perspectiva Ampliada .......................... 66 5.1 Algumas Ideias Básicas .......................................................................................68

5.2 A Importância Relativa dos Diferentes Tipos de Inovação ................................. 78

5.3 Interdependência no Processo de Inovação ........................................................84 5.4 Diferenças entre Setores Industriais em Termos da Natureza da Inovação .......88

Sumário

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06 Capacidades Tecnológicas: Estoque de Recursos para Inovação e Competitividade Industrial ................................................................................. 92 6.1 Desmistificando o Significado de Tecnologia e de Capacidade Tecnológica .........94

6.2 Mensuração de Capacidades Tecnológicas ....................................................... 108

07 Catch-up Tecnológico: Ideias Básicas ......................................................118 7.1 Empresas de Economias em Desenvolvimento: Principais Características

Tecnológicas ............................................................................................................120

7.2 Perspectivas sobre Inovação em Empresas de Economias em Desenvolvimento .......122

08 Trajetórias de Catch-up Tecnológico: Perspectiva de Ciclos .................130 8.1 Ciclos de Catch-up Tecnológico ..........................................................................132

8.2 Dimensões Técnica e Organizacional da Acumulação de Capacidades

Tecnológicas ............................................................................................................ 141 09 Mecanismos de Aprendizagem Subjacentes às Trajetórias de Catch-up Tecnológico ....................................................................................... 144 9.1 Mecanismos de Aprendizagem Tecnológica: Perspectiva Intraempresarial ....... 147

9.2 Mecanismos Interempresariais de Aprendizagem Tecnológica .........................155

9.3 Transferência de Tecnologia como Mecanismo de Aprendizagem Tecnológica 160

10 Desafios e Recomendações Finais ...........................................................164 11 Referências Bibliográficas ...........................................................................181

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6 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

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7RESUMO EXECUTIVO

Resumo Executivo

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8 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Resumo ExecutivoEste estudo objetiva contribuir para o aprimoramento de ações estratégicas

orientadas ao fortalecimento da competitividade industrial no Brasil. Grande parte

da competitividade industrial pode ser fortalecida por meio da acumulação de

capacidades tecnológicas em nível da indústria e de suas empresas. Por que essas

questões são tão importantes para o Brasil? O Brasil é tipicamente uma economia

de renda média. Está estacionado nesta condição há mais de 50 anos. Países que

estão presos na assim chamada “armadilha da renda média” são países que, de

um lado, possuem custos de produção altos que os impedem de competir com as

economias exportadoras de baixo custo; por outro lado, esses países ainda não tem

uma capacidade tecnológica suficientemente alta para competir contra as econo-

mias avançadas. Países aprisionados na assim chamada “armadilha’ da renda média”

também experimentam um persistente baixo crescimento econômico. Como escapar

dessa armadilha da renda média?

A História nos mostra que países que conseguiram escapar da armadilha da renda mé-

dia, especialmente nos últimos 40 anos, obtiveram, de um lado, considerável aumento

de ganhos de produtividade na economia. Por outro lado, suas

economias também alcançaram forte presença no mercado

internacional. Em outras palavras, esses países fortaleceram

consideravelmente a sua competitividade industrial. Grande

parte do fortalecimento dessa competitividade industrial se

explica pela acumulação de capacidades tecnológicas para

inovação, em nível da indústria e de empresas. Isto porque é

no âmbito da indústria e de suas empresas, juntamente com suas organizações parcei-

ras, que o ocorre a transformação de conhecimento em riqueza. Em outras palavras, é

em nível da indústria e das empresas que o processo de inovação ocorre.

A despeito dos intensos e relevantes esforços de políticas públicas empreendidos

ao longo das últimas décadas no Brasil, tais iniciativas apresentam algumas im-

portantes limitações. A primeira limitação é que o foco dessas iniciativas recai,

em grande parte, no lado da oferta da infraestrutura científico-tecnológica.

Em muitos casos, a ênfase tende a ser mais científica do que tecnológica. Menor

ênfase parece ter sido dada a ações que objetivem a criação e a acumulação de

capacidades tecnológicas para inovação em nível da indústria e de empresas,

ou seja, no lado da demanda. A segunda limitação é que, a despeito do arcabou-

ço robusto de programas de apoio à inovação em diversos setores industriais,

incluindo modalidades variadas de financiamento, muito pouco (ou quase

O Brasil é tipicamente uma economia de renda média.

Está estacionado nesta condição há mais de 50 anos.

Muito pouco (ou quase nada) tem sido feito em termos da avaliação da eficácia desses

esforços em termos da exten-são do aumento da capacida-de inovadora e da competiti-vidade em nível da indústria.

Menor ênfase parece ter sido dada a ações que objetivem a criação e a

acumulação de capacidades tecnológicas para inovação em nível da indústria e de empresas, ou seja, no lado da demanda.

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9RESUMO EXECUTIVO

nada) tem sido feito em termos da avaliação da

eficácia desses esforços em termos da exten-

são do aumento da capacidade inovadora e da

competitividade em nível da indústria.

Por outro lado, tem havido no Brasil, tanto no

âmbito de governo, da indústria, da academia,

como de setores da sociedade concernidos com

a problemática do desenvolvimento industrial,

uma profusão de interpretações divergentes

e entendimentos, ora por demais estreitos,

ora equivocados sobre o processo de inovação,

desenvolvimento e competitividade industrial. É

importante mencionar que a proliferação de con-

ceitos, interpretações e terminologias limitadas,

e mesmo equivocadas, deturpa o desenho de es-

tratégias de ação e compromete o alcance de uma

convergência de esforços e de uso de recursos.

Tem havido no Brasil uma profusão de interpretações divergentes e entendimen-tos, ora por demais estrei-tos, ora equivocados sobre o processo de inovação, desenvolvimento e compe-titividade industrial.

Este estudo objetiva oferecer

insumos que contribuam para

aprimorar o debate e as ações, em

nível de governo e da indústria,

orientados ao fortalecimento da

competitividade industrial no Bra-

sil. Chama a atenção para a urgen-

te necessidade do fortalecimento

da competitividade industrial

no Brasil e examina algumas das

principais propriedades da inovação e das capacidades

tecnológicas como fontes essenciais para a competi-

tividade industrial. Este estudo também examina os

processos pelos quais as empresas de economias em

desenvolvimento podem acumular suas capacidades

tecnológicas para o alcance de liderança tecnológica e

comercial (catch-up tecnológico) e o papel dos mecanis-

mos subjacentes de aprendizagem tecnológica.

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10 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

01

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11RESUMO EXECUTIVO

Introdução

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12 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

01 . IntroduçãoEsforços para criação e fortalecimento de um sistema de ciência, tecnologia e

inovação (CT&I) para apoiar o desenvolvimento industrial no Brasil entraram

formalmente na agenda de ação governamental no Brasil no final dos anos

1960. Esses esforços foram materializados por meio da implementação do

Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (PND, 1972/74) e do Primeiro

Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCT, 1973/74)

seguidos do PBDCTs II e III.

Esforços dessa natureza foram retomados a partir do início da década de 1990. O

início dos anos 1990 marcou o fim formal das políticas de industrialização à base

substituição de importações (SI), que prevaleceram durante o período de 1940-

1980s. A redução de barreiras comerciais e a abertura da economia à competição

estrangeira, com o aumento resultante do investimento direto estrangeiro (IDE),

funcionou como uma “política implícita” para estimular os investimentos das

empresas em construção de capacidades tecnológicas industriais.

A Política de Comércio Industrial e Externo foi implementada para estimular

o desenvolvimento de capacidades industriais. De 1995 a 2002, o governo

federal se engajou na estruturação dos fundos setoriais por meio da criação

de 17 fundos em nível setorial para complementar os recursos financeiros

tradicionais e apoiar o desenvolvimento industrial. O fortalecimento do sistema

de CT&I permitiu que surgissem novos projetos de pesquisa com importantes

efeitos no desenvolvimento tecnológico de alguns setores industriais relevan-

tes para a economia brasileira. Tais ações contribuíram para a expansão da

infraestrutura tecnológica, promover vínculos entre universidades e indústrias

e fortalecer a competitividade.

Ainda durante a década de 1990, o governo federal, por meio do Ministério da

Ciência e Tecnologia, liderou uma meritória iniciativa de sistematizar, de manei-

ra detalhada e exaustiva, os vários elementos relacionados ao sistema de CT&I

considerados necessários ao desenvolvimento nacional, através da edição do

documento Ciência, tecnologia e inovação: desafio para a sociedade brasileira – Li-

vro verde (BRASIL, 2001). Em setembro de 2001, como resultado da Conferência

Nacional de CT&I, foi gerado o Livro branco da ciência, tecnologia e inovação, cujo

objetivo é “apontar caminhos para que a Ciência, Tecnologia e Inovação possam

contribuir para a construção de um País mais dinâmico, competitivo e socialmen-

te mais justo” (BRASIL, 2002: 21) para o período 2002-2012.

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13CAPÍTULO 01 | INTRODUÇÃO

Durante o período de 2003 ao início da década de

2010, o governo federal implementou políticas pú-

blicas caracterizados pela forte participação estatal

no processo de desenvolvimento industrial. Entre

essas ações incluem-se a Lei da Inovação (Lei nº

10.973/2004) e da Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005).

A Lei de Inovação buscou estimular a cooperação

para pesquisa conjunta entre empresas e universida-

des e permitiu que pesquisadores das universidades

públicas obtivessem receita adicional de atividades

de consultoria; também criou um programa para

fundos não reembolsáveis para apoiar atividades

inovadoras de nível empresarial. A Lei do Bem criou

incentivos fiscais para empresas que se envolvem

em atividades de inovação tecnológica.

As políticas subsequentes incluíram o Plano de

Desenvolvimento Produtivo (PDP, 2007-2010)

com metas de curto prazo, foco em vários setores

industriais e apoio do Banco Nacional de Desen-

volvimento Econômico e Social – BNDES para

suportar as estratégias de internacionalização

das empresas individuais, juntamente com fusões

e aquisições. O Plano Brasil Maior (2011-2014)

expandiu a cobertura setorial e procurou proteger

certos setores industriais da concorrência inter-

nacional. Porém, tanto o PDP como o Plano Brasil

Maior foram ineficazes na promoção da inovação

e diversificação industrial, como seria de se espe-

rar das “políticas industriais” modernas.1

Em paralelo, especialmente a partir de 2011, o

governo federal lançou a Estratégia Nacional de

Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI), a qual

tem passado por diversas revisões de conteúdo

e de período abrangência, sendo a última versão

cobrindo o horizonte até 2022. Entre as ações

prioritárias da ENCTI destacam o enfrentamento

dos seguintes desafios:

1 Redução da defasagem científica e tecnológi-ca que ainda separa o Brasil das nações mais desenvolvidas; 

2 Expansão e consolidação da liderança brasilei-ra na economia do conhecimento da natureza;

3 Ampliação das bases para a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento de uma econo-mia de baixo carbono;

4 Consolidação do novo padrão de inserção internacional do Brasil;

5 Superação da pobreza e redução das desigual-dades sociais e regionais. 

A despeito dos intensos e relevantes esfor-

ços de políticas públicas empreendidos ao

longo das últimas décadas, tais iniciativas

apresentam algumas importantes limitações.

A primeira limitação é que o foco dessas

iniciativas recai, em grande parte, no lado

da oferta da infraestrutura científico-tec-

nológica. Em muitos casos, a ênfase tende a

ser mais científica do que tecnológica. Menor

ênfase parece ter sido dada a ações que objeti-

vem a criação e a acumulação de capacidades

tecnológicas para inovação em nível da indús-

tria e de empresas, ou seja, no lado da demanda.

A segunda limitação é que, a despeito do arcabou-

ço robusto de programas de apoio à inovação em

diversos setores industriais, incluindo modalida-

des variadas de financiamento, muito pouco (ou

quase nada) tem sido feito em termos da ava-

liação da eficácia desses esforços em termos da

extensão do aumento da capacidade inovadora

e da competitividade em nível da indústria.

Por outro lado, tem havido no Brasil, tanto no

âmbito de governo, da indústria, da academia,

como de setores da sociedade concernidos com

a problemática do desen-

volvimento industrial, uma

profusão de interpretações

divergentes e entendimen-

tos, ora por demais estrei-

tos, ora equivocados sobre

o processo de inovação,

desenvolvimento indus-

trial e de competitividade

industrial. É importante

Muito pouco (ou quase nada) tem sido feito em termos da avaliação da eficácia desses esforços em termos da extensão do aumento da capacidade inovadora e da competitivi-dade em nível da indústria.

1. Almeida & Schneider (2012).

O foco dessas iniciativas recai, em grande par-te, no lado da oferta da infra-estrutura cientí-fico-tecnológica.

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14 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

mencionar que a proliferação de conceitos,

interpretações e terminologias limitadas, e mes-

mo equivocadas, deturpa o desenho de estra-

tégias de ação e compromete o alcance de uma

convergência de esforços e de uso de recursos.

Este documento objetiva oferecer uma contribuição

para superar algumas dessas limitações. Especifi-

camente, o propósito deste documento é oferecer

insumos que contribuam para aprimorar o debate e

ações sobre a realidade da capacidade inovadora e

da competitividade da indústria brasileira. Ao fazer

isso, este documento pode contribuir para a geração

de insumos para ações, em nível de governo e da

indústria, orientados ao fortalecimento da competi-

tividade industrial no Brasil.

Este documento está estruturado da seguinte

maneira. A Seção 2 apresenta a base analítica

deste estudo. A Seção 3 aborda a necessidade do

fortalecimento da competitividade industrial no

Brasil como uma das estratégias fundamentais

para o crescimento econômico do País. A Seção

4 ressalta a importância da indústria para o

crescimento econômico. A Seção 5 examina as

principais propriedades da inovação, enquanto

que a Seção 6 examina a capacidade tecnológica

como recurso essencial para a realização de

atividades inovadoras. A Seção 6 também inclui

o importante tema da mensuração de capacida-

des tecnológicas. A Seção 7 introduz diferen-

tes modos de catch-up tecnológico, enquanto

que a Seção 8 introduz o tema de trajetórias

de catch-up tecnológico. A Seção 9 examina a

importância de mecanismos de aprendizagem

para acumulação de capacidades tecnológicas.

Finalmente, à luz da base analítica deste estudo

e das evidências documentadas em estudos

relevantes, vários deles aqui referenciados,

a Seção 10 dedica especial ênfase a algumas

recomendações práticas orientadas ao fortale-

cimento da competitividade industrial brasileira.

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15CAPÍTULO 01 | INTRODUÇÃO

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02

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Base Analítica do Estudo

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18 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

02. Base Analítica do Estudo

A base analítica que dá sustentação a este estudo envolve a relação

entre a acumulação de capacidades tecnológicas, os mecanismos

subjacentes de aprendizagem (fontes para capacidades tecnológi-

cas) e os impactos gerados em termos de competitividade à luz de

mudanças na moldura institucional.

Essa base analítica do estudo está representada na Figura 2.1

abaixo. Este tipo de esquema e estrutura é importante para fornecer

avanços em termos de novo entendimento sobre a relação entre as

questões estudadas, assim como um claro esclarecimento aos gesto-

res públicos e industriais sobre as diferenças e semelhanças entre as

empresas, no que diz respeito às causas e resultados da formação e

acumulação de capacidades tecnológicas para inovação e competiti-

vidade. Isso é importante para adaptar suas políticas e estratégias de

negócios. A seguir, são esclarecidos os significados dos elementos da

base analítica apresentada na Figura 2.1.

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19CAPÍTULO 02 | BASE ANALÍTICA DO ESTUDO

FIGURA 2.1

BASE ANALÍTICA DO ESTUDO

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2001, 2003, 2009, 2011, 2015) e de Bell & Figueiredo (2012)

PROCESSOS E ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO

MECANISMOS INTRA E INTERORGANIZACIONAIS

DE APRENDIZAGEM TECNOLÓGICA

(INVESTIMENTOS EM AQUISIÇÃO E ASSIMILAÇÃO DE CONHECIMENTO)

Investimentos em insumos

para a acumulação de

capacidades tecnológicas em

nível de empresas e indústrias

DACUMULAÇÃO

DE CAPACIDADES TECNOLÓGICAS (ESTOQUE DE

RECURSOS COGNITIVOS)

Direção e velocidade

da acumulação de

capacidades para

atividades tecnológicas

operacionais e de

inovação em nível de

empresas e indústrias

A BCrescimento

econômico

COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

• Implementação de

inovações com graus de

novidades diversas:

novos para a empresa,

para a economia e/ou

para o mundo

• Melhoria de performance operacional (ex. aumento

de produtividade,

redução de custos)

• Melhoria de performance ambiental

• Melhoria de performance comercial

• Melhoria de performance econômica (ex. melhoria

de lucro operacional)

APRIMORAMENTO DE PERFORMANCE INOVADORA E

COMPETITIVA DE EMPRESAS E INDÚSTRIAS:

IMPACTOS DA ACUMULAÇÃO DE CAPACIDADES TECNOLÓGICAS

C

INFLUÊNCIAS INDIRETAS, EM NÍVEL DA INDÚSTRIA E DA ECONOMIA, NA ACUMULAÇÃO DE CAPACIDADES TECNOLÓGICAS:

• Natureza das políticas públicas

• Moldura institucional: estabilidade e clareza das ‘regras do jogo’ relativas a marcos regulatórios

para diversos segmentos da economia da indústria

• Oferta e qualidade de instituições de apoio à inovação (universidades, centros de formação e

treinamento, institutos de pesquisa) e a qualidade dos talentos e pesquisa e

estudos por eles gerados.

E

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20 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

A - Acumulação de capacidades tecnológicas:

Capacidades tecnológicas são definidas aqui como

os recursos (base de conhecimento) para gerir

e gerar inovações tecnológicas. Com relação às

capacidades tecnológicas,

faremos uma distinção entre as

capacidades tecnológicas para

produção e para inovação. Em

outras palavras, as capacidades

tecnológicas envolvem o capital

humano (profissionais), que não

se limita a cientistas com PhD, mas inclui engenhei-

ros, técnicos e operadores; o capital físico, represen-

tado por laboratórios, bancos de dados, software,

etc.; e o capital organizacional, que inclui processos

organizacionais, procedimentos e rotinas, além de

unidades organizacionais.

É importante ressaltar que

esse processo de acumula-

ção de capacidades tecnoló-

gicas, tanto para atividades

de produção como para

atividades de inovação,

ocorre em nível de empresas

e indústrias. É no âmbito da

indústria e suas empresas,

apoiadas por sua rede de parceiros, que se dá a

transformação de conhecimento em riqueza. Como

será mostrado mais adiante neste documento, o

processo de acumulação de capacidades inovado-

ras, assim como o processo de inovação dele de-

corrente, são árduos, arriscados e imprevisíveis. As

empresas, por sua vez, são entidades acumuladoras

de conhecimento e de aprendizado. Especificamen-

te, empresas são um repositório de capacidades

tecnológicas em diversas áreas de especialidade²

Tais capacidades são acumuladas de maneira

idiossincrática. Ao mesmo tempo, elas são movi-

das pelo incentivo econômico para transformar

conhecimento em aplicação prática e em riqueza.

Assim, é importante destacar o importante papel

da indústria e das empresas no processo de seu

fortalecimento da competitividade no crescimento

e desenvolvimento econômico nacional³.

Neste estudo o termo indústria é tratado de forma

abrangente, tal como se usa na língua inglesa, e inter-

nacionalmente. Ou seja, compreende-se “indústria”

para além da manufatureira ou de transformação.

Engloba, assim, uma ampla gama de atividades que

vão da indústria agrícola, aeroespacial, automobilís-

tica, petróleo e gás, defesa, serviços de engenharia

entre outros vários setores industriais, até a indús-

tria da gastronomia, indústria de cinema e televisão,

turismo e esportiva.

B - Processo e estratégias de inovação:

Com base nas capacidades tecnológicas acumula-

das, as empresas (e países) podem se engajar em um

processo de inovação. A perspectiva sobre inovação

adotada neste estudo, e em linha com a literatura

relevante, é abrangente e não se limita somente à

alta tecnologia de fronteira ou a atividades de P&D.

A inovação pode derivar de uma forte base de

engenharia nas empresas. Por exemplo, na indús-

tria de máquinas alemães, líderes globais em vários

segmentos, grande parte das atividades inovadoras

deriva, de uma sólida engenharia e ferramentaria

capaz de fazer modificações básicas em produtos e

processos. Inovação é entendida, assim, como um

processo e não como evento isolado.

Essa noção sobre inovação transcende as perspec-

tivas limitadas que a equiparam somente a ativi-

dades altamente complexas derivadas de esforço

científico em sofisticados laboratórios de P&D.

Assim, uma ampla ideia de inovação abrange a im-

plementação de mudanças em produtos/serviços,

processos e sistemas organizacionais e gerenciais –

da adaptação menor para a avançada. As atividades

Capacidades tecnológicas são definidas aqui como os recursos (base de conheci-

mento) para gerir e gerar inovações tecnológicas.

É importante ressaltar que esse processo de acumulação de capacidades tecnológicas, tanto para atividades de pro-dução como para atividades

de inovação, ocorre em nível de empresas e indústrias

A perspectiva sobre inovação adotada neste estudo transcende as perspectivas limitadas que

a equiparam somente a atividades altamente complexas derivadas de esforço científico em

sofisticados laboratórios de P&D.

2. Wang and von Tunzelmann (2000).

3. Dosi (1988); Lall (1992); Bell and Pavitt (1995).

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21CAPÍTULO 02 | BASE ANALÍTICA DO ESTUDO

incluem imitação duplicativa, imitação criativa, até

as mais sofisticas ações de design e desenvolvimen-

to à base de engenharia e P&D. Essas atividades

podem ter graus de novidade que variam de novas

para a empresa a novas para a economia, como

também para o mercado internacional.

C - ‘Impactos’ da acumulação de capacidades

tecnológicas:

Referem-se aos impactos das capacidades inovado-

ras e de aprendizagem sobre o desempenho das em-

presas e da indústria. A maneira como as empresas

acumulam suas capacidades tecnológicas impacta

na sua performance competitiva. Especificamente,

o alcance de performance distintiva está associado

aos tipos e níveis de capacidade tecnológica que

as firmas acumulam. Estes permitem às empresas

implementar atividades de produção e, principal-

mente, de inovação. Como a inovação agrega valor

a produtos e serviços, esta possui impacto direto no

crescimento da indústria e da economia. Por meio

da inovação, podem-se ampliar mercados, criar

demandas novas, antecipar-se a demandas do mer-

cado e, consequentemente, conquistar e assegurar

mercados internos e internacionais. Desse modo, a

acumulação de capacidades tecnológicas, especial-

mente as inovadoras, impacta no alcance, sustenta-

ção e ampliação da competitividade industrial. Por

conseguinte, as capacidades tecnológicas, em nível

de empresas e indústrias, constituem insumo funda-

mental para o crescimento industrial e econômico.

D - Mecanismos intra e interorganizacio-

nais de aprendizagem tecnológica (Influên-

cias diretas no processo de acumulação de

capacidades tecnológicas):

Referem-se aos vários mecanismos pelos quais as

empresas formam e acumulam suas capacidades

inovadoras. Em outras palavras, a ‘aprendizagem

tecnológica’ será analisada como insumos ou fontes

essenciais para formação da capacidade de inova-

ção das empresas. Portanto, se as empresas bus-

cam aprofundar suas capacidades inovadoras

para inovar, elas precisarão envidar esforços

na aprendizagem intensiva para adquirir e

assimilar conhecimentos tecnológicos. Neste

estudo, entende-se que a aprendizagem, como

insumo para a formação e acumulação de

capacidades para inovar é um processo cons-

ciente, intencional – não automático e passivo

– que demanda esforços e investimentos deli-

berados por parte de empresas e governos.

E - Influencias indiretas, em nível da indústria

e da economia, na acumulação de capacidade

tecnológica em nível de empresas:

É óbvio o papel exercido pelas estruturas

institucionais no processo de desenvolvi-

mento tecnológico e industrial de uma nação.

Muito embora o processo de inovação ocorra

em nível de empresas, as universidades e

institutos de pesquisa apoiam esse processo

de várias formas: fornecendo capital humano

qualificado, complementando atividades de

pesquisa demandadas pela indústria, gerando

ciência que pode ser utilizada pela indús-

tria – embora não haja linearidade; ou seja, a

produção de ciência nas universidades e insti-

tutos públicos de pesquisa não significa necessa-

riamente a geração de inovação industrial, e em

vários casos a inovação industrial não depende

da ciência produzida em universidades.

Trata-se aqui das políticas em nível federal, es-

tadual e local, desenvolvidas intencionalmente,

isto é, regulamentos, leis, normas, regras do jogo,

instruções de política e programas que possuem

objetivos implícitos e explícitos para influenciar

no desenvolvimento do sistema de CT&I. As

regularidades do comportamento incluídas

nas orientações de política, normas, regras, leis

e rotinas podem criar inventivos positivos ou

negativos que estimulam ou inibem o progresso

tecnológico nas empresas selecionadas e pro-

gresso industrial nas empresas e indústrias.

A maneira como as empresas acumulam suas capacidades tecnológicas impacta na sua performance competitiva.

A ‘aprendizagem tecnológica’ será analisada como insumos ou fontes essenciais para formação da capacidade de inovação das empresas.

Embora o pro-cesso de ino-vação ocorra em nível de empresas, as universidades e institutos de pesquisa apoiam esse processo de várias formas.

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22 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

03

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23RESUMO EXECUTIVO

Imperativo do Fortalecimento da Competividade Industrial no Brasil

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24 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

03. Imperativo do Fortalecimento da Competividade Industrial no BrasilNo contexto deste estudo, competitividade

industrial significa a capacidade que as indústrias

dos países têm de aumentar os seus ganhos de

produtividade e sua participação em mercados

domésticos e, principalmente, internacionais, ao

mesmo tempo que desenvolvem setores indus-

triais e atividades com níveis crescentes de valor

agregado e de conteúdo tecnológico. Competi-

tividade industrial envolve, especificamente, a

habilidade de países em produzir bens e serviços

de maneira a atender e/ou superar os padrões de

competição internacional.4

Aprisionamento na Armadilha da Renda MédiaPaíses que estão presos na assim chamada

“armadilha da renda média” são países que, de

um lado, possuem custos de produção altos que

os impedem de competir com as economias

exportadoras de baixo custo; por outro lado,

esses países ainda não tem uma capacidade

tecnológica para inovação suficientemente alta

para competir contra as economias avançadas.5

Um estudo bem conhecido publicado há alguns

anos mostra que apenas 13 dos 101 países que

eram de renda média na década de 1960 haviam

escapado da “armadilha de renda média” e se tor-

naram economias de alta renda até 2008, entre

eles a Coréia do Sul e Taiwan (ver Figura 3.1).6

Um outro estudo, ainda mais elaborado, argu-

menta que países que continuam presos no nível

de renda média tem crescido muito lentamente

(YE e ROBERTSON, 2016). Considerando que

o crescimento econômico depende do desem-

penho das empresas, o que, por sua vez, reflete

suas capacidades de inovação tecnológica, os

países de renda média devem fechar a lacuna

de capacidades tecnológicas e engajar-se em

4. UNIDO (2013).

5. Gill e Kharas (2007); Lee e Kim (2009).

6. Banco Mundial (2013).

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25CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

“catch-up tecnológico”. Com isso, podem reduzir

ou fechar seu hiato de renda com países de alta

renda (“catch-up econômico”).7 Porém, é preciso

lembrar que a noção de “catch-up tecnológico”

adotada e defendida neste estudo transcende a

perspectiva de mero “emparelhamento”, o que

refletiria uma trajetória tecnológica seguidora.

7. Lee (2013).

FIGURA 3.1

PAÍSES QUE ‘ESCAPARAM’ DA ARMADILHA DA RENDA MÉDIA A PARTIR DE 1960

0

1

2

3

4

5

0 1 2 3 4 5 6

20

08

1960

BOTSWANA

CHINA

OMÃ

BRASIL

TAIWAN

RENDA MÉDIA À ALTA

TORNANDO-SE MAIS RICO

RENDA BAIXA À MÉDIA

“ARMADILHA” DE RENDA MÉDIA

TORNANDO-SE POBRE

“ARMADILHA” DA RENDA BAIXA

GRÉCIA

MALÁSIA

CORÉIA DO SUL

BURUNDINIGER

ESTADOS UNIDOS

SUÍCA

KUWAIT

ARGENTINA

ISRAEL

CORÉIA DO NORTE

Fonte: Adaptado de World Bank (2016).

De fato, alguns países que iniciaram seu processo

de industrialização nos anos 1950, conseguiram

escapar da armadilha da renda média obtiveram

significativo aumento de ganhos de produtivida-

de. Grande parte do aumento dessa produti-

vidade se explica pela acumulação de capa-

cidades tecnológicas, em nível de indústrias

e empresas. A Figura 3.2 mostra a evolução da

renda média per capita de um grupo de países. Já

a Figura 3.3 nos mostra que a renda per capita

do Brasil tem crescido a uma velocidade muito

menor que as das economias congêneres.

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26 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FIGURA 3.2

EVOLUÇÃO DO PIB PER CAPITA PARA PAÍSES SELECIONADOS (1960-2011)(US$ DE 2005, MEDIDO PELO PPC)

BRASIL

JAPÃO

CHINA

CORÉIA DO SUL

ALEMANHA

MÉXICO

ÍNDIA

ESTADOS UNIDOS

50.000

45.000

40.000

35.000

30.000

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

0

1960 1963 1966 1969 1972 1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 1902 1905 1908 1911

1981-2013 7,7 4,3 3,0 0,6 1,91,1

1981-1990

1991-2000

2001-2010

2011-2013

ÍNDIA

3,3

4,3

6,3

3,2

CHINA

6,0

6,3

11,0

7,1

CHILE

0,8

4,6

2,9

4,3

MÉDIAGLOBAL

MÉXICO

-1,1

0,8

1,5

1,7 1,9

2,0

2,6

1,40,2

BRASIL

1,1

2,5

0,6

Fonte: Adaptado de World Bank (2016).

FIGURA 3.3

CRESCIMENTO DA RENDA PER CAPITA DO BRASIL FRENTE A OUTRAS ECONOMIAS EMERGENTES

Fonte: Adaptado de World Bank (2016).

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27CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

Na Figura 3.2 chama a atenção o significativo e

consistente aumento da renda da Coréia do Sul.

Já na Figura 3.3 chama a atenção a velocidade

do crescimento da renda da China e da Índia. No

caso da Coréia do Sul, vale lembrar que durante a

década de 1950, destruída por uma guerra, iniciou

seu processo de industrialização de modo similar à

do Japão. Similarmente, Taiwan ingressou em pro-

cesso similar de industrialização que se caracteri-

zou, inicialmente, pela construção de capacidades

tecnológicas para operar tecnologias e sistemas

de produção já existentes, por exemplo produzir

certos tipos de produtos já produzidos pelos paí-

ses líderes globais, como por exemplo, automóveis

e produtos eletrônicos. Em paralelo, houve uma

acumulação de capacidades para alterar tecno-

logias e sistemas de produção existentes e até

mesmo, posteriormente, para criar sua própria

tecnologia, como a de design para automóveis.

A história nos mostra que países que

conseguiram escapar da assim cha-

mada armadilha da renda média são

países que obtiveram forte desen-

volvimento industrial. Em paralelo,

países que, nos últimos 40 a 50 anos

obtiveram crescimento sustentável

de sua renda, também obtiveram

significativo aumento de ganhos de

produtividade. Tais países também

intensificaram a presença de suas indústrias e em-

presas no mercado internacional. Por isso, neste

estudo competitividade envolve produtividade e

participação no mercado internacional.

Países que, nos últimos 40 a 50 anos obtiveram crescimento sustentável de sua renda, também obtiveram significativo aumento de ganhos de produtividade.

Evolução da Produtividade do Trabalho no Brasil8 Os ganhos de propriedade podem garantir o au-

mento do padrão de vida das sociedades.9 Basica-

mente, países com a mesma quantidade de fatores

de produção por trabalhador poderão ter padrões

de vida diferentes se diferirem na eficiência com

que combinam esses fatores. Tal eficiência depende

de diversos aspectos da economia: instituições,

disponibilidade e qualidade da infraestrutura, am-

biente macroeconômico e de negócios e, principal-

mente, de capacidades tecnológicas inovadoras em

nível da indústria e suas empresas.

Considerando-se a produtividade como um dos

indicadores de competitividade, é importante

esclarecer como medir a produtividade. Uma das

medidas mais usadas é a produtividade do trabalho.

Do ponto de vista de um país, a produtividade do

trabalho é calculada pelo PIB gerado em média por

cada trabalhador. Fica claro que a mesma métrica

pode ser calculada para uma indústria (setor indus-

trial) ou uma empresa.

A produtividade do trabalho é uma medida muita

próxima do PIB per capita, métrica usada na seção

anterior para auferir o padrão de vida dos países.

A renda per capita e produtividade do trabalho

costumam evoluir de maneira semelhante. A

Figura 3.4 ilustra esse ponto para o caso brasileiro.

Entretanto, a despeito das semelhanças, nota-se

um deslocamento crescente entre a produtividade

do trabalho e o PIB per capita brasileiro ao longo

do tempo. Por exemplo, de acordo com o Instituto

de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), calcula-se

que mais do que 90% do crescimento da renda

per capita no período de 1992 a 2001 deveu-se à

elevação da produtividade do trabalho.10

8. Baseado em Pinheiro et al. (2016)

9. Krugman (1994).

10. Cavalcante e De Negri (2014).

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28 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

No período de 2001 a 2009, apenas pouco mais da

metade foi explicada pelos ganhos de produtivida-

de. O restante foi devido à evolução favorável de

variáveis relacionadas ao ciclo econômico (aque-

cimento do mercado de trabalho) e à demografia.

Assim, a redução dos níveis de desemprego e o

bônus demográfico explicam uma parcela significa-

tiva do crescimento do PIB per capita mais recente.

Considerando que não é possível reduzir indefini-

damente a taxa de desemprego e considerando que

os benefícios demográficos estão se exaurindo, não

será possível contar com esses fatores no futuro.

Dessa maneira, a melhoria do padrão de vida dos

brasileiros dependerá cada vez mais de incremen-

tos na produtividade do trabalho.

FIGURA 3.4

PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E PIB PER CAPITA NO BRASIL (1996 = 100)

95

100

105

110

115

120

125

130

135

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

PRODUTIVIDADE DO TRABALHO PIB PER CAPITA

Fonte: Adaptado de IBGE (2015).

Mesmo o crescimento recente de produtividade

não se mostrou muito significativo, principalmente

se comparado com países em estágio similar de

desenvolvimento. De acordo com a Figura 3.5

entre os países em desenvolvimento seleciona-

dos, o Brasil apresenta a segunda menor taxa

para o período mais recente, apenas superior à

do México (0,5%). Não só países emergentes com

conhecidas taxas elevadas de crescimento econô-

mico recente, como a China (9,7%) e a Índia (5,5%),

apresentaram valores superiores aos do Brasil,

como também a Rússia (4,2%), Indonésia (3,7%),

Argentina (4%) e África do Sul (1,8%).

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29CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

Adicionalmente, os países desenvolvidos

geralmente apresentam taxas de crescimento

menores do que os países em desenvolvimento.

Chama atenção o fato de que o desempenho do

Brasil foi apenas um pouco melhor do que o de

boa parte dos países em estágios mais adianta-

dos de desenvolvimento. E não se trata de um

fenômeno recente; não é por acaso que o país

não tem conseguido reduzir a distância que o

separa dos países mais ricos.

FIGURA 3.5

TAXAS MÉDIAS ANUAIS DE CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO PARA PAÍSES SELECIONADOS

(A PREÇOS EM US$ CONSTANTES DE 2005) – 1990-2011 (%)

1990-2000 2001-2011

-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1,51,2

-2,41,8

3,74,0

9,19,7

2,73,7

3,55,5

1,0

0,5

-2,44,2

1,4

0,6

1,80,2

5,1

2,8

2,21,4

1,30,7

1,6-0,4

0,9

1,0

2,31,0

BRASIL

MÉXICO

ÍNDIA

INDONÉSIA

ARGENTINA

ÁFRICA DO SUL

CHINA

ITÁLIA

ALEMANHA

FRANÇA

RÚSSIA

CANADÁ

ESTADOS UNIDOS

REINO UNIDO

CORÉIA DO SUL

JAPÃO

Fonte: Adaptado de Feenstra, Inklaar e Timmer (2015).

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30 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

O fraco desempenho da produtividade do trabalho no Brasil também fica evidencia-

do quando a análise é desa-gregada em nível setorial

O fraco desempenho da produ-

tividade do trabalho no Brasil

também fica evidenciado quan-

do a análise é desagregada em

nível setorial, como pode ser

visto na Figura 3.6. Enquanto a

segunda metade da década de 1990 foi marcada por

um efeito negativo (-0,7%) da taxa média de cresci-

mento da produtividade, a primeira década dos anos

2000 foi marcada por um crescimento modesto

dessa taxa (1,1%). No entanto, verifica-se que, desde

a crise mundial em 2008, principalmente a partir

de 2010, o Brasil encontra-se em um momento de

taxas menores de crescimento e com perspectiva de

quedas ainda maiores diante do fraco desempenho

econômico de 2014 e do começo de 2015, atingindo

uma taxa de crescimento médio da produtividade de

apenas 1,1% entre 2010 e 2014.

FIGURA 3.6

TAXAS MÉDIAS DE CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO NO BRASIL POR SETORES (%)

-4 -2 0 2 4 6 8 10

TOTAL

AGROPECUÁRIA

INDÚSTRIA

EXTRATIVA MINERAL

TRANSFORMAÇÃO

CONSTRUÇÃO CIVIL

SIUP

SERVIÇOS

-0,7

-1,5-0,4

-0,9

-1,32,0

3,1

-1,7

-2,0-0,7

0,9

-1,50,0

-2,9

0,90,0

-1,20,9

0,2

1,2

1,1

2,34,3

9,7

1996-2000 2000-2010 2010-2014

Nota: O cálculo da produtividade do trabalho no período de 1996 a 2014 foi feito com base na razão entre o valor adicionado e o número de pes-soal ocupado, usando deflatores setoriais anuais de acordo com as tabelas de recursos e usos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os valores de pessoal ocupado para os anos de 2012 e 2013 foram estimados com base nas variações publicados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), enquanto, no ano de 2014, com base nas variações publicadas na PNAD Contínua.

Fonte: Adaptado de IBGE (2015).

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31CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

Quando a produtividade do trabalho é desa-

gregada pela agropecuária, indústria (total,

extrativa mineral, transformação, construção

civil e Serviços Industriais de Utilidade Pública

– SIUP) e serviços, verifica-se, ainda pela Figura

3.6, o fraco desempenho da indústria total, com

taxas médias muito baixas de crescimento e um

efeito negativo de 0,9% entre 2010 e 2014 e de

-2% para a manufatura no mesmo período. Por

outro lado, a agropecuária e a indústria extrati-

va mineral apresentaram um crescimento signi-

ficativo da produtividade do trabalho nos anos

2000, principalmente no período mais recente

entre 2010 e 2014, com taxas médias de cresci-

mento de 9,7% para a agricultura e de 3,1% para

a indústria extrativa mineral. Já os setores de

serviços e de construção civil apresentaram um

crescimento modesto nos anos 2000, abaixo de

1%, enquanto os SIUP obtiveram um resultado

negativo nesse mesmo período.

Dessa maneira, conclui-se que o crescimento

verificado da produtividade do trabalho após os

anos 2000, ainda que baixo, deveu-se princi-

palmente ao setor agropecuário e à indústria

extrativa mineral, uma vez que a indústria de

transformação teve desempenho negativo e o

setor de serviços pouco variou. Para entender

melhor quais são as atividades econômicas, em

níveis ainda mais desagregados, que afetaram

esse resultado, a Figura 3.7 mostra as taxas

médias anuais de crescimento da produtividade

do trabalho para alguns setores selecionados no

período de 2000 a 2011, último período divulga-

do e atualizado pela nova metodologia de cálculo

do IBGE para esse nível de desagregação.

Pela Figura 3.7, verifica-se que a maioria dos

setores da indústria apresentou uma taxa de

crescimento negativa da produtividade do

trabalho no período analisado. Na manufatura,

apenas os setores automotivo e de fumo apre-

sentaram taxa de crescimento superior ao total

da economia. As indústrias de celulose e papel,

eletrônica, produtos de metal, farmacêutica,

outros transportes e móveis/diversos também

apresentaram taxas positivas, embora os valo-

res sejam pequenos. A agropecuária apresenta

o maior crescimento médio anual no período,

enquanto a maior parte dos serviços, com des-

taque para as intermediações financeiras e de

seguros, apresentou taxas positivas.

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32 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FIGURA 3.7

TAXAS MÉDIAS ANUAIS DE CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO TOTAL POR SETORES, 2000-2011 (%)

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

AGROPECUÁRIA

INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA/ SEGUROS

AUTOMOTIVO

ATIVIDADES IMOBILIÁRIAS

FUMO

COMÉRCIO

ALOJAMENTO/ALIMENTAÇÃO

SAÚDE PÚBLICA

OUTROS DA INDÚSTRIA EXTRATIVA

CELULOSE/PAPEL

ELETRÔNICO

SERVIÇOS DOMÉSTICOS

METAL

FARMACÊUTICO

TRANSPORTE/ARMAZENAGEM/CORREIO

CONSTRUÇÃO CIVIL

SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO

OUTROS TRANSPORTES

ELETRICIDADE/GÁS/ÁGUA/ESGOTO

MÓVEIS/DIVERSOS

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

IMPRESSÃO/GRAVAÇÃO

CIMENTO/MINERAIS NÃO-METÁLICOS

QUÍMICA (LIMPEZA, TINTAS)

ETANOL

OUTROS SERVIÇOS

TÊXTIL

MADEIRA

QUÍMICA

SERVIÇOS MANUTENÇÃO/REPARAÇÃO

PEÇAS AUTOMOTIVAS

SAÚDE PRIVADA

AÇO E DERIVADOS

ALIMENTOS/BEBIDAS

BORRACHA/PLÁSTICO

EDUCAÇÃO PRIVADA

EDUCAÇÃO PÚBLICA

METALURGIA

CALÇADOS/COURO

MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

VESTUÁRIO

MINÉRIO DE FERRO

PETRÓLEO/GÁS NATURAL

REFINO PETRÓLEO

5,1

4,2

3,4

2,9

1,9

1,7

1,5

1,5

1,3

1,2

1,1

1,0

0,8

0,7

0,6

0,4

0,3

0,2

0,1

0,1

0,1

-0,2

-0,5

-0,5

-0,6

-0,6

-1,0

-1,1

-1,3

-1,6

-1,6

-1,7

-1,8

-2,1

-2,3

-2,4

-2,5

-2,8

-3,3

-3,5

-3,6

-4,3

-4,3

-6,0

Fonte: Adaptado de IBGE (2015).

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33CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

Indústrias importantes como minério de ferro e

petróleo/gás natural, apresentaram taxas de cresci-

mento negativas expressivas no período analisado,

ambos com -4,3%. Isso sugere que o crescimento da

indústria extrativa total apresentado na Figura 3.7

deveu-se a outros produtos, como carvão mineral,

minerais não metálicos e minerais metálicos não

ferrosos (apresentados como outros da indústria

extrativa, com crescimento médio de 1,3%).

Contudo, esse resultado deve ser analisado com

cautela, uma vez que a produtividade do trabalho

não verifica o ganho de eficiência do capital, o que

pode distorcer o resultado devido ao fato de o setor

ser altamente intensivo nesse fator. Alternativa-

mente, deve-se considerar o aumento expressivo

da produção desses produtos verificado nesse

período, principalmente com o minério de ferro, bem

como seu crescente impacto na pauta exportadora

brasileira, deu-se mais pelo fator preço do que pelo

aumento da eficiência na produção. Como as séries

estão deflacionadas, verifica-se que a quantidade de

trabalhadores apresentou uma taxa de crescimento

maior do que o valor agregado nessas indústrias.

Portanto, a produtividade do trabalho (assim como

a produtividade total dos fatores) reflete e interfere

na competitividade e no crescimento industrial. É re-

levante, assim, considerarmos o ritmo de crescimen-

to da produtividade. De acordo

com a Tabela 3.1, enquanto a

produtividade da China cresceu a

uma média anual de 10% durante

o período (2001-2011), a do

Brasil cresceu apenas 1,2% no

mesmo período. Outros indicado-

res de competitividade industrial,

tais como custo da mão de obra, taxa de imposto

corporativo e custo médio da eletricidade para a

indústria, também comprometem a competitividade

industrial no Brasil relativamente a de outros países,

particularmente outros emergentes.

A produtividade do tra-balho (assim como a produtividade total dos fatores) reflete e interfere na competitividade e no crescimento industrial.

PAÍSES

CUSTOS DA

MÃO DE OBRA

(US$/H) 2011

PRODUTIVIDADE DO TRABALHO

(PIB POR PESSOA

EMPREGADA) 2011

TAXA MÉDIA DE CRESCIMENTO

ANUAL DA PRODUTIVIDADE

DO TRABALHO (2001-2011)

TAXA DE IMPOSTO

CORPORATIVO (2012)

CUSTO MÉDIO DA

ELETRICIDADE PARA

INDÚSTRIA (US CENTS POR KWH)

2013

ALEMANHA 46.4 43,3 0,7 33 15.7

CANADÁ 38.3 49,5 0,4 31 7.4

ESTADOS UNIDOS 35.4 68,2 1,4 39,1 6.9

JAPÃO 35.4 44,6 1 38 17.9

CINGAPURA 21.9 50,3 2,9 17 15.6

COREIA DO SUL 17.7 45,2 2,9 24,2 7.3

TAIWAN 9.2 52,9 3,2 17 8.3

CHINA 2.8 14,2 10,8 25 7.4

ÍNDIA 0.9 8,9 5,5 32,4 10.1

BRASIL 12 13,7 1,2 34 15.4

TABELA 3.1

ALGUNS INDICADORES QUE REFLETEM A COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL ENTRE PAÍSES

Fonte: Deloitte (2015).

