houve redução do impacto da indústria na economia brasileira no período 1996-2009? uma análise...

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  • 7/24/2019 Houve reduo do impacto da indstria na economia brasileira no perodo 1996-2009? Uma anlise das matrizes insumo-produto

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    Introduo

    H uma tradio econmica que destaca o papel da indstria como o motordo desenvolvimento de uma nao (Kaldor, 1978, Young, 1928, Rosenstein-Rodan,1957, Hirschman, 1958). Essa tradio fundamenta a importncia da indstria nasexternalidades que esta pode gerar para os outros setores e, consequentemente, sopatronos entusiastas de polticas econmicas que privilegiem a indstria para se

    alcanar o crescimento econmico de longo prazo. Mais especificamente,Hirschman argumenta que os encadeamentos para frente e para trs tm um papelcentral na defesa desta caracterstica nica da indstria.

    Preocupados com as consequncias de uma perda de capacidade da indstriade induzir crescimento, alguns acadmicos e pesquisadores tm argumentado que oBrasil est passando por um processo de desindustrializao. De acordo com estavertente da literatura, a desindustrializao da economia brasileira comeou nos anos1980, depois que o pas terminou o ciclo de implementao da indstria pesada. Esseprocesso se aprofundou com as reformas do Consenso de Washington nos anos 1990e continuou a se desenrolar por conta da valorizao cambial recente (IEDI, 2005,2007; Oreiro; Feij 2010). H, entretanto, autores que argumentam que h escassaevidncia de ocorrncia de um processo de desindustrializao (Nassif, 2008) e que

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    crescimento do produto total (ii) a existncia de uma relao positiva entre ocrescimento da produtividade do trabalho da economia e o crescimento do produtoindustrial (lei de Kaldor-Verdoorn); e (iii) relao positiva entre a taxa decrescimento do produto industrial e a taxa de crescimento da produtividade nosdemais setores da economia.

    Estas leis, formuladas a partir de anlise emprica, apontam para ganhos de

    produtividade inerentes atividade industrial. Estes ganhos de produtividade estorelacionados existncia de economias de escala, estticas e dinmicas, pensadascomo um fenmeno macro, como formulado por Kaldor (1978) e Young (1928).Para estes autores, tais economias no podem ser discriminadas adequadamenteobservando variaes no tamanho de firmas individuais ou de setores industriais,porque podem ser originadas de externalidades e de spill-oversde outros setores.

    Caso as economias de escala tenham cessado em um determinado setor, este pode sebeneficiar da expanso da produo nos demais setores da economia.

    Sob esta perspectiva, o crescimento econmico passa a ser visto como umprocesso de causalidade cumulativa em que os ganhos de produtividade e a expansodo produto se retroalimentam. Tal mecanismo seria exclusivo da indstria e, emparticular, da indstria de transformao. Indo alm, podemos afirmar que tal

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    produo interna de seus insumos incentivada. O forward linkage, por sua vez,pode ser descrito como um estmulo a prosseguir na cadeia produtiva. Hirschmandefende que a probabilidade de que esse estmulo resulte de fato em investimentodepende da importncia que o produto do setor que cresce tem sobre o setor a serencadeado.

    Portanto, setores que se encontram na base da cadeia produtiva, como

    agricultura e extrativismo, tero baixo poder de encadeamento para trs, mas poderopossuir encadeamentos para frente1.1Setores produtores de bens finais, por sua vez,apresentaro alto backward linkagee baixoforward linkages. No caso das atividadesindustriais que se encontram no meio da cadeia, os incentivos tanto para trs quantopara frente devem ser altos.

    Ao longo de um processo de industrializao, os entroncamentos entre asatividades devem aumentar.Backwardeforward linkages crescem de acordo com onvel de industrializao, pois ocorre um efeito multiplicador intersetorial. medidaque um setor cresce, seus encadeamentos so responsveis por incentivos aoinvestimento nas atividades produtivas conexas.

    A partir dessa anlise, Hirschman considera que um processo de

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    importncia relativa de algumas atividades como, por exemplo, telecomunicaes(ver Nassif, 2013). A terceira linha de ponderao a localizao de distintas etapasprodutivas no mbito das cadeias globais de valor. Nesse caso, porm, o foco estariana mudana do entendimento do papel dos encadeamentos na diviso internacionaldo trabalho.

