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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/UNIFRA 15ª edição - Novembro de 2012 O mundo discute a Sustentabilidade YURI WEBER Promover a conser- vação da biodiversida- de é uma das propostas previstas em uma das dimensões do desen- volvimento sustentá- vel, a dimensão ecoló- gica. Em Santa Maria, exemplos como o do Criadouro Conserva- cionista São Braz per- mitem o exercício per- manente da educação ambiental e do com- promisso em relação às gerações futuras. Páginas centrais BRUNO MELLO O desenvolvimento sustentável precisa ser ambientalmente res- ponsável, socialmente justo e economicamen- te viável. Praticar es- portes junto à natureza e de forma não agressi- va ao ambiente é uma das formas de exercitar estes preceitos. Páginas 10 e 11 Sustentabilidade prevê inovar na busca de soluções e na distri- buição dos resultados. A produção de alimen- tos orgânicos atende a estes requisitos, ao colocar nas prateleiras dos mercados produ- tos livres de agrotóxi- cos para o consumidor. Páginas 4 e 5 A dimensão es- pacial ou territorial da sustentabilidade prevê melhorias no ambiente urbano. Na- época de eleições, no entanto, este item pa- rece ser esquecido. A quantidade de lixo nas ruas é a prova dessa falta de atenção. Página 13 Aumenta a procura pelos ecoesportes na cidade Produtos orgânicos ganham preferência do público O problema do lixo nas ruas em período eleitoral RODRIGO DE BEM DEIVID DUTRA

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Jornal experimental com foco em ecologia, natureza e ecosustentablidade.

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/UNIFRA 15ª edição - Novembro de 2012

O mundo discute a Sustentabilidade

YURI WEBER

Promover a conser-vação da biodiversida-de é uma das propostas previstas em uma das dimensões do desen-volvimento sustentá-vel, a dimensão ecoló-gica. Em Santa Maria, exemplos como o do Criadouro Conserva-cionista São Braz per-mitem o exercício per-manente da educação ambiental e do com-promisso em relação às gerações futuras.

Páginas centrais

BRUNO MELLO

O desenvolvimento sustentável precisa ser ambientalmente res-ponsável, socialmente justo e economicamen-te viável. Praticar es-portes junto à natureza e de forma não agressi-va ao ambiente é uma das formas de exercitar estes preceitos.

Páginas 10 e 11

Sustentabilidade prevê inovar na busca de soluções e na distri-buição dos resultados. A produção de alimen-tos orgânicos atende a estes requisitos, ao colocar nas prateleiras dos mercados produ-tos livres de agrotóxi-cos para o consumidor.

Páginas 4 e 5

A dimensão es-pacial ou territorial da sustentabilidade prevê melhorias no ambiente urbano. Na-época de eleições, no entanto, este item pa-rece ser esquecido. A quantidade de lixo nas ruas é a prova dessa falta de atenção.

Página 13

Aumenta a procura pelos ecoesportes na cidade

Produtos orgânicos ganham preferência do público

O problema do lixo nas ruas em período eleitoral

RODRIGO DE BEM DEIVID DUTRA

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O que a população santa-mariense entende como sustentabilidade?

EditorialLíderes de todo mundo reuniram-se no Brasil, em junho deste ano,

na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentá-vel, a Rio+20. A sustentabilidade está na pauta das grandes discus-sões mundiais e se insere em várias dimensões. Uma delas é o meio ambiente, foco do JornalEco. Ser sustentável, hoje, diz respeito às mais variadas áreas da vida humana. E nossa equipe deste semestre resolveu observar, apurar e trazer para os leitores, algumas opiniões e alguns “cases” que remetem à reflexão sobre a sustentabilidade. Para iniciar este debate, destacamos aqui uma síntese do discurso do presi-dente do Uruguai, Jose (Pepe) Mujica, durante a Rio+20, e que reflete a preocupação constante desta publicação:

“Deixem-me fazer algumas perguntas. Falamos sobre desenvolvi-mento sustentável, de como eliminar o imenso problema da pobreza. O que se passa em nossas cabeças? O modelo de desenvolvimento e consumo em que atualmente vivem as sociedades ricas? Faço esta pergunta: o que se passaria com este planeta se os indus tivessem a mesma proporção de carros por família que têm os alemães? Quanto oxigênio teríamos para poder respirar? O mundo tem hoje os elemen-tos materiais para ser possível que 7 ou 8 bilhões de pessoas tenham o mesmo grau de consumo e de desperdício que têm as mais opulen-tas sociedades ocidentais? Será possível? Ou teremos que ter um dia outro tipo de discussão? Porque criamos esta civilização em que esta-mos: filha do mercado, filha da concorrência, que tem se deparado com um progresso material explosivo. Mas a economia de mercado tem criado a sociedade de mercado. E nos deparamos com a globalização. Estamos governando a globalização ou a globalização nos governa? É possível falar de solidariedade em uma economia que está baseada na concorrência impiedosa? Até onde chega nossa fraternidade? Nada disso lhes digo para negar a importância deste evento. Não, é pelo contrário. O desafio que teremos por diante é de uma magnitude de caráter colossal. E a grande crise não é ecológica, é política. Porque viemos a este planeta intentando ser felizes. Porque a vida é curta e se vai. Porque nenhum bem vale como a vida e isso é elementar. Porém, a vida vai se escapando e nós trabalhando, trabalhando, para consumir sempre mais. E a sociedade de consumo é o motor, porque se paralisa o consumo, se detém a economia, e se detém a economia, o fantasma da estagnação aparece para cada um de nós. Porém, é este hipercon-sumo que está agredindo o planeta. E tem que se acelerar este hiper-consumo com coisas que durem pouco, porque tem que vender muito. Porque temos que trabalhar e temos que sustentar uma civilização que “usa e joga fora” e estamos num círculo vicioso. Estes são pro-blemas de caráter político que nos estão dizendo da necessidade de pensar e lutar por outra cultura. O que não podemos é indefinidamen-te continuar governados pelo mercado e, sim, teremos que governar o mercado. Devemos perceber que a crise de água e a agressão ao meio ambiente não são as causas. A causa é o modelo de civilização que nós construímos. E nós é que teremos que revisar nossa forma de viver, porque estas coisas são elementares: o desenvolvimento não pode ir contra a felicidade. Tem que ser a favor da felicidade humana, do amor à Terra, das relações humanas, do cuidado aos filhos, de ter amigos, de ter somente o necessário. Precisamente, porque este é o tesouro mais importante que temos. Quando lutamos pelo meio ambiente, o primeiro elemento do meio ambiente se chama felicidade humana.”

Expediente JornalEco - 15ª ediçãoJornal experimental produzido na disciplina de Jornalismo Especializado I do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano

Reitora: profª Irani RupoloCoordenação do Curso de Jornalismo: prof. Maicon KrothProfª orientadora/editora: Aurea Evelise Fonseca - Mtb 5048Diagramação: Prof. Iuri Lammel, Francesco Ferrari, Gustavo Souza e Renato Peixe (Multijor - Laboratório de Jornalismo Multimídia) Revisão/finalização: Prof. Iuri Lammel - Mtb 12734

Reportagens e textos: Alexandre De Grandi, Camila Ehle Joras, Camila Porciuncula, Crístian Cunha, Daiane Tonato Spiazzi, Déverson Martelli Figueiredo, Fabiano Oliveira, João David de Quadros Martins, João Pedro Lamas Ferreira, Lucas Erani da Silva Gonzales, Luiza Dias de Oliveira, Mateus Konzen, Natalia Hernandez Apoitia, Nathalia Ruviaro Lautenschlager, Nayara Lunkes, Renan Brandão Maurmann, Rodrigo Marques de Bem e Yuri Baptistella Nascimento.

Fotos: Yuri Weber, Guilherme Benaduce, Daniela Reske (Laboratório de Fotografia e Memória), Rodrigo de Bem, Daiane Spiazzi, Luiza Dias de Oliveira, Nayara Lunkes, Nathalia Ruviaro, (acadêmicos de Jorn. Especializado I) e Deivid Dutra.

Impressão: Gráfica Gazeta do SulTiragem: 1000 exemplares – Distribuição gratuitaNovembro 2012

Fale conosco: Redação JORNALECO Sala 716 , 7º andar do prédio 14 do Conj. III da UnifraRua Silva Jardim, nº 1175 – Santa Maria – RSFone: (55) 3025-9040

Você também pode acessar o JORNALECO na internet: www.centralsul.org

2 Novembro de 2012ENQUETE

Eu acho que sustentabilidade é o norte para a humanida-de, ou seja, a gente tem que pensar em tudo, em tecnologias que foram criadas, pensar no meio ambiente, pensar em re-ciclar os materiais e no aproveitamento das águas da chuva, criar projetos pensando no futuro, ou seja, manter o planeta como está hoje, já é um grande feito.

Alexandre Grellerman - engenheiro civil

O que é sustentável é separar o lixo seco do orgânico e largar na lixeira tudo separado, o que é papel é papel,

o que é comida é comida, isso é sustentabilidade e eu faço tudo isso.

Celso Vila Verde Barreto – aposentado

Sim, eu tive no colégio aulas sobre sustentabilidade e eu acho que este assunto está em alta,

todo mundo tem falado bastante e em casa a gente faz a nossa parte ao separar o lixo, mas fica difícil

separar, por que vai tudo para o mesmo lugar.

Bruna Piás Peixe - estudante

A sustentabilidade é uma preparação para o futuro, é a pre-ocupação com o meio ambiente, e na minha casa eu separo o lixo, reaproveito os alimentos.

João Coelho – aposentado

Eu entendo por sustentabilidade preservar a natureza, cuidar do meio ambiente, reciclagem se for isso que der para entender, é o que eu acho.

Tatiane da Rosa - dona de casa

Eu acho que a sustentabilidade começa pela coleta seletiva que está sendo implantada em todo o

Rio Grande do Sul, tem que haver mais divulgação porque muitas pessoas não sabem separar um lixo do

outro, então tem que haver mais divulgação nos meios de comunicação para orientar mais as pessoas.

Mari Rodrigues - dona de casa

Sustentabilidade é um comércio, uma indústria, é a con-servação do meio ambiente, preservação dos rios e em casa eu faço a minha parte. Tenho a minha horta, eu capino, eu separado gordura, cascas de frutas, coloco o lixo reciclável em um lugar, o lixo orgânico no outro.

Adenir Malabalta Batagllin – fotógrafo

Sustentabilidade é toda aquela ação com que a pessoa, empresa ou país consiga viver com os próprios recursos que tem e as maneiras que se

utiliza o meio ambiente e não o agrida.