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34 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Engajamento do Brasil no Mercado Internacional Tanto as exportações como as importações bra-

sileiras refletem determinado nível de compe-

tividade industrial do país. Pois, dentre outros

fatores indicam algum grau de integração com o

mercado internacional, com a economia de ou-

tros países, por meio da inserção de produtos.

Engajamento via Exportações

No que diz respeito às exportações, a Figura

3.8 mostra que entre as economias avançadas

a participação das exportações no PIB da Ale-

manha cresceu de menos de 30% em 1995 para

mais de 50% em 2013. No Reino Unido, essa

participação é de mais de 30%, na França é de

menos de 30% e no Japão é de mais de 15%.

FIGURA 3.8

EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES NO PIB DOS PAÍSES COM ECONOMIAS AVANÇADAS (% 1970-2015)

ESTADOS UNIDOS

ALEMANHA

REINO UNIDO

FRANÇA JAPÃO

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 20150

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Fonte: World Bank (2016).

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35CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

No contexto de economias emergentes, a Figura

3.9 mostra que as participações das exportações

da África do Sul, Índia, China, México e Rússia

variam entre 25% e acima de 30%. Porém, no

Brasil, essa participação é de pouco mais que 10%

e inferior a da Argentina. Essa evolução da partici-

pação das exportações no PIB brasileiro pode ser

examinada com mais detalhe na Figura 3.10.

FIGURA 3.9

EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES NO PIB DE ECONOMIAS EMERGENTES (%, 1970-2015)

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 20150

10

20

30

40

50

60

70

ÍNDIA

ÁFRICA DO SUL

MÉXICO

ARGENTINA

RÚSSIA

BRASIL CHINA

4

6

8

10

12

14

16

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

Fonte: World Bank (2016)

FIGURA 3.10

EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES NO PIB BRASILEIRO (%, 1970-2015)

Fonte: World Bank (2016).

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36 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

A baixa e decrescente (especialmente a partir de

2005) participação das exportações no PIB do

Brasil reflete-se na evolução do saldo comercial

brasileiro: evoluiu pouco mais do que US$ 40 bi

em 2006 para próximo de zero em 2013 pas-

sando por uma leve recuperação em 2015. Tal

recuperação parece influenciada pela desvalori-

zação do real (Figura 3.11).

FIGURA 3.11

EVOLUÇÃO DO SALDO COMERCIAL BRASILEIRO (US$ BILHÕES, 1980-2015)

-20

-10

0

10

20

30

40

50

1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

Fonte: MDIC (2016).

Por outro lado, a Tabela 3.2 mostra que o volume

das exportações brasileiras de produtos manufa-

turados tem sido inferior à de economias avan-

çadas e economias emergentes. Mais importante

ainda: a sua taxa de crescimento tem sido extre-

mamente inferior a de economias emergentes

como Índia e China.

TABELA 3.2

EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE PRODUTOS MANUFATURADOS (2000-2012)

PAÍSES 2000 (US$ BILHÕES)

2012 (US$ BILHÕES)

% TAXA MÉDIA ANUAL DE CRESCIMENTO

ALEMANHA 463,5 1.153,8 7,9

ESTADOS UNIDOS 648,9 974,7 3,4

CANADÁ 177,0 213,7 1,6

JAPÃO 450,4 718,7 4,0

CINGAPURA 118,5 285,8 7,6

CHINA 219,2 1.925,8 19,9

ÍNDIA 33,0 190,5 15,7

BRASIL 31,9 84,9 8,5

Fonte: World Bank (2014).

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37CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

Engajamento via Importações Assim como as exportações, as importações

também refletem a competitividade industrial de

um país. Especificamente, um alto fluxo de impor-

tações, associado a um alto fluxo de exportações,

reflete uma integração competitiva de um país

no mercado mundial. As importações oferecem

vantagens a um país, tais como:

1 Podem ser fontes e bases para atividades exportadoras;

2 Refletem a participação de um país em ca-deias globais de produção e de inovação;

3 São fontes de redução de custo e de ganhos de eficiência produtiva;

4 Possibilidade de formação de parcerias com fornecedores internacionais e oportunida-des de aprendizagem tecnológica; e

5 Aumento do conteúdo estrangeiro das ex-portações (o que reflete alta integração com

o mercado internacional).

As Figuras 3.12 e 3.13

mostram, respectivamente, a

evolução da participação de

algumas economias avançadas

e de algumas economias emer-

gentes, no comércio mundial.

Conforme a Figura 3.12, algumas economias avan-

çadas (por exemplo Estados Unidos e Alemanha)

ainda conseguem manter um engajamento com-

petitivo no mercado internacional. No contexto de

economias emergentes, observa-se que o desem-

penho do Brasil está aquém do desempenho de

China, Índia, México e, até mesmo, da Rússia.

FIGURA 3.12

EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DE ALGUMAS ECONOMIAS AVANÇADAS NO COMÉRCIO MUNDIAL

(US$ BILHÕES, 1970-2015)

Vo

lum

e d

e ex

port

açõ

es e

impo

rtaç

ões P

articipação n

o co

mércio

mu

nd

ial

ESTADOS UNIDOS

0,09%

0,10%

0,11%

0,12%

0,14%

0,15%

0,16%

0,18%

US$ 500 bi

US$ 1 tri

US$ 1,5 tri

US$ 2 tri

US$ 2,5 tri

US$ 3 tri

US$ 3,5 tri

0

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

Assim como as expor-tações, as importações também refletem a com-petitividade industrial de um país.

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38 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASILV

olu

me

de

expo

rtaç

ões

e im

port

açõ

es Participação

no

com

ércio m

un

dial

3,0%

3,8%

4,6%

5,4%

6,2%

7,0%

US$ 200 bi

US$ 400 bi

US$ 600 bi

US$ 800 bi

US$ 1 tri

REINO UNIDO

0

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

Vo

lum

e d

e ex

port

açõ

es e

impo

rtaç

ões P

articipação n

o co

mércio

mu

nd

ial

2,0%

3,2%

4,4

5,6%

6,8%

8,0%

US$ 200 bi

US$ 400 bi

US$ 600 bi

US$ 800 bi

US$ 1 tri

FRANÇA

0

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

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39CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

ALEMANHA

Vo

lum

e d

e ex

port

açõ

es e

impo

rtaç

ões P

articipação n

o co

mércio

mu

nd

ial

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

6,0%

7,0%

8,0%

9,0%

10,0%

11,0%

0

US$ 400 bi

US$ 800 bi

US$ 1,2 tri

US$ 1,6 tri

US$ 2 tri

Vo

lum

e d

e ex

port

açõ

es e

impo

rtaç

ões P

articipação n

o co

mércio

mu

nd

ial

0,0%

1,6%

3,3%

5,0%

6,6%

8,3%

10,0%

US$ 200 bi

US$ 400 bi

US$ 600 bi

US$ 800 bi

US$ 1 tri

US$ 1,2 tri

JAPÃO

0

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

Fonte: World Bank (2016).

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40 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASILV

olu

me

de

expo

rtaç

ões

e im

port

açõ

es Participação

no

com

ércio m

un

dial

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

0,0%

2,0%

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

12,0%

US$ 500 bi

US$ 1 tri

US$ 1,5 tri

US$ 2 tri

US$ 2,5 tri

US$ 3 tri

0

CHINA

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

Vo

lum

e d

e ex

port

açõ

es e

impo

rtaç

ões P

articipação n

o co

mércio

mu

nd

ial

0,0%

0,1%

0,2%

0,3%

0,4%

0,5%

0,6%

0

US$ 20 bi

US$ 40 bi

US$ 60 bi

US$ 80 bi

US$ 100 bi

US$ 120 bi

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

ARGENTINA

FIGURA 3.13

EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DE ALGUMAS ECONOMIAS EMERGENTES NO COMÉRCIO MUNDIAL

(US$ BILHÕES, 1970-2015)

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41CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

Vo

lum

e d

e ex

port

açõ

es e

impo

rtaç

ões P

articipação n

o co

mércio

mu

nd

ial

0,0%

0,5%

1,0%

1,5%

2,0%

2,5%

US$ 100 bi

US$ 200 bi

US$ 300 bi

US$ 400 bi

US$ 500 bi

MÉXICO

0

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

Vo

lum

e d

e ex

port

açõ

es e

impo

rtaç

ões P

articipação n

o co

mércio

mu

nd

ial

ÁFRICA DO SUL

0 0,3%

0,4%

0,5%

1,0%

0,7%

0,8%

1,1%

1,3%

US$ 20 bi

US$ 40 bi

US$ 60 bi

US$ 80 bi

US$ 100 bi

US$ 120 bi

US$ 140 bi

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

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42 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

0

ÍNDIA

Vo

lum

e d

e ex

port

açõ

es e

impo

rtaç

ões P

articipação n

o co

mércio

mu

nd

ial

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

0,0%

0,5%

1,0%

1,5%

2,0%

2,5%

3,0%

US$ 100 bi

US$ 200 bi

US$ 300 bi

US$ 400 bi

US$ 500 bi

US$ 600 bi

Vo

lum

e d

e ex

port

açõ

es e

impo

rtaç

ões P

articipação n

o co

mércio

mu

nd

ial

0,0%

0,8%

1,7%

2,5%

3,4%

4,2%

5,1%

6,0%

US$ 100 bi

US$ 200 bi

US$ 300 bi

US$ 400 bi

US$ 500 bi

US$ 600 bi

US$ 700 bi

RUSSIA

0

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

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43CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

Vo

lum

e d

e ex

port

açõ

es e

impo

rtaç

ões P

articipação n

o co

mércio

mu

nd

ial

0,4%

0,7%

1,0%

1,3%

1,6%

US$ 100 bi

US$ 200 bi

US$ 300 bi

US$ 400 bi

BRASIL

0

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS

PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS

EXPORTAÇÕES

IMPORTAÇÕES

Fonte: World Bank (2016).

Abertura de Mercado A integração internacional de uma economia refle-

te, em grande parte, a sua competitividade. Empre-

sas e produtos com maior presença no comércio

mundial têm, na maioria dos casos, produtividade

e competitividade maiores. Isso se deve a fatores

variados, tais como:

1 Necessidade da inovação para concorrência no mercado internacional;

2 Grau mais elevado de eficiência produtiva em empresas internacionalizadas.

São várias as medidas de integração internacional

de uma economia. Usualmente analisa-se pri-

meiramente o papel que essa

economia tem no comércio

internacional em termos de

corrente de comércio, tipo de

produtos exportados e impor-

tados e destino das exportações e importações.

Ademais, avalia-se como a economia posiciona-se

em relação às cadeias globais de valor, atual para-

digma do comércio internacional em que empre-

sas ao redor do mundo tornam-se responsáveis

apenas pela produção de uma parte do produto

final – normalmente, aquela em que são mais

competitivas. A economia brasileira é tipicamente

fechada. A Figura 3.14 mostra que o Brasil possui

uma participação no comércio mundial inferior à

sua relevância no PIB mundial.

A integração interna-cional de uma economia reflete, em grande parte, a sua competitividade.

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44 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FIGURA 3.14

PARTICIPAÇÃO NO PIB E NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS – 2013 (EM MILHÕES DE US$, VALORES CORRENTES)

BRASIL

ÍNDIA

CHINA

ALEMANHA

FRANÇA

CANADÁ

ESTADOS UNIDOS

REINO UNIDO

CORÉIA DO SUL

JAPÃO

RÚSSIA

0%

5%

10%

15%

20%

25%

0% 2% 4% 6% 8% 10% 12%

Par

tici

paçã

o n

o P

IB m

un

dia

l

Participação nas exportações mundiais

Fonte: Adaptado de UNCTAD (2015).

Outro indicador que reflete

a baixa inserção do Brasil no

comércio internacional frente

às outras economias é o índice

de abertura de mercado (open

market index – OMI) elabora-

do pela Câmera Internacional de Comércio11. Esse

índice é composto por quatro categorias:

1 Abertura comercial, que envolve indicadores como proporção do comércio no PIB e impor-tação de mercadorias e serviços per capita;

2 Regime de política comercial, que envolve indicadores de barreiras tarifárias e de efici-ência na administração alfandegária;

3 Abertura para investimento direto estrangei-ro (IDE); e

4 Infraestrutura voltada ao comércio, que envol-ve indicadores como desempenho logístico e de infraestrutura das telecomunicações. Este índi-ce envolve um sistema de pesos, que variam de 1 a 6. Quanto mais próximo de 6 maior é o grau de abertura da economia12. O resultado desse indicador para alguns países selecionados no ano de 2015 é mostrado na Figura 3.15

Outro indicador que reflete a baixa inserção do Brasil no

comércio internacional frente às outras economias é o índi-

ce de abertura de mercado

11. Ver ICC (2015).

12. Para maiores detalhes da metodologia ver ICC (2015).

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45CAPÍTULO 03 | IMPERATIVO DO FORTALECIMENTO DA COMPETIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL

FIGURA 3.15

ÍNDICE DE ABERTURA DE MERCADO (OMI) PARA PAÍSES SELECIONADOS, 2015

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0

BRASIL

MÉXICO

ÍNDIA

INDONÉSIA

ARGENTINA

ÁFRICA DO SUL

CHINA

ITÁLIA

ALEMANHA

FRANÇA

RÚSSIA

CANADÁ

ESTADOS UNIDOS

REINO UNIDO

CORÉIA DO SUL

JAPÃO

4,3

4,2

4,1

3,9

3,8

3,7

3,6

3,6

3,3

3,1

3,1

3,1

2,6

2,5

2,3

3,0

Fonte: Adaptado de ICC (2015).

De acordo com a Figura 3.15, o Brasil possui o

menor índice de abertura de mercado dentre

os países selecionados, atrás de outros países

emergentes comparativos como Argentina, Índia,

China, Indonésia, México, Rússia e África do Sul.

O Brasil possui o menor índice dentre todos os

países do G20, e de que o seu valor se mantêm

constante desde o primeiro cálculo em 2011,

ao contrário de países como

México e Rússia que vêm

apresentando maiores níveis

no decorrer do tempo13.

O Brasil possui o menor índice de abertura de

mercado dentre os países do G20.

O Brasil possui o menor índi-ce de abertura de mercado dentre os países do G20.

13. ICC (2015).

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46 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

04

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47RESUMO EXECUTIVO

Importante Papel da Indústria no Crescimento Econômico

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48 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

04. Importante Papel da Indústria no Crescimento Econômico Participação da Indústria no PIB Brasileiro Com base em um levantamento realizado pela

Deloitte, a Figura 4.1 mostra a taxa média de

crescimento real do PIB versus a taxa média de

crescimento do produto industrial. Em termos

de proporção da manufatura no PIB nacional, o

Brasil encontra-se em posição inferior a econo-

mias emergentes como a Rússia, México, Polônia,

República Checa, Tailândia e China.

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49CAPÍTULO 04 | IMPORTANTE PAPEL DA INDÚSTRIA NO CRESCIMENTO ECONÔMICO

Rea

l Mfg

CA

GR

(20

05

-10

)%

PIB real CAGR (2005-10)%

REPÚBLICA CHECA

CINGAPURA

POLÔNIA

ÍNDIA

CHINA

TAIWAN

CORÉIA DO SUL

MALÁSIA

BRASIL

CANADÁ

REINO UNIDO

FRANÇA

GRÉCIA

JAPÃORÚSSIA

MÉXICO

ESTADOS UNIDOS

TAILÂNDIA

-4,5

-2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

-0,5

3,5

7,5

11,5

MGF PIB% DO PIB (2010): < 16%

Cor da bolha indica produto industrial como uma proporção do PIB real

MGF PIB% DO PIB (2010): 16% - 30%

MGF PIB% DO PIB (2010): > 30%

Tamanho da bolha indica o PIB de produção (2010)

US$ 100 BÍLHÕES

US$ 1 TRILHÃO

FIGURA 4.1

TAXA MÉDIA DE CRESCIMENTO REAL DO PIB VERSUS A TAXA MÉDIA DE CRESCIMENTO DO PRODUTO INDUSTRIAL

Fonte: Deloitte (2015).

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50 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Com relação ao volume do produto industrial,

a Figura 4.1 mostra que o Brasil encontra-se

em posição melhor do que algumas economias

emergentes e avançadas. Porém, está extrema-

mente inferior à da China.

Tem havido, de fato, uma crescente importância

da indústria de serviços na composição dos PIBs

de países, especialmente do ponto de vista de

valor agregado, em relação à indústria manu-

fatureira e à indústria agrícola. Isso pode ser

observado na Figura 4.2 (contexto de economias

avançadas) e Figura 4.3 (contexto de economias

emergentes, incluindo o Brasil).

Conforme mostra a Figura 4.2, entre as eco-

nomias avançadas, a participação da indústria

manufatureira no PIB (com base no valor

agregado) tem declinado continuamente ao

longo das últimas décadas e anos. Em 2013,

essa participação chegou a menos de 15% nos

Estados Unidos, Reino Unido e França. Porém,

na Alemanha, encontra-se acima de 20%. Nes-

sas economias, a participação da indústria de

serviços chega, em média, a 80%.

Já no contexto das economias emergentes, a Figura

4.3 mostra que, com exceção da China, a parti-

cipação da indústria manufatureira alcança, em

média, menos de 20%. Na China, a participação da

indústria manufatureira e não manufatureira chega

a mais de 40% do PIB. Enquanto que no México e

na Rússia essa participação chega a pouco menos

de 40%. No Brasil essa participação chega a pouco

mais de 20%, tendo sido 40% em 1970. A da indús-

tria manufatureira alcançou em 2013 aproximada-

mente 13%, tendo sido mais de 20% em 1970.

Ainda no contexto das economias emergentes, a

Figura 4.3 mostra que a participação da indústria

de serviços no PIB dessas economias (pelo

valor agregado) tem sido, em média, de 60%.

Na China, essa participação é de cerca de 50%,

enquanto que no México é de 60%. No Brasil, a

participação da indústria de serviços no PIB em

2013 alcançou mais de 70%.

FIGURA 4.2

EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO DO PIB – ECONOMIAS AVANÇADAS (% DO PIB, 1970-2015) – PERSPECTIVA DO

VALOR ADICIONADO

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

ESTADOS UNIDOS

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

0

20

40

60

80

100

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51CAPÍTULO 04 | IMPORTANTE PAPEL DA INDÚSTRIA NO CRESCIMENTO ECONÔMICO

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

REINO UNIDO

0

20

40

60

80

100

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

FRANÇA

0

20

40

60

80

100

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

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52 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

0

20

40

60

80

ALEMANHA

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

0

20

40

60

80

JAPÃO

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

Fonte: Adaptado de World Bank (2016).

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53CAPÍTULO 04 | IMPORTANTE PAPEL DA INDÚSTRIA NO CRESCIMENTO ECONÔMICO

FIGURA 4.3

EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO DO PIB – ECONOMIAS EMERGENTES (% DO PIB, 1970-2015) – PERSPECTIVA DO

VALOR ADICIONADO

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

CHINA

0

20

40

60

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

ARGENTINA

0

20

40

60

80

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

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54 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

0

20

40

60

80

MÉXICO

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

ÁFRICA DO SUL

0

20

40

60

80

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

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55CAPÍTULO 04 | IMPORTANTE PAPEL DA INDÚSTRIA NO CRESCIMENTO ECONÔMICO

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

ÍNDIA

0

20

40

60

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

0

20

40

60

80

RÚSSIA

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

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56 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

AGRICULTURA INDÚSTRIA

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA INDÚSTRIA NÃO MANUFATUREIRA

SERVIÇOS

BRASIL

0

20

40

60

80

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

Fonte: Adaptado de World Bank(2016).

Com o aumento da participação da indústria de

serviços no PIB (e na criação de empregos) de eco-

nomias avançadas e emergentes, tem-se difundido

uma noção de diminuição da

importância da indústria de

manufatura para os países.

Assim, o padrão de crescimen-

to econômico seria determina-

do pela indústria de serviços.

A importância crescente do

setor de serviços no PIB de

economias em desenvolvimen-

to, como é a do Brasil, não dei-

xa de ser preocupante. Afinal,

ao contrário das economias

avançadas, nas economias

em desenvolvimento (com exceção da China) tem

havido uma diminuição da participação da indústria

de transformação no PIB muito antes de essas

economias terem aumentado seu nível de renda.

De fato, a estrutura da economia também é impor-

tante para determinar a competitividade de um país.

Em particular, relevância tem sido devotada à indús-

tria manufatureira, uma vez que ela poderia gerar:

1 Maior valor agregado do que as outras ativi-dades econômicas;

2 Maior exploração de economias de escala;

3 Maiores efeitos multiplicadores sobre o restante da economia e maiores possibili-dades de engajamento em cadeias globais de valor; e

4 Maiores oportunidades tecnológicas e inovação, além de efeitos de transbordamen-to para outros setores. Por conta disso, o deslocamento de economias em desenvolvi-mento na direção da indústria manufatureira aumentaria a capacidade exportadora dos países, o que poderia puxar seu crescimento de forma sustentável e sem restrições no

balanço de pagamentos.

Ao contrário das econo-mias avançadas, nas econo-

mias em desenvolvimento (com exceção da China)

tem havido uma diminuição da participação da indús-tria de transformação no PIB muito antes de essas

economias terem aumenta-do seu nível de renda.

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57CAPÍTULO 04 | IMPORTANTE PAPEL DA INDÚSTRIA NO CRESCIMENTO ECONÔMICO

Porém, há que se ter cautela ao se adotar uma

perspectiva binária sobre a importância da in-

dústria manufatureira e de serviços: um processo

de “desindustrialização” versus um crescimento

vertiginoso dos serviços. É preciso considerar as

seguintes razões e mudanças:

Durante as últimas três décadas, as mudanças advin-

das do processo de globalização, e as consequentes

alterações no processo de inovação, modificaram

drasticamente no mundo a configuração e o fun-

cionamento da indústria (no sentido de transforma-

ção). As empresas têm se tornado cada vez menos

dependentes da geografia. Passaram a realocar não

apenas a sua produção para localidades de custos

mais competitivos, mas também passaram, lideradas

por empresas multinacionais (EMNs) de economias

avançadas passaram a descentralizar suas ativida-

des inovadoras, incluindo a P&D, para economias

emergentes. Por outro lado, as atividades inova-

doras, tanto em empresas locais como em EMNs e

suas subsidiárias, deixaram de se concentrar apenas

no âmbito das empresas individuais. Cada vez mais,

as atividades inovadoras têm sido distribuídas ou

decentralizadas para uma variedade grande de

organizações parceiras, algumas delas em indústrias

distintas. Por isso, não é surpresa que tem havido,

em nível internacional, especialmente nas economias

avançadas, uma diminuição das atividades inovado-

ras internas de pesquisa e desenvolvimento (P&D).14

A natureza das atividades industriais tem se mo-

dificado tanto em nível de atividades de produção

(operacionais) como em termos de atividades de

inovação, muito embora a separação entre essas

duas seja muito tênue. Em termos de atividades

de produção, tem havido uma intensificação do

uso de avançadas técnicas de manufatura e de

produção, em geral, à base de robotização, Inter-

net das coisas, big data e computação em nuvem.

Tais avanços tem proporcionado a emergência de

novos modelos de produção como, por exemplo,

a manufatura 4.0. Esses novos modelos aliam-se

inovações na organização da produção, como

por exemplo, a lean manufacturing, que permitem

consideráveis ganhos de produtividade. A abor-

dagem de manufatura 4.0, representa uma fusão

entre os sistemas físicos com elementos digitais

que transformam as fábricas convencionais em

“smart factories”. Estas podem se comunicar umas

com outras em nível da mesma empresa ou de

diferentes empresas e indústrias. Porém, é preciso

enfatizar que as discussões e esforços em torno

das “smart factories” podem obscurecer a ênfase

em atividades inovadoras. Em outras palavras, é

preciso chamar a atenção que a adoção de ou en-

gajamento em “smart factories” pode conduzir uma

empresa ou setor industrial a operar na fronteira

tecnológica da produção, mas não necessaria-

mente na fronteira tecnológica da inovação.15

Em termos de atividades inovadoras tem havido uma

forte tendência à interdependência das atividades.

Em outras palavras, à medida que o processo de

inovação torna-se cada vez mais fragmentado e de-

composto tanto em nível intra-firma, especialmente

de EMNs, como em nível intra-industrial e inter-na-

cional, as empresas tendem a manter internamente

apenas uma estreita fatia de atividades inovadoras,

especialmente P&D. Assim, o processo de inovação

é crescentemente marcado por esforço colabo-

rativo. Além disso, há o fenômeno da interação da

manufatura com as atividades de serviços no intuito

de agregar valor a produtos e serviços.

Não obstante, é importante mencionar que a in-

dústria de manufatura, especialmente no contexto

de economias em desenvolvimento, serve de base

para o atendimento de demandas correntes e

futuras, para a acumulação de capacidades tec-

nológicas inovadoras e para o aproveitamento de

janelas de oportunidades abertas por novas tec-

nologias. Também é importante considerar que a

produtividade na indústria manufatureira tende a

crescer mais rapidamente do que a produtividade

na indústria de serviços. É importante mencionar

a crescente interdependência que tem ocorrido

entre as atividades de manufatura e de serviços:

14. Laursen & Salter (2006).

15. Bell &Figueiredo (2012).

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58 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

1 De um lado, diversas empresas de manufatura têm, cada vez mais, terceirizado as suas ativida-des para empresas de serviços (por exemplo, processamento de dados, logística e outras);

2 De outro lado, diversas empresas de manu-fatura de produtos têm desenvolvido ativi-dades e novas linhas de negócios baseadas em serviços. O intuito é agregar valor aos produtos a partir das atividades de serviços;

3 Adicionalmente, a indústria agrícola gera enormes impactos nas atividades da indústria manufatureira. Isso se dá em termos de de-

manda por máquinas e implementos agrícolas, fertilizantes e estruturas de armazenamento;

4 Também demanda intensamente atividades de serviços: da tecnologia de informação à logística. Por isso, tem-se uma relação muito mais interdependente do que binária ou polarizada; e

5 Desse modo, movendo-se além de uma pers-pectiva binária sobre a importância da indústria manufatureira e de serviços para a economia, é necessário considerar a participação da econo-mia de um país no mercado mundial.

Tipos de Indústria e sua Importância Relativa na EconomiaAs Figuras 4.4 e 4.5 apresentam dados da

evolução das exportações brasileiras desagre-

gadas por tipos de indústria. Como sugere a

Figura 4.4, as exportações do agronegócio têm

superado as da exportação de manufaturas ao

longo do tempo.

FIGURA 4.4

EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS POR SETOR (US$ BILHÕES, 1997-2012)

Fonte: Agrostat Brasil (2014); MAPA (2014); MDIC (2014); World Bank (2014).

50

100

150

250

200

300

0

2011 20122009 20102007 20082005 20062003 20042001 20021999 20001997 1998

EXPORTAÇÃO DO AGRONEGÓCIO EXPORTAÇÃO DO BRASIL

EXPORTAÇÃO DE MANUFATURADOS EXPORTAÇÃO DE DEMAIS SETORES

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59CAPÍTULO 04 | IMPORTANTE PAPEL DA INDÚSTRIA NO CRESCIMENTO ECONÔMICO

FIGURA 4.5

EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS POR INDÚSTRIAS DE ACORDO COM SUA

“INTENSIDADE TECNOLÓGICA” (%, 1997-2017)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

20172015201320112009200720052003200119991997

PRODUTOS NÃO INDUSTRIAIS INDÚSTRIA DE BAIXA TECNOLOGIA

INDÚSTRIA DE MÉDIA-ALTA TECNOLOGIA INDÚSTRIA DE MÉDIA-BAIXA TECNOLOGIA

INDÚSTRIA DE ALTA TECNOLOGIA

Fonte: MDIC (2017).

Desagregando-se as exportações de acordo com

a assim chamada “intensidade tecnológica” das

indústrias, constata-se que, de fato, tem havido

maior participação das indústrias relacionadas

a recursos naturais na pauta de exportações do

Brasil. Trata-se de um fenômeno presente em

toda a América Latina (Figura 4.6).

FIGURA 4.6

EVOLUÇÃO DOS VALORES DAS EXPORTAÇÕES POR INDÚSTRIAS DE ACORDO COM SUA “INTENSIDADE

TECNOLÓGICA” (US$ BILHÕES, 1997-2017)

0

50

100

150

200

250

300

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

PRODUTOS NÃO INDUSTRIAISINDÚSTRIA DE BAIXA TECNOLOGIAINDÚSTRIA DE MÉDIA-ALTA TECNOLOGIA

INDÚSTRIA DE MÉDIA-BAIXA TECNOLOGIAINDÚSTRIA DE ALTA TECNOLOGIATOTAL

Fonte: MDIC (2017).

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60 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Porém, este estudo defende uma perspectiva

mais compreensiva tanto em relação às classifica-

ções convencionais sobre a intensidade tecnológi-

ca das indústrias quanto em relação à participação

das indústrias relacionadas a recursos naturais na

economia e na pauta exportadora:

1 A inovação tecnológica está presente em todos os tipos de atividade industrial e não apenas das indústrias assim-chamadas de “alta tecnologia” (como, por exemplo, aeroespacial, eletrônica, automobilística etc.). Durante as últimas décadas, tem havido avan-ços tecnológicos formidáveis no campo da agricultura alimentar e florestas (genômica, novos materiais), assim como em indústrias como de energia renovável e mineração.

2 A participação de indústrias relacionadas a recursos naturais na economia e na pauta exportadora não deveria ser considerada “ruim” para os países. As indústrias relacio-nadas a recursos naturais, contrariamente ao que se argumenta, oferecem enormes oportunidades para inovação, desenvolvi-mento industrial e impactos positivos no crescimento econômico (ver Boxe 1).

A inovação tecnológica está presente em todos os tipos de atividade industrial e não apenas das

indústrias assim-chamadas de “alta tecnologia”.

Este estudo defende uma perspectiva mais com-preensiva tanto em relação às classificações

convencionais sobre a intensidade tecnológica das indústrias quanto em relação à participação

das indústrias relacionadas a recursos naturais na economia e na pauta exportadora.

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61CAPÍTULO 04 | IMPORTANTE PAPEL DA INDÚSTRIA NO CRESCIMENTO ECONÔMICO

BOXE 1

INDÚSTRIAS RELACIONADAS A RECURSOS NATURAIS: CRESCENTE DEPENDÊNCIA DA

AMÉRICA LATINA E DO BRASIL E OPORTUNIDADES PARA INOVAÇÃO

Os países que são ricos em recursos naturais e países de renda baixa e média, entre eles os países latino-amer-icanos de forma destacada, enfrentam continuamente um suposto dilema: se eles devem abraçar uma rota baseada em recursos naturais, especialização, ou diversificar longe dos recursos naturais (NRs). No passado, a escolha tinha se inclinado fortemente para o último. Os países latino-americanos buscavam estimular setores de manufatura através de uma estratégia de substituição de importações às custas de seus setores de recursos tradicionais. Após o boom de commodities da última década e o aumento da dependência das commodities de países ricos em recursos, a questão é mais uma vez importante na agenda política. Há fortes indícios de que países ricos em recursos de renda baixa e média vão continuar a tentar afastar-se de suas vantagens naturais e incentivar o investimento em setores industriais não relacionados a recursos naturais.

No entanto, a evidência histórica alerta para o risco dessa dicotomia simplista. A história está repleta de experiências negativas de países tentando usar indústrias de alta tecnologia para incentivar processos de crescimento e desenvolvimento sustentados sem muito sucesso (por exemplo, Guatemala, Honduras, El Salvador) e de experiências positivas de países que têm sido capazes de usar seus recursos naturais como um motor de crescimento e desenvolvimento (por exemplo, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Noruega, Suécia e Finlândia). Em suma, não se sustenta a tese simplista de que a exploração dos recursos naturais afeta o desenvolvimento econômico negativamente. O que parece diferir no desen-cadeamento de um círculo vicioso ou virtuoso são as respostas políticas internas para lidar com os riscos e as potencialidades dos recursos naturais.

A dependência de recursos naturais pode promover o desenvolvimento econômico quando sustentada por esforços para acumular capacidades tecnológicas para inovar em torno desses recursos. A exploração da riqueza dos recursos naturais torna-se um caminho viável para o desenvolvimento quando complementada com investimentos em habilidades, aprendizagem, conhecimento, educação e capacidade de inovação. Na verdade, quando combinadas com os esforços de inovação e dinamismo tecnológico, as atividades de recursos naturais podem oferecer a possibilidade de:

1 Crescimento da produtividade comparável à manufatura;

2 Aumento da competitividade vis-à-vis os países produtores com salários muito mais baixos;

3 Aumentos nas dotações de recursos naturais próprios. Por exemplo, as reservas de petróleo e minerais aumentam com a aplicação de técnicas de exploração, produção e de serviços de engenharia avançados;

4 Diversificação para produtos de maior valor e atividades relacionadas de uma base de recursos forte.

Essa interpretação mais ampla é importante para os formuladores de políticas em países latino-americanos. Isto porque as recentes mudanças nas condições mundiais fornecem aos países ricos em recursos uma nova “janela de oportunidades” para usar a abundância de recursos naturais para impulsionar o crescimento e desenvolvimento. Mudanças na demanda por recursos naturais e em bases de conhecimento possibilitam o aumento das oportunidades de inovação nessas indústrias.

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62 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Importância da Inovação Industrial para o Crescimento Econômico Os benefícios da inovação para o crescimento

industrial e progresso econômico foram identi-

ficados desde 1776 por economistas e pensa-

dores, como Adam Smith, Stuart Mill, Alexis de

Tocqueville e outros notáveis estudiosos. Porém,

foi Joseph Schumpeter (1883-1950) que, a partir

de 1911, não só trouxe a inovação tecnológica

para o centro do debate sobre desenvolvimento

econômico, como nos forneceu uma perspectiva

ampliada de inovação. Tal perspectiva ampliada

de inovação envolvia imitação, experimentação,

adaptação de processos e de produtos, novos

arranjos organizacionais, novas fontes de energia

e matérias-primas, assim como P&D. Ele também

nos trouxe a noção de inovação como recombina-

ção de conhecimentos ou tecnologias existentes.

Schumpeter contribuiu para ampliar a perspectiva

sobre inovação para além de processo e produto.

Por isso, defendeu que inovação também envolve:

1 Introdução de novos produtos;

2 Introdução de novos métodos de produção;

3 Abertura de novos mercados;

4 Desenvolvimento de novas fontes provedo-ras de matérias-primas e outros insumos; e

5 Criação de novas estruturas de mercado. Defendeu que o conceito de inovação não se restringe a produtos e processos, mas envol-ve, também, novas formas de gestão (para articulação das novas combinações), novos mercados e novos insumos de produção. Porém, após o trabalho de Schumpeter houve muitos avanços nas décadas subsequentes sobre as perspectivas acerca da inovação e sua importância para crescimento econômico.

Assim, tecnologias existentes distintas podem ser

recombinadas para a criação de um novo produto,

processo de produção ou serviço, com grau de

novidade mundial. É o caso do etanol de cana-de-

-açúcar. Trata-se de um exemplo de produto com

grau de novidade mundial que foi criado a partir

da recombinação de tecnologias existentes.16

Schumpeter não se limitou a enfatizar o papel de

empreendedores individuais; na segunda fase de seu

trabalho, ele reconheceu a importância das grandes

empresas inovadoras no desenvolvimento eco-

nômico de países. Ocorre que os empreendedores

continuam a ter enorme importância no processo de

inovação. Atualmente, eles tomam a forma, de um

lado, de proprietários de negócios, de vários tipos e

tamanhos; de outro lado, eles são representados por

engenheiros, técnicos e gestores de empresas (em-

preendedores intra-corporativos). Esses dois tipos

de profissionais, em função de seu talento, criativi-

dade e visão de negócio, têm sido responsáveis por

importantes inovações, de vários tipos, ao longo das

últimas décadas: de produtos eletrônicos a serviços

de saúde para a população de baixa renda.

Schumpeter tornou-se também famoso pelo

desenvolvimento do conceito de destruição

criativa. Segundo Schumpeter, a economia pro-

gride por meio da mutação industrial que, por sua

vez, revoluciona constantemente sua estrutura:

novas tecnologias e novos produtos substituem

constantemente os antigos e desafiam monopó-

lios, indústrias e empresas ícones do mercado.

Deste modo, a emergência de novas tecnologias,

geralmente a partir de inovações radicais, con-

tribuíram para o aparecimento de novas indús-

trias e empresas, as quais abrem caminho para a

emergência de inovações tecnológicas ainda mais

avançadas. Esse processo de renovação influencia

a emergência de novos padrões e direções para o

processo de inovação e desenvolvimento indus-

trial. O aparecimento de novas indústrias e em-

presas, por meio da destruição criativa, aumenta a

16. Fagerberg (2005).

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63CAPÍTULO 04 | IMPORTANTE PAPEL DA INDÚSTRIA NO CRESCIMENTO ECONÔMICO

eficiência econômica, permite a constante renova-

ção da economia, gerando novas oportunidades

de trabalho, assim como novas oportunidades de

melhoria do padrão de vida das pessoas. A Figura

4.7 ilustra a dinâmica dessas ondas Schumpeteria-

nas de inovação na economia.

FIGURA 4.7

ONDAS DE INOVAÇÃO COMO “DESTRUIÇÕES CRIATIVAS”

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015)

Inov

ação

• Ferro• Força hidráulica• Têxtil• Comércio

ondaª1• Energia a vapor• Ferrovia• Aço• Algodão

ondaª2

• Eletricidade• Produtos

químicos• Motor de

combustão interna

ondaª3 • Petroquímica• Eletrônica, • Aviação• Aeroespacial

ondaª4

• Redes digitais• Biotecnologia• Tecnologia de

informação• Produtos

complexos

ondaª5 • Sustentabilidade • System integration• Biomimetistmo• Química verde• Ecologia industrial• Energias renováveis• Biotecnologia verde

ondaª6

1785 1845 1900 1950 1980-1990 2000-2020

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64 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Assim, o aparecimento da energia a vapor possibi-

litou a emergência das ferrovias que, por sua vez,

possibilitou a criação de novas indústrias e novos

mercados de trabalho, assim como contribuíram

para diminuir os custos dos transportes e acelerar

o acesso das pessoas a produtos. A emergência do

motor à base de combustão interna abriu caminho

para o surgimento da indústria automotiva que,

por conseguinte, eliminou a indústria de transporte

animal. O aparecimento da indústria automotiva não

apenas gerou maior rapidez e conforto na mobili-

dade das pessoas, como também contribuiu para

fomentar outras indústrias como de autopeças, ser-

viços mecânicos, design, petróleo, turismo, entreteni-

mento e varejo, gerando assim novas oportunidades

de trabalho. O aparecimento da tecnologia digital

não apenas suprimiu várias atividades à base de

tecnologia analógica, como também abriu caminho

para inúmeras inovações em uma ampla gama de

áreas desde a manufatura industrial até a agricultu-

ra, fotografia, cinema e medicina.

O aparecimento da lâmpada elétrica, não ape-

nas destruiu a indústria de iluminação à base de

querosene, mas também possibilitou a emergência

de novas tecnologias e indústrias como as de ge-

ração, transmissão e distribuição de eletricidade

e o aparecimento dos produtos eletrodomésticos.

Esses e outros inúmeros exemplos de inovações

advindas do processo de destruição criativa têm,

em sua grande maioria, gerado grandes benefícios

à sociedade e ao crescimento e desenvolvimento

econômico de nações. Como o processo de inova-

ção, em nível macro, é marcado por ondas, a eco-

nomia está, de forma natural e saudável, sujeita a

ciclos de crescimento e crises. A inovação, por sua

vez, tem um importante papel neste processo.

Os motores desse processo são empreendedores

individuais, os empreendedores dentro de organi-

zações (gestores, engenheiros – assim chamados

empreendedores intra-corporativos) as médias e

pequenas empresas, assim como as grandes em-

presas locais e multinacionais. A inovação precisa

de recompensa, daí a economia dinâmica permitir

enormes lucros ao inovador.

No entanto, a perspectiva refletida na Figura 4.7

enfatiza as grandes inovações (as radicais) em de-

trimento de outros tipos de inovação, como as in-

crementais, cujas características serão comentadas

mais adiante neste documento. Durante as últimas

décadas tem havido um considerável interesse no

papel da inovação, sob uma perspectiva ampliada,

na competitividade e no crescimento econômico de

países. Por isso, a inovação industrial – da agricultu-

ra, manufatura e serviços – tem sido formalmente

inserida na agenda de políticas em diversas econo-

mias avançadas. Por exemplo no Reino Unido, mais

60% do crescimento econômico dos últimos anos

tem sido explicado pela inovação (Figura 4.8).

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65CAPÍTULO 04 | IMPORTANTE PAPEL DA INDÚSTRIA NO CRESCIMENTO ECONÔMICO

63%

Existem duas fontes de crescimento econômico:

Crescimento econômico

Crescimento econômico anual da produtividade do trabalho no Reino Unido.

2000-2008

valor=2,24%

“A inovação representou 63% do crescimento econômico 2000-2008”

Inovação

Transformando idéias novas em realidade

Mais entradas

FIGURA 4.8

INOVAÇÃO COMO IMPULSIONADORA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO – EVIDÊNCIA DO REINO UNIDO

Fonte: nesta.org.uk.

Portanto, a inovação industrial é capaz de desenca-

dear efeitos positivos significativos para o desenvol-

vimento socioeconômico de um país por meio de:

1 Amplas oportunidades para desenvolvimen-to tecnológico e inovação; oportunidades de explorar economias de escala;

2 Oportunidades de engajamento em cadeias globais de valor para produção e inovação industrial;

3 Oportunidades de conectar-se às atividades de produção e de inovação tecnológica nas indústrias agrícolas e de serviços;

4 O conhecimento tecnológico gerado na indústria de manufatura gera efeitos de transbordamento (spillovers) para outros setores da economia; e

5 É importante para a geração e aumento de capacidade exportadora e consequentemen-te de superávit comercial de um país.

A despeito da grande contribuição de J. Schum-

peter para o avanço de nosso entendimento

sobre o papel da inovação tecnológica no

crescimento industrial e progresso econômico de

países, o trabalho de Schumpeter, tem limita-

ções. Por exemplo, Schumpeter não examinou

o processo de inovação em nível de empresas.

Logo, Schumpeter não gerou explicações sobre

as características das organizações inovadoras.

Schumpeter também não se dedicou a estu-

dar atividades inovadoras que envolvem, por

exemplo, imitação, adaptações, aprimoramento

contínuo em processos e produtos – conhecidos

como inovações incrementais – como veremos

a seguir. Por fim, Schumpeter não se preocupou

com o processo de inovação em economias em

desenvolvimento e suas empresas. Tais limita-

ções foram mais tarde superadas por outros

estudos e abordagens, as quais serão exploradas

neste estudo.

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66 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

05

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67RESUMO EXECUTIVO

Por Dentro da Inovação: Uma Perspectiva Ampliada

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68 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

05. Por Dentro da Inovação: Uma Perspectiva Ampliada Antes de apresentarmos uma definição para inova-

ção, é importante clarificarmos as distinções entre

termos correlatos, tais como descoberta e invenção.

Algumas Ideias Básicas17 DESCOBERTAS E INVENÇÕES

Na origem do processo de inovação tecnológi-

ca estão as invenções e as descobertas. Afinal,

descobre-se o que antes existia, embora para

nós desconhecido; inventa-se o que antes não

existia.18 Por exemplo, um pesquisador vai até

a floresta e encontra uma planta com proprie-

dades adoçantes, a stévia (Stevia rebaudiana).

Pesquisadores estudaram as

propriedades da planta em

laboratório e criaram uma

composição química capaz de

transformar as propriedades

adoçantes dessa planta em

um aditivo alimentar substitutivo do açúcar, o

aspartame. Assim, descobriu-se o que já existia (a

propriedade adoçante da planta). Criou-se algo

que não existia (o composto orgânico gerado em

laboratório). A empresa G.D. Searle & Company

transforma esse composto orgânico em um pro-

duto comercializado. Tem-se, portanto, inova-

ção. Porém, não há linearidade da descoberta à

inovação. Nem todas as invenções (ideias novas,

criativas e brilhantes) evoluem para inovação.

Atentemos para a natureza das invenções.

Há milhares de invenções para cada de tipo

atividade humana. Porém, invenção não significa

inovação, assim como nem toda invenção conduz

a uma inovação. Os árabes contribuíram ao

inventar a álgebra e os logaritmos e inventaram

a trigonometria desde os tempos de Hamurábi

(cerca de 1780 a.C.). No século sete, os árabes

inventaram o processo de saponificação, a partir

da fervura combinada de soda cáustica, gordura

animal e óleos vegetais. Mas foi apenas a partir

do século 19 que o sabão foi produzido indus-

trialmente com aplicação comercial. Os chineses

realizaram importantes avanços técnicos e foram

considerados líderes tecnológicos internacionais

durante os séculos cinco a nove, quando reali-

zaram vários inventos como a pólvora, o aço, o

papel, o barbeador, entre outros. Porém, eles não

conseguiram transformar muitas de suas inven-

ções em uso comercial, em progresso econômico.

Inovação ocorre somente quando a invenção atinge a etapa de comercialização e

inserção no mercado.

17. Figueiredo (2015).

18. Oxford (2004); Houaiss (2001).

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69CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

DEFINIÇÃO DE INOVAÇÃO

Uma invenção é uma ideia, um esboço ou modelo

voltado para um dispositivo, produto, processo

ou sistema novo ou aperfeiçoado, que pode ser

patenteada, mas que não resulta necessariamen-

te em inovação tecnológica. Já a inovação, em

sentido econômico, emerge apenas quando

ocorre a primeira transação comercial envol-

vendo o novo produto, processo ou sistema.

