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História História A matéria a seguir tem origem em fatos relativos à Primeira Grande Guerra, ocorridos no longínquo 1915, quando foi rea- lizado, no Rio de Janeiro, um congresso pela paz mundial. Mas caberia perguntar: por qual razão o Brasil, que não foi um ator ativo do conflito, sediou esse evento? Para responder é preciso lembrar a iniciativa da associação cultural de sindicalistas anarquistas espanhóis do município de Ferrol – região da Galícia, a cerca de 50 quilômetros da capital Corunha – de organizar uma oposição à guerra por meio de boicote ao transporte de mercadorias e da convocação de uma greve geral. Para tanto, seria necessária a união dos trabalhadores, em nível internacional, independente do seu espectro político. Segundo os proponentes, os trabalhadores padeciam as tragédias impostas Os corpos eram deixados para trás em valas rasas. Não tardou a infestação por insetos e ra- tos, acompanhada por doenças. Naquele clima de tensão, a realização do congresso, na visão da liderança operária, era urgente. Contudo, o Congresso Internacional da Paz nem chegou a ser realizado. O governo espa- nhol não só impediu a reunião como expulsou delegações estrangeiras já presentes em Ferrol. Apesar da proibição, alguns representantes de organizações sindicais, centros de trabalhadores, grupos de operários anarquistas e militantes portugueses reuniram-se clandestinamente. O grupo, então, definiu a criação de um Comitê Permanente do Congresso, com sede em Lisboa, que deveria elaborar textos destinados às trin- cheiras, a serem distribuídos quinzenalmente. VOZES DA INDIGNAÇÃO A notícia da proibição do Congresso proposto pelo Ateneo Sindicalista de Ferrol chegou aos ativistas sindicais brasileiros que, em assem- bleia no Centro de Estudos Sociais do Rio de Janeiro, corajosamente propuseram a convoca- ção de evento idêntico a realizar-se na capital fluminense, nos dias 14, 15 e 16 de outubro de 1915. A Confederação Operária Brasileira (COB) abraçou a causa e, em 29 de junho, lançou um manifesto às associações operá- rias e agremiações revolucionárias nacionais e internacionais – socialistas, anarquistas, sindicalistas – con- vocando-as para o Congres- so Internacional da Paz, cuja organização ficou a cargo dos anarquistas Astrojildo Pereira (Ver Box 1 ) e Antonio Vieytes. Importante ressaltar que a COB era formada por federa- ções de trabalhadores ou pro- fissionais autônomos, uniões locais e estaduais de sindica- tos, cuja origem remonta ao Primeiro Congresso Operário Nacional, ocorrido em 1906. Na ocasião houve a participação de 43 delegados, representan- DOCUMENTOS RELATAM CONGRESSO ORGANIZADO NO RIO EM 1915 POR OPERÁRIOS CONTRA PRIMEIRA GRANDE GUERRA Memórias de lutas pela paz mundial pelos combates. Afinal, formavam a maioria dos soldados na linha de frente dos conflitos. O congresso deveria ter sido realizado entre 30 de abril e 2 de maio de 1915, em país neutro. A guerra então já contava sete longos e sofridos meses. Tratava-se de um conflito entre nações industrializadas, que envolvia quase toda a Eu- ropa e se desenrolava em múltiplas batalhas nas quais os soldados estavam entrincheirados, separados por distâncias de cem ou duzentos metros, com armamentos com grande capa- cidade de destruição. As munições incluíam canhões, fuzis, tanques, aviões bombardeiros e produtos químicos, sem esquecer a guerra pelos mares, com modernos submarinos. Nessas condições, não admira que a mor- tandade fosse enorme, com a agravante de não haver separação entre população civil e militar. do 28 entidades, com destaque para militantes anarquistas paulistas e fluminenses: Edgard Leuenroth, Astrojildo Pereira, João Crispim, Luigi Magrassi, Giulio Sorelli. Devido à guerra, as condições econômicas não eram favoráveis e impuseram fortes difi- culdades para que as agremiações enviassem seus representantes ao Congresso no Rio de Janeiro. Apesar disso, o relatório da comissão organizadora notificou a presença de 20 de- legações do exterior enviadas da Argentina, Portugal, Itália, Espanha e Estados Unidos. Do Brasil, estiveram presentes representantes de 25 entidades dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Alagoas e Minas Gerais, além de adesões pes- soais e da imprensa. Na abertura do evento, em 14 de outubro, Astrojildo Pereira, secretário da COB, e Antonio Vieytes saudaram os presentes e, sem segui- da, declararam: “Camaradas! Esta assembleia, reunida, apesar de tudo, em meio ao descala- bro causado pelo monstruoso crime guerreiro, é uma prova evidente de que as aspirações e os sentimentos do proletariado revolucionário não se acham mortos nem apagados. Podemos gritar para o mundo: ao velho pendão da Inter- nacional nós o empunhamos, por sobre todas as ruínas, como um sinal de energia vital, de energia invencível. Viva a Internacional!” Vieytes, por sua vez, lembrou: “Considerando que a guerra europeia é um crime de lesa-humanidade, a Confederação Operária Brasi- leira acordou celebrar um Con- gresso Internacional da Paz, não como objeto exclusivo de terminar a guerra, mas para afirmar que a Internacional dos Trabalhadores não morreu. Que, apesar dos anos decorridos, hoje vem dizer que não se inaugura uma nova Internacio- nal e sim que continua aberta a sessão da Internacional do ano de 48”. (Supõe-se ser 1848). A documentação da época aponta que diversos delegados puderam APESAR DAS DIFICULDADES, ENCONTRO REGISTROU 20 DELEGAÇÕES, VINDAS DA ARGENTINA, PORTUGAL, ITÁLIA, ESPANHA E ESTADOS UNIDOS, ALÉM DE REPRESENTANTES DE ENTIDADES DE SEIS ESTADOS BRASILEIROS GENIRA CHAGAS UNESPCIÊNCIA | AGOSTO 2018 GENIRA CHAGAS AGOSTO 2018 | UNESPCIÊNCIA 26 25

