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1 HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA Kamila Duarte Martins Avaliação da Hiperglicemia Hospitalar - Proposta de Tratamento em Paciente Não-Crítico no Hospital Geral de Fortaleza Fortaleza 2017

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HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

Kamila Duarte Martins

Avaliação da Hiperglicemia Hospitalar - Proposta de Tratamento em

Paciente Não-Crítico no Hospital Geral de Fortaleza

Fortaleza

2017

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Kamila Duarte Martins

Avaliação da Hiperglicemia Hospitalar - Proposta de Tratamento em

Paciente Não-Crítico no Hospital Geral de Fortaleza

Projeto de monografia apresentado como requisito para o

término da Residência Médica em Endocrinologia no Hospital Geral

de Fortaleza – HGF

Orientadora: Dra Tânia Maria Bulcão Lousada Ferraz

Co-orientador: José Ítalo Soares Mota

FORTALEZA

2017

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais que sempre se esforçaram para me dar a melhor educação

possível, que sempre estiveram ao meu lado incentivando, acreditando no meu

potencial e vibrando com cada conquista.

À minha irmã, que sempre me fez acreditar que eu era capaz de alcançar

meus objetivos.

O sonho de ser endocrinologista, que começou no quinto semestre da

faculdade, hoje finalmente se torna realidade. Isso não seria possível sem o amor

e carinho de vocês.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus e Nossa Senhora de Fátima

por tamanha benção em minha vida. Hoje, mais do que nunca, vejo que tudo

acontece no tempo certo.

À Dra Tânia Maria Bulcão Lousada Ferraz, minha orientadora e Chefe do

Serviço de Endocrinologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), pelo carinho,

paciência e dedicação às suas residentes.

Ao Dr José Ítalo Soares Mota, meu co-orientador e Supervisor do

programa de Residência Médica de Endocrinologia do Hospital Geral de

Fortaleza (HGF), pelo exemplo de profissional íntegro, atencioso para com seus

pacientes e por ter ajudado na elaboração desse projeto.

À Dra Wládia Gomes de Paula, por sempre estar disposta a agregar

conhecimento às suas residentes.

Às minhas companheiras de residência que me ajudaram a vencer as

dificuldades do dia a dia e tornaram meus dias mais leves.

Às funcionárias do serviço de Endocrinologia do HGF pelo apoio

constante e aprendizado diário.

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NORMATIZAÇÃO ADOTADA

Esta monografia está de acordo com as seguintes normas:

Referências: Informação e Documentação - Referências - Elaboração.

Associação Brasileira de Normas Técnicas 6023, 2002.

Universidade de São Paulo. Informação - Documentação - Trabalhos

Acadêmicos - Apresentação. Associação Brasileira de Normas Técnicas

14724, 2011.

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SUMÁRIO

Lista de Abreviaturas e símbolos

Lista de Tabelas

Lista de Gráficos

1 INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------- 12

2 OBJETIVOS -------------------------------------------------------- 13

2.1 GERAL ------------------------------------------------------------ 13

2.2 ESPECÍFICO ---------------------------------------------------- 13

3 REVISÃO DE LITERATURA ----------------------------------- 14

4 METODOLOGIA --------------------------------------------------- 21

5 CONCLUSÃO ------------------------------------------------------ 24

6 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ------------------------------------25

7 APÊNDICES -------------------------------------------------------- 28

8 ANEXOS ------------------------------------------------------------- 36

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADA Associação Americana de Diabetes

ACE Associação Americana de Endocrinologistas

HbA1C Hemoglobina Glicada

UTI Unidade de Terapia Intensiva

AVC Acidente Vascular Cerebral

DPP-IV Inibidor da Dipeptidil Peptidase 4

JCEM Journal of Clinical Endocrinology e Metabolism

NPT Nutrição Parenteral Contínua

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Lista de Símbolos

% porcentagem

dL decilitro

g grama

mg miligrama

mg/dL miligrama por decilitro

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Lista de Fluxogramas

Fluxograma 1 – Diagnóstico de hiperglicemia hospitalar ----------------- 28

Fluxograma 2 – Monitorização da glicemia capilar ------------------------- 29

Fluxograma 3 – Tratamento da Hiperglicemia Hospitalar ---------------- 30

Fluxograma 4 – Conduta na alta hospitalar ---------------------------------- 31

Fluxograma 5 – Tratamento da hipoglicemia hospitalar ------------------ 32

Fluxograma 6 – Conduta no pré-operatório ---------------------------------- 33

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Lista de tabelas

Tabela 1 – Esquema de correção de insulina publicado no Consenso de

Hiperglicemia Hospitalar do JCEM --------------------------------------------------36