Inovação ocorre somente quando a invenção

atinge a etapa de comercialização e inserção no

mercado. Portanto, existe uma cadeia não linear

de eventos desde a invenção até sua especificação

ou aplicação como inovação, o que frequentemen-

te envolve um caminho longo e arriscado.19

Por isso, invenções, ainda que envolvendo grande

sofisticação técnica e alto grau de criatividade,

não podem ser confundidas com inovações. Mais

especificamente, para que tenhamos inovação, de

fato, algumas condições precisam ser atendidas:

1 Novidade: A raiz do termo inovação vem do Latim ‘inovatus’ ou ‘inovare’, que significa fazer algo diferente. Porém, essa novidade pode ser relativizada, valendo-se da contri-buição do Manual de Oslo. Esta abordagem à inovação alinha-se com diversas correntes de trabalho, em particular, a pesquisa de longa data em sistemas de inovação em nível nacional, regional e setorial. É também incor-porada no trabalho em métodos de levanta-mento de inovação em sucessivas coletas à base do Manual de Oslo, que tem mostrado distinções entre as inovações que são:

• Novas à empresa ou à organização,

• Novas ao mercado ou à economia locais, e

• Novas para o mundo.

2 Aplicação prática e comercial. Um dos critérios-chave para o sucesso de inovações (tecnológicas) é o sucesso comercial em vez do técnico. Uma inovação bem-sucedida é aquela que retorna o investimento origi-nal em seu desenvolvimento e mais alguns retornos adicionais. Porém, essa aplicação

comercial pode ser relativizada. Há situações nas quais não se pode esperar uma aplicação estritamente comercial que conduz a lucro. Inovações no campo da saúde pública podem significar a criação de uma nova vacina a ser ofertada gratuitamente à população. Neste caso, há ‘lucro’ social em termos dos benefícios econômicos e sociais para o país, em termos da economia de custo advinda da prevenção de doenças, assim como para a produtividade. Nesta mesma linha, é possível termos inovações em serviços públicos, tais como tratamento de esgotos e saneamento básico, tratamento de resíduos, segurança e transporte públicos, sistemas de recolhimento de impostos. É preciso reiterar, portanto, que inovação representa a primeira introdução no mercado ou entrada em plena operação de produtos e serviços (incluindo serviços públicos). Algumas inovações podem ter vida muito curta (de alguns meses), como o Google Glass, por exemplo. Outras podem se tornar centenárias (por exemplo, o clips de papel, a aspirina, o automóvel, etc.).

3 Inovação deve demonstrar agregação de valor. Significa demonstrar diferenciação em relação ao que existe e/ou gerar algum bene-fício que ainda não é entregue por aquilo que existe. Tal valor adicionado pode se refletir em maior grau de satisfação a ser percebido pelos usuários de produtos, serviços e/ou processos industriais em termos de aumen-to de eficiência, produtividade, segurança, conforto, praticidade etc.

4 Atendimento a uma demanda. Associada à aplicação prática, a demanda é uma das prin-cipais diferenças entre invenção e inovação. Embora as invenções possam refletir alto grau de criatividade e sofisticação técnica, podem não estar relacionadas a nenhuma ne-cessidade existente ou potencial. Especifica-mente, uma inovação atende a uma demanda existente ou potencial: cria-se uma demanda para um benefício que ainda não se conhece, como foi o caso, por exemplo, da telefonia móvel, da Internet etc.

Para que tenhamos inovação, de fato, algumas condições precisam ser atendidas.

19. Freeman (1982).

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70 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Por isso, inovação implica uma transformação de

uma ideia inventiva em um produto, serviço que

atenda às condições acima descritas. Como afir-

mava Schumpeter, o conhecimento tecnológico,

que dá origem a invenções, é altamente especia-

lizado e intrínseco. Isoladamente, rende muito

pouco. Ou seja, inovação implica unir diferentes

tipos e partes de conhecimento e transformá-los

em novos produtos e serviços úteis para o merca-

do ou para a sociedade. Assim é que ao longo da

história houve um espaço considerável de tempo

entre certas invenções, feitas por certos indiví-

duos, as quais foram transformadas em inovação

por outras pessoas e empresas. Por exemplo,

a lâmpada à base de filamento de carbono foi

inventada por Humphry Davy, em 1800. Porém,

apenas em 1879, após experimentos com milhares

de filamentos, Thomas Edison gerou um filamento

de carbono em lâmpada livre de oxigênio a qual

possuía vida longa e aplicabilidade comercial.

Thomas Edison, no entanto, obteve este feito à

base de intensos esforços e à base de tentativas

e erros. Na Tabela 5.1 a seguir podemos notar

alguns exemplos correlatos.

TABELA 5.1

BRECHAS DE TEMPO ENTRE INVENÇÕES E INOVAÇÕES

EXEMPLOS DE PRODUTOS INVENÇÃOINOVAÇÃO

(ANO QUE SE OBTEVE APLICAÇÃO COMERCIAL)

TURBINA HIDRÁULICA 1824 1880

MOTOR A GASOLINA 1860 1886

RÁDIO 1887 1922

INSULINA 1889 1922

FOGUETE 1903 1935

TELEVISÃO 1907 1936

PENICILINA 1922 1941

ESTREPTOMICINA 1921 1944

FOTOCÓPIA 1934 1950

TRANSISTOR (CHIP) 1940 1950

Fonte: adaptado de Christensen (2002) e Figueiredo (2015).

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71CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

Assim, as inovações podem ocorrer em pelo menos

duas grandes esferas:

1 Técnica: quando há criação e/ou modifica-ções em produtos, equipamentos, máquinas e utensílios (hardware) em geral, software, serviços em suas mais variadas formas, assim como em medicamentos, desenvolvimento de novas variedades de sementes agrícolas etc.

2 Organizacional: quando há criação de e/ou modificações nas formas de organização a produção (por exemplo, Just-in-Time, kaizen), assim como novas formas de distribuição de produtos e serviços, novos arranjos orga-nizacionais. As inovações organizacionais também incluem novos modelos de negócio para a produção de um produto (por exemplo, lean manufacturing) ou para a prestação de um serviço (Grameen Bank; Uber).

Portanto, inovação é mais do que criatividade. É

a real implementação de novos produtos, servi-

ços, processos ou arranjos de

organização. Toda inovação

começa a partir de ideias criati-

vas. Assim, definimos inovação

como a implementação de

ideias criativas dentro de uma organização. Desta

maneira, a criatividade de indivíduos e grupos

representa um ponto de partida para a inovação. A

criatividade, portanto, é uma condição necessária,

mas não suficiente para a inovação. A existência de

inovação envolve mais do que a junção de várias

ideias criativas. Ideias devem ser colocadas em

prática para fazer uma diferença genuína, como,

por exemplo, a implementação de uma nova rotina

organizacional, de uma nova técnica de produção,

ou nova maneira de prestação de um serviço. As

diferenciações de tipos de inovação têm aparecido

desde a década de 1960, como nos mostra a Figura

5.1. A Tabela 5.2 contém a descrições dos tipos de

inovações indicadas na classificação apresentada.

As inovações podem ocor-rer em pelo menos duas grandes esferas: Técnica e organizacional.

Liderança mundial

AvançadaIncremental / Intermediária

BasicBELL &

FIGUEIREDO(2012)

Novidade para o mundo

Novidade para o país

Novidade para a empresa

OSLO MANUAL(1990S)

OBMODMOEMHOBDAY

E OUTROS(1995)

Pequenas e sistemáticas inovações (melhorias contínuas)

Grandes Inovações (novas instalações de

grandes equipamentos)

HOLLANDER(1965)

Fase Alpha

FaseBeta

ENOS(1962)

RadicalIncremental

FREEMANE OUTROS(VÁRIOS)

1980S

RadicalModularArquiteturalIncrementalHENDERSON

E CLARK(1990)

FIGURA 5.1

CLASSIFICAÇÕES DE INOVAÇÕES

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015).

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72 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FASES ALFA E BETA

Trata-se de uma das primeiras classificações de inovação e seus impactos econô-micos. Foi sistemática por Enos (1962) a partir de observações de inovações em processo na indústria de petróleo. Ele distinguiu entre fase Alfa (a primeira intro-dução comercial de uma nova tecnologia baseada em princípios originais) e a fase Beta (aprimoramentos sucessivos nos processos que foram criados na fase Alfa).

GRANDES INOVAÇÕES (GRANDES INVESTIMENTOS EM NOVAS UNIDA-DES DE PRODUÇÃO) E PEQUENAS INOVAÇÕES (APRIMORAMENTOS CONTÍNUOS)

Hollander (1965) examinou aspectos da inovação da fase Beta de Enos. Baseou-se em evidencias de mudanças técnicas nos processos de produção nas fábricas da Du Pont durante trinta anos. Durante esse período, a empresa construiu várias novas fábricas. Ele demonstrou que a inovação do processo não dependia neces-sariamente de investimentos substanciais em novas instalações que incorporas-sem avanços tecnológicos. Em vez disso, uma sucessão de pequenas melhorias também poderia ser “projetada” em fábricas existentes. Ele também mostrou que uma proporção considerável de tal inovação poderia basear-se no estoque exis-tente de conhecimento da empresa por departamentos de engenharia e grupos técnicos intimamente associados à produção, e não no desenvolvimento de novos conhecimentos através de P&D formalmente organizados. A pesquisa de Hollan-der também demonstrou que as fábricas que implementaram aprimoramentos contínuos e sistemáticas obtiveram crescimento de produtividade maior do que as fábricas cujas inovações baseavam-se, em grande parte, em instalações de gran-des novos equipamentos.

INOVAÇÕES RADICAIS(BREAKTHROUGHS)

São inovações que estabelecem um conceito novo para o mercado mundial, em que novos componentes e elementos são combinados de uma forma diferente formando uma arquitetura nova, geralmente a partir de P&D. Essas inovações ten-dem a criar mercados e indústrias totalmente novos. De tempos em tempo surgem inovações desse tipo, que refletem grande esforço de P&DExemplos:

Telégrafo (1837); Biblioteca Pública Moderna (1850-1945 dependendo do país);Telefone (1876);Célula solar (1883);Turbina de vento (1887);Rádio comercial (1920); Televisão comercial (1936 Reino Unido, 1948 EUA);Impressora de computador (1938);Forno de micro-ondas (Década de 40);Software de processamento de texto (Final da década de 1960);Software de planilha (1962);Computador e laptop pessoais (1965);Chips microprocessadores (1968);Celulares (1973);Sistemas de posicionamento global (1973);Câmeras digitais (1975);The World Wide Web/Internet (1989);World Wide Web (1991);E-mail (1993);WiFi (1999 mas a tecnologia se origina em aproximadamente 1985);Facebook (2004); eYouTube (2005).

TABELA 5.2

ALGUMAS DEFINIÇÕES DOS TIPOS DE INOVAÇÃO

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73CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

INOVAÇÕES ARQUITETURAIS Compreendem as alterações nas relações entre os componentes de um produto, sem alteração na sua tecnologia, design ou conceito. Por exemplo: a transformação de um ventilador de teto em ventilador de pé.

INOVAÇÕES MODULARES OU DE COMPONENTES

Envolvem alterações em componentes específicos de produtos (tecnologias con-tidas no produto), sem alterar o desenho completo nem mesmo a relação entre os componentes existentes. Por exemplo: a troca de uma porta em um computador que antes recebia um disquete 3½ para uma porta para receber uma USB (Uni-versal Serial Bus). Pode-se aplicar essa mesma noção para processos de produção, software, serviços.

INOVAÇÕES INCREMENTAIS Correspondem a melhorias e/ou modificações, em diferentes graus, em tecnolo-gias (produtos, processos, serviços) e sistemas de produção existentes, na forma de melhorias de eficiência, qualidade, velocidade etc.

OEM ODM OBM

Refere-se ao progresso da simples montagem (de tecnologia de terceiros) à con-quista do design e marcas próprios. Na condição de original equipment manufacturer (OEM), ou fabricante do equipamento original a empresa manufatura peças, pro-dutos e/ou subsistemas para uma empresa líder. Na condição de own design manu-facturer (ou fabricante com design próprio), a empresa evolui de simples montador para a sua própria tecnologia de design. Em own-brand manufacturer (ou fabricante com marca própria) a empresa opera no mercado (mundial) com sua própria tec-nologia e marca. Um dos exemplos clássicos desses tipos de inovação, é a empresa Acer que evoluiu de uma simples OEM para uma OBM global.

NOVIDADES PARA A EMPRESA, ECONOMIA LOCAL, E MUNDO

Trata-se de uma relativização do grau de novidade das inovações, elaboradas pelo Manual de Oslo. Aponta como requisito mínimo para se considerar inovação a condição de “nova para a empresa”. Além desse nível, considera o que “nova para o mercado ou economia” e “novo para o mundo”. O Manual de Oslo também con-tribuiu para expandir a noção de inovação para além do âmbito técnico: passou a incluir inovações organizacionais, de marketing, e finanças.

ESCALA DE INOVAÇÕES E CORRESPONDENTES CAPACIDADES TECNOLÓGICAS

A partir de Lall (1992), Bell & Pavitt (1995) e Figueiredo (2001), Bell & Figuei-redo (2012) refinaram uma escala de capacidades tecnológicas inovadoras que varia de nível básico (inovações incrementais básicas) a níveis de breakthrough (liderança mundial).

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015).

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74 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

BOXE 2

INOVAÇÕES DE RUPTURA

As inovações de ruptura implicam a geração de um produto, processo, serviço novo para o mundo geralmente a partir do re-desenho de tecnologias existentes. Com isso, tende a abrir novos segmentos de mercado e pop-ularizar ou democratizar inovações antes de difícil acesso pela grande população. É importante notar que as “rupturas” em certas indústrias não são geradas apenas pelas inovações do tipo radical ou breakthrough. As rupturas também podem advir de inovações que envolvem recombinações de tecnologias existentes, por meio, por exemplo, de inovações arquiteturais combinadas com modulares e/ou incrementais. Por exemplo, o processo de miniaturização do rádio foi realizado por Sony quando licenciava tecnologia da RCA. Com base nesse processo de inovação, Sony evoluiu para o Walk-man, que representou a criação a mobilidade. Isto, por sua vez, levou a uma ruptura na indústria fonográfica. Envolvem o re-desenho no intuito de se obter simplificação e diminuição dos custos de produtos e serviços existentes. Envolvem a abertura de novos segmentos ou nichos de mercado. Com isso, as inovações de ruptura contribuem para a popularização e democratização de certas inovações. Um dos exemplos mais conhecidos, como mencionado por Clayton Christensen, refere-se à enorme popularização dos computadores: dos mainframes, caros e inacessíveis das décadas de 1950 e 1960, aos desktops dos anos 1980 e 1990 e, posteriormente, aos laptops, notebooks e subsequentemente aos smart phones e tablets. Um conceito similar ao de inovação de ruptura refere-se à inovação ‘de custo’ ou ‘frugal’. Refere-se ao re-desenho de produtos e serviços no intuito de barateamento de seu preço para possibilitar o seu consumo pela população de baixa renda. Algumas inovações do tipo ‘frugal’ ou ‘de custo’ podem ser consideradas de ruptura. Um dos exemplos mais con-hecidos refere-se ao NanoCar, da Tata Motors, da Índia e também o eletrocardiograma portátil, criado pela GE da Índia, além do serviço bancário nos telefones celulares, criado pela M-Pesa/Vodaphone, no Quênia.

As classificações apresentadas acima sugerem, por-

tanto, que a inovação deveria ser entendida como

um processo e não como eventos isolados, como

mostra a Figura 5.2. A ideia de inovação transcende

as perspectivas limitadas que a equiparam somente

a atividades altamente complexas derivadas de

esforço científico em sofisticados laboratórios de

pesquisa e desenvolvimento (P&D). Assim, uma

ampla ideia de inovação abrange a implementação

de mudanças em produtos/serviços, processos

e sistemas organizacionais e gerenciais – da

iniciação à adaptação menor para a avançada. As

atividades incluem imitação duplicativa, imitação

criativa, até as mais sofisticas ações de design e

desenvolvimento à base de engenharia e P&D. Essas

atividades podem ter graus de novidade que variam

de novas para a empresa a novas para a economia,

como também para o mercado internacional.

Desse modo, e reiterando, a inovação consiste em

um processo e não em simples episódios. Inovação

não é um ponto de chegada, mas um processo.

Esse processo envolve a resolução de problemas

em torno de tipos diferentes de atividade, os quais

contam com o estoque de capacidades das organi-

zações. Nas economias em desenvolvimento, gran-

de parte das atividades inovadoras não se origina

de P&D, nem se relaciona a atividades patentárias.

Derivam de vários esforços de engenharia, design

e atividades relacionadas (non-R&D innovations).

No entanto, em muitos casos, essas atividades de

inovação podem ser uma base e precondição para

avanços para atividades de P&D de classe mundial.

Essas atividades inovadoras podem ocorrer na

esfera técnica, como, por exemplo, em produtos,

A inovação de-veria ser enten-

dida como um processo e não como eventos

isolados.

É importante esclarecer a natureza e a impor-

tância das inovações de ruptura, conforme

mostrado no Boxe 2.

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75CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

serviços, processos de produção de produtos e/ou

serviços, software, máquinas e equipamentos. Tam-

bém podem ocorrer na esfera organizacional, tais

como: novos modelos de negócio, novas maneiras

de organizar a produção, comercializar e distribuir

bens e serviços, novos arranjos e rotinas organi-

zacionais. Como base na perspectiva de inovação

como um processo, e na Figura 5.2, não deveríamos

classificar empresas (ou países) segundo uma pers-

pectiva “binária” de “inovadora” e “não inovadora”.

Tal classificação é limitada e equivocada. Logo, seria

um equívoco tratar a “imitação” como algo separa-

do ou mesmo “inferior” à inovação. Na verdade, a

imitação é parte do processo de inovação.

FIGURA 5.2

INOVAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DE UM ESPECTRO DE ATIVIDADES

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015).

Aliás, essa perspectiva de inovação como um

contínuo de atividades com crescentes graus

de complexidade e novidade é particularmente

importante para a compreensão do processo de

inovação em empresas que operam em economias

em desenvolvimento e emergentes. Assim, as

atividades relativas ao extremo direito da Figura

5.2 (que são mais convencionalmente associadas à

inovação) representam, de fato, apenas uma fra-

ção da inovação, ou a ‘ponta do iceberg’ (Figura

5.3). Há uma ampla variedade de inovações que

podem ser ocultas (hidden innovations) em função

da ênfase exacerbada em atividades que, de fato,

representam uma fração da inovação.

É desejável a migração dos níveis de imitação duplicativa para os mais

sofisticados níveis de P&D, engenharia e patenteamento

IMITAÇÃO duplicativa

ADAPTAÇÃO relativamente

simples (inovações,

incrementais

básicas/

intermediárias)

MODIFICAÇÃO relativamente

complexa

(inovações

modulares e

arquiteturais)

DESIGN E DESENVOLVIMENTO original - via P&D +

Engenharia (E)

CRIAÇÃO DE NOVAS

TECNOLOGIAS E SISTEMAS

DE PRODUÇÃO

(breakthroughs) -

via P&D +

Engenharia (E)

DESIGN E DESENVOLVIMENTO

não original

via P&D +

Engenharia (E)

MODIFICAÇÃO relativamente

complexa

(inovações

incrementais

avançadas)

IMITAÇÃO criativa

Grande parte das inovações exitosas ao redor do

mundo tem derivado de recombinações de

tecnologias existentes (mudanças incrementais) Contrafações são

cópias que carregam o mesmo nome de marca

ou marca de fábrica que o produto original.

São tentativas de roubar o inovador de

lucros vencidos. Falsificações são

estritamente ilegais.

CONTRAFAÇÕES OU PIRATARIA DE PRODUTOS

ILEGAL

CLONES

Meras replicações de produtos existentes. A

ausência ou expiração de patentes, copyrights e

marca comercial fazem essas cópias serem legais.

Tipicamente, clones vendem os mesmos

produtos básicos que o original, mas por um valor

mais baixo e sem a prestigiosa marca.

LEGAL Porém sem propósito de

aprendizado

ESPECTRO DE ATIVIDADES INOVADORAS

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76 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

IMITAÇÃO

ADAPTAÇÃO

MODIFICAÇÃO

DESIGN E DESENVOLVIMENTO

CONTRAFAÇÕES E CÓPIAS

01Falsificações são cópias que carregam o

mesmo nome de marca ou marca de fábrica

que o produto original. São tentativas de

roubar o inovador de lucros vencidos.

Falsificações são estritamente ilegais.

10P&D + patentes

P&D E PATENTES

09Design original e desenvolvido via

P&D + Engenharia (E)

08Design original e não desenvolvido via

P&D + Engenharia (E)

06Modificação relativamente complexa

(Inovação

incremental avançada)

05Adaptação relativamente simples

(inovação incremental

básica/ intermediária)

04Imitação criativa

03Imitação duplicativa

02Meras replicações de produtos existentes.

A ausência ou expiração de patentes,

copyrights e marca comercial fazem essas

cópias serem legais. Tipicamente, clones

vendem os mesmos produtos básicos que

o original, mas por um valor mais baixo e

sem a prestigiosa marca.

Modificação relativamente complexa

(inovação modular

e arquitetônica)

07

FIGURA 5.3

AMPLITUDE DAS ATIVIDADES INOVADORAS

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015)

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77CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

Reiterando, as atividades de imitação podem ser

precondições para a implementação de atividades

mais sofisticadas de engenharia e P&D, incluindo

atividade patentária. Por fim, é importante lembrar

que esforços em ciência (atividades realizadas

em laboratórios de universidades e institutos de

pesquisa) não deveriam ser confundidos com

atividades inovadoras. Há muitas atividades tec-

nológicas significativamente inovadoras que não

dependem de ciência. De fato, grande parte das

inovações mais importantes dos últimos 50 anos

teve origem em recombinações de tecnologias

existentes. Essas recombinações foram realizadas

por engenheiros e técnicos especializados em áreas

diversas que não o laboratório de P&D, inclusive no

piso de fábrica.

Consequentemente, um amplo espectro de

diferentes níveis de inovação seria mais realístico,

especialmente levando em consideração a natureza

tecnológica das empresas de economias em desen-

volvimento (como mostrado na Figura 5.2). Cer-

tamente, todas as inovações envolvem um grau de

novidade. Entretanto, atividades inovadoras à base

de avanços consideráveis nem sempre derivam de

sofisticados laboratórios de P&D, realizadas em câ-

maras super limpas por pessoas de jalecos brancos

olhando microscópios ou telescópios ultrassofisti-

cados ou aceleradores de partículas ou envolvidas

com o desenho e a produção de produtos altamen-

te sofisticados, como grandes naves espaciais ou

simuladores de voo.

Tais mitos sobre a inovação

refletem uma ideia limitada

de atividades inovadoras em

todos os tipos de empresa.

Podem também conduzir

a processos de tomada de

decisão errados relativos à

atividade industrial. Reiteran-

do, sabe-se que até mesmo as atividades à base

de P&D e atividades patentárias representam

apenas uma fração do processo de inovação.

Mesmo nas economias avan-

çadas, há um consenso de que

gastos e estruturas de P&D e

atividades patentárias não re-

presentam proxies realistas de

atividades de inovação. Mas,

até mesmo as atividades de

P&D, podem ser consideradas

à base de diferentes estágios

ou graus crescentes de novi-

dade e de complexidade (Tabela 5.3). Mesmo nas

economias avançadas, a maioria das inovações

implementadas não é de natureza “radical”, como

mostrado na seção seguinte.

Grande parte das inovações mais importantes dos últi-mos 50 anos teve origem em recombinações de tecnolo-gias existentes.

Um amplo espectro de diferentes níveis de inovação seria mais realístico, especial-mente levando em conside-ração a natureza tecnológica das empresas de economias em desenvolvimento.

Mesmo nas economias avançadas, há um consenso de que gastos e estruturas de P&D e atividades patentárias não representam proxies realistas de atividades de inovação.

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78 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

TABELA 5.3

DIFERENTES GRAUS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P&D)

CARACTERÍSTICASCIÊNCIA

PURA (1)

PESQUISA BÁSICA

(2)

PESQUISA APLICADA

(3)

DESENVOLTIMENTO EXPLORATÓRIO

(4)

DESENVOLTIMENTO AVANÇADO

(5)

PROPÓSITO DA BUSCA/PESQUISA

Descobrir novo princípio científico

Novo conhe-cimento para produto/pro-cesso radical-mente novo e comercializável, com aplicações desconhecidas e difusas.

Identificação e explicação para fenômenos e pro-blemas relaciona-dos a demandas específicas.

Implementar um con-ceito existente, por exemplo um sistema de engenharia.

Redução de custos, reso-lução de problemas em processos de produção.

PRODUTO

Propriedade intelectual (PI) baseada em conceitos (patentes)

PI baseada em produto para transferência para (3) e (4).

Produto diferen-ciado para mer-cados específico.

Design ou protótipo de produto detalhado.

Produto de fabricação.

MEDIDA DE DE-SEMPENHO

PIPI baseada em produto

Produto dife-renciado/nicho com IP.

Resultados do mercado (por exemplo, time-to--market)

Resultados de mercado (por exemplo, redução de número de defeitos ou rejeições)

HORIZONTE TEM-PORAL (TEÓRICO)

Longo prazo Médio prazoMédio/curto prazo

Curto prazo Imediato

QUALIFICAÇÕES E HABILIDADES NE-CESSÁRIAS

Doutorado em ciências fundamentais, matemática e engenharia.

O mesmo que (1) porém com experiência de gestão e super-visão.

Profissionais ba-charéis, mestra-do e doutorado com experiência e sólido treina-mento.

Mesmo que (3), porém doutorado é desneces-sário.

Mesmo que (4), além de habilidades de gestão relacionadas a pessoas, processos de desenvol-vimento de produtos e processos de produção.

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015).

A Importância Relativa dos Diferentes Tipos de Inovação20 Para fins analíticos e de políticas públicas é relevan-

te abordarmos, ainda que brevemente, a “impor-

tância” relativa de diferentes tipos de inovação.

Para isso, é necessária combinação de dois pontos:

1 O típico “significado” social ou econômico de determinados tipos de inovação (por exem-plo, alinhando-se aos estudos anteriores de Enos e Hollander e

2 A frequência típica com que esses tipos ocor-rem, ou seja, a sua incidência. Mas, na prática, é impossível fornecer essa imagem, mesmo na forma mais incompleta. Apesar do uso fre-quente de distinções entre tipos de inovação por muitos anos, a informação sobre seu “sig-nificado” relativo é rara. Tem havido pouca ou nenhuma evidência sobre a real incidência dos diferentes tipos de inovação.

20. Bell & Figueiredo (2012).

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79CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

Essa ausência de evidências tem deixado um espaço

a ser preenchido por especulações. Grande parte da

literatura sobre inovação nas economias avançadas

tem centrado nos tipos de inovação assim chamadas

“de nível superior” (“radical”, “novo para o mundo”,

“breakthrough” e assim por diante) e também tem

concentrado a sua atenção nos tipos específicos de

indústrias (as assim chamadas de “alta tecnologia”),

tais como produtos farmacêuticos ou semicondu-

tores. Muito menos atenção tem sido dada à parte

esquerda do espectro da Figura 5.2 (inovações de

natureza “incremental” e tipos similares).

Estas, e as indústrias nas quais se assume que tais

inovações predominam, passaram a ser vistas, por

acadêmicos e tomadores de decisão de políticas

públicas, como menos importantes. Tais pers-

pectivas também têm influenciado tomadores de

decisão nos países em desenvolvimento. Essas

perspectivas geralmente estão associadas a pontos

de vista sobre uma divisão estrutural clara entre

a inovação em países desenvolvidos e em desen-

volvimento: os primeiros seriam responsáveis por

inovações radicais (breakthrough), enquanto que os

países em desenvolvimento, na melhor das hipóte-

ses, responderiam apenas por inovações incremen-

tais e outros tipos de inovação “inferiores” no outro

extremo esquerdo da Figura 5.2.21

De forma não surpreendente, grande parte da

agenda política de tecnologia e inovação passou a

ser focada na mudança dessa divisão estrutural –

principalmente buscando estabelecer uma maior

presença nos tipos de inovação “mais importantes”

– extremo direito da Figura 5.2. Tal perspectiva tem

sido implementada por meio de uma considerável

concentração de recursos públicos na construção

de tipos particulares de capacidades tecnológicas

(e organizacionais), institucionais e humanas consi-

deradas necessárias. Especificamente, isto é feito

por meio de canalização de recursos para uni-

versidades e institutos de pesquisa. Espera-se

que estes gerem avanços técnico-científicos de

natureza “radical” que fluirão para a indústria.

Ocorre que, como será mostrado adiante, grande

parte das inovações tecnológicas não depende de

ciência. Muito menos atenção tem sido dada ao

fortalecimento das capacidades de inovação no

lado esquerdo do espectro da Figura 5.1.2 e ao

aumento cumulativo das capacidades nessa base.

Esta diferença de ênfase importa, pois envolve

diferentes tipos de recursos organizacionais,

institucionais, humanos e financeiros.

Em grande parte, a primeira abordagem (ênfase em

inovações de natureza “radical”) tem exigido a alo-

cação substancial de recursos para a construção de

capacidades de inovação em organizações públicas

centralizadas, como universidades e institutos de

pesquisa. A segunda (inovações de natureza “incre-

mental”) envolve construir capacidades de inovação

muito mais dispersas em nível de indústrias e em-

presas. Isso não é um contraste entre as alternativas

políticas. Trata-se de um desequilíbrio em comple-

mentos. Em particular, entre as várias formas de

complementaridade, os lócus disperso e centrado

em empresas para acumular capacidades pro-

fundas para os tipos de inovação com variados

graus de novidade e complexidade (incluindo

as “radicais”) é um complemento necessário à

acumulação de tais capacidades em organizações

como universidades e institutos de pesquisa.

Felizmente, com aparecimento dos surveys de

inovação é possível olhar pelo menos um pouco mais

de perto, ainda que de forma não tão adequada, no

aspecto da importância de diferentes tipos de inova-

ção e no aspecto das ações de complementariedade

entre os tipos de inovação, mencionadas acima.

Embora se possa dizer pouco sobre a “significância”

de diferentes tipos de inovação, o crescente número

de dados dos surveys de inovação nos permite fazer

um pouco melhor do que meramente especular so-

bre a incidência relativa de certos tipos de inovação.

Entre esses surveys, o do Canadá é particularmente

útil a este respeito porque as questões do survey se

concentram intensamente nas inovações “mais im-

portantes” em nível das empresas durante o período

do survey. A Tabela 5.4 abaixo mostra resultados

referentes a empresas canadenses da indústria de

manufatura no período 1997-1999.

Grande parte das inovações tecnológicas não depende de ciência.

21. Tal perspectiva é defendida por autores como Viotti (2002).

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80 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

TABELA 5.4

INCIDÊNCIA E TIPOS DE INOVAÇÃO ENTRE EMPRESAS CANADENSES

EMPRESAS QUE SE DECLARARAM INOVADORAS (SIM) E NÃO INOVADORAS (*):

DO CONJUNTO TO-TAL DE EMPRESAS PARTICIPANTES DO CENSO

NÃO20%

SIM80%

NOVAS PARA A EMPRESA:

NOVAS PARA O CANADÁ:

NOVA PARA O MUNDO: NÃO SABEM:

DO CONJUNTO DE EMPRESAS QUE SE DECLARARAM ‘INOVADORAS’ (‘SIM, ACIMA) OS GRAUS DE NOVIDADE DE SUAS INOVAÇÕES MAIS IMPORTANTES ERAM

50% 20% 12% 18%

Nota: (*) Uma empresa inovadora foi aquela que implementou algum tipo de mudança significativa em atividades de produto. As modificações menores ou estéticas em produtos foram excluídas.

Fontes: Canada Statistics (2005) e Bell & Figueiredo (2012).

Com relação às evidencias da Tabela 5.4 nos

mostram que:

1 Embora uma “inovação” tenha sido definida de forma bastante abrangente para cobrir a maior parte do espectro de diferentes tipos discutidos acima (Figura 5.2), cerca de um quinto das empresas não introduziu nenhum tipo de inovação de produto ou processo dentro desse espectro durante o período de três anos do survey.

2 Entre os 80% das empresas que o fizeram, cer-ca de metade delas relatou que sua inovação “mais importante” era apenas nova para a própria empresa (natureza incremental), nem mesmo “nova para o Canadá”, muito menos “nova para o mundo”. Somente 12% produziram inovações “novas para o mundo”.

3 Cerca de 60% de todas as empresas manufatu-reiras do Canadá não inovaram, exceto talvez realizaram algumas pequenas modificações, ou produziram como suas inovações mais impor-tantes apenas aquelas que eram “novas para a empresa”. Ou seja, quase dois terços das

empresas canadenses se engajaram apenas nos tipos de atividade inovadora incremen-tal. Tais atividades inovadoras incrementais são comumente consideradas como aquelas que prevalecem nos países em desenvolvimento.

4 Vale ressaltar que, segundo este survey, apenas um décimo das empresas canadenses decla-raram que a sua inovação mais importante era “nova para o mundo”.

No entanto, existem diferenças consideráveis entre

países, em termos da agregação nacional, de diferen-

tes tipos de atividade inovadora. Isto está ilustrado

na Tabela 5.5 com relação a um corte transversal do

survey de países selecionados da União Europeia (UE)

em diferentes níveis de PIB per capita. Esse survey

usa indicadores da incidência de apenas dois tipos de

inovação para o período do survey (2002-2004):

1 A proporção de empresas com “atividade de inovação” e

2 A proporção de todas as empresas que intro-duziram produtos novos ou melhorados, cujo grau de novidade eram “novos no mercado”.

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81CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

A incidência de ambas as categorias de atividade

inovadora aumenta mais ou menos em linha com o

aumento do PIB per capita: de 20% e 5%, respec-

tivamente, na Romênia para cerca de 50% e 26%

na Suécia e 65-18% na Alemanha.

TABELA 5.5

INCIDÊNCIA DA ATIVIDADE DE INOVAÇÃO: PAÍSES SELECIONADOS DA UE (2002-2004)

PAÍSES SELECIONADOS PIB PER CAPITA (USD)

MÉDIA DURANTE PERÍODO 2002-2004

EMPRESAS COM ATIVIDADES

INOVADORAS*

EMPRESAS CUJAS ATIVIDADES

INOVADORAS EM PRODUTOS SÃO “NOVAS PARA O

MERCADO”*

ALEMANHA 26,134 65% 18%

SUÉCIA 27,782 50% 26%

FINLÂNDIA 27,586 43% 21%

ITÁLIA 26,240 36% 11%

PORTUGAL 18,849 43% 21%

POLÔNIA 11,608 25% 11%

ROMÊNIA 7,193 20% 5%

* - Como uma proporção de todas as empresas.

Fontes: Eurostat (2005) e Bell & Figueiredo (2012).

Assim, uma noção de “catch-up tecnológico” em ati-

vidades inovadoras (e que reflete o grau de capaci-

dade tecnológica) poderia, portanto, ser vista como

um movimento meramente ascendente através

de diferentes níveis de incidência de vários tipos

de inovação de acordo Tabela 5.5. Neste caso, dos

padrões de incidência da Romênia para os padrões

sueco-alemão. Mas essa interpretação é simplista.

Por trás dessas diferenças entre países (e entre ní-

veis de renda) em termos da incidência de diferen-

tes tipos de inovação, há diferenças consideráveis

dentro de cada país e entre as indústrias.

Isso está ilustrado na Tabela 5.6, que se concentra

novamente no Canadá. As diferenças são espe-

cialmente consideráveis em relação às inovações

“novas para o mundo”. Em algumas indústrias, tais

como serrarias, fabricantes de móveis e confecções

de fabricação de roupas, apenas cerca de 3 a 7%

das empresas introduziram essas inovações. Mas,

no outro extremo do espectro, em indústrias como

maquinaria industrial, instrumentos ou equipamen-

tos de informática, a proporção de empresas que

realizaram inovações “novas para o mundo” era

cinco ou seis vezes maior. A incidência de inova-

ções de tipo “nova para o Canadá” também diferiu

amplamente entre os setores industriais. Por con-

seguinte, apenas cerca de 10 a 20% das empresas

nas indústrias mais maduras introduziram qualquer

um destes dois tipos de inovação, enquanto que

40 a 50% das empresas o fizeram nas indústrias no

outro extremo do espectro.

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82 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

TABELA 5.6

INCIDÊNCIA DE ATIVIDADES DE INOVAÇÃO: EMPRESAS CANADENSES POR TIPO DE INDÚSTRIA

INDÚSTRIAS DE MANUFATURA

SELECIONADAS (*)

PROPORÇÃO DE TODAS AS EMPRESAS EM CADA INDÚSTRIA (1997-1999)

INOVADORAS (**) CUJAS INOVAÇÕES MAIS IMPORTANTES ERAM NOVAS

CANADÁ (%)

MUNDO (%)

AMBOS (%)

SERRARIAS E PRESER-VAÇÃO DA MADEIRA

73,6 4,6 3,0 7,6

FABRICAÇÃO DE VESTUÁRIO

69,7 7,0 4,2 11,2

FABRICAÇÃO DE MÓ-VEIS E PRODUTOS

81,9 13,2 6,6 19,7

FABRICAÇÃO DE METAIS PRIMÁRIOS

75,7 16,3 5,7 22,0

FABRICAÇÃO DE ALIMENTOS

80,5 17,7 4,5 22,2

FABRICAÇÃO DE PAPEL

77,9 19,5 5,1 24,6

FOLHEADO, MADEIRA COMPENSADA E PRODUTOS DE MADEIRA PROJETADA

64,9 15,1 12,5 27,6

VEÍCULOS A MOTOR, CHASSIS E AUTOPEÇAS

78,6 19,4 10,8 30,3

FABRICAÇÃO DE MÁQUINAS

86,9 18,5 14,2 32,7

FABRICAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS

87,7 19,6 13,3 32,9

TÊXTIL 85,8 23,8 11,6 35,3

AGRICULTURA, MINE-RAÇÃO E MÁQUINAS INDUSTRIAIS

88,0 16,8 26,0 42,8

FABRICAÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE COMUNICAÇÃO

91,5 17,1 27,1 44,2

INSTRUMENTOS, MÍ-DIAS MAGNÉTICAS E ÓPTICAS

91,3 14,7 30,8 45,5

COMPUTADORES E EQUIPAMENTOS PERIFÉRICOS

95,6 22,2 27,4 49,6

TOTAL INDÚSTRIA MANUFATUREITA

80,2 16,3 9,6 25,9

Nota: (*) Indústrias selecionadas para ilustrar os tipos de indústria envolvidos em diferentes segmentos da ampla diversidade interindustrial de inovação. (**) Uma empresa inovadora foi aquela que implementou algum tipo de mudança significativa em atividades de produto. As modificações menores ou estéticas em produtos foram excluídas.

Fontes: Canada Statistics (2005) e Bell & Figueiredo (2012).

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83CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

Esses padrões de diferenças entre indústrias

em termos da incidência de diferentes tipos

de inovação também são evidentes em outros

países. No entanto, é necessário um cuidado

considerável para criar distinções indevidamente

acentuadas entre as indústrias supostamente

consideradas “de baixa tecnologia”, como aquelas

para o topo da Tabela 5.6 e as indústrias assim-

-denominadas de “alta tecnologia” em direção à

parte inferior da Tabela 5.6. É claro que, por trás

dessas generalizações agregadas, existe uma

diversidade considerável em ambos os tipos

de indústria. Em particular, escondidos por

trás das características médias de “baixa e mé-

dia tecnologia”, esses setores incluem empre-

sas com consideráveis capacidades inovadoras

que realizam novos tipos de inovação.22 O

desenvolvimento de capacidades inovadoras em

tais indústrias de baixa tecnologia pode ser ex-

tremamente importante como parte do processo

de catch-up tecnológico.

No entanto, a ideia catch-up tecnológico para

atividades inovadoras em nível do país não

deve ser vista apenas como uma questão de

aumentar a incidência de inovação “dentro” de

empresas e indústrias na estrutura existente

da economia. Trata-se também de “mudar a

estrutura” da economia para uma proporção

cada vez maior de atividade econômica em seto-

res tipicamente associados a níveis de atividade

inovadora relativamente altos.

Assim, para alcançar a intensidade de inovação

agregada de certas economias avançadas, como

mostrado anteriormente na Tabela 5.5, econo-

mias em desenvolvimento precisariam passar

por dois tipos de processo:

1 Aumentar a proporção de empresas inovado-ras em uma quantidade considerável de indús-trias para os níveis em países como a Suécia e a Alemanha, e

2 Mudar a estrutura da indústria (a transforma-ção e as intensivas em recursos naturais) para a composição que existe nesses países – ou seja, reduzir a participação das indústrias de alto valor agregado. Tal processo envolve, im-plicitamente, a noção de diversificação das atividades industriais, especialmente em indústrias intensivas em recursos naturais.

Este estudo está mais preocu-

pado com o primeiro desses

processos: como as empresas

aumentam o grau de inovação

daquilo que elas produzem.

Mas uma importante ressalva

ou qualificação é preciso ser

feita. Trata-se da maneira como

se explora essa questão neste

estudo. No restante deste documento, será dada

uma atenção e ênfase crescente à acumulação de

capacidades para reduzir e/ou fechar as brechas

com as fronteiras de inovação tecnológicas exis-

tentes ou mesmo abrir novas direções e segmentos

tecnológicos na fronteira internacional de inovação.

É necessário um cuidado considerável para criar dis-tinções indevidamente acen-tuadas entre as indústrias supostamente consideradas “de baixa tecnologia e as in-dústrias assim-denominadas de “alta tecnologia.

Escondidos por trás das ca-racterísticas médias de “baixa e média tecnologia”, esses setores incluem empresas com consideráveis capacida-des inovadoras que realizam novos tipos de inovação.

A ideia catch-up tecnológico para atividades inova-doras em nível do país não deve ser vista apenas como uma questão de aumentar a incidência de ino-vação “dentro” de empresas e indústrias na estrutu-ra existente da economia.

22. von Tunzelmann e Acha (2005), Figueiredo (2010).

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84 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Em outras palavras, será dada

ênfase crescente à acumula-

ção de capacidades para os

tipos de inovação “novos para

o mercado” e “novos para o

mundo”. Ao fazê-lo, será im-

portante ter em mente um dos principais pontos

aqui destacados: mesmo nas economias avan-

çadas, os tipos de inovação do tipo “radical’ ou

“breakthrough” são uma proporção bastante

pequena do total. De modo correspondente, a

baixa incidência de inovações incrementais (“no-

vas para a empresa”) está associada ao baixo grau

de desenvolvimento industrial nas economias em

desenvolvimento, assim como a baixa incidência

das inovações do tipo “novas para o mundo”. Estas

últimas (as inovações “novas para o mundo” ou

as “radicais”) podem ser mais glamorosas e mais

contempladas em estudos acadêmicos. Porém,

aumentar a incidência das inovações “novas

para a empresa” e “novas para a economia”

pode contribuir mais para o aumento da renda

média de economias em desenvolvimento.

Mesmo nas economias avan-çadas, os tipos de inovação

do tipo “radical’ ou “break-through” são uma proporção

bastante pequena do total.

Temos constatado em diversos tipos de empresas,

indústrias e países, que o processo de inovação cada

vez mais transcende as fron-teiras da organização.

Aumentar a incidência das inovações “novas para a empresa” e “novas para a economia” pode contribuir

mais para o aumento da renda média de economias em desenvolvimento.

Interdependência no Processo de Inovação23 As atividades inovadoras emergem a partir de

processo de inovação. Segundo o clássico artigo

de Giovanni Dosi24 o processo inovador possui

propriedades típicas. Dentre essas propriedades,

destaca-se à forte interdependência no processo

de inovação. Temos constatado em diversos tipos

de empresas, indústrias e países, que o processo

de inovação cada vez mais transcende as fron-

teiras da organização. Até a

década de 1980, era comum

que várias empresas grandes

(“auto-suficientes” em tec-

nologia) concentrassem suas

atividades inovadoras dentro

de suas fronteiras com base

em grandes e robustas áreas

próprias de P&D e engenharia, em um processo

conhecimento como “inovação fechada”. Grandes

organizações inovadoras, dentre elas destacam-

-se exemplos emblemáticos tais como IBM, AT&T,

Bell Labs e Xerox (no Brasil, a Aços Villares por

exemplo), que durante as décadas de 1970 e 1980

eram consideradas ícones de inovação, objeti-

vavam lucrar a partir de seus próprios recursos

de P&D e engenharia. Mas o processo inovação

também tendia a ser concentrado em nível de

países, especialmente em nível das matrizes de

empresas multinacionais (EMNs). Suas estratégias

de inovação objetivavam lucrar individualmente

a partir de suas próprias atividades consideradas

pioneiras de P&D e sua propriedade intelectual.

Ocorre que a partir dos anos 1990 importantes

mudanças contribuíram para tornar o processo de

inovação menos confinado às fronteiras de uma

organização. Entre tais mudanças destacam-se:

1 Crescente necessidade de incorporar conte-údo tecnológicos mais criativos em produtos, processos de produção, e serviços a uma veloci-dade cada vez maior para atender o mercado global cada vez mais interconectado;

2 Constatação de que empresas, ainda que gran-des e com robustas áreas de P&D não teriam capacidade de realizar inovações sozinhas;

23. Chesbrough (2003); Bell & Figueiredo (2012)

24. Dosi (1988).

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85CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

3 A intensificação da mobilidade de cérebros ao redor do mundo, a dificuldade de reter talentos dentro de organizações específicas;

4 A crescente importância de economias emer-gentes e em desenvolvimento que passaram a fornecer um maior contingente de talentos e profissionais qualificados em diversas áreas, assim como instituições habilitadas a apoiar importantes atividades inovadoras em várias economias emergentes; e

5 O fortalecimento dos sistemas de inovação nas economias emergentes, que passaram a atrair atividades inovadoras de EMNs.