Elmir Canabarro - gerente do shopping Independência

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3Novembro de 2012SUSTENTABILIDADE

Sustentabilidade para o futuroEducar e discutir é o primeiro passo para conscientizar sobre cuidados com meio ambiente

Sustentabilidade é um ter-mo usado para definir ações e atividades que

visam abastecer as necessida-des atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações. Ou seja, ela está diretamente re-lacionada ao desenvolvimento econômico sem agredir o meio ambiente, usando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro. Sem isso, a tendên-cia é o esgotamento de re-cursos fundamentais como a água e o comprometimento do equilíbrio do meio ambiente e das futuras gerações.

Seguindo estes parâmetros, a humanidade pode garantir o desenvolvimento sustentá-vel. Governantes e líderes se reúnem para discutir ideias e soluções para que o meio am-biente não sofra com o desen-volvimento e o consumismo global. É o caso da RIO+20, que ocorreu neste ano com o objeti-vo de renovar e reafirmar a par-ticipação dos líderes mundiais com relação ao desenvolvimen-to sustentável no planeta. Foi uma segunda etapa da Cúpula da Terra (ECO-92) que ocorreu há 20 anos no Rio de Janeiro.

Para entender a Rio 92 e RIO+20

Na década de 90 ocorreu um dos grandes eventos em que se destacou a preocupação com o meio ambiente, princi-palmente devido às mudanças climáticas. Já na Conferência das Nações Unidas sobre De-senvolvimento Sustentável, a Rio+20, constataram-se avan-ços significativos, mas ainda existem muitos retrocessos dos países que continuam a poluir, como a China. O país é um dos mais poluentes do mundo, justamente por ter uma matriz energética basea-da no carvão mineral.

Porém, os resultados da Rio+20 não foram os espera-dos. Os impasses, principal-mente entre interesses dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, acabaram frustrando expectativas para o desenvolvimento sustentável do planeta. O documento final apresenta várias intenções e joga para os próximos anos a definição de medidas práticas para garantir a proteção do meio ambiente. Muitos analis-tas disseram que a crise econô-mica mundial, principalmente

nos Estados Unidos e Europa, prejudicou negociações e deci-sões a serem tomadas.

Entretanto, um dos assuntos discutidos na RIO+20 foi a eco-nomia verde, que é um conjun-to de processos produtivos (in-dustriais, comerciais, agrícolas e de serviços) que ao ser apli-cado em um determinado local (país, cidade, empresa, comuni-dade, etc.), possa gerar nele um desenvolvimento sustentável nos aspectos ambiental e social. Ela foi salientada por governan-tes e líderes presentes na Cúpu-la, em debate sobre desenvolvi-mento econômico compatível com igualdade social, erradica-ção da pobreza e redução dos impactos am-bientais nega-tivos.

De acordo com especia-listas que atu-am nas áreas de economia e meio ambiente, a aplicação da economia verde aumentaria a geração de em-pregos e o progresso econômi-co. Ao mesmo tempo, combate-ria as causas do aquecimento global (emissões de CO2), do consumo irracional de água po-tável e dos fatores que geram a deterioração dos ecossistemas.

Meio ambiente em alertaA falta de preocupação com

o ambiente e a busca por lu-cros atinge todas as áreas de

produção. Uma delas é a agri-cultura. O professor e chefe do departamento de Solos da UFSM, Ricardo Dalmolin, defende o cuidado com o uso dos agrotóxicos nas lavouras, de maneira que se desenvolva uma agricultura que não agri-da o meio ambiente. A agricul-tura tem diferentes classifica-ções, partindo da que é feita pelo pequeno agricultor, até a comercial, na qual se utilizam grandes máquinas e exten-sões de terra. A produção dos alimentos que a população consome precisa de grandes áreas, onde se tem a utilização de fertilizante nas lavouras.

Porém o pro-fessor ques-tiona o mau uso dos inse-ticidas pelos agricultores . “O problema é o quanto é co-locado, a for-ma e a maneira como eles são

utilizados”, salienta Dalmolin. O reaproveitamento de água

também é considerado um dos temas mais importantes e um dos mais discutidos, até mes-mo nos países que possuem esse recurso em abundância. Várias medidas de redução do uso de água estão sendo cria-das, além de outras que reco-lhem águas de esgotos e águas poluídas para tratamento.

Outro fator que contribui para a poluição do meio am-

biente é o lixo produzido pelo ser humano, especialmente nas grandes cidades. Os resí-duos contaminam o solo e a água por meio do seu processo de decomposição e pela de-posição de produtos químicos originados de pilhas, baterias e outros componentes, que podem levar anos para se de-compor. A coleta seletiva e a destinação adequada do lixo podem facilitar a reciclagem.

A adoção de fontes de ener-gias sustentáveis é uma alter-nativa para as energias gastas em grande escala, que são ba-seadas na queima de combustí-veis fósseis e gases que poluem o ar. Para o professor Dalmo-lin, se continuar do jeito que a população está consumindo e agredindo o ambiente, vai che-gar um momento em que os re-cursos naturais não serão mais capazes de suprir as nossas necessidades. “Se não houver um choque muito grande na

humanidade dizendo que pre-cisamos mudar o estilo de vida vai ocorrer um colapso no meio ambiente”, salienta.

Ações sustentáveis em Santa Maria

O Centro Universitário Fran-ciscano (Unifra) promove a Jornada Integrada do Meio Ambiente (Jima), que este ano teve como tema principal a sus-tentabilidade, na intenção de encadear pensamentos e dis-cussões dos temas abordados na RIO+20. A Jima, além de se preocupar com as decisões que seriam tomadas na RIO+20, discutiu a importância de ações integradas de diversas institui-ções sociais voltadas para a produção do conhecimento e de soluções para os problemas ligados ao meio ambiente. Com isso, a jornada formulou a “Car-ta Santa Maria”, que foi entre-gue à Câmara de Vereadores e à Prefeitura.

A carta tem a intenção de expressar o pensamento e a voz da comunidade francisca-na em torno da preocupação com a cidade, para a busca da qualidade de vida urbana. O documento contou com a con-tribuição de docentes e acadê-micos da Unifra.

Para a professora de Geo-grafia, Ail Meireles, a preser-vação do meio ambiente gera a possibilidade de uma qualida-de de vida social na tentativa de construir processos educa-tivos que envolvam as pessoas e possibilitem a elas a adoção de pequenas atitudes como contribuição pró-ativa.

De acordo com a professora, “a sustentabilidade é uma pre-ocupação de todos e exige uma partilha, então muitos devem contribuir para que se instaure um espaço, que nós possamos dizer que seja sustentável”, afir-ma. Sendo assim, a sociedade pode colaborar, de forma pes-soal e coletiva, para que pos-samos ter uma cidade melhor, através da ação de cada um.

Mas a preocupação com o meio ambiente e a redução de emissão de gases não deve ser um dever somente de ONGs ou de instituições de ensino e sim, de todos. A sociedade deve assumir responsabili-dades com o meio ambiente, adotando hábitos que sejam sustentáveis no dia a dia.

Cristian Cunha Mateus Konzen

CRISTIAN CUNHA

DANIELA RESKE

Ricardo Dalmolin critica o mau uso dos agrotóxicos nas lavouras

Ail Ortiz explica o que foi a Jima

A sociedade deve assumir responsabilidades com o meio ambiente

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4 Novembro de 2012ALIMENTOS ORGÂNICOS

Comer bem não é tão simplesComo a cidade consome a produção de orgânicos

Com uma população que cresce de forma assus-tadora, um dos grandes

desafios para a indústria ali-mentícia é produzir comida para sete bilhões de pessoas no mundo. Para isso, o uso de artifícios em hortas e lavou-ras, como produtos químicos - pesticidas, adubos industria-lizados - e outros meios não naturais, cresce significativa-mente.

Na contramão dessa de-manda, um grupo de consu-midores busca alimentos que não façam uso de produtos químicos, os chamados orgâ-nicos ou agroecológicos. Em Santa Maria, a oferta e a pro-cura por este tipo de alimento também cresce. Já é possível encontrar certa variedade de orgânicos em mercados e lo-jas de conveniências, que vão desde sucos e iogurtes, até ar-roz, massas e carne.

Prateleiras mais saudáveis

Segundo o responsável pelo setor de compras da Rede Super de supermerca-dos, Gilmar Schirmer, a busca por produtos ecológicos cres-ce em todas as lojas da rede. De acordo com ele, o consu-mo deste tipo de alimento era muito pequeno no início das atividades da Rede Super. Hoje, a procura é muito maior. “O cliente está preocupado com o que ele está comendo. Notamos que é uma tendên-cia o consumo de alimentos produzidos de forma mais ecológica, de forma sustentá-vel”, constata.

Porém, para os comercian-tes, ainda é difícil conseguir fornecedores que os abas-teçam, regularmente. Para o comprador de uma das maio-res redes de mercados do interior do RS, a constatação é de que se a produção na ci-dade fosse maior, a rede com-praria mais. As exigências para que um alimento seja considerado orgânico são grandes: isolamento da área, a não utilização de compo-nentes químicos, atenção aos mananciais de água, semen-tes, adubos, enfim, inclusive certificação. “Não é fácil fazer render uma plantação des-te nível, por isso, são poucos os produtores que ingressam neste segmento e que ofere-cem este tipo de produto em escala suficiente para abaste-

cer uma rede de mercados”, explica Schirmer.

Quais hortas não acrescentam pesticida?

Apesar de uma procura crescente, a falta de produção de alimentos orgânicos e, por consequência, da sua oferta nos mercados, limita o consu-mo por parte da população da região que tem interesse em comprá-lo.

Para alguns especialistas na área, o incentivo do poder público para produção ecoló-

gica em Santa Maria estimu-laria os produtores. A oferta seria maior nos mercados e o consumidor teria maior diver-sidade de itens para escolher. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater, Soel An-tônio Claro, não há iniciativas suficientes, públicas ou pri-vadas, que ofereçam o conhe-cimento correto e necessário para os produtores ou simpa-tizantes desta cultura. “A pro-dução diferenciada é difícil. Muitos dizem que sua produ-ção é orgânica e, na verdade,

não é. O conhecimento ainda é muito incipiente.”

O executivo municipal pro-mete apoiar a produção orgâni-ca. Segundo o secretário adjun-to da Secretaria de Município de Desenvolvimento Rural de Santa Maria, Antoniangel Za-nini, a criação de um programa de estímulo à produção orgâ-nica e ecológica na cidade está em estudo. Zanini acredita nes-se tipo de produção como uma forma para o produtor agregar renda à sua propriedade. “A ideia inicial foi aumentar a pro-

dução de hortifrutigranjeiros em geral na cidade, organizar uma produção em escala para o ano todo. Agora estamos em fase de elaboração de um pro-grama para incentivar a pro-dução orgânica não só de hor-tifrutigranjeiros, mas, de carne, leite e frango orgânico, o PRO--orgânico”, explica.

E a população, como se alimenta?

