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História Oral e a produção científica nos programas de Pós-Graduação Stricto Sensu: um estudo a partir do Banco de Teses Capes 2011-2012. GABRIELLI ANNY CARNIELLO DE OLIVEIRA MÁRCIA MARIA DA GRAÇA COSTA * RESUMO O início da História Oral, como atividade organizada, pode ser situado em 1948, com o lançamento do projeto The Oral History Project pelo professor Allan Nevis na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. É possivel situar sua definição no Brasil a partir de 1979, com crescimento após 1983 no processo de redemocratização política do país. Nos anos 1980, arquivos e coleções de instituições e movimentos da sociedade brasileira passaram a cruzar documentos com fontes orais. Em paralelo, muitas universidades também passaram a considerar e dar maior atenção aos depoimentos gravados, com sua inserção nos projetos de pesquisa. A Educação Profissional no Brasil é uma modalidade de educação cuja regulamentação e crescimento são fenômenos relativamente recentes, fato esse que também torna mais recentes as possibilidades de pesquisa sobre o tema. A partir desse cenário da História Oral, o objetivo deste artigo é apresentar um panorama da produção científica associada a essa metodologia em programas de mestrado e doutorado brasileiros, em especial, no âmbito da Educação Profissional. Os indicadores bibliométricos apurados permitem analisar o tamanho e a distribuição da produção científica sobre o tema no Banco de Teses da Capes em 2011 e 2012. Os achados mostram que 2% das 29.048 produções existentes no banco foram desenvolvidas com uso de História Oral. Os resultados permitem concluir que a História Oral tem sido pouco explorada nos programas de pós-graduação, com utilização ainda menos representativa nos doutorados. Os estudos associados ao uso de História Oral na investigação da Formação Profissional se mostram ainda incipientes, o que pode indicar novos caminhos que podem ser trilhados na produção científica associada a essa técnica. Palavras-chave: História oral. Educação profissional. Teses Capes. Bibliometria. ABSTRACT The onset of oral history as an organized activity can be located in 1948, with the launch of the project The Oral History Project by Professor Allan Nevis at Columbia University in the United States. In Brazil, it is possible to situate its definition from 1979, with growth in 1983 after the political democratization process of the country. In the 1980s, archives and collections of institutions and movements of Brazilian society began to cross documents with oral sources. In parallel, many universities have also begun to consider and give greater attention to recorded UNISA, Advogada, Especialista em Direito do Trabalho, Mestranda do programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas. * UNISA, Administradora, Especialista em Controladoria e Finanças, Mestranda do programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas.

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História Oral e a produção científica nos programas de Pós-Graduação Stricto Sensu:

um estudo a partir do Banco de Teses Capes 2011-2012.

GABRIELLI ANNY CARNIELLO DE OLIVEIRA

MÁRCIA MARIA DA GRAÇA COSTA*

RESUMO

O início da História Oral, como atividade organizada, pode ser situado em 1948, com o

lançamento do projeto The Oral History Project pelo professor Allan Nevis na Universidade

de Columbia, nos Estados Unidos. É possivel situar sua definição no Brasil a partir de 1979,

com crescimento após 1983 no processo de redemocratização política do país. Nos anos 1980,

arquivos e coleções de instituições e movimentos da sociedade brasileira passaram a cruzar

documentos com fontes orais. Em paralelo, muitas universidades também passaram a

considerar e dar maior atenção aos depoimentos gravados, com sua inserção nos projetos de

pesquisa. A Educação Profissional no Brasil é uma modalidade de educação cuja

regulamentação e crescimento são fenômenos relativamente recentes, fato esse que também

torna mais recentes as possibilidades de pesquisa sobre o tema. A partir desse cenário da

História Oral, o objetivo deste artigo é apresentar um panorama da produção científica

associada a essa metodologia em programas de mestrado e doutorado brasileiros, em especial,

no âmbito da Educação Profissional. Os indicadores bibliométricos apurados permitem analisar

o tamanho e a distribuição da produção científica sobre o tema no Banco de Teses da Capes em

2011 e 2012. Os achados mostram que 2% das 29.048 produções existentes no banco foram

desenvolvidas com uso de História Oral. Os resultados permitem concluir que a História Oral

tem sido pouco explorada nos programas de pós-graduação, com utilização ainda menos

representativa nos doutorados. Os estudos associados ao uso de História Oral na investigação

da Formação Profissional se mostram ainda incipientes, o que pode indicar novos caminhos que

podem ser trilhados na produção científica associada a essa técnica.