Tais mudanças têm contribuído, de um lado, para

uma fragmentação intra-firma e internacional

do processo de inovação. Ou seja, empresas

multinacionais concluíram que é mais inteligente e

lucrativo descentralizar suas atividades inovado-

ras, incluindo as de P&D, além de sua sede para

algumas economias emergentes e aproveitar o es-

toque de criatividade desses países. Por exemplo,

hoje sabemos que várias empresas multinacionais

possuem centros globais responsáveis pelo dese-

nho e desenvolvimento de produtos e serviços em

nível global. Por exemplo, a Unilever possui vários

centros dessa natureza como, por exemplo, no

Brasil e na Índia. A IBM possui centros respon-

sáveis por soluções globais, um deles localizado

no Brasil. Várias EMNs tem descentralizado suas

atividades de P&D para economias emergentes

como a do Brasil, como é o caso

da Whirpool, Fiat e Honda

Motocicletas no Brasil.

Por outro lado, várias empre-

sas têm deliberadamente

envolvido um maior número

de parceiros em seu processo

de inovação, fenômeno que tem

sido conhecido como “inovação

aberta” ou “colaborativa”. Isto

significa que, cada vez mais,

organizações inovadoras reconhecem que não

mais podem realizar atividades inovadoras

sozinhas, mas à base de uma rede de parceiros,

envolvendo usuários, fornecedores, institutos

de pesquisa e universidades. Por exemplo, na Na-

tura, uma das empresas mais inovadoras em nível

internacional, há vários anos, o processo de inova-

ção envolve uma rede de parceiros que contribuem

para o desenvolvimento de novos produtos. Ao

abrir o seu processo de inovação a empresa pode

ter acesso mais rápido a diversos tipos de conhe-

cimento tecnológico que não teria condições de

obter se operasse isoladamente (Figura 5.4).

Empresas multinacionais concluíram que é mais inteli-gente e lucrativo descentra-lizar suas atividades inova-doras, incluindo as de P&D, além de sua sede para algu-mas economias emergentes e aproveitar o estoque de criatividade desses países.

Várias empre-sas têm deli-beradamente envolvido um maior número de parceiros em seu proces-so de inovação.

Organizações inovadoras reconhecem que não mais podem realizar atividades inovadoras sozinhas, mas à base de uma rede de parceiros, envolvendo usuários, fornecedores, institutos de pesquisa e universidades.

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86 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FIGURA 5.4

MUDANÇA NO PROCESSO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO: DO MODELO FECHADO AO ABERTO

INOVAÇÃO FECHADA FOCO INTERNO

INOVAÇÃO ABERTA COMBINA IDÉIAS INTERNAS E EXTERNAS

PESQUISA DESENVOLVIMENTO PESQUISA DESENVOLVIMENTO

O mercado

Fronteiras da empresa

Projetos de pesquisa

Fronteiras da empresa

Projetos de pesquisa externos

Projetos de pesquisa internos

Venture capital

Licence-in de tecnologias

Spin-offs Licence-out de tecnologias

Novos Mercados

Aquisição de produtos e tecnologias

O mercado

Fonte: Adaptado de Chesbrough (2003)

A abertura do processo de inovação contribui

para acelerar o processo de desenho, desenvol-

vimento e de introdução no mercado de novos

produtos e serviços. Na Natura, por exemplo,

mais de 70% de seu faturamento advém de pro-

dutos lançados nos últimos

dois anos. Esses 70% signifi-

ca o seu índice de vitalidade,

que reflete, no caso da Natu-

ra, uma gestão competente

de seu processo de inovação

aberta assim como reflete

sua capacidade de renovação de suas linhas de

produto. É importante ressaltar, no entanto,

que a implementação de um processo de

inovação colaborativo ou aberto não significa

abrir mão do P&D interno da empresa. Pelo

contrário, a inovação aberta envolve um P&D

interno robusto. Isto é importante para garantir

uma interação frutífera e produtiva com parcei-

ros como universidades, institutos de pesquisa,

fornecedores e competidores.

Adicionalmente, em função das várias interfaces

estabelecidas com parceiros diversos, faz-se ne-

cessário que a empresa desenvolva e aprimore dois

importantes tipos de capacidades organizacionais.

A primeira é a de coordenação, que envolve indu-

zir e avaliar constantemente a geração de conheci-

mentos, necessários para as atividades inovadoras

na organização, por seus vários tipos de parceiros.

A segunda refere-se à capacidade de integrar

esses diversos tipos de conhecimentos a fim de

gerar os novos produtos, processos de produção e

A implementação de um processo de inovação

colaborativo ou aberto não significa abrir mão do P&D

interno da empresa.

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87CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

serviços. Como sugerido em Dantas e Bell (2011),

apenas uma parte das capacidades tecnológicas

inovadoras da Petrobras residem dentro de suas

fronteiras, isto é, dentro de seu robusto centro de

pesquisas, o Centro de Pesquisas Leopoldo Amé-

rico Miguez de Mello (CENPES). Outras partes de

suas capacidades tecnológicas inovadoras encon-

tram-se distribuídas em um conjunto de parceiros

que envolvem desde fornecedores, universidades

e empresas especializadas de engenharia até os

competidores, conforme ilustrado na Figura 5.5.

Por isso, empresas estão mantendo apenas uma

estreita fatia de suas capacidades inovadoras,

incluindo P&D, dentro de casa. Por isso, há que

se ter cautela com o uso de proxies convencio-

nais para se medir a capacidade tecnológica

inovadora de empresas.

Empresas estão mantendo apenas uma estreita fatia de suas capacidades inovadoras, incluindo P&D, den-tro de casa. Por isso, há que se ter cautela com o uso de proxies convencionais para se medir a capacidade tecnológica inovadora de empresas.

FIGURA 5.5

REPRESENTAÇÃO ILUSTRATIVA DAS ATIVIDADES INOVADORAS DISTRIBUÍDAS DA PETROBRAS (E&P)

AS CAPACIDADES TECNOLÓGICAS INOVADORAS

DISTRIBUÍDAS DA PETROBRAS PARA E&P

Institutos de pesquisa e

laboratórios especializados

[Mundo e Brasil (ex., o OceanLab)]

Centro de P&D (CENPES)

• Área de E&P

• Engenharia

• Materiais

Outras organizações locais e

internacionais (ex., associações

técnicas industriais, empresas de

consultoria geral, organizações de

metrologia e certificação etc.)

Companhias de

petróleo concorrentes

Centros de treinamento especializados

em desenvolvimento de habilidades

técnicas, organizacionais e gerenciais

Universidades

(Brasil e mundo)

Empresas de engenharia especializadas

e consultoras técnicas especializadas

para assuntos técnicos, organizacionais,

gerenciais e institucionais.

Fornecedores (sistemas, máquinas

e equipamentos, banco de dados,

serviços e soluções técnicas e

organizacionais, etc.)

Fonte: Adaptado de Dantas & Bell (2011).

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88 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Diferenças entre Setores Industriais em Termos da Natureza da Inovação As indústrias (setores industriais) diferem entre

si termos da maneira como inovam.25 Obviamen-

te empresas farmacêuticas possuem um proces-

so de inovação muito diferente de empresas da

indústria de aço, que, por sua vez, são diferentes

das da indústria de software. Deste modo, po-

demos nos valer da clássica taxonomia desen-

volvida por Keith Pavitt, conforme mostrado na

Tabela 5.7 e na Figura 5.6.

TABELA 5.7

CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE INOVAÇÃO EM INDÚSTRIAS ESPECÍFICAS

TIPOS DE INDÚSTRIA CARACTERÍSTICAS

INDÚSTRIAS DOMINADAS POR FORNECEDORES

As mudanças técnicas ocorrem quase que exclusivamente de fornecedores de máquinas e outros insumos de produção. Isto é tipicamente o caso da indústria de mineração, têxteis, e bens de capital. A maioria das novas técnicas surge em indústrias de máquinas e produtos químicos. A escolha técnica reflete o relativo fator custo, e as oportunidades para acumulação tecnológica são focadas principal-mente nas melhorias e modificações dos métodos de produção e insumos associados, e ocasionalmen-te, no desenho dos produtos.

INDÚSTRIAS INTENSIVAS EM ESCALA

A acumulação tecnológica é gerada pelo desenho, construção e operação de complexos sistemas de produção e/ou produtos. As principais indústrias incluem a extração e processamento de material bruto, automóveis e certos produtos de consumo durável. As tecnologias de produto e processo, por-tanto, se desenvolvem, em grande parte, de maneira incremental à base da experiência precedente de operação, e melhoria nos componentes, máquinas e subsistemas. As principais fontes de tecnologia são desenho e engenharia de produção, experiência operacional, e fornecedores de equipamentos e componentes. A acumulação tecnológica baseia-se na capacidade para desenhar e construir compo-nentes, máquinas e subsistemas, e, eventualmente, na capacidade de desenhar e construir sistemas complexos e de larga escala.

INDÚSTRIAS INTENSIVAS EM INFORMAÇÃO

A acumulação tecnológica em indústrias intensivas em informação abrange o desenho, construção, operação e melhoria de sistemas complexos para o armazenamento e processamento da informação. As melhorias tendem a ser baseadas na experiência e nas inovações incrementais, e suas principais fontes são a experiência operacional e de sistemas em grandes empresas usuárias, e fornecedores de sistemas e software de aplicação. As grandes empresas na indústria de serviços (p. ex. bancos e varejo) têm-se tornado os maiores centros na acumulação da tecnologia da informação.

INDÚSTRIAS BASEADAS EM CIÊNCIA (SCIENCE-BASED)

A acumulação tecnológica emerge principalmente dos laboratórios corporativos de P&D e é pesada-mente dependente de conhecimento, habilidades e técnicas que emergem da pesquisa acadêmica. As principais indústrias envolvem, por exemplo, química (química sintética e biologia molecular), eletrô-nico (descobertas fundamentais, eletromagnetismo, ondas de rádio), farmacêutica e farmoquímica, assim como agricultura. Demandam pesquisadores altamente qualificados com experiência em proje-tos internacionais de pesquisa.

Fonte: Adaptado de Pavitt (1984).

25. Dosi (1988).

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89CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

FIGURA 5.6

DIFERENÇAS ENTRE INDÚSTRIAS EM TERMOS DA NATUREZA DA ATIVIDADE TECNOLÓGICA INOVADORA

34%

28%

22%

9%

7%

GRUPO

% DO VALOR AGREGADO GLOBAL DE PRODUÇÃO

INDÚSTRIA

NÍVEL DE INTENSIDADE

DE P&D DE TRABALHO DE CAPITAL ENERGÉTICA COMERCIALDENSIDADE

DE VALORES

INOVAÇÃO GLOBAL PARA MERCADOS LOCAIS

Produtos químicos

Veículos a motor, reboques,

peças

Outros equipamentos

de transporte

Maquinário elétrico

Maquinário,

equipamento, aparelhos

PROCESSAMENTO REGIONAL

Produtos de borracha

e plástico

Produtos metálicos

fabricados

Alimentos, bebidas e

tabaco

Impressão e publicação

PRODUTOS COM ALTO CONSUMO DE ENERGIA E / OU RECURSOS

Produtos de madeira

Petróleo refinado,

combustível sólido, nuclear

Papel e celulose

Produtos à base de

minerais

Metais básicos

TECNOLOGIAS GLOBAIS / INOVADORAS

Computadores e máquinas

de escritório

Semicondutores e

eletrônicos

Médico, preciso e óptico

MÃO-DE-OBRA INTENSIVA NEGOCIÁVEL

Têxteis, vestuário, couro

Móveis, joias,

brinquedos, outros

Intensidade ou densidade de determinado fator

MUITO ALTA ALTA À MODERADA MODERADA À BAIXA BAIXA FATORES MAIS IMPORTANTES PARA O GRUPO

Fonte: McKinsey Global Institute (2012).

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90 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Com base na Tabela 5.7 e na Figura 5.6, podemos

concluir que:

1 Empresas de setores industriais diferentes possuem diferentes características e diferentes processos de inovação.

2 Os setores apresentam especificidades e, por isso, não podemos comparar empresas de setores que produzem aço com empresas que produzem software.

3 Essas diferenças acarretam implicações para a natureza do processo inovador dentro de empresas. Isto também significa dizer que há di-ferenças entre o grau de dificuldade e complexi-dade da capacidade tecnológica do processo de inovação. Por exemplo, o grau de dificuldade de uma empresa de confecção de roupas é menos sofisticado que uma fábrica de celulose e papel.

4 O entendimento dessas diferenças interin-dustriais é importante para se obter uma perspectiva mais realista sobre a maneira e dinâmica no processo de inovação industrial. Também é importante para o desenho de estratégias governamentais e industriais de desenvolvimento industrial.

O foco nas atividades inovadoras em si é

importante. Porém, no longo prazo, o que é

importa é a capacidade tecnológica que permite

que empresas e indústrias implementem níveis

crescentes – ou diversificados – de atividades

inovadoras. Assim, para a implementação de

atividades inovadoras faz-se necessária a acu-

mulação de capacidades tecnológicas, cujas

definição, características e mensuração serão

mostradas na Seção 6 a seguir.

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91CAPÍTULO 05 | POR DENTRO DA INOVAÇÃO: UMA PERSPECTIVA AMPLIADA

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92 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

06

Page 95: I ç E O ortal C I - ABDIinteligencia.abdi.com.br/wp-content/uploads/2017/... · parte do fortalecimento dessa competitividade industrial se explica pela acumulação de capacidades

93RESUMO EXECUTIVO

Capacidades Tecnológicas: Estoque de Recursos para Inovação e Competitividade Industrial

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94 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

06. Capacidades Tecnológicas: Estoque de Recursos para Inovação e Competitividade Industrial

Neste estudo, interessa-nos a capacida-

de para realizar determinadas atividade

tecnológicas. Como dito anteriormente,

é por meio das capacidades tecnológicas

que empresas e indústrias implementam

níveis crescentes – ou diversificados – de

atividades inovadoras. Logo, as capacida-

des tecnológicas são fundamentais para o

crescimento de longo prazo de indústria e

empresas. Especificamente, a capacidade

A capacidade tecnológi-ca significa um conjunto

de recursos, com forte conotação de conhe-cimento, por meio do

qual empresas e países podem usar, alterar, ou

criar tecnologias e siste-mas de produção.

tecnológica significa um conjunto de recursos,

com forte conotação de conhecimento, por meio

do qual empresas e países podem usar, alterar, ou

criar tecnologias e sistemas de produção. Porém,

como estamos preocupados com a capacidade para

atividades tecnológicas, é preciso primeiro escla-

recer o real significado do termo tecnologia. Por

isso, antes de apresentar o conceito de capacidade

tecnológica utilizado neste estudo é preciso, em pri-

meiro lugar, clarificar o real significado de tecnologia.

Desmistificando o Significado de Tecnologia e de Capacidade Tecnológica O termo tecnologia está presente no dia-a-dia

das pessoas e das atividades empresariais e são

mencionados frequentemente na agenda empre-

sarial e governamental, assim como no discurso de

dirigentes empresariais e políticos e pela imprensa

como fontes de vantagem competitiva para em-

presas e países. Porém, o termo ‘tecnologia’ tende

a ter significados e interpretações diversas, con-

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95CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

fusas e/ou equivocadas. Pode, inclusive, parecer

por demais acadêmico ou abstrato tentarmos aqui

apresentar o significado de tecnologia. No en-

tanto, um entendimento limitado ou equivocado

sobre tecnologia pode ter implicações práticas em

termos de gestão de organizações empresariais e

governamentais. Mais ainda: pode deturpar deci-

sões de investimentos em tecnologia e inovação

os quais, normalmente, tendem a ser altos. Por

isso, antes de mostrarmos as experiências de em-

presas relativas à gestão da capacidade tecnológi-

ca e inovação no Brasil, é importante clarificarmos

aqui o seu significado. Tecnologia também tende

a ser confundida com outras noções, conforme

apresentado a seguir.

TECNOLOGIA NÃO É MERAMENTE CIÊNCIA APLICADA

Uma perspectiva equivocada sobre tecnologia é

considera-la como sinônimo de ciência aplicada ou

mera aplicação de conhecimento científico. Isto

implicaria dizer que ciência e tecnologia sempre

caminharam de mãos dadas ao longo da história,

quando, na verdade, esta frutífera união surgiu

apenas a partir do final do século 18. De fato, na

maior parte da história da tecnologia, sua relação

com a ciência foi escassa. Durante séculos, a huma-

nidade fabricou utensílios de ferro sem conhecer

as características químicas deste metal, nem as

causas de diversas mudanças no processo de sua

fundição e forjamento. E, contudo, conseguiram

fabricar objetos, mesmo sustentando falsas teorias

e termos incorretos do processo metalúrgico. As-

sim, ainda hoje, a tecnologia não é, em sua totalidade,

a aplicação da ciência.26 O relacionamento entre

tecnologia e ciência

é, sem dúvida, fértil

para discussões

polêmicas, princi-

palmente quando as

duas variáveis são

associadas ao desen-

volvimento econômico de países. O Boxe 3 contribui

para clarificar distinção entre ciência e tecnologia.

O termo ‘tecnologia’ tende a ter significados e interpreta-ções diversas, confusas e/ou equivocadas.

Um entendimento limitado ou equivocado sobre tecnologia pode ter implicações práticas em termos de gestão de organizações empre-sariais e governamentais.

Uma perspectiva equivocada sobre tecnologia é considera-la como sinônimo de ciência aplicada.

Desmistificando o Significado de Tecnologia e de Capacidade Tecnológica

BOXE 3

TECNOLOGIA NÃO É APENAS APLICAÇÃO DA CIÊNCIA; MAS A RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E

TECNOLOGIA É INTERDEPENDENTE27

Há um reconhecimento histórico das influências da tecnologia no crescimento do conhecimento científico, como por exemplo:

1 Demonstração por Torricelli do peso do ar atmosférico, um fundamental avanço científico, decorreu de suas tentativas e projetar uma bomba melhorada;

2 Sardi Carnot, ao criar a ciência da termodinâmica, resultou da tentativa (de quase 50 anos depois da inovação de Watt), de entender o que determina a eficiência da máquina a vapor;

3 Criação, por Joule, da lei de conservação de energia, surgiu de seu interesse em fontes alternativas para geração de energia para fábrica de cerveja de seu pai.

26. Kranzberg e Pursell (1981).

27. Baseado no clássico Rosenberg (1982).

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PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

De fato, por muito tempo, e ainda hoje, relevante conhecimento tecnológico tem sido acumulado à base de experimentações e tentativa-e-erro sem embasamento científico. Ou seja, ainda hoje, e em grau considerável, há situações relevantes nas quais o conhecimento tecnológico precede o conhecimento científico. Ainda hoje: para certas atividades produtivas ainda não há um conhecimento científico profundo: teorias sobre turbulência e com-pressibilidade para otimização de projetos de aviões são necessários longos testes e consequentes modificações no design baseados nesses testes altos custos de desenvolvimento de aeronaves.

Em função de incentivos econômicos, alguns avanços tecnológicos baseados em conhecimento técnico acu-mulado ocorrem anteriormente ao entendimento científico:

1 Estágio inicial do rádio: ondas curtas para os amadores demonstraram a eficiência das transmissões na faixa de ondas curtas estudos para determinar porque tal desempenho excedia as expectativas levou a entendimentos importantes sobre a ionosfera;

2 Metais: ciência da metalurgia só começa a partir de 1850 quando já eram produtos aços por meio da tecnologia Bessemer;

3 Transistor: antes da Bell Labs apoiar a pesquisa sobre o efeito transistor, em 1947, já existia experiência prática sobre uso dos semicondutores como retificadores de cobre e silício.

O conhecimento tecnológico também desempenha um papel importante na formulação da agenda da ciência:

1 Indústria aeronáutica (turbo jatos): Os melhoramentos tecnológicos nos turbo jatos levavam aeronaves a velocidades cada vez maiores e a limites de desempenho que só poderiam ser ultrapassados por meio de melhor entendimento de fenômenos da física aerodinâmica supersônica aerotermodinâmica;

2 Telefonia: trabalhos para minimizar os ruídos nas transmissões ultramarinas na década de 1930, iden-tificaram três fontes de ruídos: uma delas, o chiado estático, ou ruído estelar, deu origem à radioastro-nomia. Isto levanta a questão de até que ponto podemos então fazer uma distinção tão precisa entre pesquisa básica e pesquisa aplicada?

Assim, seria simplista a noção de que a pesquisa científica apareceria primeiro e levaria posteriormente à apli-cação na tecnologia. Consideremos o exemplo do polietileno: O Bell Labs realizou extensas pesquisas científi-cas sobre o polietileno antes da difusão de seu uso para revestimentos de cabos e isolamento de fios. Porém, muitos problemas apareceram depois de seu uso na indústria. Novas pesquisas, motivadas pelos problemas do uso, levaram a novos entendimentos sobre seu padrão solidificação e morfologia (avanços na ciência dos materiais!). Há mais um exemplo: Após a invenção do transistor, concluiu-se que sua tecnologia não tinha sido construída sobre um vasto esforço de pesquisa. Novas pesquisas demandariam conhecimento em física do estado sólido! Porém, um cientista da indústria ministrou cursos no Bell Labs e para professores de 30 universi-dades sobre o tema. Isso objetivava a criação de cursos de física de transistores nas universidades. Portanto, o fluxo de conhecimento ocorreu da indústria para a universidade.

Assim, mesmo quando um avanço tecnológico é precedido por alguma pesquisa básica, é o estabelecimento de uma vinculação palpável entre a tecnologia e o campo científico específico que é responsável pela intensificação da pesqui-sa nesse campo. Portanto, a ciência vem sendo moldada, direcionada e condicionada por estímulos econômicos:

1 A pesquisa científica é uma atividade dispendiosa;

2 Ela pode ser direcionada de modo que pode gerar grandes retribuições econômicas e bem-estar à sociedade. Economias (hoje) industrialmente avançadas criaram um vasto domínio tecnológico moldado por incentivos econômicos. Esse domínio tecnológico está de várias formas ligado à ciência. A ciência não pode ser consi-dera exógena ao modelo de desenvolvimento econômico. O processo de industrialização inevitavelmente transforma a ciência em uma força endógena, ao aumentar sua dependência em relação à tecnologia.

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97CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

TECNOLOGIA NÃO É MERAMENTE PRODUTO

Produtos contêm diferentes tecnologias (Figura

6.1). Uma tecnologia pode estar presente em vá-

rios tipos de produtos (por exemplo, a tecnologia

digital)28 e um produto pode conter um crescente

número de tecnologias. Por exemplo, um refrige-

rador da década de 1960 tinha, no máximo, três

a quatro tecnologias, uma delas o compressor. Os

atuais, principalmente aqueles já desenhados para

conexão com a internet, têm aproximadamente

oito a dez tecnologias. Da mesma forma, um te-

lefone celular da década de 1980 tinha perto de

oito tecnologias, enquanto os mais simples atuais

têm cerca de 15 a 18 tecnologias. Cada vez mais,

produtos, processos de produção e serviços,

como automóveis, software, aviões, extração de

petróleo em águas profundas, serviços hospita-

lares, serviços bancários e de transporte público

envolvem um crescente número de diferentes

tecnologias. Por exemplo, uma inovação modular

significaria a alteração de uma dessas tecnologias

contidas em um determinado produto.

Produtos con-têm diferentes tecnologias.

FIGURA 6.1

PRODUTO E TECNOLOGIA

Fonte: Figueiredo (2009, 2015).

TECNOLOGIAS

A

B

C

DEFG

H I

J

28. Ver também von Tunzelmann (1995).

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98 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

TECNOLOGIA NÃO É SOMENTE MAQUINARIA OU EQUIPAMENTOS

É frequente no senso comum a definição de tec-

nologia relacionada estritamente à maquinaria, no

sentido genérico, tais como: equipamen-

tos, ferramentas, aeronaves, satélites,

instrumentos fabris e computadores.

De fato, o artefato ou, mais tecnicamen-

te falando, os sistemas técnico-físicos

(maquinaria, equipamento, bancos de

dados, software, fábricas) são parte de

uma tecnologia e expressam parte dela. Mas não

podem ser tomados como a própria tecnologia.

O entendimento estreito e limitado de tecnolo-

gia como sinônimo de maquinaria e equipamen-

tos pode ter efeitos negativos para empresas

e países. Por exemplo, são comuns os casos de

organizações que adquirem

máquinas e equipamentos

extremamente avançados e

se autodenominam organi-

zações tecnologicamente

avançadas. Porém, faltam-

-lhes pessoas qualificadas

para compreender os

princípios da tecnologia. Por isso, operam-na

de maneira ineficiente ou equivocada levando

a quebras, indisponibilidade e altos custos de

manutenção. Também podem subutilizar a tec-

nologia por absoluta falta de conheci-

mento básico sobre a potencialidade

dos recursos. Em casos mais extremos,

a tecnologia nem mesmo é colocada

em uso, permanecendo, por anos,

na mesma forma como foi entregue

pelo fornecedor por absoluta falta de

conhecimento sobre sua instalação e

operação básica. Em outros casos, a

organização adquire sistemas físicos

de última geração (maquinarias e equi-

pamentos) e recruta engenheiros, técnicos e

gerentes altamente qualificados. A despeito

da existência de capital físico e humano, falta

à empresa um sistema organizacional (pro-

cedimentos, rotinas, normas padronizadas)

capaz de integrar esses dois componentes de

maneira a um uso eficiente da tecnologia e sua

posterior adaptação e aprimoramento.

TECNOLOGIA NÃO É APENAS A CHAMADA ALTA TECNOLOGIA (OU HIGH TECH)

A história da tecnologia confunde-se com a

história da humanidade. Mas tecnologia sempre

teve o mesmo sentido ao longo da história? As

perspectivas contemporâneas convencionais

e populares sobre tecnologia tendem a asso-

ciá-la àquilo que é fantástico e extremamente

sofisticado, normalmente a indústrias como a

microeletrônica, computação, tecnologia da

informação ou indústria aeroespacial. É comum,

por exemplo, observarmos na imprensa em

geral referências às assim chamadas “empresas

de tecnologia”, como aquelas ligadas a essas

indústrias. Trata-se, porém, de uma visão, não

apenas estreita, mas equivocada sobre tecnolo-

gia. Tecnologia está presente nos mais variados

setores industriais e nos mais variados tipos

de organização (empresariais e não empre-

sariais). Existem, por exemplo, tecnologia de

mineração, de pesca, de tratamento de água,

de cultivo agrícola, de pecuária, assim como

tecnologia automobilística, hospitalar, bancária,

de entretenimento e vários outros tipos. Logo,

tecnologia está presente, em graus de sofisti-

cação variados – de rudimentar, baixa, inter-

mediários e avançados – em diversos tipos de

organização. Ou seja, tecnologia está presente

em organizações e indústrias que variam desde

os intensivos em recursos naturais, os baseados

em processos (por exemplo, fabricação de aço,

químicos), os baseados em produto (eletrônica

de consumo, automobilístico), os baseados em

projetos (empresas de engenharia, de consulto-

rias), os intensivos em informação e os intensi-

vos em serviços.

É frequente no senso comum a defi-

nição de tecnologia relacionada estrita-

mente à maquinaria.

Tecnologia está presente nos mais

variados setores industriais e nos

mais variados tipos de organização

(empresariais e não empresariais).

O entendimento estreito e limitado de tecnologia

como sinônimo de maqui-naria e equipamentos pode

ter efeitos negativos para empresas e países.

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99CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

O QUE É, AFINAL, TECNOLOGIA? BREVE COMENTÁRIO SOBRE SUA REAL NATUREZA

Depois do que já foi mencionado, começa a

ficar claro que tecnologia é um corpo específico

de conhecimento produtivo. Trata-se de um

tipo específico de conhecimento produtivo.

De fato, como tem sido mostrado em diversos

estudos ao longo das últimas décadas, e clara-

mente argumentado pelo clássico Keith Pavitt,

tecnologia deveria ser compreendida como um

quantum de conhecimento retido por pessoas e

organizações. Este conhecimento, resultante de

sua experiência acumulada em projeto (design),

produção, desenvolvimento de produtos e

aprimoramento de processos é, em sua maioria,

tácito. Isto significa que não está formatado,

em sua totalidade, em nenhum tipo de manual

ou software. Mas é adquirido por pessoas e

organizações por meio de solução de problemas

permanecendo lá dentro em um estado subs-

tancialmente não codificado.29

Apenas parte deste conhecimento está codifica-

da na forma de manuais de operação, produtos,

equipamentos, publicações técnicas e científicas.

De fato, tecnologia é uma forma de conhecimento

(know-how) aberto, no sentido de ter um cará-

ter não proprietário, por exemplo, tecnologia

(conhecimento) sobre energia nuclear, de projeto

e fabricação de aviões, ou de explorar petróleo

no mar. Porém, isto não significa que todas as

empresas teriam fácil acesso a tais conhecimentos

(tecnologias) específicos. Esses conhecimentos

estão armazenados, impregnados e acumulados

em empresas especializadas,

na forma de suas capacidades

tecnológicas para fazer tais ati-

vidades. Mais especificamente,

está armazenado na forma de qualificação das

pessoas, suas experiências e talentos e no tecido

organizacional de uma ou mais empresas. Porém,

grande parte deste quantum de conhecimento

produtivo é tácito, tanto em pessoas, como em

organizações inteiras.

Mas o que é conhecimento tácito? Pela pers-

pectiva individual, é aquilo que certas pessoas

sabem como fazer, mas dificilmente conseguem

contar ou escrever como o fazem. Por exemplo,

se você tentar replicar uma receita culinária

dificilmente conseguirá o mesmo sabor obtido

pela pessoa que criou a receita. Se pedirmos para

uma pessoa descrever como é andar de bicicleta

ou nadar, assim como se perguntarmos a craques

do futebol como eles marcam gol, dificilmente

eles conseguirão descrever essa atividade. Esse

conhecimento (do chef de cozinha ao do jogador

de futebol) é um conhecimento tácito. Reflete

talentos, habilidade e experiências natas e/ou

adquiridas e aprimoradas ao longo do tempo.

Levando-se para o nível organizacional e do

ponto de vista tecnológico e empresarial, o co-

nhecimento tecnológico pode ser subdividido em

tácito (não codificável e codificável) e codificado,

como mostrado na Figura 6.2.

Tecnologia é um corpo es-pecífico de conhecimento produtivo.

Porém, grande parte deste quantum de conheci-mento produtivo é tácito, tanto em pessoas, como em organizações inteiras.

29. Pavitt (1987); Nelson e Winter (1982); Rosenberg (1993); Dosi (1988).

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100 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FIGURA 6.2

DISTINÇÃO ENTRE DIMENSÕES TÁCITA E CODIFICADA DA TECNOLOGIA

DOCUMENTADODocumentos escritos, declarações gramaticais, expressões matemáti-cas, especificações, designs, planos

e manuais, software.

COFIFICÁVELCodificado verbalmente

e não codificado

NÃO CODIFICÁVEL

DIMENSÃO TÁCITA

DIMENSÃO CODIFICADA

TECNOLOGIA

O que é tácito hoje, não é tácito amanhã!

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015).

Porém, o que é tácito hoje não é tácito ama-

nhã. Por meio de processos de aprendizagem

tecnológica (que será comentado posterior-

mente neste documento), pode-se aprender os

princípios de tecnologia existente e evoluir para

o seu domínio.

De acordo com seu significado contem-

porâneo, tecnologia é definida como

um estoque ou quantum de conheci-

mento sobre certos tipos de eventos

e atividades produtivas (desenvolver

um carro, projetar um avião, desen-

volver um software, construir e operar

uma planta nuclear, lançar um foguete

espacial, reduzir consumo de combustí-

vel de um carro/avião).

1 Trata-se de um estoque ou quantum de conhecimento produtivo;

2 Esse conhecimento é proprietário, intrínseco e específico ao contexto organizacional onde é concebido e desenvolvido;

3 Isto porque esse conhecimento é criado e acumulado por meio de um longo processo de aprendizagem (que envolve desde tenta-tiva-e-erro ad-hoc, imitação criativa aos mais elevados níveis de P&D); e

4 Tal estoque ou quantum possui uma di-mensão codificada (patentes, algoritmos, designs, software, produtos, hardware, etc.) e uma dimensão tácita. É justamente essa dimensão tácita que torna uma tecnologia difícil de ser adquirida, guardadas as devidas proporções relativas aos graus de complexi-dade de seus vários tipos.

Tecnologia é definida como

um estoque ou quantum de co-

nhecimento sobre certos tipos de

eventos e ativida-des produtivas.

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101CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

Sendo assim, tecnologia não deveria ser

considerada como um bem público, que se

adquire na prateleira do mercado. Uma parte da

tecnologia pode ser considerada “bem públi-

co”, codificada ou informação. Mas uma parte

importante da tecnologia é conhecimento,

portanto tácito e derivado de um processo

de aprendizagem idiossincrático. Por isso,

é importante que se faça uma distinção entre

informação e conhecimento, que, convencio-

nalmente, tendem a ser tratados como concei-

tos iguais. Informação pode ser representada

pela soma total de “mensagens” geradas ao

redor do mundo de forma geral, algoritmos,

livros, e tudo o que está disponível na internet,

que é, em princípio, comercializável; enquanto

conhecimento é geralmente não-comerciali-

zável e resulta de processos de aprendizagem,

que podem derivar tanto de experiências de

produção passadas, quanto da aquisição de

novas informações. Assim, conhecimento e

informação não são idênticos, mas fortemente

complementares: o que a empresa é capaz de

aprender a partir da quantidade de mensagens

(informações) disponíveis irá depender do

conhecimento que já tenha acumulado (ou seja,

sua base de conhecimento existente).

Logo, tratar tecnologia como informação ou

bem público pode levar alguns dirigentes a

um raciocínio equivocado e a consequên-

cias negativas. Por causa da intensificação da

globalização e a disseminação de tecnologias

de comunicação e de informação (as chamadas

TICs, à base de e-mails e outros meios de comu-

nicação suportados ou apoiados pela televi-

são, telefonia móvel, satélites e pela Internet)

tende-se a assumir que tecnologia está cada vez

mais acessível a todos, principalmente a países e

áreas em desenvolvimento. Trata-se, porém, de

uma perspectiva altamente equivocada.30

ONDE RESIDE ESSE CONHECIMENTO ESPECÍFICO (OU TECNOLOGIA)?

Certamente, não está no vácuo ou solto no ar.

A tecnologia é sempre concebida, desenvolvida

e alterada dentro de contextos organizacionais

específicos. Estes, por sua vez, localizam-se dentro

de contextos regionais e nacionais. Cada empresa é

um lócus onde ocorre uma progressiva acumulação

de conhecimento tecnológico que possui elementos

muito específicos e idiossincráticos da empresa e do

país onde foi concebida, desenvolvida e aprimorada.

Ou seja, a tecnologia

reside, incorpora-se e

acumula-se em recursos

ou componentes específi-

cos. Em outras palavras, a

tecnologia é incorporada

e acumulada em componentes como sistemas

técnico-físicos (máquinas, equipamentos, banco de

dados, software), nos profissionais (que constroem

esses sistemas técnico-físicos e neles depositam seu

conhecimento formal, experiência, habilidades e ta-

lentos), no sistema, tecido organizacional e geren-

cial de empresas (que reflete o conhecimento e

experiências dos profissionais que os construíram e

estruturaram), assim como nos produtos e serviços

da organização (que também reflete o conhecimen-

to tácito de engenheiros, técnicos e operadores,

bem como os vários procedimentos organizacio-

nais e técnicas gerenciais). Ou seja, a tecnologia (de

uma empresa ou país) é um estoque de recursos, à

base de saber tecnológico, que se armazena nesses

três componentes. A relação simbiótica que se

forma entre esses três componentes e que permite

que empresas e países realizem certas atividades

tecnológicas é denominada de capacidade tecno-

lógica. A capacidade tecnológica de uma empresa

ou país, para certa atividade específica, é composta

pelos componentes especificados na Figura 6.3.

Tecnologia não deveria ser conside-rada como um bem público, que se adquire na prateleira do mercado.

A tecnologia reside, incorpora-se e acumula-se em recursos ou componentes específicos.

Mas uma parte importante da tecnologia é conhecimento, portanto tácito e derivado de um processo de aprendiza-gem idiossincrático.

Tratar tecno-logia como informação ou bem público pode levar al-guns dirigentes a um raciocínio equivocado e a consequências negativas.

30. von Tunzelmann (1995).

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102 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FIGURA 6.3

COMPOSIÇÃO DA CAPACIDADE TECNOLÓGICA

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015).

Capacidade suplementar

Capacidade habilitadora

Capacidade de produção

CAPACIDADE TECNOLÓGICA

SISTEMA ORGANIZACIONAL

• Rotinas organizacionais (o modo proprietário de fazer as coisas” na organização; sequencias confiáveis encontradas pela empresa pararealizar atividades tecnológicas

• Procedimentos técnicos, operacionais e gerenciais

• Estruturas organizacionais e gerenciais

• Sistema institucional (normas, crenças e valores)

• Habilidades

• Conhecimento tácito

• Experiência acumulada

• Talentos

• Criatividade

• Diversas especialidades

• Diversos tipos e níveis de qualificações formais

PROFISSIONAIS E SUAS QUALIFICAÇÕES FORMAIS E INFORMAIS

• Equipamentos

• Banco de dados

• Software/hardware

• Diagramas/design

• Sistemas de produção

SISTEMAS TÉCNICO-FÍSICOS

Capacidade tecnológica para inovaçãoCapacidade tecnológica operacional (não inovadora)

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103CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

DEFINIÇÃO ESPECÍFICA DOS COMPONENTES DA CAPACIDADE TECNOLÓGICA

1 Profissionais ou capital humano. Uma parte importante da capacidade tecnológi-ca da empresa é incorporada na mente dos engenheiros, dos gerentes, dos operado-res, dos técnicos, e de outras pessoas na organização. Tal dimensão da capacidade é expressa por meio de sua educação formal e aprendizagem, mas, principalmente, da experiência acumulada, habilidades, destreza e talentos acumulados, em outras palavras, os elementos-chave de seu co-nhecimento tácito.

2 Sistemas técnico-físicos (capital físico). Longe de ser acumulada somente na mente das pessoas, a capacidade tecnológica é tam-bém acumulada e incorporada nos sistemas físicos que as pessoas constroem ao longo do tempo, tal como fábricas, maquinaria, software, base de dados etc.

3 Processos e sistemas organizacionais e gerenciais (capital organizacional). As capacidades são particularmente incorpo-radas e acumuladas no tecido ou sistema organizacional da empresa (ou das empre-sas) do qual se origina. Especificamente, este sistema organizacional (orgânico), que incorpora uma parte substancial de capacidades tecnológicas, envolve as rotinas organizacionais, dos procedimentos, das normas, da produção, dos processos admi-nistrativos da empresa, técnicas de gestão de produção (p. ex., sistemas da qualidade, sistemas automatizados, Enterprise Resource Planning - ERP). O conhecimento flui através das áreas funcionais, das regras gerenciais e das estruturas organizacionais etc.

A ideia de rotinas organizacionais é muito

importante e merece clarificação. São os hábitos

e a maneira que uma organização encontra de

realizar suas atividades da forma que considera

mais confiável possível (seu “jeito de fazer as coi-

sas”). Ou seja, são as habilidades de uma organiza-

ção. Ao longo de sua vida a empresa adquire um

repertório de rotinas que deriva da maneira como

realiza suas atividades. Por exemplo, depois de

experimentar (errar e aprender) várias sequências

de como proceder no processo de armazena-

mento de produtos perecíveis ou de como fazer a

manutenção de equipamentos, a empresa escolhe

uma sequência de ações na qual ela confia. Ao

realizar essa sequência ao longo do tempo, a

empresa não apenas aprimora como deposita nela

o conhecimento de pessoas e a própria maneira

como as coisas são feitas na empresa.

Por isso, as rotinas organizacionais são grandes

armazenadoras do saber tecnológico (ou capa-

cidade tecnológica) da empresa. Representam o

“DNA” da empresa. Os processos, produtos e ser-

viços derivados das rotinas organizacionais, por

serem muito específicos à empresa, dificilmente

são replicados automaticamente por outros. Ou

seja, ao engajarem-se em atividades de busca de

atividades novas e de soluções para problemas

técnicos e organizacionais, as empresas depo-

sitam conhecimento específico e intrínseco em

suas rotinas. Esse conhecimento organizacional é

tácito. Vale lembrar, porém, que existem rotinas

eficientes e ineficientes, pois refletem simples-

mente parte do saber da em¬presa.

PROPRIEDADES DA CAPACIDADE TECNOLÓGICA

Existe um grau de importância e prioridade en-

tre esses três componentes. Isto é importante

principalmente à gestão da capacidade tecnoló-

gica no contexto de economias em desenvolvi-

mento. As empresas nesses países normalmente

começam (ou começaram) o seu negócio a

partir de tecnologia importada de empresas de

outros países (normalmente daqueles que se

industrializaram mais cedo, como, por exemplo,

Reino Unido, França, Estados Unidos, Alemanha

e Japão). Por isso, no contexto de países em de-

senvolvimento, os componentes “profissionais”

(capital humano) e sistemas organizacionais e

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104 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

gerenciais (capital organizacional) têm

importância maior do que sistemas

técnico-físicos e produtos e serviços.

Os sistemas técnico-físicos (máquinas,

equipamentos e software) podem ser

adquiridos no mercado com relativa

facilidade. Porém, o sistema organiza-

cional (em função da especificidade das

rotinas organizacionais, como mencio-

nado anteriormente) e os recursos humanos

tem forte dimensão tácita. Eles precisam ser

desenvolvidos internamente. É com base neles

que tecnologias adquiridas de outras empresas

e de outros países serão assimiladas, absorvidas

e, posteriormente, alteradas, aprimoradas e

até transformadas em novas tecnologias. Por

isso, são componentes preciosos que merecem

atenção e esforços diferenciados por parte da

gestão da empresa.

Mais especificamente, esses

dois componentes têm eleva-

do grau de especificidade e

de propriedade tácita. Um

país precisa desenvolver a

sua própria base de recursos

humanos em áreas rela-

cionadas às atividades tecnológicas, tais como

engenheiros, pesquisadores, gerentes, técnicos,

operadores. Assim também as empresas preci-

sam formar os seus próprios recursos humanos.

O sistema organizacional, por sua vez, é ainda

mais específico ao contexto organizacional no

qual é desenvolvido.

Portanto, a capacidade das empresas para gerir

e utilizar o estoque de recursos representados

na Figura 6.3 para a realização de atividades

tecnológicas é denominada capacidade tecnoló-

gica. Existe uma relação inseparável e simbiótica

entre os componentes da capacidade tecnológica.

É essa relação simbiótica que reflete a capacidade

tecnológica que é própria, intrínseca e específica

a uma empresa ou país. Por isso, podemos nos

referir à capacidade tecnológica da Petrobras

para explorar e produzir petróleo, da Usiminas ou

CSN para projetar e produzir aços, da Motorola

para projetar e produzir celulares, da Fibria ou

Votorantim para produzir florestas e celulose e da

Klabin para produzir papel.

A capacidade que essas empresas possuem de

realizar tais atividades com alto grau de eficiên-

cia, mas também de criatividade e de inovação é,

portanto, a sua capacidade tecnológica. Trata-se

de um ativo cognitivo ou base de conhecimento

muito próprio a cada uma dessas empresas e que

reflete o conhecimento tácito de seus engenhei-

ros, gerentes, técnicos e operadores, de seus

conhecimentos codificados e tácitos impregnados

em suas rotinas organizacionais, procedimen-

tos, manuais de instrução, técnicas gerenciais,

estruturas organizacionais e gerenciais, siste-

mas técnico-físicos, instalações, do processo de

projetar, desenvolver e aprimorar seus produtos

e serviços, mas também seus valores e normas

(“jeito como as coisas são feitas”) da empresa.

É preciso também considerar que uma parte da

tecnologia de uma empresa armazena-se em seus

produtos e serviços. Outra parte das capacida-

des da empresa está incorporada nos produtos

e serviços que são desenhados, desenvolvidos,

fabricados, fornecidos e comercializados pela

empresa com base em seus sistemas técnico-físi-

cos, pessoas e sistema organizacional. Produtos

e serviços não devem ser vistos apenas como

resultados dos outros três componentes. Eles

expressam parte da capacidade tecnológica da

em¬presa. É por meio do acesso ao produto que

muitos novos entrantes começaram o processo

de imitação duplicativa por meio de engenharia

reversa. Aqui nos interessa especialmente os três

componentes inicias (capital humano, sistemas

técnico-físicos e sistemas organizacionais), que

são recursos acumulados pelas empresas.

A capacidade das empresas para gerir

e utilizar o estoque de recursos para a realização de ativi-dades tecnológicas

é denominada capa-cidade tecnológica.

A capacidade tecnológica é acumulada e incorporada

no tecido organizacional, nas pessoas, nos sistemas

físicos e nos produtos e serviços da organização.

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105CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

Portanto, a capacidade tecnológica é acumula-

da e incorporada no tecido organizacional, nas

pessoas, nos sistemas físicos e nos produtos

e serviços da organização. Esta capacidade

tecnológica é tácita e intrínseca a este contexto

organizacional onde foi concebida, desenvolvida

e fortalecida. Porém, a despeito da natureza

tácita e intrínseca da capacidade tecnológica e

por mais que esta seja protegida por mecanismos

diversos, como propriedade intelectual, patentes

e barreiras de entrada, tal capacidade tecnológi-

ca (ou conhecimento tecnológico) acaba sendo

copiada para outros sistemas organizacionais.

Mas este processo está longe de ser automáti-

co. Isto depende, em primeiro lugar, da avidez e

esforços de absorção e assimilação tecnológica

(aprendizagem) por parte da organização recep-

tora ou interessada em adquirir certa capacidade

tecnológica. Ou seja, o que é tácito hoje pode

não ser tácito amanhã ou para sempre.