    O debate sobre desindustrializao e suas controvrsias

    Seguindo a ideia de Rowthorn e Ramaswany (1997 e 1999), podemosseparar os fatores causadores de desindustrializao entre internos ou externos e,ainda entre estes, distinguir se so fatores que atuam pelo lado da oferta ou pelo ladoda demanda. Como bem apontam Rowthorn e Wells (1987), nem todo processo dedesindustrializao necessariamente algo negativo, significando o fracasso da

    indstria. Ele pode ser o alcance da maturidade de uma economia desenvolvida ou,ainda, a especializao da economia em algum outro setor.

    Dos fatores internos, que atuam pelo lado demanda, temos aquelesprimeiramente apontados por Colin Clark, ainda nos anos 1950. Para Clark (1957),o processo de desenvolvimento de um pas seria marcado primeiramente por umaumento da participao do setor industrial, ao custo de uma reduo da participao

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    conduzido por fatores de oferta. Este tipo de anlise foi posteriormente melhordesenvolvido por outros autores, como Rowthorn e Wells (1987).

    Outros estudos, no entanto, apontaram fatores ligados ao comrcio exterior.Sachs e Schatz (1994) e Saeger (1996) apontam para o crescimento do comrcionorte-sul. Os pases desenvolvidos importariam bens manufaturados intensivos emtrabalho dos pases em desenvolvimento, o que deslocaria a produo dos pases

    desenvolvidos em direo a bens menos intensivos em mo de obra. Ainda poderiahaver o caso de doena holandesa, como indica Palma (2005), no qual a descobertade um recurso natural com elevados preos e demanda no mercado internacionalcausaria uma profunda valorizao cambial, que tornaria o pas no competitivo emtodos os outros setores produtores de tradables, levando a uma especializao daeconomia no setor produtor de commodities.

    O debate atual sobre desindustrializao em pases em desenvolvimento, emgeral, e no Brasil, em particular, concede a este fenmeno um carter eminentementenegativo2.2Palma (2005) analisa a relao na forma de U invertido entre rendapercapitae mo de obra empregada na indstria. O que chama ateno do autor, quea desindustrializao estaria acontecendo a nveis de renda per capitacada vez maisbaixos. As economias estariam perdendo o motor do desenvolvimento econmico

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    preos de commodities causadas, em grande parte, pela demanda chinesa. Ossintomas seriam, alm da sobreapreciao cambial, baixo crescimento da indstriamanufatureira, crescimento do setor tercirio e desemprego, caracterizando umadesindustrializao prematura.

    Nassif (2008) parte da anlise da produtividade do trabalho na indstria e dopeso da indstria de transformao no produto. Deste ponto de vista, discorda das

    interpretaes que apontam para a ocorrncia de desindustrializao, pois o setorindustrial teria conseguido manter sua participao no produto total durante os anos1990. Localiza alguma reduo neste indicador nos anos 1980, antes das reformasestruturais dos anos 1990, indo, portanto, de encontro abordagem dadesindustrializao via doena holandesa, como definida por Palma (2005) eBresser-Pereira (2008). Alm disso, analisando a partir dos dados da Pesquisa

    Industrial Anual (PIA) do IBGE, no se verificam mudanas relativas significativasnos setores industriais, exceto o de refino de petrleo.

    Nassif (2008), ademais, no corrobora a anlise de Laplane e Sarti (2006),de que haveria ocorrido ganhos substanciais de produtividade do trabalho naindstria nos anos 1990. Para estes autores, tais ganhos podem ser verificados a partirdo crescimento da produo fsica concomitante a uma queda (ou baixo crescimento,

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    econmico. IEDI (2007), no entanto, vai alm, afirmando que a desindustrializaoestaria se ampliando no Brasil, tendo como causa a poltica de juros elevados entopraticada, que inibia o investimento e o gasto pblico e valorizava o cmbio,reduzindo a competitividade das exportaes brasileiras e propiciando a substituiode produo domstica por importaes.

