hobbes e o pensamento político

7
Hobbes e o pensamento político. Hobbes quis fundar a sua filosofia política sobre uma construção racional da sociedade, que permitisse explicar o poder absoluto dos soberanos. Mas as suas teses, publicadas ao longo dos anos, e apresentadas na sua forma definitiva no Leviatã, de 1651, não foram bem aceites, nem por aqueles que, com Jaime I, o primeiro rei Stuart de Inglaterra, defendia que «o que diz respeito ao mistério do poder real não devia ser debatido», nem pelo clero anglicano, que já em 1606 tinha condenado aqueles que defendiam «que os homens erravam pelas florestas e nos campos até que a experiência lhes ensinou a necessidade do governo.» A justificação de Hobbes para o poder absoluto é estritamente racional e friamente utilitária, completamente livre de qualquer tipo de religiosidade e sentimentalismo, negando implicitamente a origem divina do poder. O que Hobbes admite é a existência do pacto social. Esta é a sua originalidade e novidade. Hobbes não se contentou em rejeitar o direito divino dos soberanos, fez tábua rasa de todo o edifício moral e político da Idade Média. A soberania era em Hobbes a projeção no plano político de um individualismo filosófico ligado ao nominalismo, que conferia um valor absoluto à vontade individual. A conclusão das deduções rigorosas do pensador inglês era o gigante Leviatã, dominando sem concorrência a infinidade de indivíduos, de que tinha feito parte inicialmente, e que tinham substituído as suas vontades individuais à dele, para que, pagando o preço da sua dominação, obtivessem uma proteção eficaz. Indivíduos que estavam completamente entregues a si mesmos nas suas atividades normais do dia-a-dia. Infinidade de indivíduos, porque não se encontra em Hobbes qualquer referência nem à célula familiar, nem à família alargada, nem tampouco aos corpos intermédios existentes entre o estado e o indivíduo, velhos resquícios da Idade Média. Hobbes refere-se a estas corporações no Leviatã, mas para as criticar considerando-as «pequenas repúblicas nos intestinos de uma maior, como vermes nas entranhas de um homem natural». Os conceitos de «densidade social» e de «interioridade» da vida religiosa ou espiritual, as noções de sociabilidade natural do homem, do seu instinto comunitário e solidário, da sua necessidade de participação, são completamente estranhos a Hobbes. É aqui que Hobbes se aproxima de Maquiavel e do seu empirismo radical, ao partir de um método de pensar rigorosamente dedutivo. A humanidade no estado puro ou natural era uma selva. A humanidade no estado social, constituído por sociedades civis ou políticas distintas, por estados soberanos, não tinha que recear um regresso à selva no relacionamento entre indivíduos, a partir do momento em que os benefícios consentidos do poder absoluto, em princípio ilimitado, permitiam ao homem deixar de ser um lobo para os outros homens. Aperfeiçoando a tese de Maquiavel, Hobbes defende que o poder não é um simples fenómeno de força, mas uma força institucionalizada canalizada para o direito (positivo), - «a razão em ato» de R. Polin - construindo assim a primeira teoria moderna do Estado.

Upload: siinho

Post on 01-Oct-2015

7 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

ggh..