Por exemplo, o Brasil conseguiu acumular capaci-

dades tecnológicas para desenvolver para proje-

tar aviões e enriquecer urânio, tecnologias estas

normalmente negadas e cuja difusão é cercada

de mecanismos que variam de técnicos a políti-

cos. O Irã conseguiu acumular capacidade tec-

nológica para enriquecer urânio. Por outro lado,

várias empresas que ocupam liderança absoluta

em seu mercado sabem que a única maneira de

se manter na liderança não é criar barreiras de

entrada ou manipular certas forças competitivas,

mas simplesmente aprofundar sua capacidade

tecnológica inovadora. Um bom exemplo disso

seja talvez a Gillette. Muito embora a empresa

detenha mais de 70% do mercado mundial de

barbeadores, mantém investimentos e esfor-

ços contínuos de pesquisa e desenvolvimento

(P&D) em novas gerações de produtos. Ou seja,

a melhor proteção para o capital intelectual de

empresas é a própria capacidade inovadora. Em

síntese, algumas propriedades adicionais das

capacidades tecnológicas incluem:

1 A capacidade tecnológica é amplamente difusa e espalhada através da corporação;

2 A capacidade tecnológica tem uma forte dimensão tácita e intrínseca;

3 Tal dimensão tácita torna muito difícil ser facil-mente copiada e transferida automaticamente através de empresas, indústrias e países; e

4 O sistema organizacional é um componen-te-chave da capacidade tecnológica que permite que diferentes tipos de conheci-mento tácito dos indivíduos sejam transfor-mados em novos processos organizacionais e de produção e, especialmente, em novos produtos criativos e inovadores para atender a necessidades específicas dos usuários.

TIPOS DE CAPACIDADES TECNOLÓGICAS

A Figura 6.3 sugere diferentes tipos de capacidades

tecnológicas que podem ser caracterizadas como

capacidades de produção e de inovação. As capa-

cidades tecnológicas de produção são as capaci-

dades para usar ou operar tecnologias e sistemas de

produção existentes. As capacidades tecnológicas

inovadoras são as capacidades que permitem a

modificação de tecnologias e sistemas de produção

existentes, assim como a criação de novas tecnolo-

gias e sistemas de produção existentes.

Ambas as capacidades tecnológicas de produção

e de inovação podem ser desagregadas em níveis.

A capacidade tecnológica de produção, por exem-

plo, pode ser desagregada em termos de básica e

avançada. O nível avançado refere-se ao uso ou

operação das mais avançadas técnicas de produ-

ção, que podem variar da automação de proces-

sos de produção aos mais sofisticados sistemas

digitais com base na assim chamada manufatura

4.0 ou “smart factories”. Ao se referir à capacidade

tecnológica de uma empresa ou país é importante

discernir se de mera produção/operação ou se

de inovação, a qual, por sua vez, pode variar de

básica até avançada. Portanto, em se tratando de

capacidade tecnológica para realizar uma ativida-

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106 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

de específica (p. ex., produzir

carros ou petróleo), tanto em

nível de empresa como de

país, a pergunta não é se tem

ou não tem, mas qual tipo (se

de produção/operação ou

de inovação) e em que grau

ou nível. Por exemplo, uma

empresa pode ter capacidade

para produzir milhões de uni-

dades de certo produto, com

alto grau de eficiência; mas

pode não ter capacidade para

alterar nenhum de seus com-

ponentes. Ou seja, empresas

poderiam ter capacidade

tecnológica avançada de produção e nenhu-

ma ou limitada capacidade tecnológica para

inovação. Essa distinção entre esses dois tipos de

capacidades tecnológicas é fundamental em ter-

mos de interpretação e de desenho de políticas

públicas e estratégias empresariais relativas à

inovação e desenvolvimento industrial.

As capacidades tecnológicas suple-

mentares adicionam valor às capaci-

dades inovadoras e as de produção.

Envolvem, por exemplo, canais de distri-

buição, técnicas de embalagens e demais

sistemas de logística. As capacidades

tecnológicas habilitadoras são aquelas

que habilitam a empresa a fornecer

certos clientes ou exportar para certos

mercados. Por exemplo, uma empresa

pode obter determinada certificação sanitária

que lhe dá condições para exportar carne e

derivados para certos mercados exigentes. Uma

empresa pode também obter certa certificação

para demonstrar que seu processo de produ-

ção lhe habilita a exportar seus produtos para

determinados mercados. Ambas as capacidades

tecnológicas suplementares e habilitadoras

podem ser imitadas com certa facilidade. São

similares às capacidades de produção. Elas agre-

gam valor às capacidades tecnológicas inova-

doras, mas não podem distinguir a empresa em

termos de performance competitiva.31

AS DUAS FACES DA CAPACIDADE TECNOLÓGICA INOVADORA

As mesmas capacidades tecnológicas que garan-

tem o sucesso de empresas em termos de perfor-

mance inovadora e competitiva, também podem

levar ao seu fracasso. As capacidades tecnológicas

inovadoras podem sofrer enrijecimento e condu-

zir empresas à perda de liderança comercial. Isso

ocorre quando elas exacerbam na acumulação

de capacidades inovadoras – na direção errada

(por exemplo, Digital Equipment, Kodak, Nokia e

Motorola). Por isso, algumas empresas diversificam

suas atividades tecnológicas inovadoras, exploram

novas oportunidades tecnológicas a partir de suas

capacidades (self-discovery) e criam novas linhas de

negócios para explorar tais oportunidades32. Com

isso, podem abrir setores novos para a economia de

um país, contribuindo para a renovação da estrutu-

ra industrial e o crescimento econômico. 33

As mesmas capaci-dades tecnológicas

que garantem o sucesso de empre-

sas em termos de performance inova-dora e competitiva, também pode levar

ao seu fracasso.

31. Leonard-Barton (1995).

32. Ver, por exemplo, Christensen (2002); Bell & Figueiredo (2012); Figueiredo (2015).

33. Ver, por exemplo, Hausmann et al. (2007); Bell e Figueiredo (2012); Crespi (2013).

Empresas poderiam ter ca-pacidade tecnológica avan-çada de produção e nenhu-ma ou limitada capacidade tecnológica para inovação. Essa distinção entre esses dois tipos de capacidades tecnológicas é fundamental em termos de interpretação e de desenho de políticas públicas e estratégias empre-sariais relativas à inovação e desenvolvimento industrial.

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107CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

FIGURA 6.4

DUAS FACES DAS CAPACIDADES TECNOLÓGICAS INOVADORAS

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015).

A face negativa se manifesta a partir das se-

guintes patologias34:

1 Insulamento: isolamento da organização e adoção de ações e estratégias orientadas

para dentro, com limitada interação com congêneres existentes e potenciais;

2 Exacerbação do aprofundamento das capa-cidades tecnológicas existentes (“fazer mais do mesmo”);

31. Leonard-Barton (1995).

32. Ver, por exemplo, Christensen (2002); Bell & Figueiredo (2012); Figueiredo (2015).

33. Ver, por exemplo, Hausmann et al. (2007); Bell e Figueiredo (2012); Crespi (2013). 34. Leonard-Barton (1995).

CAPACIDADE TECNOLÓGICA

SISTEMA ORGANIZACIONAL

• Rotinas organizacionais (o modo proprietário de fazer as coisas” na organização; sequencias confiáveis encontradas pela empresa pararealizar atividades tecnológicas

• Procedimentos técnicos, operacionais e gerenciais

• Estruturas organizacionais e gerenciais

• Sistema institucional (normas, crenças e valores)

• Habilidades

• Conhecimento tácito

• Experiência acumulada

• Talentos

• Criatividade

• Diversas especialidades

• Diversos tipos e níveis de qualificações formais

PROFISSIONAIS E SUAS QUALIFICAÇÕES FORMAIS E INFORMAIS

• Equipamentos

• Banco de dados

• Software/hardware

• Diagramas/design

• Sistemas de produção

SISTEMAS TÉCNICO-FÍSICOS

Capacidades tecnológicas que conduzem à inovação

e liderança mundial

Capacidades tecnológicas que conduzem à perda de

inovação e perda de competitividade

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108 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

3 A força do passado: utilizar modelos mentais e metodologias antigas para resolver e inter-pretar problemas e situações presentes;

4 Incapacidade de inovar com base em novos métodos: insistência em usar permanecer com métodos e estratégias que sempre funcionaram (no passado);

5 Experimentação limitada: limitada capaci-dade ou ímpeto para tentar novas aborda-gens e alternativas; e

6 Descarte de conhecimentos externos: exacerbação da “síndrome do não-inventa-do-aqui”.

Mensuração de Capacidades Tecnológicas Um dos princípios básicos de gestão afirma que

somente é possível gerir bem aquilo que se pode

medir bem. Essa máxima da gestão aplica-se ao

processo de desenvolvimento industrial, tanto da

perspectiva de políticas públicas como de estraté-

gias empresariais. Esta seção aborda a mensura-

ção de capacidades tecnológicas.

Abordagens Convencionais para Mensuração de Capacidades TecnológicasNotadamente e, majoritariamente, observamos nos

estudos sobre capacidades tecnológicas a utilização

de diversos indicadores, utilizados com o objetivo

de mensurar capacidades inovadoras. Destacamos,

nesta seção, as abordagens mais utilizadas para esta

finalidade, bem como, a necessidade de avançarmos

na maneira como mensuramos estas capacidades.

MENSURAÇÃO DE CAPACIDADES INOVA-DORAS À BASE DE INDICADORES AGRE-GADOS (SURVEYS DE INOVAÇÃO)

Os indicadores econômicos, em geral, começaram

a aparecer na economia, sobretudo sob a forma de

dados e estatísticas como ferramentas matemá-

ticas, na década de 1930. Variavam entre indica-

dores de crescimento, produtividade, emprego,

inflação, entre outros, de modo a avaliar e diagnos-

ticar a evolução dos principais componentes da

economia dos países. O surgimento e a compilação

de tais indicadores influenciaram, mais tarde, o de-

senvolvimento de estatísticas similares para ciência

e tecnologia. Assim, costuma-se marcar a década

de 1950 como o período onde as discussões sobre

ciência e tecnologia passaram a se dar de forma

mais profunda, analítica e contínua, à medida que

foi confirmada e reconhecida sua importância,

essencialmente para o desenvolvimento econômico

e tecnológico.

A partir da década de 1960, diante da intensifica-

ção e compreensão da importância dos elementos

tecnológicos para o avanço dos países e de suas

economias, os aspectos relacionados à inovação

tecnológica tornaram-se o foco principal de grande

parte dos estudos sobre o tema. Neste sentido, a

mensuração de ciência e tecnologia tem como pre-

cursores a Fundação Nacional de Ciência (National

Science Foundation – NSF) dos EUA, na década de

1950, e organismos intergovernamentais tais como

a Organização para a Cooperação e o Desenvolvi-

mento Econômico (OCDE), nos anos de 1960.

Em 1961, a OCDE foi formada a fim de organi-

zar e coordenar políticas de ciência e tecnologia

entre seus países membros e, em 1962, ocorreu a

primeira conferência dedicada ao desenvolvimento

de indicadores de C&T. Em 1963, foi divulgado o

Manual Frascati, que propunha práticas e metodo-

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109CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

logia padronizadas para levantamentos de P&D. A

partir da década de 1990, com o reconhecimento

das limitações presentes em abordagens ante-

riores (como o Manual Frascati) e a necessidade

de padronização de tais relatórios e documentos

(sobretudo para fins de comparabilidade), a OCDE

decidiu preparar e adotar um manual para os seus

países-membros como modelo conceitual para

condução das pesquisas sobre inovação, deno-

minado Manual de Oslo. Foi adotado em 1992,

revisado pela primeira vez em 1996 e publicado em

colaboração com a Eurostat (Statistical Office of

the European Communities) em 1997. O objetivo

era harmonizar metodologias nacionais e coletar

informações padronizadas sobre as atividades

inovadoras das empresas, concentrando-se unica-

mente na inovação tecnológica.

Assim, a OCDE, ao longo de mais de 40 anos,

é responsável pela elaboração de indicadores

voltados para ciência e tecnologia, através da

elaboração de uma série de manuais, conhecidos

como Família Frascati, cada um buscando abor-

dar, de forma mais aprofundada, determinada

vertente da disciplina, tais como P&D (Manual

Frascati), inovação (Manual de Oslo), recursos

humanos (Manual de Canberra), balança de

pagamentos tecnológica e patentes (Manual

de Patentes). De forma semelhante, a Eurostat

publica relatórios anuais sobre financiamento pú-

blico de P&D, apropriação de P&D, distribuição

regional de pessoal voltado para P&D, gastos em

P&D e aplicações de patentes. É co-responsável

por trabalhos metodológicos em diversos domí-

nios, tendo participado ativamente da primeira

revisão do Manual de Oslo. Os levantamentos de

inovação foram, e são, amplamente influenciados

pelos três Community Innovation Surveys (CIS)

preparados e coordenados pela Eurostat.

Com a publicação do Manual de Oslo e o exem-

plo de países da OCDE e da UE (União Européia)

conduzindo suas pesquisas de inovação, diversos

países em desenvolvimento também se lançaram

na medição da inovação. Consequentemente,

passaram a utilizar as bases metodológicas dis-

poníveis, ganhando destaque o Manual de Oslo

como guia de suas pesquisas. Entretanto, grande

parte delas foi formatada e realizada levando

em consideração algumas adaptações, para que

fossem capazes de capturar os elementos e

especificidades característicos de tais contextos.

Assim, inicialmente, este grupo de países passou

a utilizar as abordagens internacionais, mas sob

alguma forma modificada/adaptada, sendo que

cada um o fazia de forma distinta.

Assim, mensuração à base de levantamentos es-

tatísticos é geralmente fundamentados a partir de

grandes amostras de empresas de setores indus-

triais diversos. São conhecidos como os innovation

surveys. Trata-se de uma abordagem em nível

“agregado” baseada na construção e interpretação

de indicadores nacionais, compreendendo milha-

res de empresas em diversos setores industriais.

Com base na experiência da Europa, esses surveys

foram introduzidos na década de 2000 em vários

países em desenvolvimento como Argentina,

Brasil, Uruguai, entre outros. No Brasil esse survey

é realizado por meio da Pesquisa de Inovação

(PINTEC), executada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE). Abordagem de

surveys de inovação adota uma perspectiva macro

ou agregada de alguns aspectos das atividades

inovadoras de um grande número de empresas.

Por outro lado, os surveys não captam as nuanças

dessas atividades em nível intra-indústria e de

empresas. Outra limitação é que se baseiam em

percepções dos respondentes.

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110 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

GASTOS/ESTATÍSTICAS DE P&D

A intensidade de P&D é o indicador mais im-

portante utilizado pela OCDE para classificar

empresas e setores industriais, de acordo com

sua intensidade tecnológica. Assim, grande ênfase

costuma ser dada aos indicadores baseados em

financiamentos e investimentos em P&D nos

levantamentos de inovação. Ocorre que a oferta

e disponibilidade de estruturas físicas e organi-

zacionais de P&D não garantem que inovação

ocorra. Há vários casos de empresas, mesmo em

economias avançadas, que, a despeito de possuí-

rem sofisticadas instalações de P&D, sofrem com

lenta e baixa capacidade inovadora. Ou seja, o seu

problema é muito mais de organização e gestão de

suas capacidades tecnológicas e funcionamento

de seus processos de aprendizagem. Isto reflete-

-se na afirmação de David Teece35:

“Mesmo com grandes orçamentos de P&D, o sucesso em inovação não é automático. Para sustentar uma performance verdadeiramente com-petitiva, a empresa deve fazer mais do que simplesmente alocar grandes gastos em P&D. O processo de ino-vação requer uma orquestração pro-ativa e deliberada de ativos tangíveis e intangíveis por empreendedores e gerentes. Isto serve tanto para pe-quenas como grandes empresas.”

Ainda com relação aos indicadores relativos a

P&D, a análise de cientistas e engenheiros aloca-

dos em P&D em proporção à população também

é bastante utilizada. Porém, sua utilidade é bas-

tante restrita, pois a qualidade dos engenheiros e

cientistas em P&D pode diferir entre países, e seu

valor econômico pode depender do tipo de P&D

em que estão engajados.

Outro aspecto sobre a adoção de estatísticas

de P&D se refere ao fato de que a incidência de

laboratórios de P&D formalmente organizados

nas economias em desenvolvimento é rara, se

comparada a alguns setores industriais de países

tecnologicamente avançados. Nos países em

desenvolvimento, grande parte das atividades tec-

nológicas inovadoras é conduzida dentro das pró-

prias empresas, em suas unidades organizacionais,

nos departamentos de engenharia, de qualidade e

manutenção. Assim, a utilização destas estatísti-

cas não contabiliza algumas das principais fontes

de acumulação de capacidades tecnológicas em

economias emergentes, tais como as atividades

de engenharia (não P&D) e a absorção e adoção

de conhecimento adquirido externamente (de um

competidor, de outra indústria, do governo, de

universidades ou outros países).36

ESTATÍSTICAS DE PATENTES37

Sendo as patentes um dos principais representan-

tes dos direitos de propriedade, referindo-se ao

subconjunto voltado para propriedade industrial

e frequentemente utilizadas pelas empresas para

proteção de seus produtos e processos peran-

te a concorrência, estas passaram a ser outro

parâmetro de inovação e capacidade tecnológica

altamente utilizado, focado no resultado, por

fornecerem detalhes estatísticos altamente quan-

tificáveis, estarem disponíveis para longo período

de tempo e serem documentos públicos. Algumas

limitações referentes às patentes envolvem:

1 Nem todas as invenções são tecnicamen-te patenteáveis (por exemplo, no caso de software, que, em geral, estão legalmente protegidos por direitos autorais);

2 Empresas, muitas vezes, utilizam outros métodos para proteger suas inovações (por exemplo, segredo industrial, lançamento pioneiro no mercado);

3 Elevado custo para patentear uma invenção;

4 As invenções patenteadas realmente se transformam em inovações;

35. Teece (2007).

36. Bell & Pavitt (1993).

37. Figueiredo (2015).

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111CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

5 Não capturam as atividades inovadoras das empresas, sendo, somente, indicadores de resultado;

6 Há grande variabilidade entre indústrias em termos de suas propensões a patentear; e

7 Assim como os indicadores de P&D, as estatísticas de patentes estariam captando apenas uma fração das atividades inovadoras (ou a “ponta do iceberg”).

Os documentos de patentes devem conter, como

requisito legal, citações de outras patentes e refe-

rências a outros documentos, tais como artigos, re-

sumos e livros, que representam os conhecimentos

existentes que subsidiaram a invenção, servindo,

portanto, como forma de limitar o escopo de reivin-

dicação de novidade. Assim, a citação de patentes

também costuma ser utilizada como indicador do

fluxo de conhecimento, por representarem uma li-

gação com inovações anteriores ou conhecimentos

preexistentes nos quais o inventor se baseou, pois,

ao indicar uma patente, o inventor está informando

que o conhecimento contido na citada patente foi

útil para o desenvolvimento de sua própria patente.

Entretanto, muitos estudos sobre citações de pa-

tentes não são capazes de identificar precisamente

aquelas citações escolhidas pelo inventor, pelo fato

de o documento de patentes reportar as citações

selecionadas pelo examinador, o que pode incluir

todas, parte ou nenhuma das citações originalmente

selecionadas e efetivamente utilizadas pelo inventor.

Assim, conhecendo o procedimento, as empresas

normalmente fazem as aplicações de patentes

de forma estratégica, muitas vezes com ajuda de

profissionais experientes no assunto, o que faz com

que as citações reflitam a estratégia da empresa, e,

nem sempre, as ligações e redes que foram utilizadas

no desenvolvimento do invento. Ou seja, além de

compartilharem muitas das limitações apresentadas

pelas patentes, estudos que utilizam citações de

patentes podem apresentar um resultado enviesa-

do, pois podem estar interpretando e contabilizando

patentes que nem sequer foram citadas no docu-

mento original do inventor ou que representam uma

estratégia da empresa solicitante e não necessaria-

mente uma fonte de conhecimento utilizada.

Outra restrição à utilização de patentes, de forma

geral e indistinta, como indicador de capacidade

e inovação tecnológica, é sua concentração em

determinados setores. Por exemplo, a indústria far-

macêutica é, tradicionalmente, um setor que investe

de forma considerável em pesquisa, possuindo taxas

elevadas de concessão de patentes e registros de

marcas nos órgãos competentes. As patentes estão

concentradas em grandes empresas: menos de 700

empresas do mundo são responsáveis por cerca de

60% das patentes mundiais. Dessa forma, novamen-

te, a consideração apenas quantitativa das patentes,

sem levar em conta os demais fatores envolvidos,

ou seja, sem concomitante análise do setor e demais

aspectos inerentes, pode fornecer dados incomple-

tos, sem informações relevantes sobre, como, por

exemplo, a concentração industrial e a estrutura de

mercado se relacionam com inovação.

GASTOS COM MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

A contabilização dos gastos das empresas com

máquinas e equipamentos costuma ser defendida

como um indicador do esforço tecnológico da

empresa no sentido de ampliar sua capacidade,

considerando, sobretudo, as pesquisas que to-

mam a difusão como um componente importante

do processo de inovação. Não obstante o mérito

de buscar capturar tecnologia incorporada em

materiais e componentes adquiridos externamen-

te, este tipo de mensuração deve ser cuidado-

samente realizado e seus resultados analisados

de forma criteriosa, já que a pura consideração

de números representando valores brutos não é

capaz de fornecer informações esclarecedoras.

De um lado, no valor dos equipamentos estão

embutidos uma série de “custos” com os quais

a empresa fabricante incorre, muitos dos quais

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112 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

não estão relacionados ao dispêndio de conhe-

cimento e habilidades no desenho, fabricação,

melhorias nos equipamentos adquiridos, bem

como está inserida também a própria margem de

lucro do fornecedor; além daquelas aquisições vi-

sando à reposição de peças ou equipamentos por

desgaste ou simples manutenção. E de outro, é

difícil distinguir entre investimento de capital em

tecnologias antigas e novas, isto é, o montante da

tecnologia incorporada referente a determinado

nível de novidade e aperfeiçoamento conside-

rado inovador. Diante disso, normalmente são

contabilizados os gastos totais, sem separação

ou “qualificação” dos valores efetivos, ou seja,

são mecanismos estáticos.

Portanto, é óbvio que se deseja que a indústria se

mova para níveis intensivos de P&D e patentário.

Porém, grande parte das empresas em economias

em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, ainda

não chegaram a um estágio de intensivas ativida-

des de P&D e de patentes. Ademais, como vimos,

esses indicadores, se considerados isoladamente,

possuem limitações intrínsecas. Por isso, é funda-

mental o uso de metodologias mais compreensivas

que captem a real capacidade tecnológica de forma

compreensiva, e não apenas uma fração dela.

Mensuração à Base de Níveis de Capacidades Tecnológicas Uma alternativa para superar as limitações das

proxies acima mencionadas refere-se à estratégia

de mensuração à base de uma escala que capta ní-

veis de capacidade tecnológica, em nível de em-

presas e indústrias. Trata-se de uma abordagem

que objetiva medir capacidade tecnológica dentro

de empresas de setores industriais específicos.

Ou seja, examina um espectro de capacidades

tecnológicas das empresas, tanto para atividades

de produção, como de atividades de inovação.

Em termos de capacidades inovadoras, alinha-se,

portanto, à perspectiva abrangente de inovação,

como mostrado anteriormente neste documento.

Por oferecer um espectro de capacidades tecno-

lógicas (para produção e inovação), vai muito além

de uma perspectiva binária ou polarizada – em

termos de uma empresa “ser ou não ser inovado-

ra” ou de “ter ou não ter capacidade tecnológica”.

Possibilita, também, um exame mais detalhado

sobre os tipos de níveis de capacidade de diferen-

tes funções tecnológicas (processos, produtos,

equipamentos, gestão de projetos), desenvolvidos

por empresas de setores industriais específicos ao

longo do tempo. Por possibilitar essa cobertura ao

longo do tempo, alinha-se à perspectiva dinâmica

da acumulação de capacidade tecnológica em

empresas de economias em desenvolvimento,

preocupação central neste estudo.

Convém esclarecer que não se está sugerindo

aqui qualquer tipo de superioridade de uma abor-

dagem sobre a outra. A aplicação dos surveys de

inovação adota uma perspectiva macro ou agrega-

da que nos permite, metaforicamente falando,

obter uma visão da “floresta”, enquanto a segunda

(tipos e níveis de capacidades tecnológicas nas

empresas) nos fornece uma perspectiva de “ár-

vores” específicas ou de um grupo ou espécies de

uma floresta. São consideradas neste estudo, por-

tanto, como abordagens complementares. Ambas

são importantes para o desenho e implementação

de estratégias empresariais e governamentais de

inovação industrial, assim como para decisões de

investimentos em inovação.

SOBRE A METODOLOGIA ESPECÍFICA PARA A MENSURAÇÃO DE CAPACIDADES TECNOLÓGICA

A metodologia aqui apresentada baseia-se na

perspectiva de capacidades reveladas. As capaci-

dades são reveladas nas atividades tecnológicas

que as empresas são capazes de realizar individu-

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113CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

almente e/ou em parceria com outras organiza-

ções. Alinhando-se a uma lógica típica de estágios

de industrialização e dos modelos de maturidade,

essa metodologia baseia-se em uma escala de es-

tágios de capacidade tecnológica exatamente para

entender se e como empresas e setores indus-

triais como um todo estão se movendo ao longo

deste gradiente. Um dos principais objetivos de

políticas públicas pode perfeitamente ser o de que

o Brasil evolua para um elevado nível patentário e

de concentração de laboratórios de P&D. Porém,

para que se caminhe nesta direção, é indispensá-

vel entender como as empresas acumulam suas

capacidades, ao longo do tempo, para a realização

dessas atividades.

Para a mensuração de capacidades tecnológi-

cas, este estudo utiliza a escala compreen-

siva que se baseia em uma escala de níveis

de capacidades tecnológicas.38 A Figura 6.5

fornece um exemplo ilustrativo dessa esca-

la de capacidades tecnológicas. Essa escala

expressa os níveis de capacidades com base

na natureza das atividades que a empresa é

capaz de realizar tecnologicamente e sugere

que a acumulação das capacidades tecnológicas

ocorre em estágios, que evoluem de básicos

para intermediários a avançados. Para avaliar

os níveis de acumulação de capacidades em

cada uma das principais

funções tecnológicas

da empresa, a metodo-

logia se baseia em uma

estrutura matricial que

diferencia as capacida-

des de produção das

capacidades inovadoras.

A escala distingue dois tipos de capacidade

tecnológica: as de produção e as capacidades

inovadoras. As capacidades tecnológicas de

produção (ou operacional) referem-se àquelas

que permitem às empresas usar ou adotar tec-

nologias e sistemas de produção existentes, ou

seja, são os recursos necessários para realizar

atividades de produção de bens ou serviços

com dado grau de eficiência. Já as capacidades

tecnológicas inovadoras possibilitam às em-

presas implementar diferentes tipos e graus de

atividades inovadoras, estando relacionadas aos

recursos necessários para gerar e gerir mudan-

ças tecnológicas, em termos de inovações em

processos, produtos, sistemas técnico-físicos,

serviços e na organização.

A escala distingue dois tipos de capacidade tecnoló-gica: as de produção e as capacidades inovadoras.

Para a mensuração de capa-cidades tecnológicas, este estudo utiliza a escala com-preensiva que se baseia em uma escala de níveis de capa-cidades tecnológicas.

38. Lall (1992), Bell & Pavitt (1993, 1995), Figueiredo (2001).

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114 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FIGURA 6.5

ESCALA DE NÍVEIS DE CAPACIDADES TECNOLÓGICAS (VERSÃO SIMPLIFICADA)

Capacidade para implementar atividades operacionais básicas que garantem o funcionamento da organização com base no uso das mais avançadas técnicas de produção/operação e de padrões e certificações internacionais de eficiência, qualidade, confiabilidade e segurança

Capacidade para implementar atividades operacionais com base no uso de tecnologias existentes e sistemas de produção e de padrões de eficiência e qualidade.

1CAPACIDADE DE

PRODUÇÃO BÁSICA

2CAPACIDADE DE

PRODUÇÃO AVANÇADA

Capacidade para implementar atividades inovadoras à base de P&D e engenharia avançada, realizadas internamente e/ou em colaboração com universidades e institutos de pesquisa, fornecedores e usuários, relativas à criação e desenvolvimento de tecnologias novas para o mundo e que abrem oportunidades para entrada em novos negócios.

Capacidade para implementar atividades inovadoras próximas àquelas realizadas pelos líderes globais, refletindo uma estratégia de fast follower, à base de P&D aplicado e engenharia, realizadas internamente e/ou em colaboração com universidades e institutos de pesquisa

Capacidade para implementar modificações relativamente complexas em tecnologias (produtos, processos, software, equipamentos, serviços) existente baseadas em engenharia e experimentações, realizadas internamente ou em parceria

Capacidade para implementar pequenas adaptações e melhorias em tecnologias (produtos, processos, software, equipamentos, serviços), realizadas internamente ou em parcerias

6CAPACIDADE INOVADORA DE LIDERANÇA MUNDIAL

4CAPACIDADE INOVADORA

INTERMEDIÁRIA

3CAPACIDADE INOVADORA

BÁSICA

5CAPACIDADE INOVADORA

AVANÇADA

CA

PAC

IDA

DE

S D

E P

RO

DU

ÇÃ

OC

APA

CID

AD

ES

IN

OV

AD

OR

AS

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2001, 2003, 2015, 2017).

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115CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

Especificamente, a escala capta atividades tecno-

lógicas de nível mais básico (produção), níveis in-

termediários a avançados de inovação, tais como

aquelas baseadas em atividades de engenharia

e que são de grande relevância até as atividades

de mais sofisticadas de (P&D) e patentárias com

grau de novidade mundial. É importante notar

que a escala inclui P&D e patentes; porém, não os

considera como indicadores únicos, mas os situa

em níveis específicos na escala.

Essa metodologia permite ir além da empresa

como um todo como unidade de observação.

Como foi comentado na Seção 5 e anteriormente

nesta seção, as empresas são uma coleção de

capacidades para áreas ou atividades especia-

lizadas. Por isso, esta metodologia permite

captar níveis de acumulação de capacidades

para áreas ou funções tecnológicas específicas

(por exemplo, produto, processos de produção,

engenharia de software etc.).

Esses níveis de capacidades refletem a diferença,

por exemplo, entre uma empresa capaz de manu-

faturar um celular e outra que, além de fabricar, é

capaz de fazer o software do aparelho móvel. Ou

entre uma empresa que monta aviões ou que é

capaz de projetá-los. Ou entre um país com capa-

cidade tecnológica para lançar foguetes, mesmo

tendo uma renda baixa, como a Índia, e outro que

não tem a mesma capacidade, como o Brasil. É a

diferença entre fabricar um carro, fazer algumas

mudanças nos seus componentes, projetar um

carro ou, na fronteira, projetar e fabricar um carro

elétrico. Por isso, essa metodologia diferencia

as capacidades de produção das capacidades

inovadoras. É importante, como já mencionado,

fazer a distinção entre uma operação avançada

tecnologicamente, como no caso de uma empresa

que adquire maquinário de última geração, e a ca-

pacidade de inovar ou de desenvolver tecnologia.

A fim de evitar avaliações de natureza “subjeti-

va” acerca dos níveis de capacidade tecnológica

alcançados pela empresa em estudo, tal avaliação

precisa ser substanciada por evidências concretas

(fatos) que comprovem que a empresa é capaz

de realizar certa atividade tecnológica, com

determinado grau de novidade e complexidade.

Tal abordagem tem como fundamento a aquisição

direta de informações descritivas com relação às

atividades tecnológicas das empresas. Com rela-

ção a essa taxonomia para medição de capacida-

des tecnológicas, é relevante esclarecer que:

1 A metodologia não pressupõe que todas as unidades de uma mesma empresa necessa-riamente se capacitem em uma sequência linear;

2 A metodologia não pres-supõe que as capacidades sejam acumuladas e sus-tentadas (ou debilitadas) ao mesmo tempo e à mesma velocidade para as diferen-tes funções tecnológicas;

3 Para certa função tecno-lógica, pode-se alcançar uma profundidade de capacidade tecnológica, enquanto que, em outra função, pode-se acumular um nível mais superficial;

4 É possível uma empresa acumular partes de certas capacidades inovadoras sem que a acumulação de suas capacidades operacio-nais esteja consolidada, o que é denominada acumulação incompleta;

5 Permite reconstruir a trajetória de acumulação de capacidades tecno-lógicas e compreender o processo pelo qual em-presas tem se movido na direção inovadora;

6 Permite captar nuanças no processo de acumu-lação de capacidades tecnológicas;

7 Permite captar a dinâmica (ou timing) do processo de acumulação de capacidades

Esses níveis de capacidades refletem a diferença, por exemplo, entre uma empresa capaz de manufaturar um celular e outra que, além de fabricar, é capaz de fazer o software do aparelho móvel.

Essa metodo-logia permite ir além da empresa como um todo como unidade de observação.

É importante fazer a dis-tinção entre uma operação avançada tecnologicamente, como no caso de uma em-presa que adquire maqui-nário de última geração, e a capacidade de inovar ou de desenvolver tecnologia.

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116 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

tecnológicas. A noção de tempo de acu-mulação tecnológica é fundamental para decisões de planejamento e de avaliação do processo de inovação industrial.39

8 Especificamente, o uso de métricas para aferir a qualidade e a velocidade o progresso de acumulação de capacidades tecnológicas, especialmente as inovadoras, torna-se de grande importância para as atividades de gestão empresarial e de política pública no que diz respeito à inovação e desenvolvi-mento industrial.

A aplicação desse sistema de mensuração de

capacidades tecnológicas teve grande ímpe-

to a partir de 1999, no âmbito do Programa

de Pesquisa em Aprendizagem Tecnológica e

Inovação Industrial da EBAPE/FGV. Já foram

realizados mais de 20 estudos em empresas de

vários setores industriais ao redor do Brasil. Essas

pesquisas já chegaram a resultados extremamen-

te reveladores sobre capacidades tecnológicas e

de inovação no país. Esse sistema de mensuração

de capacidades tecnológica tem sido amplamente

e internacionalmente aceito na comunidade cientí-

fica. Esse reconhecimento reflete-se na aplicação

dessa mensuração em vários estudos publicados

em prestigiadas revistas científicas internacionais.

Também se reflete em sua aplicação em iniciativas

de desenvolvimento industrial.

Portanto, uma abordagem dessa natureza, ainda

pouco explorada em larga escala no Brasil até

recentemente, permite a captação de nuanças,

especificidades empresariais, setoriais e regio-

nais do processo de acumulação de capacidades

tecnológicas. Considerando que este processo

ocorre dentro de organizações, tal abordagem

torna-se de crucial importância como clarifica-

dora, iluminadora e apoiadora do processo de

desenho, redesenho, implementação, ajustes de

estratégias de desenvolvimento de capacidades

tecnológicas em empresas de economias emer-

gentes. Serve, portanto, como uma perspectiva

complementar à abordagem em nível agregado.

Por sua simplicidade, associada ao seu nível de

detalhe e rigor analíticos e de aplicação, tam-

bém pode ser aplicada pela própria empresa por

meio de iniciativas de seus próprios gerentes,

como um exercício de auto avaliação de sua

capacidade tecnológica.

Por fim, uma perspectiva sobre o processo de

acumulação de capacidades tecnológicas em

empresas específicas de determinados setores

industriais, como feito na abordagem baseada em

níveis de capacidades tecnológicas em empresas,

possibilita a identificação de nuanças e detalhes

altamente importantes para se obter uma visão

com adequado nível de detalhe e profundidade.

Possibilita, também a identificação da velocidade

(medida em número de anos) que empresas levam

para acumular (ou não acumular) capacidades

para funções tecnológicas específicas de produ-

ção e de inovação, como será mostrado adiante.

39. Bell (2006).

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117CAPÍTULO 06 | CAPACIDADES TECNOLÓGICAS: ESTOQUE DE RECURSOS PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

39. Bell (2006).

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118 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

07

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119RESUMO EXECUTIVO

Catch-up Tecnológico: Ideias Básicas

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120 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

07. Catch-up Tecnológico: Ideias BásicasEsta seção descreve e analisa a literatura sobre

industrialização e desenvolvimento tecnológico

em economias em desenvolvimento, bem como

das perspectivas sobre inovação de empresas

nestas economias.

Empresas de Economias em Desenvolvimento: Principais Características TecnológicasA literatura sobre industrialização e desenvolvi-

mento tecnológico em economias em desenvolvi-

mento denomina as empresas dessas economias

como “latecomers”. Elas entram tardiamente no

mercado e nas indústrias onde operam não por uma

escolha estratégica, mas por razões históricas: os

seus países iniciaram o seu

processo de industrialização

tardiamente. Ou seja, quando

países como Brasil, Índia, Chi-

na, Turquia, México, Malásia,

iniciaram seu processo de

industrialização, já havia uma

fronteira tecnológica definida,

em vários tipos de indústria, e

dominada por empresas das

(hoje) economias avançadas.

Em função de suas características tecnológicas e

levando-se em conta o contexto no qual nascem e

crescem, as empresas de economias em desenvolvi-

mento tornaram-se uma categoria específica de pes-

quisa. Merecem ser estudadas à luz de modelos de

análise específicos. Uma das principais características

tecnológicas distintivas das empresas de economias

em desenvolvimento – daqui em diante denominadas

tecnicamente latecomers – é sua deficiência inicial de

recursos ou de capacidades tecnológicas, especial-

mente as capacidades para inovação. Em geral,

elas iniciam o seu negócio à base de tecnologia que

adquiriram de empresas de outros países. Durante

o início da sua operação faltam-lhes até mesmo

capacidades tecnológicas básicas. Uma vez que

começam sob uma condição de não serem competi-

tivas no mercado mundial, o seu problema básico é a

maturação industrial ou a acumulação de capacidade

tecnológica para tornarem-se internacionalmente

competitivas. Por isso, empresas que miram uma

posição tecnológica e comercial competitiva no

mercado mundial, ainda que tendo nascido e estando

operando em economias em desenvolvimento,

intencionam a realização do catch-up tecnológico.

Nas seções seguintes deste estudo, será apresentada

uma perspectiva ampla sobre catch-up tecnológico.

Empresas que miram uma posição tecnológica e

comercial competitiva no mercado mundial, ainda

que tendo nascido e estan-do operando em econo-

mias em desenvolvimento, intencionam a realização do

catch-up tecnológico.

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121CAPÍTULO 07 | CATCH-UP TECNOLÓGICO: IDEIAS BÁSICAS

Adicionalmente, as empresas latecomers são geral-

mente deslocadas das fontes-chave internacionais

de tecnologia – tais como os bem-equipados

centros de P&D e universidades – e também dos

mercados internacionais correntes que desejam

fornecer. Porém, essa característica tem que ser

relativizada. As possibilidades atuais de interação,

de mobilidade e de conectividade internacionais

contribuem para evitar o isolamento das empre-

sas latecomers, ainda que localizadas em áreas

muito longínquas. Não obstante, essas empresas

geralmente operam em um contexto de escassez

de profissionais qualificados e de escassez de

organizações de apoio às suas atividades tecnoló-

gicas (p. ex., metrologia, escolas técnicas, centros

de treinamentos profissionais equipados etc.).

Suas principais características são:

1 Em geral, a sua entrada na indústria ocorre tardiamente, ou seja, muito depois daquelas empresas líderes de países hoje tecnolo-gicamente e industrialmente avançados. Mas essa entrada tardia não decorre de uma escolha estratégica, mas por razões e condicionantes históricos. Ou seja, não se trata de uma entrada tardia derivada de escolhas estratégica (late-entry), como é o caso de várias empresas que optam em en-trar tardiamente no mercado. Ocorre que a inserção de empresas de países em desenvol-vimento na indústria e no mercado depende de condições estruturais como o processo de industrialização em nível nacional, da criação de demanda interna, de condições macroeco-nômicas, os quais, por sua vez, associam-se às condições históricas específicas de desenvol-vimento de cada país.

2 Iniciam o seu negócio à base de tecnologia importada de outras empresas e de ou-tros países (tecnologicamente avançados). Durante os primeiros anos, o seu nível de capacidade tecnológica é muito baixo. Em ge-ral, portanto, capacidade tecnológica inicial é mínima: é capaz apenas de realizar atividade de produção (ou uso/operação de tecnolo-gias de sistemas de produção existentes e, ainda assim, com baixo nível de eficiência).

3 Adicionalmente, as empresas de economias em desenvolvimento operam em um con-texto que, em geral, tende a ser carente de organizações para apoiar suas atividades de produção, de escolas técnicas e de universi-dades para lhes fornecer recursos humanos adequadamente qualificados, de institutos e de laboratórios de pesquisa para apoiar suas atividades tecnológicas mais sofisticadas. Ou seja, a infraestrutura tecnológica que as cercam tende a ser, em geral, precária.

4 Outra característica é que a empresa de eco-nomia em desenvolvimento está normalmen-te distante dos mercados onde deseja inserir seus produtos e serviços. Ademais, depa-ra-se com várias barreiras mercadológicas que envolvem desde a falta de credibilidade inicial, a exigências de certificações especí-ficas até barreiras comerciais (e de natureza política) aos seus produtos e serviços nos mercados que deseja atingir.

No entanto, há exceções. Há empresas que “nas-

cem inovadoras”, como novos empreendimentos

que emergem de empresas tecnologicamente

avançadas, mesmo em países em desenvolvimen-

to, via processos de spin-off por exemplo. Assim

como há emergência de novas indústrias a partir

de novas tecnologias, com as startups. Também

há empresas que, ainda que estejam baseadas em

países em desenvolvimento, perdem a sua condição

de latecomers e ganham condição de empresas

inovadoras em nível internacional, ou seja, empre-

sas que detém posições de liderança tecnológica e

comercial em suas indústrias em nível internacional

(world-leading firms), tais como Hyundai, Samsung,

Embraer, Fibria, Natura, Weg, Vale, Gerdau, Petro-

bras, Cemex, Infosys, Dr. Reddy e outras.

A obtenção, pelas empresas latecomers, de po-

sição de competitiva de liderança tecnológica e

comercial em nível internacional depende de um

árduo processo de acumulação de capacidades

tecnológicas (sua própria base de conhecimento).

Em geral, iniciam as suas atividades na condição

de imitadoras. Ou seja, para que alcancem tal

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122 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

posição é necessário um engajamento deliberado

em um processo de catch-up tecnológico. Esse

catch-up tecnológico significa o estreitamento

ou fechamento do hiato (ou gap) de capacidades

tecnológicas inovadoras que separa as empresas

latecomers das empresas líderes globais, cuja maio-

ria está baseada em economias avançadas.

Não obstante, existem diversos tipos de empresas

latecomers. Portanto, as chamadas latecomers não

devem ser interpretadas ou estudadas como uma

categoria única de empresa:

1 As empresas latecomers podem ser empresas locais privadas (grandes, médias ou peque-nas), locais estatais e/ou subsidiárias de empresas multinacionais (EMNs) de econo-mias avançadas operando em economias em desenvolvimento.

2 Elas podem apresentar tipos e níveis diferen-ciados de capacidades tecnológicas, tanto em nível de produção como de inovação.

Ou seja, algumas podem estar operando distantes da fronteira internacional de ino-vação, mas próximas ou mesmo na fronteira internacional de produção40. Especifica-mente, podem ser identificadas empresas que já se encontram em estágios de geração de tecnologia e inovações, que são as empre-sas localizadas na fronteira tecnológica, bem como aquelas que ainda se encontram nos estágios menos avançados, desenvolvendo e aperfeiçoando suas capacidades através de esforços onde dominam as capacidades técnicas, de engenharia e desenvolvimento, em grande parte, relacionadas a tecnologias existentes, buscando se aprofundar para se juntar ao grupo de empresas com capaci-dades tecnológicas mais complexas. Este segundo grupo de empresas encontra-se nos mais diversos estágios, umas ainda focadas no desenvolvimento de capacidades mais básicas, enquanto outras já se encontram em posição mais avançada, com domínio de capacidades um pouco mais complexas, mas ainda abaixo daquelas apresentadas pelas empresas tecnologicamente mais maduras.

Perspectivas sobre Inovação em Empresas de Economias em Desenvolvimento41 Até a década de 1960, as capacidades tecnológi-

cas nas empresas das economias em desenvolvi-

mento eram entendidas como o mero uso passivo

de tecnologias e sistemas de produção gerados

nas economias avançadas. Essa noção negativa

de atividade tecnológica nos países em desenvol-

vimento e suas empresas eram alimentadas pela

teoria ortodoxa do crescimento econômico. Tal

teoria considerava a “tecnologia” como sinônimo

de máquinas e equipamentos ou bens de capital.

“Inovação” significava o desenvolvimento de no-

vos tipos de máquinas e equipamentos, que ocor-

reria em economias avançadas. Essas inovações

seriam posteriormente adotadas ou “difundidas”

nos países em desenvolvimento.

A visão de que o papel tecnológico das empre-

sas e indústrias nos países em desenvolvimento

era passiva e envolvia o mero funcionamento de

tecnologias fornecidas externamente era endos-

sado, pela assim chamada escola da “dependên-

cia tecnológica”. Ao argumentar a dependência

tecnológica perpétua dos países em desenvol-

vimento nos bens de capital e manufaturados

importados das economias “centrais”, os represen-

tantes desta escola de pensamento endossavam

40. Essas definições serão esclarecidas a seguir neste documento.

41. Bell & Figueiredo (2012b); Bell (2006).

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123CAPÍTULO 07 | CATCH-UP TECNOLÓGICO: IDEIAS BÁSICAS

a noção de ausência de atividades tecnológicas

criativas em empresas e indústrias de países em

desenvolvimento. Dada a força e a onipresença

de tais pontos de vista nos debates acadêmicos e

de política pública à época, não era surpreenden-

te que houvesse pouco interesse em pesquisar

aspectos de capacidades tecnológicas inovadoras

nos países em desenvolvimento.42

No entanto, nem todos os pesquisadores aceita-

vam essa perspectiva negativa sobre atividade

tecnológica industrial nos países em desenvol-

vimento. No início da década de 1970, Charles

Cooper no Reino Unido procurou entender

como os mecanismos de transferência de tecno-

logia internacional influenciavam a acumulação

de capacidades de geração de mudanças a longo

prazo em empresas e indústrias importadoras

de tecnologia, nas economias em desenvolvi-

mento. Alinhando-se a essa visão, um grupo

latino-americano de pesquisadores, liderado

por Jorge Katz, na Argentina, iniciou o primeiro

programa de pesquisa substancial e sistemático

que contrariou essa perspectiva negativa em

meados da década de 1970.

