história ilustada do cristianismo by justo l gonzalez

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  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Gonzlez, Justo L.Histria ilustrada do cristianismo : a era dos mrtires at a era dos sonhos frustados / Justo L. Gonzlez ; traduo Hans Udo Fuchs, Key Yuasa. -- 2. ed. rev. com roteiro de leitura. -- So Paulo : Vida Nova, 2011.

    Ttulo original: Y hasta lo ltimo de la tierra : una historia ilustrada del cristianismo.BibliografiaISBN 978-85-275-0454-6

    1. Igreja - Histria I. Ttulo.

    10-11736 CDD-270

    ndices para catlogo sistemtico:1. Cristianismo : Histria da Igreja 270

  • TradutoresParte 1 Key Yuasa

    Partes 2 a 5 Hans Udo Fuchs

  • 1978, Justo L. Gonzlez Ttulo original: Y hasta lo ltimo de la tierra: Una historia ilustrada del cristianismo

    Tomo 1 La era de los mrtires 1. edio em portugus: 1980Tomo 2 La era de los gigantes 1. edio em portugus: 1980Tomo 3 La era de las tinieblas 1. edio em portugus: 1981Tomo 4 La era de los altos ideales 1. edio em portugus: 1981Tomo 5 La era de los sueos frustrados 1. edio em portugus: 1981

    Originalmente publicado por Editorial Caribe, 1360 NW 88 Ave, Miami, Flrida, 33172, E.U.A.

    2. edio em portugus: 2011

    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos reservados por Sociedade ReligioSa edieS Vida NoVa, Caixa Postal 21266, So Paulo, SP, 04602-970www.vidanova.com.br

    Proibida a reproduo por quaisquer meios (mecnicos, eletrnicos, xerogrficos, fotogrficos, gravao, estocagem em banco de dados, etc.), a no ser em citaes breves com indicao de fonte.

    ISBN 978-85-275-0454-6

    Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    SupeRViSo editoRialMarisa K. A. de Siqueira Lopes

    cooRdeNao editoRialDjair Dias Filho

    cooRdeNao de pRoduoSrgio Siqueira Moura

    ReViSoAldo Menezes

    ReViSo de pRoVaSUbevaldo G. Sampaio

    digitalizao e tRatameNto de imageNSAssisnet Design Grfico Ltda.

    diagRamao e capa Osiris Carezzato Rangel RodriguesOM Designers Grficos

  • Introduo................................................ 7

    Parte 1 A era dos mrtires

    Cronologia............................................. 11Mapa.do.Imprio.Romano..................... 141. Cristianismo e histria ...................... 152. A plenitude dos tempos ..................... 183. A igreja de Jerusalm ........................ 284. A misso aos gentios ......................... 315. Os primeiros conflitos com

    o Estado ..................................... 386. A perseguio no sculo II ................ 457. A defesa da f .................................... 558. O depsito da f ................................ 649. Os mestres da igreja .......................... 7210. A perseguio no sculo III ............. 8611. A vida crist ................................... 9412. A grande perseguio e o

    triunfo final .............................. 103

    Parte 2 A era dos gigantes

    Cronologia........................................... 11713. O impacto de Constantino ............. 12114. A teologia oficial: Eusbio

    de Cesareia ............................... 14115. A reao monstica ....................... 146

    16. A reao cismtica: o donatismo .....16017. A controvrsia ariana e o

    conclio de Niceia .................... 16418. A reao pag: Juliano,

    o apstata ................................. 17319. Atansio de Alexandria ................. 17920. Os grandes Capadcios ................. 18521. Ambrsio de Milo ....................... 19422. Joo Crisstomo ............................ 19823. Jernimo ........................................ 20324. Agostinho de Hipona ..................... 20725. O fim de uma era ........................... 216

    Parte 3 A era das trevas

    Cronologia........................................... 22126. Sob o regime dos brbaros ............ 22627. O monasticismo beneditino ........... 24928. O papado ....................................... 26229. A igreja oriental ............................. 27630. As igrejas dissidentes .................... 29231. As conquistas rabes ..................... 30232. Sob o regime dos carolngios ........ 30833. A igreja do Oriente depois das

    conquistas rabes ..................... 32134. Antes do alvorecer,

    a noite escura ........................... 326

    SUMRIO

  • Parte 4 A era dos altos ideais

    Cronologia...........................................33535. A reforma monstica ..................... 33936. A reforma papal ............................. 34537. O conflito entre o pontificado

    e o Imprio ............................... 35338. As cruzadas ................................... 36239. A reconquista espanhola ............... 38540. As ordens mendicantes .................. 40041. A atividade teolgica ..................... 40942. Testemunhos de pedra ................... 42243. O pice do papado ......................... 435