TRANSCRIPT

Hobbes e o pensamento poltico.Hobbes quis fundar a sua filosofia poltica sobre uma construo racional da sociedade, que permitisse explicar o poder absoluto dos soberanos. Mas as suas teses, publicadas ao longo dos anos, e apresentadas na sua forma definitiva no Leviat, de 1651, no foram bem aceites, nem por aqueles que, com Jaime I, o primeiro rei Stuart de Inglaterra, defendia que o que diz respeito ao mistrio do poder real no devia ser debatido, nem pelo clero anglicano, que j em 1606 tinha condenado aqueles que defendiam que os homens erravam pelas florestas e nos campos at que a experincia lhes ensinou a necessidade do governo.A justificao de Hobbes para o poder absoluto estritamente racional e friamente utilitria, completamente livre de qualquer tipo de religiosidade e sentimentalismo, negando implicitamente a origem divina do poder.O que Hobbes admite a existncia do pacto social. Esta a sua originalidade e novidade.Hobbes no se contentou em rejeitar o direito divino dos soberanos, fez tbua rasa de todo o edifcio moral e poltico da Idade Mdia. A soberania era em Hobbes a projeo no plano poltico de umindividualismofilosfico ligado ao nominalismo, que conferia um valor absoluto vontade individual. A concluso das dedues rigorosas do pensador ingls era o giganteLeviat, dominando sem concorrncia a infinidade de indivduos, de que tinha feito parte inicialmente, e que tinham substitudo as suas vontades individuais dele, para que, pagando o preo da sua dominao, obtivessem uma proteo eficaz. Indivduos que estavam completamente entregues a si mesmos nas suas atividades normais do dia-a-dia.Infinidade de indivduos, porque no se encontra em Hobbes qualquer referncia nem clula familiar, nem famlia alargada, nem tampouco aos corpos intermdios existentes entre o estado e o indivduo, velhos resqucios da Idade Mdia. Hobbes refere-se a estas corporaes noLeviat, mas para as criticar considerando-as pequenas repblicas nos intestinos de uma maior, como vermes nas entranhas de um homem natural. Os conceitos de densidade social e de interioridade da vida religiosa ou espiritual, as noes de sociabilidade natural do homem, do seu instinto comunitrio e solidrio, da sua necessidade de participao, so completamente estranhos a Hobbes. aqui que Hobbes se aproxima de Maquiavel e do seu empirismo radical, ao partir de um mtodo de pensar rigorosamente dedutivo. A humanidade no estado puro ou natural era uma selva. A humanidade no estado social, constitudo por sociedades civis ou polticas distintas, por estados soberanos, no tinha que recear um regresso selva no relacionamento entre indivduos, a partir do momento em que os benefcios consentidos do poder absoluto, em princpio ilimitado, permitiam ao homem deixar de ser um lobo para os outros homens. Aperfeioando a tese de Maquiavel, Hobbes defende que o poder no um simples fenmeno de fora, mas uma fora institucionalizada canalizada para o direito (positivo), - a razo em ato de R. Polin - construindo assim a primeira teoria moderna do Estado.Deste Estado, sua criao, os indivduos no esperam a felicidade, mas aPaz, condio necessria prossecuo da felicidade. Paz que est subordinada a um aumento considervel da autoridade - a do Soberano, a da lei que emana dele.Mas, mesmo parecendo insacivel, esta inveno humana com o nome de um monstro bblico, no reclama o homemtodo. De facto, em vrios aspectos o absolutismo poltico de Hobbes aparece como uma espcie de liberalismo moral. Hobbes mostra-se favorvel ao desenvolvimento, sob a autoridade ameaadora da lei positiva, das iniciativas individuais guiadas unicamente por um interesse individual bem calculado, e por um instinto racional aquisitivo.

