História da Habitação e Mobiliário

Antonio Castelnou

AULA 11

Habitação Moderna

◼ A reinterpretação da casa inglesa, somada às experiências americanas, fez nascer o conceito

moderno de moradia, baseado no equilíbrio entre individual/social e espaço fechado/

contínuo; e o sentido de proteção e privacidade.

◼ Com a afirmação da sociedade industrial, uma nova concepção de harmonia nasceu nos

interiores europeus: o MODERNISMO, no qual o que passa a interessar são as razões

funcionais e técnico-econômicas dos espaços.

◼ O momento decisivo para essa transformação ocorreu

aproximadamente entre 1885 e 1915 (Belle Époque), no qual se desenvolveram tendências de

recusa ao HISTORICISMO,

por meio dos movimentos de vanguarda, o que foi reflexo

das mudanças que já vinham se processando desde a Revolução

Industrial (1750-1830).

Gramofone

Telégrafo

Rádio

Telefone

Elevador

◼ Na passagem do século XIX para o XX, reconheceu-se o início der uma nova era – a

ERA DA MÁQUINA –,

caracterizada pelas novas condições de vida, cujos

caminhos foram abertos por invenções e descobertas, além de diversos progressos técnico-construtivos, os quais levavam

à necessidade urgente de superação do tradicional.

Thomas Edison (1847-1931)e seu carro elétrico (1914)

Cadillac Model B-Runaboui (1904), De-Dion ButtonVis-a-Vis (1900) e Unic GS Roi-des-Belge (1911)

◼ Ao mesmo tempo, houve transformações

socioeconômicas em uma fase de paz e prosperidade

econômica, devido à expansão do comércio

internacional e o aumento da confiança no PROGRESSO,

o que, porém, acabou conduzindo à Primeira

Guerra Mundial (1914/18).

Entrées du Metropolitan(1898/1901, Paris França)

Hector Guimard (1867-1942)

◼ Deve-se citar ainda as contribuições das pesquisas dos americanos Henry R. Richardson (1838-86),

Louis Sullivan (1856-1924)e, sobretudo, Frank Lloyd

Wright (1869-1959), que, na segunda metade do século

XIX, reinterpretaram as experiências coloniais inglesas e sua versão revival através

do SHINGLE & STICK STYLE (1860/90).

Rev. Percy Browne House (1881/82, Marion MA)Henry R. Richardson (1838-86)

Louis Sullivan (1856-1924)Harold C. Bradley House(1909, Madison WI)

Henry R. Richardson (1838-86) William W. Sherman House(1870/74, Newport Rhode Island)

1 Hall 6 Biblioteca2 Living Room 7 Music Room3 Drawing Room 8 Dormitórios4 Dining Room 9 Banheiros5 Coz./Serv. 10 Terraço

8 8

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3

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2

9

9

5 7

Pav. Superior

Pav. Térreo

Elevador

◼ Wright reinterpretou a espacialidade doméstica

americana, privilegiando a HABITABILIDADE dos ambientes e introduzindo nova continuidade entre

interior e exterior.

◼ A difusão de suas PRAIRE HOUSES, construídas aos

arredores de Chicago EUA, entre 1890 e 1910, influenciou todos os arquitetos europeus.

Nathan G. Moore House (1895, Chicago IL)Frank L. Wright (1869-1959)

Warren Hickox House(1900, Kankakee IL)

Edward R.Hills House

(1906,Oak Park IL)

◼ As principais contribuições wrightianas para o nascimento

da CASA MODERNA foram:

❑ Sentido de proteção (casa como refúgio, o que é intensificado pelo uso de amplas coberturas)

❑ Concepção centrífuga(uso simbólico da lareira como partida para a expansão cruciforme da planta)

❑ Continuidade espacial (criação de espaços integrados e de transição; relação com a paisagem)

❑ Valorização matérica(exploração da natureza do material, eliminando a decoração supérflua)

Frank L. Wright (1869-1959)Ward W. Willits House (1901, Highland Park IL)

Art Nouveau

◼ Estilo decorativo múltiplo, sendo mais um conjunto de

manifestações artísticas, iniciadas por volta de 1890 em

Bruxelas (Bélgica) e que se caracterizavam por uma

grande experiência recíproca de personalidades singulares, as quais tinham em comum a

NOVIDADE em estilos pessoais.