    Parte 5 A era dos sonhos frustrados

    Cronologia...........................................44544. As novas condies ....................... 44845. O papado sob a sombra

    da Frana .................................. 46346. O Grande Cisma do Ocidente ....... 47547. A reforma conciliar ....................... 47948. Joo Wycliffe................................. 48749. Joo Huss ...................................... 493

    50. Os movimentos populares ............. 50251. A alternativa mstica ...................... 50952. A teologia acadmica .................... 51253. O renascimento

    e o humanismo ......................... 51554. Jernimo Savonarola ..................... 52855. O fim do Imprio Bizantino .......... 534

    Roteiro de leitura

    Explicaes.Preliminares..................... 541Introduo ........................................... 543A Igreja Antiga: Parte 1

    A.era.dos.mrtires.................... 547O Imprio Cristo: Parte 2

    A.era.dos.gigantes ................... 553A Baixa Idade Mdia: Parte 3

    A.era.das.trevas ....................... 557A Alta Idade Mdia: Parte 4

    A.era.dos.altos.ideais ............... 563O Fim da Idade Mdia: Parte 5

    A.era.dos.sonhos.frustrados ......568

    ndice.remissivo................................... 573

    histria ilustrada do cristianismo

  • IntROdUO

    Em certo sentido, esta histria uma autobiografia. Contudo, em lugar de comear com meu nascimento, comea sculos antes, e narra toda uma srie de acontecimentos que, no final, seriam determinantes na minha vida. Sem esses sculos passados, meu nascimen-to e toda minha vida pareceriam flutuar no vazio.

    Mas, mais que uma autobiografia individual, esta histria a biografia desse povo de Deus chamado igreja, onde minha f foi formada e nutrida. Sem compreend-la, no compreendo a mim mesmo; sem conhecer a sua histria, no a compreendo.

    Portanto, no se trata aqui de um interesse de antiqurio em tempos passados que nun-ca voltaro; antes, trata-se de uma necessidade urgente de conhecer esses tempos passados que seguem presentes ainda entre ns limitando nossas opes, determinando nossas perspectivas e assinalando-nos o caminho em direo ao futuro.

    Quando escrevi Uma histria ilustrada do cristianismo, a obra constava de 10 volumes. Agora, graas aos esforos de Edies Vida Nova, o leitor tem em mos esses volumes reunidos numa s publicao. Cada volume agora corresponde a uma parte.

    A Parte 1, A era dos mrtires, leva-nos at o momento crtico em que Constantino tomou o nome de Cristo por estandarte, pondo fim dessa forma perseguio do cristia-nismo por parte do Imprio Romano.

    A Parte 2, A era dos gigantes, tratar dos desafios que a nova situao produziu e dos gigantes que os enfrentaram Atansio, Jernimo, Agostinho e outros e terminar com as invases do Imprio por povos germnicos.

    A Parte 3, A era das trevas, a Parte 4, A era dos altos ideais, e a Parte 5, A era dos sonhos frustrados, cobriro a chamada Idade Mdia, comeando com o desafio dos brbaros, mostrando em seguida como se produziu o nascimento da civilizao ocidental em resposta a esse desafio, para terminar nas crises que levaram Reforma. O perodo narrado na Parte 5 inclui os anos imediatamente anteriores Reforma protestante. Por isso, o conhecimento dessa poca importante para compreender completamente essa reforma. Alm disso, gostaramos de advertir o leitor que, por razes de ordem lgica, nem sempre apresentamos os acontecimentos em sua ordem estritamente cronolgica. Por exemplo: no captulo 44, quando falamos da Guerra dos Cem Anos, cobrimos quase todo o perodo, para logo depois voltar atrs e narrar outros acontecimentos. Da mesma forma, a discusso da reforma conciliar que seguiu ao Grande Cisma nos obrigou a estu-dar Wycliffe e Huss, depois de terminar a histria dos conclios. Por isso, convidamos o leitor a fazer uso constante da cronologia que aparece no incio da Parte 5. Dessa maneira poder ver a relao e a ordem no tempo de diversos acontecimentos que no texto so narrados separadamente.

  • histria ilustrada do cristianismo

    A parte 6, A era dos reformadores, tratar ento da Reforma tanto da catlica quanto da protestante , particularmente no sculo XVI, e sobre outros movimentos rivais.