Com base em evidencias detalhadas, em nível

de empresas, eles demonstraram a existência

de atividades tecnológicas inovadoras signifi-

cativas em uma ampla gama de indústrias. Eles

também examinaram a natureza e a dinâmica

dos vários mecanismos de aprendizagem pelos

quais as empresas construíram suas capacidades

tecnológicas inovadoras ao longo do tempo. Isso

foi demonstrado inicialmente em toda a América

Latina43 e na Ásia44. Com isso, eles revelaram

vários aspectos do dinamismo tecnológico e

da criatividade tecnológica nas empresas das

economias em desenvolvimento. Em particular,

exploraram o papel importante dos mecanismos

de aprendizagem com insumos essenciais para

acumulação de capacidades tecnológicas inova-

doras. No entanto, durante a década de 1980, as

questões de aprendizado e acumulação de capa-

cidades tecnológicas desapareceram da agenda

de pesquisa e do debate de políticas públicas no

contexto de economias em desenvolvimento.

Em meados da década de 1990, surgiu uma nova

geração de pesquisadores e de estudos. Esses es-

tudos buscavam explorar o papel dos mecanismos

de aprendizagem na acumulação de capacidade

das empresas nas economias em desenvolvimen-

to, especialmente nos países de rápido crescimen-

to e rápida industrialização do Sudeste Asiático.

Posteriormente, tais estudos foram realizados na

América Latina. Esses estudos foram fortemente

influenciados pelas bases analíticas de estudos

sobre capacidades tecnológicas e inovação em

empresas de economias avançadas.45

Vários estudos inspiraram-se nas bases analíti-

cas da literatura de gestão da inovação no con-

texto de economias avançadas e adaptaram-nas

para examinar o fenômeno da acumulação de

capacidades tecnológicas e os mecanismos de

aprendizagem como fontes para a performan-

ce competitiva de empresas de economias em

desenvolvimento. Desde então, tem havido um

fortalecimento do campo de estudo sobre capa-

cidades tecnológica e inovação em empresas e

indústrias de economias em desenvolvimento.

Tal campo de estudo está atualmente consoli-

dado na literatura e na comunidade científica

internacional. Ao longo das últimas quatro

décadas, tem havido um considerável progres-

so neste campo de pesquisa. Vários estudos

têm examinado como empresas de economias

em desenvolvimento tem evoluído de níveis

imitadores de capacidades tecnológicas para

níveis de liderança tecnológica e comercial no

mercado mundial.46

42. Lall (1992); Bell & Pavitt (1993); Albu & Bell (1999); Bell (2006).

43. Katz (1976, 1987).

44. Bell et al. (1982); Lall (1987).

45. Hobday (1995); Kim (1997); Dutrènit (2000); Figueiredo (2001).

46. Ver Bell & Figueiredo (2012a).

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124 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Catch-up Tecnológico e Fronteiras Tecnológicas O interesse deste estudo por catch-up tecno-

lógico também está relacionado ao catch-up

econômico. É importante

fazer uma distinção entre os

dois tipos de catch-up. Catch-

-up econômico refere-se ao

estreitamento ou fechamento

da brecha entre economias

em desenvolvimento e

economias avançadas em

termos de renda per capita.

Já o catch-up tecnológico

refere-se ao estreitamento

ou fechamento da brecha

(ou gap) entre empresas e

indústrias de economias em

desenvolvimento e suas congêneres em econo-

mias avançadas (ou líderes tecnológicos globais)

em termos de capacidades tecnológicas.

Não obstante, o catch-up econômico

depende, em grande parte do catch-up

tecnológico. O foco deste estudo, como

já anunciado anteriormente, recai sobre

o catch-up tecnológico. Uma segunda

distinção é importante. A noção de

brecha ou gap em termos de capacidade

tecnológica envolve, na verdade, dois

tipos de brecha ou gap: em termos de

capacidades tecnológicas de produção

e de capacidades tecnológicas inovadoras.

As capacidades tecnológi-

cas de produção referem-se

às capacidades para usar ou

operar tecnologias e siste-

mas de produção existentes.

Especificamente, as capaci-

dades das empresas podem

acompanhar os líderes glo-

bais da indústria em relação

às tecnologias que utilizam na produção. Seus

produtos podem vir a incorporar especificações

técnicas e de design e recursos de desempenho

cada vez mais próximos dos mais avançados do

mercado global, talvez eventualmente combi-

nando produtos que estejam próximos ou pró-

ximos da fronteira internacional da tecnologia

de produtos. Da mesma forma, os processos de

produção que eles usam podem vir a incorporar

recursos tecnológicos cada vez mais avançados,

refletidos no aumento da produtividade e ou-

tros aspectos do desempenho competitivo. Isso

pode corresponder aos que estão próximos ou

próximos da fronteira tecnológica internacional

de produção ou manufatura. Esse estreitamen-

to das lacunas tecnológicas entre a prática atual

e a fronteira internacional constitui uma forma

de “catch-up” (o de produção).

As capacidades tecnológicas inovadoras (ou

para inovação) referem-se às capacidades para

alterar tecnologias e sistemas de produção exis-

tentes, assim como para criar novas tecnologias

e novos sistemas de produção. Especificamente,

as empresas e indústrias podem se recuperar em

termos de capacidades para gerar e gerir a mu-

dança em suas tecnologias, passando de posições

de imitação de tecnologia com base em capaci-

dade de inovação muito limitada para níveis mais

profundos de capacidade que lhes permitem

assumir formas mais avançadas de inovação. Isto

pode evoluir para atividades criativas na frontei-

ra internacional de inovação.

Esses dois tipos de capacidade estão, até

certo ponto, relacionados. A acumulação delas

prossegue simultaneamente à medida que as

empresas de economias em desenvolvimento:

1 Reduzem o fosso entre empresas tecnologi-camente “avançadas” na fronteira tecnoló-gica internacional (de produção) em termos das características tecnológicas de suas atividades de produção; e

O catch-up tecnológico refere-se ao estreitamento

ou fechamento da brecha (ou gap) entre empresas e

indústrias de economias em desenvolvimento e suas

congêneres em econo-mias avançadas (ou líderes

tecnológicos globais) em termos de capacidades

tecnológicas.

As capacidades tecnológicas inovadoras (ou para inova-

ção) referem-se às capacida-des para alterar tecnologias

e sistemas de produção existentes, assim como para

criar novas tecnologias e novos sistemas de produção.

As capacidades tecnológicas de

produção referem--se às capacidades

para usar ou ope-rar tecnologias e

sistemas de produ-ção existentes.

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125CAPÍTULO 07 | CATCH-UP TECNOLÓGICO: IDEIAS BÁSICAS

2 Aumentam o nível de sua capacidade inovadora.

No entanto, esses dois tipos de capacidades nem

sempre estão intrinsicamente relacionados. Uma

empresa (ou indústria) pode evoluir na acumula-

ção de capacidades tecnológicas de produção,

tornando-se usuárias eficientes de tecnologias

existentes; porém, essa empresa (ou indústria)

pode ter uma acumulação limitada de capacida-

des tecnológicas inovadoras. Numa perspectiva

extrema, uma empresa pode adquirir ou adotar um

novo sistema de produção avançado, que incorpora

as tecnologias mais “avançadas” de produção ou

manufatura, contratando uma série de consultores,

engenheiros de processos e gerentes de projetos

externos para definir e colocar em uso operacio-

nal um conjunto de processos e tecnologias. Tais

tecnologias de produção podem envolver a mais

avançada robotização e digitalização. Isso pode ser

repetido através de várias gerações de tecnologia

avançada, permitindo que a empresa que utiliza a

tecnologia reduza o fosso entre suas capacidades

de produção e as de líderes globais na fronteira tec-

nológica internacional da produção e manufatura.

Porém, a despeito da acumulação de capacidades

tecnológicas de produção altamente avançadas,

pode haver nenhuma ou limitada acumulação de

capacidades inovadoras. Ou seja, uma empresa, in-

dústria, ou mesmo país, pode se tornar, por décadas,

um mero eficiente usuário de tecnologias e siste-

mas de produção existentes, sem desenvolver a

mínima capacidade tecnológica para alterá-los.47

Por isso, este estudo distingue entre esses dois tipos

de catch-up tecnológico: catch-up tecnológico em

termos de capacidades produção e catch-up tec-

nológico em termos de capacidades tecnológicas

de inovação. O interesse central desse estudo é no

segundo tipo, o de catch-up tecnológico. É impor-

tante esclarecer que tanto a fronteira tecnológica de

produção como a fronteira tecnológica de inovação

estão em constante movimento.

CATCH-UP TECNOLÓGICO DE PRODUÇÃO E DE INOVAÇÃO E FRONTEIRA TECNOLÓGICA

Convém, neste estágio um comentário sobre a

fronteira tecnológica de produção. A maneira como

a empresa acumula suas capacidades tecnológi-

cas pode conduzi-la para níveis muito próximos

da fronteira tecnológica de

produção ou mesmo assu-

mindo posições na fronteira

internacional de produção. Por

exemplo, a empresa pode acu-

mular capacidades tecnológicas

avançadas de produção que lhe

permitem realizar, por exemplo,

atividades de manufatura de

classe mundial (world class

manufacturing), conquistando,

assim, posição de liderança

internacional em nível de

produção ou operação de tecnologias e sistemas de

produção existentes. Especificamente, por exem-

plo, uma empresa na fronteira tecnológica de pro-

dução é aquela que, por exemplo, tem capacidade

de manufaturar automóveis, computadores (PC e

laptops) ou telefones celulares em larga escala, com

altíssimo padrão de qualidade e em conformidade

com as mais atuais e rigorosas certificações de

produção, assim como os mais avançados sistemas

de produção. Porém, esta empresa limita-se tão

somente à atividade de produção, sem engajar-se

em atividades de design e desenvolvimento de

computadores ou de seus componentes.

No entanto, interessa-nos aqui, especificamente,

a fronteira tecnológica de inovação. A frontei-

ra tecnológica internacional não é uma linha de

chegada; nem é um alvo que se move constante-

mente. É fluida, é um horizonte a ser explora-

do. Empresas e países que lideram tal fronteira

fazem esforços incessantes e diários em pes-

quisa e desenvolvimento (P&D) para continuar

Uma empresa (ou indústria) pode evoluir na acumulação de capacidades tecnológicas de produção, tornando-se usuárias eficientes de tec-nologias existentes; porém, essa empresa (ou indústria) pode ter uma acumulação limitada de capacidades tecnológicas inovadoras.

No entanto, interessa-nos aqui, espe-cificamente, a fronteira tecnológica de inovação.

47. Esse padrão foi observado na indústria de celulose e papel na Indonésia. Ao longo de décadas a Indonésia foi conhecida por operar ou usar as mais avançadas tecnologias de produção de celulose e papel; porém, sem nenhuma capacidade tecnológica inovadora (ver van Dijk & Bell, 2007).

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126 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

movendo esta fronteira adiante, garantindo, assim,

a sua liderança industrial, econômica e, dependen-

do da tecnologia, também relevância política. Na

maioria dos casos, essa fronteira internacional é

dominada por empresas estabelecidas (incumben-

tes), tecnologicamente avançadas e de economias

altamente industrializadas. Não obstante, como

dito anteriormente, empresas de economia em

desenvolvimento podem fazer parte dela, como já o

caso de várias empresas do Brasil, Índia e China.

“ESCADA” TECNOLÓGICA

A fim de compreendermos com mais detalhe as

possíveis trajetórias de acumulação de capacida-

de tecnológica nas empresas de economias em

desenvolvimento vamos introduzir aqui o modelo

da “escada tecnológica”, como mostrado na Figura

7.1. No eixo vertical esquerdo da figura temos a

complexidade de uma tecnologia específica (que

pode ser siderúrgica, eletrônica, automobilística).

No eixo vertical direito temos os tipos e níveis de

capacidade tecnológica. Há uma distinção crucial

entre capacidades de produção (para operar ou

usar tecnologias e sistemas de produção existen-

tes) e capacidades de inovação (capacidades para

mudar, inovar tecnologias e sistemas de produção

existentes) e as respectivas fronteiras tecnológicas.

Estas, por sua vez, variam de básicas até níveis de

fronteira internacional de inovação.

FIGURA 7.1

TRAJETÓRIA DE ACUMULAÇÃO DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA EM EMPRESAS DE PAÍSES EM

DESENVOLVIMENTO – MODELO ILUSTRATIVO DE CATCH-UP

Co

mpl

exid

ade

da

Tecn

olo

gia

Tipo

s de capacid

ade tecn

oló

gica

Tempo (anos)50 10 15 20 25 30

Capacidades técnicas e gerencial/organizacional para usar e operar tecnologias existentes.Relacionadas a fronteira internacional de inovação.

Capacidades em desenho, engenharia, gestão e P&D para aprimoramento incremental de produtos/processos e organizacional.

Capacidades em P&D e Engenharia básica/gestão de projetos para copiar, implementar e desenvolver tecnologias existentes.

Capacidades em P&D e Engenharia para desenvolver e implementar novas tecnologias. Relacionadas à fronteira internacional de produção (catch-up tecnológico).

Fronteira tecnológica

internacional

Capacidade tecnológica acumulada

“Profundidade” da capacidade

tecnológica

Fronteira tecnológica da inovação

Fronteira tecnológica da produção

Capacidade tecnológica

acumulada por empresas de economias

emergentes

Fonte: Adaptada de Bell (1997) e Figueiredo (2015).

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127CAPÍTULO 07 | CATCH-UP TECNOLÓGICO: IDEIAS BÁSICAS

A Figura 7.1 identifica dois tipos de fronteira

tecnológica internacional: de produção e a de ino-

vação. A trajetória de acumulação de capacida-

des tecnológicas de empresas de economias em

desenvolvimento se inicia, na maioria dos casos,

quando as empresas inovadoras de economias

industrializadas já acumularam estoque substan-

cial de capacidade tecnológica. Ou seja, tende a

haver uma brecha tecnológica (ou gap tecnológi-

co) permanente entre empresas de economias em

desenvolvimento e aquelas de economias tecnolo-

gicamente avançadas. Além de suas desvantagens

naturais (descritas anteriormente), a existência

dessa brecha tecnológica é um dos grandes

desafios à conquista de posição inovadora da em-

presa de economias em desenvolvimento. A linha

tempo que aparece na figura refere-se ao tempo

que se leva para mover-se ao longo da trajetória

de acumulação tecnológica. Nesta figura, essa

escala de tempo (ou velocidade) é genérica. Vale

enfatizar que o que vai dentro de cada degrau

dessa “escada tecnológica” são os componentes

da capacidade tecnológica.

Desenvolver capacidade tecnológica para apro-

ximar-se tanto da fronteira de produção como de

inovação deriva de uma opção estratégica de cada

empresa. Algumas empresas podem optar em

permanecer com níveis baixos de capacidade tec-

nológica de produção ou de inovação. Neste caso, a

empresa pode estar operando em um contexto de

pressão competitiva ausente ou muito baixa ou sim-

plesmente reflete a perspectiva de negócio de seus

dirigentes. Porém, empresas (e países) que fazem tal

opção podem pagar um alto preço em termos de alta

vulnerabilidade do negócio ou da economia a com-

petidores externos, assim como inexorável depen-

dência em relação a fornecedores de tecnologia.

Porém, empresas que operam em contextos de

forte competitividade e, principalmente, que

miram posições competitivas e de lideranças,

tanto no mercado regional, nacional e, mais ainda,

internacional, precisam engajar-se em um esforço

sistemático de busca de acumulação de capacidade

tecnológica tanto em nível de produção como de

inovação. No entanto, o fato de escolher desenvol-

ver capacidades tecnológicas de produção e de ino-

vação, obviamente, não é uma garantia de alcance

da fronteira tecnológica de inovação. Não obstante,

pode ser o ponto de partida para uma trajetória de

acumulação de capacidades inovadoras.

Ocorre que muitas empresas

ficam no meio do caminho,

pois o acúmulo de capacidades

tecnológicas é árduo, leva tem-

po, envolve diversos tipos de

esforços de aprendizagem tec-

nológica e recursos financeiros

e, além de tudo isso, é incerto

e arriscado. Por isso, são poucas as empresas que

alcançam posição de liderança em termos de pro-

dução e de inovação, em nível internacional. Por

exemplo, na Coreia do Sul, mais de 15 empresas

tentaram acumular capacidades tecnológicas

inovadoras – e realizar o catch-up tecnológico de

inovação – na indústria automobilística na Coréia

do Sul. Somente três prosperaram: entre elas

Hyundai, Daewoo e Kia. Dessas, três, somente

a Hyundai foi, de fato, bem-sucedida. Por outro

lado, algumas empresas (e governos) podem

enfatizar apenas a acumulação de capacidades de

produção, em função de incentivos econômicos

advindos de proteção exacerbada do mercado ou

de preços de seus produtos.

Além do desafio do hiato ou gap tecnológico em

si, outro grande desafio é o fato de que a linha da

fronteira tecnológica internacional nem sempre

é retilínea (Figura 7.1). Ou seja, de tempos em

tempos, as empresas que lideram a fronteira

tecnológica podem introduzir uma inovação ra-

dical e, assim, descontinuar a trajetória existente.

Alternativamente, podem surgir empresas novas

no mercado internacional à base de tecnologias

totalmente inéditas para o mercado mundial. Isto

pode aumentar ainda mais a brecha tecnológica

Desenvolver capacidade tecnológica para aproxi-mar-se tanto da fronteira de produção como de inovação deriva de uma opção estra-tégica de cada empresa.

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128 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

entre empresas que lideram a fronteira (geral-

mente em países tecnologicamente avançados) e

empresas de economias em desenvolvimento.

Por exemplo, até a década de 1940, o processo de

fabricação de aço era feito a céu aberto segun-

do os processos Bessemer e, posteriormente,

Siemens-Martin. O processo de fabricação do

aço levava em torno de 9 a 12 horas. Em meados

da década de 1950 emergiu na Áustria uma nova

tecnologia de fabricação de aço. A partir desse

novo processo de produção, o aço passou a ser

fabricado em um forno hermeticamente fechado

e à base de sopros de oxigênio – conhecido como

basic oxygen furnace (BOF). Essa nova tecnologia

reduziu o tempo de fabricação do aço para 40 a

50 minutos. O Japão foi o primeiro país a adotar

essa tecnologia em larga escala. Com base em uma

capacidade tecnológica inovadora já acumulada

até então, o Japão passou a modificá-la até tornar-

-se, por volta do início dos anos 1960, um dos líde-

res mundiais no fornecimento dessa tecnologia.

Ora, a emergência dessa inovação tecnológica

radical aumentou, à época, a brecha tecnológica

de empresas de países em desenvolvimento, como

as brasileiras, em relação às dos países industria-

lizados. Por exemplo, a fim de não se tornarem

tecnologicamente obsoletas, empresas então

já estabelecidas no Brasil, como a Companhia

Siderúrgica Nacional (CSN) e a então Belgo-Mi-

neira, tiveram não apenas que adaptar suas usinas

para receber a nova tecnologia, como também

aprender a operá-la.

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129CAPÍTULO 07 | CATCH-UP TECNOLÓGICO: IDEIAS BÁSICAS

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130 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

08

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131RESUMO EXECUTIVO

Trajetórias de Catch-up Tecnológico: Perspectiva de Ciclos

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132 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

08. Trajetórias de Catch-up Tecnológico: Perspectiva de Ciclos Nesta seção são mostrados os diferentes tipos de

trajetórias de acumulação de capacidade tecno-

lógica em empresas de economias em desenvolvi-

mento, os quais foram identificados por pesquisa

ao longo das últimas três décadas.

Ciclos de Catch-up Tecnológico O alcance e o fortalecimento da competitividade

industrial de um país implicam desenvolver, inovar

e transformar continuamente a sua estrutura

industrial por meio da acumulação de capacidades

tecnológicas. O desenvolvimento industrial e tec-

nológico, por sua vez, contribui para que os países

avancem para a categoria de alta renda per capita.

De fato, o desenvolvimento industrial e tecno-

lógico não é a cura para todos os males

econômicos e sociais de um país. Não

obstante, a história nos mostra que paí-

ses que se desenvolveram industrialmen-

te, por meio da acumulação de profundas

e sofisticadas capacidades tecnológicas

para inovação industrial, também obtiveram

significativo desenvolvimento socioeconômico.

Tornaram-se países de alta renda e também se

transformaram em líderes no mercado global e

fornecedores de tecnologia em vários tipos de

indústria. Por isso, o catch-up tecnológico é de

grande relevância para o catch-up econômico.

Por exemplo, no início da década de 1800, a Inglater-

ra era uma economia de renda relativamente baixa e,

em grande parte, baseada no trabalho artesanal. O

país possuía problemas tais como esgoto a céu aber-

to e epidemias de doenças como a cólera. As décadas

posteriores a 1830 representaram uma transição de

uma economia baseada em métodos de produção

artesanal para uma economia baseada na atividade

industrial mecanizada. Essa transição envolveu, por

exemplo, a introdução de novos processos químicos

na produção de ferro, o crescente uso da energia a

vapor para a produção de novas máquinas e ferra-

mentas. Além dessas inovações em nível técnico,

houve a introdução na maneira de se organizar a

produção à base de fábricas para produção em larga

escala, ou seja, inovações organizacionais. A indús-

tria têxtil foi a primeira a introduzir as mais avança-

das tecnologias e formas de organização da produ-

ção. A mecanização da indústria texto contribuiu

enormemente para o aumento da produtividade

dessa indústria. As demais indústrias, que posterior-

O catch-up tecno-lógico é de grande

relevância para o catch-up econômico.

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133CAPÍTULO 08 | TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: PERSPECTIVA DE CICLOS

mente adotaram tais inovações, obtiveram o mesmo

resultado. Essas inovações marcaram o processo de

industrialização em larga escala na Inglaterra que se

denominou de Revolução Industrial.

Por volta de 1850 o Reino Unido já tinha se tor-

nado uma economia industrializada. Os Estados

Unidos, àquela época, ainda era uma grande

economia predominantemente agrária. Porém, o

país se engajou num intenso processo de indus-

trialização. Esse processo envolveu a acumula-

ção gradual de capacidades tecnológicas. Essas

capacidades tecnológicas inicialmente envolveram

imitação de técnicas de produção adotadas

pelos então líderes globais, como a Inglaterra.

Esse processo gradual de acumulação de capaci-

dades tecnológicas levou os Estados Unidos ao

catch-up em termos das capacidades tecnológicas

mais avançadas, como a da Inglaterra. Por volta

de 1910 os Estados Unidos já dominavam grande

parte da produção mundial, tomando a liderança

da Inglaterra, em diversas indústrias.

Processo similar de industrialização ocorreu

posteriormente com o Japão. O país começou seu

processo de industrialização a partir de tecnologias

produzidas nos Estados Unidos, como a eletrônica

e automobilística. Por volta de 1960 o Japão já tinha

assumido a liderança de indústria antes dominadas

pelos Estados Unidos. E por volta do final da década

de 1990, Coréia do Sul tinha se emparelhado com o

Japão em diversas indústrias. Em um outro contexto

geográfico, a Finlândia e a Noruega, que já foram

um dos países mais pobres da Europa, engajaram-se

em processos de industrialização que envolveu o

desenvolvimento de capacidades para inovação em

diversas indústrias como celulose e papel, óleo e gás,

telecomunicações, serviços e outras.

Por outro lado, países como Coréia do Sul, Taiwan,

Brasil, Índia, China, México, Malásia, Turquia, tam-

bém se engajaram em processos de industrializa-

ção, a partir de 1950. Tendo iniciado seu processo

de industrialização quando líderes globais (Inglater-

ra, França, Suécia, Estados Unidos) já dominavam

a fronteira tecnológica de inovação, esses países

são denominados de países de industrialização

tardia ou “latecomers”. Ainda assim, várias empre-

sas e indústrias desses países tem conseguido

alcançar uma posição tecnológica de liderança na

fronteira internacional de inovação. Por exemplo,

até a década de 1960 era um importador líquido de

alimentos, de celulose para produção de papel, e de

petróleo. Quatro décadas depois o Brasil já tinha se

tornado um dos líderes mundiais nessas indústrias,

tanto em termos tecnológico, como comercial.

Mas qual a diferença entre o que ocorreu no Brasil

em comparação com países como Coreia do Sul,

Finlândia e Noruega? Ocorre que nesses países,

o processo de industrialização se disseminou por

toda a economia, contribuindo para um aumento

generalizado de ganhos de produtividade, para

o aumento da renda da economia como um todo.

Obviamente esse progresso industrial e econô-

mico foi acompanhado por um enorme fortaleci-

mento da infraestrutura científico-tecnológica,

educacional e física do país. No Brasil, assim como

em outras economias congêneres, o processo de

industrialização ainda não irradiou pelo tecido da

economia e não gerou um aumento significativo

de produtividade e da renda nacional. Por isso, o

Brasil, assim como seus congêneres Índia, México,

China, e outros ainda são países ‘presos’ na assim

chamada armadilha da renda média.

CICLOS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

O exposto acima sugere que o catch-up tecnológi-

co é um processo cíclico. O alcance da liderança

tecnológica e comercial, obviamente, não é definiti-

vo. Essa liderança será sempre desafiada por novos

entrantes, tanto de economias avançadas como de

economias emergentes. O catch-up tecnológico se

inicia, de fato, com o alcance da liderança tecnoló-

gica e comercial por uma indústria e país pioneiros/

incumbentes, geralmente de economias avançadas

(Figura 8.1). Esse pioneiro pode ser desafiado por

uma indústria de uma economia em desenvolvi-

mento (latecomer). Ao assumir a nova liderança da

indústria, em nível internacional (Figura 8.2), dá-se

início a um processo que se repete sucessivamente,

na forma de ciclos (Figura 8.3)

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134 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FIGURA 8.1

TRAJETÓRIA DE UM PAÍS LÍDER TECNOLÓGICO (INCUMBENTE)

A0

A1

Tempo

Par

tici

paçã

o d

e M

erca

do

ou

Pro

du

ção

B0

A

B1

Tempo

Par

tici

paçã

o d

e M

erca

do

ou

Pro

du

ção

Fonte: Lee & Malerba (2017)

FIGURA 8.2

CICLO INICIAL DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: INDÚSTRIA INCUMBENTE DESAFIADA POR UMA “LATECOMER”

Fonte: Lee & Malerba (2017)

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135CAPÍTULO 08 | TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: PERSPECTIVA DE CICLOS

A

Tempo

Par

tici

paçã

o d

e M

erca

do

ou

Pro

du

ção

BC

Etapa I

Entrada

País B Etapa II

Catch-UpGradual

Etapa III

ForgingAhead

Etapa IV

Falling Behind

FIGURA 5.3

Figura 8.3

SUCESSIVOS CICLOS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

Fonte: Lee & Malerba (2017)

Diferentes Trajetórias de Catch-up Tecnológico De acordo com o senso comum, catch-up

tecnológico seria o mero emparelhamento com

líderes globais ou alcance de uma posição tec-

nológica e comercial por meio de uma trajetória

seguidora ou imitadora. Em outras palavras, na

linguagem econômica comum, e especialmente

no contexto do debate da industrialização tar-

dia, o termo “catch-up” tende a sugerir uma úni-

ca via, com diferentes empresas distribuídas ao

longo dela e uma “fronteira” claramente defini-

da. Especificamente, a noção de fronteira tende

a ser associada com a de todas as empresas que

seguem o mesmo caminho

tecnológico específico (para

o mesmo ponto final) que o

anteriormente seguido pelos

líderes tecnológicos globais.

Na realidade, o processo de

desenvolvimento tecnológico

de empresas de economias

em desenvolvimento (lateco-

mers) não pode ser represen-

tado usando a analogia de

uma corrida ao longo de uma faixa fixa devido à

possibilidade. Afinal, há diferentes oportunida-

des para o surgimento de descontinuidades que

abrem oportunidades para novas direções de

desenvolvimento tecnológico e industrial.49

Na linguagem econômica comum, e especialmente no contexto do debate da in-dustrialização tardia, o termo “catch-up” tende a sugerir uma única via, com diferentes empresas distribuídas ao longo dela e uma “fronteira” claramente definida.

49. Perez & Soete (1988); Lee & Lim (2001); Figueiredo (2010).

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136 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Catch-up tecnológico não é mera clonagem ou

reprodução dos mesmos passos tecnológicos

seguidos pelos líderes globais.

Durante as duas últimas

décadas, a literatura de

desenvolvimento tecnológico

em empresas e indústrias de

economias em desenvolvi-

mento realizou avanços subs-

tanciais na identificação de diferentes trajetó-

rias de catch-up tecnológico. Pelo menos três

tipos diferentes de trajetórias de catch-up

tecnológico podem ser identificados.

A primeira refere-se à trajetória do tipo path-

-following (ou seguidor tecnológico). Esse movi-

mento é ilustrado pela Figura 8.4, elaborada por

Linsu Kim50. A parte superior da figura representa

o famoso modelo de James Utterback, conhe-

cido como o modelo de ciclo de vida de

produtos e processos ou da dinâmica

da inovação em produtos e processos.

Segundo este modelo, empresas iniciam

investimentos em novos produtos (curva

superior) à base de P&D. Estes esforços

levam à geração de um novo produto

que, ao tornar-se amplamente aceito

em função de sua viabilidade técnica,

comercial, econômica e, principalmente, maior sa-

tisfação gerada aos usuários, torna-se um projeto

(design) dominante frente aos outros produtos

competidores existentes ou que tenham sido

lançados simultaneamente. Uma vez que esteja

claro que o desenho dominante tenha surgido, a

base da competição se desloca

para a inovação em processo,

a fim de produzi-lo em larga

escala, levando à redução de

custos e adicionando caracte-

rísticas. Em vez de competir através da inovação

em produto ou serviço, as estratégias de sucesso

agora enfatizam compatibilidade com o padrão e a

melhoria na produtividade. Mas o modelo original

de James Utterback reflete um movimento de ino-

vação que tende a ser realizado, em sua maioria,

por empresas líderes que já operam na fronteira

tecnológica internacional e que estão desenvol-

vendo produtos novos para o mercado mundial.

Porém, esse influente modelo de inovação

mostrou-se limitado para expressar a dinâmica

do processo de desenvolvimento tecnológico em

empresas de economias em desenvolvimento.

De modo geral, como comentado anteriormente,

empresas dessas economias não começam o pro-

cesso de inovação em produtos que são inéditos ao

mercado, muito menos à base de P&D. Em função

de sua fraca base inicial de capacidade tecnológica,

empresas de economias emergentes tendem a

iniciar suas atividades através de uma sequência

inversa em relação às empresas inovadoras de eco-

nomias avançadas. Assim, sob essa perspectiva, seu

processo de desenvolvimento tecnológico envolve,

em geral: produção investimento inovação.51

Alinhando-se a essa perspectiva, Linsu Kim52

desenvolveu um modelo de três estágios para

representar a trajetória tecnológica de países em

desenvolvimento: aquisição, assimilação e aprimo-

ramento. Assim, no estágio inicial de industrializa-

ção, tais países são caracterizados pela aquisição

externa de tecnologias maduras de países

desenvolvidos, onde as tarefas de produção são

meramente relacionadas à montagem e cone-

xão de tais tecnologias, resultando em produtos

padronizados e não diferenciados, fazendo com

que os esforços de engenharia sejam enfatizados.

À medida que esforços vão sendo despendidos

para a assimilação de tais tecnologias, itens dife-

renciados e produtos relacionados passam a ser

produzidos (gerando capacidades de engenharia-

-E e desenvolvimento-D), o que, em conjunto com

o aumento de capacidade local, leva a melhorias

na tecnologia (P-pesquisa, D&E), invertendo a

sequência P, D & E de empresas de países tecno-

Catch-up tecnológico não mera clonagem ou repro-

dução dos mesmos passos tecnológicos seguidos pelos

líderes globais.

A primeira refere-se à traje-tória do tipo path-following (ou seguidor tecnológico).

Pelo menos três tipos diferentes

de trajetórias de catch-up tecno-

lógico podem ser identificados.

50. Kim (1997).

51. Ver Dalhman et al. (1987).

52. Kim (1997).

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137CAPÍTULO 08 | TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: PERSPECTIVA DE CICLOS

logicamente avançados. O modelo de Kim, bem

como a comparação com a trajetória tecnológica

de empresas de economias industrializadas, é

exemplificado através da Figura 8.4. A Figura 8.5

ilustra, de maneira mais específica, a trajetória

de catch-up tecnológico do tipo path-following ou

seguidor tecnológico. Trata-se de um padrão de

catch-up no qual a empresa de economia em de-

senvolvimento segue os mesmos caminhos antes

percorridos pelos líderes globais. Esse processo

de catch-up tecnológico foi predominante em

várias indústrias do Sudeste Asiático na década de

1980 e 1990, assim como em algumas indústrias

na América Latina, como a de aço e outras.

FIGURA 8.4

TRAJETÓRIA DE CATCH-UP TECNOLÓGICO A PARTIR DA SEQUÊNCIA REVERSA DO CICLO DE VIDA DE

PRODUTO/PROCESSO

Tempo

Tempo

Inovação em produto

EMPRESAS DE ECONOMIAS INDUSTRIALIZADAS

EMPRESAS DE ECONOMIAS EMERGENTES

Inovação em processo

Fluido (surgimento)

Transferência de Tecnologia

Específico (maturidade)

Aprimoramento

Geração

AprimoramentoAssimilação

AssimilaçãoAquisição

Aquisição

Cap

acid

ade

Tecn

oló

gica

Taxa

de

Inov

ação

Transição (consolidação)

Fonte: Kim (1997).

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138 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FIGURA 8.5

TRAJETÓRIA DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: REPRESENTAÇÃO SIMPLIFICADA DO PADRÃO PATH-FOLLOWING (OU

SEGUIDOR TECNOLÓGICO)

Nív

el d

e ca

paci

dade

de

inov

ação

Exemplos de estudos principais:Hobday (1995)Kim (1997)Figueiredo (2002)

Tempo

ETAPA A

ETAPA B

ETAPA C

ETAPA D

Fronteira internacional da inovação

Fonte: Adaptado de Lee & Lim (2001); Lee & Malerba (2017).

Além desses padrões de catch-up tecnológico,

avanços em pesquisa identificaram variações

nas trajetórias de catch-up tecnológico, além

do path-following.53 Um deles refere-se ao

stage-skipping ou “pular etapas”, ou seja, quando

a empresa de economia em desenvolvimen-

to segue o mesmo caminho percorrido pelos

líderes globais, mas “pula” algumas etapas (ver

ilustração na Figura 8.6). Esse tipo de catch-up

foi identificado na indústria de memória de

computadores (D-RAM) da Coreia do Sul.

Um deles refere-se ao stage-skipping ou “pular etapas”, ou seja, quando a empresa de economia em desen-

volvimento segue o mesmo caminho percorrido pelos líderes globais, mas “pula” algumas etapas.

FIGURA 8.6

TRAJETÓRIA DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: REPRESENTAÇÃO SIMPLIFICADA DO PADRÃO STAGE-SKIPPING

(“PULAR ETAPAS”)

Nív

el d

e ca

paci

dade

de

inov

ação

Exemplos de estudos principais:Lee and Lim (2001)

Tempo

ETAPA A

ETAPA B

ETAPA C

ETAPA D

Fronteira internacional da inovação

Fonte: Adaptado de Lee & Lim (2001); Lee & Malerba (2017).

53. Lee and Lim (2001); Lee (2013).

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139CAPÍTULO 08 | TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: PERSPECTIVA DE CICLOS

Uma outra modalidade refere-se ao path-creation

ou criação de trajetória própria. Nesta modalida-

de de catch-up, a empresa/indústria de economia

em desenvolvimento se engaja na criação de sua

própria trajetória, depois de ter seguido os

líderes globais por algum tempo (ver ilustração

na Figura 8.7). Esse tipo de trajetória é ilustra-

do pela indústria de telefonia celular da Coreia

do Sul, especialmente com base na tecnologia

CDMA.54 Porém, uma outra trajetória de

path-creation foi identificada, com uma sutil

diferença. É possível engajar-se na criação de

uma nova trajetória, sem ter seguido os líderes

globais, isto é, sem ter passado pela etapa de

imitação. Esse tipo de trajetória foi identificado

na indústria brasileira de celulose e papel, espe-

cialmente no caso da tecnologia de fibra-curta

(eucalipto) – Figura 8.855.

Uma outra modalidade refere-se ao path-creation ou criação de trajetória própria.

FIGURA 8.7

TRAJETÓRIA DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: REPRESENTAÇÃO SIMPLIFICADA DO PADRÃO PATH-CREATION

(CRIAÇÃO DA PRÓPRIA TRAJETÓRIA, DEPOIS DE TER SEGUIDO LÍDERES)

Exemplos de estudos principais:

Lee and Lim (2001)

Choung et al. (2014)

Tempo

ETAPA A

ETAPA B

ETAPA C

ETAPA C’ ETAPA D

ETAPA D’

Nív

el d

e ca

paci

dade

de

inov

ação

(after following)

Fronteira internacional da

inovação

Fonte: Adaptado de Lee & Lim (2001); Lee & Malerba (2017).

54. Lee & Lim (2001).

55. Figueiredo (2016).

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140 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

FIGURA 8.8

TRAJETÓRIA DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: REPRESENTAÇÃO SIMPLIFICADA DO PADRÃO PATH-CREATION

(CRIAÇÃO DA PRÓPRIA TRAJETÓRIA, SEM TER SEGUIDO)

Nív

el d

e ca

paci

dade

de

inov

ação

Exemplos de estudos principais:

Figueiredo (2016)

Tempo

ETAPA A

ETAPA B

ETAPA B’ ETAPA C

ETAPA C’ ETAPA D

ETAPA D’ (entrada precoce em

path-creation)

Fronteira internacional da

inovação

Fonte: Adaptado de Lee & Lim (2001); Lee & Malerba (2017); Figueiredo (2016).

Assim, o catch-up tecnológico envolve muito

mais do que o mero emparelhamento ou uma

única via, com diferentes empresas distribuí-

das ao longo dela e uma “fronteira” claramente

definida. Pelo contrário, existem trajetórias

distintas que podem ser trilhadas por empresas

de economias em desenvolvimento para a ob-

tenção de liderança tecnológica e comercial em

nível internacional. Adicionalmente, o catch-up é

um processo cíclico. A Tabela 8.1 contém alguns

exemplos desses movimentos cíclicos em indús-

trias selecionadas. As evidencias da Tabela 8.1

sugerem que, de tempos em tempos, as lideran-

ças tecnológicas e comerciais são conquistadas

por líderes globais (de economias avançadas)

e desafiadas por empresas de economias em

desenvolvimento que, por sua vez, também se

tornam posteriormente desafiadas.

o catch-up tecnológico envolve muito mais do que o mero emparelhamento ou uma única via, com diferen-

tes empresas distribuídas ao longo dela e uma “fron-teira” claramente definida.

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141CAPÍTULO 08 | TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: PERSPECTIVA DE CICLOS

EVENTO CELULARES MEMÓRIA DE COMPUTADORES CÂMERA JATOS AÇO VINHOS

EVENTO (I)

1998 1982 MEADOS DE 1960 1995 1980 MEADOS DE

1990*

EUA (MOTORO-LA)

FINLÂNDIA (NOKIA)

EUA JAPÃO

ALEMANHA JAPÃO (CÂMERA

ANALÓGICA SLR)

HOLANDA CANADÁ

(FOKKER BOMBARDIER)

EUA JAPÃO

ASCENSÃO DE (EUA, AUSTRÁLIA,

ETC.)

EVENTO (II)

2012 1993 1980S 2005 1998 MEADOS DE 2000

FINLÂNDIA (NOKIA)

COREIA DO SUL (SAMSUNG)

JAPÃO COREIA DO SUL

NENHUMA MU-DANÇA

(CÂMERA DIGI-TAL SLR)

CANADÁ BRASIL

(EMBRAER)

JAPÃO (AÇO

NIPPON) COREIA

DO SUL (POSCO)

RETORNO DE (ITÁLIA,FRANÇA ETC.)

EVENTO (III)

A PARTIR DE HOJE

MEADOS DE 2010*

LÍDERES ATU-AIS: SAMSUNG,

APPLE

NENHUMA MU-DANÇA.

LÍDER ATUAL = COREIA DO SUL

MUDANÇA PROVÁVEL COM

O AUMENTO DE NOVOS

PARTICIPANTES (CÂMERA MIR-

RORLESS)

LÍDER ATU-AL: BRASIL

LÍDER ATU-AL: CORÉIA

DO SUL

LÍDERES ATUAIS: FRANÇA, ITÁLIA,

CHILE

TABELA 8.1

EXEMPLOS DE CICLOS E TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

Fonte: Adaptado de Lee & Malerba (2017).

Dimensões Técnica e Organizacional da Acumulação de Capacidades Tecnológicas

À medida que as empresas acumulam suas capa-

cidades tecnológicas, maior atenção tende a ser

dada para as dimensões técnicas. Isto envolve por

exemplo, atenção prioritária a aspectos técnicos

das atividades inovadoras em produtos, como

design, assim nos aspectos técnicos do desenvol-

vimento de software e de novos componentes

de processos de produção, de equipamentos e

demais sistemas técnico-físicos. Menor grau de

atenção tende a ser dada à base organizacional

que suporta tais atividades inovadoras. A fraca

ênfase à dimensão organizacional da capacidade

tecnológica pode comprometer a implementação

das atividades inovadoras e o processo de catch-

-up tecnológico. Gabriela Dutrènit foi a primeira

a conectar as dimensões técnica e organizacional

da tecnológica e suas implicações para a eficácia

do catch-up tecnológico56. A ideia básica é que a

Menor grau de atenção tende a ser dada à base organizacional que suporta tais atividades inovadoras.

56. Ver Dutrènit (2000).

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142 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

importância relativa de diferentes tipos de arran-

jos organizacionais varia à medida que a empresa

avança para níveis mais sofisticados de atividades

inovadoras. Isto é ilustrado na Figura 8.9 a seguir.

FIGURA 8.9

DIMENSÕES TÉCNICA E ORGANIZACIONAL DA ACUMULAÇÃO DE CAPACIDADES TECNOLÓGICAS

Especialização organizacional

(por exemplo: criação de

áreas dedicadas ao apoio às

inovações incrementais)

Integração e coordenação

(por exemplo: criação de

áreas dedicadas ao

apoio às inovações

relativamente complexas)

Orquestração de áreas

intra- e interorganizacionais de

apoio à inovações em nível da

fronteira internacional

de inovação

Transição para uma posição de liderança tecnológica em nível

internacional

Dimensão Tecnológica

Liderança mundial (Fronteira

da inovação)

Avançado

Básico

Intermediário /Incrementado

Fonte: Adaptado de Bell & Figueiredo (2012a).

Como sugere a Figura 8.9, na fase na qual a

empresa se move de níveis básicos para níveis

intermediários de atividades inovadoras (eixo

vertical) as questões organizacionais referem-se à

especialização organizacional. Isto significa, por

exemplo, criar unidades organizacionais de apoio

a essas atividades inovadoras, como por exemplo,

unidades offline de apoio à produção, unidades

dedicadas ao apoio de melhorias contínuas, tais

como unidades de qualidade, de engenharia de

processos e/ou produtos e unidades correlatas,

assim como comitês interfuncionais de apoio às

atividades inovadoras incrementais. À medida

que a empresa avança para atividades inovadoras

relativamente complexas, a base organizacional

correspondente se refere à estruturação de

áreas dedicadas tais como unidades de design e

desenvolvimento de produtos, de engenharia e

desenvolvimento de processos e de automação

e/ou digitalização, assim como de estágios iniciais

de P&D. Nessa fase, a capacidade organizacional

de integração e coordenação entre essas áreas

técnicas, assim como com as áreas de marketing,

comercial e logística se torna relevante.

No entanto, à medida que a empresa atinge níveis

mais avançados de atividade inovadora, a empre-

sa passa por uma “fase de transição” na qual ela

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143CAPÍTULO 08 | TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO: PERSPECTIVA DE CICLOS

não apenas continua a se mover “para cima” para

conquistar níveis de capacidade mais avançados e

globais em termos tecnológicos. Também tem que

se mover “horizontalmente” para estruturar uma

base organizacional mais robusta. É necessário que

tal base organizacional se torne mais robusta tanto

internamente, já envolvendo um P&D estruturado,

e sua integração com demais áreas técnicas e não

técnicas da empresa. Em paralelo, faz-se necessária

a estruturação de uma rede colaborativa de parcei-

ros externos, envolvendo fornecedores, usuários,

consultorias técnicas especializadas, institutos de

pesquisa, e universidades, tanto locais como inter-

nacionais. Por isso, faz-se necessária uma meta-

-competência organizacional de “orquestração” de

uma rede interna e externa para apoio às atividades

inovadoras e performance competitiva na fronteira

global da inovação.

Porém, é justamente na transição da segunda para

a terceira fase, no eixo horizontal, que muitas em-

presas falham em construir essa base organizacional.

Maior ênfase tende a ser dada aos aspectos técnicos

das atividades inovadoras, em detrimento de uma

estruturação e reforço da base organizacional.

Consequentemente, ocorre um “truncamento” do

processo de acumulação de capacidades tecnológi-

cas inovadoras na direção da fronteira tecnológica

global de inovação. Em outras palavras, em função

desse “truncamento” a empresa latecomer falha em

fazer a sua transição para uma posição de liderança

global, em termos tecnológico e comercial.

De fato, a literatura no campo da acumulação

de capacidades tecnológicas em empresas de

economias em desenvolvimento tem dado pou-

ca ênfase à dimensão organizacional da

capacidade tecnológica. Porém, existem

estudos relevantes que demonstram

a consistência do modelo da Figura

8.9 com experiências de empresas na

indústria de vidro no México57, da indús-

tria coreana de semicondutores58 e na

indústria alimentícia na Grécia.59 Tanto

na indústria coreana de semicondutores

quanto na indústria alimentícia grega,

as empresas estavam se movendo para

tipos de atividades inovadoras, em nível técnico,

relativamente avançadas próximas à fronteira

de inovação global.