A teoria poltica hobbesiana.As doutrinas polticas existentes no estavam solucionando o problema do entendimento entre os homens, ou seja, garantindo a efetividade de sua convivncia pacfica em sociedade. Thomas Hobbes constatava as devastaes produzidas pela guerra civil na Inglaterra e conclua que as lutas fratricidas resultavam de um poder poltico que no era reconhecido como legtimo por todos.O filsofo ingls acreditou que a soluo seria aplicar o mtodo da Matemtica que propicia concluses certas e indiscutveis ao contrrio das cincias morais que produzem apenas controvrsias infindveis. Partiu da suposio de que a formulao de uma teoria poltica baseada em fundamentos lgico-racionais poderia estabelecer a paz social. O autor de O Leviat ir, portanto, aplicar o mtodo lgico-dedutivo a fim de demonstrar a necessidade de um poder absoluto para eliminar os conflitos existentes.Hobbes inicia a sua argumentao com a premissa de que noestado de naturezatodos os homens so movidos pelo instinto de conservao. A luta pela sobrevivncia instaura a guerra de todos contra todos.O medo da morte violenta associado conscincia de que mais vantajoso viver no estado civil (instinto de conservao + razo) produz no homem o desejo de viver em paz.Desta forma, de livre vontade, visando apenas o interesse prprio de conservao, os homens chegam, ento, a um acordo. Todos iro renunciar aos seus direitos naturais e submeter-se integralmente a um poder soberano.A funo do soberano assegurar que todos respeitem o contrato social e, dessa forma, garantir a vontade de todos que a paz e a segurana individual. Para desempenhar bem esta funo, o soberano deve exercer um poder absoluto, sem estar subordinado a ningum; e nem mesmo a uma Carta Magna. S dessa forma seria possvel subjugar os interesses particulares, o individualismo cada vez mais acirrado presente na sociedade de relaes mercantilizadas, o qual colocava em xeque o interesse geral, isto , a convivncia pacfica dos homens.Atravs deste raciocnio lgico-dedutivo, desta construo do pensamento, chega-se justificao do poder absoluto, do poder inquestionvel. O poder soberano legtimo, enfim, porque:a) constitudo a partir da vontade livre de indivduos livres e iguais; e de comum acordo, ou seja, do consenso.b)assegura o interesse de todos que viver em paz, com segurana, livre do medo da morte repentina e violenta.Se o poder soberano no conseguir realizar o interesse de todos, isto , a obedincia de todos ao contrato social, pode vir a ser deposto por uma rebelio. Concluir-se-, nesse caso, que o soberano no era legtimo.Por que Hobbes defende o absolutismoA instaurao da era moderna desencadeada pela expanso do comrcio que d origem a uma poderosa classe burguesa ao mesmo tempo em que promove a avidez consumista da nobreza.Estas classes passam a se orientar por uma nova tica, individualista e instrumental, que justifica a busca do interesse privado pelo indivduo sem se importar com os interesses da coletividade. O calvinismo e as idias dos pensadores modernos iro fundamentar esta nova tica revolucionria, de fundo mercantil.Essa nova tica dos tempos modernos gera uma energia social fabulosa que transformar a face do planeta. Mas, ao mesmo tempo, ir produzir muita misria, violncia e destruio.O indivduo que despontava na era moderna livre dos grilhes estabelecidos pela tica catlica encarnado na figura do comerciante, banqueiro e proprietrio de terras, estava convulsionando a ordem social, destruindo valores morais comunitrios, favorecendo a ocorrncia de guerras civis, expulsando os camponeses das terras, explorando os mais fracos, saqueando as terras descobertas.A propriedade da terra, por exemplo, estava deixando de ser a suposta fonte destinada ao bem estar da comunidade para se tornar fonte de acumulao de riquezas de indivduos particulares. Era para Hobbes, certamente, um imenso escndalo tico considerar a terra, que era um bem sagrado da comunidade , uma mercadoria como outra qualquer, passvel de ser vendida e comprada livremente apenas para atender a interesses privados de indivduos em prejuzo de milhares de camponeses que ficavam sem trabalho. A garantia da propriedade para todos era fundamental, segundo Hobbes, para a paz social.A diviso do poder soberano entre o monarca e o parlamento no pode, segundo Hobbes, garantir a estabilidade poltica e social. Pelo contrrio, fomentaria a ecloso da guerra civil.O conflito poltico crucial da Inglaterra naquele momento definido pelo interesse do rei em consolidar o poder absoluto e pelo interesse da burguesia em conquistar o poder poltico a fim de garantir seus interesses econmicos, livre das decises arbitrrias do monarca.A soluo antevista por Hobbes o poder absoluto. A partir de 1640, Hobbes passou a estar a servio do rei, Carlos I, na luta contra os interesses burgueses presentes no Parlamento.O Estado nacional, concebido, em tese, para a defesa do interesse pblico, estava se tornando, com a diviso de poderes, um instrumento da burguesia e dos grandes proprietrios de terra para, atravs do parlamento, defender seus interesses privados, cada vez mais poderosos.O poder soberano absoluto, segundo Hobbes, poderia expulsar da sociedade aqueles que se esforassem por guardar coisas que para eles fossem suprfluas enquanto outros sofressem da sua carncia e privao. O soberano que deveria ficar encarregado de distribuir as terras do pas em nome da eqidade e do bem comum.O poder absoluto seria necessrio enfim para impedir os abusos e a violncia cometida pelos mais fortes contra os mais fracos porque isso poderia desagregar a sociedade e destruir a paz civil. O Estado absoluto, o Leviat, dever ser o monstro bblico cruel que proteger os peixinhos midos contra a ameaa dos tubares grados que desejam devor-los.

