homem: o centro e a medida de todas as coisas
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Saber Humano, ISSN 2446-6298, Edição Especial: Cadernos de Ontopsicologia, p. 277-290, fev., 2016.
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Homem: o centro e a medida de todas as coisas
Carla Sewald Vieira1
Resumo: A presente pesquisa tem como tema “o homem: o centro e a
medida de todas as coisas”, tendo como fio condutor a proposição do
filósofo Protágoras: “o homem a medida de todas as coisas, daquelas que
são pelo que são, daquelas que não são pelo que não são”. O ser humano
como assunto, como discussão, sempre provocou a curiosidade de muitos
filósofos, intelectuais, cientistas, artistas, psicólogos, fazendo surgir
grandes pesquisas onde o interesse maior é a otimização da vida humana.
Assim, inicia-se um percorrer na história buscando em Protágoras, na
cultura Humanista e Renascentista, na Psicologia Humanista e na
Ontopsicologia a importância do valor de um homem protagonista e
responsável pela própria vida. Verifica-se que há uma unanimidade nas
pesquisas daqueles estudados nesta pequena tese (tesina), que é a
autoconstrução histórica através do trabalho, das ações práticas do dia a dia,
do estudo e da psicoterapia para correção da consciência e para ela passar a
refletir as indicações do projeto de natureza, colhido através dos resultados,
alcançando, deste modo, a autorrealização. Para tanto, utilizou-se como
metodologia científica o estudo teórico e a pesquisa bibliográfica para
organizar e fundamentar o tema proposto. Por fim, conclui-se a
fundamental importância do homem se conhecer e saber a si mesmo para
ser unidade de medida sadia e autorrealizada, para, como consequência, a
construção de uma sociedade mais humana.
Palavras-chave: Homem; Humanismo; Autorrealização; Critério de
medida.
Human: the center and measure of all thinks
Abstract: This research is focused on the man: the center and the measure
of all things, with the guiding principle the proposition of Protagoras, “the
man the measure of all things, those who are for what they are, those that
are not what they are not”. The human being as subject, as discussed, has
always provoked the curiosity of many philosophers, intellectuals,
scientists, artists, psychologists, giving rise to large research where the
greatest interest is the optimization of human life. Thus began a go in
history seeking to Protagoras, the Humanist and Renaissance culture,
Humanistic Psychology and Ontopsychology the importance of the value of
a man protagonist and responsible for his own life. It appears that there is
unanimity in the polls of those studied in this small tesi (tesina), which is
the historical self through work, the practical actions of daily life, study and
psychotherapy to correct conscience and to her move to reflect the
particulars of the project nature, collected by the results, achieving self-
realization. For this purpose, it was used as a scientific methodology to
literature to organize and support the theme. Finally, indicate the
fundamental importance of human knowing and knowing yourself to be
healthy and self-realizing unit of measure, for, as a result, building a more
humane society.
Keywods: Human; Humanity; Self realization; Measure’s criterion.
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1 Introdução
Durante toda a história da humanidade existiram filósofos, intelectuais,
cientistas, artistas e líderes que discutiram e buscaram alternativas válidas para
construção de um homem feliz e autorrealizado.
“Conhece a ti mesmo” é a premissa que instiga o homem a se perguntar: Quem
sou eu? Para onde vou? Como existo? Por quê?
A rapidez com que chegam as informações, através dos vários meios de
comunicação, inclusive aquela organísmica, na maioria das vezes desconhecida,
convoca o ser humano a todo instante a se posicionar. Sendo assim, surgem as
perguntas: Qual o critério de medida utilizado para ler estas informações e comunicá-
las? A resposta está baseada na opinião, ou a resposta é dada pela sua verdade mais
íntima?
Aquele que escuta o chamado é desafiado a se autoconhecer, a resgatar aquele
íntimo de vida e refletir a sua verdade. O caminho inicial, como muito amor e
humildade, é a mudança de mente, que deve ser conquistada através de tantas pequenas
coisas feitas cotidianamente. É no fazer, “colocando a mão na massa”, que os caminhos
começam a se alargar e a revolução e a evolução existencial individual acontece, e
como consequência o nascimento de uma sociedade mais humana.