Hôtel Tassel (1892/93, Bruxelas Bélgica)

Victor Horta (1861-1947)

123456789

10

VestíbuloGuarda-roupaEstúdioSaletasSala de estarMezaninoAntecâmaraDormitórioSalas de serviçosSala de trabalho

Hôtel Tassel (1892/93, Bruxelas – Bélgica)

◼ Expressando o tom festivo de uma moda ou estilo criado de

improviso, foi marcado por criações originais, que

abandonavam as citações do passado (Ecletismo).

◼ O ART NOUVEAU pode ser considerado o último estilo ornamental do século XIX, servindo de base para o

pensamento moderno, por retomar questões como a funcionalidade e a unidade

estilística.

Victor Horta (1861-1947)Hôtel Tassel (1898, Bruxelas Bélgica)

◼ Produzindo uma decoração espaçosa que restabelecia o senso de unidade, seu elemento mais marcante foi a LINHA

ONDULADA, que terminava em um movimento cheio de energia e que pôde ser elegante e graciosa (Grã-Bretanha)

ou dinâmica e animada (França e Bélgica).

Maison Adrien Bénard (1901, Champrosay Fr.)Alexandre Charpentier (1856-1909)

Charkles R. Mackintosh (1868-1928) Mackintosh House’s Dining Room(1898/1900, Glasgow Escócia)

◼ Essa linha ornamental tinha fundo simbólico, onde se

selecionavam ELEMENTOS NATURAIS (rebento viçoso, broto vegetal e botão floral) para expressar a alegria de

viver e o nascimento de uma nova era, resultando em uma decoração sinuosa, dinâmica e assimétrica (produção original,

mas cara e luxuosa).

Maison Masson (1903, Nancy França)Eugène Vallin (1856-1922)

◼ Elementos lineares e cromáticos acentuaram a estruturação da forma do MOBILIÁRIO, feito

geralmente em nogueira, carvalho e acaju, fazendo com que ocorresse a fusão entre o

ornamento e o objeto/móvel.

◼ Objetiva-se assim obter uma empatia artística – TEORIA DE

EINFÜELUNG – , isto é, as formas deveriam atrair, provocar e seduzir o espectador, promovendo o gozo

estético através da beleza.

Henry van de Velde(1863-1957)

◼ Recebendo varias designações conforme os países em que ocorreu, o ART NOUVEAU

inspirou-se principalmente em formas femininas, fauna e flora.

◼ Na França, ficou conhecido como Style Fin-de-Siècle , 1900

ou Métro, além de STYLE GUIMARD, devido ao seu maior

expoente, Hector Guimard(1867-1942), cujo trabalho

baseava-se em formas orgânicas que tendiam à abstração.

◼ Destacaram-se também ÉmileGallé (1846-1909), EugèneVallin (1856-1922), Louis Majorelle (1859-1926), Eugène Gaillard (1862-

1933) e Georges De Feure(1868-1928), este de gosto

bastante refinado por mobiliário dourado e/ou laçado.

◼ Na decoração interior, utilizou-se muito da madeira através de cornijas curvilíneas, lambris e

molduras de lareiras.

Georges De Feure (1868-1928)

Canapé

Cabinet-Vitrine

Poltrone

Chandelier

Style Fin-de-Siècle

◼ Na Espanha, Antoni Gaudí (1852-1926) baseava suas criações em formas rochosas e contornos zoomórficos, na busca de uma fantasia naturalista, que era fruto de uma

interpretação pessoal das tradições mouras e catalãs, além de experiências empíricas de materiais (Estilo Joven).

Interior da Casa Batló(1905/10, Barcelona Espanha)

◼ Na Alemanha, o JUGENDSTIL difundiu-se

principalmente em Munique e Darmstadt, através de uma versão

fantasiosa e inspirada em formais vegetais e animais estilizados, cujos maiores

representantes foram Richard Riemerschmid(1868-1957) e August Endell (1871-1925).

Atelier Elvira (1897, MuniqueAlemanha – d.1944)

August Endell (1871-1925)

Richard Riemerschmid (1868-1957)

◼ Na Áustria, os maiores expoentes do SEZESSIONSTIL foram: Otto Wagner (1841-1918), Joseph Obrich

(1867-1908) e Joseph Hoffmann (1870-1956), que criaram uma versão do Art Nouveau mais contida, a qual

caminhou para a geometrização.