Palavras-chave: História oral. Educação profissional. Teses Capes. Bibliometria.

ABSTRACT

The onset of oral history as an organized activity can be located in 1948, with the launch of the

project The Oral History Project by Professor Allan Nevis at Columbia University in the United

States. In Brazil, it is possible to situate its definition from 1979, with growth in 1983 after the

political democratization process of the country. In the 1980s, archives and collections of

institutions and movements of Brazilian society began to cross documents with oral sources. In

parallel, many universities have also begun to consider and give greater attention to recorded

UNISA, Advogada, Especialista em Direito do Trabalho, Mestranda do programa de Pós-graduação

Interdisciplinar em Ciências Humanas. * UNISA, Administradora, Especialista em Controladoria e Finanças, Mestranda do programa de Pós-graduação

Interdisciplinar em Ciências Humanas.

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statements with their inclusion in research projects. The Professional Education in Brazil is a

type of education which regulation and growth are relatively recent phenomenon, a fact that

also makes more recent research possibilities on the subject. From that scene of oral history,

the purpose of this article is to present an overview of the scientific production associated with

this methodology at the master's programs and doctoral Brazilians, in particular within the

Professional Education. Established bibliometric indicators allow you to analyze the size and

distribution of scientific literature on the subject in the Capes Theses Bank in 2011 and 2012.

The findings show that 2% of the 29 048 existing productions in the bank were developed with

the use of oral history. The results showed that oral history has been little explored in graduate

programs, using even less representative in doctorates. The studies associated with the use of

oral history in the research of vocational training is still incipient show, which may indicate

new paths that can be trodden in scientific production associated with this technique.

Key-words: Oral history. Professional education. Capes theses. Bibliometrics.

INTRODUÇÃO

O início da História Oral como atividade organizada pode ser situado em 1948, com o

lançamento do projeto The Oral History Project pelo professor Allan Nevis na Universidade

de Columbia, nos Estados Unidos. O projeto nasceu em virtude da necessidade de se criar novas

formas para obtenção de informações sobre as experiências de combatentes, familiares e

vitimas dos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Como resultado, o projeto determinou novos

comportamentos dos pesquisadores em relação às entrevistas. O jornalistmo teve papel

importante na divulgação desses relatos de experiência, pois o rádio, os jornais e as revistas

passaram a divulgar essas entrevistas (BOM MEIHY, 1996).

No Brasil, é possivel situar sua definição a partir de 1979, com crescimento após 1983 no

processo de redemocratização política do país. É importante destacar a atuação, nos anos 1970,

da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (CPDOC-FGV), com patrocínio da Fundação

Ford, na promoção de eventos que incentivaram e promoveram a cooperação entre centros de

estudos do país e do exterior para discussão e transmissão de técnicas de história oral

Nos anos 1980, arquivos e coleções de instituições e movimentos da sociedade brasileira

passaram a cruzar documentos com fontes orais. Dentre esses projetos, é possível destacar o

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Museu da Imagem e do Som de São Paulo que iniciou uma série de projetos diferentes,

considerando manifestações de arte e da cultura popular brasileiras.

Em paralelo, muitas universidades também passaram a considerar e dar maior atenção aos

depoimentos gravados, com sua inserção nos projetos de pesquisa. Alguns estudos realizados

com parcelas excluídas da sociedade (presos políticos, por exemplo) se apresentam como

assuntos mais frequentados pelos historiadores orais brasileiros. Esse aspecto revela o

compromisso político da história oral como forma de operação, que coloca a universidade a

serviço da sociedade (BOM MEIHY, 2000).