Todavia, conhecer os bene-fícios dessa cultura alimentí-cia não se restringe ao fato de

FOTOS: DEIVID DUTRA

Horta orgânica em Santa Maria - este tipo de produção requer maior trabalho e atenção

A importância do selo certificando o alimento orgânico é fundamental para sua credibilidade

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5Novembro de 2012ALIMENTOS ORGÂNICOS

consumir diariamente, mas sim, difundi-la para outras pes-soas. A artista plástica Cleude-te Fontoura reclama do valor mais caro. Entretanto, não abre mão de consumir e difundir o hábito entre seus conhecidos. “São mais caros, mas são mais verdinhos, o gosto também é diferente. In-clusive o bróco-lis, que é o que eu mais con-sumo. Sempre que faço mer-cado comento com meus ami-gos a impor-tância desse consumo”. In-felizmente, ela sabe que exis-tem alimentos rotulados como orgânicos sem ser. “Pesquisei sobre, mas como eu vou saber se são ou não? Arrisco na espe-rança de comer, sempre, de ma-neira mais saudável”, analisa.

Ainda assim, para o enge-nheiro agrônomo Heber Ro-drigues, apesar de possuir

consciência dos benefícios desta alimentação, não faz uso delas em sua dieta. Para ele o consumo de orgânicos, raras vezes, é difundido por serem muito caros. “Acredito que atendem somente uma fatia da população, o que ain-da é prejudicial”, comenta. A

agricultura or-gânica é defi-nida por lei e regulamentada pelo governo. Ao ser questio-nado sobre o selo de certifi-cação ele apos-ta na qualidade do processo.

“Ele garante a procedência e aquisição de um produto sau-dável, mas como nem tudo é perfeito, não há rigor na fisca-lização, muitas vezes, há atu-ação de produtores que agem de má fé”, conclui.

Alexandre De Grandi Natalia Apoitia

Tomates ecológicos produzidos no bairro Camobi sem uso de produtos quimicos

O agrônomo Soel Claro defende a implantação de práticas mais embasadas no cultivo de orgânicos

Exemplo da eficiência da produção de uma alface orgânica que excede o comun em tamanho e qualidade

Muitos dizem que sua produção é orgânica e, na verdade, não é.

Alimentos orgânicos

O que são?

Os alimentos orgânicos são aqueles que utilizam, em to-dos seus processos de produção, técnicas que respeitam o meio ambiente e visam à qualidade do alimento. Des-ta forma, não são usados agrotóxicos nem qualquer outro tipo de produto que possa vir a causar algum dano à saúde dos consumidores.

Agricultura orgânica: frutas, legumes e verduras

Na agricultura, por exemplo, utiliza-se apenas sistemas naturais para combater pragas e fertilizar o solo. Embora apresentem praticamente as mesmas propriedades nutri-cionais dos alimentos inorgânicos, os orgânicos apresen-tam a vantagem de seres mais saudáveis, pois não pos-suem agrotóxicos. Também são mais saborosos.

Carne orgânica e ovos orgânicos

No tocante à produção de carnes e ovos, os animais são criados sem a aplicação de antibióticos, hormônios e ana-bolizantes. Pesquisas demonstram que estes produtos po-dem provocar doenças nos seres humanos, quando consu-midos por muito tempo. Logo, as carnes e ovos orgânicos são muito mais saudáveis.

Benefícios e vantagens:

► Os alimentos são mais saudáveis, pois são livres de agrotóxicos, hormônios e outros produtos químicos;

► São mais saborosos;

► Sua produção respeita o meio ambiente, evitando a contaminação de solo, água e vegetação;

► A produção usa sistemas de responsabilidade social, principalmente na valorização da mão-de-obra.

Desvantagem:

► A única desvantagem é que são mais caros do que os convencionais, pois são produzidos em menor escala e os custos de produção também são maiores.

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6 Novembro de 2012NOVAS SOLUÇÕES

Tecnologia que promete menos poluição dos carros

Existem mais de sete bi-lhões de pessoas no mundo. Nas ruas, cerca

de um bilhão e meio de veí-culos circulam diariamente. E conforme esses números vão aumentando, os problemas en-volvendo a atmosfera crescem cada vez mais. Embora o avan-ço tecnológico contribua para diminuir a produção de po-luentes, não existe processo de combustão que evite a emissão do gás CO2 dos automóveis. Esse gás é um dos responsáveis pelo efeito estufa.

Conforme o professor de En-genharia Ambiental da Unifra, Galileo Buriol, “o efeito estufa sempre existiu, eles [os gases estufa] estão há mais de 30, 40 anos na at-mosfera, só que a quantidade de dióxido de carbono (CO2) aumentou em função da quei-ma de combustíveis fósseis, - petróleo, carvão”.

Além dos combustíveis al-ternativos, como gás natural e álcool, busca-se uma alterna-tiva ao motor de combustão. Uma das soluções pesquisadas é o veículo híbrido.

De acordo com o profes-sor de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Santa Maria, Alexandre Cam-pos, é necessário experimen-tar um motor a combustão e um motor elétrico a bateria, que pode ser recarregado em uma tomada residencial, tudo no mesmo veículo. “No carro híbrido se está tentando ex-plorar as melhores qualida-des dos dois. Por exemplo, o elétrico até bem pouco tempo não obtinha um desempenho em termos de torque*, acele-ração”, explica o professor. É nesse momento que há a tro-ca. Quando o carro necessita de mais potência, por exemplo em uma ultrapassagem, assu-me o motor de combustão.

Sobre o veículo híbrido, o professor Alexandre não se mostra muito confiante. Se-gundo ele, “as tecnologias mais modernas preveem a utiliza-ção de matérias novas, recen-

tes, componentes novos para controlar, e isso quem retém são poucas empresas”.

No modelo de carro elétrico, ainda não se encontrou uma forma de armazenar carga su-ficiente nas baterias para man-ter o veículo na estrada por longas distâncias. É preciso um tempo excessivo para recar-ga e a instalação de “postos” que estejam preparados para abastecer esses veículos. A co-mercialização do carro elétrico no mercado de carros particu-lares depende da solução de problemas como esse.

Outro impasse dos carros elétricos seria a produção de

energia. Cada lugar tem uma carga instala-da** fixa e as concessioná-rias baseiam--se nesses nú-meros para produzir e re-passar energia elétrica. Com

uma frota grande de carros elé-tricos, essa produção aumenta-ria de forma muito grande. “Dos milhões de veículos, todos eles passam de pendurados no pos-to, para pendurados em uma tomada. Seria um impacto tão grande que criaria um proble-ma gigantesco para o sistema elétrico. E aí eles precisariam gerar mais. Na redução do im-pacto ecológico dos veículos, eles vão ter que aumentar na geração térmica. Quer dizer, tu estás empurrando o problema pra alguém”, afirma Campos.

Das mais diversas opções, o professor elege a sua favorita: “O melhor híbrido se chama bicicleta. Esse depende apenas

Motor do Ford Fusion Hybrid, modelo 2011

FONTE DIVULGAÇÃO FORD

das pernas. Existem umas solu-ções muito interessantes, eu sou fã dessas. O que torna híbrido é a força da perna e elétrica jun-tas”. As bicicletas apresentam uma taxa zero de poluição, po-rém é necessário que haja uma adaptação das cidades para que possa comportar os ciclistas.

Então, por que esses auto-móveis ainda não estão no mer-cado? O professor Alexandre explica: “Os dois [elétrico e hí-brido] estão evoluindo. Mas têm problemas, e não criaram uma situação de viabilidade para se colocar realmente no mercado. Ainda não acharam a solução, e isso vai sair mais caro”.

TorqueCapacidade de acelera-

ção, quanto maior o torque mais rápido ele consegue evoluir a velocidade.

Carga instaladaSoma das potências no-

minais dos equipamentos elétricos instalados na unidade consumidora, em condições de entrar em funcionamento, expressa em quilowatts (KW).

Em Santa MariaProcuramos seis concessio-

nárias de marcas diferentes na cidade. A Ford costumava co-mercializar o Fusion Hybrid, no valor de R$ 133.900,00 mas o carro não é mais vendido aqui. Já a Toyota tem a possibilidade de venda do Prius, um modelo híbrido, mas não há data para o início da fabricação ou vendas, nem previsão de preço. As de-mais - Fiat, Honda, Hyundai e Nissan - não possuem modelos em Santa Maria, nem previsão de comercialização.

Luiza de Oliveira Yuri Nascimento

“O melhor híbrido se chama bicicleta”.

Alexandre Campos

MATT HOWARD (2009)

Diagrama do motor elétrico

Combinação entre motor a combustão e elétrico pode diminuir o efeito estufa

Termos técnicos

Quantidade de CO2 aumentou com a queima de combustíveis fósseis

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7Novembro de 2012NOVAS SOLUÇÕES

Borracha como alternativa na produção asfálticaIniciativa diminui poluição e possui maior durabilidade

Nas cidades, garante a tranquilidade e nas ro-dovias, fluidez. A pavi-

mentação é indispensável para a circulação dos veículos que, por sua vez, asseguram o transporte ágil de produtos e pessoas.

De acordo com o Departa-mento Nacional de Infraes-trutura de Transporte (Dnit), a extensão de pavimentação no Brasil entre estradas fede-rais, estaduais e municipais é cerca de 1 milhão e 712 mil km. Considerando a ampla extensão asfáltica, estão sen-do estudadas novas formas de minimiza-ção do impacto ambiental.

O asfalto tradicional uti-lizado em todo o Brasil é deri-vado do petró-leo. O profes-sor do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria, Luciano Pi-voto Specht explica os danos desta produção: “entre uma camada e outra do cimento nós temos a chamada impri-mação, nela usa-se asfalto di-luído, que é um asfalto mistu-rado com gasolina, querosene e óleo diesel. Isso é poluente, no momento que você apli-ca, vira um volátil que cheira forte, depois de aplicado ele se estabiliza e não gera mais contaminação”.

Para diminuir as consequ-

ências prejudiciais ao meio ambiente, se estuda, entre ou-tros métodos, a utilização de pneus. A borracha triturada serve como composto para a fabricação do pavimento. Essa mistura oferece maior durabi-lidade, facilita a absorção da água, retira o pneu (material poluente) do meio ambien-te. “Tem várias vantagens, primeiro diminui o barulho, também é uma possibilidade de dar um fim a este material, porque hoje não temos onde depositá-los. Então se você

adicionar à mistura, uma das coisas que acontecem é a diminuição do barulho, as-sim você tem maior confor-to de sonori-dade”, explica o professor

de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Francis-cano (Unifra), Afrânio Almir Righes.

Porém, o custo de produção é superior ao asfalto tradicio-nal. “A questão é custo benefí-cio, hoje tem tecnologia para o asfalto durar por muito mais tempo, porém, isso vai custar mais caro e gerar problemas de gestão pública”, ressalta Luciano Specht.

Apesar do alto custo de produção, no Rio Grande do Sul já estão sendo realizados projetos de pavimentação

O asfalto em bom estado garante durabilidade do veículo e maior segurança aos motoristas.