Salienta-se que o objetivo desta pequena tese (tesina) é percorrer o caminho
daqueles que se dedicaram a “decifrar” (conhecer) a alma humana, para lapidação e
aperfeiçoamento da vida do homem, para este alcançar a autorrealização.
Desta forma, o presente trabalho apresenta como tema o homem: centro e a
medida de todas as coisas, tendo como linha de estudo o resgate do pensamento
filosófico de Protágoras com seu insight, o regaste do Humanismo e do Renascimento,
período de ouro da humanidade, o resgaste dos estudos originados da Psicologia
Humanista e da Ontopsicologia, organizado e elaborado através de um estudo teórico e
uma pesquisa bibliográfica.
2 Fundamentação Teórica
São tantos os nomes de importantes pensadores, filósofos, cientistas e psicólogos
que estudaram e que colocaram como premissa central de seus estudos o próprio
homem: o centro e a medida de todas as coisas, tema deste artigo.
O homem abordado neste trabalho é aquele definido como:
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Unidade de ação histórico-espiritual constituída por um projeto ôntico em
acontecimento terrestre, com faculdades ou funções inteligentes, racionais,
emocionais, biológicas. Configura-se como homem e mulher: funções
combinadas para a manutenção histórica no planeta e potencial para a
galáxia. O homem, com atitude inseminativa, e a mulher, com atitude
incubadora. Ambos complementares, indispensáveis e de igual importância
(MENEGHETTI, 2012, p. 128).
Definido a premissa central inicia-se um brevíssimo percurso histórico para
situar este homem como valor da sua experiência existencial.
Primeiramente destaca-se a grandeza do pensamento grego, que nasce a 2.500 a.
C., onde encontra-se os filósofos mais conhecidos, dentre eles: Parmênides, Heráclito,
Sócrates, Platão e Aristóteles. De acordo com Meneghetti (2010), eles se dedicaram a
compreender o mundo através das suas inteligências e percepções.
É através dos filósofos gregos que os conceitos como psique, alma e razão
nascem e se desenvolvem. Tornando-se, assim, o impulso a outros pensadores e
filósofos.
Protágoras2 é o filósofo que dirige o olhar para o homem e diz: “o homem é a
medida de todas as coisas, daquelas que são pelo que são, daquelas não são pelo que
não são”. Considera que somente o homem pode ser a função de medida do que é, ou
não verdadeiro para si, em dada situação e condição, tendo como premissa o seu
conhecimento e experiência. Assim sendo o pensamento de Protágoras é o fio condutor
deste estudo.
Segundo Nicola (2012), na tese de Protágoras ele situa o homem e sua
problemática no centro do pensamento filosófico, dizendo que o critério para seguir a
verdade se dá através da experiência pessoal, colhendo a solução mais coerente e útil. O
que torna a verdade relativa, sempre dependendo da perspectiva de cada um. Diz, ainda,
que Protágoras tratava da importância da educação, pois por meio do estudo a pessoa
avalia e melhora seus conceitos sobre a verdade, melhorando, consequentemente, a
sociedade.
Foi Protágoras, considerado sofista, quem propôs essa nova medida de
conhecimento ao afirmar que o “o homem é a medida de todas as coisas”;
isso significa que, é o modo de ser humano a medida do conhecimento
humano e não o modo do pensar opinativo (VIDOR, 2014, p. 30).
Seguindo o transcorrer da história, Meneghetti (2010) descreve que na Idade
Média o pensamento filosófico grego sofre um enfraquecimento e que Roma se
desenvolve culturalmente incorporando a cultura grega, mas utilizando-a na prática
2 480-410 a.C.