Sezessionstil

◼ Na Escócia, Charles R.Mackintosh (1868-

1928) caracterizou-se por seu maior apego à pureza construtiva e à sobriedade decorativa, afastando-se do caráter linear e naturalista

do estilo europeu, produzindo interiores e mobiliários de grande

identidade, marcados por arabescos lineares.

Argyle Chair& Armchair

Hill Chair(1901/04)

Modernismo

◼ O MOVIMENTO MODERNO (1915/45)consistiu em uma série de transformações nos

modos de pensar e fazer arquitetura, tendo sido constituído por várias correntes de renovação

artística (artes figurativas e aplicadas).

◼ Tais vanguardas buscavam a expressão de uma arquitetura definitiva para a sociedade industrial,

esta baseada na funcionalidade, na pureza geométrica e na industrialização dos materiais

e métodos construtivos (standards)

◼ As correntes que formaram as

bases do MODERNISMOtrouxeram uma nova concepção da arquitetura como síntese das artes plásticas, de formas puras, ortogonais e sem ornamentos.

Schröder-Schräder Haus(1924, Utrech Holanda)

Gerrit Rietveld (1888-1964)Piet Mondrian (1872-1944)

Red-&-Blue Chair(1917)

◼ A contribuição de Adolf Loos(1870-1933) foi fundamental através de sua teoria de projeto

dos espaços habitacionais

denominada RAUMPLAN.

◼ Segundo ela, a casa deve ser concebida como um sistema

complexo de espaços fechados diferenciados, integrados em

diversas cotas e níveis, os quais possibilitem distintas zonas de

interrelações funcionais.

Adolf Loos (1870-1933)Steiner House (1910, Viena Áustria)

Armchair (1899)

◼ RAUMPLAN:✓ Diferenciação em

planta e elevação de cada cômodo da casa;

✓ Progressão ascendente dos espaços e desníveis planimétricos;

✓ Conexão dos diversos volumes entre si criando espaços de transição.

Müllerhaus(1930, Praga Rep. Tcheca)Adolf Loos (1870-1933)

KnieschwimmerEasy Chair

◼ O AMBIENTE MODERNO nasceu com os novos materiais

e técnicas industrializadas, assim como através das

vanguardas e do rompimento de dogmas classicistas: a

ornamentação não-utilitária foi abolida, em prol de uma

organização espacial prática, lógica e funcional.

Villa Jeanneret-Perret – Maison Blanche(1912, La Chaux-de-Fonds Suíça)Charles E. Jeanneret (1887-1965)

◼ Partindo da herança loosiana, a tridimensionalidade das

propostas de LE CORBUSIER (1887-1965) também foi

fundamental para o nascimento da moradia moderna: síntese

entre interior e exterior, esta foi marcada pelo jogo de alturas simples e múltiplas, junto à

aplicação dos novos materiais, tecnologias e modos de vida.

Le Corbusier (1887-1965)Villa La Roche

(1923/25, Paris França)

LC Confort

1

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10

Pav. Térreo 1º. Pavimento 2º. Pavimento

1 Hall social 6 Sala de estar2 Entr. serviços 7 Sala de jantar3 Garagem 8 Cozinha4 Despensas 9 Terraço5 Quartos serv. 10 Dormitórios

Villa Stein (1926/27, Garches França)

Villa Savoye(1928/30, Poissy França)

Le Corbusier (1887-1965)

Walter Gropius (1883-1969)Casas dos professores da Bauhaus(1924/25, Dessau Alemanha)

◼ Difundido no período entre-guerras (Décadas 1920/30),

o FUNCIONALISMOmoderno teve como centros a Alemanha, França e Itália; e defendia que as formas e espaços interiores deveriam

ser definidos por razões objetivas, lógicas e

construtivas (pureza e geometrização formal).

◼ A escola alemã

STAATLICHES BAUHAUS (1919/33),

fundada por Walter Gropius(1883-1969), promoveu o elo

de ligação entre os ideais modernistas e as soluções

espaciais, constituindo-se em um centro de formação, discussão e difusão do pensamento funcional.