Tabela 2 – Esquema de correção proposto pelo protocolo -------------------37

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Lista de Gráficos

Gráfico 1 – Prevalência de Diabetes Mellitus nas diferentes causas de

internação ---------------------------------------------------------------------------------38

Gráfico 2 – Relação entre glicemia e mortalidade durante internação em um

grupo de pacientes com Infarto do miocárdio ----------------------------------- 39

Gráfico 3 – Mortalidade hospitalar em pacientes com normoglicemia, com

diabetes conhecido e com hiperglicemia recém diagnosticada ------------- 40

Gráfico 4 – Mudanças na glicemia em pacientes tratados com glargina mais

glulisina ( ) e esquema móvel ( ) ------------------------------------------------- 41

Gráfico 5 – Causas de Hiperglicemia de estresse ------------------------------ 42

Gráfico 6 – Hiperglicemia de estresse --------------------------------------------- 43

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1.INTRODUÇÃO

A hiperglicemia hospitalar é entendida como elevação glicêmica que

acontece dentro de um ambiente intra-hospitalar. É um problema bastante

frequente, porém pouco valorizado. Pode acometer três principais grupos de

pacientes: pacientes sabidamente diabéticos que apresentam descompensação

da doença no momento da internação; pacientes que não sabiam ter diabetes e

recebem o diagnóstico na internação e pacientes normoglicêmicos que

apresentam hiperglicemia secundária ao estresse apenas durante o

internamento, melhorando no momento da alta. 6,8

Estudos observacionais mostram que a hiperglicemia está presente em

32 a 38% dos pacientes não críticos admitidos em ambiente hospitalar, 41% dos

pacientes criticamente doentes com síndrome coronariana aguda e 80% dos

pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Nesses estudos, aproximadamente

um terço dos pacientes não críticos não sabiam ter diabetes antes da admissão

no hospital. 1,2,8

A hiperglicemia é um marcador independente de mortalidade em

pacientes internados.2,3 O descontrole glicêmico está associado com vários

desfechos indesejados como maior tempo de internação hospitalar, maior taxa

de infecções, insuficiência renal, insuficiência respiratória, piora da recuperação

funcional de pacientes com acidente vascular cerebral, maior taxa de admissão

em ambiente de terapia intensiva e maior custo para o sistema único de saúde.4

Vale ressaltar que esse impacto negativo é maior no grupo com hiperglicemia

sem diabetes prévio. 1,9,10

Acredita-se que todos os pacientes admitidos no hospital devam ser

questionados sobre o diagnóstico de diabetes. Aqueles previamente portadores

da doença devem ter o diagnóstico identificado no prontuário. É importante

ressaltar ainda que todos devem ser submetidos à uma medida de glicemia como

estratégia para identificar hiperglicemia hospitalar e fazer diagnóstico de

diabetes em pacientes que não sabiam ter a doença, dando oportunidade de

orientar tratamento adequado mesmo após a alta. 8

O tratamento da hiperglicemia pode ocasionar o surgimento da

hipoglicemia, condição que aumenta mortalidade especialmente em pacientes

idosos e que deve ser adequadamente prevenida e tratada. 8

Assim, a implantação de um protocolo de hiperglicemia hospitalar é

fundamental para reduzir a morbimortalidade dos pacientes e é uma

oportunidade de se diagnosticar o diabetes.7,8 Para garantir a efetividade do

protocolo é necessário treinamento adequado de uma equipe multidisciplinar. 3,9

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2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Propor protocolo para monitorização glicêmica e tratamento adequado da

hiperglicemia e hipoglicemia identificadas em ambiente hospitalar em pacientes

não críticos.

2.2 Específico

Padronizar valores de diagnóstico de hiperglicemia e hipoglicemia em

ambiente hospitalar; padronizar escalas de correção e prescrição de insulina no

hospital; descrever a importância de equipe multidisciplinar no manejo da

hiperglicemia e hipoglicemia hospitalar.

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3. REVISÃO DA LITERATURA

A prevalência do diabetes entre pacientes internados em ambiente

hospitalar é de 15 a 35% e aumenta com idade, gravidade da doença de base e

a presença de co-morbidades.18 O diabetes afeta 25% dos pacientes internados

por cardiopatia e 30% dos portadores de infecção. O número de internações de

diabéticos cresceu de 60 a 140% nos últimos dez anos em vários países,

inclusive no Brasil. 28 (gráfico 1)

Hiperglicemia hospitalar, independente da causa, está associada com

piores desfechos clínicos. O tratamento adequado se faz necessário e cada vez

mais estudos são realizados na tentativa de entender melhor essa condição.