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como uma ferramenta para viver melhor. Ainda neste período ocorre o avanço do
Cristianismo surgindo a dualidade entre razão e fé, onde a fé posiciona-se antes da
ciência. Santo Agostinho, Tomás de Aquino, John Duns Scotus e Guilherme de Ockham
são os filósofos/estudiosos relevantes nesta fase.
No entanto o período de maior destaque na história que trata do homem como
protagonista, é o período chamado de Humanismo que acontece entre os anos de 1400 a
1600, na Itália, espalhando-se pela Europa, tendo como ápice o Renascimento, marcado
pelo Antropocentrismo3. Durante este período acontece a recuperação da cultura
clássica greco-romana, apoderando-se dos conteúdos e valores humanos deixados nos
textos escritos na antiguidade.
“A idade renascentista conhece formas de pesquisa e manipulação operativa da
realidade muito diferentes da magia: o saber técnico dos artesãos superiores, dos artistas
e dos engenheiros” (CAROTENUTO, 2009, p. 59).
Assim, é na Cultura Humanista que acontece a maior concentração de
importantes intelectuais, escritores, cientistas, artesãos e artistas (pintura, escultura,
música, arquitetura, teatro), que dão a importância ao homem na sua dignidade e
autenticidade. O homem passa a ser o artífice da sua própria vida (faber fortunae suae).
Um dos destaques deste período é Michelangelo Buonarroti e suas obras. “Micheangelo
é o ápice do Humanismo porque dá o Renascimento ao homem. É como se dissesse ao
ser humano: “quanto és belo, quanto és total, és o enamoramento e a obra-prima de
Deus” (MENEGHETTI, 2015, p. 155)”.
Meneghetti (2014) em sua obra “Do Humanismo Histórico ao Humanismo
Perene”, apresenta alguns aspectos que desabrocharam neste período, onde se tem o
resgate do homem greco-romano, todavia mais desenvolvido no sentido que o valor
deste homem se dá através das artes e do trabalho, transformavam em algo prático, útil e
funcional a vida diária e sempre coligado com a ordem da vida. No campo científico
também ocorre uma revolução, onde é introduzido uma nova racionalidade, e um nome
importante é de Galileu Galilei, físico, matemático e astrônomo. Galileu foi quem
construiu o primeiro telescópio. Os instrumentos criados neste período são utilizados
para demonstração científica das teorias.
Também, neste tempo quatro valores prosperam, são eles: 1) Vida ativa: ação, o
fazer aqui e agora, de acordo com o impulso interno em determinada situação; 2)
3 Do grego άνθρωπος, anthropos, “humano”; e κέντρον, kentron, “centro”.
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Sociabilidade: o indivíduo deve evoluir juntamente com outros, mas sempre com
responsabilidade e dignidade; 3) Liberdade: os humanistas consideram como valor
importante, pois à comunidade é dado a liberdade, com autonomia, para agir em favor
dos interesses desta e 4) Dignidade do homem: o valor e a grandeza do homem é
resultado de suas realizações, o importante é o fazer para criar novidade de valor. A
responsabilidade, a ação, a inteligência, que cada homem é único, o acolhimento das
várias culturas e línguas são características que o Humanismo considera fundamental
para o homem alcançar a autorrealização.
“A tarefa fundamental que o homem deve cumprir é, segundos os humanistas, a
autorrealização, na qual é fundamental a felicidade individual e a possibilidade de
gozar das próprias capacidades” (MENEGHETTI, 2014, p. 75).
Sendo assim é possível dizer que o escopo do Humanismo é a formação do
homem na sua integralidade, como um ser único, como um ser sociável e um ser
representante do projeto de natureza.
Fazendo um grande salto na história e chegando ao século XX, o foco do estudo
sobre o homem passa a ser analisado pelas Ciências Humanas, em especial a Psicologia,
ciência que estuda os processos psíquicos, a verificação da exatidão ou não da
consciência e os efeitos causados na existência do homem.