YURI WEBER

Tem tecnologia para asfalto durar mais tempo, porém vai custar mais

Mapa BR-153, entre BR-290 e BR-392

GOOGLE MAPS

Modelo de pneu triturado e compactado usado na pavimentação.

Saiba mais sobre reaproveitamento de pneus

De acordo com um estudo realizado na Universidade Federal da Bahia estima-se que sejam descartados pelo menos 25 milhões de pneus por ano no Brasil. Destes, so-mente 20% são reutilizados em recauchutagens e pavi-mentação, entre outros.

com a utilização de pneus em sua composição. Um dos pro-jetos realizados pela Univer-sidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijuí) é a terceira faixa num trecho da BR 285, entre Ijuí e Coro-nel Barros. Para pavimentar os 200 metros foram usados e eliminados do meio am-biente cerca de 300 pneus. Outro trecho que possui esta alternativa é na BR 153, entre a BR 290 e a BR 392, totali-zando 26 km.

Na medida em que aumenta a durabilidade, a utilização da borracha também auxilia na conservação das vias. Sendo que aproximadamente 60% das cargas são transporta-das por rodovias, há perda na qualidade, como marcas e desnivelamento das pistas.

As vias urbanas também sofrem desgastes, que acabam por provocar danos nos veí-culos, como afirma o taxista de Santa Maria, Adriano Su-til: “A situação do asfalto está melhorando bastante, a gente vê, reformaram a Assis Brasil e arrumaram a avenida Liber-dade, mas o interior da cidade possui ruas precárias, o que causa prejuízos nos pneus e na suspensão”.

Com o intuito de diminuir

os danos ambientais, estudos como a implementação da borracha no asfalto, tentam encontrar uma melhor forma de alcançar o custo benefício. “Para fazer uma estrada se gasta um volume de material gigantesco. A extração do ma-

terial, por exemplo, de uma pedreira não tem mais como recuperar, por isso nós tenta-mos minimizar os impactos”, declara Luciano Specht.

Camila Joras Nayara Lunkes

NAYARA LUNKES

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Foi a partir deste momento que o amor pela natureza e pe-los animais nasceu dentro do coração de Braz. Desde então, a caça deixou de ser a atividade do jovem. A prática foi trocada pelo cuidado com os animais. Assim começa a história do criadouro, apenas com aves. Hoje, com 600 animais de 178

espécies dife-rentes, o cria-douro funciona a todo o vapor. Com uma rotina regrada, de dar inveja a grandes empresas dos mais diferentes segmentos, o criadouro e seu

proprietário se orgulham do forte envolvimento com a edu-cação ambiental, proposta de-fendida com “unhas e dentes” por Braz.

Sempre inflamado em suas colocações e com um brilho no olhar típico de quem é apai-xonado por tudo que faz, Braz

nos dá uma aula sobre a fauna brasileira. Diz que não é dono de ne-nhum dos animais que estão “hospedados” ali. “Os animais pertencem à natureza, homem nenhum pode se dizer dono de qualquer animal”, diz.

Principal parte do trabalho: educação ambiental

A tarde era de muito sol na Boca do Monte, e nós pudemos contemplar todas as cores e a beleza dos diversos animais que vivem no Criadouro.

Desde o primeiro contato, sabíamos que a agenda de Braz era concorridíssima. Por isso, várias visitas foram feitas du-rante a apuração. Em nossa últi-ma visita, não estávamos a sós. Fomos testemunhas da maior proposta do Criadouro: a edu-cação ambiental. Além da nossa equipe, Braz recebia naquela tarde, três escolas. As turmas, sempre acompanhadas por

guias do próprio criadouro, que, além de mostrar os animais, re-velam algumas curiosidades a respeito dos hábitos de cada um, acompanham atentamente a movimentação dos alunos.

Utilizando-se de uma lingua-gem lúdica, de fácil entendi-mento, inclusive fazendo refe-rência a animais que são parte dos filmes conhecidos pela ga-rotada, os funcionários do cria-

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Sensibilidade para ensinar, oportunidade para aprenderCriadouro São Braz contribui para a conscientização ambiental de crianças da região

O asfalto se despede e dá lugar a uma pequena e esburacada estrada de

chão batido. Na mesma frequ-ência, o clima frenético da cida-de abre espaço ao ar bucólico de um pequeno distrito de San-ta Maria. Estamos na Boca do Monte, distrito de pouco mais de cinco mil habitantes. Nosso destino é o Criadouro Conser-vacionista São Braz. Mas a es-trada não é o mais complicado: para falar com Santos de Jesus Braz da Silva é preciso ter muita paciência. A agenda do criador é realmente bem concorrida. Com a chegada da temporada de calor, cresce o desejo das es-colas em visitar um dos lugares mais bonitos da região.

Depois de algumas ligações, chegamos a uma data: em uma tarde chuvosa de setembro, en-fim teríamos a oportunidade de conhecer mais da história desse lugar dos sonhos. Logo na che-gada avistamos um lindo pavão. Sua beleza combinava uma equi-librada mistura de imponência e suavidade. A ave é uma das oito de sua espécie que habitam o criadouro, e recebeu nossa equi-pe de reportagem com toda a sua cordialidade e beleza.

Desde o primeiro momento, foi possível sentir que a natu-reza estava mais próxima de nós, ali naquele local: o Cria-douro São Braz. Sorridente, Braz, como prefere ser chama-do, logo tratou de explicar todo o funcionamento e também a história do criadouro. Especia-lista e defensor da educação ambiental, Braz não teve pres-sa para falar sobre todos os animais que ali vivem, a forma como eles são tratados e con-duzidos, e como começou o seu amor pela bicharada.

Do bodoque ao Criadou-ro: um amor que começou às avessas

O criador relata que na infância costu-mava caçar pás-saros, influen-ciado por amigos e familiares, hábito considerado normal em épocas passadas. Em uma de suas caçadas, foi surpreendido por uma pequena pomba. Sua surpresa veio ao perceber que ela não estava sozinha, mas sim com seus filhotes. A cena nunca sairia de sua lembrança.

Monumento da Liberdade é o local preferido de Braz

A beleza da arara é um dos coloridos do Criadouro

Os animais pertencem à natureza, homem nenhum pode se dizer dono

Novembro de 2012CONSERVACIONISMO

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douro apresentam Blu, a Ara-ra Azul protagonista do filme “Rio”, e o Porco do Mato Timão, do filme “O Rei Leão”. Com este tipo de interação, as crianças ficam mais atentas às informa-

Conheça alguns animais do CriadouroPara marcar uma visita

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Sensibilidade para ensinar, oportunidade para aprender

Tranquilidade do jabuti é uma das atrações do passeio

Monumento da Liberdade é o local preferido de Braz

Exibicionismo é uma das características dos pequenos macacos

O canto do tucano é parte da trilha sonora do São Braz

Escolas que desejam visitar o Criadouro, podem agendar um horário através dos seguintes contatos:

► Fones: 99 67 77 07/ 3026-8925

► E-mail: [email protected]

► Twitter: www.twitter.com/saobraz_oficial

► Orkut: www.criadourosaobraz.com.br/orkut

► MSN: [email protected]

O pavão é um dos recepcionistas do local

A onça pintada acompanha o movimento ao seu redor

FOTOS: YURI W

EBER A beleza e a diversidade de cores são itens sempre pre-sentes no Criadouro São Braz. Cada animal contribui para que o trajeto percorrido pelos visitantes seja inesquecível.

ções que recebem sem perder um instante sequer o brilho no olhar. A pequena Isadora de Souza Ilha, seis anos, é uma das responsáveis pela visita dos co-legas ao criadouro. Foi ela quem viu a reportagem no jornal e pe-diu para a professora levar toda turma, para que pudessem “ver os tigrinhos”. Muito falante, logo se percebe que a jovenzinha desde cedo já é uma das lide-res da turma. Quando chamada para falar conosco, foi natural-mente seguida por outros dois colegas, que ouviam atentos os relatos da amiguinha: “Eu te-nho animais em casa. O nome do meu cachorro é Koda, e ele gosta de se sujar.” Além de Koda ela também fala com carinho de

seu gato e do periquito, ambos criados com muito carinho por ela e sua família.

A visita ao Criadouro faz par-te de uma série de atividades que a escola de Isadora pro-porcionou para a garotada na semana da criança. Ana Paula Barbosa Colvero, professora de educação infantil da escola San-ta Catarina, acompanhou a garo-tada durante o percurso. Ela cita que é muito importante inserir as crianças neste ambiente des-de bem cedo, contribuindo para a conscientização e multiplica-ção da ideia de um mundo que respeita a fauna e flora.

Déverson Martelli e Fabiano Oliveira

Alunos de escolas da cidade fazem visitas agendadas ao criadouro

Isadora acompanha o passeio feliz ao lado dos colegas

Novembro de 2012CONSERVACIONISMO

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10 Novembro de 2012ECOESPORTES

Para quem se interessa por aventura, esportes radicais, contato com a

natureza, ou ainda, pela con-templação de paisagens natu-rais, Santa Maria pode ser o destino. A cidade é detentora do Portal Sul da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, sendo que ao norte seu ter-ritório é constituído pelo Re-bordo da Serra Geral. Em seu relevo apresenta morros, va-les, cascatas e uma hidrografia composta pelos rios Vacacaí e Vacacaí Mirim, que lhe garante grande potencial para o desen-volvimento do ecoturismo e turismo de aventura. Os mor-ros e matas que contornam o município de Santa Maria es-condem muitos lugares que desafiam os visitantes, tan-to por suas belezas exóticas, quanto por se tratar de locais ainda pouco explorados pelo homem, o que torna os pas-seios ainda mais atraentes.

Modalidades praticadas na região

A diversidade ambiental encontrada em Santa Maria e região possibilita aos aventu-reiros a prática de esportes de aventura ou ecoesportes. Con-fira algumas modalidades que podem ser realizadas na cidade e região:

► Canyoning - espécie de al-pinismo em cachoeiras, envolve a exploração do ambiente dos canyons e dos rios em gargantas.

► Cascading - descida em cachoeiras utilizando equi-pamentos de alpinismo, tam-bém conhecido como rapel na cachoeira.

► Escalada - esporte que, como o montanhismo, objetiva atingir o topo das montanhas, sendo, porém mais radical, de-manda técnicas e equipamen-tos especiais, além de esforço e concentração.

► Mountain bike - trilhas realizadas com bicicletas es-peciais, em descidas, subidas, em duplas, em grandes ou pe-quenas distâncias.

► Off-road - esporte prati-cado com veículos tração 4×4, como jeeps e pick-ups. Consis-te em “rodar” por estradas ou trilhas de terra.

► Orientação - desporto

individual que percorre deter-minada distância em terreno variado e desconhecido, obri-gando o atleta a passar por de-terminados postos de controle e descritos num mapa.