    Oreiro e Feij (2010) concordam com as exposies de que houve

    desindustrializao nas dcadas de 1980 e 1990, porm afirmam que este processoprosseguiu mesmo aps a mudana no regime cambial em 1999 (como sustenta IEDIem 2007, ao contrrio da sua posio em 2005). Chegam a essa concluso pelacomparao entre a taxa de crescimento do PIB e a taxa de crescimento do valoradicionado na indstria nos anos 2000. Verificaram que, sistematicamente, esta ficouabaixo daquela e, alm disso, este movimento foi contemporneo a uma significativa

    apreciao do cmbio real. Constatam tambm, como outros autores anteriormentecitados, que a indstria de transformao perdeu participao no PIB, medindo-se apreos constantes. Para explicar a origem desse processo, apoiam-se nas teses dePalma (2005) e Bresser-Pereira (2008) que apontam para ocorrncia de doenaholandesa.

    Percebe-se, assim, que o debate sobre o processo de desindustrializao no

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    podem ser interpretados como o aumento na produo da atividade quando h umaumento unitrio na demanda final de todos os setores da economia.

    SejaAa matriz dos coeficientes tcnicos diretos:

    !!!

    "

    #

    $$$

    %

    &

    =

    22,221,22

    22,11,1

    aa

    aa

    A

    !

    "#"

    !

    onde cada elemento aij o valor produzido no setor i e consumido pelo setor j para

    se produzir uma unidade monetria, representando um coeficiente tcnico direto deproduo do setor j.

    A matrizZ, por sua vez, a matriz de Leontief, ou matriz dos coeficientestcnicos diretos e indiretos:

    ( )!!!

    "

    #

    $$$

    %

    &

    ==

    22,221,22

    22,11,1

    1

    zz

    zz

    AIZ

    !

    "#"

    !

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    todos os setores. Se for maior que a unidade, o ndice mostra que, diante de umavariao na demanda final de todas as atividades econmicas, a produo do setoraumenta acima da mdia na economia. Tal fato indica uma dependncia do setoracima da mdia em relao produo de outros setores, uma vez que se destacacomo forte fornecedor de insumos.

    Seja Z* a mdia de todos os elementos da matriz de impactos diretos e

    indiretos, e no nmero de linhas e colunas da matriz, os ndices de Rasmussen-Hirchsman so calculados da seguinte forma:

    PDj =BLj n( )Z*

    e SDi =FLi n( )

    Z*

    3 Anlise emprica

    Uma das maneiras usuais de se mensurar a mudana estrutural e verificar aexistncia de desindustrializao por intermdio da anlise da evoluo daparticipao do valor adicionado e do emprego industriais no total da economia. Afigura 1 apresenta essas duas sries para a indstria de transformao para o perodode 1996 a 2009. Se algo pode ser extrado das duas sries a sua relativa estabilidade.

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    observao da srie de emprego apresenta ainda maior estabilidade. O incio da srieapresenta uma participao de 12,8% e o final de 12,7%. O valor mnimo alcanado de 11,6%, em 1998, e o mximo, 13%, em 2008. Essas duas sries nos conduzem,portanto, a pensar que a ocorrncia de desindustrializao pode ser verdadeira, mas anterior a 1996, conforme sugerido em IEDI (2005).

    Figura 1Evoluo da participao da indstria de transformao no valor adicionadoe no emprego da economia, Brasil, 1996-2009

    0,168 0,1670,157 0,161

    0,172 0,171 0,1690,180

    0,1920,181

    0,174 0,170 0,166 0,166

    0,128 0,1230,116 0,117 0,120 0,118 0,117 0,119

    0,122 0,128 0,125 0,1280,130 0,127

    0,050

    0,100

    0,150

    0,200

    0,250

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    contribuio. O argumento se baseia na ideia de que h um crescimento naimportao de bens intermedirios da indstria e que este crescimento causa umaperda de densidade dos encadeamentos setoriais, retirando parte do poder daindstria de gerar valor. A maior parte desta argumentao est baseada naobservao da razo entre valor adicionado e valor bruto da produo, apresentadana Figura 2. A perda de participao poderia indicar que produtos importados

    substituram produtos nacionais no consumo intermedirio e, portanto, o valoradicionado total da indstria pode ter se reduzido. Conforme apontado nessa figura,h uma reduo nessa razo ao longo do tempo, podendo, neste caso, caracterizaruma tendncia. Ainda que seja tentador explicar a queda da razo pelo crescimentodas importaes, os dados colhidos da matriz insumo-produto no parecemcontribuir para a tese. A figura 3 apresenta o ndice de penetrao das importaes

    para quatro anos. Certamente, as importaes devem ter representado um papelrelevante na reduo da razo entre valor adicionado e valor bruto da produo entre1996 e 2000, mas, a partir de ento, no h uma direo clara no indicador depenetrao das importaes.