Esta pesquisa partirá da Psicologia Humanista-Existencial e da Ontopsicologia,
tendo como psicólogos e cientista principais deste período: Rollo May, Abraham
Maslow, Carl Rogers, Anthony Sutich, Antonio Meneghetti, etc.
Cabe, inicialmente, salientar que a Psicanálise, a Psicologia Analítica e a
Psicologia Comportamentalista, também, colocaram o homem no centro de seus
estudos, mas é com a Psicologia Humanista-Existencial e a Ontopsicologia que o
homem é analisado pela sua capacidade e pelo seu valor, ou seja, conhecendo o seu
critério de medida e ampliando-o é possível conquistar a autorrealização.
Interessante retornar à história na figura de Carl Jung, fundador da Psicologia
Analítica. Conforme Friedman e Schuntack (2004) ele foi o primeiro a utilizar o termo
autorrealização, referindo-se que é um processo onde a pessoa cresce espiritualmente e
concretiza seu propósito de vida.
Em suas palavras Carl Gustav Jung diz:
“Devemos ser aquilo que somos; precisamos descobrir nossa própria
individualidade, aquele centro de personalidade que é equidistante do
consciente e do inconsciente; precisamos visar este ponto ideal em direção ao
qual a natureza parece estar nos dirigindo. Só a partir deste ponto podemos
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satisfazer nossas necessidades” (JUNG apud FADIMAN E FRAGER, 2006,
p. 58).
Posto a contribuição dada por Carl Jung, começa-se a explorar as contribuições
de alguns psicólogos e cientistas humanistas como Abraham Maslow, Carl Rogers e
Antonio Meneghetti. Sublinhando que estes três pesquisadores desenvolveram seus
estudos principalmente no ambiente terapêutico, verificando-se, assim, o quanto é
essencial a psicoterapia como instrumento de autoconhecimento.
Conforme Friedman e Schuntack (2004), Maslow desenvolveu sua teoria
investigando e estudando pessoas saudáveis, e através de sua análise percebeu que cada
pessoa autorrealizada mantinha um bom autoconhecimento, sua pulsão interna era
voltada ao desenvolvimento e se comportava de forma independente.
Maslow, com base nas pesquisas realizadas e para organizar os resultados
alcançados, desenvolveu uma hierarquia de necessidades humanas, representada na
forma de uma pirâmide, a pirâmide das necessidades básicas.
Segundo Schultz e Schultz (2005), a pirâmide das necessidades de Maslow era
descrita em cinco etapas, são elas: 1ª) na base da pirâmide estavam situadas as
necessidades de sobrevivência (comida, água e abrigo); 2ª) a segurança; 3ª) amor e
pertinência; 4ª) a autoestima e a 5ª) no ápice da pirâmide a autorrealização.
Seguindo, ainda, as citações de Schultz e Schultz (2005) que diz que, na
perspectiva de Maslow, cada indivíduo tem a pré-disposição ao estado de
autorrealização.
“Esse estado, o mais elevado das necessidades humanas, envolve o uso ativo
de todas as qualidades e habilidades, além do desenvolvimento e da aplicação
plena do potencial individual. Para o indivíduo sentir-se autorrealizado,
primeiro é necessário satisfazer às necessidades mais inferiores na hierarquia
inata e cada uma deve ser satisfeita antes que a próxima nos motive”
(SCHULTZ e SCHULTZ, 2005, p .411).
Abraham Maslow defende que todo o indivíduo deve ser e fazer aquilo que
nasceu para realizar e para concretizar esse ideal ele deve satisfazer sempre as
necessidades de cada etapa de vida. “O que um homem pode ser, ele deve ser. A essa
necessidade podemos dar o nome de autorrealização...” (MASLOW, 2003, p. 1).
À medida que as necessidades mais básicas tornam-se razoavelmente
satisfeitas, as mais elevadas na escala tornam-se, sucessivamente, mais
influentes na motivação do comportamento humano. Quando as necessidades
mais básicas permanecem insatisfeitas, fatores tais como aprendizagem,
criatividade, inovação ou auto-estima continuam estagnados, sem jamais
atingirem a superfície (MASLOW, 2003, p. 2).