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Page 1: História História - unespciencia.com.br · 30 de abril e 2 de maio de 1915, ... separados por distâncias de cem ou duzentos metros, com armamentos com grande capa-cidade de destruição

HistóriaHistória

A matéria a seguir tem origem em fatos relativos à Primeira Grande Guerra,

ocorridos no longínquo 1915, quando foi rea-lizado, no Rio de Janeiro, um congresso pela paz mundial. Mas caberia perguntar: por qual razão o Brasil, que não foi um ator ativo do conflito, sediou esse evento? Para responder é preciso lembrar a iniciativa da associação cultural de sindicalistas anarquistas espanhóis do município de Ferrol – região da Galícia, a cerca de 50 quilômetros da capital Corunha – de organizar uma oposição à guerra por meio de boicote ao transporte de mercadorias e da convocação de uma greve geral. Para tanto, seria necessária a união dos trabalhadores, em nível internacional, independente do seu espectro político. Segundo os proponentes, os trabalhadores padeciam as tragédias impostas

Os corpos eram deixados para trás em valas rasas. Não tardou a infestação por insetos e ra-tos, acompanhada por doenças. Naquele clima de tensão, a realização do congresso, na visão da liderança operária, era urgente.

Contudo, o Congresso Internacional da Paz nem chegou a ser realizado. O governo espa-nhol não só impediu a reunião como expulsou delegações estrangeiras já presentes em Ferrol. Apesar da proibição, alguns representantes de organizações sindicais, centros de trabalhadores, grupos de operários anarquistas e militantes portugueses reuniram-se clandestinamente. O grupo, então, definiu a criação de um Comitê Permanente do Congresso, com sede em Lisboa, que deveria elaborar textos destinados às trin-cheiras, a serem distribuídos quinzenalmente.

VOZES DA INDIGNAÇÃOA notícia da proibição do Congresso proposto pelo Ateneo Sindicalista de Ferrol chegou aos ativistas sindicais brasileiros que, em assem-bleia no Centro de Estudos Sociais do Rio de Janeiro, corajosamente propuseram a convoca-ção de evento idêntico a realizar-se na capital fluminense, nos dias 14, 15 e 16 de outubro de 1915. A Confederação Operária Brasileira (COB) abraçou a causa e, em 29 de junho, lançou um manifesto às associações operá-rias e agremiações revolucionárias nacionais e internacionais – socialistas, anarquistas, sindicalistas – con-vocando-as para o Congres-so Internacional da Paz, cuja organização ficou a cargo dos anarquistas Astrojildo Pereira (Ver Box 1) e Antonio Vieytes.