    A parte 7, A era dos conquistadores, ser dedicada completamente grande expanso europeia nesse mesmo sculo e no seguinte, particularmente em nosso continente.

    A parte 8, A era dos dogmas e das dvidas, ter por tema principal os conflitos entre a f e a razo nos sculos XVII e XVIII, mas tratar tambm de outros acontecimentos que ocorreram na mesma poca, como o pietismo e o nascimento do metodismo, por exemplo.

    A penltima, a parte 9, A era dos conquistadores, ter por tema o sculo XIX, prestando especial ateno grande expanso protestante nessa poca, e aos movimentos teolgicos que pareceram dominar o protestantismo europeu.

    Por ltimo, a parte 10 ser dedicada aos desafios do mundo moderno e tratar de trazer nossa histria ao seu ponto de contato com nossas biografias.

    As pessoas que me prestaram seu apoio e ajuda na preparao deste livro so muitas. Vrias delas emprestaram sua colaborao a mais de uma das partes. A todas elas quero expressar meus agradecimentos.

    Por fim, convido o leitor a que, ao ler as pginas a seguir, o faa no mesmo esprito com que foram escritas: com a orao de que o Senhor da histria nos fale atravs dela, e nos chame a ocupar nosso lugar nela.

  • PARte 1

    A eRA dOS MRtIReS

  • CROnOlOgIA

    1. Como em toda cronologia da antiguidade, h vrios personagens e acontecimentos cujas datas so duvidosas. Indicamos essa situao em tais casos, mediante sinais de inter-rogao (e mais de um quando a dvida maior ou quando as datas sugeridas por distintos especialistas variam de modo notvel).

    2. Devido sua importncia na histria posterior, inclumos os nomes dos bispos de Roma. Mas observe que os dados acerca deles antes de Clemente so altamente duvidosos.

    3. Na coluna dedicada aos escritos e documentos, inclumos vrios autores no-cristos. O leitor os reconhecer porque seus nomes se encontram entre parnteses. No fizemos distino alguma entre os escritores ortodoxos e os que no o so.

    4. Nessa cronologia inclumos vrios personagens, obras e acontecimentos no men-cionados na Parte 1. Ns os inclumos a fim de que, se o leitor os encontrar em outro contexto, possa coloc-los dentro de nossa narrao.

    IMPeRAdOReS BISPOS de ROMAeSCRItOS e

    dOCUMentOSACOnteCIMentOS

    augusto

    (27 a.c.-14 d.c.)

    tibrio (14-37)

    calgula (37-41)

    cludio (41-54)

    nero (54-68)

    Galba (68-69)

    oto (69)

    Vitlio (69)

    Vespasiano (69-79)

    tito (79-81)

    domiciano (81-96)

    nerva (96-98)

    trajano (98-117)

    adriano (117-138)

    lino (?)

    anacleto (?)

    clemente

    Evaristo

    alexandre

    sisto

    telsforo

    (Filo)

    Paulo

    (Flvio Josefo)

    marcos

    mateus (?)

    lucas-atos (?)

    Joo (??)

    apocalipse

    incio

    (Plnio)

    Quadrato

    aristides

    Papias

    (Epicteto)

    didaqu (??)

    Evangelho dos hebreus

    Jesus

    Judeus expulsos de

    roma

    incndio de roma

    Perseguio

    cristos de Jerusalm

    fogem para Pela (66)

    Queda de Jerusalm (70)

    Perseguio

    Perseguio

    Perseguio

    Gnosticismo

    marcio em roma

  • a Era dos mrtirEs 12

    antonino Pio

    (138-161)

    marco aurlio

    (161-180)

    lcio Vero, co-impe-

    rador (161-169)

    cmodo (180-192)

    Pertnax (193)

    ddio Juliano (193)

    [nger (193-194)]

    stimo severo

    (193-211)

    caracala (211-212)

    [Geta (211-212)]

    oplio macrino

    (217-218)

    heliogbalo (218-222)

    alexandre severo

    (222-235)

    higino

    Pio

    aniceto

    sotero

    Eleutrio (175-189)

    Vtor (189-199)

    Zeferino (199-217)

    calisto (217-222)

    urbano (222-230)

    Ponciano (230-235)

    Pseudo-Barnab (?)

    Baslides

    aristo de Pela (140)

    hermas (c. 150)

    smbolo romano

    Valentino

    Evangelho de Pedro

    Fragmento de

    muratori (160)

    Fronto de cirta

    Epitfio de Pectrio (??)

    ascenso de isaas (??)

    cnticos de salomo (??)