Significado histrico da teoria poltica de HobbesO trabalho terico de Hobbes est vinculado preocupao com a formao do Estado nacional. E, mais particularmente, com a constituio do governo soberano, com a centralizao do poder poltico.O autor de O Leviat inaugura uma discusso dentro da teoria poltica que a da legitimaoracionaldo poder. Em outros termos, a legitimao racional da obedincia do indivduo ao Estado.Hobbes detecta a fora social que despontava na era moderna e que estava convulsionando a Europa: o indivduo autnomo que luta apenas pelos seus interesses materiais particulares encarnado na burguesia nascente cada vez mais poderosa. Como controlar essa fora social revolucionria que parecia desagregar os fundamentos da vida em sociedade?O autor, na verdade, funda a viso moderna de Estado. As leis e o governo no tm a funo de realizar a sntese dos interesses particulares dominantes na sociedade mas garantir apenas um interesse comum: a paz e a segurana individual. E para poder realizar este interesse comum o poder poltico precisa ser autnomo em relao a todos os interesses particulares.Se o Estado garantir a segurana individual, cada um pode ser livre para fazer o que bem entender em sua vida privada seguir a religio que julgar a verdadeira, a ideologia que considerar a correta, votar no partido que quiser, escolher a profisso que for de seu agrado, ir morar onde preferir. Antecipa-se assim a tese liberal de que o jogo do mercado que deve regular as relaes sociais e no o Estado.E Hobbes lana uma idia que vai se constituir no fundamento da democracia: o poder poltico legtimo aquele que se institui a partir do consenso, do consentimento de todos, visando realizar o interesse comum de toda a sociedade. Ou seja, Hobbes promove uma revoluo: no mais o indivduo que existe em funo do Estado, mas o Estado que deve existir em funo do indivduo. E mais que isso, o Estado e a Sociedade so fundados e ordenados a partir da vontade livre de indivduos.Hobbes insinua um outro fundamento do Estado nacional. Dentro de um territrio nacional, os indivduos vivem juntos no em razo de uma cultura, costumes, tradies, religio, viso de mundo, lngua, raa, etnia ou uma meta ideolgica e poltica comum. Mas podem conviver pacificamente, apesar das desigualdades sociais e das diferenas existentes, pelo simples fato de que todos esto subordinados a regras comuns, a direitos, deveres e obrigaes comuns.Na teoria de Hobbes percebe-se o fundamento essencial do Estado: a segurana individual, o desejo comum de viver em paz como aquilo que possibilita a convivncia de indivduos desiguais em sociedade.A idia de que o Estado e a sociedade nascem a partir da vontade livre de indivduos que estabelecem contratos entre si uma idia que exprime os tempos modernos. Hobbes fundamenta o poder poltico a partir de uma lgica instrumental individualista prpria do novo esprito burgus nascente, apesar de reagir, em termos polticos, contra este novo esprito. O papel do Estado garantir a segurana do indivduo porque isso que promove condies para a sua efetiva liberdade.O que funda o poder poltico e as relaes sociais no o respeito ao prximo (Moral); o temor a Deus (Religio); os interesses nacionais (Razes de Estado); a honra (Cdigos da nobreza). Mas sim o interesse prprio, o bem estar e a segurana de cada indivduo na esfera da vida privada (Utilidade).