Ao mesmo tempo, enfren-

tavam questões cada vez

mais complexas sobre a

integração de diversas áreas

de conhecimento e sobre

coordenação de diferentes

atividades inovadoras dentro

e fora da empresa. No caso

da empresa da indústria de

vidro no México, a falha em construir uma

base organizacional capaz de suportar as

crescentes atividades inovadoras técnicas da

empresa, causou um truncamento no proces-

so de catch-up tecnológico. Ou seja, a empresa

não conseguiu realizar a transição para o nível

de liderança tecnológica e comercial em nível

da fronteira global de inovação. As capacidades

tecnológicas inovadoras retrocederam para

níveis inferiores. Esse processo contribuiu para

uma deterioração sistêmica da condição econô-

mica da empresa.

A falha em construir uma base organizacional capaz de suportar as crescentes atividades inovadoras técni-cas da empresa, causou um truncamento no processo de catch-up tecnológico.

É justamente na transição da segunda para a terceira fase, no eixo horizontal, que muitas em-presas falham em construir essa base organizacional.

57. Dutrènit (2000, 2006).

58. Mathews & Cho (1999).

59. Tsekouras (2006).

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144 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

09

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145RESUMO EXECUTIVO

Mecanismos de Aprendizagem Subjacentes às Trajetórias de Catch-up Tecnológico

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146 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

09. Mecanismos de Aprendizagem Subjacentes às Trajetórias de Catch-up Tecnológico

Até aqui este estudo examinou as capacidades tecnológicas, suas

propriedades e modos de acumulação. As capacidades tecno-

lógicas são um estoque de recursos associados a conhecimento

tecnológico. É por meio das capacidades tecnológicas que as

empresas e outras organizações, assim como países, podem rea-

lizar suas atividades relacionadas à produção de bens e serviços

e de diferentes tipos e graus de inovação em bens e serviços. As

capacidades tecnológicas são construídas e acumuladas por meio

de mecanismos de aprendizagem tecnológica. Logo, enquanto

as capacidades tecnológicas constituem um estoque de recur-

sos – também chamado de ativo cognitivo ou estratégico – a

aprendizagem é um processo, constituído por vários fluxos de

conhecimentos externos e internos, que permitem que organizações e

países acumulem suas capacidades tecnológicas. Especificamente:

1 Os mecanismos de aprendizagem são as variáveis mais próximas que contribuem para explicar a variação entre empresas e entre indús-trias em termos da taxa, profundidade e continuidade da acumulação de capacidade inovadora; e

2 Os mecanismos de aprendizagem tecnológica refletem os investi-mentos deliberados e específicos que as empresas fazem para criar essas capacidades tecnológicas. Este estudo se refere a esses investi-mentos como “aprendizagem”.

As capacidades tecnológicas são construídas e acumuladas por meio de mecanismos de

aprendizagem tecnológica.

Enquanto as capacidades tecnológicas cons-tituem um estoque de recursos – também

chamado de ativo cognitivo ou estratégico – a aprendizagem é um processo, constituído por

vários fluxos de conhecimentos externos e internos, que permitem que organizações e pa-íses acumulem suas capacidades tecnológicas.

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147CAPÍTULO 09 | MECANISMOS DE APRENDIZAGEM SUBJACENTES ÀS TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

Reiterando, o termo aprendizagem tecnológica

é usado no contexto deste estudo para se re-

ferir especificamente à criação de capacidades

para inovar. Portanto, esta seção baseia-se em

um argumento muito simples: se as empresas

fizerem esforços limitados para investir na

aquisição e criação de conhecimento neces-

sários para inovar (capacidades tecnológi-

cas), isto é, se fizerem esforços limitados ou

ineficazes em mecanismos de aprendizagem,

elas acumularão suas capacidades inovadoras

de maneira muito limitada ou sequer acumu-

larão tais capacidades. Primeiramente, serão

abordados os mecanismos de aprendizagem sob

o ponto de vista intraempresarial. Em seguida,

serão abordados os mecanismos de aprendiza-

gem sob a perspectiva interempresarial.

Se as empresas fizerem esforços limitados para in-vestir na aquisição e criação de conhecimento ne-cessários para inovar (capacidades tecnológicas), isto é, se fizerem esforços limitados ou ineficazes em mecanismos de aprendizagem, elas acumularão suas capacidades inovadoras de maneira muito limitada ou sequer acumularão tais capacidades.

Mecanismos de Aprendizagem Tecnológica: Perspectiva Intraempresarial A construção e acumulação de capacidades

inovadoras nas empresas envolve processos de

aprendizagem e atividades de dois tipos amplos:

1 Aqueles que envolvem a aquisição de conhe-cimento e outros elementos de capacidade tecnológica de fontes externas à empresa; e

2 Aqueles que envolvem a criação e aquisição de conhecimento de fontes internas à empresa.

Mecanismos de Aquisição de Conhecimento Tecnológico Externos à Empresa

São os processos pelos quais os indivíduos ad-

quirem conhecimentos tácitos e/ou codificados

vindos de fora da empresa. Para tanto, pode-se

importar saber externo, recorrer à assistência

técnica e promover treinamento no exterior.

Outros meios seriam a canalização sistemática

de saber externo codificado, o convite a espe-

cialistas para dar conferências etc. A aquisição

de conhecimento externo envolve esforços

propositais, organizados e efetivos para atingir,

selecionar, capturar e obter diferentes tipos de

conhecimento que são necessários para a em-

presa constituir suas capacidades inovadoras. A

Tabela 9.1 detalha ainda mais esses mecanismos

e as atividades relacionadas.

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148 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

TABELA 9.1

MECANISMOS EXTERNOS DE APRENDIZAGEM: ALGUNS EXEMPLOS DE ATIVIDADES ENVOLVIDAS

MECANISMOS DE APRENDIZAGEM

EXTERNOSALGUNS EXEMPLOS ILUSTRATIVOS

VÁRIOS TIPOS DE TREINAMENTO

• Treinamento no departamento de design e desenvolvimento de empresas fornecedoras ou de clientes;

• Treinamentos de curta duração em organizações internacionais para desenvolver competências essenciais em rotinas de engenharia e suas bases de conhecimento subjacentes;

• Programas de graduação e pós-graduação;• Participação ativa em reuniões científicas (por exemplo, elaboração e apresentação de trabalhos

técnicos).

EXPERIÊNCIA DE AQUISIÇÃO QUE EXIGE A “PRÁTICA” DE INOVAÇÃO

• O design simulado de plantas de processo químico que não sejam para a construção sob supervisão de empresas de engenharia contratadas.

AQUISIÇÃO DE CONHECI-MENTO CODIFICADO COMO BASE PARA O DESENVOLVI-MENTO DE NOVOS PRODU-TOS OU PROCESSOS

• A busca de documentação de patente para identificar as especificações como base para a inovação • A aquisição de algoritmos de projeto para a elaboração e desenvolvimento de processos;• Acesso a diversas fontes de conhecimento (artigos, teses, livros, padrões, relatórios de pesquisa).

AQUISIÇÃO DE ESPECIFICA-ÇÕES PRÉ-FABRICADAS PARA NOVOS PRODUTOS QUE PODEM SER COLOCADOS EM PRODUÇÃO COM DESIGN, DESENVOLVIMENTO E ENGE-NHARIA ORIGINAIS MUITO LIMITADOS

• A aquisição de detalhes de design completos de produtos de clientes, talvez também com dados de processo, ou o licenciamento de projetos de produtos de terceiros;

• Adquirir conhecimento de consultores altamente especializados sobre como realizar inovações técnicas e organizacionais específicas.

CONTRATAÇÃO DE CAPITAL HUMANO INOVADOR “PRONTO

• A “busca” de engenheiros de desenvolvimento experientes de outras empresas, talvez de líderes em economias avançadas;

• Contratação de profissionais experientes de concorrentes;• Contratação de recém-formados de universidades locais.

ESTABELECIMENTO VIA IED DE INSTALAÇÕES DE P&D EM LOCAIS RICOS EM CONHECI-MENTO EM OUTROS PAÍSES

• Aquisição de empresas de países avançados existentes, para aproveitar o conhecimento e as técnicas de ponta;

• Parcerias com universidades ou institutos de pesquisa avançada.

ARRANJOS ORGANIZACIO-NAIS PARA AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO EXTERNO

• Arranjos organizacionais, tais como procedimentos, equipes, tecnologias específicas que podem dar apoio aos processos de aprendizagem;

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015).

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149CAPÍTULO 09 | MECANISMOS DE APRENDIZAGEM SUBJACENTES ÀS TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

Mecanismos de Aquisição de Conhecimento Tecnológico Internos à EmpresaOs mecanismos pelos quais as empresas absorvem

conhecimento e informação alavancados externa-

mente e os internalizam em suas próprias capa-

cidades de processo e produto são denominados

de mecanismos de aprendizagem internos. Esses

mecanismos envolvem ainda a criação, dentro da

empresa, de conhecimento tácito e codificado.

Especificamente, por meio desses mecanismos de

aprendizagem internos, os indivíduos adquirem

conhecimento para realizar diferentes atividades

dentro da empresa (p. ex., através das rotinas diá-

rias e/ou se engajando de melhorias a processos e

organização da produção existente, equipamentos

e produtos). Quando primeiramente é adquirido

pelo indivíduo, tal conhecimento é tácito. Isto pode

subsequentemente ser codificado, mas a extensão

pela qual isto ocorre está longe de ser dada, e a

codificação é, portanto, identificada aqui como uma

dimensão variável do aprendizado subjacente ao

processo de constituição de capacidade inovadora.

Diferentes tipos de “aprender fazendo” e “apren-

der usando” podem contribuir para a aquisição de

conhecimento tácito adicional por indivíduos ou

grupos dentro da empresa. Assim, o envolvimento

ativo com atividades internas conduz os indivíduos

a entender os princípios subjacentes da tecnologia.

Este entendimento é a chave para as melhorias

nos processos de produção e gerenciamento,

uma vez que uma organização não pode melhorar

aquilo que não compreende. Os indivíduos podem

também adquirir conhecimento tácito dentro da

empresa realizando rotinas e/ou atividades inova-

doras, as quais tomam lugar, não somente dentro

dos laboratórios de P&D, mas também dentro dos

departamentos de engenharia e qualidade, labo-

ratórios e linhas de produção (p. ex., aprender por

pesquisa e aprender por experimentação).

A fim de incorporar o conhecimento tácito e codi-

ficado adquirido externamente para a capacidade

da empresa, é importante realizar um esforço

deliberado e efetivo em compartilhamento e codi-

ficação deste conhecimento. Considerando que as

empresas são baseadas em conhecimento em vez

de simplesmente organizações processadoras de

informação, os mecanismos de compartilhamento

(ou socialização) e codificação de conhecimento

permitem a aquisição de novos conhecimentos

para a organização. Tal criação de conhecimento

organizacional pode tomar lugar em nível de proje-

to ou grupo e, eventualmente, pode ser adquirido

pela empresa como um todo.

Especificamente, os mecanismos de compartilha-

mento de conhecimento são aqueles pelos quais

os indivíduos compartilham seu conhecimento

tácito (modelos mentais e habilidades técnicas), ou

seja, qualquer mecanismo formal e informal, pelo

qual o conhecimento tácito é transmitido de um

indivíduo ou grupo de indivíduos para outros (p. ex.,

encontros informais, comunicação pessoa a pessoa,

seções de brainstorming e briefing meetings). Assim, a

aprendizagem é um fenômeno social e a aprendiza-

gem pelos indivíduos depende do que é conhecido

pelos outros membros da organização.

Adicionalmente, as capacidades da empresa são am-

plamente geradas pelas relações organizadas entre

indivíduos e grupos. Os processos podem envolver

observações, reuniões, solução compartilhada de

problemas, rotação de funções e espaços compar-

tilhados. Diferentes tipos de solução de problemas,

enquadramento de problemas e treinamento interno

podem também trabalhar como mecanismos de so-

cialização do conhecimento [como diversas catego-

rias de treinamento on-the-job (OJT)]. Por exemplo,

durante os programas de treinamento, indivíduos

com diferentes bagagens e experiência podem so-

cializar seu conhecimento tácito com os treinandos

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150 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

e instrutores. Neste estudo, são considerados dife-

rentes tipos de treinamento tais como treinamento

interno (baseado em cursos), OJT e a provisão de

treinamento para outras empresas como mecanis-

mos de compartilhamento do conhecimento.

Os mecanismos de codificação do conhecimento

são aqueles pelos quais o conhecimento tácito dos

indivíduos (ou parte dele) torna-se explícito. Ou

seja, o processo pelo qual se articula o conheci-

mento tácito em conceitos explícitos, em formatos

e procedimentos organizados e acessíveis tornan-

do-se de fácil entendimento. Especificamente,

através dos mecanismos de codificação, o conhe-

cimento pode ser transformado em informação,

onde a informação está na forma de mensagens, ou

conjuntos identificáveis de regras e relações, que

podem ser transmitidas para agentes de decisão.

Adicionalmente, a alavancagem de novos

conhecimentos através de mecanismos de

aprendizagem externa, para serem integrados

dentro da empresa e incorporados em suas ca-

pacidades, depende do modo pelo qual diferen-

tes mecanismos de aprendizagem são geridos

para interagir uns com os outros. Esta intera-

ção, que é uma propriedade dos mecanismos

de aprendizagem, foi identificada num estudo

sobre empresas siderúrgicas e refinado em

Tacla e Figueiredo, que examinaram interações

dentro e entre diferentes tipos de mecanismos

de aprendizagem (tais como externo versus

interno; interno versus interno) na indústria

de bens de capital no Brasil60. Por exemplo,

a empresa pode estimular que engenheiros

treinados no exterior (mecanismo de aprendi-

zagem externa) realizem seminários internos,

engajando-se em comunidades de prática e/ou

em principais projetos inovadores (mecanismos

de compartilhamento de conhecimento), mas

também revisando códigos de engenharia exis-

tentes e redesenho de sistemas de automação

e/ou revisão de rotinas de projeto de produtos

(mecanismos de codificação de conhecimento).

A Tabela 9.2 detalha ainda mais esses mecanis-

mos e as atividades relacionadas.

60. Tacla & Figueiredo (2006).

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151CAPÍTULO 09 | MECANISMOS DE APRENDIZAGEM SUBJACENTES ÀS TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

TABELA 9.2

MECANISMOS INTERNOS DE APRENDIZAGEM: ALGUNS EXEMPLOS DE ATIVIDADES ENVOLVIDAS

MECANISMOS INTERNOS DE

APRENDIZAGEMALGUNS EXEMPLOS ILUSTRATIVOS

VÁRIOS TIPOS DE TREINA-MENTO PARA ADQUIRIR HA-BILIDADES RELACIONADAS À INOVAÇÃO

• Treinamento em rotinas de design de produto e know-how;• Treinamento interno focado na melhoria dos sistemas de qualidade;• Treinamento técnico avançado para atualizar habilidades técnicas de grupos especializados

(técnicos, engenheiros, pesquisadores e gerentes (incluindo treinamento no local de trabalho, treinamento supervisionado);

• Treinamento de gerenciamento avançado (técnicas de ponta para gerenciamento de projetos, gerenciamento de pesquisa, melhoria de processos, inovação de produtos);

• Treinamento sistemático relacionado a atividades de P&D.

VÁRIOS TIPOS DE COMUNI-CAÇÃO DE CONHECIMENTO DENTRO DA EMPRESA

• A “socialização” do que pode ter sido tácito ou localizado apenas em partes isoladas da organização;• Aprender fazendo atividades com níveis crescentes de dificuldades;• Relatórios de treinamento externo;• Comunicação através de reuniões, workshops, seminários, conversas e interações sociais formais e

informais.

ARTICULAÇÃO E ASSIMILA-ÇÃO DO CONHECIMENTO

• Seminários técnicos internos e de gestão;• Relatórios de treinamento externo;• Aprendizagem coletiva através de sessões de discussões, de-briefing de projetos em andamento,

revisões de desempenho;• Aprender experimentando e testando em oficinas, laboratórios, sítios florestais.

VÁRIAS FORMAS DE AQUISI-ÇÃO DE EXPERIÊNCIA

• Algumas podem ser “passivas”, no sentido de que habilidades ou conhecimentos são adquiridos como subproduto de simplesmente realizar atividades específicas;

• Mas outras, geralmente mais importantes, dependem fortemente de processos geridos formalmente de exposição a oportunidades ricas em experiência, bem como medidas explícitas para “capturar” e incorporar o que está potencialmente disponível em tais oportunidades.

CRIAÇÃO DE CONHECIMEN-TO POR P&D

• Proporcionar uma base de conhecimento para adquirir conhecimento existente, mas relativamente inacessível, de fontes externas;

• Criação de unidades de pesquisa específicas dentro da empresa;• Estabelecer o papel de gerentes ou mediadores de relações e parcerias entre empresas e

instituições de P&D

CODIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO

• Documentação de atividades desenvolvidas durante o processo de produção;• Documentação de inovações internas desenvolvidas na área;• Padronização das práticas de engenharia de projetos;• Documentação de procedimentos e instruções básicas da área administrativa.

ARRANJOS ORGANIZACIO-NAIS PARA A ASSIMILAÇÃO DE CRIAÇÃO DE CONHECI-MENTO E CODIFICAÇÃO

• Arranjos relacionados à especialização organizacional em tipos específicos de atividades inovadoras, arranjos para integrar conhecimento em diferentes áreas funcionais da organização e em diferentes campos de especialização e também nos limites da empresa.

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015)

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152 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Integração dos Mecanismos Externos e Internos de AprendizagemEstudos relevantes no campo da acumulação de

capacidades tecnológicas e aprendizagem em em-

presas de economias em desenvolvimento destacam

um aspecto importante da gestão nesta área: a

integração dos vários mecanismos de aprendizagem

internos e externos. A importância de integrar a

aprendizagem interna e externa tem sido amplamen-

te discutida em relação à gestão da inovação empre-

endida por empresas em economias avançadas que

já acumularam capacidades inovadoras significativa-

mente profundas. Porém, no contexto de empresas

de economias em desenvolvimento, esse tema ainda

carece de exploração prática.

Uma exceção importante é o trabalho de Linsu Kim

– em particular sua análise da trajetória de acumu-

lação de capacidades tecnológicas e aprendizagem

seguido pela Hyundai na produção automotiva ao

longo de três décadas entre os anos 1960 e 1970.

Kim mostrou como a Hyundai organizou grandes

etapas de aprendizagem em uma sequência circular

de quatro atividades (Figura 9.1):

1 Preparação interna para aquisição de conhe-cimento externo;

2 Aquisição desse conhecimento;

3 Sua assimilação efetiva pela organização; e

4 Sua aplicação, em termos de implementar atividades inovadoras e de criar uma base de conhecimento mais alta para a fase prepara-tória de outro ciclo de aprendizagem.

FIGURA 9.1

INTEGRAÇÃO DE MECANISMOS EXTERNOS E INTERNOS DE APRENDIZAGEM TECNOLÓGICA

Fonte: Kim (1997).

Decisão sobre tecnologia e entrada no mercado

INTERNO

INTERNO

EXTERNO

INTERNO

04.AprimoramentoEngajar criativamente com a tecnologia

• Melhoria incremental• Aplicação mais ampla

Levantar base de conhecimento do pré-projeto

• Treinar equipe experiente• Contratar engenheiros estrangeiros• Organizar equipe de projetos• Revisar literatura técnica• Observar instalações estrangeiras• Socializar o conhecimento tácito• Identificar opções técnicas• Identificar fontes de tecnologia

01. Preparação

Absorver e integrar ativamente a tecnologia

• Aprender fazendo• Conversão de conhecimento• Socialização do conhecimento• Adaptação

03. Assimilação

Obter tecnologia de fontes externas

• Negociar conteúdo e termos• Adquirir especificações• Gerenciar transferência

• Organizar treinamento• Adquirir know-how tácito

02. Aquisição

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153CAPÍTULO 09 | MECANISMOS DE APRENDIZAGEM SUBJACENTES ÀS TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

Este ciclo de quatro passos desempenhou o

papel fundamental em levar a Hyundai, por

meio de sucessivas descontinuidades qualita-

tivas do desenvolvimento cumulativo de seu

design, engenharia e capacidade inovadora.

Começando a partir de sua posição como mera

montadora de automóveis da Ford em uma

base completely knocked down (CKD), a primeira

descontinuidade foi a transição em meados da

década de 1970. Envolveu o desenvolvimento e

lançamento de um modelo “coreano” desenhado

localmente com base em um projeto de veículo

simples em uma ampla gama de tecnologias

licenciadas. O segundo, no início da década de

1980, envolveu o aprofundamento e extensão

de capacidades para desenvolver um veículo

mais avançado com o licenciamento de tecno-

logia para componentes-chave selecionados,

mas sem qualquer assistência de engenharia

externa. O terceiro, no início da década de

1990, envolveu a transição para o desenvol-

vimento, o design e a introdução totalmente

independentes de carros subcompactos para

o mercado internacional. O acesso a conheci-

mentos e habilidades externos foi uma questão

chave em cada uma dessas descontinuidades.

Esse aprofundamento das capacidades inovado-

ras das empresas não avançou suavemente ao

longo de um caminho linear. Envolveu uma série

de descontinuidades qualitativas nos tipos de

capacidade necessários para realizar sucessiva-

mente tipos de atividades inovadoras mais com-

plexas. A transição através dessas descontinui-

dades exigiu a mobilização de recursos em larga

escala para lançar novos ciclos de preparação,

aquisição, assimilação e melhoria. Por trás de

cada um desses ciclos, a equipe sênior definiu

os desafios para a construção de capacidades

em um nível alto - construindo deliberadamente

o que Kim descreveu como uma sucessão de

“crises” para a organização.

Principais Características dos Mecanismos Intraempresarias de Aprendizagem Tecnológica As principais características dos mecanismos de

aprendizagem envolvem variedade, intensidade,

funcionamento e interação, assim definidas:

1 Variedade. Em função da multiplicidade de especialidades e de capacidades na empresa, há a necessidade de uma série de processos para garantir não só que os indivíduos adqui-ram um nível adequado de conhecimentos, mas também que estes sejam incorporados no tecido organizacional. A variedade é aqui medida em termos da existência/inexistência de todo um processo (por exemplo, o pro-cesso de codificação do saber) e de outros subprocessos que ele possa acarretar (por exemplo, o processo de padronização). Este último pode envolver diferentes mecanismos (por exemplo, atualização dos padrões ope-racionais básicos, codificação do desenho de projetos). Portanto, a variedade é medida não só entre os quatro processos de aprendi-zagem, mas também dentro deles.

2 Intensidade. Os processos “esporádicos” de aprendizagem provavelmente não levarão a uma efetiva aquisição de conhecimentos nem à sua incorporação no plano organizacional. Com o tempo, certas práticas podem ser roti-nizadas e passar a fazer parte da rotina diária da empresa. Por “intensidade” entendemos aqui a frequência com que se criam, atuali-zam, utilizam e aperfeiçoam os processos de aprendizagem ao longo do tempo. A intensi-dade é importante porque:

• Pode garantir um fluxo constante de saber externo para a empresa;

• Pode fazer com que se compreenda melhor a tecnologia adquirida e os princípios inerentes aos processos de aquisição de conhecimentos internos; e

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154 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

• Pode assegurar a constante conversão da aprendizagem individual em aprendizagem organizacional e, logo, sua rotinização.

3 Funcionamento. O modo como as empresas organizam seus processos de aprendizagem é fundamental para criar competência.23 As empresas podem organizar seus processos de aprendizagem de diferentes maneiras. Entendemos aqui por “funcionamento” o modo como os processos de aprendizagem operam ao longo do tempo. Mesmo sendo contínua a intensidade dos processos, seu funcionamento pode ser deficiente. Eles podem começar funcionando bem e deterio-rar-se com o tempo. O funcionamento pode contribuir para aumentar e/ou diminuir a “variedade” e a “intensidade”.

4 Interação. Mais especificamente, a intera-ção dos processos de aquisição e conversão de conhecimentos é importante para criar competência.24 É importante a interação cumulativa entre os mecanismos de apren-dizagem para a acumulação de competência tecnológica. “Interação” é o modo como os diferentes processos de aprendizagem se influenciam mutuamente. Por exemplo, um processo de socialização do saber (programa de treinamento interno) pode ser influencia-do por um processo de aquisição de saber externo (treinamento no exterior).

Grande parte do que conhe-

cemos sobre a natureza dos

mecanismos de aprendizagem

de empresas em economias

em desenvolvimento, deriva

de estudos que observaram as

trajetórias de catch-up tecno-

lógico das principais empresas

do mercado. Esses estudos

apontaram para as seguintes

características adicionais:

1 A relativa importância da grande variedade de processos e mecanismos de aprendiza-gem externos e internos. Embora neces-sário, uma grande variedade de processos e mecanismos de aprendizagem não é

suficiente para constituir progressivamente níveis mais altos de capacidade inovadora. Isto depende de como os mecanismos de aprendizagem funcionam ao longo do tempo e como eles interagem uns com os outros (mecanismos externos versus internos e in-ternos versus internos). Isto tem implicações para os gestores em termos da qualidade de seus esforços que seriam necessários para melhorar tais mecanismos de aprendizagem em bases diárias. Em outras palavras, sim-plesmente trazendo conhecimento externo bem selecionado e bem direcionado para dentro da empresa não garante que isto será automaticamente transformado em capaci-dades da empresa. Novamente, os esforços deliberados e efetivos são necessários para criar uma organização interna para absorver e internalizar diferentes tipos e peças de conhecimento tácito e codificado e internali-zá-los na base de conhecimento da empresa.

2 Esforços para gerir os mecanismos de aqui-sição de conhecimento devem ser feitos em paralelo com esforços para gerir a conver-são do conhecimento tácito dos indivíduos em capacidade da empresa (expresso como novas rotinas, processos de produção, novos produtos e serviços). Por exemplo, enviar engenheiros para treinamento no exterior na ausência de efetivos mecanis-mos de compartilhamento e codificação de conhecimento irá contribuir muito pouco para acelerar a acumulação de capacidade inovadora. Baseando-se em simples meca-nismos, não importam quão poderosos eles pareçam ser (por exemplo, grandes facilida-des e programas de treinamento interno), é improvável que resulte em algum aprendiza-do organizacional efetivo.

3 Mais especificamente, o movimento de um nível para outro na acumulação de capacida-de tecnológica está associado com uma deli-berada e efetiva descontinuidade qualitativa nas características-chave dos mecanismos de aprendizagem (tais como sua quantidade, composição, funcionamento); as característi-cas inalteradas dos mecanismos de aprendi-zagem ao longo do tempo contribuirão muito pouco para a habilidade da empresa em se

O movimento de um nível para outro na acumulação de capacidade tecnológica

está associado com uma deliberada e efetiva des-continuidade qualitativa nas características-cha-

ve dos mecanismos de aprendizagem.

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155CAPÍTULO 09 | MECANISMOS DE APRENDIZAGEM SUBJACENTES ÀS TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

mover, por exemplo, da capacidade inovadora básica para níveis intermediário-superior e avançado. Tal descontinuidade qualitativa em um mecanismo de aprendizagem se refere a mudanças em sua variedade e composição (adição e/ou eliminação) e modificação em sua continuidade ou intensidade, reorgani-zação de seu funcionamento e mudanças na maneira como elas interagem com as outras (mudanças em suas sistemáticas relações).

4 Estudos têm encontrado evidências de discre-pâncias entre a formalidade e a realidade dos mecanismos de aprendizagem em empresas que refletem uma lacuna entre declarações racionalizadas dos indivíduos e o que realmente

ocorre na empresa. Isto é particularmente observado quando gestores tendem a superes-timar o bom funcionamento dos mecanismos de aprendizagem durante as entrevistas do trabalho de campo. As discrepâncias ocorrem não somente entre as declarações dos ges-tores e a realidade, mas também através do tempo de vida dos próprios mecanismos de aprendizagem. Em outras palavras, um meca-nismo de aprendizagem pode ser efetivamente constituído e pode funcionar bem durante os primeiros anos, mas nos anos subsequentes seu funcionamento pode deteriorar. Mais tarde, o mecanismo de aprendizagem pode desapa-recer. Realmente, desaprender pode ser tão importante como aprender.

Mecanismos Interempresariais de Aprendizagem TecnológicaLigações Tecnológicas entre Subsidiárias de EMNs e outras EmpresasUm dos objetivos de estratégias de inovação

industrial é o fortalecimento da capacidade tec-

nológica de empresas locais, de pequeno e médio

porte, no intuito de exercerem um papel mais

competitivo na cadeia de fornecedores de gran-

des empresas locais e também de empresas trans-

nacionais. Por isso, é apresentado aqui o modelo

que permite examinar as ligações tecnológicas

interempresariais desenvolvido por Norlela Arif-

fin. Esse modelo permite compreender os vínculos

de saber e aprendizagem tecnológica existentes

entre as empresas, em especial no contexto de

economias emergentes (veja Tabela 9.3).

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156 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

TABELA 9.3

TIPOLOGIA DE MECANISMOS INTEREMPRESARIAIS DE APRENDIZAGEM TECNOLÓGICA (LIGAÇÕES

TECNOLÓGICAS ENTRE SUBSIDIÁRIAS DE EMNS E OUTRAS EMPRESAS)

TIPOS DE INDÚSTRIA

VÍNCULOS BASEADOS EM TRANSAÇÕES DE MERCADO DE BENS E

SERVIÇOS

VÍNCULOS DE FLUXOS DE CONHECIMENTO

TECNOLOGIA EXISTENTE (PRODUÇÃO ROTINEIRA)

VÍNCULOS PARA INOVAÇÃO

USO DA CAPACIDADE TECNOLÓGICA

Vínculo MP (Marketing/Pro-duction)

Nesses vínculos de comerciali-zação/produção, a interação das empresas é meramente uma relação comercial envolvendo a venda de bens e serviços de-rivados do uso da capacidade de produção existente, mas não elementos destinados a gerar ou ampliar essa capacidade.

Vínculo I (Inovation)

Nesses vínculos para inovação, a interação é a fonte de inovação. Nesse caso, as empresas já têm capacidade tecnológica inova-dora e colaboram no sentido de utilizá-la para introduzir inova-ções, o que, em geral envolve pesquisa, desenvolvimento e design conjuntos para novos produtos e processos.

DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADE TECNOLÓ-GICA (APRENDIZAGEM)

Vínculo LP (Learning for Pro-duction)

Esses vínculos de aprendizagem para produção permitem às empresas gerar ou ampliar sua capacidade básica de produção. Geralmente uma das empresas recorre à outra para desenvol-ver a capacidade básica para produzir certos produtos, utili-zar certos processos e/ou do-minar certas práticas gerenciais e organizacionais.

Vínculo LI (Learning for Inno-vation)

Através desses vínculos de aprendizagem para inovação, as empresas desenvolvem capaci-dade inovadora básica e inter-mediária. Isso pode envolver treinamento e aquisição de expe-riência a nível formal, juntamente com aprendizagem menos formal através de engenharia reversa e melhoramento incremental.

DESENVOLVIMENTO RE-VERSO DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA

Vínculo R-LP (Reverse Learning for Production)

O vínculo de aprendizagem para produção é reverso quando a empresa que deveria estar ab-sorvendo conhecimento passa a auxiliar a outra no desenvol-vimento da capacidade básica para produzir certos produtos, utilizar certos processos e/ou dominar certas práticas geren-ciais e organizacionais.

Vínculo R-LI (Reverse Learning for Innovation)

O vínculo de aprendizagem para inovação é reverso quando a empresa que deveria estar ab-sorvendo conhecimento passa a auxiliar a outra no desenvolvi-mento da sua capacidade inova-dora básica e intermediária, seja através de treinamento formal ou através de engenharia reversa e melhoramento incremental.

Fonte: Adaptado de Ariffin (2000); Figueiredo (2015).

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157CAPÍTULO 09 | MECANISMOS DE APRENDIZAGEM SUBJACENTES ÀS TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

Tal método envolve a combinação de duas impor-

tantes distinções. Primeiramente, a distinção entre:

1 As ligações relativas às transações de merca-do de bens e serviços;

2 As ligações relativas aos fluxos de saber.

Em segundo lugar, a distinção entre:

3 As ligações baseadas principalmente no uso da capacidade já existente nas empresas;

4 As ligações que contribuem significativamen-te para gerar essa capacidade.

Ligações (1) e (3) podem existir quando as tran-

sações de mercado em bens e serviços envolvem

pouca ou nenhuma transferência de aptidões e

conhecimentos que ampliem a capacidade tecno-

lógica já existente nas empresas. Por outro lado,

os vínculos entre empresas – (2) e (4) – podem

envolver considerável fluxo de aptidões e conhe-

cimentos que ajudem as empresas a desenvolver

sua capacidade, seja em termos de produção

(como em vários contratos de licenciamento), seja

de capacidade para realizar atividades tecnoló-

gicas inovadoras. Mais especificamente, essa

taxonomia define as seguintes categorias de links

ou interações entre as organizações e os fluxos de

conhecimentos relacionados:

1 Ligações marketing-produção: Estas são as ligações que estão preocupadas princi-palmente com a transação de mercado para bens e serviços. Neste caso, as interações entre as empresas são uma relação pura-mente de marketing envolvendo a venda de bens e serviços derivados do uso de capacidades de produção existentes e não envolvem elementos significativos destina-dos a melhorar ou criar essas capacidades.

2 Ligações fluxo de conhecimento: São ligações referentes a intercambio de conhe-cimento. Existem dois tipos dessas ligações: (a) as que contribuem significativamente para a criação de capacidades tecnológicas, e (b) as baseadas principalmente no uso

de recursos inovadores existentes que as empresas já possuem.

Esse modelo é particularmente útil para exami-

nar vínculos entre empresas em um certo setor

industrial (e cadeia de fornecedores), independen-

temente do seu tamanho e da sua nacionalidade.

A sua aplicação permite capturar não apenas a

existência, ou não, de ligações entre empresas,

mas, principalmente, o que vai dentro de cada

vínculo, em termos de fluxo de conhecimento tec-

nológico. Ou seja, pode-se examinar se as ligações

relacionam-se ao uso de capacidades tecnológicas

existentes ou ao desenvolvimento de capacidades

para realizar atividades tecnológicas inovadoras.

Isso é particularmente importante para aferir o de-

senvolvimento tecnológico em pequenas e médias

empresas. A despeito da fabulosa retórica sobre a

importância das pequenas e médias empresas para

a geração de empregos e de inovação, as medidas

governamentais tendem a considerá-las de manei-

ra isolada (no que se refere, por exemplo, a micro-

crédito, apoio a treinamentos gerenciais, avaliação

de potencialidade para realização de projetos etc.),

sem examinar adequadamente seu processo de

desenvolvimento tecnológico por meio dos víncu-

los e interações que desenvolvem em seus setores

específicos – e seu posicionamento nas cadeias de

fornecedores – em que operam.

Na verdade, tais medidas tendem a ignorar que,

diferentemente das grandes empresas, as peque-

nas empresas inovadoras – quando conseguem

levar à frente suas atividades tecnológicas – são

especializadas em suas estratégias, concentran-

do-se em inovação de produtos específicos como

máquinas-ferramenta, instrumentos científicos,

produtos químicos especializados e software. Sua

força estratégica chave é combinar capacidade

tecnológica com requisitos específicos de clientes.

No contexto de economias emergentes, porém,

essa habilidade de desenvolver capacidades-nicho

é particularmente mais arriscada, apresentando

grandes ocorrências de fracasso.

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158 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Por isso, estudos deveriam examinar o seu relacio-

namento com as demais empresas envolvidas nas

diversas camadas de fornecedores, para identi-

ficar como empresas médias e pequenas locais

poderiam beneficiar-se dos vínculos interorgani-

zacionais para consolidarem-se como fornecedo-

res qualificados de médias e grandes empresas

locais e transnacionais. Essa tipologia de vínculos

tecnológicos interempresariais fornece um mode-

lo geral para examinar os fluxos de conhecimento

entre empresas de diferentes setores industriais.

Ligações entre Empresas e Demais Organizações de Apoio ao Sistema de InovaçãoEmbora o desenvolvimento de capacidade tec-

nológica industrial ocorra primariamente dentro

de empresas, as demais organizações do sistema

de inovação (universidades e

seus diversos departamentos,

institutos públicos e privados

de pesquisa, centros de forma-

ção e treinamento, consulto-

rias) podem contribuir para o

processo inovador em nível

de empresas. Por isso, é ponto

comum em documentos de

política tecnológica no Brasil

a recomendação de fortale-

cimento dos vínculos entre empresas e as demais

organizações que compõem os sistemas local,

regional e/ou nacional de inovação.

Mais especificamente, essas organizações de apoio

envolvem um conjunto de arranjos institucionais

organizados com o objetivo básico de facilitar a

disseminação de tecnologia e outros conhecimentos

relacionados, de fontes relevantes para as empresas

e outras organizações, para auxiliá-las no desen-

volvimento de suas capacidades tecnológicas e na

adoção, produção e comercialização de inovações.

Esses arranjos institucionais cobrem uma diversida-

de de mecanismos e processos que servem de apoio

para a provisão de serviços, tais como contratos de

pesquisa, assistência técnica, certificação, consulto-

ria e treinamento. Em geral, tais arranjos são criados

e/ou mantidos através da provisão de recursos

(financeiros) públicos que permitem que a oferta de

serviços antes mencionada ocorra a um preço abaixo

do mercado. Essa perspectiva sobre a infraestrutura

tecnológica transcende a abordagem convencional

de infraestrutura física – baseada somente no capital

físico e humano, mas envolve também elementos

institucionais e organizacionais que apoiam as ativi-

dades inovadoras das empresas.

Adicionalmente, ao longo dos últimos anos, vários

mecanismos de apoio financeiro têm sido imple-

mentados para a formação e consolidação de

infraestruturas de tecnologia e inovação no Brasil.

Porém, muito pouco tem sido feito em termos de

avaliação das reais implicações da construção e

do funcionamento de tais infraestruturas para

o desenvolvimento de capacidade tecnológica

em empresas no Brasil. Neste sentido, a tipologia

na Tabela 9.4 contém elementos que permitem

examinar a natureza das interações que podem ser

estabelecidas entre a indústria e a infraestrutura

tecnológica. Essa métrica considera se as intera-

ções são baseadas, ou não, no estabelecimento de

contatos formais entre os parceiros, no compro-

misso dos vários atores envolvidos, assim como no

pagamento, ou não, de taxas para que as mesmas

se efetivem. As interações que emergem destas

considerações são agrupadas em três diferentes

conjuntos: ligações informais, ligações vinculadas à

formação e aperfeiçoamento de recursos huma-

nos e ligações formais, descritas na Tabela 9.4.

Portanto, o modelo permite capturar as nuanças

das interações entre os diferentes atores do

sistema nacional/local de inovação. A sua aplicação

empírica pode orientar o processo de desenho de

estratégias mais adequadas à realidade e às neces-

sidades dos próprios sistemas.

Muito pouco tem sido feito em termos de avaliação das

reais implicações da cons-trução e do funcionamento

de tais infraestruturas para o desenvolvimento de capacidade tecnológica em

empresas no Brasil.

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159CAPÍTULO 09 | MECANISMOS DE APRENDIZAGEM SUBJACENTES ÀS TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

TABELA 9.4

TIPOLOGIA DE MECANISMOS INTERORGANIZACIONAIS DE APRENDIZAGEM (LIGAÇÕES EMPRESAS E DEMAIS

ORGANIZAÇÕES DO SISTEMA DE INOVAÇÃO)

LIGAÇÕES INFORMAIS

Contatos informais com pesquisadores.

Acesso à literatura especializada.

Acesso à pesquisa de departamentos específicos.

Participação em seminários e conferências.

Acesso aos equipamentos da universidade e/ou dos institutos de pesquisa.

Participação em programas específicos (educacionais e de treinamento).

Outras ligações informais.

RECURSOS HUMANOS

Envolvimento de estudantes em projetos industriais.

Recrutamento de recém-graduados.

Recrutamento de cientistas e engenheiros mais experientes.

Programas de treinamento formalmente organizados para atender às necessida-des dos recursos humanos.

Outras ligações relacionadas aos recursos humanos.

LIGAÇÕES FORMAIS

Consultoria desenvolvida por pesquisadores ou consultores.

Análises e teste (ensaios técnicos).

Serviços de atualização de acervo (normas técnicas atualizadas, patentes).

Repostas técnicas (diagnóstico de problemas em termos de processo produtivo).

Estabelecimento de contratos de pesquisa.

Estabelecimento de pesquisa conjunta.

Outras ligações formais.

Fonte: Adaptado de Figueiredo & Vedovello (2005).

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160 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

A transferência de tecnologia

é considerada um dos impor-

tantes mecanismos de aquisi-

ção de conhecimento. Ou seja,

é também considerada um

dos mecanismos de aprendizagem tecnológica. O

processo de transferência de tecnologia envolve,

de um lado, a empresa detentora ou fornecedora

de tecnologia e, de outro, a empresa receptora

de tecnologia. É natural que uma empresa que

construiu e acumulou capacidade em nível avan-

çado e liderança tecnológica busque usufruir dos

benefícios dessa liderança em termos de ganhos

comerciais, econômicos e políticos. De outro lado,

empresas e países que objetivam ter acesso à cer-

ta tecnologia e dominá-la tentarão a sua aquisição.

Surge então a relação entre o fornecedor e o com-

prador de tecnologia. Essa relação normalmente

tende a existir mais comumente entre empresas e

países industrializados, como fornecedores, e os

em desenvolvimento, como compradores.

Estes normalmente iniciam suas atividades indus-

triais à base de tecnologia importada de empresas

de outros países (geralmente os industrializa-

dos). Enquanto a empresa fornecedora possui

os componentes da capacidade tecnológica em

nível avançado, na empresa receptora o nível de

capacidade tecnológica é raso ou inexistente,

como ilustrado pela Figura 9.2. Para que a empre-

sa receptora possa adquirir esta nova tecnologia

– ainda que somente para uso – terá que desen-

volver internamente a sua própria capacidade

tecnológica (principalmente os componentes

relativos a profissionais especializados e sistema

organizacional). Para isso, terá que engajar-se em

processos de aprendizagem tecnológica (para

aquisição e assimilação de conhecimento).

Transferência de Tecnologia como Mecanismo de Aprendizagem Tecnológica

A transferência de tecno-logia é considerada um dos

importantes mecanismos de aquisição de conhecimento.

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161CAPÍTULO 09 | MECANISMOS DE APRENDIZAGEM SUBJACENTES ÀS TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

FIGURA 9.2

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA: RELAÇÃO FORNECEDOR VS. RECEPTOR

Necessidade de emgajamento em processo local de

aprendizagem tecnológica e

capacidade de absorção.

?

A B

FORNECEDORES DE TECNOLOGIA RECEPTORES DE TECNOLOGIA(ASPIRANTE)

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015).

Durante as décadas de 1950 a 1970, o termo trans-

ferência de tecnologia ganhou enorme popularidade

junto a governos, mas também em instituições de

pesquisa, ensino e consultorias. Existiam vários

programas de educação e treinamento – como ainda

existem alguns atualmente – voltados a ensinar

gestores empresariais e governamentais a gerir o

processo de transferência de tecnologia. Ocorre

que normalmente a grande ênfase era dada ao lado

esquerdo da Figura 9.2, ou seja: ao processo de sele-

ção e escolha da tecnologia e, principalmente, do seu

fornecedor. Partia-se da ideia de que, tendo sido

feita uma boa seleção da tecnologia e dos forne-

cedores, a sua assimilação ocorreria automatica-

mente, como uma mera questão de tempo.

Eram adquiridos, portanto, apenas os sistemas

técnico-físicos, ou parte deles, na forma de maquina-

ria, equipamentos, software ou banco de dados ou os

produtos. Sabemos que há, em muitos países em de-

senvolvimento, evidências de casos de “tecnologias”

adquiridas sob esta perspectiva que estão guarda-

das há anos, nas mesmas caixas

entregues pelo fornecedor, pois

a organização receptora não

desenvolveu nenhuma base

organizacional e/ou gerencial,

nem de recursos humanos,

para fazer instalar e usar a

“tecnologia”. Tem-se então uma

aquisição incompleta ou trunca-

da de tecnologia. Ou seja, o lado

direito da Figura 9.2 tendia – e,

em alguns casos, ainda tende – a

ser negligenciado por dirigentes

durante o processo de aquisição

de tecnologia. Especificamen-

te, a real transferência de

tecnologia de fornecedores

para receptores envolve, de

um lado, a gestão da seleção, escolha e compra da

tecnologia importada. De outro, implica assegu-

rar o engajamento da organização recipiente em

A real transferência de tecnologia de fornecedores para receptores envolve, de um lado, a gestão da sele-ção, escolha e compra da tecnologia importada. De outro, implica assegurar o engajamento da organização recipiente em um contínuo e sistemático processo de aprendizagem tecnológica. É justamente essa segunda “metade” que tende a ser negligenciada em estratégias de inovação industrial.

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162 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

um contínuo e sistemático processo de aprendi-

zagem tecnológica. É justamente essa segunda

“metade” que tende a ser negligenciada em

estratégias de inovação industrial.

Isto porque a aquisição de tecnologia importada

limita-se tão-somente aos componentes produtos/

serviços e sistemas técnico-físicos, ou fluxos de

conhecimento tipo A, da Figura 9.3. Apenas com base

nesses componentes elas dificilmente conseguem

operar ou mesmo modificar o que adquiriram. E,

como sabemos agora, os outros componentes, os

profissionais especializados e o tecido organizacional

não são transplantados automaticamente. Por isso,

as empresas receptoras de tecnologia precisam trei-

nar seus próprios operadores, engenheiros, técnicos,

pesquisadores, assim como precisam desenvolver

suas próprias rotinas e procedimentos organizacio-

nais. É isso que permitirá que a tecnologia importada

seja de fato realmente assimilada, absorvida e, pos-

teriormente, modificada pela empresa importadora.