    Justino (165)

    hegesipo (154-166)

    luciano de samosata

    martrio de Policarpo

    taciano

    2Enoque (??)

    atengoras

    tefilo de antioquia

    (celso)

    ireneu (c. 180)

    Panteno

    melito (189)

    tertuliano (195-220)

    mincio Flix (?)

    Epitfio de abrcio

    Perptua e Felicidade

    clemente de

    alexandria (200-215)

    orgenes (215-253)

    (Plotino)

    hiplito

    Pseudoclementina

    Perseguio

    montanismo

    Perseguio

    mrtires de Viena e

    lio (177)

    mrtires escilitanos

    controvrsia pascoal

    Perseguio

    Poltica sincretista

    do imp.

    tertuliano montanista

    (207)

    cisma em roma

    orgenes na Palestina

    (231)

  • 13 cronoloGia

    maximino i (235-238)

    mximo Pupieno e

    Balbino (238)

    Gordiano (238-244)

    Filipe (244-249)

    dcio (249-251)

    Galo (215-252)

    Emiliano (253)

    Valeriano (253-260)

    Galieno (260-268)

    cludio ii (268-270)

    aureliano (270-275)

    tcito (275-276)

    Probo (276-282)

    caro (282-283)

    carino

    numeriano (283-305)

    diocleciano (284-305)

    maximiano (285-305)

    constncio cloro

    (292-306)

    Galrio (292-311)

    maximino daza

    (305-313)

    constantino

    (306-337)

    magncio (306-312)

    licnio (307-323)

    antero (235-236)

    Fabiano (236-250)

    cornlio (251-253)

    lcio (253-254)

    Estvo (254-257)

    sisto ii (257-258)

    dionsio (259-268)

    Flix (269-274)

    Eutiquiano (275-283)

    caio (283-296)

    marcelino (296-304)

    marcelo (308-309)

    Eusbio (309)

    melquades (310-314)

    silvestre (314-335)

    sexto Jlio africano

    Evangelho de tom (??)

    metdio

    *mani

    hraclas

    cipriano

    novaciano

    didasclia (?)

    dionsio de alexandria

    luciano de antioquia

    Gregrio taumaturgo

    Firmiliano de cesareia

    teonisto

    Papiros gnsticos (??)

    Evangelho de

    Bartolomeu (??)

    arnbio

    Pirio

    Pistis sofia (?)

    *maniquesmo

    Perseguio

    cisma em roma

    Perseguio

    + Paulo de samsata

    Grande perseguio

    Edito de tolerncia

    (311)

    Edito de milo (313)

  • MAPA dO IMPRIO ROMAnO

  • CAPtUlO 1

    CRIStIAnISMO e hIStRIANaqueles dias saiu um decreto da parte de Csar Augusto, para que o mundo

    inteiro fosse recenseado.Lucas 2.1

    o evangelho se inseriu na histria humana desde as suas prprias origens. De fato, isto o evangelho: as boas novas de que, em Jesus Cristo, Deus se introduziu em nossa histria, em prol de nossa redeno.

    Os autores bblicos no deixam dvidas acerca disto. O evangelho de Lucas diz que o nascimento de Jesus ocorreu na poca de Csar Augusto, quando Quirino era governador da Sria (Lc 2.2). Pouco antes, o mesmo evangelista situa sua narrao dentro do marco da histria da Palestina, dizendo que esses fatos sucederam nos dias de Herodes, rei da Judeia (Lc 1.5). O evangelho de Mateus comea com uma genealogia que enquadra Jesus dentro da histria e das esperanas do povo de Israel, e quase imediatamente diz tambm que Jesus nasceu no tempo do rei Herodes (Mt 2.1). Marcos fornece menos detalhes, mas no deixa de assinalar que seu livro trata do que aconteceu naqueles dias (Mc 1.9). O evangelho de Joo quer assegurar-se de que no pensemos que todas essas narraes tenham interesse meramente transitrio, e por isso comea afirmando que o Verbo que se fez carne no decurso da histria humana (Jo 1.14) o mesmo que estava no princpio com Deus (Jo 1.2). Mas, depois de tudo, o restante desse evangelho se apresenta como uma narrao da vida de Jesus. Por ltimo, um interesse semelhante pode se ver em 1Joo, cujas primeiras linhas declaram que o que era desde o princpio tambm o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e nossas mos apalparam (1Jo 1.1).