► Tirolesa - consiste em um cabo aéreo ancorado entre dois pontos, pelo qual o pra-ticante se desloca através de roldanas conectadas por mos-quetões a um arnês.

► Voo livre - o participante utiliza asa delta, paragliders ou parapente, voando princi-palmente sobre áreas naturais, saltando de rampas especiais.

Conheça outras modalida-des praticadas por aventurei-ros em Santa Maria e que co-locaram a cidade no cenário nacional e internacional:

Balonismo: uma aventura nas alturas

Por quatro anos consecuti-vos Santa Maria sedia o Festival Internacional de Balonismo. Em 2012 o evento integrou a programação dos 154 anos de aniversário da cidade. Segun-do o secretário de Juventude, Esporte, Lazer, Luiz Fernando Nunes, nesse esporte, em 2012 foram investidos 21,5 mil reais.

O 4º Festival Internacional de Balonismo contou com 25 equipes, envolvendo uma mé-dia de 100 pessoas.

CanoagemGilvan Ribeiro e seu irmão

Givago conquistaram muitas medalhas na canoagem, in-clusive a de bronze no Pan--americano do México. Mesmo com o sucesso na modalidade, eles enfrentam falta de apoio e incentivo do poder público e patrocínios. Mas eles não de-sistem de um sonho, disputar uma olimpíada pelo Brasil.

A prática do esporte come-çou como brincadeira e se tor-nou coisa séria para os irmãos Ribeiro. Desde 2001, foram centenas de competições. Gi-vago começou um pouco antes e praticava o esporte sozinho. Gilvan era curioso e começou a acompanhar seu irmão. Os dois começaram por lazer, em uma equipe de Santa Maria.

Em 2004 entraram para a Seleção Gaúcha e em 2005, para a Seleção Brasileira com ritmo intenso de treinamen-tos. Eles competem nas ca-tegorias individual, dupla e quarteto. Os treinamentos em Santa Maria ocorrem na barra-gem do DNOS.

O centro de treinamento da Seleção Brasileira é em São Pau-lo, onde Gilvan morou apoiado pela Associação Cachoeira de Canoagem e Ecologia (ACCE) de Cachoeira do Sul. Após oito anos retornou a Santa Maria onde cursa Jornalismo na Unifra.

Sua preparação para as olimpíadas de 2016 começa em janeiro de 2013 quando iniciam os treinamentos.

Gilvan conta que teve mui-tos aprendizados que o espor-te lhe proporcionou. Um de seus sonhos era conhecer Por-to Alegre e hoje conhece em torno de 15 países.

Trekking: desafios a cada passo

Outro esporte que ganha adeptos em Santa Maria é o trekking, chamado também de enduro a pé. Essa modalidade faz com que os participantes cheguem ao limite de seu cor-po, pois ao contrário das trilhas contemplativas, exige um ritmo

mais acelerado. Pode ser reali-zada por pessoas de todas as faixas etárias, pois é possível escolher como praticá-la, seu percurso e ritmo, já que o es-porte pode ser feito de forma individual ou em grupo.

Segundo o instrutor Tiago Korb, do Clube Trekking San-ta Maria, em trilhas mais con-templativas a maior procura é de mulheres e pessoas entre 18 e 35 anos. O Clube Trekking chega a realizar até 104 even-tos por ano, em média dois por final de semana.

No site do grupo é possível conferir todas as informações necessárias, desde os níveis, que variam de acordo com o preparo físico dos participan-tes e a distância percorrida, até orientações de que equipa-mento utilizar.

As trilhas são realizadas na região de Santa Maria (em morros, cachoeiras e estradas) e podem ocorrer também em municípios da Quarta Colônia de Imigração Italiana. Segundo Tiago, é necessário respeitar os níveis de dificuldade, pois, como o esporte não possui nenhum nível regulamentar no Brasil, é importante que o participante saiba conhecer suas condições físicas e seus limites. E como esse esporte geralmente ocorre em áreas de risco é necessário concluir o percurso e ter cui-dado para não ocorrer aciden-tes. Nesses casos o aventureiro pode esperar horas por resgate, já que no grupo não há socorris-tas ou profissionais da saúde. É normal sentir dor após uns 2 ou 3 dias. Mas como é um esporte que libera bastante endorfina por causa dos efeitos da nature-za, o participante acaba sentin-do prazer e querendo praticar mais vezes. E a prática prolon-gada pode garantir condiciona-mento físico e resistência.

O clube realiza também eventos que incluem outras modalidades, entre elas: rapel, hiking, travessias, acampa-mentos, trilhas de mountain bike, canyoning e escaladas.

Ecoesportes causam impacto na natureza

Como todo esporte, trekking também pode provo-car impactos ao meio ambien-

Esportes de aventura atraem os santa-marienses

RODRIGO DE BEM

ARQUIVO PESSOAL – GILVAN BITENCOURT RIBEIRO

Gilvan e Givago começaram a praticar o esporte através do projeto social Canoagem na Escola

Pelas características geográficas, cidade tem potencial para prática de ecoesportes

Trilha realizada pela equipe de rapel do professor Luciano Sarturi

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11Novembro de 2012ECOESPORTES

Pratique rapel de forma seguraAcompanhe, passo a passo, os procedimentos segui-dos para manter a segurança dos participantes:

► 1º passo – Preparação dos equipamentos.

► 2º passo – É passada a linha da vida, corda instalada para a segurança dos participantes, que precisam passar próxi-mos à beirada da ponte.

► 3º passo – O instrutor Lu-ciano Sarturi prepara os equi-pamentos para a descida.

► 4º passo – Luciano passa algumas instruções aos par-ticipantes.

► 5º Passo – Preparação para descida.

► 6º Passo – É realizada a segurança na descida.

te, sobretudo quando não é praticado da maneira adequa-da. No caso da trilha, as pisadas causam impactos de erosão ou, ainda, por falta de conscienti-zação, muitas pessoas pisam em plantas ou matam peque-nos animais. Luciano Sarturi se preocupa: “estão levando até 70 pessoas em uma trilha, sen-do que a quantidade adequada, no máximo, é de 10 a 15”. Ele salienta também a degradação causada pelas trilhas realiza-das com motocicletas e jipes. “Muitas vezes andam, no míni-mo, entre 20 ou 30 motoquei-ros. Nas rodas, eles colocam umas taxas para poder passar em alguns lugares com mais di-ficuldades e isso, com certeza, acaba destruindo tudo”.

Sarturi diz que é necessário que haja uma conscientização ambiental. As pessoas preci-sam saber respeitar a nature-za, não sair deixando marcas em árvores com canivetes, não podem gritar com o mes-mo tom da cidade, não podem pegar plantas, pois o que é da natureza não se retira dela e, em hipótese alguma, maltratar ou alimentar os animais, pois, alguns deles podem estar em extinção. Essas são as orienta-ções éticas básicas que os pro-fessores e instrutores devem passar a seus alunos, reforça.

Rapel: adrenalina a cada descida

O rapel é um esporte prati-cado por amantes de aventura. Foi criado a partir do alpinis-mo e sua prática consiste em descidas verticais em pare-dões, pedras rochosas, monta-nhas, cachoeiras e vãos livres, com uso de equipamentos especializados como cordas, mosquetões e freio oito, que garantem a segurança. Muitas pessoas procuram por esse es-porte porque ele proporciona emoção, adrenalina ou ainda desafia medos e limites.

A decoradora Cristiane Ri-beiro iniciou a prática do rapel porque tinha pânico de altu-ra, que lhe impedia de chegar próximo a sacadas de prédios. Com a intenção de vencer a fo-bia, Cristiane procurou os ins-trutores Fernando e Evandro, do Clube Trekking. Em conse-quência, há três anos, Cristiane pratica várias modalidades de esportes radicais, como ra-pel, montanhismo, trekking. A aventura e adrenalina viraram vício em sua vida.

Com o mesmo entusiasmo, o instrutor de rapel e escala-da, Luciano Sarturi, diz que há vinte anos pratica esta mo-dalidade e que a adrenalina e o contato com a natureza, funcionam como uma terapia, que recompensam o cansaço físico causado pelos esforços

realizados no esporte. Sarturi revela que antigamente o rapel era praticado com qualquer tipo de material, mas que colo-cava em risco a segurança dos participantes. Hoje, salienta o instrutor, um dos motivos que impedem que mais pessoas realizem o esporte é o valor necessário investir em equipa-mentos, que no Brasil é mais caro. Isso faz com que muitos improvisem materiais, sem a mesma resistência, o que pode causar acidentes graves.

Sarturi aconselha aos que querem praticar rapel, que an-tes procurem fazer um curso básico, pois é um esporte de risco, em que a própria pessoa é responsável por sua seguran-ça. Pensando nisso, foi criada em Santa Maria a Associação Santamariense de Escalada (ASE) para atrair mais gente e divulgar o esporte.

Aventureiros e o rapel em Itaara

No feriado de 20 de setem-bro um grupo de 16 aventu-reiros se reuniu em Itaara, em uma ponte férrea na proprieda-de Harmonia, para praticar ra-pel. Cuidando da segurança do grupo estava o instrutor Lucia-no Sarturi. O grupo era compos-to por pessoas com experiência no esporte e outras que nunca tinham praticado. Entre os par-ticipantes, estavam um socor-rista, professoras, serralheiros, uma fisioterapeuta, estudantes, acadêmicos, um administrador, um empresário, entre outros, comprovando que a prática desse esporte, desde que reali-zada com segurança, pode ser feita por qualquer pessoa, in-dependente do porte físico, da idade e da profissão.

O rapel, apesar de pratica-do por vários grupos em San-ta Maria, não possui um local destinado a essa prática. Com isso, os aventureiros ainda cor-rem certo risco em relação à segurança. Sarturi relata que já foi assaltado quando prati-cava rapel e agradece por não terem levado seus equipamen-tos, pois o prejuízo seria muito maior. Isso ocorre porque falta fiscalização e postos de segu-ranças nessas áreas, que ape-sar de estarem registradas no site da Prefeitura como pontos turísticos da cidade e patrimô-nios naturais de Santa Maria, não possuem ainda nenhum tipo de investimento em segu-rança por parte do poder pú-blico. Segundo o secretário de Esporte, Luiz Fernando Nunes, a estrutura de segurança nes-ses locais é falha e será preciso investir nisso.

Outro problema que se ve-rifica com a falta de estrutu-ra e de locais destinados para esportes de aventura é o mau uso desses espaços. Os princi-pais problemas verificados são: aberturas de trilhas irregulares, descuido com o lixo e grupos de trilheiros muito grandes, que podem ocasionar perturba-ções à fauna local e prejuízos ao meio ambiente, pela degrada-ção e erosão causada pelo im-pacto com o solo. Desta forma, o lazer pode se transformar em prejuízos tanto para o pratican-te quanto para a natureza.

E você, está preparado para fazer esportes junto à nature-za? Esteja pronto e embarque nesta aventura!