Em 2006, a Associação Americana de Endocrinologistas (ACE) e a

Associação Americana de Diabetes (ADA) reuniram-se para mostrar a relevância

do tema hiperglicemia hospitalar e seu tratamento como medida de controle de

qualidade para o hospital. 9

Vários estudos observacionais descrevem uma forte associação entre

hiperglicemia e complicações hospitalares como maior tempo de permanência

hospitalar, maior taxa de infecções, maiores sequelas após alta, maior taxa de

internação na UTI, maior mortalidade a curto e longo prazo e maiores custos

para o hospital em pacientes não-críticos internados na enfermaria da cirurgia

ou clínica.5,8,9

Em análise prospectiva realizada em hospital geral no Paraná, pacientes

com hiperglicemia, independente do diagnóstico de diabetes, apresentaram

maior tempo de permanência hospitalar. Dos pacientes com hiperglicemia

persistente, 23,3% precisaram de transferência da enfermaria para UTI,

enquanto apenas 4,5% dos pacientes euglicêmicos foram transferidos. Menos

da metade dos pacientes que foram identificados com hiperglicemia foram

adequadamente tratados.16

Pacientes diabéticos apresentam risco absoluto 8% maior de apresentar

qualquer tipo de infecção quando comparado à população geral e a taxa de

hospitalização por diagnóstico de doença infecciosa é duas vezes maior com alta

mortalidade atribuída para doença infecciosa nestes pacientes. 29

Uma revisão sistemática sobre hiperglicemia em pacientes diabéticos e

não-diabéticos com diagnóstico de acidente vascular cerebral (AVC) foi realizada

em 2001. Esse estudo mostrou que pacientes com hiperglicemia, sem

diagnóstico de diabetes, que evoluíram com AVC isquêmico tinham maior taxa

de mortalidade à curto prazo e maior taxa de sequelas após alta hospitalar

quando comparados com pacientes com níveis glicêmicos normais. Uma das

explicações seria o fato da hiperglicemia ser diretamente tóxica para o cérebro

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com isquemia, determinando inclusive dano irreversível aos neurônios

localizados na área de penumbra, aumentando a extensão da lesão.30

Segundo o consenso de hiperglicemia hospitalar publicado pela

Endocrine Society em 2012, hiperglicemia hospitalar é definida como qualquer

valor de glicemia capilar acima de 140mg/dl durante a internação. Pode ocorrer

em pacientes sabidamente diabéticos, em pacientes que não sabiam ter

diabetes (recém diagnosticados) e naqueles com alguma doença aguda ou em

uso de medicações que promova a chamada hiperglicemia de estresse.8

Pacientes com hiperglicemia recém diagnosticada apresentam, de modo

geral, maior taxa de mortalidade e piores desfechos clínicos quando comparado

com pacientes com história prévia de diabetes ou com normoglicemia.1(Gráfico

3)

Diversas patologias podem levar à hiperglicemia de estresse. Isso ocorre

devido à elevação de hormônios contra-reguladores como catecolaminas,

hormônio do crescimento e cortisol que causam um aumento da resistência à

ação da insulina, aumentando a produção hepática de glicose.

A dificuldade de ação da insulina pode ser explicada por defeitos na

sinalização pós-receptor de insulina e uma diminuição na expressão de

receptores para glicose nas células, principalmente, do tecido muscular (GLUT-

4). Essa resistência insulínica resultante gera aumento de citocinas inflamatórias

e aumento da lipólise liberando ácidos graxos livres que determinam elevação

do estresse oxidativo, promovem aumento de substâncias trombogênicas,

dificultam cicatrização e pioram inflamação.6 (gráfico 5,6)

A hiperglicemia por estresse normalmente é reversível e pode ser

diferenciada dos pacientes com diabetes pelo valor da hemoglobina glicada

(HbA1C). Valores de HbA1C menores que 6,5% excluem diagnóstico de

diabetes. A solicitação da hemoglobina glicada para esses pacientes ajuda ainda

a identificar os pacientes que estão sob risco de desenvolver diabetes que

seriam aqueles com HbA1C entre 5,7 e 6,4%.8

A medida da HbA1C, idealmente realizada utilizando como método

cromatografia líquida, reconhecido pela ADA, é fundamental para manejo

adequado dos pacientes com hiperglicemia em ambiente hospitalar. Pode

apresentar algumas limitações como sua dosagem em pacientes com

hemoglobinopatias, em uso de salicilatos, pacientes em diálise, naqueles que

receberam transfusão sanguínea ou que apresentam deficiência de ferro. 8,19,22

Evidências mostram que todos os pacientes internados em ambiente

hospitalar deve realizar medida de glicemia capilar no momento da admissão, já

que até 50% dos diabéticos desconhecem o diagnóstico, 10% dos não diabéticos

apresentam hiperglicemia e, além disso, diabetes e hiperglicemia pioram

desfecho clínico dos pacientes.17

Aqueles sem diagnóstico prévio de diabetes, após uma primeira medida

de glicemia capilar acima de 140mg/dl, devem ser monitorizados com medidas

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de glicemia por 24-48hs. A presença de pelo menos duas medidas acima de