    Essa importncia da histria para compreender o sentido de nossa f no se limita vida de Jesus, mas engloba toda a mensagem bblica. No Antigo Testamento, boa parte do texto sagrado de carter histrico. A histria em que Deus se revelou ao seu povo no narrada s nos livros que geralmente chamamos histricos, mas tambm nos livros da Lei por exemplo, Gnesis e xodo e dos profetas. parte dessa histria, impossvel conhecer a revelao.

    No Novo Testamento tambm encontramos o mesmo interesse pela histria. Lucas, depois de completar seu evangelho, seguiu narrando a histria da igreja crist em Atos dos Apstolos. Ele no fez isso por simples curiosidade antiquria, mas principalmente por fortes razes teolgicas. Com efeito, segundo o Novo Testamento, a presena de Deus entre ns no terminou com a ascenso de Jesus; ao contrrio, ele prprio prometeu aos discpulos que no os deixaria ss, mas que lhes enviaria outro Consolador (Jo 14.16-26). No princpio de Atos, imediatamente antes da ascenso, Jesus lhes disse que receberiam o poder do Esprito Santo e que, em virtude disso, seriam testemunhas at aos confins da terra (At 1.8). A vinda do Esprito Santo, no dia de Pentecoste, marca o comeo da vida da igreja. Portanto, o que Lucas est narrando no livro que geralmente chamamos Atos dos Apstolos no tanto os atos dos apstolos como os atos do Esprito Santo atravs dos apstolos. Lucas escreve ento dois livros: o primeiro sobre os atos de Jesus Cristo e o segundo sobre os atos do Esprito. O segundo livro, entretanto, quase parece haver ficado incompleto. No final de Atos, Paulo est ainda pregando em Roma, e o livro no narra o que aconteceu com ele ou com o restante da igreja. Isto tinha de ser

  • a Era dos mrtirEs 1

    Csar Augusto governava o Imprio Romano quando Jesus nasceu. Seu verdadeiro nome era Otvio; porm, no ano 27 a.C., o senado romano conferiu-lhe o

    ttulo honorfico de Augusto, pelo qual conhecido at hoje.

  • 17 cristianismo E histria

    necessariamente assim, porque a histria que Lucas est narrando no h de ter um final at que o Senhor venha.

    Naturalmente isto no quer dizer que toda a histria da igreja tenha o mesmo valor e a mesma autoridade que Atos. Ao contrrio, a igreja sempre creu que o Novo Testamento e a era apostlica tm uma autoridade nica. Do ponto de vista da f, a histria da igreja ou do cristianismo muito mais que a histria de uma instituio ou de um movimento qualquer. A histria do cristianismo a histria dos atos do Esprito entre os homens e as mulheres que nos precederam na f.

    s vezes, no curso desta histria haver momentos em que nos ser difcil ver a ao do Esprito Santo. Haver quem utilizar a f da igreja para enriquecer-se ou para engran-decer seu poderio pessoal. Outros se esquecero do mandamento do amor e perseguiro seus inimigos com uma fria indigna do nome de Cristo. Em alguns perodos parecer que toda a igreja abandonou por completo a f bblica, e teremos de nos perguntar at que ponto tal igreja pode verdadeiramente chamar-se crist.

    Em tais momentos, talvez nos convenha recordar dois pontos importantes. O primeiro que a histria que estamos narrando , sim, a histria dos feitos do Esprito Santo; mas a histria desses atos entre pessoas pecadoras como ns. Isto se pode ver j no Novo Tes-tamento, em que Pedro, Paulo e os demais apstolos so apresentados, ao mesmo tempo, como pessoas de f e pecadores miserveis. Se esse exemplo no nos basta, olhemos os santos de Corinto a quem Paulo dirige sua primeira epstola. O segundo ponto que foi precisamente atravs desses pecadores e dessa igreja, que aparece s vezes como totalmente descarrilhada, que o evangelho chegou at ns. Ainda atravs dos sculos mais sombrios da vida da igreja, nunca faltaram cristos que amaram, estudaram, conservaram e copiaram as Escrituras e que, desse modo, as fizeram chegar aos nossos dias. Alm disso, segundo o que veremos no curso desta histria, nosso prprio modo de interpretar as Escrituras no deixa de manifestar o impacto dessas geraes anteriores.

    Uma e outra vez atravs dos sculos, o Esprito Santo tem chamado o povo de Deus a novas aventuras de obedincia. Ns tambm somos parte dessa histria, desses atos do Esprito.