Daiane Spiazzi Colaborou:

Camila Porciuncula

RODRIGO DE BEM

RODRIGO DE BEM

RODRIGO DE BEM

RODRIGO DE BEM

RODRIGO DE BEM

DAIANE SPIAZZI

Grupos de EcoesportesAlguns grupos que praticam Ecoesportes em Santa Maria

EcoAdventure Cursos e Treinamentos:

► Twitter:www.twitter.com/ecoadventuresm► E-mail: [email protected]► Telefones: (55) 3222-5228 | (55) 9996-8205

Clube Trekking:

► E-mail: [email protected] ► Twitter: @clube_trekking ► Telefone: (55) 8407-1646 (Tiago)

Leões da Montanha:► E-mails: Rodrigo Piuga - [email protected] César Piuga - [email protected] Radamés Xavier - [email protected]► Telefone: (55) 3222 6436

Bandeirantes da Serra:► E-mail: [email protected]► Telefones: (55) 9927 6162 (Guilherme) (55) 9927 6167 (Rafael)

Luciano Sarturi: Instrutor de esportes de aventura:► Facebook: http://www.facebook.com/luciano.sarturi► Telefones: (55) 3026 6127 ou (55) 9180 3009.

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12 Novembro de 2012ECOTURISMO

Santa Maria pode investir em ecoturismoCom projetos ambiciosos, Santa Maria poderá ter Parques de Preservação Integral

O ecoturismo é uma das atividades econômi-cas que mais cresce no

Brasil. Isto se deve ao fato de ser um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natu-ral e cultural. Incentiva sua con-servação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação e va-lorização do ambiente. Santa Maria possui potencial para o ecoturismo em função da privi-legiada diversidade geográfica e ambiental que comporta.

Entretanto, a cidade ain-da não investe em estruturas destinadas a esse ramo do tu-rismo. Mas ao que tudo indica, essa realidade será mudada. Os santa-marienses foram surpre-endidos, neste ano, pelo proje-to “Programa Parques Munici-pais”, que visa criar espaços de preservação ambiental, lazer, recreação, contemplação da natureza, prática de esportes de aventura e promete poten-cializar o turismo local. Por meio desse programa, a Prefei-tura está desenvolvendo três projetos: Parque São Vicente Pallotti, Parque do Jockey Clu-be e Parque do Morro.

De acordo com o secretário de Proteção Ambiental, Luiz Alberto Carvalho Junior, a área destinada à criação do Par-que do Morro foi “adquirida pela Prefeitura de Santa Maria para se tornar um Parque e, futuramente, uma Unidade de Conservação. Será a primeira Unidade de Conservação In-tegral aqui em Santa Maria”. O secretário diz que a estru-tura do Parque será decidida através do Plano de Manejo. O Parque terá “algumas áreas destinadas mais ao uso dire-to, tais como lazer, prática de esportes. Outras áreas serão destinadas à conservação, à recuperação”, conforme for es-tabelecido no Plano de Mane-jo, salienta Carvalho.

Criação de Unidades de Proteção Integra

De acordo com a Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacio-nal de Unidades de Conser-vação da Natureza (SNUC), e estabelece critérios e normas

para a criação, implantação e gestão das unidades de con-servação, e com base no Ter-mo de Referência que prevê a contratação de serviços técni-cos especializados para a ela-boração de Planos de Manejo e de levantamentos topográ-ficos planialtimétricos cadas-trais dos Parques São Vicente Pallotti e do Parque dos Mor-ros, os dois parques corres-pondem a uma das categorias de unidades de conservação integrantes do SNUC: Unida-des de Proteção Integral.

Dentro do grupo de Uni-dades de Proteção Integral o projeto proposto pela Prefeitu-ra de Santa Maria se insere na categoria de Parque Nacional. Entretanto, a visitação pública está sujeita às normas e restri-ções estabelecidas no Plano de Manejo da unidade.

Segundo o secretário Carva-lho Junior, a criação desses Par-ques vem ao encontro da pre-servação e valorização dessas áreas. “Eu acredito que quanto mais as pessoas conheçam e acessem essas áreas, estarão muito mais sensibilizadas e ajudarão a conservá-las. Eu vejo a prática do ecoturis-mo muito mais do que sim-plesmente como uma prática econômica, eu vejo também como uma prática de educa-ção ambiental não formal”, diz o secretário, que destaca a uti-lização do parque como uma prática sustentável.

Parques não atendem aos critérios do SNUC

No entanto, conforme in-forma o representante do Es-critório Regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno-váveis (Ibama), Heitor Peret-ti, algumas das pretensões da Prefeitura não condizem com a prática correta para a criação de Unidades de Proteção Inte-gral. Ele afirma que as ações do Poder Público são discutíveis e confusas. O representante do Ibama refere-se ao fato de a Prefeitura ter lançado uma licitação para a contratação de uma empresa que realizará o estabelecido no Termo de Re-ferência, antes da emissão de um Decreto de criação da Uni-

dade de Conservação. Segundo Peretti, esse deveria ter sido o primeiro passo.

Peretti salienta, ainda, ou-tras irregularidades que tam-bém se aplicam aos planos da Prefeitura. Entre eles está a incompreensão das necessi-dades e especificidades para a criação e manutenção de uma área de Proteção Integral. Se-gundo ele, para a constituição de um Parque, conforme o es-pecificado no SNUC, é neces-sário que a área tenha grandes proporções. As suas áreas de amortecimento não podem ser consideradas como área urbana e, sim, rural. E isso não ocorre em nenhum dos casos propostos pela Prefeitura, visto que os dois pretensos parques possuem pequenas proporções e estão inseridos dentro do pe-rímetro urbano da cidade.

Outra contradição obser-vada por Peretti diz respeito aos objetivos de ocupação dos parques. Conforme projeto

proposto e apresentado pela Prefeitura, em janeiro de 2012, o Parque do Morro contempla-rá: uma central para visitantes com sede administrativa, sani-tários, vestiários, sala de vídeo, central de automação e moni-toramento, hall para exposi-ções e recepção para turistas, copa ou restaurante ecológico, observatório astronômico, sala

de reuniões, além de uma es-trutura para desenvolvimento de esportes de aventura. Con-forme Peretti, toda essa infra-estrutura é inadmissível numa Unidade de Conservação In-tegral. Nesse espaço não pode ocorrer nenhum tipo de mo-vimento humano intenso, que possa colocar em risco a vida de animais ou plantas. A não ser que a Prefeitura destinasse uma parte à preservação e ou-tra à exploração turística. Mas conforme o Termo de Refe-rência esse não é o caso, já que 100% da área foi destinada à preservação integral.

Quanto ao Parque São Vicen-te Pallotti, que possui pouco mais de 6 hectares, as irregu-laridades são mais acentuadas, pois a área de amortecimen-to do Parque pertence a pro-prietários particulares. E está prevista, para o futuro, a cons-trução de um hospital nos ar-redores do parque. Na opinião de Heitor Peretti, “a Prefeitura está colocando dinheiro fora”.

Na opinião do instrutor de rapel Luciano Sarturi, a cria-ção de um Parque destinado à prática de esportes radicais seria muito bom para Santa Maria e para todos os que, as-sim como ele, amam o espor-te. Entretanto, Sarturi salienta que para que isso aconteça, os órgãos competentes teriam que se comprometer de fato com a segurança e orientações aos visitantes pois, caso con-trário, o local poderá se tornar um lugar perigoso, já que será aberto ao público.

Daiane Spiazzi

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6717

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Parque dos MorrosÁrea desapropriada: 156,00 ha

PROVÁVEL ÁREA DO PARQUE DOS MORROS

Datum: Sirgas 2000Escala: 1/15.000

±

Localização da área desapropriada e destinada ao Parque do Morro

Localização da área destinada ao Parque São Vicente Pallotti

Unidades de Proteção Integral

O que diz a lei n.º 9.985/2000

“O objetivo básico das Unidades de Proteção In-tegral é preservar a na-tureza, sendo admitido

apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei”.

“O Parque Nacional tem como objetivo bá-sico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecoló-gica e beleza cênica, pos-sibilitando a realização

de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turis-mo ecológico”.

Parque Nacional

Page 13: Document

13Novembro de 2012DESTINAÇÃO DO LIXO

O lixo eleitoral e seus desdobramentos

BRUNO MELLO

Em todas as eleições a história se repete

O que fazer com o lixo? Essa é uma questão discutida no mundo in-

teiro, no nosso país não é dife-rente. Para isso o poder públi-co cria diversos mecanismos e campanhas que visam educar a população para atentar a to-dos da importância da separa-ção do lixo. Um exemplo dessa preocupação com a separação do lixo e sua reciclagem, é um projeto desenvolvido em par-ceria entre o MMA (Ministério do Meio Ambiente) e o MDS (Ministério do Desenvolvimen-to Social e Combate a Fome), que instalaram em diversas ci-dades do país lixeiras com dez cores pré-definidas, cada uma representando o tipo de lixo a ser colocado.

Apesar do poder público criar essas iniciativas para conscientizarem a popula-ção, os políticos, candidatos a cargos eletivos tanto nessa quanto nas eleições passadas, poluíram a cidade como um todo graças aos seus santinhos jogados em frente aos pontos de votação.

Produção gráfica aumenta durante período eleitoral

No meio rural os agricul-tores ficam a espera da safra, que na maioria dos casos é de seis em seis meses, ou de ano em ano. Os donos de gráficas da cidade encaram o período eleitoral da mesma forma, de dois em dois anos tem traba-lho redobrado, para suprirem a exigência dos candidatos.

S e g u n d o Cristiano Altis-símo, proprie-tário de uma gráfica em San-ta Maria, sua produção che-ga a aumentar em 300 por cento durante o período elei-toral, normalmente em três meses ele usa em média 2,5 toneladas de papel, nos três meses de campanha eleitoral ele utilizou 8 toneladas de papel para suprir a demanda dos candidatos.

De acordo com Sidinei Car-doso Pereira, coordenador de

campanha do PT (Partido dos Trabalhadores) cada candidato do seu partido usou em média 20 mil folders, que apresen-tavam suas propostas, fora as cédulas (material que consta o número do candidato a verea-dor e prefeito). Em contrapar-tida, o estudante de jornalismo e candidato a vereador Ma-thias Rodrigues do PSOL (Par-

tido Socialismo e Liberdade), afirma que “a produção de materiais grá-ficos como san-tinhos adesivos e cartazes é fei-ta a partir da n e c e s s i d a d e de cada candi-

dato a vereador e a prefeito versus capital necessário para esse fim”.

A escolha do materialPara realizar uma campanha

eleitoral, muitos aspectos de-vem ser pensados, um deles é a escolha do material a ser uti-

lizado para impressão de san-tinhos. O mais comum entre os candidatos é o papel couché 90 gramas, que é um tipo de papel especial para o uso na indús-tria gráfica. Por ter uma super-fície muito lisa e uniforme é o melhor papel para impressão de qualidade.