A partir do crescimento da História Oral em projetos de pesquisa, muitas divergências se

apresentaram quanto à sua definição. Seria uma técnica ou uma metodologia? As opiniões se

dividem. Temos quem considere a história oral uma técnica, quem a compreenda como uma

metodologia, quem a tome por uma disciplina (AMADO, 2000).

Ficamos aqui com o ponto de vista de Philippe Joutard e Alessandro Portelli, nos textos

produzidos para o livro ‘Usos e abusos da história oral’ (JOUTARD, 2006; PORTELLI, 2006),

que a defendem como uma metodologia que seria algo mais abrangente e complexo do que uma

simples técnica de entrevista.

Nesse sentido, a fonte oral pode não ser um dado preciso, mas possui dados que, às vezes, um

documento escrito não possui. Ela se impõe como primordial para compreensão e estudo do

tempo presente, pois só através dela podemos conhecer os sonhos, anseios, crenças e

lembranças do passado de pessoas anônimas, simples, sem nenhum status político ou

econômico, mas que viveram os acontecimentos de sua época.

A evolução da tecnologia, dos recursos multimídia e o advento da Internet permitem a utilização

de texto, som e imagem das entrevistas, viabilizando o intercâmbio e a interação das memórias,

bem como dos resultados das pesquisas.

Um outro ponto que deve ser apresentado nesta breve introdução, diz respeito à Educação

Profissional, foco do simpósio temático ao qual este estudo se filia. Este artigo assume a

definição dessa modalidade de educação como aquela que tem como objetivos não só a

formação de técnicos de nível médio, mas a qualificação a requalificação para trabalhadores

com qualquer escolaridade, a atualização tecnológica permanente e a habilitação nos níveis

médio e superior (BERGER FILHO, 1999).

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Tomando por base o pronunciamento do Ministério da Educação (2009), no centenário da Rede

Federal de Educação Profissional e Tecnológica no Brasil, aponta que entre 1909 e 2002, foram

construídas 140 unidades. O documento também aponta que apenas em 2004 o ensino técnico

de nível médio foi integrado ao ensino médio tradicional.

Um marco para a educação profissional foi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei

9.394/96, pois as leis de diretrizes e bases anteriores sempre trataram da educação profissional

apenas parcialmente, vinculando a formação para o trabalho a determinados níveis de ensino,

como educação formal, quer na época dos ginásios comerciais e industriais, quer posteriormente

através da Lei 5.692/71, com o segundo grau profissionalizante (BERGER FILHO, 1999).

O ensino de nível superior categorizado como técnico – ou tecnológico, começa a ser expandido

apenas em 2005, e ainda assim, no âmbito do sistema federal de ensino. Em 2006, se dá o

lançamento do Catálogo Nacional dos Cursos Superiores de Tecnologia. Uma iniciativa

destinada à disciplinar, de maneira mais ampla, os cursos oferecidos por instituições de ensino

público e privado (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009).

Essa síntese é importante para situar a própria Educação Profissional no Brasil e demonstrar

que se trata de uma modalidade de educação cuja regulamentação e crescimento são fenômenos

relativamente recentes, fato esse que também torna mais recentes as possibilidades de pesquisa

sobre o tema.

A partir desse cenário da História Oral enquanto metodologia, e da Educação profissional; o

objetivo deste artigo é apresentar um panorama da produção científica associada a essa

metodologia em programas de mestrado e doutorado brasileiros, em especial, no âmbito da

Educação Profissional.

A relevância desse tipo de pesquisa reside no fato de se conhecer melhor os mecanismos da

investigação científica enquanto atividade social, bem como a dinâmica e a estrutura dos grupos

de investigadores que produzem a partir da metodologia da História Oral.