Estado.Considerado como um dos tericos do poder absolutista em vigor na Idade Moderna, Thomas Hobbes viveu entre 1588 e 1679. ParaHobbes, o Estado deveria ser a instituio fundamental para regular as relaes humanas, dado o carter da condio natural dos homens que os impele busca do atendimento de seus desejos de qualquer maneira, a qualquer preo, de forma violenta, egosta, isto , movida por paixes.Afirmava que os homens no tiram prazer algum da companhia uns dos outros quando no existe um poder capaz de manter a todos em respeito, pois cada um pretende que seu companheiro lhe atribua o mesmo valor que ele atribui a si prprio. Dessa forma, tal situao seria propcia para uma luta de todos contra todos pelo desejo do reconhecimento, pela busca da preservao da vida e da realizao daquilo que o homem (juiz de suas aes) deseja. Deste ponto de vista surgiria a famosa expresso de Hobbes: O homem o lobo do homem.Da, nas palavras de Hobbes, se dois homens desejam a mesma coisa [...] eles se tornam inimigos. Todos seriam livres e iguais para buscarem o lucro, a segurana e a reputao. Nas palavras de Francisco Welfort, em sua obra intituladaOs Clssicos da Poltica (2006), a igualdade entre os homens, na viso de Hobbes, gera ambio, descontentamento e guerra. A igualdade seria o fator que contribui para a guerra de todos contra todos, levando-os a lutar pelo interesse individual em detrimento do interesse comum. Obviamente, isso seria resultado da racionalidade do homem, uma vez que, por ser dotado de razo, possui um senso crtico quanto vivncia em grupo, podendo criticar a organizao dada e, assim, nas palavras de Hobbes, julgar-se mais sbio e mais capacitado para exercer o poder pblico.Dessa forma, a questo da igualdade e da liberdade em Hobbes vista de forma diferente daquela leitura mais convencional destes termos, com significados positivos, como se viu nas revolues contra o poder absolutista dos reis, principalmente no caso da Revoluo Francesa. Logo, a liberdade segundo Hobbes seria prejudicial relao entre os indivduos, pois na falta de freios, todos podem tudo, contra todos.A paz somente seria possvel quando todos renunciassem a liberdade que tm sobre si mesmos. Hobbes discorre sobre as formas de contratos e pactos possveis em sua obraLeviat, apontando ser o Estado o resultado do pacto feito entre os homens para, simultaneamente, todos abdicarem de sua liberdade total, do estado de natureza, consentindo a concentrao deste poder nas mos de um governante soberano. Seria necessria a criao artificial da sociedade poltica, administrada pelo Estado, estabelecendo-se uma ordem moral para a brutalidade social primitiva. Citando Hobbes, Francisco Welfort mostra que o Estado hobbesiano seria marcado pelo medo, sendo o prprio Leviat um monstro cuja armadura feita de escamas que so seus sditos, brandindo ameaadora espada, governando de forma soberana por meio deste temor que inflige aos sditos. Em suma, este Leviat (ou seja, o prprio Estado soberano) vai concentrar uma srie de direitos (que no podem ser divididos) para poder deter o controle da sociedade, em nome da paz, da segurana e da ordem social, bem como para defender a todos de inimigos externos. Mais especificamente, nas palavras de Hobbes:Isso mais do que consentimento ou concrdia, pois resume-se numa verdadeira unidade de todos eles, numa s e mesma pessoa, realizada por um pacto de cada homem com todos os homens [...] Esta a gerao daquele enormeLeviat, ou antes com toda reverncia daquele deus mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa paz e defesa [...] nele que consiste a essncia do Estado, que pode ser assim definida: Uma grande multido institui a uma pessoa, mediante pactos recprocos uns aos outros, para em nome de cada um como autora, poder usar a fora e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum. O soberano aquele que representa essa pessoa. (HOBBES, 2003, p.130-1 31).Dessa forma, estes seriam alguns dos princpios que justificariam os discursos do poder absolutista ao longo da Idade Moderna. Fica evidente que neste modelo de Estado que desconsiderava as liberdades individuais no haveria espao para a democracia e suas instituies. Ao contrrio, os usos da fora, da austeridade e da represso, geram sociedades onde prevalece a desigualdade, a instabilidade, o medo e o esvaziamento da discusso poltica. Por isso, o final da Idade Moderna foi marcado pela Revoluo Francesa, encabeada por uma burguesia descontente com os desmandos de um rei e desejosa por participao poltica. Assim, ao se olhar para a Histria, possvel ver que as caractersticas deste Estado Soberano no se limitaram s monarquias na Europa, mas tambm se fizeram presentes mesmo que indiretamente e com outra roupagem em diversos regimes ditatoriais como no Brasil e em tantos outros pases na segunda metade do sculo XX, guardadas as devidas propores. Da mesma forma, contra Estados totalitrios com tais caractersticas que lutam hoje muitos povos do norte da frica e do Oriente Mdio.