140mg/dl confirma diagnóstico de hiperglicemia hospitalar, devendo ser iniciado

tratamento e solicitado hemoglobina glicada para avaliar existência de diabetes

prévio.8

Para os pacientes com diagnóstico prévio de diabetes, orientar

monitorização glicêmica adequada, tratamento e dosagem de hemoglobina

glicada (se paciente não tiver realizado nos últimos três meses) para avaliar grau

de descompensação e ajudar no plano de alta.8,15

Monitorização glicêmica é fundamental para o controle da hiperglicemia

hospitalar. Pacientes que estão se alimentando adequadamente via oral devem

realizar medida de glicemia capilar antes das principais refeições e antes de

dormir. Se o paciente estiver de dieta zero ou com dieta enteral/parenteral,

devemos realizar glicemia capilar a cada 4-6h. É necessário ainda garantir um

controle de qualidade para os glicosímetros que devem apresentar uma

diferença máxima de 20% entre o valor da glicemia capilar e a glicemia real.7,8,15

O tratamento ideal para os pacientes não-críticos com hiperglicemia

hospitalar deve ser feito com administração de insulina subcutânea.

Antidiabéticos orais de preferência não devem ser utilizados durante a

internação.8

Drogas como sulfoniruléias podem causar hipoglicemia prolongada em

idosos e pacientes com insuficiência renal. Metformina deve ser evitada em

vários grupos de pacientes como aqueles com insuficiência cardíaca

descompensada, doença pulmonar obstrutiva crônica, pacientes sob risco de

desenvolver acidose lática ou dano renal após realização de exames de imagem

contrastados ou cirurgia. Tiazolinedionas podem levar semanas para determinar

seu efeito e não devem ser utilizadas em pacientes com insuficiência cardíaca

classe três e quatro, pacientes instáveis hemodinamicamente ou com disfunção

hepática.8,17

Inibidores do DPP-IV, drogas incretinomiméticas, são muito utilizadas

para tratamento de diabéticos tipo 2 à nível ambulatorial desde 2006.5 Devido

seu baixo potencial de causar hipoglicemia e sua boa tolerabilidade, são drogas

possíveis de serem usadas em ambiente hospitalar. Essa classe de drogas ajuda

a reduzir glicemia pós-prandial.

Em 2013, Umpierrez e col realizou um estudo randomizado prospectivo

para avaliar eficácia e segurança de Sitagliptina, representante dos inibidores do

DPP-IV, associada ou não à insulina basal no controle da hiperglicemia

hospitalar. O estudo foi realizado com pequena amostra de pacientes com

diagnóstico prévio de diabetes tipo 2. Os pacientes, para entrar no estudo, não

podiam usar altas doses de insulina em casa, não podiam fazer uso de corticóide

durante a internação e não poderiam apresentar taxa de filtração glomerular

menor que 30. Esse estudo mostrou que o uso de sitagliptina ou sitagliptina mais

insulina basal determina controle glicêmico semelhante ao esquema basal bolus

tanto em pacientes clínicos como cirúrgicos.11

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O clássico esquema móvel de insulina já foi considerado tratamento de

escolha em pacientes com diabetes em 1934. Ainda hoje, muitas instituições

utilizam esse esquema por sua praticidade e conveniência, no entanto, esquema

móvel apresenta como desvantagem o fato de não oferecer insulina de forma

fisiológica, levando a flutuações nos valores da glicemia. Apesar de ser descrito

há mais de 70 anos, hoje está bem estabelecido que o uso do esquema móvel

de insulina deve ser desencorajado da prática médica.12,14,20

O primeiro estudo prospectivo randomizado que comparou uso de

esquema móvel isolado versus insulina basal bolus em pacientes diabéticos não-

críticos internados foi feito por Umpierrez e col em 2007 (Rabbit 2 Trial). Esse

estudo mostrou melhor controle glicêmico com esquema basal bolus quando

comparado com esquema móvel, com taxas semelhantes de hipoglicemia entre

os grupos. O artigo reforça a idéia de que o esquema móvel não previne o

surgimento de hiperglicemia. Esse estudo apresenta como limitação o fato de

não ter avaliado pacientes com hiperglicemia sem história prévia de diabetes e

não ter demonstrado dados com relevância estatística sobre mortalidade entre

os grupos.13 (gráfico 4)

O consenso de hiperglicemia hospitalar publicado pelo JCEM, dá um

exemplo de como iniciar insulinoterapia para pacientes diabéticos internados.