    Figura 2Evoluo da razo valor adicionado/valor bruto da produo na indstria de transformao,

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    sculo, mais particularmente a partir de 2004, quando h uma acelerao nocrescimento dos preos das commodities. A segunda causa seria o deslocamento deatividades antes realizadas na indstria de transformao para os servios. Nestecaso, o fenmeno puramente contbil e pode ser conducente da desindustrializaosem representar fortes desequilbrios dinmicos para a economia. Este processo foiimportante durante a dcada de 90, mas no parece ter persistido posteriormente, de

    maneira que no explicaria a integralidade da srie. Os servios podem tambminfluenciar a reduo da razo valor adicionado-valor bruto da produo por umaterceira causa: mudana tecnolgica. Neste caso, o surgimento de novos serviosintermedirios pode incrementar o consumo intermedirio da indstria, alterando arazo, mas sem alterar o valor adicionado na economia brasileira como um todo. Defato, alguns autores entendem que uma importante razo para a identificao dedesindustrializao nos pases centrais a crescente incorporao de contedos deservios na produo de bens industriais (ver Gershuny, 1987; Rocha, 1992). Afigura 4 apresenta alguns dados que deixam perceber que h um forte crescimentodo consumo intermedirio de servios pela indstria entre 1996 e 2000. Esse ganhode participao dos servios no consumo intermedirio da indstria mantido aolongo do perodo. Tal fato aponta para um permanente aumento do encadeamentoindstria-servios.

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    Essas avaliaes clamam por uma anlise mais precisa dos efeitos sobre osencadeamentos da indstria na economia brasileira a partir de sua mensurao direta,conforme exposta na metodologia. Assim, se os defensores da tese dedesindustrializao a partir da rarefao dos encadeamentos industriais e da perda desua funo de motor da economia estiverem corretos, ser verificada uma reduodos encadeamentos ao longo do tempo.

    Figura 4Somatrio dos coeficientes tcnicos de consumo intermedirio de servios para os

    setores da indstria de transformao, Brasil, 1996, 2000, 2005 e 2009*

    0

    0,05

    0,1

    0,15

    0,2

    0,25

    0,3

    1996

    2000

    2005

    2009

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    Tabela 1Indicadores de poder de disperso e sensibilidade de disperso,

    Brasil, 1996, 2000, 2005, 2009*

    Poder de Disperso Sensibilidade de Disperso

    1996 2000 2005 2009 1996 2000 2005 2009

    Agropecuria 0.9083 0.9175 0.9753 0,9561 1.4261 1.1165 1.1696 1,1775

    Indstria extrativa mineral 0.9981 0.9838 1.012 1,0282 0.8204 0.9857 1.1195 1,0401

    No Metlicos 1.1296 1.118 1.095 1,1073 0.8293 0.7053 0.6976 0,7381

    Metal-Mecnica 1.1647 1.1056 1.1122 1,1094 1.6873 1.1838 1.2839 1,2538

    Eletro-Eletrnica eAutomotiva

    1.1317 1.0881 1.1952 1,1900 0.8569 0.8667 0.9238 0,9359

    Celulose, Papel e Grfica 1.2083 1.0487 1.0725 1,0598 0.981 0.9647 0.8612 0,8422

    Borracha e Plsticos 1.1118 1.2014 1.1731 1,1134 0.9373 0.8104 0.8059 0,7949Qumica 1.0729 1.1667 1.1553 1,1252 2.1619 2.0536 2.1604 1,9161

    Txtil 1.2253 1.0596 1.0463 1,0413 1.3021 0.9855 0.9558 0,9044

    Confeces 1.2156 1.0191 1.0456 1,0233 0.5531 0.5677 0.5483 0,5602

    Calados 1.2043 1.2631 1.2392 1,1383 0.6612 0.6864 0.6915 0,6611

    Alimentos e Fumo 1.3004 1.2808 1.3023 1,3223 0.9706 0.9441 0.9658 0,9512

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    caminhar na direo de segmentos mais da base. No entanto, no se pode afirmarcom isso que so de menor intensidade tecnolgica (hiptese no testada nestetrabalho). Uma possvel interpretao para essa mudana pode ser que o cenrio deabertura comercial vem organizando as economias nacionais de acordo com suadotao inicial de fatores. Assim, o pas passa a abandonar setores mais intensivosem mo de obra, em que tem desvantagens nas dotaes de fatores em comparao

    com o Sudeste Asitico e passa a se dirigir a setores mais intensivos em recursosnaturais, onde h vantagem em relao ao Sudeste Asitico (ver Perez, 2008).