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Outro representante da Psicologia Humanista é Carl Rogers, ele desenvolve sua
abordagem chamada Terapia Centrada na Pessoa, ou processo de tornar-se pessoa, cuja
“a meta que o indivíduo mais pretende alcançar, o fim que ele intencionalmente ou
inconscientemente almeja, é o de se tornar ele mesmo” (ROGERS, 2009, p. 122).
De acordo com Rogers (2009) a pessoa se descobre, ou descobre seu eu
verdadeiro através de suas experiências e não de algo imposto sobre ela. Compreende
que não é uma criatura fixa e sim um movimento para tornar-se. Que seu organismo,
também, é um instrumento seguro para encontrar as respostas acertadas em cada
ocasião. Esclarece, ainda, que quando o indivíduo está em um processo de tornar-se
pessoa ele passa a compreender que as respostas às suas escolhas estão dentro de si.
Ele reconhece que cabe a ele mesmo escolher; que a única questão que
importa é: “Estarei vivendo de uma maneira que é profundamente satisfatória
para mim, e que me expressa verdadeiramente?” Esta talvez seja a pergunta
mais importante para o indivíduo criativo (ROGERS, 2009, p. 135).
Carl Rogers expõe alguns atributos que caracterizam uma pessoa que desperta e
ressurge de dentro de si mesma. Desta forma ele resume que este indivíduo é:
...Uma pessoa que está mais aberta a todos os elementos de sua experiência
orgânica; uma pessoa que está desenvolvendo uma confiança em seu próprio
organismo como um instrumento de vida sensível; uma pessoa que aceita o
foco de avaliação como residindo dentro de si mesmo; uma pessoa que está
aprendendo a viver em sua vida como um participante em um processo
fluído, contínuo, em que está constantemente descobrindo novos aspectos de
si mesmo no fluxo de sua experiência (ROGERS, 2009, p. 140).
Apesar de todo empenho dos psicólogos, da Psicologia Humanista, em
desvendar as qualidades do humano, o desenvolvimento da autorrealização e da
criatividade, a Psicologia continuou sem as respostas para resolver o problema
existencial do humano. Verifica-se, também, a falta de um método para tornar possível a
formalização de um conhecimento exato e verdadeiro.
Abraham Maslow no seu livro “Introdução à Psicologia do Ser” apresenta
algumas passagens de conteúdo em que sinaliza que a Psicologia Humanista é uma
passagem, é uma preparação para uma nova Psicologia, em suas palavras encontramos
que:
Devo também dizer que considero a Psicologia Humanista, ou Terceira Força
da Psicologia4, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta
Psicologia ainda “mais elevada”, transpessoal, transumana, centrada mais no
cosmo do que nas necessidades e interesses humanos, indo além do
humanismo, da identidade e da individuação (MASLOW, 1962, p. 12).
4 Na história da Psicologia compreende-se que a primeira força é a Psicanálise e a segunda força e a
Psicologia Comportamentalista, ou Behaviorista.
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Simplesmente, não dispomos hoje de conhecimentos bastantes idôneos para
avançar na construção de Um Mundo do Bom. Não dispomos sequer de
conhecimentos suficientes para ensinar aos indivíduos como se amarem uns
aos outros – pelo menos, com uma razoável dose de certeza. Estou
convencido de que a melhor resposta está no progresso do conhecimento
(MASLOW, 1962, p. 13).
Estas considerações corroboram a minha esperança de que estamos
testemunhando uma expansão da Psicologia, não o desenvolvimento de um
novo “ismo” que possa redundar numa antipsicologia ou uma anticiência.
(MASLOW, 1962, p. 43).
É possível que o existencialismo não só enriqueça a Psicologia, mas constitua
também um impulso adicional no sentido de estabelecimento de outro ramo
da Psicologia: a Psicologia do Eu autêntico e plenamente desenvolvido, e de
seus modos de ser. Sutich sugeriu que se desse a isso o nome de
Ontopsicologia (MASLOW, 1962, p. 43).