Além de ser um papel espe-cífico para impressão gráfica, quando comprado em grande quantidade ele se torna mais barato que os outros, inclusive o papel reciclável, que figura entre os mais caros.

O maior problema encon-trado na utilização do papel couché, é sua reciclagem, pois ele é composto de carbonato de cálcio, caulim, látex e outros aditivos, que combinados com a tinta dificultam seu proces-so de branqueamento. Isso faz com que sua reciclagem se tor-ne cara e ele produza apenas papéis de baixa qualidade.

O que é feito com a sobra Com o término do período

eleitoral, é quase inevitável

sobra de matérias, para isso os candidatos devem dar um rumo nos santinhos. O que se vê nas ruas no dia do plei-to, é que o caminho dado aos materiais pelos candidatos é joga-los em frente aos pontos de votação.

De acordo com Alex Mor-gental “está é uma técnica an-tiga usada na política, que visa pulverizar o nome do candi-dato em torno dos principais pontos eleitorais.” Nesses ca-sos apenas a candidatura de determinado candidato é pen-sada, e não no bem comum da

população que depois sofre com o acúmulo de lixo que além de causar poluição visu-al, pode causar alagamentos pela cidade.

Para Mathias Rodrigues, de-vido a campanha do PSOL não contar com o financiamento de empresas, dificilmente existe sobra de materiais. “Nossos materiais não costumam so-brar, já que são pensados den-tro de nossos limites financei-ros”, afirma Rodrigues.

Augusto Guterres Bruno Mello

Na campanha eleitoral são utilizadas 8 toneladas de papel

DIVULGAÇÃO PSOL

Mathias Rodrigues

DIVULGAÇÃO PT

Sidnei Cardoso

Durante o período eleitoral a cidade fica vulnerável à proliferação de santinhos

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14 Novembro de 2012DESTINAÇÃO DO LIXO

Por que as pessoas jogamlixo no chão?

Maria estava em frente a uma loja matando tempo enquanto es-

perava uma amiga. Acendeu um cigarro, fumou, e logo a amiga apareceu ali perto. Apa-gou o cigarro e o largou en-quanto corria para abraçá-la.

Ali perto, João entrava em seu horário de almoço. Arredou a sua cadeira, se espreguiçou e tirou uma bala do bolso. De-sembrulhou e jogou o papel ao lado. Após, se levantou e saiu.

Seja em salas de aula, escri-tórios ou nas ruas, as situações acima se apresentam todos os dias. Já virou hábito: as pessoas “esquecem” de usar o lixo. Em locais menores, como é o caso de salas de aula e escritórios, onde existem pessoas que limpam, o problema é menos preocupante. Nas ruas a ques-tão é crítica, pois o volume de lixo descartado é muito maior que o de profissionais dedica-dos ao serviço de limpeza. Nos dois casos, a causa é a mesma: ausência de educação. Educa-ção ambiental. A consequência? Ambientes sujos, poluídos e que geram transtornos à população, como alagamentos e doenças.

O cenário da UnifraNas salas de aula, os acadê-

micos deixam folhas de cader-no, papéis de bala e chiclete em cima e embaixo das classes. Claro, não só nas salas de aula, mas em corredores, pátios e cantinas. O Jornaleco questio-nou acadêmicos do Centro Uni-versitário Franciscano sobre o hábito de jogar lixo no chão. Eram três perguntas: Conside-ra errado? Já fez? E por quê?

Logo no pátio encontramos duas acadêmicas com cigarros na mão. Isis Zanardi, 17 anos, e Tanise Garcia, 18, são acadêmi-cas de Filosofia e convictas em sua opinião: é errado jogar lixo fora da lixeira. No entanto, con-fessam já terem tido recaídas e jogado as bitucas fora do lixo. O motivo? Comodidade. “Por que eu vou sair daqui para jogar no lixo? É muito distante”, brinca Isis. Tanise concorda: “Como-didade e preguiça de ir até lá, caso a lixeira não esteja perto de ti”, relata.

Do pátio fomos em direção à cantina. Abordamos três aca-

dêmicos de Fisioterapia que estavam conversando sentados em um banco. Lucas Bolzan, 20 anos, Nayara Casarin, 22 e Camila Amaro, 22, afirmam ser errado descartar o lixo de for-ma inapropriada. Apesar disso, todos já tiveram o mau hábito, mas hoje agem de maneira di-ferente: buscam a lixeira. Além da comodidade, que não se jus-tifica, surge a hipótese da falta de consciência. Nayara acredita que as pessoas sempre jogarão lixo no chão. Em contraponto, Camila afirma que temos que nos conscientizar e que o certo é jogar lixo no lixo.

Percebe-se que os jovens tendem a ter a mesma opinião: acreditam ser errado, mas já praticaram. A preguiça e a co-

modidade são os vilões. Qual seria a opinião dos mais velhos?

Vilmar Rosa, 41 anos, é aca-dêmico de Direito e nos conta que, às vezes, acaba jogando lixo fora da lixeira por não ha-ver uma de fácil acesso. “Algu-mas vezes joguei lixo fora da lixeira. Talvez por não haver uma por perto”, comenta.

Sobre a limpezaA Unifra possui lixeiras em

todas as suas salas, corredores, cantina e também nos pátios. Dona Geni Rosa, que atua na limpeza do Conjunto III da ins-tituição há 26 anos, relata que a medida foi uma exigência de alunos e professores, porém a maior parte não as utiliza. “Al-guns colaboram, a maioria não

colabora”, reclama. A consciência ambiental é

um assunto recorrente, desen-volvido desde as séries iniciais, então se espera dos jovens uma atitude consciente. No entanto, Geni percebe que muitos da-queles que frequentam a Uni-fra sujam de propósito. “Pouco depois de realizar a limpeza, já está tudo sujo. Não é que não se queira limpar, mas podiam agir de maneira diferente”.

Dona Geni é enfática: não adianta que os professores peçam para evitar a sujeira, ou que a administração tente alguma abordagem, a solu-ção está em conscientizar. Ela acredita nisso porque já viu casos semelhantes a este: em um grupo de colegas, um deles

NATHALIA RUVIARO

A desculpa não pode ser a falta de lixeiras, elas estão lá!

Dona Geni - trabalha há 26 anos na limpeza da Unifra

jogou algo no chão. Outro cha-mou a sua atenção, ele pegou o que havia jogado e o jogou no lixo dessa vez. Nesse caso, um colega auxilia o outro e os dois trabalham em prol de uma causa interessante, que é a do meio ambiente.

A situação nas ruasParte de nossa enquete so-

bre o descarte incorreto do lixo foi elaborada nas ruas de Santa Maria. Entre os entrevistados, três adolescentes permitem concluir sobre a forte influência da campanha ecológica feita nas escolas. Ao escutar os jovens fa-zerem suas declarações, fomos remetidos ao nosso tempo de escola. Em plenos anos 90 já existiam campanhas persisten-tes de preocupação e cuidado com o meio ambiente. É grati-ficante ver adolescentes com uma consciência ambiental ati-va e que conseguem pensar não só em si, mas em um todo.

A estudante Jessica acredi-ta que jogar lixo no chão é um hábito que se criou na socieda-de, mas passível de mudança e, para ela, essa educação vem da escola e, principalmente, de casa. Já para Osvaldo, acadêmi-co de Fisioterapia, a preguiça de se locomover até uma lixei-

Camila, acadêmica de Fisioterapia

Secretário Luiz Alberto fala sobre as iniciativas da prefeitura

É isso que tentamos descobrir

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15Novembro de 2012DESTINAÇÃO DO LIXO

ra fez com que algumas vezes descartasse resíduos no chão. Hoje ele repensa o ato e acha que a visão dos amigos pode influenciar para um comporta-mento inadequado como este. Por último, conversamos com Felipe, 16 anos, estudante que acha uma total falta de respeito com os cidadãos e com a socie-dade jogar lixo no chão, e como ele mesmo diz: “Quem joga lixo no chão não tem direito a re-clamar do serviço público”.

Além da voz dos jovens, es-colhemos o depoimento de uma senhora de 58 anos que, em sua simpatia, declara atu-almente ter consciência do problema de jogar lixo no chão, mas dona Lúcia confessa que na adolescência, por preguiça e falta de conhecimento, come-teu o ato. A diarista também afirma que hoje acha errado descartar resíduos nas ruas, principalmente pelo fato de existir uma campanha pela ci-dade limpa e a implantação de mais de 300 contêineres no município.

A era da g l o b a l i z a ç ã o trouxe prós e contras para a sociedade, mas, com cer-teza, também uma educação mais civilizada. Baseada em exemplos reais para que haja compreensão do aluno em se preocupar com um espaço que não é só seu, como também é o futuro de nossas gerações.

Esforços para umacidade mais limpa

A consciência ambiental é algo recente para a sociedade. Nas últimas duas décadas a preocupação e o cuidado com o meio ambiente tomaram uma maior proporção e o des-carte correto do lixo já é algo natural para as novas gerações. Mas o fato que tira o sono de muitas pessoas preocupadas com a limpeza e organização da cidade é que, mesmo com toda a campanha antipoluição, a quantidade de resíduos nas ruas ainda é grande.

Segundo o secretário de Pro-teção Ambiental, Luiz Alberto Carvalho Jr, a educação ambien-tal é o fator mais importante para sanar o problema da po-luição na cidade de Santa Ma-ria e entre as ações de solução do Poder Executivo está o Pro-grama Integrado de Educação Ambiental (Pronfea) que tem como objetivo canalizar todos os esforços no mesmo sentido no que diz respeito a ações de sensibilização da população. O programa é composto por ONGs e instituições como a UFSM,

Unifra, entre outras entidades. Conta com um subprograma intitulado Rede de Educadores do Meio Ambiente (Remea) res-ponsável por instrumentalizar professores da rede municipal através de palestras e cursos para que dentro das disciplinas tradicionais eles busquem sen-sibilizar os seus alunos. Temas como vandalismo, resíduos e desmatamento são abordados diariamente.

Ainda de acordo com o se-cretário, a conscientização precisa acontecer desde o primeiro momento, a popula-ção precisa entender que uma boca de lobo faz parte de todo um percurso que desemboca em rios, riachos, córregos e que qualquer resíduo descar-tado ali contamina e entope os locais e o escoamento, acarre-tando uma lavagem de água e coliformes fecais nas ruas, con-taminando a todos nós.

Atualmente, as escolas pre-param seus alunos desde as séries ini-ciais para o que podemos chamar de uma vida mais eco-l o g i c a m e n t e correta o que já visa um cená-rio muito mais

positivo em relação às novas gerações e seus cuidados com o meio ambiente. Repensar as atitudes e preocupar-se com o futuro dos nossos descen-dentes e do planeta devem se tornar hábitos diários e são princípios de uma educação ecológica.