Importante ressaltar que a COB era formada por federa-ções de trabalhadores ou pro-fissionais autônomos, uniões locais e estaduais de sindica-tos, cuja origem remonta ao Primeiro Congresso Operário Nacional, ocorrido em 1906. Na ocasião houve a participação de 43 delegados, representan-

DOCUMENTOS RELATAM CONGRESSO ORGANIZADO NO RIO EM 1915 POR OPERÁRIOS CONTRA PRIMEIRA GRANDE GUERRA

Memórias de lutas pela paz mundial

pelos combates. Afinal, formavam a maioria dos soldados na linha de frente dos conflitos.

O congresso deveria ter sido realizado entre 30 de abril e 2 de maio de 1915, em país neutro. A guerra então já contava sete longos e sofridos meses. Tratava-se de um conflito entre nações industrializadas, que envolvia quase toda a Eu-ropa e se desenrolava em múltiplas batalhas nas quais os soldados estavam entrincheirados, separados por distâncias de cem ou duzentos metros, com armamentos com grande capa-cidade de destruição. As munições incluíam canhões, fuzis, tanques, aviões bombardeiros e produtos químicos, sem esquecer a guerra pelos mares, com modernos submarinos.

Nessas condições, não admira que a mor-tandade fosse enorme, com a agravante de não haver separação entre população civil e militar.

do 28 entidades, com destaque para militantes anarquistas paulistas e fluminenses: Edgard Leuenroth, Astrojildo Pereira, João Crispim, Luigi Magrassi, Giulio Sorelli.

Devido à guerra, as condições econômicas não eram favoráveis e impuseram fortes difi-culdades para que as agremiações enviassem seus representantes ao Congresso no Rio de Janeiro. Apesar disso, o relatório da comissão organizadora notificou a presença de 20 de-legações do exterior enviadas da Argentina, Portugal, Itália, Espanha e Estados Unidos. Do Brasil, estiveram presentes representantes de 25 entidades dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Alagoas e Minas Gerais, além de adesões pes-soais e da imprensa.

Na abertura do evento, em 14 de outubro, Astrojildo Pereira, secretário da COB, e Antonio Vieytes saudaram os presentes e, sem segui-da, declararam: “Camaradas! Esta assembleia, reunida, apesar de tudo, em meio ao descala-bro causado pelo monstruoso crime guerreiro, é uma prova evidente de que as aspirações e os sentimentos do proletariado revolucionário não se acham mortos nem apagados. Podemos gritar para o mundo: ao velho pendão da Inter-nacional nós o empunhamos, por sobre todas as ruínas, como um sinal de energia vital, de energia invencível. Viva a Internacional!”

Vieytes, por sua vez, lembrou: “Considerando que a guerra europeia é um crime de lesa-humanidade, a Confederação Operária Brasi-leira acordou celebrar um Con-gresso Internacional da Paz, não como objeto exclusivo de terminar a guerra, mas para afirmar que a Internacional dos Trabalhadores não morreu. Que, apesar dos anos decorridos, hoje vem dizer que não se inaugura uma nova Internacio-nal e sim que continua aberta a sessão da Internacional do ano de 48”. (Supõe-se ser 1848).

A documentação da época aponta que diversos delegados puderam

APESAR DAS DIFICULDADES, ENCONTRO REGISTROU 20 DELEGAÇÕES, VINDAS DA ARGENTINA, PORTUGAL, ITÁLIA, ESPANHA E ESTADOS UNIDOS, ALÉM DE REPRESENTANTES DE ENTIDADES DE SEIS ESTADOS BRASILEIROS

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HistóriaHistória

o Congresso também deliberou pela criação de um “Comitê de Relações Internacionais”, com sede no Rio de Janeiro, com o objetivo de realizar um Congresso Internacional Sul-Americano para criação da Confederação dos Trabalhadores do Continente, buscando acele-rar a organização da Internacional mundial. Ao final, o secretário Astrojildo Pereira propôs uma comissão responsável por levar adiante campa-nha internacional sistemática contra a guerra.