Para aqueles com 70 anos ou mais e taxa de filtração glomerular menor que 30,

começar 0,2 a 0,3ui/kg de insulina. Para aqueles sem as restrições anteriores,

com glicemia entre 140-200mg/dl, deve-se iniciar 0,4ui/kg. Para pacientes com

glicemia de 201-400mg/dl, iniciar 0,5ui/kg de insulina subcutânea. Para todos os

pacientes, dividir a dose total em aproximadamente 50% de insulina basal e 50%

de insulina rápida ou ultra-rápida. Adicionar ao esquema basal bolus, dose de

insulina de correção antes das refeições e antes de dormir de acordo com tabela

1. Se paciente está com glicemias pré-prandiais acima de 140mg/dl na ausência

de hipoglicemia, deve-se avançar na escala de correção. Se paciente fizer

hipoglicemia, glicemia menor que 70mg/dl, retroceder na escala de correção.8

Para pacientes não-críticos com pouca ingesta via oral ou que estão de

dieta zero, o esquema ideal, segundo a Associação Americana de Diabetes,

seria insulina basal ou basal mais correção com insulina rápida ou ultra-rápida a

cada 4-6h.19,22

Segundo o consenso americano de hiperglicemia, deve-se manter

glicemias pré-prandias menores que 140mg/dl e aleatórias menores que

180mg/dl. Alvos mais restritos podem ser estabelecidos em pacientes estáveis

desde que não haja o surgimento de hipoglicemia. Em pacientes com doença

em estágio terminal ou com alto risco de hipoglicemia, como pacientes com

várias co-morbidades, o ideal é manter glicemias abaixo de 200mg/dl.8,19

Destaca-se o manejo adequado da hiperglicemia durante pré-operatório

como parte de um protocolo de hiperglicemia hospitalar. O alvo de glicemia

desejado para esses pacientes seria de 80-180mg/dl.17

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18

Para os pacientes cirúrgicos, é fundamental suspender metformina nas

24hs que antecedem a cirurgia, suspender outros antidiabéticos orais no dia da

cirurgia e, naqueles em uso de insulina, fazer metade da dose da NPH na manhã

da cirurgia ou 60-80% da dose da insulina de longa ação. Monitorizar glicemia

capilar a cada 4-6h, deixar aporte de glicose IV (2g/kg/dia de glicose) e fazer

dose de correção se necessário.17

O controle glicêmico no período peri-operatório é importante pois reduz o

número de complicações no pós-operatório como infecções de ferida

operatória.21

Duas condições que merecem ser destacadas seria o uso de

glicocorticóide e dieta enteral/parenteral determinando hiperglicemia hospitalar.

A hiperglicemia apresenta uma prevalência de 20-50% entre os pacientes

em uso de glicocorticóide sem história prévia de diabetes. 26 Essa elevação na

glicemia é determinada por um aumento da produção hepática de glicose

associada a uma diminuição da sua captação periférica. Ocorre ainda aumento

do catabolismo de proteínas gerando substrato para gliconeogênese.

A glicemia capilar dos pacientes que farão tratamento com corticóide,

independente de história prévia de diabetes, deve ser monitorizada por pelo

menos 24-48hs. Aqueles com mais de duas glicemias acima de 140mg/dl devem

iniciar tratamento com insulina.8

Glicocorticóides como prednisona e prednisolona determinam elevação

da glicemia após 4-8hs da sua administração com duração de cerca de 12 a

16hs. A insulina NPH, que tem pico de ação com 6 a 7hs e duração efetiva de

13hs, parece ser a melhor opção de tratamento para os pacientes recebendo

esses dois tipos de corticóide (de preferência administrar a insulina próximo da

tomada do corticóide). Já a Dexametasona é um corticóide de meia-vida longa.