A apuração da produção científica, nos diversos campos do conhecimento, é uma atividade que

exige uma busca criteriosa da fontes de publicação. Nesse tipo de pesquisa, a ferramenta que

se destaca como instrumental de apoio metodológico do pesquisador é a bibliometria, uma vez

que ela permite realizar um inventário das atividades científicas, ou seja, mensurar o tamanho,

o crescimento e a distribuição da bibliografia científica.

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A partir de indicadores bibliométricos apurados, é possível analisar os processos de geração,

propagação e uso da literatura (SAES, 2000). Num sentido mais amplo, a bibliometria pode ser

definida como a medida quantitativa da bibliografia de um autor, de uma instituição, de uma

área ou de um tema do conhecimento.

O avanço das tecnologias de informação viabiliza a existência de bases de dados bibliográficos

que permite avaliar o que se produz, dentre outros campos, nos programas de pós graduação

strict sensu.

METODOLOGIA

Esta pesquisa, realizada a partir de indicadores bibliométricos, pode ser classificada quanto ao

seu objetivo como descritiva por tratar-se de uma pesquisa que observa, registra, analisa e

correlaciona fatos ou variáveis sem manipulá-las. Quanto a sua abordagem, a pesquisa é

quantitativa e os procedimentos técnicos adotados se enquadram no tipo documental. A

abordagem quantitativa se define pelo emprego de quantificação tanto nas modalidades de

coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas

(MARCONI, LAKATOS, 2010; MINAYO, 1993; SANTOS, 2000).

A primeira etapa constitui-se do levantamento de dados, realizado no sítio do Bancos de Teses

da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)1 no período de

01/11/2015 a 20/11/2015.

Foi utilizado como critério de pesquisa e escolha os estudos que apresentassem o termo

‘História Oral’ nos campos de pesquisa disponíveis, a saber: palavras-chave, título, resumo,

todos os campos.

A etapa seguinte consistiu na classificação dos estudos encontrados, separando-os em: Áreas

do conhecimento, Instituições de ensino, Nível do curso e Data da defesa.

Em virtude de o foco desta pesquisa situar-se na produção científica de Educação Profissional,

uma nova etapa envolveu a leitura e análise dos resumos dos trabalhos da Área de

1 Cabe destacar que o Banco de Teses da Capes passa por um trabalho de revisão e adequação, tornando

disponíveis apenas os trabalhos de 2011 e 2012

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Conhecimento ‘Educação’ para categorização dos estudos, o que permitiu segregá-los nos

seguintes grupos:

Criminalidade e violência;

Cultura africana e afro-brasileira;

Cultura, etnias, migração;

Diversidade racial e gênero;

Educação inclusiva;

Educação infantil, alfabetização, letramento;

Estratégias de ensino e práticas pedagógicas;

Formação e experiência docente;

Formação profissional;

Memória, história, identidade;

Os resultados obtidos nas etapas descritas foram sistematizados e estruturados por meio de

estatística descritiva, com a utilização do software Excel. As descobertas estão estruturadas e

apresentadas, na próxima seção, em gráficos e tabelas, utilizando como medidas síntese as

porcentagens.

APRESENTAÇAO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A base total da Capes apresentou 29.048 trabalhos referentes ao período 2011-2012, sendo que

2% foram desenvolvidos com uso exclusivo ou combinado de História Oral, como pode-se

observar no gráfico 1.

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Gráfico 1 – Trabalhos da Capes versus Trabalhos com História Oral

Fonte: elaborado pelas autoras

Áreas de Conhecimento

A partir da classificação existente na base da Capes, foi realizada uma primeira classificação

por Áreas de Conhecimento, que resultou na constatação de que os 573 estudos estão

distribuídos em 68 áreas, sendo 75% concentrados nas 12 descritas na tabela 1.