Bauhaus Design(Déc. 1920)

◼ Defendendo a simplificação e estandardização, a Bauhausconduziu à criação de formas essenciais e puras, as quais

permitiam ressaltar as qualidades estéticas dos objetos.

◼ Colocava no GOOD DESIGN do mobiliário a solução dos espaços interiores, voltando-se também à criação de objetos de ilimitada

capacidade de produção em série e ótima qualidade.

Marcel Breuer (1902-81) Lis Beyerou Ise Gropius (máscara de Oskar Schlemmer) sentada na Wassily Armchair (1925/26)

S33 Chair (1923/26)Mart Stam (1899-1986)

Breuer’sCescaChairs(1928)

◼ Entre as contribuições da

BAUHAUS, podem ser

citadas as dos arquitetos Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969),

Hannes Meyer (1889-1954), Mart Stam

(1899-1986) e Marcel Breuer (1902-81).

Chaise-Lougue & tablesLudwig Mies van der Rohe

(1886-1969)

Barcelona chair (1929)

1 Hall 7 Banheiros2 Estúdio 8 Dormitórios3 Sala de estar 9 Garagem4 Sala de jantar 10 Depósito5 Cozinha 11 Dep. Chofer6 Serviços 12 Terraço

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Mies van der Rohe (1886-1969)Tugendhat House (1930, Brno Rep. Tcheca)

◼ A partir dos anos 1930, o conflito entre o pensamento

moderno e os regimes autoritários de alguns países

acabou por isolar as experiências funcionalistas,

chegando a uma total supressão destas (Alemanha

e Áustria) ou a um desenvolvimento marginal

(França e Itália), através de uma versão “adocicada”.

ESTILOART DÉCO

Art Déco

◼ Estilo decorativo que surgiu em Paris em 1925 como reação ao design

moderno, manifestando-se no período entre-guerras e

conjugando arte e indústria, a partir de várias influências, do cubismo à arte egípcia, passando

pelo folclore ameríndio e pela industrialização.

Paul Follot (1877-1941)

◼ Baseando-se em técnicas refinadas e ricos materiais, o

ART DÉCO visava evitar a

sensação de pobreza trazida pela simplificação modernista

das formas, obtendo interiores confortáveis por meio de uma decoração

unitária, com a aplicação de temas de fauna ou flora

misturados com ornatos e motivos geométricos.

Maurice Dufrêne(1876-1955)

Buffet

Chaises

Bureau

◼ Os principais motivos decorativos eram formas geométricas, padrões abstratos, tarjas coloridas e ziguezagues, além do

uso de bronze, marfim e ébano em móveis que respeitavam a tipologia tradicional de cômodas, secretárias e poltronas.

Émile-Jacques Ruhlmann(1879-1933)

◼ Os detalhes reproduziam em retas, ângulos e curvas básicas, frisos, diamantes, gregas, serrilhados, máscaras, ondas, linhas de força, ordenações, escalonamentos e tantos outros motivos

de pequena escala que se somavam aos corpos geometrizados dos ambientes.

Armad A. Rateau(1882-1938)Table (1930)

Jules-Émile Leleu (1883-1961)

◼ Liderados por Louis Süe(1875-1968) e André Maré (1885-1932), seus maiores

expoentes foram: Émile-Jacques Ruhlmann (1879-

1933), Maurice Dufrêne(1876-1955) e Jules-Émile

Leleu (1883-1961), que abusaram no emprego de

entalhes requintados, estuques dourados, folheados exóticos,

marchetarias nobres e incrustações de marfim.

Süe et MareCabinet (1925)

Poltrone

Table Chaise

Bibliografia

❑ DORFLES, G. A arquitetura moderna. Lisboa: Edições 70, Col. A & C, 2000.

❑ HARDY, W. Guia de Arte Nova. Lisboa: Estampa, 1996.

❑ KETTIGER, E. et al. Muebles y interiores. Barcelona: Gustavo Gili, 1990.

❑ KOCH, W. Dicionário dos estilos arquitetônicos. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

❑ PEVSNER, N. Origens da arquitetura moderna e do design. São Paulo: Martins Fontes, 1981.

❑ VAN DE LEMME, A. Guia de Art Déco. Lisboa: Estampa, 1996.