Por esta razão, os componentes do lado direito da

Figura 9.2 são prioritários do ponto de vista de de-

senvolvimento de capacidade tecnológica para que a

tecnologia importada seja de fato adquirida.

Portanto, é por meio do desenvolvimento de sua

capacidade tecnológica local que a empresa recep-

tora poderá, inicialmente, usar/operar a tecnologia

importada. Se continuar aprofundando a sua capa-

cidade tecnológica local poderá então modificar,

de várias maneiras e em vários graus, a tecnologia

importada. Dependendo do grau de modificação

que for capaz de fazer, a empresa receptora poderá

evoluir para ser geradora de sua própria tecnolo-

gia. Ou seja, a empresa receptora somente poderá

adquirir plenamente uma tecnologia se engajar-se

em um processo de aprendizagem para construir sua

própria capacidade tecnológica. Assim, há vários mo-

dos de transferência de tecnologia. Pode-se evoluir

e mero usuário à autossuficiência como mostrado

na Figura 9.3. Essa evolução depende dos fluxos de

conhecimento usados nos processos de transferên-

cia de tecnologia, os quais podem ter pelo menos

três tipos (Figura 9.4). É preciso atentar para os tipos

de fluxos de conhecimento envolvidos no processo

de transferência de tecnologia. A natureza desses

fluxos determinará se a empresa de economia em

desenvolvimento ou receptora de tecnologia fará ou

não o percurso da Modo 1 ao Modo 4 da Figura 9.4.

Produção de

fornecedores*,

engenharia, P&D,

capacidades

gerenciais e afins.

Nova

capacidade

de produção

Fluxo A

Fluxo B

Fluxo C

CAPACIDADES DE FORNECEDORES*

FORMAS DE TECNOLOGIA

CAPACIDADES DE IMPORTADORES*

‘Inovação’

Capacidade

inovadora

adicionada

OBJETIVO DE DESENVOLVIMENTO

Bens de capital,

serviços e designs

Habilidades

operacionais e

know-how

Conhecimentos

e competências

para a mudança

tecnológica

?

?

FIGURA 9.3

TIPOS DE FLUXOS DE CONHECIMENTO PROCESSOS DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

Fonte: Adaptado de Bell (2012).

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163CAPÍTULO 09 | MECANISMOS DE APRENDIZAGEM SUBJACENTES ÀS TRAJETÓRIAS DE CATCH-UP TECNOLÓGICO

Desenvolvimento de pesquisa endógena/local,

produção.

Pesquisa conjunta, desenvolvimento e

produção.

Nenhum P&D endógeno/local.

Manufatura endógena.

Nenhum desenvolvimento ou produção

endógena/local.

OFF-THE-SHELF PRODUÇÃO LICENCIADA/ CO-PRODUÇÃO

COLABORAÇÃO AUTO-SUFICIÊNCIA

Auto suficiência

Dependência tecnológica de

outros países

01 02 03 04

FIGURA 9.4

MODOS DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

Fonte: Adaptado de Dorman et al (2015).

Especificamente, esses fluxos de conhecimento da

Figura 9.3 podem ser definidos da seguinte maneira:

1 Fluxo A: Bens de capital (design, enge-nharia e serviços relacionados que são utilizados na criação de bens de capital) e desenhos e especificações “prontos” para produtos ou processos que podem ser comprados ou licenciados.

2 Fluxo B: Vários tipos de habilidades, conhe-cimentos e know-how para operar novas instalações de produção e para realizar atividades de manutenção associadas.

3 Fluxo C: Um conjunto de variados tipos de conhecimento e habilidades para adaptar, melhorar e desenvolver a tecnologia inicial-mente adquirida.

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164 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

10

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165RESUMO EXECUTIVO

Desafios e Recomendações Finais

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166 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

10. Desafios e Recomendações Finais

À luz da base analítica deste documento e das evidências do-

cumentadas em estudos relevantes da literatura relacionada,

vários deles aqui citados, esta seção comenta alguns desafios

e apresenta algumas recomendações práticas relativos ao

fortalecimento da competitividade industrial do Brasil. A

trajetória do desenvolvimento industrial de países deriva, em

grande parte, da qualidade das decisões estratégicas tomadas

por governos e lideranças industriais em diferentes pontos no tempo. Por isso, as

opções feitas hoje sobre a diretriz de desenvolvimento industrial e tecnológico

no Brasil certamente influenciarão a natureza, o nível e a velocidade do desenvol-

vimento econômico (e social) nas próximas décadas no país. Especificamente, o

fortalecimento da competitividade industrial do Brasil nos anos e décadas seguin-

tes estará fortemente condicionado pela natureza, direção e velocidade das

trajetórias de acumulação de capacidades tecnológicas em nível de empresas

de diferentes setores industriais.

Ainda que as trajetórias tecnológicas estejam sujeitas a influências diversas,

elas dependem, em grande parte, das ações estratégicas em nível de empre-

sas em associação às ações de políticas públicas. Reitera-se aqui a ênfase nas

empresas e indústrias. As empresas e indústrias são o lócus fundamental no

qual ocorre a transformação de conhecimento em riqueza, isto é, o processo

de inovação. Por conseguinte, é no âmbito das empresas e indústrias que se

forma grande parte da produtividade do país. Os demais atores (universidades,

institutos de pesquisa públicos e privados etc.) contribuem para o processo

de inovação em nível das empresas e indústrias. A Figura 10.1 ilustra algumas

dessas possíveis trajetórias e algumas de suas correspondentes implicações.

O fortalecimento da competitividade indus-trial do Brasil nos anos e décadas seguintes

estará fortemente condicionado pela natureza, direção e velocidade das trajetórias de acumu-lação de capacidades tecnológicas em nível de

empresas de diferentes setores industriais.

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167CAPÍTULO 10 | DESAFIOS E RECOMENDAÇÕES FINAIS

FIGURA 10.1

POSSÍVEIS TRAJETÓRIAS DE ACUMULAÇÃO DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA BRASILEIRA

ED

A

C

Básico

Intermediário

Avançado

Liderança Internacional

Tempo (anos)1998 1999 200019971996 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2025

Abertura de novos segmentos tecnológicos na

fronteira internacional e/ou novos segmentos

tecnológicos novos para a economia local.

B

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2015).

Com base na leitura da Figura 10.1 podemos

interpretar que:

1 Na trajetória representada pela Curva A, as empresas que acumulam capacidades tecno-lógicas em nível avançado podem continuar aprofundando e fortalecendo essas capaci-dades tecnológicas. Isso lhes permite obter proveito comercial e financeiro da tecnologia existente (core business). Porém, é impor-tante considerar que o aprofundamento das capacidades tecnológicas ao longo dessa curva dependerá da eficácia dos mecanismos de aprendizagem tecnológica.

2 Por outro lado, há o risco de exacerbação no aprofundamento e fortalecimento

da acumulação de capacidades tecnológicas existentes (ou de “fazer mais do mesmo”). Isso pode conduzir à trajetória represen-tada pela Curva B. Incentivadas a fazerem “mais do mesmo”, as empresas podem enrijecer suas capacidades tecnológicas. Isso se reflete na perda de conexão com as reais demandas do mercado (reais e potenciais). Cai-se aqui no parado-xo do “inovar demais” (porém na direção errada). Assim, empresas e indústrias líderes podem ser superadas por competidores inovadores e novos entran-tes mais eficazes, em termos da gestão de seu processo de inovação.

Há o risco de exacerbação no aprofundamento e fortalecimento da acumulação de ca-pacidades tecno-lógicas existentes (ou de “fazer mais do mesmo”).

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168 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

3 Uma estratégia de mera manutenção, sem esforços renovados de aprendizagem

tecnológica, pode conduzir a uma trajetória de deteriora-ção de capacidades tecno-lógicas existentes (Curva C). Neste caso, o enfraque-cimento e a possível perda das capacidades tecnoló-gicas inovadoras estariam relacionados à ausência e/ou ineficácia dos esforços de aprendizagem tecnológica. Também estariam relaciona-dos à perda de conexão entre esforços tecnológicos inova-dores internos da empresa e as demandas existentes e potenciais de mercado.

4 No entanto, as empresas podem engajar-se em novas linhas de produtos e linhas de

negócios partir do aprovei-tamento da base existente de capacidades tecnológi-cas inovadoras, como ilus-trado pela Curva D. Precisa-riam, no entanto, reorganizar suas bases de conhecimento via estratégias de aprendiza-gem tecnológica.

5 Mas isso também pode ser feito a partir de um engajamento em trajetória tecnológica alterna-tiva – em atividades diferentes do negócio atual

(Curva E). Ou seja, empresas podem inaugurar um segmento tecnológico novo na fronteira internacional de inovação ou novo para a economia de um país (‘nova indústria’ ou setor industrial). Isso é feito quando são capazes de desenvolver novas tecnologias (de produto, processo, serviço etc.) com grau de novidade internacional. Por

sua vez, isso não significa que tais tecnologias devam ser necessariamente científica e tecnolo-gicamente radicalmente novas. Podem decorrer de recombinações de tecnologias existentes, porém, com grau de novidade internacional.

6 É importante reiterar que a diversificação das atividades tecnológicas das empresas (Curvas D e E), a partir de suas capacida-des tecnológicas inovadoras, é importante tanto para as empresas quanto para o país. É importante para as empresas porque elas podem aproveitar novas janelas de oportunidades para criação de novas linhas de negócio baseadas em novas tecnologias que garantirão o crescimento de longo prazo da empresa. Reiterando, isso é fundamental para a economia do país pois cria setores industriais novos, renovando a estrutura industrial do país e garantindo as bases para um crescimento industrial de longo prazo. Isto porém, implica a criação de capacida-des tecnológicas (Figura 6.3) diferentes daquelas relacionadas às tecnologias exis-tentes. Os componentes capital humano (profissionais e suas qualificações formais e informais) e sistema organizacional devem receber atenção especial.

7 Este estudo chama a atenção para a impor-tância da acumulação de capacidades tecno-lógicas inovadoras como ativo estratégico capaz de contribuir para um aprimoramento consistente na performance competitiva de empresas (Seção 6). É certo que fatores externos, tais como taxas de câmbio, por exemplo, podem afetar a performance com-petitiva da empresa. Porém, é a acumulação de capacidades tecnológicas que garante à empresa a inovação de seus processos, produtos, serviços, sistemas físicos e orga-nização. Como demonstrado por diversos estudos existentes, tais atividades inovado-ras impactam a obtenção de performance competitiva termos operacionais, comerciais, e econômicos. Mais especificamente:

7.1 Mais do que taxas de câmbio, é a ca-pacidade tecnológica de produção e, particularmente, para inovação que garante a performance competitiva de empresas e indústrias. É a capacidade tecnológica que garante à empresa

O enfraquecimento e a pos-sível perda das capacidades

tecnológicas inovadoras esta-riam relacionados à ausência

e/ou ineficácia dos esforços de aprendizagem tecnológica.

É importante reiterar que a diversificação das atividades

tecnológicas das empresas (Curvas D e E), a partir de

suas capacidades tecnológi-cas inovadoras, é importan-

te tanto para as empresas quanto para o país.

As empresas podem enga-jar-se em novas linhas de pro-

dutos e linhas de negócios partir do aproveitamento da base existente de capacida-

des tecnológicas inovadoras.

Empresas podem inaugurar um segmento tecnológico

novo na fronteira internacio-nal de inovação ou novo para a economia de um país (‘nova indústria’ ou setor industrial).

Mais do que taxas de câmbio, é a capacidade tecno-lógica de produção e, particularmente, para ino-

vação que garante a performance competitiva de empresas e indústrias.

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169CAPÍTULO 10 | DESAFIOS E RECOMENDAÇÕES FINAIS

melhoramento em seus processos, produtos, sistemas físicos e organiza-ção que têm impactos perenes na me-lhoria de indicadores de performance.

7.2 A capacidade tecnológica pode também contribuir para amortecer os impactos negativos de fatores externos à empresa e abrir caminho para a conquista de novos mercados, à base de novos produtos e serviços. Portanto, esforços para acumulação de níveis progressivamente mais altos de capacidades tecnológicas, apoiados por mensurações sistemáticas de seu progresso ao longo do tempo, deve-riam ocupar lugar central na agenda estratégica de empresas. Estudos existentes baseados em evidências convincentes, também apontam que o aprimoramento consistente de performance competitiva depende da capacidade de gerir uma multiplicida-de de tipos e níveis de capacidade para funções tecnológicas diversas.

7.3 Como sugere a perspectiva subjacente ao modelo nas Figuras 6.5 e Figura 7.1, é importante distinguir dois tipos de desenvolvimento de capacidade tec-nológica: operacional ou de produção (para usar tecnologias) e inovadoras (para gerar e gerir mudanças tec-nológicas). Enquanto governos estão interessados em acelerar ambos os tipos de trajetória de desenvolvimento industrial, diferentes recursos, ações empresariais e políticas públicas são necessários para a acumulação de cada um desses tipos de capacidade tecnológica. Decisões relativas a es-sas duas trajetórias estão no coração das opções estratégicas de desenvol-vimento industrial de um país.

7.4 Especificamente, é sabido que o Brasil tem uma grande proporção das em-presas em níveis mais baixos de capa-cidade tecnológica (os da Figura 6.5). Dessa forma, se a ideia é promover um avanço significativo em termos de capacidade tecnológica e de produti-vidade da economia nacional, é bem

possível que uma estratégia eficaz seja – mais do que tentar incentivar um crescente nú-mero de empresas a chegar ao topo da escala – pro-mover um maciço deslocamento de firmas do primeiro e segundo degraus (capacidade ope-racional básica e capacidade operacional mundial) para níveis progressivamente mais altos de capacidades tecnológicas inovadora. Para tanto, políticas bem desenhadas podem ser uma escolha melhor do que for-tes incentivos a um grupo pequeno de empresas escolhi-das. A experiência internacional indica que é possível haver atividades inovadoras rele-vantes, não neces-sariamente ligada à alta tecnologia, em indústrias que não são tradicionalmen-te vistos como ino-vadores, de acordo com as taxonomias convencionais. Tais setores referem-se àqueles intensivos em recursos natu-rais, fortemente enfatizados neste estudo e em outros no âmbito do Programa de Pesquisa relacionados a este estudo.

7.5 Para economias em desenvolvimento ou emergentes, a questão-chave é não apenas calibrar o grau de incentivos a empresas, como, por exemplo, para compra de máquinas e equipamentos ou exportação (abordagem estática).

Enquanto governos estão interessados em acelerar ambos os tipos de trajetória de desenvolvimento indus-trial, diferentes recursos, ações empresariais e políti-cas públicas são necessários para a acumulação de cada um desses tipos de capaci-dade tecnológica.

A questão-chave é não apenas calibrar o grau de incentivos a empresas, como, por exemplo, para compra de máquinas e equipamentos ou exporta-ção (abordagem estática).

Pode-se estimular que um grande número de empre-sas se mova, com adequada velocidade, para a acumu-lação de níveis inovadores de capacidade tecnológica por meio de um contínuo processo de aprendizagem (abordagem dinâmica).

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170 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

Em paralelo, porém, pode-se estimular que um grande número de empresas se mova, com adequada velocidade, para a acumulação de níveis inova-dores de capacidade tecnológica por meio de um contínuo processo de aprendizagem (abordagem dinâmica).

7.6 São necessárias estratégias de aprendizagem diferenciadas para empresas que precisam mover-se para níveis mais próximos da fronteira tecnológica internacional de inova-ção. De novo, isso estará associado a estratégias de gestão de capacidades tecnológicas “distribuídas” ou de inovação aberta ou colaborativa. Essa distribuição – a fragmentação das atividades inovadoras e das corres-pondentes capacidades tecnológicas para implementá-las – tem extrapola-do os muros das empresas: tem sido

fragmentadas ou distribuídas dentro da empresa (corpo-ração e subsidiárias), entre empresas e internacional-mente. Especificamente, elas têm sido distribuídas entre parceiros, como institutos de pesquisa, competidores, fornecedores, usuários, universidades etc. São

necessários esforços de coordenação, integração, orquestração e de indu-ção para a geração de conhecimento, com adequada velocidade, a fim de gerar as inovações necessárias para as empresas.

7.1 Assim, este estudo reitera a atenção para a importância das capacidades

inovadoras acumuladas em ní-vel de empresas e suas redes colaborativas de parceiros para o alcance e sustentação de performance competitiva. Tais capacidades tecnológicas são, em última instância, a microfundação da produti-vidade ou competitividade industrial e do crescimento

econômico. Tais capacidades tecnoló-gicas podem ser construídas e acumu-ladas de forma aberta ou colaborativa (empresas juntamente com outros componentes do sistema de inova-ção, tais como institutos públicos e privados de pesquisa). No entanto, é a empresa/indústria e demais iniciativas empreendedoras que ditam o ritmo e as demandas (existentes e poten-ciais) da acumulação dessas capacida-des tecnológicas inovadoras.

7.2 Portanto, esforços para acumulação de níveis progressivos de capacidades tecnológicas, apoiados por mensura-ções sistemáticas de seu progresso ao longo do tempo, deveriam ocupar lugar central na agenda de ações de desenvolvimento industrial.

8 Adicionalmente, à luz das ideias aqui apre-sentadas, bem como à luz de estudos relevan-tes na literatura recente sobre desenvolvi-mento tecnológico industrial em economias em desenvolvimento, são sintetizadas a seguir algumas recomendações práticas rela-tivas aos desafios do fortalecimento da com-petitividade industrial do Brasil, com base na acumulação de capacidades tecnológicas:

8.1 A partir da década de 1990, diversas economias em desenvolvimento e emergentes criaram e/ou reorgani-zaram programas governamentais de suporte e financiamento a atividades tecnológicas inovadoras no âmbito de empresas industriais. Trata-se, indubi-tavelmente, de esforços meritórios de estímulo e financiamento à inovação industrial. No Brasil, por exemplo, durante as duas últimas décadas tem havido uma profusão de “políticas industriais”. Tais esforços tem sido materializados sob várias combina-ções de abordagens para políticas industriais – como por exemplo a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE); Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP); Brasil Maior, desonerações, conteúdo local e demais medidas protecionis-

São necessárias es-tratégias de aprendi-zagem diferenciadas

para empresas que precisam mover-se

para níveis mais pró-ximos da fronteira

tecnológica interna-cional de inovação.

O debate sobre competi-tividade industrial deveria

enfatizar menos “política industrial” e muito mais “po-líticas de inovação”. O termo

“política industrial” deveria deixar de ser usado.

Tais capacidades tecnoló-gicas são, em última ins-

tância, a microfundação da produtividade ou compe-

titividade industrial e do crescimento econômico.

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171CAPÍTULO 10 | DESAFIOS E RECOMENDAÇÕES FINAIS

tas, as quais parecem não mais se alinhar às práticas avançadas e atuais relativas à inovação e competitividade industrial. Não obstante, evidências de estudos existentes sugerem que tais esforços não têm sido suficientemente eficazes, pelo menos no que concerne à inovação e competitividade indus-trial. Também não tem havido esforços sistemáticos para a avaliação das reais alterações, em termos de acumulação de capacidades tecnológicas inova-doras em nível das indústrias que têm sido alvo de tais políticas. Em outras palavras, paradoxalmente, a despeito da ampla oferta de “políticas indus-triais”, tem havido uma preocupante estagnação e enfraquecimento da competitividade industrial brasileira. Por isso, o debate sobre competiti-vidade industrial deveria enfatizar menos “política industrial” e muito mais “políticas de inovação”. O termo “política industrial” deveria deixar de ser usado.

8.2 No entanto, a mera elaboração e publicação (ou oferta) de medidas de políticas públicas, assim como a disponibilização de recursos finan-ceiros (sejam créditos, subvenções e recursos financeiros governamentais em geral), estão longe de produzirem inovação e competitividade industrial. O que importa muito é a qualidade e direção dos investimentos realizados e a aferição constante de seus impactos.

8.3 Mesmo curtos períodos de proteção têm de ser acompanhados por incen-tivos de desempenho e eficiência. No entanto, a gestão dessa forma equili-brada e controlada de proteção exige níveis elevados de competência buro-crática combinados com estruturas po-líticas específicas e relacionamentos. A menos que essas condições possam ser cumpridas, o efeito da competição comercial restrito pode ser negativo no que diz respeito à eficiência opera-cional de curto prazo e investimento

de longo prazo na acumulação de capacidades tecnológicas inovadoras. Qualquer medida protecionista (por exemplo, aumento de tarifas ou con-teúdo local) deve ter datas claras e firmes de começo e de fim.

8.4 Assim, é preciso extrema cautela com os subsídios indiscrimina-dos. Conceder subsídios sem condicionamentos aumenta o risco de seleção ineficaz dos beneficiários e o desenvolvimento de comportamen-tos dependentes da assistência a empresas que, muitas vezes, não são traduzidas em inovação e em aumento de produtividade. No Brasil, em parti-cular, além da ausência de condicionamentos eficazes, há uma grande ausência de avaliação dos impactos gerados pelos benefícios concedidos. Ao mesmo tempo, há que se atentar para os malefícios dos “apoios sem fim”. Ou seja, a ausência de cláusulas de caducidade em programas de apoio às empresas desencoraja os esforços relativos à inovação, aumento de produtivida-de e de enfrentamento da competição internacional. Isso é particularmente válido para políticas como as de conteúdo local, por exemplo. Estipular com clareza as cláu-sulas de começo e de fim do

Qualquer medida protecio-nista (por exemplo, aumento de tarifas ou conteúdo local) deve ter datas claras e firmes de começo e de fim.

No Brasil, em particular, além da ausência de con-dicionamentos eficazes, há uma grande ausência de avaliação dos impac-tos gerados pelos bene-fícios concedidos.

Há que se atentar para os malefícios dos “apoios sem fim”. A ausência de cláusulas de caducidade em programas de apoio às empresas desencoraja os esforços relativos à inovação, aumento de produtividade e de enfrentamen-to da competição internacional.

É preciso extrema cautela com os subsídios indiscrimi-nados.

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172 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

suporte é parte da eficácia do desenho e implementação da política pública.61

8.5 A influência do protecionismo de mercado sobre a acumulação de ca-pacidades tecnológicas pode atingir apenas uma gama estreita de capaci-dades. Mas o único tipo de oportuni-dade de aprendizagem que pode ser diretamente atribuível à proteção do mercado é apenas a forma passiva de “aprender fazendo operação” (le-arning by doing operation/production), mesmo assim, com níveis duvidosos de qualidade e eficiência de custo.

8.6 Por isso, o argumento convencional sobre a proteção e aprendizagem

aplica-se apenas para o fortalecimento da capacidade de produção/operacional e aos tipos talvez relativamente simples de capacidade de ino-vação. A proteção industrial não é relevante para os tipos de capacidade significativa de inovação, cuja acumulação depende muito mais de inves-timentos na aprendizagem e criação de capacidades tec-

nológicas para inovação. Na verdade, a redução dos incentivos derivados da competição e a continuidade do protecionismo podem ter um efeito negativo sobre a acumulação de capa-cidades para inovação e na competiti-vidade industrial. Logo, e reiterando, dever-se-ia evitar proteções exacer-badas (substituições de importações, exigências de conteúdo local) e sem data de término e sem contrapartida de aumento (mensurável) de níveis inovadores de capacidades tecnológi-

cas e exportação.

8.7 A política comercial tem influência inerentemente limitada na acumulação de capacidades tecnológicas para inovação. Isto porque a política comercial tem sido principalmente conce-

bida para influenciar as capacidades tecnológicas para produção, e não as capacidades tecnológicas para inovação. Políticas de proteção de mercado têm a intenção de alterar a composição da produção, influenciando a entrada de empresas em novas indústrias e sua sobrevivência. Na melhor das hipó-teses, portanto, a política comercial tem influência apenas parcial e indireta sobre o desenvolvimento das capacidades tecnológicas para inovação.

8.8 O desenvolvimento tecnológico e industrial de países envolve uma complementaridade entre tecnolo-gias importadas e acumulação local de capacidades tecnológicas. Por isso, as restrições à importação de tecnologia é medida contraproducen-te ao desenvolvimento tecnológico. Sob o ponto de vista da acumulação de capacidades tecnológicas, é equivo-cado o argumento de que a impor-tação de tecnologia e a criação local de tecnologia sejam alternativas excludentes. Também não reflete a experiência histórica de economias hoje tecnologicamente avançadas.

8.9 O processo de seleção de empresas e setores (picking winners e apoio aos national champions) pode excluir empresas altamente promissoras, do ponto de vista de acumulação de capacidades tecnológicas inovadoras, do foco de atenção da política pública. Por exemplo, ao se privilegiar determi-nadas empresas (ou empresa) dentro de uma indústria selecionada, descon-sideram-se, por exemplo, empresas médias e pequenas em processo de ascensão tecnológica. Por exemplo, na Alemanha, parte importante de sua significativa competitividade indus-trial, deriva de uma ampla variedade de médias empresas tecnologica-mente inovadoras e exportadoras. Portanto, dever-se-ia evitar a seleção exacerbada de setores industriais. Portanto, e reiterando, a política de

A influência do protecionismo de mercado sobre a

acumulação de capa-cidades tecnológicas pode atingir apenas

uma gama estreita de capacidades.

A política comercial tem influência ine-rentemente limita-da na acumulação

de capacidades tecnológicas para

inovação.

A proteção industrial não é relevante para os tipos de

capacidade significativa de inovação, cuja acumulação

depende muito mais de investimentos na aprendiza-

gem e criação de capacidades tecnológicas para inovação.

O desenvolvimento tecno-lógico e industrial de países

envolve uma complemen-taridade entre tecnologias im-

portadas e acumulação local de capacidades tecnológicas.

61. OCDE (2014).

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173CAPÍTULO 10 | DESAFIOS E RECOMENDAÇÕES FINAIS

seleção de setores e empresas especí-ficos exclui da agenda várias empresas e indústrias que estão em processo de acumulação de capacidades tecnológi-cas (degraus intermediários da Figura 7.1) e movendo-se acima na escala de atividades inovadoras (Figura 6.5) e em ascensão tecnológica.

8.10 Muito se recomenda em termos de engajamento de empresas brasileiras em cadeias globais de valor. Porém, o debate e as ações precisam ser aprofundados. Certamente que a par-ticipação nessas cadeias é relevante e necessária. No entanto, é necessário considerar o tipo de governança das cadeias globais de valor. Também é preciso considerar até que ponto e como a participação nessas cadeias contribuiria para o aumento do nível de capacidades tecnológicas inovado-ras em nível de empresas e indústrias.

9 No que concerne a pontos específicos relacionados a perspectivas sobre inovação e suas implicações para uma política de inovação para o fortalecimento da competiti-vidade industrial, convém mencionar:

9.1 É importante avançar no campo de uma reforma estrutural relativa ao balanceamento das atividades de P&D entre o setor público e o setor privado (indústria). Até a década de 1990, o Brasil apresentava a propor-ção de 80% (setor público) a 20% (setor privado). Por meio de uma len-ta transição ao longo dos últimos 20 anos, tem-se obtido uma proporção de aproximadamente 70% (setor pú-blico) a 30% (setor privado). Porém, é importante mencionar que a Coreia do Sul inverteu essa proporção ao longo de aproximadamente 20 anos: de uma distribuição de 80/20% (década de 1970) para 20/80% no início da década de 1990. Isso foi possível a partir de reformas estru-turais em seu sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação.

9.2 Por isso, recomen-da-se que algumas atividades de P&D público sejam reorganizadas a fim de aproximarem--se cada vez mais das demandas e necessidades da indústria. Por exemplo, sabe-se que o governo japonês imple-mentou medidas para estimular a pré-entrada de empresas em atividades de pesquisa e apren-dizagem tecnológica. Imple-mentaram também medidas ba-seadas em co-financiamento de atividades de inovação voltadas para descobertas de inovações novas para a economia.

9.3 O ponto acima deveria chamar a atenção de gestores gover-namentais, especialmente daqueles de economias em desenvolvi-mento e emergentes, que se mostram fascinados por “inovações radicais” ou “breakthrough” apenas. Com isso, canalizam grande parte dos investi-mentos públicos para laboratórios de pesquisa, em sua maioria em universidades e institutos de pesquisa, e negligenciam as atividades inova-doras, baseadas em diversos tipos de engenharia, em nível de empresas. Os formuladores e executores de políticas públicas deveriam reduzir sua atração com a criação de parques científicos ou ini-ciativas similares (como financia-mentos a projetos somente em nível

É equivocado o argumen-to de que a importação de tecnologia e a criação local de tecnologia sejam alternativas excludentes.

Recomenda-se que algumas atividades de P&D público sejam reorganizadas a fim de aproximarem-se cada vez mais das demandas e necessi-dades da indústria.

Os formuladores e exe-cutores de políticas pú-blicas deveriam reduzir sua atração com a criação de parques científicos ou iniciativas similares (como financiamentos a projetos somente em nível de labo-ratórios de universidades).

O processo de se-leção de empresas e setores (picking winners e apoio aos national cham-pions) pode excluir empresas altamen-te promissoras.

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174 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

de laboratórios de universidades). O investimento em ciência per se não conduz, automaticamente, à inova-ção industrial.

9.4 Especificamente, tem havido uma ênfa-se exacerbada na produção de ciência com objetivos de se obter (linearmen-te) inovações radicais e de ruptura industrial. Consequentemente, tem havido uma negligência da importância de atividades inovadoras incremen-tais, arquiteturais e modulares (várias delas implementadas à base de enge-nharia e menos P&D sofisticado). Tais atividades inovadoras, de natureza imitativa e incremental não apenas tem gerado impactos competitivos re-levantes para empresas e países; elas também são pré-condições para se alcançar a capacidades para inovações mais ambiciosas.

9.5 De forma similar, faz-se necessária a racionalização e focalização de parques tecnológicos (potenciais e existentes) e incubadoras de acordo com as reais demandas existentes e potenciais da indústria. Uma visão

“ofertista” de construção de parques tecnológicos não contribui para o desenvolvi-mento industrial. A proxi-midade geográfica entre empresas e universidades e institutos de pesquisa não conduz, automaticamente, à inovação e ao desenvolvi-mento industrial. As ligações entre esses atores (indústria e universidades/institutos de pesquisa) são determina-

das pela demanda e pela natureza do conhecimento tecnológico dos parceiros, independentemente de sua localização geográfica.

9.6 É importante compreender o processo de inovação em nível de subsidiárias de empresas multinacionais que operam no Brasil e envolvê-las em iniciativas de fortalecimento da com-

petitividade industrial. As subsidiárias de multinacionais em economias emergentes têm cada vez mais se valido do processo de fragmentação internacional da inovação. Muitas delas têm se tornado autônomas para a implementação de inovações para seu grupo corporativo a partir de economias emergentes (exemplo em-blemático da Honda Manaus). Várias delas funcionam como centros globais de inovação. Há muitos estudos demonstrando isso. Estão no Brasil, há décadas, mais de 400 subsidiárias das 500 maiores multinacionais do mundo, várias delas com centros de desenvolvimento de produtos, pro-cessos e equipamentos. Ou seja, não se pode ignorar a alta relevância das empresas multinacionais para o de-senvolvimento e competitividade da indústria brasileira. Por isso, torna-se fundamental envolvê-las no debate e na agenda de políticas públicas.

10 Grande parte da literatura recomenda que economias em desenvolvimento trilhe o seu processo de industrialização à base de indústrias de manufatura tais como, semi-condutores, automobilísticos, eletrônica de consumo e outras, à la Sudeste Asiático. Porém, de um lado, para algumas dessas in-dústrias (como eletrônica, semicondutores) as janelas de oportunidade para o Brasil atuar como um produtor e inovador global já se fecharam. Por outro lado, países tem que aprender a gerir o dilema entre “o que querem ser” e “o que são”.62 Em outras palavras, não se pode ignorar o peso e a relevância das indústrias intensivas em recursos naturais no PIB do Brasil e em sua pauta de exportações. Vale reiterar que em países como Austrália, Canada, Estados Unidos, Noruega, Finlândia grande parte do crescimento e desenvolvimento econômico derivou da combinação inteli-gente do aproveitamento da abundância de recursos naturais com a acumulação de capacidades tecnológicas para inovação em indústrias intensivas em recursos natu-rais. Assim, recomenda-se alguns pontos

Faz-se necessária a racionalização e

focalização de par-ques tecnológicos (potenciais e exis-

tentes) e incubado-ras de acordo com as reais demandas

existentes e poten-ciais da indústria.

As ligações entre esses atores (indústria e universidades/institutos de pesquisa) são

determinadas pela demanda e pela natureza do conheci-mento tecnológico dos par-ceiros, independentemente

de sua localização geográfica.

62. Hausmann et al (2006); Almeida & Schneider (2012).

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175CAPÍTULO 10 | DESAFIOS E RECOMENDAÇÕES FINAIS

relacionados a uma agenda política para se obter proveito das novas condições de demanda e oportunidades de inovação nas indústrias intensivas em recursos naturais:

10.1 Valendo-se da noção de necessidade da ampliação do escopo das políticas de desenvolvimento industrial63 , os tomadores de decisão em nível de políticas públicas deveriam evitar medidas simplistas que enfatizam apenas às assim chamadas indústrias de “alta tecnologia”, em detrimen-to das indústrias intensivas em recursos naturais, genericamente consideradas de “baixa tecnologia”. É importante não negligenciar as indústrias intensivas em recursos naturais e inclui-las na agenda política. Deixar a natureza, quase que literalmente, seguir seu curso, conduzirá certamente à perda de ja-nelas de oportunidades oferecidas para um engajamento em trajetórias tecnológicas que podem gerar efei-tos significativos ao crescimento e desenvolvimento econômico do país.

10.2 Um segundo caminho exige o avanço de uma nova agenda de iniciativas políticas para aproveitar demandas potenciais e as condições tecnológicas e aumentar o dinamismo tecnológico de setores de recursos naturais. Rumo a essa agenda, quatro conjuntos de ações podem ser considerados:

• Iniciativas para apoiar o fortalecimen-to dos esforços inovadores em indús-trias intensivas em recursos naturais;

• Iniciativas para promover a diver-sificação a montante, a jusante e lateralmente/horizontalmente a partir de uma base de recursos naturais;

• Iniciativas para apoiar o desenvolvi-mento do capital humano, criando uma massa crítica de gestores competen-tes, engenheiros, técnicos e funcioná-rios públicos;

• Iniciativas para ajudar as empre-sas nacionais a terem conformidade com os regulamentos de Direitos de Propriedade Intelectual (DPIs) e reforçar a proteção dos DPIs de esforços locais.

10.3 Ademais, em termos de iniciativas para apoiar a acumulação de capacidades de inovação em recursos naturais e setores relacionados, recomenda-se:

• Desenho de um conjunto variado de incentivos para estimular os esforços inovadores e a acumulação de capacidades para inovação. Para levar à inovação, ou seja, à introdu-ção operacional de produtos novos ou melhorados e processos, marke-ting e métodos organizacionais em uma economia, os incentivos devem cobrir a ampla gama de atividades inovadoras que compõem todo o processo de inova-ção, muito mais do que P&D. Por-tanto, as iniciativas políticas devem evitar privilegiar alguns elementos do processo de inovação, como a pesqui-sa, em detrimento de outros, como o desenvolvimento, a produção experi-mental, ampliação, design, ferramen-taria e engenharia industrial, sem os quais os resulta-dos da inovação não poderiam ser alcançados;

• Mecanismos de apoio à inovação e à acumulação de capacidades

Deixar a natureza, quase que literalmente, seguir seu curso, conduzirá certamen-te à perda de janelas de oportunidades oferecidas para um engajamento em trajetórias tecnológicas que podem gerar efeitos significativos ao cresci-mento e desenvolvimento econômico do país.

Mas os incentivos para promover a acumulação de capacidades para inovação nas empresas devem rece-ber a maior importância, uma vez que elas são res-ponsáveis pela transforma-ção do conhecimento em novos produtos e serviços.

63. Fleury & Fleury (2005).

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176 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

inovadoras precisam conside-rar todos os tipos de organi-zação do sistema de inovação relevante, ou seja, empresas, universidades, institutos de pesquisa, institutos de tecno-logia etc., cujos esforços de inovação são necessários para que a inovação ocorra. Mas os incentivos para promover a

acumulação de capacidades para ino-vação nas empresas devem receber a maior importância, uma vez que elas são responsáveis pela transformação do conhecimento em novos produtos e serviços. Sem a participação efetiva das empresas nos esforços inovadores, dificilmente será possível inovar no sentido da introdução de novas aplica-ções comerciais que contribuam para a geração de riqueza;

• As iniciativas voltadas para a acu-mulação de capacidades de inovação nas empresas podem seguir um ca-minho em duas vertentes. O primeiro caminho relaciona-se à promoção

do aumento dos esforços inovadores de empresas e tecnologias existentes. As ações devem ser centradas, por um lado, na prestação de apoio às empresas na reso-lução de problemas relativos às suas atuais atividades tecnológicas. Por outro lado, as ações também devem criar incentivos para as empresas para migrarem para tipos diferentes de tecnologias. O segundo caminho envolve mecanismos para estimular

a criação de novas empresas inova-doras. Isso irá exigir programas de apoio spin-offs e startups derivados de tecnologias e produtos emergentes, e entrada de novas empresas de apren-dizagem em mercados estabelecidos.

10.4 No que diz respeito a iniciativas para apoiar a diversificação montante, a

jusante e lateralmente/horizontal-mente em indústrias intensivas em recursos, recomenda-se:

• Ações para identificar novas ativida-des tecnológicas inovadoras, além das trajetórias tecnológicas existentes, em empresas de indústrias intensivas em recursos naturais. Isto pode ser apoiado por atividades de “autodescoberta” acompanhadas por aferição de oportu-nidades para inovação e dos níveis de capacidades tecnológicas. Tal esforço deve envolver diferentes intervenien-tes, incluindo empresas existentes, uma vez que elas possuem as informações sobre os obstáculos e potencialidades associadas à exploração das oportuni-dades tecnológicas emergentes;

Esse exercício deve fornecer a base para a elaboração de mecanismos de políticas de apoio ao desenvolvimento de atividades produtivas que estão ligadas a recursos naturais de três ma-neiras diferentes, através de: ligações intensivas em conhecimento ‘para frente’ (indústrias de transformação e beneficiamento, embalagem, comer-cialização e distribuição); ligações intensivas em conhecimento para trás (produção de insumos, bens de capital e serviços de business); e ligações horizontais/laterais (fornecimento de insumos originalmente para os setores de recursos naturais, posteriormente transbordando para aplicações em outros setores). Portanto, as iniciati-vas de políticas públicas devem se con-centrar em todo o sistema de inovação relacionado a indústrias intensivas em recursos. Centralmente importantes são os esforços para aumentar a siner-gia e a coordenação entre as iniciativas políticas que promovem as tecnolo-gias ubíquas, como a biotecnologia, a nanotecnologia, bioeletrônica, novos materiais e as TICs.

• Como demonstrado pela literatura, a acumulação de capacidades para

É importante reiterar que a simples oferta de recursos

financeiros, assim como a oferta de elementos óbvios

de infraestrutura tecnológica (capital físico e capital finan-

ceiro), não são suficientes.

O crescimento industrial – e parte considerável do desen-

volvimento econômico – é explicado pela capacidade

da indústria de implementar atividades tecnológicas inova-doras e aumentar o conteúdo tecnológico inovador de seus

produtos e serviços comercia-lizados no mercado mundial.

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177CAPÍTULO 10 | DESAFIOS E RECOMENDAÇÕES FINAIS

inovação, até o nível de liderança internacional, pode envolver décadas. Portanto, os esforços para apoiar a diversificação para atividades inova-dora de alto valor agregado exigem a preparação de gestores públicos e empresarias para atuarem sob um ho-rizonte de longo prazo. Essa aborda-gem deve prever mudanças graduais de produção de recursos naturais para a fabricação intensiva em conheci-mento e prestação de serviços de uso intensivo de recursos.

• São relevantes as iniciativas para ajudar as empresas nacionais a desen-volverem capacidades de gestão de propriedade intelectual em indústrias intensivas em recursos naturais.

11 Finalmente, é importante reiterar que a simples oferta de recursos financeiros, assim como a oferta de elementos óbvios de infraestrutura tecnológica (capital físico e capital financeiro), não são suficientes. Também não são suficientes as ofertas de convencionais ‘medidas de políticas indus-triais’. Torna-se necessário um esforço con-tínuo e sistemático de avaliação, a partir da perspectiva de demanda, principalmente por parte de setores industriais. Ou seja, o cres-cimento industrial – e parte considerável do desenvolvimento econômico – é explicado pela capacidade da indústria de implemen-tar atividades tecnológicas inovadoras e aumentar o conteúdo tecnológico inova-dor de seus produtos e serviços comercia-lizados no mercado mundial.

12 Por isso, este estudo e a literatura relacionada apontam para as potencialidades das meto-dologias e taxonomias existentes, que podem possibilitar uma avaliação mais compreensiva dos impactos dos esforços de estímulos à inovação em nível da indústria e da economia. Afinal, um dos princípios básicos de gestão das empresas é que ‘somente é possível gerir bem aquilo que se pode medir bem’; assim o uso de métricas para aferir a qualidade e a velocidade do progresso de acumulação de capacidades tecnológicas, especialmente

as inovadoras, torna-se de grande importância para as atividades de gestão empresarial e de política pú-blica, no que diz respeito à inovação e competitividade industrial.

13 Especificamente: Os esforços de avaliações independentes tornam--se cruciais para correções e ajustes em ações empresariais e, especial-mente, de políticas públicas relativas ao desenvolvimento de capacidades tecnológicas, inovação e competi-tividade internacional da indústria brasileira. Por isso, os esforços de ava-liação deveriam concentrar-se tanto no lado da oferta de infraestrutura tecnológica (parques tecnológicos, universidades etc.) e, principalmente, no lado da demanda (indústria). Por exemplo, no lado da demanda, os esforços de avaliação baseados em métricas específicas seriam importantes pelos motivos expostos a seguir:

13.1 Permitem clarificar as definições subjacentes ao desenho de estudos empíricos e de estratégias de inovação industrial. A partir de uma noção mais clara do real escopo do tema e das variáveis envol-vidas, é possível calibrar, desenhar ou redesenhar es-tratégias com foco mais coerente com as necessidades do contexto industrial e tecnológico do Brasil e das suas diferentes regiões.

13.2 Permitem auxiliar a condução de novos estudos de inova-ção industrial, baseados fortemente em trabalho de campo – em vez de basear-se somente em análise de estatísticas oficiais –, a fim de coletar evidências, tanto qualitativas quanto quantitativas de primeira mão, no intuito de captar, com adequado nível de detalhe e profundidade, a realidade

Os esforços de ava-liações indepen-dentes tornam-se cruciais para corre-ções e ajustes em ações empresariais e, especialmente, de políticas públi-cas relativas ao desenvolvimento de capacidades tec-nológicas, inovação e competitividade internacional da indústria brasileira.

Os esforços de avaliação deveriam concentrar-se tanto no lado da oferta de infraestrutura tecnológi-ca (parques tecnológicos, universidades etc.) e, principalmente, no lado da demanda (indústria).

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178 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

das atividades tecnológicas na indús-tria. Mais especificamente, a aplicação prática das métricas aqui apresenta-das permite:

• Avaliar, identificar e pontuar o nível tecnológico dos setores industriais da economia brasileira;

• Identificar a maneira e a velocidade com que certos setores têm acumula-

do suas capacidades tecno-lógicas ao longo do tempo; ou seja, distinguir os setores mais velozes dos mais lentos em termos de acumulação de capacidades tecnológicas para inovação. Por exemplo, setores mais lentos em ter-mos de acumulação tecno-lógica talvez necessitem de incentivos diferentes e/ou de maior exposição às pressões competitivas internacionais, assim como identificação de barreiras e inibidores às suas atividades inovadoras.

• Identificar trajetórias tecnológicas dentro de cada indústria e as opor-tunidades de desenvolvimento e/ou aprofundamento de capacidades tecnológicas correspondentes para a exploração de tais oportunidades;

• Recomendar políticas específicas para disseminar atividades que condu-zam ao desenvolvimento de capaci-dades tecnológicas para inovação em indústrias mais relevantes para cada uma das regiões do Brasil.

14 Por fim, no intuito de contribuir para faci-litar a materialização de certos objetivos, tanto governamentais quanto empresariais, como, por exemplo, o alcance de alto nível de desempenho inovador e exportador numa perspectiva de 2025 para a indústria no Brasil, sugere-se a criação de metas de desenvolvimento de capacidade tecno-lógica para inovação. Isto significa criar prazos para o alcance de diferentes tipos e níveis de capacidade tecnológica inovado-ra para as indústrias no longo prazo, com avaliação a cada dois anos. Essa medida possibilitaria que ajustes periódicos em ter-mos, por exemplo, de fortalecimento e/ou reorganização da infraestrutura tecnológi-ca e de processos de aprendizagem possam ser implementados, a fim de contribuir para a materialização dos níveis de capaci-dades tecnológica inovadora desejados. O processo de elaboração e implementação das metas de desenvolvimento de capa-cidade tecnológica inovadora poderia envolver lideranças empresariais, governa-mentais, da academia, e de outras organi-zações da sociedade comprometidas com o fortalecimento do desempenho inovador e da competitividade da indústria brasileira.

Sugere-se a cria-ção de metas de

desenvolvimento de capacidade

tecnológica para inovação.

O processo de elaboração e implementação das metas de

desenvolvimento de capaci-dade tecnológica inovadora poderia envolver lideranças empresariais, governamen-

tais, da academia, e de outras organizações da sociedade

comprometidas com o forta-lecimento do desempenho

inovador e da competitivida-de da indústria brasileira.

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179CAPÍTULO 10 | DESAFIOS E RECOMENDAÇÕES FINAIS

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180 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

11

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181RESUMO EXECUTIVO

Referências Bibliográficas

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187CAPÍTULO 11 | REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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190 PRODUTO 3.1 E 3.2 | INSUMOS PARA AÇÕES ESTRATÉGICAS ORIENTADAS AO FORTALECIMENTO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DO BRASIL

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