Tabela 1 – Distribuição por Área de Conhecimento

ÁREA DE CONHECIMENTO

Nº DE

TRABALHOS

% DE

PARTICIPAÇÃO

Educação 148 26%

História 62 11%

Enfermagem 39 7%

Letras 35 6%

Ciências sociais e humanidades 29 5%

Ensino de ciências e matemática 22 4%

Serviço social 22 4%

Psicologia 20 3%

Sociologia 16 3%

Geografia 15 2%

História do brasil 14 2%

Teologia 14 2%

Subtotal 428 75%

Demais áreas 145 25%

Total 573 100%

Fonte: elaborado pelas autoras

Um exame dos trabalhos por área demonstrou que, apesar de a História Oral estar comumente

associada às pesquisas na área de História, a metodologia encontra maior alcance nos estudos

da área de Educação, que respondem por 26% das pesquisas desenvolvidas com essa

metodologia.

Instituições de ensino

Outra disposição dos estudos resultou em 127 Instituições de ensino, com 27% centralizados

em oito instituições e o restante disperso nas demais. Os achados podem ser observados na

tabela 2.

Tabela 2 – Distribuição por Instituição de Ensino

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INSTITUIÇÕES DE ENSINO Nº DE

TRABALHOS

% DE

PARTICIPAÇÃO

Universidade Federal da Paraíba 31 5%

Universidade de São Paulo 30 5%

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 24 4%

Fundação Universidade Federal do Piauí 18 3%

Universidade Estadual de Campinas 17 3%

Universidade do Estado da Bahia 14 2%

Universidade Estadual Paulista 13 2%

Universidade de Brasília 9 2%

Subtotal 156 27%

Demais instituições 417 73%

TOTAL 573 100%

Fonte: elaborado pelas autoras

É possível identificar concentração de estudos em instituições de ensino públicas, com cinco

das universidades das oito listas. Também se percebe uma tendência localizada em São Paulo,

com metade das instituições situadas neste Estado.

Nível de curso

A apreciação por Nível de curso, conforme Tabela 3, mostrou que mais de 80% das pesquisas

foram realizadas no nível de Mestrado, em especial, o do tipo Acadêmico.

Tabela 3 – Distribuição por Nível de Curso

NÍVEL DO CURSO Nº DE

TRABALHOS

% DE

PARTICIPAÇÃO

Mestrado Acadêmico 448 78%

Mestrado Profissional 21 4%

Doutorado 104 18%

TOTAL 573 100%

Fonte: elaborado pelas autoras

Essa distribuição não apresentou diferença significativa em relação àquela aferida em todos os

trabalhos disponíveis na Capes, com 79% em programas de mestrado e 21% para doutorado.

Ano de defesa

O estudo por ano de defesa foi realizado para apurar o crescimento da utilização dessa

metodologia, ainda que num período restrito. Nesta análise acerca de todos os estudos, sem a

segregação por Área de Conhecimento, foi identificado um crescimento de 27% quando

comparadas as pesquisas defendidas em 2011 (252) e 2012 (321).

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Análise dos estudos de Educação

Para compreender melhor os estudos desenvolvidos em Educação, com base em História Oral,

os trabalhos desta área foram submetidos a análise mais detalhada, a partir da leitura dos

resumos. Essa operação permitiu a categorização e a quantificação dos estudos em 11

categorias, conforme gráfico 2.

Gráfico 2 – Categorias dos estudos de Educação

Fonte: elaborado pelas autoras

Essa quantificação demonstrou que a maior parte das pesquisas foi realizada nas áreas de

Memória, história e identidade e Formação Docente. A crítica mais apurada dos resumos das

dissertações e teses dessas categorias evidenciou que, ainda que os estudos estejam

classificados na área de Educação, os objetivos estão mais alinhados com uma tendência

historiográfica, característica própria das pesquisas que utilizam a História Oral como

metodologia, ainda que em combinação com outras metodologias,

Do ponto de vista das Instituições de Ensino, cerca de um terço estão localizados em cinco

instituições. Constatou-se, também, perfil semelhante dos demais trabalhos, ou seja, a

concentração em instituições públicas. Não se confirmou aqui, a ênfase em instituições do

Estado de São Paulo.