Pacientes em uso desse glicocorticóide devem ser tratados preferencialmente

com múltiplas doses de insulina NPH ou insulina de ação lenta.19,27

Outro grupo de pacientes sob risco de desenvolver hiperglicemia seria

pacientes em uso de nutrição enteral ou parenteral. Por isso, é necessário

monitorizar esses pacientes com medidas de glicemia capilar por pelo menos

24-48hs. Aqueles que apresentarem 2 ou mais glicemias acima de 140mg/dl,

independente de ter diagnóstico de diabetes, devem iniciar tratamento adequado

com insulina subcutânea.28,32

Para os pacientes com nutrição enteral contínua deve-se continuar a dose

de insulina basal que o paciente já vinha fazendo ou, se não houver uso prévio

de insulina, considerar 5UI de NPH/detemir duas vezes por dia ou 10UI de

insulina glargina uma vez ao dia. Deixar 1UI de insulina bolus para cada 10-15g

de carboidrato dividido a cada 4-6h a depender do tipo de insulina e realizar o

esquema de correção se necessário.19

Nos pacientes com nutrição enteral em bolus, devemos também manter a

dose de insulina basal prévia ou iniciar na mesma dose utilizada para nutrição

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19

enteral contínua. Fazer insulina rápida ou ultra-rápida na dose de 1ui para cada

10-15g de carboidrato antes de cada alimentação e correção.19

Em caso de dieta via parenteral (NPT), existe recomendação de deixar

insulina regular no frasco da NPT na dose de 1UI para cada 10g de carboidrato

presente na formulação mais dose de correção a cada 4-6h.19

Todo protocolo de hiperglicemia deve contemplar a abordagem da

hipoglicemia. Para muitos autores, hipoglicemia é definida como valor de

glicemia abaixo de 70mg/dl. Abaixo de 40mg/dl falamos em hipoglicemia grave,

apesar da alteração do nível de consciência já acontecer em níveis menores que

50mg/dl. Recentemente, a ADA 2017 colocou como definição de hipoglicemia

uma glicemia menor que 54mg/dl e hipoglicemia grave qualquer valor de glicemia

que determine alteração no nível de consciência do paciente. Valores abaixo de

70mg/dl devem alertar o médico a rever o tratamento de cada paciente com o

objetivo de evitar o surgimento de hipoglicemia severa.19

A hipoglicemia tem alguns fatores de risco como severidade da doença

de base (sepse grave, por exemplo), insuficiência renal, uso de insulina, redução

abrupta da dose de corticóide, jejum prolongado, idade.23 É uma condição que

aumenta a mortalidade de pacientes internados e determina maior tempo de

internação quando comparado com pacientes que não tiveram

hipoglicemia.23,24,25

É importante saber reconhecer os sintomas de hipoglicemia que podem

ser representados por sintomas adrenérgicos como fome, sudorese, taquicardia,

ansiedade, tremor, irritabilidade e sintomas neuroglicopênicos como dificuldade

de concentração, confusão mental, tontura, sonolência, pesadelos, convulsão e

coma. A equipe de enfermagem deve estar ciente desses possíveis sintomas

para realizar medida de glicemia capilar se necessário.8,31

Diante de um paciente com hipoglicemia, deve-se inicialmente avaliar o

nível de consciência. Pacientes alertas e com nível de glicemia entre 50 –

70mg/dl devem fazer reposição de 15-20g de glicose de preferência com

carboidrato de rápida absorção e na forma líquida como, por exemplo, 200ml de

suco de laranja, 01 sachê de gli instan, 01 colher de sopa de mel. Naqueles

pacientes alertas, com glicemia entre 50-70mg/dl, que estão de dieta zero ou

impossibilitados de se alimentar via oral, fazer 30ml de glicose 50% IV.8,15

Nos pacientes com alteração do nível da consciência e hipoglicemia, fazer

20-30g de carboidrato na forma de glicose 50% (04 a 06 FA) IV. Se paciente não

tiver acesso periférico, fazer Glucagon 1mg via IM, máximo duas doses. 15

Os pacientes com hipoglicemia devem reavaliar a glicemia capilar até que

a glicemia esteja próxima de 100mg/dl.8

Após identificar o paciente com hiperglicemia, determinar sua causa

(diabetes ou hiperglicemia secundária ao estresse) e tratá-la de forma adequada,

chega um momento crítico: a transição do hospital para casa.