No transcorrer da história chega-se ao ano de 1970, mais precisamente em
Roma, na Universidade de São Tomás de Aquino – Faculdade de Filosofia, onde
Antonio Meneghetti é professor da disciplina de Psicologia, e é neste ambiente que
nasce e se formaliza a Ciência Ontopsicológica. O primeiro escrito de Meneghetti
chama-se “Ontopsicologia do Homem”. Meneghetti diz: “Esse é o desafio e a proposta
da Ontopsicologia, que se revela um método capaz de corrigir a consciência e adequá-la
à intencionalidade do ser” (MENEGHETTI, 2006, p. 14).
Cabe frisar que a Ontopsicologia utiliza todo o homem como o centro de seus
estudos, ou seja, nas suas formas: biológica, mental, emotiva e espiritual, de como
completo, integral.
“A Ontopsicologia é uma ciência que colheu a elementaridade-base da raça
humana, a qual funciona em qualquer inconsciente e com qualquer povo”
(MENEGHETTI, 2012, p. 193). Esta ciência, com seu método, permite o
reestabelecimento da consciência para que ela possa refletir de modo funcional, a
informação organísmica e o existir do homem, sempre conforme as indicações, as
intenções do Em Si ôntico (elementaridade-base) e suas 15 características.
Antonio Meneghetti (2010) fez três grandes descobertas, são elas: Em Si ôntico5,
Campo Semântico6 e Monitor de Deflexão
7, e sobre estas três descobertas a prática e a
teoria da Ciência Ontopsicológica foram alicerçadas.
5 Em Si ôntico: “princípio formal inteligente que faz autóctise histórica” (MENEGHETTI, 2012, p. 84).
6 Campo Semântico: é a “comunicação base que a vida usa no interior das próprias individuações”
(MENEGHETTI, 2012, p. 38). 7 Monitor de Deflexão: “engenho psicodélico deformador das projeções do real à imagem”
(MENEGHETTI, 2012, p.175).
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Meneghetti ao esclarecer como nasceu a Ontopsicologia escreve que “é uma
necessidade que nasce de pesquisar um ponto em que todos concordem e, deste ponto,
iniciar a medida de todas as coisas” (MENEGHETTI, 2010, p. 115). Perguntando-se,
ainda: “Como estabelecer a unidade de medida e dela fazer uma convenção de
civilização, de respeito, de ordem?” (MENEGHETTI, 2010, p.115). Meneghetti (2010)
aceita a afirmação de Protágoras: “o homem é a medida de todas as coisas, daquelas
que são pelo que são, daquelas não são pelo que não são”, explicando-a através de
duas posições, são elas: que é possível obter a verdade agindo de acordo com o seu Em
Si ôntico, seu projeto de natureza, o que seria uma posição positiva para o homem, ou
obter o fracasso e a dor em razão de erros cometidos contra o seu Em Si ôntico, ou seja,
uma posição negativa.
Com a explicação acima Meneghetti pontua que o homem tem a
responsabilidade e a liberdade para escolher entre dois caminhos na vida, ou é, ou não é.
Não existe o caminho do meio, e o resultado ocorrerá de acordo com a sua escolha:
sucesso e autorrealização, ou angústia e dor. Verifica-se, também, que o critério de
medida entre o ser e o homem, para a Ontopsicologia é o Em Si ôntico, e a
autorrealização ocorre quando as escolhas, as ações do dia-a-dia são realizadas
conforme o impulso, as informações deste princípio de natureza. Meneghetti (2006)
enfatiza que o Em Si ôntico é o ponto fundamental para o homem saber onde deve
recuperar e aperfeiçoar a sua vida.
“O homem produz autorrealização quando sua ação é conforme, ou iso, ao
próprio Em Si ôntico” (MENEGHETTI, 2012, p. 85).