Os operários também decidiram realizar um grande comício que teve lugar no Largo São Francisco de Paula, a 17 de outubro. Diversos oradores revezaram-se, entre eles os diretores da Federação Operária, delegados de países sul-americanos, da Espanha e de Portugal. O último a discursar foi o líder Florentino de Carvalho. Segundo o Jornal do Brasil, de 18 de outubro de 1915, ele proferiu as palavras de ordem que definiram as intenções do Con-gresso: “Abaixo a guerra! Viva a solidariedade dos trabalhadores de todo o mundo! Viva a Revolução Social!”

REPERCUSSÃO DO CONGRESSO NA IMPRENSA ANARQUISTAA união da classe operária em prol da realiza-ção do Congresso Internacional da Paz, além dos objetivos próprios do evento, também con-tribuiu para reforçar os laços revolucionários entre a diversas associações classistas em to-do o mundo, principalmente as do continente americano e da Península Ibérica. As mani-festações dos trabalhadores durante o evento foram registradas pela imprensa sindicalista e progressista da época. Destaque para o Jornal do Brasil que, embora não anarquista, cobriu os três dias do evento e publicou discursos, representações e moções.

No exterior, a imprensa anarquista, como es-perado, repercutiu a iniciativa com a publicação, inclusive em matérias na capa, a exemplo de A luz, uma folha quinzenal editada na cidade de New Bedford, em Massachusetts (EUA). Ainda nos EUA, o La Protesta publicou, na primeira página, crônica com avaliação positiva do even-to; O italiano Avanti estampou a reportagem

“Per um congresso a Rio in favore della pace”. No Brasil, o jornal Epoca, do Rio de Janeiro, registrou o evento na página 2; no semanário fluminense Na Barricada, as notícias do con-gresso também ocuparam a segunda página.

Já um periódico argentino, não identifica-do na documentação arquivada por Astrojildo Pereira, publicou longa crítica, em 10 de no-vembro, definindo o evento como “artificial”: “La conferencia anarquista de Rio y el finalismo artificial”, na qual criticou a supremacia dos intelectuais e suas aspirações com propósitos culturais sobrepondo-se à causa comum.

BOX 1 – ASTROJILDO PEREIRA E A CAUSA OPERÁRIA

Astrojildo Pereira (1890 – 1965) foi um político, jornalista e ativista. Descobriu-se anarquista aos 16 anos. A partir de 1919, influenciado pela Revolução Soviética de 1917, começou a aglutinar interessados para a criação de um instrumento de luta da classe trabalhadora. Assim, com seus esforços, em 1922 foi oficialmente fundado o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Este viria a ser reconhecido pela Internacional Comunista, em 1924. Astrojildo foi também um dos primeiros a divulgar as ideias marxistas no país. A cada passo em direção à organização da classe operária contra os aparelhos de opressão, aumentava sua adesão ao marxismo. Dedicou-se por longo tempo à imprensa operária. Suas ideias sobre política, economia e sociedade influenciaram gerações de intelectuais, sindicalistas e pensadores progressistas pelo mundo.

BOX 2 – MOÇÃO FLORENTINO

DE CARVALHO:

“Realisar ativa propaganda em favor da greve geral universal em sinal de protesto conta a guerra;”

“Reconhecer como uma necessidade de salvação pública e indispensável, para o restabelecimento da paz, boicote e sabotagem a todas a empresas ou patrões que contribuírem para sustentar a guerra;”

“Promover manifestações em todos os centros populosos, especialmente contra as chancelarias dos Estados em geral;”

“Dirigir uma moção de apoio aos representantes dos partidos socialistas e das sociedades operárias nos parlamentos e municipalidades de todas as nações no sentido de serem solidários com os protestos contra a guerra, abandonando seus postos e virem realizar a propaganda em favor da paz e em favor da revolução social;”

“Declarar contrários às liberdades dos povos, ao bem-estar da humanidade e ao progresso, todos os princípios estatais e todas as igrejas, inclusive a católica, a maçônica e a positivista;”

“Que o principio das raças, das pátrias e das nacionalidades servem

de alicerce ao regime do capitalismo e aos privilégios da riqueza e do poder;”

“Que entre os povos deve vibrar com toda intensidade a solidariedade universal;”

“Que as diversas filosofias, doutrinas e escolas metafísicas, bem como as positivas e materialistas que defendem ou toleram o regime da desigualdade e da guerra, das instituições e absurdos princípios que lhe dão vida, constituem vícios que produzem aberrações na mentalidade do povo e, portanto, devem ser banidos do seio da humanidade, a bem da saúde das gerações presentes e das futuras.”