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Tabela 4 – Educação: distribuição por Instituição de Ensino

INSTITUIÇÕES DE ENSINO Nº DE

TRABALHOS

% DE

PARTICIPAÇÃO

Universidade Federal do Ceará 15 10%

Universidade Estadual de Campinas 11 8%

Universidade Federal de Pelotas 9 6%

Universidade Federal Fluminense 7 5%

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 6 4%

Subtotal 49 33%

Demais instituições 99 67%

TOTAL 148 100%

Fonte: elaborado pelas autoras

Foi elaborada a comparação da quantidade de trabalhos nos dois anos, 2011 e 2012, para apurar

o crescimento da produção. Verificou-se crescimento de 36% quando comparados as 63

pesquisas de 2011 com as 85 de 2012.

Comparado ao crescimento observado em todos os trabalhos, qual seja 27%, é possível afirmar

que houve crescimento maior nos trabalhos da Área de Educação.

CONSIDERAÇOES FINAIS

Este trabalho, em virtude de sua abordagem quantitativa baseada em análise bibliométrica, não

teve como pretensão analisar as formas como a metodologia da História Oral tem sido utilizada

na pesquisa científica, mas tão somente, fazer um levantamento acerca de quantos trabalhos

estão sendo produzidos com essa metodologia, em relação à totalidade de estudos

desenvolvidos no mesmo período.

O fato de apenas 2% das pesquisas terem sido realizadas a partir da metodologia em estudo não

reduz a sua importância, ao contrário, reforça o crescimento de um método inovador e que

adentrou o espaço da pesquisa acadêmica há pouco mais de duas décadas, concorrendo com

metodologias consagradas e presentes no âmbito da produção da ciência há séculos.

A sistematização dos achados e a separação dos estudos da Área de Educação tiveram como

objetivos afinar a quantificação para permitir compreender, dentre toda pesquisa produzida com

História Oral, o quanto os estudos de educação se fazem presente. Assim, a evidenciação de

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que a área de Educação responde por mais de um quarto das pesquisas demonstra a importância

dos estudos de educação na esfera da História Oral.

Estudos relacionados à Formação Profissional, foco temático do simpósio, representam 7,6%

das pesquisas em Educação e 1,5% da produção geral. A princípio, uma situação que aparenta

pouca representatividade. No entanto, considerando o histórico recente dessa modalidade de

educação, pesquisas na área tendem a ter sido desenvolvidas com mais consistência a partir do

início dos anos 2000. Por esse motivo, ao analisar estudos realizados entre 2011 e 2012, temos

apenas uma década entre o início e o crescimento da Educação Profissional.

Se os estudos associados ao uso de História Oral na investigação da Formação Profissional se

mostram ainda incipientes do ponto de vista quantitatico, pode ser uma indicação de novos

caminhos que podem ser trilhados na produção científica associada a essa técnica.

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M.; ALBERTI, Verena (Orgs.). História oral: desafios para o século XXI. Rio de Janeiro :

Editora Fiocruz /Casa de Oswaldo Cruz / CPDOC - Fundação Getulio Vargas, 2000. p. 104-

112. Disponível em: http://static.scielo.org/scielobooks/2k2mb/pdf/ferreira-

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In: FERREIRA, Marieta M.; FERNANDES, Tania M.; ALBERTI, Verena (Orgs.). História

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CPDOC - Fundação Getulio Vargas, 2000. p. 85-98. Disponível em:

http://static.scielo.org/scielobooks/2k2mb/pdf/ferreira-9788575412879.pdf. Acesso em: 12

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BOM MEIHY, José C. S. Manual de história oral. São Paulo: Edições Loyola, 1996.

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Janeiro: FGV, 2006. p. 43-64.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 4.ed

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MINAYO, Maria Cecília de Souza; SANCHES, Odécio. (1993). Quantitativo-

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Centenário da Rede Federal de Educação

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PORTELLI, Alessandro. O massacre de Civitella Val di Chiana (Toscana: 29 de junho

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SAES, S.G. Estudo bibliométrico das publicações em economia da saúde, no Brasil

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