“O Em Si ôntico é vencedor, é alegre, é sempre uno, aparece através das partes,
mas não tem partes, é indivisível, é evolutivo, é virtual: desenvolvendo-se segundo o
ambiente, mas tem um projeto próprio. Nutre-se de prazer e de realização histórica”
(MENEGHETTI, 2006, p. 55).
Conforme o pensamento de Meneghetti (2006) parece simples e claro, e que
bastaria seguir as informações do Em Si ôntico para o homem ser feliz e autorrealizado,
portanto ele constatou que o ser humano “é” de uma forma, mas “se vê e reflete” de
outra maneira, a sua consciência não reflete a real verdade da sua existência, ele lê as
informações projetadas pela natureza de forma deformada. Tal constatação foi
verificada e demonstrada através da psicoterapia.
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A psicoterapia ontopsicológica é um instrumento capaz de corrigir a consciência
do homem, fazendo-a realizar historicamente o Em Si ôntico, deixando de ser um meio
disfuncional do critério de natureza.
O que resume muito bem, neste momento, a Ciência Ontopsicológica é a visão
que ela tem de homem: “O homem, protagonista responsável, baseado em uma
virtualidade, capaz de atuação pessoal no ser” (MENEGHETTI, 2010).
Na Conferência de Filosofia, realizada em 02 de janeiro de 2007, Meneghetti
diz: “Protágoras ensina que quando você chega a saber, você é o critério, a medida,
porque você é a palavra, a revelação, a fenomenologia da intenção do projeto do ser”.
Finalmente, é relevante salientar a importância de todos aqueles que se
dispuseram a estudar o homem como ser capaz de alcançar a autorrealização e a
felicidade, e cada estudo sempre servindo de impulso para um próximo e superior
estudo. A frase de Isaac Newton ilustra muito bem o que foi dito: “Se vi mais longe, foi
por me erguer sobre os ombros de gigantes” (NEWTON, apud HAWKING, 2005, p.
441).
3 Metodologia
Todo trabalho científico parte de uma fundamental premissa: a leitura.
Segundo Marconi e Lakatos (2010) o elemento principal e determinante para
construção do conhecimento é a leitura. É através dela que a mente e os
pensamentos são expandidos, e, consequentemente, o vocabulário é aumentado e
melhorado.
“A fase da leitura dessas obras é fundamental para confrontar posições dos
autores consultados, levantar dificuldades, comparar opiniões e discordâncias,
enfim, extrair o que se relacione com o problema da pesquisa” (FUSTARÉ, 2007,
p. 27).
É fundamental que o pesquisador estude e trabalhe utilizando métodos e
sistematizações, selecionados antecipadamente, para construir um conhecimento
com clareza, objetividade e para poder torná-lo científico.
A metodologia, portanto, serve para organizar o estudo, orientar os
caminhos e instrumentos a serem utilizados para a realização de um trabalho
científico.
Importante sublinhar que a proposta deste trabalho se denomina Pequena
Tese, em língua italiana a expressão, no diminutivo é “Tesina”, ou seja, que irá
articular os conhecimentos estudados em cada módulo do curso de Bacharelado em
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Ontopsicologia.
Diz-se, também, que este trabalho é um artigo científico definido como:
“pequenos estudos, porém completos, que tratam de uma questão verdadeiramente
científica, mas que não se constituem em matéria de um livro” (MARCONI E
LAKATOS, 2010, p. 242).
“Pesquisar é investigar, buscar, procurar constantemente” (FUSTARÉ,
2007, p. 33).
A presente tesina/artigo tem como objeto de estudo o homem: centro e a
medida de todas as coisas, estudado através de uma pesquisa bibliográfica,
percorrendo os caminhos da história da humanidade. É um assunto tratado
amplamente pela literatura, no entanto será tratado com um novo olhar.
Desta forma o procedimento metodológico adotado neste trabalho é a
pesquisa bibliográfica, também chamada de fontes secundárias.
Abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo,
desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,
monografias, teses, material cartográfico, etc., até meios de comunicação
oral...Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o
que foi escrito, dito, filmado sobre determinado assunto, inclusive
conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma
forma, publicadas, quer gravadas (MARCONI E LAKATOS, 2010, p.166).
Segundo Fustaré (2007) a pesquisa bibliográfica é norteada pela consulta na
literatura impressa ou naquelas buscadas através dos meios eletrônicos. Ela deve
satisfazer o escopo do pesquisador para este encontrar a resposta do seu problema
de pesquisa.
Por fim, salienta-se que toda pesquisa é um trabalho contínuo de
descobertas, sendo sempre aberto, para que, mesmo ao final de uma etapa, abram-
se mais possibilidades para outras pesquisas. É um processo que permite ao
pesquisador construir um saber a partir de seu trabalho, se transformando
pessoalmente com essa vivência e contribuindo com o conhecimento social.
4 Considerações Finais
Conforme observado no decorrer do presente trabalho verifica-se o quanto foi e
ainda é debatido e estudado sobre a importância do homem ter um conhecimento exato
com relação a si mesmo, para ser um reflexo ideal na formação de uma sociedade mais
humana. E, ainda, que o homem é maior que sua cultura e educação, mas é a medida
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deste homem autêntico e exato que constrói uma sociedade e uma educação com
capacidades superiores.
Protágoras coloca o homem no centro de seus estudos e constata que somente o
homem pode ser a medida do conhecimento e do saber, e esta medida vai sendo
redescoberta e ampliada conforme vai construindo sua história existencial.
Os humanistas e renascentistas também sublinham a importância do homem
integral, ativo, único e sociável, construindo-se através da arte e do trabalho.
A Psicologia Humanista e a Ontopsicologia ocuparam-se de estudar o homem
através atividade psíquica, e com isto descobrir os caminhos que levam o homem a
autorrealização e ao desenvolvimento de suas habilidades e competências.
A Ciência Ontopsicológica através de suas descobertas e metodologia,
demonstra, através dos resultados o que acontece no decorrer da construção histórica
existencial de cada um. Se está de acordo com as informações do Em Si ôntico o
resultado é a autorrealização e sucesso, se não está de acordo o resultado, geralmente, é
alguma ação disfuncional à identidade da pessoa.
A autorrealização é o denominador comum entre o Humanismo, Renascimento,
Psicologia Existencial Humanista e a Ontopsicologia, que fundamentalmente é o
resultado do homem protagonista e responsável pela sua existência.
Desta forma, a autorrealização acontece, invariavelmente, através da
autoconstrução responsável, do autoconhecimento, da ação, da experiência, da prática,
visando a construção diária da própria identidade, sempre atendendo as informações do
critério de natureza. É fundamental o indivíduo saber ler as informações biológicas,
psicológicas e sociais que chegam momento a momento, pois são elas que dão a real
distância e medida. Primordial conhecer quais são as reais necessidades para aquela
situação, e fazer a melhor escolha, ou seja, escolher aquilo que é útil e funcional à
identidade individual. As respostas não devem ser buscadas fora de si, mas sim no
interno, no íntimo de cada sujeito. Sabendo ler as informações a partir de dentro é
possível aplicar, colocar na prática o potencial que cada um é, e este potencial aplicado
é a consciência refletida na medida exata (racionalidade). Resumidamente potência e
consciência exata são reversíveis.
O homem é um projeto de natureza, um princípio, e o fundamental é
compreender, saber esta inteligência, para alcançar a realização, a felicidade e o
sucesso. Cada homem tem sua medida baseado no seu Em Si ôntico mais as ações
diárias, ou seja, ser, saber e fazer.
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Se souber aquilo que sou, sou capaz de produzir, construir, realizar, concretizar,
manifestar, materializar o meu projeto que é único, verdadeiro, bom e belo, inicialmente
à minha realização pessoal e, consequentemente, como expansão da minha existência, a
realização de uma sociedade mais humana.
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