ACERVO DO CEDEMTodas essas informações e uma vasta documentação sobre o Congresso Internacional da Paz estão disponíveis no Fundo Astrojildo Pereira, do Arquivo Histórico do Movimento Operário Brasileiro (ASMOB em italiano), custodiado no Centro de Documentação e Memória (CEDEM), da Unesp. No ano em que se comemora o centenário do final da Primeira Grande Guerra, a equipe do CEDEM contribui com a efeméride por meio de uma série de textos publicados em seu site, contextualizando o conflito e o Congresso realizado pela COB, cuja redação coube a historiadora Renata Cotrim. A ideia da professora Tania Regina de Luca, Coordenadora substituta do CEDEM, de explorar esse material de valor histórico surgiu a partir da indicação da historiógrafa Jacy Barletta, que o organizava e chamou a atenção para a importância desse conjunto documental. Acesse: www.cedem.unesp.br

expor seus pontos de vista sobre a guerra, ob-jeto de discussão do evento. Outra manifes-tação partiu do operário Apolinario Barrera, da Federación Obrera Regional Argentina. Ele disse: “Torna-se mister que o Congresso da Paz veja qual o meio a adotar para terminar com a guerra, pois que o simples pedido às nações beligerantes nada adiantaria”. Na opinião de Barrera “o boycottage” era o meio melhor, mas assim mesmo improfícuo porque não poderia atingir a todas as nações.” Em seguida, outro trabalhador, de nome Mansilla, segundo o Jornal do Brasil, de 15 de outubro de 1915, fez um longo discurso antimilitarista, atacando de modo veemente a guerra e a destruição das obras de arte, “como ora se tem feito na Europa, destruindo assim a obra do operário, que anônimo, faz trabalhos grandiosos, que muitas vezes batiza com seu sangue”.

Após dois dias do Congresso, na noite do dia 16, a mesa colocou em votação a moção do delegado paulista Florentino de Carvalho. O documento gerou intenso debate até serem aprovados por unanimidade os oito artigos, que expressavam os anseios dos delegados presen-tes (Ver Box 2).

Além da moção Florentino de Carvalho,

PALAVRAS DA COB NO MANIFESTO: “A pressão exercida pelos governos das

nações beligerantes sobre o governo espanhol, obrigando a este a proibir a reunião, em Ferrol, do Congresso Internacional da Paz, marcado para 30 de abril próximo passado, é uma prova de que os governos da burguesia temem que os proletários do mundo inteiro cheguemos a combinar esforços e, unidos todos, façamos cessar a horrorosa matança que há onze meses assola os campos da civilizada Europa.”

“(...) Beligerantes e neutrais, sofremos as mesmas consequências do atual estado de coisas, – uns dando a sua vida nos campos de batalha, em holocausto ao deus Capital, os outros, por efeito da crise industrial e comercial, morrendo de fome e de miséria, sem que uns e outros tenhamos um gesto de rebeldia para sublevar-nos contra os causantes de tão monstruoso crime de lesa-humanidade.”

“(...) Por estes motivos, a Confederação Operária Brasileira convoca os socialistas, sindicalistas e anarquistas e organizações operárias do mundo inteiro para um Congresso Internacional da Paz a reunir-se no Rio de Janeiro nos dias 14, 15 e 16 de outubro do presente ano, com o fim de discutir esse tema.”

“(...) Proletários do mundo, a pé! A hora das nossas reivindicações soou e necessário é que nos preparemos para dar a última batalha a esta sociedade podre, que se mantém somente pela fraude e pelo crime. Ao Congresso da Paz todos os internacionalistas!”

GENIRA CHAGAS

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