“Não moro aqui”Em reunião de pauta, foi

sugerida uma abordagem di-ferente quanto à educação ambiental. Que tal descobrir se há algum desapego em rela-ção à cidade por parte daque-les que vêm de fora para es-tudar? Algo como “não moro aqui, não me importo, então vou sujar”. Sendo assim, con-versamos com o Felipe Dias, 19 anos, de Bagé, e que estuda Direito; e Wagner Rossignolo, 21, que veio de Rosário do Sul para estudar Física Médica.

“Penso que não tem nada a ver essa situação. A gente vem para a cidade para estudar, en-tão ficamos aqui por anos. É nossa cidade também e a cui-daremos”, declara Rossignolo. Felipe concorda: “Tenho a mes-ma opinião que o Wagner. Não existe motivo para ter esse de-sapego. Talvez, por mau hábito, a gente acabe sujando, mas não por sermos de outra cidade”.

João Pedro Lamas Nathalia Ruviaro

Quem joga lixo no chão não tem direito a reclamar do serviço público

A ameaça dos resíduos sólidosCidade carece de uma coleta responsável e organizada de pilhas e baterias

Existem postos de recolhimento em empresas da cidade.

Santa Maria não tem mais uma empresa responsá-vel pelo recolhimento de

pilhas e baterias usadasMuitas vezes não levamos

a sério o perigo que represen-tam esses objetos presentes em praticamente todas as resi-dências. Pilhas ou baterias são usadas em aparelhos como rá-dios portáteis, telefones celu-lares, computadores, laptops, controles remotos e outros aparatos eletrônicos.

Em Santa Maria, uma rede de farmácias e uma de postos de gasolina fazem esse tipo de re-c o l h i m e n t o de material. As farmácias Reni reco-lhem também medicamen-tos vencidos, embalagens vazias, seringas, agulhas, pi-lhas e baterias usadas. “O cida-dão pode depositar nos coleto-res ecológicos instalados nas lojas. Os resíduos recolhidos são encaminhados a uma em-presa em Santa Cruz do Sul”, conta a diretora das farmácias Reni, Lourdes Zanini. Os pos-tos de combustíveis Santa Lú-cia também recebem os mate-riais descartados.

Segundo o secretário de Proteção Ambiental de Santa Maria, Luiz Alberto Carvalho

Junior, o grande problema das pilhas é o mercúrio, que é um metal pesado. Quando a pilha é descartada em local inade-quado penetra no solo, onde a população acaba consumindo a substância. “Quando o mer-cúrio entra no organismo, ele não sai nunca mais, não sai nas fezes nem na urina e nem no suor, causando uma série de enfermidades que não têm cura”, afirma o secretário.

Carvalho Junior ressalta a importância da destinação adequada, baseado na Política

Nacional de Re-síduos Sólidos, que trata da lo-gística reversa, que vem a ser a obrigação de quem produz esse material dar um destino adequado. “Nos-so problema é

que a maioria dessas empre-sas não cumpre a lei”. Lei que existe desde agosto de 2010 e levou 20 anos para ser aprova-da no Congresso Nacional. Pelo fato de ser recente, traz um prazo de quatro anos para em-presas e poderes públicos se adequarem às novas normas.

O professor de Direito e es-pecialista no assunto, Márcio de Souza Bernardes, fala da re-levância do assunto. “É uma lei de fundamental importância. O problema do lixo é um dos

principais que enfrentamos, tanto no país como no exte-rior, inclusive com problemas de exportação de lixo dos paí-ses ricos para países pobres”. E acrescenta um dos problemas que a lei enfrenta: “Vivemos numa sociedade capitalista de-terminada pelo consumo e isso é um grave problema e um sério entrave para avanços ambien-tais. Nisso, entendo que a lei peca em certa medida. Embora enfrente a situação do consu-midor, parece não enfrentar o marketing desenfreado”.

Em Santa Maria não existe uma empresa que recolha es-tes materiais de maneira ade-quada. A GR2 fazia este ser-viço, mas interrompeu-o em março deste ano, alegando que não tinha efetivo para a ativi-dade. A Químea é outra empre-sa que recebe materiais eletrô-nicos, menos pilhas, baterias e lâmpadas. “Trabalhamos com resíduos eletrônicos, sim, po-rém não recebemos e também não coletamos este material”, afirma Alessander Pavanello. Ele ressalta que a empresa não possui licença para este tipo de operação. A cidade carece de uma coleta responsável e ainda depende da boa vontade e consciência do cidadão em levar os materiais em pontos específicos.

Renan Maurmann Lucas Gonzalez

Um dos principais problemas que enfrentamos hoje é o do lixo.

GUILHERME BENADUCE

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra 15ª edição - Novembro de 2012

Elas provocam revolta e indignação nas pesso-as e são consideradas

atos de vandalismo e crime ambiental. São encontradas em paredes, garagens, monu-mentos, lixeiras e orelhões. Estas manifestações urbanas com implicação ambiental chamam-se pichações.

Podem servir como formas de expressão ou depredação sem motivo. Em Santa Maria, por onde se passa, elas são avistadas nos mais diversos lugares. Um espaço que sofreu esta ação foi o mural na pa-rede dos fundos da Biblioteca Pública de Santa Maria. A obra retrata a avenida Rio Branco na década de 50. A pintura foi feita por Eduardo Kobra, do Rio de Janeiro. Mas no início do mês de setembro, o painel de 23 metros de comprimento foi pichado.

Na opinião da diretora da Biblioteca Pública Municipal, Rosângela Rechia, a atitude destas pessoas seria uma ma-neira errada de se expressar. Ela afirma que a prefeitura instalará câmeras de vigilân-cia no entorno do prédio, para coibir a ação dos vândalos. A Lei dos Crimes Ambientais (9.605/98), em seu artigo 65, dispõe que pichar grafitar ou, por outro meio, manchar ou sujar edificação ou monumen-to urbano é crime, tendo como pena prevista detenção de três meses a um ano, além de mul-ta. Se o pichador for pego em flagrante, seja ele adolescente ou maior de idade, será con-duzido à unidade policial mais próxima e autuado pela práti-ca de crime de pichação.

Guarda e a preservação Uma forma que a Prefeitura

encontrou para combater os atos de pichação foi a atuação da Guarda Municipal. A corpo-ração conta com 116 guardas, sendo que 45 atuam na prote-ção de patrimônios públicos, como praças, escolas e postos de saúde. A Guarda atua em parceria com a Brigada Militar e Polícia Civil.

O diretor superintenden-te da Guarda Municipal, Luiz Oneide Martins, ao ser ques-tionado como o grupo atua em

relação às pichações, afirma que cada caso tem um crité-rio, e completa: “Durante o dia atende de dois a três casos, tendo êxito na maioria deles e leva para cadeia os infratores”.Martins enfatiza que a maioria das pichações estão concen-tradas no centro da cidade.

Em Santa Maria as medidas adotadas em relação aos me-nores infratores são as ativi-dades socioeducativas. Neste caso, de forma pedagógica, os jovens participam de curso de capacitação em grafitagem e reparação de danos, que in-clui grupos de reflexão, téc-nica do grafite e práticas em espaços públicos da cidade, como forma de transformar a desordem em arte. O progra-ma é realizado pelo Centro de Defesa dos Direitos da Crian-ça e do Adolescente de Santa Maria (Cededica/SM), com a parceria do Ministério Público, Poder Judiciário, Polícia Civil e Programa de Execução das Medidas Socioeducativas em Meio Aberto (Pensema).

Uma das punições para o pichador é reparar o dano e este trabalho é supervisionado pela Promotoria Pública. Mar-tins diz: “Os pichadores fazem grande estrago na cidade por-que os moradores arrumam e pintam com grande sacrifício suas casas, e da noite para o dia, as paredes aparecem todas borradas. Estes ‘artistas’ deve-

riam colocar-se no lugar dos proprietários dos imóveis”.

Para o secretário de Prote-ção Ambiental, Luiz Alberto Carvalho Júnior, um dos cami-nhos para combater as picha-ções e outras formas de polui-ção na cidade seria através da educação ambiental. Com isso foi criado o Programa Munici-pal de Formação em Educação Ambiental (Promfea). “É uma lei que foi criada com a fina-lidade de canalizar todos os esforços no que diz respeito a ações de sensibilizar a popula-ção em relação à educação am-biental”, explica o secretário.

O programa conta com en-tidades como ONGs, UFSM, Unifra e é coordenado pela Pre-feitura e pelas secretarias de Educação e Proteção Ambiental

A arte de grafitarMas há outro tipo de arte

que pode ser visto na cidade.

E esta, sim, pode receber esse título. É a grafitagem.

O grafite possui uma ela-boração maior. Ele trabalha com inscrições ou desenhos feitos com técnicas próprias da arte e utiliza uma varie-dade de materiais para ser produzido, como sprays, giz, latas de tinta e estêncil. As suas obras abordam questões sociais e políticas.

Esta manifestação artística surgiu nas ruas de Nova York, onde possui uma forte ligação com o hip-hop. Migrou para a Europa na década de 60, usa-da como uma ferramenta por aqueles que não concorda-vam com as normas tradicio-nais da sociedade. Chegou ao Brasil nos anos 70, utilizada como uma arma contra o re-gime militar.

Em Santa Maria, demons-trações dessa arte podem ser encontradas em contêineres

de lixo no calçadão, nos muros do colégio Olavo Bilac e em ta-pumes de uma construção ao lado da Corsan, por exemplo.

O letrista e grafiteiro Éri-co Nunes do Carmo, que trabalha com aerografia há 22 anos, considera o grafite como uma expressão artísti-ca. Para ele a profissão sofreu uma grande transformação de como era vista. “Antiga-mente era algo marginaliza-do, não éramos grafiteiros, éramos pichadores. Hoje em dia, as pessoas dão mais valor à arte, e à evolução dos grafi-teiros”, conta o artista.

Foi Érico que pintou o ta-pume ao lado da Corsan. A pintura é uma homenagem à cidade e nela está ilustrada a locomotiva da avenida Presi-dente Vargas, o planetário da UFSM e o Santuário de Nossa Senhora Medianeira.

Existe um programa de in-centivo ao grafite que a Secre-taria de Cultura criou para que os grafiteiros tenham onde ex-por a sua arte. Exemplo disso é a Gare da Viação Férrea. Para quem vai grafitar ou pichar, lembre-se: é necessário ter co-nhecimento das leis ambientais do município, pois estas mani-festações podem dar prejuízos muito maiores do que apenas sujar as mãos de tinta.

João David Martins Rodrigo Marques de Bem

Pichação e grafitagem confrontam-se nas paredes de Santa Maria

Exemplo de arte nas lixeiras

FOTOS:RODRIGO DE BEM

Riscos e rabiscos em debateConheça os estragos feitos pela pichação e o que a difere da grafitagem