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Nesse momento, a hemoglobina glicada pode ser utilizada como uma

ferramenta para auxiliar na escolha da melhor conduta. Pacientes com HbA1C

menor que 7% devem reiniciar tratamento ambulatorial prévio (seja com ADO ou

com insulina); valores entre 7-9% deve indicar o início de 2 antidiabéticos orais

ou, se já em uso, associar insulina ao deitar; HbA1C maior que 9% deve orientar

a manutenção de 70% da dose total de insulina utilizada na internação e

reintroduzir ADO. Fazer a receita de forma que o paciente entenda as doses

corretas e os horários de aplicação da insulina e tomada dos antidiabéticos

orais.15,17

A enfermagem deve contribuir ensinando a forma correta de aplicar a

insulina, sempre estimulando o rodízio de aplicações e dando orientações sobre

monitorização glicêmica em casa. Médicos devem alertar sobre a possibilidade

de hipoglicemia e como revertê-la, além de orientar sobre sinais e sintomas de

hiperglicemia. A nutrição idealmente deve fazer um plano alimentar

individualizado para cada paciente, com noções gerais de dieta para diabético.8

A implantação de um protocolo de hiperglicemia hospitalar tem como

principais objetivos: padronizar os valores do diagnóstico de hiperglicemia e

hipoglicemia hospitalar; padronizar as escalas de correção e as prescrições de

insulina no hospital; implantar um protocolo rápido e eficaz de prevenção e

tratamento da hipoglicemia; desenvolver treinamentos de capacitação dos

profissionais assistenciais e disponibilizar educação sobre diabetes ao paciente

internado. Sua implantação reflete controle de qualidade e menores custos para

o hospital, daí a importância sobre o tema. 3,8,4

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4. METODOLOGIA

Este trabalho se destina ao controle glicêmico de pacientes não críticos

internados na enfermaria de cirurgia ou clínica do Hospital Geral de Fortaleza.

Deve participar do protocolo pacientes acima de 18 anos que recebem

diagnóstico de hiperglicemia hospitalar, excetuando-se pacientes com

diagnóstico de diabetes tipo 1, com hiperglicemia e cetoacidose diabética ou

estado hiperglicêmico hiperosmolar (seguir protocolos específicos para essas

condições).

Para garantir a implantação do protocolo, uma equipe multidisciplinar

deve ser formada e constituída por equipe médica, de enfermagem, de nutrição,

de reabilitação, de farmácia e de psicologia que devem receber treinamento e

capacitação adequada.

Todos os pacientes admitidos no hospital devem fazer medida de glicemia

capilar. Se acima de 140mg/dl, monitorizar glicemia por 24h. Duas medidas

acima de 140mg/dl confirmam o diagnóstico de hiperglicemia hospitalar, indicam

tratamento e solicitação de HbA1C para diferenciar diabetes de hiperglicemia por

estresse. Hemoglobina Glicada menor que 6,5% exclui diagnóstico de diabetes.

(Fluxograma 1)

Monitorizar glicemia capilar antes das principais refeições e antes de

dormir nos pacientes que estão se alimentando via oral e a cada 4-6h nos

pacientes em dieta zero ou em dieta enteral/parenteral. (Fluxograma 2) Naqueles

pacientes, principalmente com hiperglicemia induzida pelo estresse, que

evoluem com normalização dos níveis glicêmicos (glicemias <140mg/dl) após

48hs, não realizar medida de glicemia capilar.

O esquema ideal a ser iniciado em pacientes com hiperglicemia hospitalar

seria o esquema basal bolus mais correção para aqueles que estão se

alimentando via oral. Para os pacientes em dieta zero, avaliar início de insulina

basal e deixar esquema de correção a cada 4-6h (fluxograma 3).

Deve-se começar com 0,2 a 0,3 ui/kg de insulina para pacientes com mais

de 70 anos de idade e/ou taxa de filtração glomerular inferior a 60. Para

pacientes sem as condições anteriores e glicemias entre 140-200mg/dl, deve-se

iniciar 0,4ui/kg. Para pacientes com glicemias acima de 200mg/dl e em uso de

corticóide, fazer 0,5ui/kg de insulina. Dividir a dose total em 60% de insulina

basal (glargina 1x/dia ou NPH 2x/dia) e 40% de insulina rápida.

A dose de correção deve, preferencialmente, ser feita antes das principais

refeições nos pacientes que estão se alimentando via oral e antes de dormir

(fazer metade da dose esse horário).

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Devemos ter como meta glicemias pré-prandiais abaixo de 140mg/dl e

aleatórias abaixo de 180mg/dl. Para pacientes estáveis, podemos ter alvos mais

restritos desde que não haja hipoglicemia. Para pacientes com doença em

estágio terminal ou com alto risco de hipoglicemia (pacientes com alto risco

cardiovascular), manter glicemias abaixo de 200mg/dl.

Para os pacientes com dieta enteral ou parenteral contínua, devemos

deixar insulina basal (0,2 a 0,4ui/kg) e correção a cada 4-6h.

Ajustes na dose da insulina devem ser realizadas sempre que preciso,

visando evitar o aparecimento tanto de hiperglicemia como hipoglicemia.