    Quadro 1Identificao dos setores chave da economia brasileira: 1996, 2000, 2005, 2009*

    Setores chave em 96 Setores chave em 00 Setores chave em 05Setores chave em

    2009Indstria extrativa

    mineralIndstria extrativa

    mineral

    Metal-Mecnica Metal-Mecnica Metal-Mecnica Metal-Mecnica

    Qumica Qumica Qumica Qumica

    Txtil

    Transporte,

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    Tabela 2ndices de encadeamento a montante e a jusante,Brasil, 1996, 2000, 2005, 2009*

    Encadeamento a Montante Encadeamento a Jusante

    1996 2000 2005 2009 1996 2000 2005 2009

    Agropecuria 1.664 1.695 1.836 1,756 2.612 2.063 2.202 2,162

    Indstria extrativa mineral 1.828 1.818 1.905 1,888 1.503 1.821 2.107 1,910No Metlicos 2.069 2.066 2.061 2,033 1.519 1.303 1.313 1,355

    Metal-Mecnica 2.133 2.043 2.094 2,037 3.091 2.187 2.417 2,302

    Eletro-Eletrnica e Automotiva 2.073 2.011 2.250 2,185 1.569 1.601 1.739 1,719

    Celulose, Papel e Grfica 2.213 1.938 2.019 1,946 1.797 1.782 1.621 1,547

    Borracha e Plsticos 2.036 2.220 2.208 2,045 1.717 1.497 1.517 1,460

    Qumica 1.965 2.156 2.175 2,066 3.960 3.794 4.067 3,519

    Txtil 2.244 1.958 1.970 1,912 2.385 1.821 1.799 1,661

    Confeces 2.227 1.883 1.968 1,879 1.013 1.049 1.032 1,029

    Calados 2.206 2.334 2.333 2,090 1.211 1.268 1.302 1,214

    Alimentos e Fumo 2.382 2.367 2.451 2,428 1.778 1.744 1.818 1,747

    Outros 1.999 1.874 1.940 1,849 1.330 1.309 1.309 1,281

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    Apenas trs setores da indstria de transformao confeces, calados eeletro-eletrnica e automotiva incrementaram seus encadeamentos a jusante. Nessecaso, tambm, o resultado no consequncia de uma tendncia constante, mas deum decrscimo nos primeiros cinco anos, seguido de recuperao nos anos seguintes.

    Nassif (2013) utiliza uma agregao de 19 setores para analisar mudanasestruturais a partir de dados de insumo-produto. A Figura 2A (Anexo) apresenta

    quatro grficos de disperso desses 197setores nos quais cada um dos quadrantesrepresenta os grupos de setores classificados de acordo com a relevncia do poderde disperso, no eixo das abscissas, e da sensibilidade de disperso, no eixo dasordenadas. De acordo com Nassif (2013), o principal movimento que se percebe aoanalisar os grficos de 1996 e 2000 o aumento dos encadeamentos para frente desetores de servios, com a migrao de trs setores do terceiro quadrante para o

    segundo. Esse movimento vai ao encontro com o que observado na Figura 1A(Anexo). No perodo entre 1996 e 2000 houve um aumento do consumointermedirio de servios por outros setores, o que leva a um aumento dosencadeamentos para frente dos servios. Esse movimento pode ser atribudo aoprocesso de terceirizao. J a indstria apresenta uma perda de capacidade deinduzir crescimento nesse perodo, sobretudo com relao aos seus encadeamentos

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    tendncia vem chamando a ateno para a identificao de doenas e obstculos. ,no entanto, fundamental que haja uma identificao clara dos problemas para no seguiar a economia para caminhos equivocados.