(Fluxograma 3)

Para pacientes que estão com glicemias persistentes acima de 140mg/dl

pré-prandial e 180mg/dl aleatória, ajustar tabela de correção. Aqueles que estão

na coluna sensível, devem passar para coluna resistente. Em caso de

hipoglicemia, alterar escala de correção, colocando pacientes que estão na

coluna resistente na coluna sensível. (Tabela 2)

Para os pacientes que fazem hipoglicemia, definida neste protocolo como

medida de glicemia capilar menor que 70mg/dl e grave menor que 50mg/dl,

devemos avaliar inicialmente o nível de consciência do paciente. Para aqueles

que estão alerta e com condições de se alimentar via oral, oferecer 01 colher de

sopa de mel ou 01 copo de 200ml de suco de laranja. Para pacientes com

alteração do nível de consciência deve-se administrar 04 a 06 FA de glicose 50%

se paciente com acesso periférico ou glucagon 1mg IM naqueles que não tiverem

acesso.

Pacientes no pré-operatório devem ter glicemia entre 80-180mg/dl.

Suspender metformina 24 h antes da cirurgia e outros antidiabéticos orais no dia

da cirurgia. Fazer metade da dose de NPH e 60-80% da dose de insulina de

ação lenta na manhã da cirurgia. Deixar aporte de glicose IV (2g/kg/dia),

monitorizar glicemia e fazer correção se necessário. (fluxograma 6)

Para os pacientes com nutrição enteral contínua devemos continuar dose

de insulina basal que o paciente já vinha fazendo ou, se não estiver usando

insulina, considerar 5UI de NPH/detemir 2x/dia ou 10ui de insulina glargina por

dia mais dose de correção (dose de insulina ultra-rápida a cada 4h ou regular a

cada 6h de acordo com a glicemia).

Nos pacientes com nutrição enteral em bolus, devemos também manter a

dose de insulina basal prévia ou iniciar na mesma dose utilizada para nutrição

enteral contínua. Associar ao esquema dose fixa de insulina regular ou ultra-

rápida antes de cada início de infusão da dieta mais correção três vezes ao dia.

Em caso de dieta via parenteral (NPT), existe recomendação de deixar

insulina basal e correção a cada 4-6h.

Outra causa determinante de hiperglicemia de estresse é o uso de

corticóide. Pacientes em uso de doses elevadas de corticóide que fazem

hiperglicemia devem ser tratados adequadamente com insulina na dose de 0,5

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ui/kg, deixando 60% basal e 40% de insulina rápida. A insulina basal de escolha

seria NPH ou insulina de ação lenta como glargina. Prescrever corticóides de

meia-vida mais curta como prednisona e prednisolona próximo do horário

aprazado para NPH. Pacientes em uso de dexametasona devem receber

insulina NPH 3x/dia ou insulina lenta 1x/dia.

Antes da alta devemos orientar adequadamente o paciente sobre

educação em diabetes, orientar uso correto de antidiabéticos orais e insulina,

monitorização glicêmica e sugerir plano alimentar adequado dentro da realidade

de cada paciente.

Pacientes com hemoglobina glicada abaixo de 7% durante internação

deve orientar retorno do tratamento prévio à internação. De 7-9%, devemos

iniciar 2 antidiabéticos orais e se já fizer uso, adicionar insulina antes de dormir.

HbA1C maior que 9% deve orientar prescrição de 70% da dose total de insulina

utilizada na internação.

Esperamos que com a implantação do protocolo haja um melhor controle

da hiperglicemia hospitalar, menor tempo de internação hospitalar, menores

taxas de complicação, menores custos para o hospital. Essas variáveis devem

ser identificadas adequadamente no prontuário de cada paciente para permitir

levantamento das informações e avaliação de resposta do protocolo.

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5. CONCLUSÃO

A implantação de um protocolo de hiperglicemia hospitalar é importante

para serviços de referência, pois ajuda a diminuir tempo de internação,

complicações durante internamento e diminui custos para o hospital. A

formação de equipe multidisciplinar é o primeiro passo para melhorar a

assistência dos pacientes e diminuir morbidade e mortalidade relacionada à

hiperglicemia.

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6. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

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7 APÊNDICES

Fluxograma 1:

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Fluxograma 2:

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Fluxograma 3:

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Fluxograma 4:

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Fluxograma 5

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Fluxograma 6:

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Apêndice

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8. ANEXOS

Tabela 1:

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Tabela 2:

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Gráfico 1

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Gráfico 2

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Gráfico 3

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Gráfico 4

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Gráfico 5

Stress hyperglycaemia, Lancet, vol 373,2009

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Gráfico 6

Stress hyperglycaemia, Lancet, vol 373,2009

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