    Este trabalho se props a realizar uma abordagem um pouco diferentedaquela que vem sendo alvo de contemplao pela bibliografia aqui resenhada. Oartigo utilizou, alm dos indicadores usuais, a abordagem de insumo-produto para

    mensurar e verificar a fora dinmica da indstria brasileira. Assim, a aplicao dosndices de Rasmussen-Hirschman no s complementa a caracterizao do processo,como qualifica o poder da indstria de induzir o crescimento.

    Algumas observaes podem ser extradas desta anlise no que se refere aoprocesso de mudana estrutural pelo qual vem passando a economia brasileira. Aprimeira que o argumento de que as importaes de produtos intermedirios estotornando os encadeamentos da indstria de transformao no Brasil mais rarefeitosno parece se sustentar como tendncia. Nos dados aqui levantados, o crescimentoda penetrao das importaes no Brasil foi algo que prevaleceu na dcada de 90,mas revertido em alguns setores ou estabilizado em outros pelo menos at 2009,quando os nossos dados de matrizes se encerram.

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    No perodo entre 2005 e 2009, uma queda dos encadeamentos nos setoresindustriais acompanhada por uma melhora dos setores de servio. A piora daindstria poderia estar associada s consequncias para a economia brasileira da criseinternacional e do fim do boom de commodities que explica, sobretudo, uma quedade demanda por produtos da indstria extrativa mineral que, por tratar-se de um dossetores chave no perodo, tem forte impacto sobre a economia.

    Ao mesmo tempo, o trabalho permitiu perceber um deslocamento do centrodinmico da indstria de alguns segmentos mais leves, como a indstria txtil, parasegmentos mais pesados, como a indstria extrativa e minerao. interessanteperceber que o ciclo de commodities baseado na minerao e seguido pela economiabrasileira nos anos mais recentes deu lugar a um fortalecimento dos encadeamentos.Fica, portanto, a sugesto de compreender por que esse fortalecimento est se dando

    e se possvel constituir um processo de aprendizado a partir dos segmentos de baseda indstria.

    Referncias bibliogrficas

    BAUMOL, W. Macroeconomics of unbalanced growth: the anatomy of an urbancrisis. The American Economic Review, Jun. 1967.

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    NASSIF, A. H evidncias de desindustrializao no Brasil? Revista de EconomiaPoltica, v. 28, n. 1, 2008.

    NASSIF, L. Mudana estrutural na economia brasileira de 1996 a 2009: uma anlisea partir das matrizes insumo-produto. Dissertao (Mestrado em Economia)Instituto de Economia, Universidade Federal do rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2013.

    OREIRO, J. L.; FEIJ, C. A. Desindustrializao: conceituao, causas, efeitos e o

    caso brasileiro. Revista de Economia Poltica, v. 30, n. 2 (118), p. 219-232, 2010.PALMA, J. G. Four sources of deindustrialization and a new concept of the Dutchdisease. In: OCAMPO, J. A. (Org.). Beyond reforms. Palo Alto: Stanford UniversityPress, 2005.

    PEREZ, C. A Vision for Latin America: a resource-based strategy for technologicaldynamism and social exclusion. CEPAL, 1998. Mimeografado.

    ROCHA, F. Produtividade do trabalho e mudana estrutural nas indstriasbrasileiras extrativa e de transformao, 1970-2001. Revista de Economia Poltica,v. 27, n. 2 (106), 2007.

    ________. Composio do crescimento dos servios na economia brasileira: umaanlise da matriz insumo-produto, 1985-1992. Econmica, v. 1 (2), 107-130, 1992.

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    Apndice

    Agregao com 22 setoresAgregao com 43

    setoresAgregao com 55

    setores

    Setoresprimrios

    Agropecuria 1 101 e 102Indstria extrativa mineral 2 e 3 201, 202 e 203

    IndstriadeTransfo

    rmao

    No Metlicos 4 319 e 320

    Metal-Mecnica 5 ao 8 321 ao 324

    Eletro-Eletrnica e Automotiva 10 ao 13325 ao 333 exceto

    329

    Celulose, Papel e Grfica 15 307 ao 308Borracha e Plsticos 16 e 21 318

    Qumica 17 ao 20 309 ao 317

    Txtil 22 303

    Confeces 23 304

    Calados 24 305

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